Isvonaldo sou Protestante

Isvonaldo sou Protestante

terça-feira, 28 de outubro de 2014



Por Thiago Oliveira


Sei que pode parecer uma pergunta estranha. Mas, você já parou para pensar o porquê que o Diabo é nosso inimigo? Antes de você achar que estou ocioso o bastante para este tipo de elucubração, peço encarecidamente que releia a pergunta e reflita sobre as implicações que resultarão da resposta.

Pois bem, se o Diabo não fosse nosso inimigo, ele seria nosso aliado. Este seria um problema muito grave. Sabemos que Satanás se rebelou contra Deus e que por isso tornou-se o seu opositor. Por não ter condições de intentar contra o Senhor dos Senhores, o Inimigo devota todo o seu furor para perseguir e destruir os crentes em Cristo Jesus que formam a Santa Igreja Universal. Devemos glorificar a Deus por termos Satanás como o nosso arquirrival.

Glorificar a Deus por isso? Como assim? Calma que tem uma explicação. E ela se encontra no primeiro livro da Bíblia, aquele mesmo que relata a nossa origem e a origem das coisas criadas: o Gênesis. Lá, no relato da Queda, veremos que a nossa inimizade com o Diabo, a antiga serpente, faz parte do plano gracioso da redenção. Deus por sua providência criou esta inimizade. Tudo faz parte do seu decreto eterno e imutável de eleger para si um povo exclusivamente seu. Isso mesmo, a nossa inimizade com o Príncipe das Trevas tem a ver com a nossa Eleição.

Vejamos o que diz Genesis 3:15:

Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; este ferirá a sua cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar".

A Serpente tentou Eva. Esta por sua vez convenceu Adão e ambos caíram em desgraça quando comeram do fruto da árvore proibida. Ali, homem e mulher, morreram espiritualmente e desfiguraram a Imago Dei (Imagem e Semelhança Divina). Deus, como de praxe, caminhava pelo Éden e o primeiro casal ao ouvir os seus passos procurou fugir da sua presença. Eles sabiam muito bem o que tinham feito... Deus os chama e Adão responde: “
Nos escondemos de ti, estávamos nus”. O Criador retruca: “Quem lhes revelou isso? Por acaso vocês comeram do fruto da árvore que eu proibi que comessem?” Logicamente Deus já sabia de tudo o que acontecera, afinal, Ele é soberano. Mas ali ele dá uma oportunidade para que Adão confesse a sua culpa. Todavia, Adão estava envolto pelo pecado e transfere a culpa para Eva. A mulher faz a mesma coisa e coloca a culpa na Serpente. Que desastre!

Mas é aqui que encontramos a misericórdia de Deus de uma maneira vívida e clara. Ao invés de destruir aquele primeiro casal rebelde e obstinado, o Senhor, vai separar aquela aliança maldita para preservar a humanidade de ter o mesmo destino derrotado de Satanás. Note que Gênesis 3:15 diz que:

1. Foi Deus que pôs em lado oposto a Serpente e a Mulher. Senão fosse esta iniciativa Divina, o primeiro casal ainda estaria em oposição contra o seu Criador e Senhor.
2. A inimizade se perpetuará através da descendência da Serpente e da descendência da Mulher. Serão dois “exércitos” opostos que vão ter enfrentamentos até a consumação do mundo.
3. Da descendência da Mulher virá aquele que esmagará a cabeça da Serpente, ou seja, destruirá definitivamente as obras malignas de Satanás.

Aqui temos a primeira promessa messiânica. Gênesis 3:15 aponta para Cristo e sua obra redentora. Se há homens e mulheres que tem Satanás por inimigo, apesar da associação natural com a causa satânica, isto só é possível porque Deus fez uma aliança com aquele primeiro casal e separou uma linhagem para si. Esta linhagem que surge da semente da mulher está desde aquele episódio guerreando contra a semente do pecado. Uma semente provém de Deus, a outra provém de Satanás. Uma é a semente da degeneração (Adão) e a outra é a semente da redenção (Cristo).

Isto é observável desde Caim e Abel, passando por egípcios e hebreus, Davi e Golias e etc. De um lado aqueles que são do “exército do mundo ou do Diabo”. Do outro temos os soldados do “exército de Deus”. Não existe meio termo nesta batalha. É por isso que o próprio Jesus vai dizer em Lucas 11:23: “Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha”. Escrevendo aos efésios, Paulo diz que éramos integrantes das hostes do Inimigo (Ef 2.2), satisfazendo nossos desejos carnais e não a vontade de Deus (Ef 2.3) e que apenas por ter sido Deus misericordioso (Ef 2.4) ele nos deu uma nova vida por meio de Cristo nos salvando sem merecermos (Ef 2.5). Isto é graça!

Tudo o que acontece no mundo pode ser explicado por este prisma. Como não existe ninguém neutro, os que não servem a Cristo são servos de Satanás e fazem o que lhe agrada. Se sofremos com os ataques do vil tentador, devemos nos lembrar que só sofremos tais investidas por conta do beneplácito do Senhor que nos colocou em oposição a Serpente. Também temos a nosso favor o registro da vitória mediante a Cristo. Fincados nele somos mais-que-vencedores (Rm 8.37). Os nossos sofrimentos presentes não se comparam com o que nos será revelado no porvir (Rm 8.18).

Em Apocalipse 12, uma visão dada ao apóstolo João nos assegura a vitória concreta e certa. O Dragão (a antiga Serpente) foi derrotado e a Igreja triunfou sobre eles por meio de Cristo. O Dragão, o que acusava incansavelmente os cristãos, foi derrubado (v.10). A Igreja vence não pelos seus recursos humanos, mas como está escrito: “E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho” (v.11). Reitero que devemos nos regozijar pelo fato de sermos oponentes desse Dragão, pois isso revela que fomos selados para estarmos com Deus por toda Eternidade. Ser inimigo do Diabo é ter a evidência de que fomos salvos pela graça.

Louvado seja Deus!

***
Divulgação: Bereianos
.

Por Rev. Mauro Meister


Não sou profeta, nem filho de profeta, assim, não tomem qualquer palavra abaixo como o certo para o futuro, mas apenas percepções. Pelo tamanho, poucos lerão.

1. Sim, somos uma democracia, ainda que nova e imatura. O pleito eleitoral, com todas as mazelas e jogos sujos, às vezes dos candidatos, muitas vezes dos partidários, aconteceu, mas foi bem sucedido.

2. Houve fraude? Como dizer? Resta aguardar que denúncias sérias, se levantadas, sejam investigadas pelos instrumentos do Estado, que deveriam ser independentes do governo. Sair gritando que houve fraude não resolve nada.

3. Corremos perigos? Sim! Imediatos? Nem tanto, mas, ainda assim, crescentes e rápidos. Minha percepção, por conta da ideologia e ações recentes, é que o partido no governo não preza a democracia. Sua origem de luta contra a ditadura de direita não o coloca na categoria democrática. Seus ideólogos gramicianios tem sido bem sucedidos, a despeito de seus líderes populares terem se embebedado com a glória do poder e suas riquezas. Digite "gramiscismo" no Google e leia, pesquise e tire suas conclusões.

4. Para que o projeto acima de certo, é necessário um aparelhamento do Estado e, ao mesmo tempo, uma aparência de legitimidade democrática associada a conceitos de hegemonia de pensamento. Os mesmos que são acusados de ser "contra o partido" (ex: Globo) são aqueles que promovem as causas dessa consolidação de pensamento: insistência no governo para as supostas minorias (negros, gays, mulheres como oprimidas, os sem terra) causa aborcionistas, desarmamento, etc. (vejam as ênfases no discurso da vitória da presidente). Tudo isso serve como uma quebra dos chamados valores tradicionais (mantidos pelas "elites") e o surgimento de uma nova hegemonia de pensamento (quem foi o representante da juventude?).

5. Passam por este projeto alguns elementos essências, entre eles, a reforma política e a educação (nada no discurso foi gratuito). Sim, o Brasil precisa de uma reforma política, mas se houver força do governo para que aconteça, será nefasta e aparelhará ainda mais o governo. No totalitarismo o governo nunca sai do poder, seja em Cuba, seja na Bolívia.

6. A educação brasileira já está totalmente aparelhada, mas os que estão dentro, muitas vezes não percebem. Quanto mais ignorantes (aqueles que ignoram), melhor! Não há real interesse em que exista pensamento autônomo, no sentido do indivíduo que pensa por si mesmo (ainda que este seja o discurso da educação há décadas) mas no indivíduo que aja com a massa, como uma torcida, liderada pelos Conselhos Populares. Enquanto os cristãos deveriam lutar por uma educação heteronormativa (no caso, segundo a norma de Deus) as políticas governamentais tem sido sistematicamente opostas. Nossos filhos vão para a escola e voltam para casa achando que todos os tópicos citados acima são o certo e o verdadeiro, o contrário do que seus pais caretas e suas igrejas ensinam.

