Isvonaldo sou Protestante

Isvonaldo sou Protestante

terça-feira, 31 de março de 2015

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Por Francisco Alison Silva Aquino


As discussões em torno da pessoa do Espírito Santo, a princípio, foram um pouco negligenciadas nos primeiros séculos da igreja cristã. Isto se deve principalmente ao fato de que a pessoa de Cristo é que era alvo de controvérsias teológicas. O credo de Nicéia (325), por exemplo, embora cite a expressão “Espírito Santo”, não faz nenhuma descrição mais detalhada quanto a Ele. No credo Niceno diz: “... e novamente virá para julgar os vivos e os mortos; E no Espírito Santo.” 

No entanto, algumas descrições quanto à pessoa do Espírito foram sendo feitas no decorrer da história. No credo niceno-constantinopolitano (381), o qual constitui uma ratificação do credo niceno com alguns pormenores a mais, diz: “... e se encarnou [do Espírito Santo...]”. Em outra parte afirma: “E no ESPÍRITO SANTO, o Senhor e Vivificador, o que procede do pai e do Filho, o que juntamente com o pai e o filho é adorado e glorificado, o que falou através dos profetas;”. Aqui nós temos uma descrição um pouco mais ampla da pessoa do Espírito. Já no credo atanasiano (c.500), várias vezes é mencionada a pessoa do Espírito Santo. Nele é enfatizado que o Espírito Santo também é Deus juntamente com as duas outras pessoas da trindade: o Pai e o Filho. O credo usa expressões tais como: “o Espírito Santo eterno”, “Espírito Santo onipotente”, “o Espírito Santo é Deus”, “o Espírito Santo é Senhor”, etc.

A ortodoxia enfatiza a divindade plena do Espírito em igualdade com o Pai e o Filho. No entanto, existe outro aspecto a respeito do Espírito, além da sua divindade, digno de ser tratado com bastante diligência, a saber, a sua personalidade. Uma vez que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três pessoas e um único Deus, iguais em essência, e sendo o Pai e o Filho seres pessoais, também o Espírito o é. 

Estes dois aspectos (divindade e personalidade) do Espírito Santo tem sido negados por algumas seitas e religiões. Enquanto determinadas religiões, como o islamismo, uma vez que este nega a unidade absoluta de Deus, negam o primeiro, geralmente seitas (ex. As Testemunhas de Jeová) negam o segundo, embora nós possamos dizer que em muitos casos negar um aspecto implica em negar o outro. Assim sendo, analisemos então o que as Escrituras dizem a respeito destes dois aspectos intrínsecos à pessoa do Espírito Santo.

Quanto à divindade do Espírito, as Escrituras são claras ao atribuir a estes atributos pertencentes somente a Deus. Logo em Gênesis nós vemos uma indicação de um desses atributos quando lemos que “o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”. Ou seja, o Espírito participou da atividade criadora da terra, atividade esta realizada pelas pessoas da trindade. Em outras palavras, o Espírito estava presente na obra da criação, demonstrando assim o atributo da onipotência que o caracteriza como ser divino. Jó também atribuiu sua criação ao Espírito: “O Espírito de Deus me fez; e a inspiração do Todo-Poderoso me deu vida.” (Jó 33.4).

Outro atributo concedido ao Espírito Santo é a onipresença: “Para onde me irei do teu ESPÍRITO, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, Até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá.” (Salmos 139.7-10). 

O texto de Isaías 40.13-14 demonstra o atributo da onisciência: “Quem guiou o ESPÍRITO do Senhor, ou como seu conselheiro o ensinou? Com quem tomou ele conselho, que lhe desse entendimento, e lhe ensinasse o caminho do juízo, e lhe ensinasse conhecimento, e lhe mostrasse o caminho do entendimento?” (Isaías 40.13-14).

Além dos versículos que demonstram os atributos divinos do Espírito, há outras passagens da Escritura que claramente afirmam que o Espírito Santo é Deus. Talvez o texto mais claro quanto a isso seja o de Atos 5.3-4 que diz: “Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao ESPÍRITO SANTO, e retivesses parte do preço da herdade? Guardando-a não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a DEUS.” (Atos 5:3-4). Em outras palavras, a passagem nos diz que mentir ao Espírito Santo é mentir a Deus, uma vez que aquele também compartilha da essência divina.

