Introdução
1. A Igreja Reformada
Igrejas
que resultaram da obra teológica de João Calvino (1509-1564), Ulrico
Zwínglio (1484-1531), João Knox (c.1513-1572) e outros reformadores, e
que adotaram a forma presbiteriana de governo eclesiástico.
Distinguem-se dos outros ramos da Reforma: luteranos, anglicanos e
anabatistas. No continente europeu foi adotado o nome Igreja Reformada
(Suíça, França, Holanda, etc.) e nas Ilhas Britânicas e América do Norte
(Escócia, Irlanda, Inglaterra, Canadá e Estados Unidos), Igreja
Presbiteriana.
Doutrinariamente,
as Igrejas Reformadas adotam, entre outras, as definições aprovadas
pelo Sínodo de Dort (1618-1619) e pela Assembléia de Westminster
(1643-49). Além dos princípios aceitos pelos protestantes em geral
(Escrituras, Cristo, graça, fé, sacerdócio universal ), o sistema
calvinista dá ênfase à plena soberania de Deus na criação, providência e
redenção.
2. O Movimento Carismático
O nome vem de chárisma (pl. charísmata)
= dádiva, dom (como expressão da graça divina = cháris). O termo ocorre
17 vezes no Novo Testamento, todas, exceto uma, nas cartas de Paulo,
sendo dez vezes no singular e sete no plural. Rm 1.11; 5.15,16; 6.23;
11.29; 12.6; 1 Co 1.7; 7.7; 12.4,9,28,30,31; 2 Co 1.11; 1 Tm 4.14; 2 Tm
1.6; 1 Pe 4.10. A expressão “dom espiritual” somente ocorre em Rm 1.11.
Os
carismas ou dons carismáticos podem ser entendidos como dons da graça
concedidos pelo Espírito de Deus para a edificação da igreja cristã. Sua
enumeração é encontrada em Rm 12.6-8; 1 Co 12:8-10,28; Ef 4.11 e 1 Pe
4.10-11. Os dons carismáticos dividem-se em naturais e sobrenaturais,
extraordinários ou miraculosos.
“Movimento
carismático” (lato sensu): todo movimento que dá ênfase aos dons
carismáticos do Espírito, principalmente os de natureza extraordinária,
como profecia, curas e glossolália. Geralmente, também tem um forte
componente apocalíptico (milenismo).
3. Aspectos históricos
Ao
longo da história da igreja tem havido vários movimentos de natureza
“carismática.” Um dos primeiros foi o montanismo, no segundo século.
Montano começou a pregar sua mensagem na Frígia, por volta de 155 AD.
Ele e duas mulheres, Priscila e Maximila, afirmando serem profetas,
anunciaram com base no Evangelho de João o início do último e mais
elevado estágio da revelação, a era do Parácleto. Daí sua ênfase aos
dons espirituais (principalmente a profecia), proximidade do fim do
mundo, ascetismo e exaltação do martírio. Protesto contra o formalismo e
mundanismo da igreja, e contra a dependência de líderes humanos
(bispos) ao invés do Espírito Santo. Rejeitado por seu fanatismo e
reivindicação de possuir revelações mais altas que as do Novo
Testamento. Surgiram outras manifestações dessa natureza nos séculos
seguintes, muitas vezes em grupos dissidentes, minoritários.
O termo se aplica com maior propriedade a um fenômeno do século XX composto de três estágios ou “ondas”:
(1) Primeira onda:
Movimento Pentecostal – teve início em 1900-1901 com Charles F. Parham,
evangelista, pregador da cura pela fé e diretor de uma escola bíblica
em Topeka, Kansas. Adquiriu maior ímpeto com o pastor negro William J.
Seymour e sua famosa missão da Rua Azuza, em Los Angeles. Tanto Parham
como Seymour eram ligados aos movimentos Holiness (“santidade”) que
haviam surgindo dentro do metodismo norte-americano. Dentre as primeiras
igrejas pentecostais estavam as Assembléias de Deus e o Evangelho
Quadrangular.
(2) Segunda onda:
Movimento Carismático – também conhecido como Renovação Carismática.
Resultou da penetração do movimento pentecostal nas denominações
históricas ou tradicionais e também na Igreja Católica, a partir dos
anos 50. Uma importante organização pioneira desse movimento foi a
Adhonep (Associação de Homens de Negócios do Evangelho Pleno).