7. Entre tais ensinamentos existe a famosa doutrinação contra o famigerado capital, o livre comércio, a iniciativa privada, a privatização e todos os temas pertinentes. É daí que surge o socialista rico que maquina a revolução social de seu studio em Paris, bebendo champanhe. É assim que a presidente diz com cara lavada a uma economista desempregada que faça um curso para se colocar em um mercado com cada vez menos empregos reais (quem já desistiu de procurar emprego ou quem ganha bolsa x ou y não conta nas estatísticas, por isto, anda tão baixa).

8. O que fazer, como cristão que sou? a) devo orar pela paz e pelo governo, não só em tempo de eleições, mas em todo tempo; b) devo estar alerta, não só em tempo de eleições, mas entre elas, quando as coisas de fato acontecem - leia, informe-se, fale, pressione e vote certo nas próximas eleições; c) lute contra as pequenas corrupções para que tenha como perceber e lutar contra as grandes - pequenas corrupções admitidas em nossas vidas nos cegam para a grande corrupção ao nosso redor; d) ore para que a nossa jovem democracia e suas instituições resistam às pressões e leis que serão empurradas goela abaixo nos próximos 4 anos; e) lembre-se, a esperança do cristão está em Cristo e não no estado e no governo, porém, cabe-nos agir sempre em função da verdade e da paz, denunciando a corrupção e os sistemas que a alimentam.

***
Fonte: O Tempora! O Mores!


Por Abraham Booth (1734-1806)


Paulo emprega a palavra "graça" para significar o oposto de "obras e méritos". "Pela graça sois salvos. ... não por obras" (Ef. 2:8-9). Graça significa favor imerecido ou favor dado sem que seja ganho por esforço algum.

Pela palavra "misericórdia" entendemos que alguém em dificuldade ou derrotado, está recebendo um benefício. Misericórdia faz supor uma pessoa sofredora a quem ela é concedida. Semelhantemente, "graça" sempre pressupõe indignidade na pessoa que a recebe. Se alguém nos dá qualquer coisa por graça, é porque nós não a merecemos. Qualquer coisa que mereçamos por direito, não pode ser nossa por graça. Graça e mérito não podem estar ligados no mesmo ato. São realidades tão opostas como luz e trevas. "Se é por graça, então não é por obras; de outra maneira, a graça já não é graça" (Rom. 11:6).

Assim, dizemos que nós recebemos a graça de Deus. Estamos dizendo, ao mesmo tempo, que somos indignos dela e que não podemos trabalhar por ela. Desta maneira, definimos graça como ela é usada no Novo Testamento, ou seja, "O eterno e absolutamente livre favor de Deus concedido a pessoas indignas e culpadas na doação de bênçãos espirituais e eternas".

A graça de Deus é eterna

À graça, de modo algum, depende do mérito humano; depende só da vontade de Deus. Não é ganha por mérito nem perdida por culpa. A graça é absolutamente livre de qualquer influência humana. Portanto nada há que possa derrotá-la, uma vez que ela foi dada. Por isso, Deus pode dizer: "... pois que com amor eterno te amei" (Jer. 31:3). Tal é a gloriosa base da nossa salvação!

Graça não é como uma franja de ouro na fímbia do vestuário; não é como um enfeite que decora um vestido; porém, é como o propiciatório do Tabernáculo, que era de ouro — de ouro puro — inteiramente de ouro! Portanto, aprendemos como estão seriamente enganados os que sugerem que a graça de Deus pode ser alcançada pelas boas obras. A graça de Deus recusa-se a ser ajudada naquilo que ela tem de fazer. Não seria um insulto à soberania de Deus sugerir que Ele precisa de ajuda do pobre desempenho do homem? A graça, ou é absolutamente livre de toda a nossa influência, ou então não é graça de modo algum.

Salvação, totalmente gratuita!

A graça "reina", diz Paulo em nosso texto (Rom. 5:21). Assim, a graça é comparada a um rei. Nos versículos anteriores, também o pecado é comparado a um rei. Como o pecado aparece armado de poder destrutivo, infligindo a morte, assim a graça aparece armada de invencível poder, amorosamente determinada a salvar. E "onde o pecado abundou, a graça o superou em tudo"(v. 20). Assim, o controle é da graça.

Em outras palavras: aqueles a quem Deus salva por Sua vontade misericordiosa, certamente estão totalmente salvos. Se Deus graciosamente resgata homens do poder do pecado, e lhes dá novas habilidades espirituais, então, não serão deixados para se fazerem suficientemente santos para entrarem no céu. Se a obra graciosa de Deus ficasse restrita a isso, a consequência final ainda seria duvidosa; a graça não estaria reinando. Além disso — admitindo-se que tal coisa fosse possível — os que conseguissem santificar-se por seus próprios esforços, ficariam muito, orgulhosos pelo que fizeram — o que seria diametralmente o oposto da graça!

Portanto, se a graça há de reinar, ela tem que ser o único meio de salvação. Por Sua vontade misericordiosa, Deus não apenas tem que começar, mas também continuar e completar a salvação do pecador. Então, se pode dizer com certeza que a graça "reina". Certamente uma certeza maravilhosa como esta glorifica a Deus.

A graça se adapta melhor à nossa necessidade do que qualquer outra coisa. Visto que o pecado é um tirano que reina sobre nós, e pretende levar-nos à morte eterna, que esperança podemos ter de salvação firmados em nossos próprios esforços? Quando nossas consciências ficam alarmadas por causa de nossas muitas falhas vergonhosas, não entramos em desespero? Lembre-se, porém, de que a salvação é pela graça de Deus! A graça de Deus está fundamentada na obediência perfeita e meritória de Cristo. O pecado não pode destruir o valor disso. A graça pode reinar sobre a maior indignidade. Na verdade, é só com o indigno que a graça se preocupa. Isso é assombroso! Isso é maravilhoso! Há esperança de salvação para o pior indivíduo, se é que ela é assegurada pela riqueza da graça que reina.

Teremos que ver nas próximas vezes como a graça reina na nossa eleição — chamamento, perdão justificação, adoção, santificação e perseverança.

***
Fonte: The Reign of Grace
Tradução: Josemar Bessa
Via: Josemar Bessa
.

Por Francisco Alison Silva Aquino


A história do cristianismo tem como uma de suas principais marcas o surgimento de doutrinas que vão de encontro ao ensinamento bíblico. Já na igreja apostólica do Novo Testamento, nós percebemos facilmente a existência de heresias destruidoras. Em I Jo 4.1-3 nós lemos:

Amados, não creiais a todo espírito, mas provai se os espíritos vêm de Deus; porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo. Nisto conheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa a Jesus não é de Deus; mas é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que havia de vir; e agora já está no mundo.” 

Outra passagem do Novo Testamento afirma: “Porque já muitos enganadores saíram pelo mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Tal é o enganador e o anticristo.” (II Jo 7)

Estas passagens demonstram claramente que já no período neotestamentário havia conceitos equivocados a respeito de Cristo. Os textos dizem que alguns afirmavam que Cristo não vira em carne. E foi justamente esse um dos objetivos de João ao escrever essa epístola: enfrentar a heresia gnóstica do primeiro século. Talvez essa tenha sido a heresia mais perigosa que ameaçava a igreja dos três primeiros séculos. 

O gnosticismo (do grego “gnosis”, sabedoria) defende um forte dualismo espírito/matéria. A ideia gnóstica é que enquanto o espírito é “bom”, a matéria é essencialmente “má”. Essa percepção trouxe várias consequências desastrosas para o cristianismo. Uma delas é, que, pela lógica, se a matéria é essencialmente má, logo, Cristo não poderia ter “vindo em carne” (I Jo 4.2), negando assim a doutrina bíblica da encarnação como o cristianismo ortodoxo crê. Além disso, consequentemente, a humanidade de Cristo também era negada.

Franklin Ferreira (2007, p.487) agrupa as heresias antigas sobre as naturezas de Cristo em duas classes: primeira, as negações da humanidade de Jesus Cristo, que seriam o docetismo, o apolinarismo e o eutiquianismo. Segunda, as negações da divindade de Cristo, que seriam o ebionismo, o adocionismo e o arianismo.

O docetismo tem uma forte ligação com o gnosticismo tratado há pouco. O nome docetismo vem do grego dókesis cujo significado é “aparência”. Isto é, os docetas criam que, pelo fato de a matéria ser intrinsecamente má, Cristo não foi plenamente encarnado na carne, pois uma vez que a matéria tem essa característica, o espírito, que é bom, não poderia se envolver com ela. O corpo de Jesus, então, era uma mera ilusão e somente “parecia” que Cristo tinha sido crucificado. 