Quanto à personalidade do Espírito, as Escrituras são ainda mais claras ao tratar o Espírito como um ser pessoal. A palavra para “Espírito” no grego é pneuma. Esta palavra é neutra, porém quando usada para o Espírito possui um artigo masculino. Um fato que indica que o Espírito Santo é uma pessoa é que ele, como Consolador (parakletos, João 14.26; 15.26), é colocado ao lado de Cristo como o consolador que estava para partir. Além disso, a Escritura também confere ao Espírito atributos pessoais. Vejamos alguns deles.

João 14.26 indica o atributo da inteligência: “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ENSINARÁ todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.”. O papel do Espírito em nos ensinar toda a verdade aponta para o aspecto pessoal do Espírito. Uma força impessoal não poderia fazer isso. 

O texto de Atos 16.7 mostra que o Espírito Santo tem vontade: “E, quando chegaram a Mísia, intentavam ir para Bitínia, mas o Espírito não lho PERMITIU.”. Mais claro ainda é o texto de I Coríntios 12.11: “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um COMO QUER.” Uma força impessoal obviamente não tem vontade. 

Outros textos mostram que o Espírito também tem sentimentos (emoções). Isaías 63.10 diz: “Mas eles foram rebeldes, e CONTRISTARAM o seu Espírito Santo; por isso se lhes tornou em inimigo, e ele mesmo pelejou contra eles.” (Isaías 63:10). Também o texto de Efésios 4.30: “E não ENTRISTEÇAIS o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia da redenção.” (Efésios 4.30). Uma mera influência ou força não pode se entristecer.

Além de todos estes textos que comprovam a personalidade do Espírito, outras passagens demonstram que o Espírito realiza atos próprios de uma pessoa como falar, sondar, testificar, revelar, ordenar, interceder, entre outros. Quem realiza todos estes atos só pode ser um ser pessoal, não pode ser uma mera influência, poder ou força impessoal.

Como afirma Erickson: “Todas essas considerações levam a uma conclusão. O Espírito Santo é uma pessoa, não uma força, e tal pessoa é Deus, na mesma dimensão e da mesma forma que o Pai e o Filho”. 

Aqueles que negam que o Espírito é Deus e aqueles que negam sua personalidade, afirmando que Ele é apenas uma força, incorrem no erro gravíssimo de ofendê-lo. É necessário que tais pessoas tenham seus olhos abertos para contemplarem a maravilha da pessoa e da obra do Espírito Santo como um ser divino e pessoal. 

O erro da própria igreja cristã tem sido esquecer a pessoa do Espírito. Como afirma Franklin Ferreira e Alan Myatt: “Devemos dar ao Espírito Santo, que é plenamente divino, a mesma glória que damos ao Pai e ao Filho. Agir de outra forma é cair em algum tipo de subordinacionismo.” O Espírito Santo deve ser adorado e glorificado juntamente com o Pai e o Filho como nos diz o credo de Constantinopla: 'no Espírito Santo, Senhor e vivificador, o qual procede do Pai e do Filho; que juntamente com o Pai e o Filho é adorado e glorificado'”.

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Notas:
[1] Millard J. Erickson, Introdução a Teologia Sistemática, p.349.
[2] Franklin Ferreira & Allan Myatt, Teologia sistemática, p. 340-341.

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Divulgação: Bereianos


Por Leonardo Dâmaso


Texto base: Lucas 12.1-3

Introdução

No capítulo anterior do Evangelho de Lucas (11.14-54), a multidão e, especialmente os fariseus e escribas foram o alvo do discurso de Jesus. Agora, no capítulo 12, os apóstolos [ainda discípulos] (vs.1, 22) e a multidão (vs.54) são o alvo do discurso de Jesus. Se no capítulo anterior Jesus falou para a multidão e os líderes religiosos, no capítulo em voga Ele fala da multidão e dos líderes religiosos para os discípulos e a multidão.  