(3) Terceira onda:
Igrejas neopentecostais – também conhecido como Movimento de Sinais e
Maravilhas. Tem ligação com Peter Wagner, John Wimber e a Vineyard
Christian Fellowship. Uma expressão mais recente é a Igreja Vineyard de
Toronto, com suas manifestações de riso santo, rugidos e sons de
animais. No Brasil, são exemplos desse grupo a Igreja Universal do Reino
de Deus, Igreja Internacional da Graça de Deus, Igreja Deus é Amor e
outras.
4. O Movimento Carismático e as Igrejas Reformadas
Curiosamente,
um dos precursores do moderno movimento carismático foi o pastor
presbiteriano escocês Edward Irving (1792-1834). Irving trabalhou
inicialmente em Glasgow, como auxiliar do famoso Rev. Thomas Chalmers.
Aos 30 anos, assumiu o pastorado de uma pequena congregação da Igreja da
Escócia em Londres. Sua poderosa pregação produziu tamanho crescimento,
que cinco anos depois (1827), quando o novo templo foi inaugurado, a
congregação se tornara a maior igreja de Londres. As mais altas
personalidades íam ouvir seus sermões, que chegavam a estender-se por
duas horas. Irving participava de um grupo que se reunia para estudar
escatologia. Convictos da iminente volta de Cristo, ele e seus
companheiros oravam por um derramamento do Espírito Santo. No início de
1830 ocorreram manifestações carismáticas na Escócia e no ano seguinte
surgiram línguas e profecias na igreja de Irving. Crendo que essas eram
expressões genuínas dos dons do Espírito, Irving recusou-se a
proibi-las, e poucos meses depois foi afastado da igreja. Mais tarde, o
grupo que o acompanhou (mais de 600 pessoas) criou a Igreja Católica
Apostólica. Sua posição acerca dos dons estava ligada às suas idéias
acerca de Cristo: este teria sido concebido com uma natureza humana
pecaminosa, que foi plenamente santificada pelo Espírito Santo. O mesmo
Espírito que santificou a Cristo também capacitaria os crentes para a
obra de Deus no final dos tempos. Irving morreu com apenas 42 anos,
vitimado pela tuberculose.
No
Brasil, o movimento de renovação afetou as igrejas históricas em geral
nas décadas de 1960 e 1970, inclusive a presbiteriana. Surgiu a Igreja
Presbiteriana Renovada, que tornou-se inexpressiva. Práticas e ênfase
carismáticas, no entanto, tem sido bastante aceitas em igrejas
presbiterianas: estilo de culto (cânticos, instrumentos musicais,
informalidade), testemunhos, batalha espiritual, crescimento da igreja.
Nos Estados Unidos, existem grupos que se denominam carismáticos
reformados.
5. Diferenças entre a Fé Reformada e o Movimento Carismático
a)
Históricamente, apesar da experiência de Irving, não há conexão entre
os dois movimentos. O movimento carismático procede do metodismo, via
igrejas holiness e pentecostais.
b)
Por sua teologia arminiana, o movimento carismático põe grande ênfase
nas decisões humanas e na experiência pessoal. A fé reformada põe sua
ênfase maior na ação soberana de Deus e na glória de Deus como o
objetivo maior de tudo.
c)
Essa ênfase primária em Deus, e não nos desejos ou bem-estar das
pessoas, leva à preocupação com o estudo sério das Escrituras, culto
solene e respeitoso, evangelismo equilibrado, harmonia entre razão e
emoção, ética pessoal e social.
d)
A centralidade das Escrituras como norma de fé e prática (acima da
experiência individual). Tudo deve ser julgado pela Palavra. Daí, a
preocupação com o preparo bíblico e teológico dos pastores.
e)
O Espírito e a Palavra andam juntos, assim como a obra do Espírito não
pode ser separada da obra de Cristo. A função do Espírito Santo é
exaltar a Cristo e testemunhar dele.
Contribuições
positivas dos carismáticos: espiritualidade intensa e alegre, culto
vibrante, fervor evangelístico, ênfase à santificação, valorização da
pessoa e obra do Espírito Santo.
***
Fonte: CPAJ - Mackenzie
Nenhum comentário:
Postar um comentário