Um outro ensinamento difundido no século IV por Apolinário, bispo de Laodicéia (310-390), pregava que Cristo era divino mas não humano (apolinarismo). Ele entendia que Jesus Cristo não possuía uma alma racional humana, a alma divina (ou logos) teria tomado o lugar da alma humana. As ideias de Apolinário foram condenadas no concílio de Constantinopla no ano 381.

A última heresia que negava a humanidade de Cristo foi o eutiquianismo. Essa heresia era defendida por um monge de Constantinopla chamado Eutiques. Ele defendia que a natureza divina de Cristo absorveu a natureza humana. Nesse sentido, Cristo teria apenas uma natureza após a união, a divina, revestida de Carne humana. O eutiquianismo, conhecido posteriormente como monofisismo, foi condenado em Calcedônia e continuou exercendo influência sobre Cristãos do Egito, Etiópia, Síria, Armênia e outras regiões. Em oposição ao monofisismo, o concílio de Calcedônia reconhecia o diofisismo (duas naturezas).

A segunda classe de heresias cristológicas é aquela referente aos ensinamentos que negam a divindade de Cristo. São Elas: ebionismo, o adocionismo e o arianismo.

Os ebionistas defendiam uma heresia surgida em Israel no final do primeiro século. O ebionismo parece ter desaparecido conforme a igreja foi se tornando cada vez mais gentílica e menos judaica. O nome é derivado do hebraico “’ebyôn”, que significa “pobre”, “necessitado”, etc. O ensino ebionista era que Jesus Cristo não era Deus, mas somente um profeta extraordinário, o qual se identificava com os pobres (daí o nome), sendo filho natural de José e Maria. Segundo Berkhof (1992, p.43), os ebionistas “negavam tanto a divindade de Cristo como o seu nascimento virginal”.

Outra heresia que negava a divindade de Cristo foi o adocionismo. O ensinamento por trás dessa heresia era que Jesus era simplesmente um homem virtuoso, tão submisso ao Pai que este o adotou como o salvador dos homens. Tal doutrina foi ensinada por Paulo de Samosata, bispo de Antioquia. Segundo ele, Jesus teria sido iluminado por Deus de maneira extraordinária, sendo progressivamente aperfeiçoado até que ele tornou-se Cristo, o filho de Deus com uma posição divina. Porém, filho por “adoção”, não por natureza. Logo, a existência eterna de Cristo com o pai foi negada pelos adocionistas também.

Por último, o arianismo foi a principal heresia dos primeiros séculos da história do cristianismo. Ário foi um bispo de Antioquia que ensinava que Cristo era apenas uma criatura, não o Deus eterno. Uma expressão típica desse movimento era que “houve um tempo quando Cristo não era”. Os debates em torno dessa doutrina resultaram na formulação de uma das mais importantes confissões de fé cristãs: o credo de Nicéia, elaborado no primeiro grande concílio da igreja em 325 na cidade de Nicéia (atual İznik, Turquia).

O surgimento de heresias na história da igreja tem conduzido servos de Deus a debates com o objetivo de definir o ensinamento correto das Escrituras. No entanto, mesmo em meio a tantas controvérsias, o Senhor cuidou de preservar a sua verdade através dos séculos.

___________
Referências:
FERREIRA, Franklin & Alan Myatt. Teologia sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007.
BERKHOF, Louis. A história das doutrinas cristãs. São Paulo: Pes, 1992.

***
Fonte: Bereianos

domingo, 26 de outubro de 2014

O que é a trindade?
October 25, 2014

O que é a Trindade?

A doutrina da Trindade se desenvolveu após o Concílio de Constantinopla em 381 d.C, do Tomo de Dâmaso,  e em 382 d.C do Credo Atanasiano.  Segue se o que foi definido:
1. Diz-se que há três pessoas divinas — o Pai, o Filho e o Espírito Santo — na Divindade.
2. Diz-se que cada uma dessas pessoas distintas é eterna, nenhuma tendo surgido antes ou depois da outra.
3. Diz-se que cada uma é todo-poderosa, nenhuma sendo maior ou menor que a outra.
4. Diz-se que cada uma é onisciente, sabendo todas as coisas.
5. Diz-se que cada uma é Deus verdadeiro.
6. Contudo, diz-se que não há três Deuses, mas um único Deus.

Perguntas.

1.Qual texto informa que Deus se compõe de três pessoas distintas, Pai, Filho e Espírito Santo, mas que as três são um único Deus?
2. Qual texto informa que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são iguais em todos os aspectos, tais como: eternidade, poder, posição e sabedoria?
3. Em qual parte textual da Bíblia iguala o Espírito Santo ao Pai?

As origens surpreendentes da doutrina da Trindade

Foi em um cenário de apostasia, de falsos mestres e apóstolos em que a doutrina da Trindade surgiu. Nas primeiras décadas depois do ministério, morte e ressurreição de Jesus Cristo, que abrange os próximos séculos, várias ideias surgiram quanto à sua natureza exata. Ele era homem? Ele era Deus? Ele foi Deus com uma forma humana? Ele era uma ilusão? Ele era um homem simples que se tornou Deus? Ele foi criado por Deus, o Pai, ou Ele existiu eternamente com o Pai?


O Fundo Histórico de como a Trindade foi Introduzido

Uma vez que a Trindade não é encontrada na Bíblia, como muitos estudiosos e teólogos admitem, como chegou a ser visto como um ensinamento tão importante? Professores de teologia Roger Olson e Christopher Hall explicam parte do quebra-cabeça em seu livro: “É compreensível que a importância dada à esta doutrina é desconcertante para muitos cristãos leigos e estudantes. Em nenhum lugar está clara e inequivocamente declarado nas Escrituras... Como pode ser tão importante, se não for explicitamente indicado nas Escrituras”?... “A doutrina da Trindade desenvolveu-se gradualmente após a conclusão do Novo Testamento, no calor da polêmica, mas os pais da igreja que o desenvolveram acreditavam que eles estavam simplesmente fazendo exegese [explicar] de uma suposta revelação divina e não especulando ou inventando novas ideias”. A doutrina da Trindade se desenvolveu de forma explicitada no século IV em dois grandes concílios: Niceia (325 d.C) e Constantinopla (381 d.C)[1].


O Concílio de Nicéia

Instituiu ou confirmou o Concílio de Nicéia a Trindade como doutrina da cristandade? Muitos presumem que sim. Mas os fatos mostram outra coisa. O credo promulgado por este concílio de fato afirmou coisas sobre o Filho de Deus que permitiriam a diversos clérigos encará-lo de certo modo como igual a Deus, o Pai.

Conforme originalmente publicado, o credo (ou símbolo) inteiro declarava: “Cremos em um só Deus, Pai onipotente, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis; “E em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, gerado do Pai, unigênito, isto é, da substância do Pai, Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro do Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial com o Pai, por meio de Quem todas as coisas vieram à existência, coisas no céu e coisas na terra, o Qual, por causa de nós homens e por causa da nossa salvação, desceu e se tornou encarnado, tornando-se homem, sofreu e levantou-se de novo no terceiro dia, ascendeu aos céus, e virá para julgar os vivos e os mortos; “E no Espírito Santo.”[2]

Perguntas

Será que este credo diz que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três pessoas em um só Deus? Será que diz que os três são iguais em eternidade, poder, posição e sabedoria? O Credo Niceno original não instituiu ou afirmou a Trindade. Este credo, no máximo, iguala o Filho ao Pai em ser ele “consubstancial” com o Pai. Mas não diz nada disso a respeito do Espírito Santo.

Tudo o que diz é “cremos... no Espírito Santo”. Esta não é a doutrina trinitária da cristandade. Até mesmo a palavra-chave “consubstancial” (ho·mo·oú·si·os) não significa necessariamente que o concílio acreditava numa igualdade numérica entre o Pai e o Filho. Se o Concílio quisesse dizer que o Filho e o Pai eram numericamente um, ainda assim não seria uma Trindade. Seria apenas um Deus de dois-em-um não de três-em-um, exigido pela doutrina da Trindade.

Será que os bispos em geral, reunidos em Nicéia, acreditavam que o Filho era igual a Deus? Pois Ário ensinava que o Filho teve um começo específico no tempo e, por isso, não era igual a Deus, mas era subordinado a ele em todos os sentidos. Atanásio, por outro lado, acreditava que o Filho era igual a Deus em certo sentido. E havia outros conceitos.

Uma grade obra diz: “uma posição doutrinária claramente formulada em contraste com o arianismo foi abraçada apenas por uma minoria, embora esta minoria conseguisse prevalecer”[3]. A ideia de que o Pai, o Filho e o Espírito Santo eram cada um verdadeiro Deus e iguais em eternidade, poder, posição e sabedoria, e ainda assim apenas um só Deus — um Deus em três-em-um — não foi desenvolvido pelo concílio, nem pelos anteriores Pais da igreja.

 “A moderna doutrina popular da Trindade... não deriva apoio da linguagem de Justino [o Mártir]: e esta observação pode ser estendida a todos os Pais Pré-Nicenos; isto é, a todos os escritores cristãos durante três séculos após o nascimento de Cristo. É verdade que falam do Pai, do Filho e do Espírito profético ou Santo, mas não como co-iguais, não como uma só essência numérica, não como Três em Um. A doutrina da Trindade, segundo explicada por esses Pais, era essencialmente diferente da doutrina moderna.”[4]

O Concílio de Constantinopla

No ano de 381, 44 anos após a morte de Constantino, o imperador Teodósio, o Grande, convocou o Concílio de Constantinopla (hoje Istambul, Turquia) para resolver essas disputas. Gregório de Nazianzo, recentemente nomeado como arcebispo de Constantinopla, presidiu o conselho e pediu a adoção de sua visão do Espírito Santo. Historiador Charles Freeman diz: “Praticamente nada se sabe sobre os debates teológicos do Concílio de 381, mas Gregório foi certamente à esperança de obter alguma aceitação de sua crença de que o Espírito era consubstancial ao Pai [o que significa que as pessoas têm o mesmo ser, como substância, neste contexto, indica a qualidade individual]”. “Se ele lidou com o assunto desajeitadamente ou se simplesmente não havia chance de consenso, os 'macedônios, dos bispos que se recusaram a aceitar a plena divindade do Espírito Santo, deixaram o conselho...” Gregorio repreendeu os bispos por não terem aceitado "o Verbo Divino 'da Trindade em sua autoridade”[5].

Em 381 d.C, o Concílio de Constantinopla confirmou o Credo Niceno. E acrescentou-lhe algo mais. Chamou o Espírito Santo de “Senhor” e “vivificador”. O credo ampliado de 381 d.C (que é substancialmente o usado hoje nas igrejas e que é chamado de “o Credo Niceno”) mostra que a cristandade estava na iminência de formular o pleno dogma trinitário.

Todavia, nem mesmo este concílio completou a doutrina, pois se diz: “É de interesse que, 60 anos depois de Nicéia, o Concílio de Constantinopla evitasse homoousios na sua definição da divindade do Espírito Santo.”[6]

“Os eruditos têm ficado intrigados com a aparente brandura da expressão por parte deste credo; por exemplo, de não usar a palavra homoousios a respeito do Espírito Santo como consubstancial com o Pai e o Filho.”[7]

“Homoousios não ocorre nas Escrituras.” A Bíblia não usa esta palavra nem para o Espírito Santo, nem para o Filho como consubstanciais com Deus. Foi uma expressão não-bíblica que ajudou a produzir a doutrina da Trindade.



O credo do concílio só foi amplamente reconhecido no Ocidente no sétimo ou no oitavo século. Os eruditos reconhecem também que o Credo Atanasiano definido como padrão e apoio a Trindade não foi escrito por Atanásio, mas por um autor desconhecido de época muito posterior. The New Encyclopædia Britannica comenta: “O credo era desconhecido à Igreja Oriental até o século 12. Desde o século 17, os peritos em geral têm concordado que o Credo Atanasiano não foi escrito por Atanásio (falecido em 373), mas que, provavelmente, foi elaborado no sul da França durante o quinto século... O credo parece ter tido influência primariamente no sul da França e na Espanha no 6.° e 7.° séculos. Foi usado na liturgia da igreja na Alemanha no 9.° século e um pouco mais tarde em Roma.”[8]

O vocábulo homousios

A palavra chave “consubstancial” (ho·mo·oú·si·os) não significa necessariamente que o concílio acreditava numa igualdade numérica entre o Pai e o Filho.

Atanásio descreve com muita perspicácia a proposta ortodoxa da expressão que eles tinham pensado. Após uma série de tentativas, verificou-se que algo mais claro e inequívoco deveria ser adotado sobre a verdadeira unidade da fé e consequentemente, foi adotada a palavra homousios.[9]

A palavra homousios, provavelmente foi rejeitada pelo Concilio de Antioquia[10] e foi aceito pelo herege Paulo de Samósata e este a tornou muito ofensivo para muitos nas Igrejas asiáticas.

Por outro lado, a palavra foi usada quatro vezes por  Irineu, e Pamphilus o Mártir  cita que Orígenes usou também a palavra. Tertuliano também usou a expressão “de uma substância” (unius substanticoe) em dois lugares.

Vasquez trata este assunto com alguma profundidade em sua Disputations [11] e chama a atenção para a forma como a distinção é desenhada por Epifânio entre Synousios e homousios, “synousios significa uma unidade de substância que permite qualquer distinção”: palavra esta que os Sabelianitas admitiam: entretanto homousios significa a mesma natureza e substância, mas com uma distinção entre as pessoas umas das outras. A Igreja adotou esta palavra como uma das melhores para refutar a heresia ariana.[12]


A Trindade torna-se doutrina oficial

O ensino dos três teólogos da Capadócia "tornou possível no Concílio de Constantinopla (381)  afirmar a divindade do Espírito Santo, que até aquele momento não tinha sido claramente estabelecido, nem mesmo nas Escrituras”[13].

O Conselho aprovou uma declaração que diz o seguinte: "Cremos em um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra, e de todas as coisas visíveis e invisíveis; e em um Senhor Jesus Cristo, o Filho unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todas as idades. . . E cremos no Espírito Santo, Senhor, que dá a vida, e procede do Pai, que com o Pai e o Filho é adorado e glorificado, que falou pelos profetas... "A declaração também afirmou acreditar" em uma santa, católica [significado neste contexto universal, integral ou completo] e apostólica. . . "Com esta declaração, em 381, que se tornaria conhecido como o Niceno-Constantinopolitano, a Trindade como geralmente entendida hoje se tornou a crença oficial.

Professor de Teologia Richard Hanson observa que o resultado da decisão do conselho "era reduzir os significados da palavra" Deus "a partir de uma seleção muito grande de alternativas para uma só," de modo que "quando o homem ocidental de hoje diz que" Deus "ele quer dizer o um, único exclusivo [trinitária] Deus e nada mais” (Studies in Christian Antiquity, 1985, pp. 243-244).

Assim, o imperador Teodósio, que se tinham sido batizados apenas um ano antes da convocação do conselho-era, como Constantino quase seis décadas antes, instrumental no estabelecimento de grande doutrina da igreja. Como o historiador Charles Freeman observa: "É importante lembrar que Teodósio não tinha nenhuma formação teológica de sua própria e que ele colocou no lugar como dogma uma fórmula que contém problemas filosóficos intratáveis ​​de que ele teria sido inconsciente. Com efeito, as leis do imperador tinha silenciado o debate, quando ainda não estava resolvido” (p. 103).


 Influência da Filosofia Grega na Doutrina da Trindade

Muitos historiadores e estudiosos religiosos atestam a influência da filosofia grega ou platônica no desenvolvimento e aceitação da doutrina da Trindade, no século IV. Mas no que essa filosofia implica, e como ela chegou a afetar a doutrina da Trindade? Para resumir o que era pertinente, começa-se com menção ao famoso filósofo grego Platão (429-347 a.C). Ele acreditava em uma tríade divina: “Deus, as ideias, [e] o Espírito do Mundo”, embora “em nenhuma parte é explicado ou harmonizado essa tríade”[14].

Pensadores gregos posteriores fizeram uso dos conceitos de Platão no que se referiam como três “substancias”— O Deus supremo ou “único,” a partir da qual veio “mente” ou “pensamento” e “espirito” ou “essência.” Em seu pensamento as  “substâncias” eram diferentes e divinas, mas sendo o aspectos do mesmo Deus. Tal pensamento metafísico era comum entre os intelectuais do mundo grego e assim transferiram para o pensamento do mundo romano do período do Novo Testamento e séculos seguintes. Com a morte dos últimos apóstolos, um pouco deste pensamento metafísico começou a afetar e infiltrar-se na Igreja primitiva — principalmente por aqueles que já tinham se comprometidos com o paganismo. Estudiosos da Bíblia como John McClintock e James Strong explicam: “No final do primeiro século, e durante o segundo, muitos homens instruídos vieram tanto do judaísmo e do paganismo ao cristianismo. Estes trouxeram com eles nas escolas cristãs de teologia suas ideias platônicas e fraseologia”[15].

Muitos dos líderes da igreja que formularam a doutrina da Trindade estavam mergulhados na filosofia grega e platônica, e isso influenciou suas opiniões e ensinamentos religiosos. A linguagem que eles usaram para descrever e definir a Trindade foram de fato, tirada diretamente da filosofia platônica e grega. A palavra trindade em si não é nem bíblica nem cristã. Em vez disso, o termo platônico trias, da palavra para três, foi latinizado como trinitas — este último dando-nos a palavra em português, “trindade”. “A escola catequética de Alexandria, tendo Clemente de Alexandria e Orígenes, os maiores teólogos da Igreja grega, aplicaram o método alegórico para a explicação das Escrituras. Seu pensamento foi influenciado por Platão: seu ponto forte era [pagã] especulações teológicas. Atanásio e os três Capadócios [os homens cujo ponto de vista trinitário foi adotado pela Igreja Católica no Concílio de Niceia e Constantinopla] tinham sido incluído entre os seus membros”[16].

 “A doutrina do Logos [i.e., o “verbo,” uma designação para Cristo em João 1] e da Trindade receberam a sua forma de Pais Gregos, que... foram muito influenciados, direta ou indiretamente, pela filosofia platônica.... Que os erros e corrupções penetraram na Igreja a partir desta fonte não pode ser negada”[17].


O prefácio do historiador Edward Gibbons’ History of Christianity resume a influência grega sobre a adoção da doutrina da Trindade, afirmando o seguinte: “Se o paganismo foi conquistado pelo cristianismo, é igualmente verdade que o cristianismo foi corrompido pelo paganismo. O deísmo puro [religião de base, no presente contexto] dos primeiros cristãos... foi mudado, pela Igreja de Roma, para o dogma incompreensível da trindade. Muitos dos dogmas pagãos, inventados pelos egípcios e idealizados por Platão, foram retidos como sendo dignos de crença”[18]

A ligação entre os ensinamentos de Platão e da Trindade, tal como adaptadas por séculos pela Igreja Católica, se tornou tão forte que Edward Gibbon, em sua obra-prima A História do Declínio e Queda do Império Romano, se refere a Platão como “o sábio ateniense, que, maravilhosamente antecipou uma das descobertas mais surpreendentes da revelação cristã”— a Trindade (1890, Vol. 1, p. 574).

Assim, se vê que a doutrina da Trindade deve muito menos com a Bíblia do que para as especulações metafísicas de Platão e outros filósofos gregos pagãos. Não é por pouco que Paulo advertiu os Colossenses com as seguintes palavras: Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo (Col 2:8 ARA).

As maldiçoes dos que não creem na Trindade

Em 325 d.C, um concílio de bispos, reunido em Nicéia, na Ásia Menor, formulou um credo que declarava que o Filho de Deus era “Deus verdadeiro” assim como o Pai era “Deus verdadeiro”. Parte desse credo declarava: “Mas, quanto aos que dizem que Houve [tempo] em que [o Filho] não existia, e que, antes de nascer, Ele não era, e que Ele veio à existência do nada, ou que afirmam que o Filho de Deus é de diferente hipóstase ou substância, ou que é criado, ou que está sujeito a alteração ou mudança — a estes a Igreja Católica anatematiza.”[19]

Que acreditasse que o Filho de Deus e o Pai não eram co-eternos, era destinado à perdição eterna. No ano 381 d.C, reuniu-se outro concílio, em Constantinopla, e declarou que o Espírito Santo devia ser adorado e glorificado como o Pai e o Filho eram. Um ano mais tarde, em 382 d.C, outro sínodo reuniu-se em Constantinopla e ratificou a plena divindade do Espírito Santo.[20]

O Papa Dâmaso apresentou uma coletânea de ensinos a serem condenados pela igreja. O documento, chamado de Tomo de Dâmaso, incluía as seguintes declarações: “Se alguém nega que o Pai é eterno, que o Filho é eterno, e que o Espírito Santo é eterno, este é herege.” “Se alguém nega que o Filho de Deus é Deus verdadeiro, assim como o Pai é Deus verdadeiro, tendo todo o poder, sabendo todas as coisas, e que é igual ao Pai, este é herege.” “Se alguém nega que o Espírito Santo...  é Deus verdadeiro ... que tem todo o poder e sabe todas as coisas, . . . este é herege.” “Se alguém nega que as três pessoas, o Pai, o Filho, e o Espírito Santo, são pessoas verdadeiras, iguais, eternas, contendo todas as coisas visíveis e invisíveis, que são onipotentes,... este é herege.”
“Se alguém diz que [o Filho que foi] feito carne não estava no céu com o Pai enquanto estava na terra, este é herege.” “Se alguém, embora diga que o Pai é Deus, e que o Filho é Deus, e que o Espírito Santo é Deus, . . . não diz que eles são um só Deus, . . . este é herege.”[21]

Atanásio, clérigo do quarto século, declarou em seu livro On the Incarnation (Sobre a Encarnação): “A Palavra [Jesus] não estava confinada ao seu corpo, tampouco sua presença no corpo o impedia de estar presente também em outro lugar. Quando el[e] transferiu seu corpo, el[e] não parou de também dirigir o universo por sua mente e poder... el[e] ainda é fonte de vida para todo o universo, presente em todas as partes; no entanto, fora do todo.”[22]

O que os grandes peritos disseram sobre a trindade?

A Enciclopédia Católica informa: “Hoje, no entanto, os estudiosos em geral concordam que não há nenhuma doutrina da Trindade, como tal, tanto no AT [Antigo Testamento] ou o NT [Novo Testamento]... Da mesma forma, o NT não contém uma doutrina explícita da Trindade”[23].

A Enciclopédia Britânica em seu artigo sobre a Trindade, explica: “Nem a palavra Trindade, nem a doutrina explícita aparece no Novo Testamento... A doutrina desenvolveu-se gradualmente ao longo de vários séculos e através de muitas controvérsias... Não existia até o século IV onde a distinção dos três em uma unidade foram reunidos em uma única doutrina ortodoxa de uma essência e três pessoas”[24].

O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento aponta que “o cristianismo primitivo não tinha uma doutrina explícita da Trindade, tal como foi posteriormente elaborada nos credos da igreja primitiva”[25].

Historiador e escritor HG Wells, em seu trabalho notável O Esboço da História, assinala: "Não há nenhuma evidência de que os apóstolos de Jesus ouviram falar da Trindade” [26].

Lutero, o sacerdote alemão que iniciou a Reforma Protestante, admitiu: “É verdade que o nome Trindade está longe de ser encontrada nas Sagradas Escritura, mas foi concebida e inventada pelo homem”[27].

  
Bruce Metzger diz: “Como a Trindade é uma parte tão importante da doutrina cristã, é surpreendente que o termo não aparece no Novo Testamento... Da mesma forma, o conceito desenvolvido por três pessoas co-iguais na Divindade encontrados nas formulações dos credos posteriores não pode ser claramente detectado dentro dos limites do cânone”[28].

 Professor Charles Ryrie escreve: “Muitas doutrinas são aceitas pelos evangélicos como sendo claramente ensinado na Escritura para os quais não existem textos que provam. A doutrina da Trindade fornece o melhor exemplo disso. É justo dizer que a Bíblia não ensina claramente a doutrina da Trindade... Na verdade, não há sequer um texto que prove ou uma passagem que “claramente” afirme que existe um Deus  em três pessoas”[29].

Millard Erickson escreve que a Trindade “não é claramente ou explicitamente ensinada em qualquer lugar nas Escrituras, no entanto, é amplamente considerada como uma doutrina central, indispensável para a fé cristã”. A este respeito, ele vai ao contrário do que é praticamente um axioma da doutrina bíblica, ou seja, que não há uma correlação direta entre a clareza bíblica de uma doutrina e sua crucialidade à fé e vida da Igreja. “Tendo em vista a dificuldade do assunto e à grande quantidade de esforço despendido para manter esta doutrina, bem podemos perguntar a nós mesmos o que poderia justificar todo este problema”[30].

Professor Erickson afirma ainda que o ensino da Trindade “não está presente no pensamento bíblico, mas surgiu quando o pensamento bíblico foi pressionado a este molde externo [de conceitos gregos]. Assim, a doutrina da Trindade vai além e até distorce o que a Bíblia diz sobre Deus” (pag. 20).

Professor Erickson continua dizendo: “Alega-se que a doutrina da Trindade é uma doutrina muito importante, fundamental, e até mesmo básica. Se for esse realmente o caso, não deveria existir algo claro, direto e explicito na Bíblia? Se esta é a doutrina que constitui especialmente a exclusividade do Cristianismo...como pode ser apenas implícita na revelação bíblica?... Pois aqui está uma questão aparentemente crucial em que as Escrituras não falam de forma clara. É improvável que qualquer texto da Escritura mostre a doutrina da Trindade, de forma clara, direta e inequívoca (pag. 108-109).

Shirley Guthrie, Jr., escreve: “A Bíblia não ensina a doutrina da Trindade. Nem a palavra “trindade” em si, nem esse tipo de linguagem como “um em três”, “três-em-um”, uma “essência” (ou substância), e três pessoas. A linguagem da doutrina é a língua da antiga igreja tomada da filosofia grega clássica”[31].
 A Influência dos deuses Antigos Trinitários na Trindade

Muitos dos que acreditam na Trindade são surpreendidos, talvez até chocados, ao saber que a ideia de seres divinos existente como trindades ou tríades antecedeu o cristianismo. A evidência é abundantemente documentada.

Marie Sinclair, condessa de Caithnes, em seu livro Antigas verdades sob uma nova luz, informa: “É geralmente, embora erroneamente, supor que a doutrina da Trindade é de origem cristã”. Quase todas as nações da antiguidade possuía uma doutrina semelhante. Jerônimo atesta de forma inequívoca, “Todas as nações antigas acreditavam na Trindade” (The early Catholic theologian p. 382).

Suméria

“O universo foi dividido em três regiões cada um dos quais se tornou o domínio de um deus. A participação de Anu era o céu. A terra foi dada a Enlil. Ea tornou-se o governante das águas. Juntos, eles constituem a tríade dos grandes deuses”.[32]

Babilônia

“Os antigos babilônicos reconheciam a doutrina da trindade, ou três pessoas em um Deus — como se depreende um deus composto de três cabeças que fazem parte de sua mitologia, e da utilização do triângulo equilátero, também, como um emblema de tal trindade na unidade”.[33]

Grego

“No século IV a.C Aristóteles escreveu: “Todas as coisas são três, e três é tudo: e vamos usar esse número no culto dos deuses; pois, como dizem os pitagóricos, tudo e todas as coisas são delimitadas por três, para o fim, o meio e o início tem este número em tudo, e estes compõem o número da Trindade”.[34]

Egito

“O Hino a Amon decretou que “Nenhum deus surgiu diante dele” e que “Todos os deuses são três: Amon, Ra e Ptah, e não há um segundo para eles”. Invisível é o seu nome como Amon, ele é Ra no rosto, e seu corpo é Ptah... Esta é uma declaração de trindade, os três principais deuses do Egito subsumido em um deles, Amon. Claramente, o conceito de unidade orgânica dentro da pluralidade tem um impulso extraordinário com esta formulação. Teologicamente, em uma forma bruta chegou surpreendentemente perto da forma cristã posterior do monoteísmo trinitário plural”[35].
 A concepção da Trindade no período dos principais Pais das Igrejas

Se os apóstolos ensinaram a doutrina da Trindade, então esses Pais Apostólicos devem tê-la ensinado também. Ela deve ter ocupado um lugar de destaque em seu ensino, visto que nada era mais importante do que dizer às pessoas quem é Deus. Será que eles ensinaram a doutrina da Trindade?

Uma das mais antigas declarações não bíblica da fé cristã encontra-se num livro de 16 capítulos curto conhecido como O Dídaque, ou O Ensino dos Doze Apóstolos. Alguns historiadores datam-no de antes do ano 100 d.C ou por volta disto. O autor é desconhecido.[36]

O Dídaque trata de coisas que as pessoas precisavam saber para se tornar cristãos. No capítulo 7, prescreve o batismo “no nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo”, as mesmas palavras usadas por Jesus em Mateus 28:19.3. Mas nada diz sobre os três serem iguais em eternidade, poder, posição e sabedoria. No capítulo 10, O Dídaque inclui a seguinte confissão de fé em forma de oração: “Agradecemos-te, Santo Pai, por teu Nome santo que fizeste residir em nossos corações; e pelo conhecimento, e fé, e imortalidade, que nos revelaste por meio de Jesus, teu Servo. Glória a ti para sempre! Tu, Todo-Poderoso criaste tudo pela causa do teu Nome.... E a nós tens dado graciosamente alimento e bebida espirituais, e vida eterna por intermédio de Jesus, teu Servo.”[37]

Clemente de Roma

Análise. Clemente de Roma, que se pensa ter sido “bispo” naquela cidade, é outra antiga fonte de escritos a respeito do cristianismo. Crê-se que tenha morrido por volta de 100 d.C. Nos textos supostamente de sua autoria, ele não faz menção alguma de uma Trindade, quer direta, quer indiretamente. Na Primeira Epístola de Clemente aos Coríntios, ele diz: “Graça e paz do Deus Todo-Poderoso vos sejam multiplicadas por intermédio de Jesus Cristo.” “Os apóstolos pregaram-nos o Evangelho que receberam do Senhor Jesus Cristo; Jesus Cristo, o que recebera de Deus. Cristo, portanto, foi enviado por Deus, e os apóstolos por Cristo.” “Possa Deus, que tudo vê e Governa — aquele que escolheu nosso Senhor Jesus Cristo, e nós por meio Dele para sermos um povo peculiar — conceder a toda alma que invoca Seu glorioso e santo Nome, fé, temor, paz, paciência, longanimidade.”[38]

Clemente não diz que Jesus ou o Espírito Santo eram iguais a Deus. Ele apresenta o Deus Todo- Poderoso (não apenas o “Pai”) como distinto do Filho. Fala-se de Deus como superior, visto que Cristo foi “enviado” por Deus, e Deus “escolheu” a Cristo.



Mostrando que Deus e Cristo são duas identidades distintas e não iguais, Clemente disse: “Rogamos com fervorosa oração e súplica que o Criador do universo mantenha intacto o número preciso dos seus eleitos em todo o mundo, por intermédio do seu amado Filho Jesus Cristo... Damo-nos conta de que só tu [Deus] és o mais elevado entre os mais elevados”... “Só tu és o guardião dos espíritos e o Deus de toda carne.” “Que todas as nações saibam que tu és o único Deus, que Jesus Cristo é teu Filho.”[39]

Clemente chama a Deus (não só ao “Pai”) de “o mais elevado” e refere-se a Jesus como Filho de Deus. Ele também comenta sobre Jesus: “Visto que ele reflete o esplendor de Deus, ele é superior aos anjos, uma vez que seu título se distingue mais do que o deles.”[40]

Se o Filho de Deus fosse igual a Deus, que é o Pai celestial, não teria sido necessário Clemente dizer que Jesus é superior aos anjos, visto que isto seria óbvio. E sua fraseologia mostra reconhecimento de que, ao passo que o Filho é superior aos anjos, é inferior ao Deus Todo- Poderoso.

O conceito de Clemente é bastante claro: o Filho é inferior ao Pai e é secundário a ele. Clemente nunca achou que Jesus partilhasse a divindade com o Pai. Ele mostra que o Filho é dependente do Pai, isto é, Deus, e diz definitivamente que o Pai, e “só” o Pai, é Deus, e que não partilha Sua posição com ninguém. E em lugar algum Clemente atribui ao Espírito Santo igualdade com Deus. Assim, não há Trindade alguma nos escritos de Clemente.

Inácio

Análise. Inácio mostrou que o Filho estava sujeito Àquele que é superior, o Deus Todo-Poderoso. Inácio chama o Deus Todo-Poderoso de “o único Deus verdadeiro, o não-gerado e inacessível, o Senhor de todos, o Pai e Genitor do Filho unigênito”, mostrando a distinção entre Deus e Seu Filho.[41]

Ele fala sobre “Deus, o Pai, e o Senhor Jesus Cristo”.[42] E declara: “Há um único Deus, Todo- Poderoso, que Se manifestou por meio de Jesus Cristo, Seu Filho.”[43]

Inácio mostra que o Filho não era eterno, como pessoa, mas que foi criado, pois, segundo ele, o Filho disse: “O Senhor [Deus Todo-Poderoso] criou a Mim, o princípio dos Seus caminhos.”[44]

Similarmente, Inácio disse: “Há um só Deus do universo, o Pai de Cristo a quem pertencem todas as coisas”; e um só Senhor Jesus Cristo, nosso Senhor, por intermédio de quem são todas as coisas.[45]

Ele também escreve: “O Espírito Santo não fala as Suas próprias coisas, mas as de Cristo... assim como o Senhor também nos anunciou as coisas que Ele recebera do Pai. Pois, diz Ele [o Filho] a palavra que ouvis não é Minha, mas do Pai, que Me enviou”.[46]

 “Há só um Deus que se manifestou por meio de Jesus Cristo, seu Filho, que é sua Palavra que procedeu do silêncio e em todos os aspectos agradou a ele [Deus], que o enviou.... Jesus Cristo estava sujeito ao Pai.”[47]

Inácio chama o Filho de “Deus, a Palavra”. Mas o uso da palavra “Deus” aplicada ao Filho não significa necessariamente igualdade com o Deus Todo-Poderoso. Será que as 15 cartas atribuídas a Inácio são aceitas como autênticas? Em The Ante- Nicene Fathers, Volume I se lê: “a opinião universal dos críticos que as primeiras oito dessas cartas que se diz serem de Inácio são espúrias. Elas trazem provas indubitáveis de terem sido produzidas numa época posterior... e agora são, por consenso geral, descartadas como falsificações.” “Das sete Epístolas que são reconhecidas por Eusébio... possuímos duas recensões gregas, uma mais curta e outra mais longa.... Embora a forma mais curta tivesse sido em geral aceita em preferência à mais longa, ainda havia uma opinião bastante prevalecente entre os eruditos de que nem mesmo esta poderia ser considerada absolutamente livre de interpolações, ou de indubitável autenticidade.”[48]

Se aceitar a versão mais curta dos seus escritos como genuína, isto realmente elimina algumas frases (na versão mais longa) que retratam Cristo como subordinado a Deus, mas o que resta na versão mais curta mesmo assim não indica uma Trindade. Inácio cria numa dualidade entre Deus e seu Filho. Isto certamente não era uma dualidade de igualdade, pois o Filho é sempre apresentado como menor que Deus e subordinado a Ele. Portanto os escritos de Inácio não relata a doutrina da Trindade.

Policarpo

Análise. Policarpo de Esmirna nasceu em meados do primeiro século e morreu em meados do segundo. Diz-se que teve contato com o apóstolo João e que escreveu a Epístola de Policarpo aos Filipenses.

Havia algo nos escritos de Policarpo que indicasse uma Trindade? O que ele diz harmoniza-se com o que Jesus e seus apóstolos ensinaram. Por exemplo, em sua Epístola, Policarpo declarou: “Que o Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo, e o próprio Jesus Cristo, que é o Filho de Deus.... edifiquem-vos em fé e verdade.”[49]



 Justino Mártir

Um dos mais antigos apologistas foi Justino, o Mártir, que viveu de cerca de 110 a 165 d.C. Nenhum de seus escritos existentes menciona três pessoas co-iguais em um só Deus.

Análise. Justino diz no seu Diálogo com Trifão:“A Escritura declara que essa Prole foi gerada pelo Pai antes de serem criadas todas as outras coisas; e que aquilo que é gerado é numericamente distinto daquele que gera, isso qualquer pessoa admitirá.”[50]
Justino Mártir acreditava em uma forma rudimentar da Trindade? A doutrina da Trindade foi um desenvolvimento ou um ensinamento transmitido pelos apóstolos?
Em primeiro lugar, Justino Mártir chamou o Pai de “o mais verdadeiro Deus” (Apologia, 6) e chamou Jesus de “um outro deus” (Trifão, 56) e como o filho do verdadeiro Deus (Apologia, 13)  é “sujeito ao Criador de todas as coisas” (Trifão, 56). Justino também se refere a Jesus como “o Espírito Santo” (Apologia, 33 e Trifão, 61), afinal Jesus é o Espírito Santo? E se for são pessoas distintas ou não?
Na Primeira Apologia de Justino, no capítulo 6, faz uma defesa contra a acusação da parte dos pagãos de que os cristãos são ateístas. Ele escreve: “Tanto Ele [Deus] como o Filho (que se originou Dele e nos ensinou estas coisas, e a hoste de outros anjos bons que o seguem e são feitos semelhantes a Ele), e o Espírito profético, veneramos e adoramos.”[51]

 “Justino considerava o Filho distinto de Deus, e inferior a ele: distinto, não no sentido moderno, como se formasse uma das três hipóstases, ou pessoas, . . . mas distinto na essência e na natureza; com subsistência real, substancial, distinta de Deus, de quem ele derivou todos os seus poderes e títulos; constituído debaixo dele, e sujeito à vontade dele em todas as coisas. O Pai é supremo; o Filho é subordinado: o Pai é a fonte do poder; o Filho, o recipiente: o Pai origina; o Filho, como seu ministro ou instrumento, executa. Eles são dois em número, mas concordam, ou são um, na vontade; a vontade do Pai sempre prevalece sobre a do Filho.”[52]

O discurso da divindade de Jesus por Justino
O Capítulo XLVIII. A divindade de Cristo. Trifão exige que seja estabelecido que Ele é o Cristo. E Trifão disse: “Ouvimos o que você disse sobre estas questões. Retomemos o discurso de onde parou, e vamos colocar um fim nisso. Para alguns, parece-me ser paradoxal, e totalmente incapaz de se provar. Quando você diz que esse tal de Cristo existiu como Deus, antes dos séculos, então, porque ele submeteu a nascer e tornar-se o homem, ainda que ele não era homem do homem, esta [declaração] parece-me ser não apenas um paradoxo, mas também tola .”

E eu respondi: “Eu sei que a afirmação parece ser paradoxal, especialmente para aqueles que estão sempre dispostos a entender ou executar as [exigências] de Deus”.148

“Agora, Trifão, eu continuarei [a prova] que este homem 149 é o Cristo de Deus e não falha, apesar de eu não ser capaz de provar que Ele existiu anteriormente como Filho do Criador de todas as coisas, sendo Deus, e nasceu por uma virgem sem a participação de um homem”.

“Mas desde que eu certamente provei que esse homem é o Cristo de Deus, ou quem quer que seja, mesmo que eu não prove a sua pré-existência e sabendo que todo homem ao nascer homem está condicionado às mesmas paixões que nós, tendo um corpo, de acordo com a vontade do Pai, neste último caso digo que errei, não em negar que ele é o Cristo mesmo nascendo homem dos homens, mas Ele tornou-se Cristo por eleição segundo minha concepção”.

Irineu
Irineu defendeu uma visão do Pai, do Filho e do Espírito Santo?  
Análise. Irineu, em sua obra Contra as Heresias, refutou heresias continuamente referindo-se à doutrina transmitida pelos Apóstolos e sua principal linha de argumentação diz respeito “a identidade do único Deus” sobre e contra as especulações gnósticas do vários deuses superiores. Em nenhum momento ele se referiu a uma pessoa três Deus. E o que é ainda mais revelador, Irineu não só repetidamente identificava o único Deus como o Pai de Jesus Cristo, como também declarava que “somente o Pai” era o Deus dos cristãos.
“A Igreja, embora dispersa através de todo o mundo, até aos confins da terra, recebeu dos apóstolos e seus discípulos esta fé: em um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra (I, 10)”.
“A regra da verdade que temos, é que existe um Deus Todo-Poderoso ... Ele é o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó, acima de quem não há outro Deus ... Ele é o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, como iremos provar (I, 22)”.
“É apropriado, então, que eu deveria começar com a primeira e mais importante cabeça, isto é, Deus, o Criador, que fez o céu e a terra, e todas as coisas que nela há, e para demonstrar que não há nada acima ou após ele; nem que, influenciado por qualquer um, mas de Sua própria vontade, Ele criou todas as coisas, uma vez que Ele é o único Deus, o único Senhor, o único Criador, o único Pai, sozinho contendo todas as coisas, e mesmo comandando todas as coisas em existência (II, 1)”.





“Agora, esse Deus é o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o apóstolo Paulo também declarou: Há um só Deus, o Pai, que está acima de todos, e por todos e em todos [Efésios 4:6] (Livro II, 2)”.
“Considerai, todos os que inventam tais opiniões, uma vez que o próprio Pai é Alone (único), chamado Deus, que tem uma existência real, mas quem você estiliza de o Demiurgo; uma vez que, além disso, as Escrituras reconhecem a Ele, Alone (único),  como Deus (II, 28)”.
“Mas há um só Deus, o Criador .... Ele é Pai , Ele é Deus, Ele é o Fundador, o Criador .... Ele é o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó .... Ele é o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo (II, 30)”.
“E, portanto, um só Deus, o Pai é declarado, o qual é sobre todos, e por todos e em todos. O Pai é, de fato, acima de tudo, e Ele é a Cabeça de Cristo. Mas a Palavra é através de todas as coisas, e é ele mesmo o cabeça da igreja, e o Espírito está em todos nós, e ele é a água viva, que o Senhor concede aos que creem justamente nele, e amá-lo, e que saibam que há um Pai, que está acima de todos, e por todos e em todos nós” (Livro V, 18).
Não só Irineu identifica o seu único Deus como o Pai de Jesus Cristo, ele mesmo disse repetidamente que “apenas” o Pai é o único Deus verdadeiro. Ainda mais, as afirmações acima negam completamente que Irineu acreditava em um Deus em três pessoas. 
Apologistas trinitários tentam frequentemente afirmam que Irineu era trinitário e, em seguida, passam a relacionar alguns versos onde Irineu se refere a Jesus como “Deus”. Mas o que eles não informam é que Irineu também se referiu aos cristãos como “Deus” e “deuses” (III, 6; IV, Prefácio). Isso eles convenientemente se esqueceram. 

 Tertuliano

Análise. Tertuliano (160 a 230 d.C) foi o primeiro a usar a palavra latina trinitas. Conforme observado por Henry Chadwick, Tertuliano propôs que Deus é uma substância que consiste em três pessoas.[53] 

O conceito de Tertuliano sobre Pai, Filho e espírito santo era bem diferente da Trindade da cristandade, pois ele era subordinacionista. Ele considerava o Filho subordinado ao Pai. Na obra Against Hermogenes (Contra Hermógenes), ele escreveu: “Não devemos supor que haja algum outro ser, exceto unicamente Deus, que seja não gerado e incriado... Como pode algo, exceto o Pai, ser mais velho, e por isso deveras mais nobre, do que o Filho de Deus, o Verbo unigênito e primogênito?... Esse [Deus] que não precisou de um Criador para lhe dar existência, será muito mais elevado em categoria do que [o Filho] que teve um autor que o trouxe à existência.”[54]


 “Assim, o Pai é distinto do Filho, sendo maior do que o Filho, na medida em que aquele que gera é um, e aquele que é nascido é outro. Ele, também, que manda é um só, e ele que é enviado é outro (Contra Praxeas, 9)”.
“Porque o Pai é toda a substância, mas o Filho é uma derivação e parcela do todo, como ele mesmo confessa...: Meu Pai é maior do que eu.... No Salmo sua inferioridade é descrita como sendo um pouco menor que os anjos.... Assim, o Pai é distinto do Filho, sendo maior do que o Filho, na medida em que aquele que gera é um, e aquele que é nascido é outro. Ele, também, quem manda é um só, e ele que é enviado é outro, e ele, mais uma vez, que faz é um só, e ele por meio do qual a coisa é feita, é outro (Contra Praxeas, 9)”.
Tertuliano estava se referindo à “substância” de Deus e indicando que o Filho era inferior ao Pai. Isso não chega nem perto do Trinitarianismo clássico.  

  
[1] Roger Olson, Christopher Hall, A Trindade, 2002, pag. 1-2.

[2] This Letter is also found in Socr. H. E. i. 8. Theod. H. E. i.Gelas. Hist. Nic. ii. 34. p. 442. Niceph. Hist. viii. A Short History of Christian Doctrine, de Bernhard Lohse, 1963, página 52, 53.

[3]Philip Schaff e Henry Wace, A Select Library of Nicene and Post-Nicene Fathers of the Christian Church, de, 1892, Volume IV, pag. xvii.


[4] Alvan Lamson, The Church of the First Three Centuries, de, 1869, pag 75,76, 341.

[5] A.D. 381: Heretics, Pagans and the Dawn of the Monotheistic State, 2008, p. 96

[6] New Catholic Encyclopedia, 1967, Volume VII, pag 115.

[7] New Catholic Encyclopedia, 1967, Volume IV, pag 436.

[8] The New Encyclopædia Britannica, 1985, 15.a Edição, Micropædia, Volume 1, pag 665.

[9] Athanas, De Decret. Syn.Nic. c. xix. et seq.

[10] Swainson, in Srnith and Wace, Dict. Chridt. Biog., sub voce Homousios, p 134.

[11]Vasquez. Disput. cix., cap. v. “Rightly doth the Church use the expression Homousios (that is Consubstantial) to express that the Father and the Son are of the same nature”.

[12] Vasquez may also well be consulted on the expressions ουσία, substantia, υͅπόστασις, etc. The reader will find this whole doctrine treated at great length in all the bodies of divinity; and in Alexander Natalis (H.E. t. iv., Dies. xiv.); he is also referred to Pearson, On the Creed; Bull, Defence of the Nicene Creed; Forbes, An Explanation of the Nicene Creed; and especially to the little book, written in answer to the recent criticisms of Professor Harnack, by H. B. Swete, D.D., The Apostles’ Creed.



[13] The HarperCollins Encyclopedia of Catholicism,“God,” p. 568

[14]Cf. Charles Bigg, Christian Platonists of Alexandria, 1886, pag. 249.

[15]Cf. John McClintock e James Strong, Cyclopaedia of Biblical, Theological, and Ecclesiastical Literature, 1891, Vol. 10, “Trinity,” pag. 553.

[16]Cf. Hubert Jedin, Ecumenical Councils of the Catholic Church: an Historical Outline, 1960, pag. 28.

[17]Cf. Samuel Macauley Jackson, The New Schaff-Herzog Encyclopedia of Religious Knowledge, 1911, Vol. 9, pag. 91.

[18]Cf. Gibbons’, History of Christianity, How Ancient Trinitarian Gods Influenced Adoption of the Trinity, 1883, pag 16-18.

[19]Bernhard Lohse, A Short History of Christian Doctrine,1980, pag 53.

[20]Ibid., pag. 64-65

[21] The Church Teaches, traduzido para o inglês e editado por John F. Clarkson, SJ, John H. Edwards,SJ, William J. Kelly, SJ, e John J. Welch, SJ, 1955, páginas 125-127.

[22] On the Incarnation, traduzido para o inglês por Penelope Lawson, Edição de 1981, pag. 27-28.

[23]Cf. Richard McBrien, The Harper Collins Encyclopedia of Catholicism, 1995, “God,” pag. 564-565.

[24]Cf. The Encyclopaedia Britannica, 1985 edition, Micropaedia, Vol. 11, pag. 928

[25]Cf. Colin Brown, The New International Dictionary of New Testament Theology, Vol. 2, 1976, “God,” pag. 84.

[26]Cf. Hg Wells, O Esboço da História, 1920, Vol. 2, pag. 499. 

[27]Cf. John Lenker, The Sermons of Martin Luther, Vol. 3, 1988, pag. 406.

[28]Cf. Bruce Metzger and Michael Coogan, The Oxford Companion to the Bible, 1993, “Trinity,” pag. 782  

[29]Cf. Charles Ryrie, Teologia Básica, 1999, pag. 89. 

[30] Millard Erickson, God in Three Persons: A Contemporary Interpretation of the Trinity, 1995, pag. 12.

[31] Shirley Guthrie, Jr, Christian Doctrine, 1994, pag. 76-77.

[32] The Larousse Encyclopedia of Mythology, 1994, pag. 54-55.

[33] Thomas Dennis Rock, The Mystical Woman and the Cities of the Nations, 1867, pag. 22-23.

[34] Arthur Weigall, Paganism in Our Christianity, 1928, pag. 197-198.

[35] Simson Najovits, Egypt, Trunk of the Tree, Vol. 2, 2004, pag. 83-84.

[36] Alan Richardson, A Dictionary of Christian Theology, 1969, pag 95; The New Encyclopædia Britannica, 15.a Edição, 1985, Micropædia, Volume 4, pag. 79.

[37] Robert A. Kraft, The Apostolic Fathers, Volume 3, de, 1965, pag 166.

[38]Alexander Roberts e James Donaldson, The Ante-Nicene Fathers, Reimpressão Americana da Edição de Edimburgo, 1885, Volume I, pag 5, 16, 21.


[39]Cyril C. Richardson, The Library of Christian Classics, Volume 1, 1953, pag. 70, 71.

[40] Cyril C. Richardson, The Library of Christian Classics, Volume 1, 1953, pag. 60.

[41] The Ante-Nicene Fathers, Volume I, pag. 52.

[42]  Ibid., pag. 58.

[43] Ibid., pag. 62.

[44] Ibid., pag. 108.

[45] Ibid., pag. 53.


[46] Ibid., pag. 53.

[47]Robert M. Grant, The Apostolic Fathers, Volume 4, 1966, pag. 63.

[48]The Ante-Nicene Fathers, Volume I, pag. 46,47; Cyclopedia of Biblical, Theological, and Ecclesiastical Literature, de John McClintock e James Strong, reimpressa por Baker Book House Co., 1981, Volume IV, pag. 490-493; The Catholic Encyclopedia, 1910, Volume VII, pag. 644-647.

[49] The Ante-Nicene Fathers, Volume I, pag. 35.


[50] The Ante-Nicene Fathers, editado por Alexander Roberts e James Donaldson, Reimpressão Americana da Edição de Edimburgo, 1885, Volume I, pag. 264.

[51] Ibid., pag. 164.

[52]Lamso, The Church of the First Three Centuries, pag. 73-4, 76.

148 Comp. Isa. xxix. 13.

149 Or, “such a man.”

[53] The Early Church, de Henry Chadwick, impressão de 1980, pag. 89.
27. Ibid., pag. 603-604.

[54] The Ante-Nicene Fathers, Volume III, pag. 487.

Fonte: http://www.professorfabiosabino.com.br/#!O-que-é-a-trindade/ctt8/2181850C-9372-4459-A4C6-C87DB1C9294A