          
A primeira parte do discurso de Jesus, ainda que proferida perante uma numerosa multidão, após ele ter saído da casa de um fariseu, onde fora convidado por ele para comer (11.37-53), é dirigida especialmente aos seus discípulos (12.1-2). A segunda parte, por sua vez, é dirigida à multidão (para mais detalhes, veja os versículos 13-14,16, 22,54). 

O extenso discurso de Jesus relatado neste capítulo é uma série de discursos diferentes para públicos diferentes. Jesus falava tanto em particular com os seus discípulos quanto de maneira geral às vastas multidões que o seguiam. Este discurso continua até o versículo 12.   

  
É bem provável que todo o conteúdo do capítulo 12 seja um discurso sucessivo de Jesus, porém, com duas interpelações quando ele deixava de falar por instantes (12.13-15,41). A primeira delas foi feita por um homem que estava na multidão. 

Ele queria que Jesus o apoiasse numa disputa de herança familiar (12.13-15). A segunda foi feita por Pedro, visto que ele queria saber se a parábola proferida por Jesus era dirigida aos discípulos ou a todos (12.41). Portanto, o tema do discurso inicial de Jesus aqui é uma advertência contra a hipocrisia religiosa.


O esboço analítico desta perícope pode ser dividido em 3 pontos:

Primeiro, vemos um solene conselho de Jesus aos seus discípulos – apóstolos (vs.1); segundo, ele afirma terminantemente que toda hipocrisia praticada em secreto será um dia revelada (vs.2-3); e, finalmente, Jesus tece um conselho para todos (vs.3).



Explanação

1) Um conselho imprescindível (12.1) 


O confronto intelectual de Jesus com os fariseus, descrito em Lucas 11.14-36, concernente ao seu ministério na Galiléia, não está em foco aqui. Após cessar o seu discurso que refutava os fariseus, um deles convidou Jesus para comer em sua casa (11.37). Sendo assim, temos, agora, outro evento a lume. 


O conselho de Jesus para a abstenção do “fermento dos fariseus”, registrado em Marcus 8.15 refere-se a um fato ocorrido durante o seu ministério do retiro. Desse modo, não temos aqui, em Lucas 12.1-3, um paralelo do mesmo acontecimento. Lucas relata o que talvez tenha ocorrido mais tarde durante o ministério de Jesus na Peréia. 


Logo, a situação presente é uma continuação de um novo fato que começou em Lucas 11.37. Jesus e os discípulos não estão mais na casa do fariseu que o convidou para comer. Senão vejamos as lições que Jesus nos ensina através desta seção:


Um exemplo de hipocrisia 


1 - Posto que miríades de pessoas se aglomeraram, a ponto de uns aos outros se atropelarem, passou Jesus a dizer, antes de tudo, aos seus discípulos: Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. 


Já do lado de fora da casa do fariseu, é dito que uma multidão de pessoas estava reunida para ouvir Jesus. Naquela época não havia o equipamento de som que temos hoje, o qual nos permite ouvir perfeitamente o pregador mesmo que estejamos longe dele. Por isso as pessoas chegavam a pisar por cima das outras para ver e ouvir Jesus mais de perto. 


A palavra miríades é uma hipérbole, e significa exatamente “dez mil pessoas”. Esta palavra era frequentemente usada de modo indefinido para designar um grande número de pessoas (At 19.19; 20.21). Logo, o número que compunha a multidão se aproximava ou ultrapassava dez mil pessoas; ou seja, eram muitas pessoas. Existem dois possíveis motivos pelo qual tantas pessoas estavam ali reunidas querendo ouvir Jesus: 


a) Interesse em Jesus como um tipo de “curandeiro ou milagreiro” e como um pregador fascinante. b) Curiosidade estimulada pelo debate de Jesus com os fariseus e os doutores da lei (11.37-54).   


Não obstante, Jesus direciona sua mensagem primeiramente aos seus discípulos. Lucas escreve que passou Jesus a dizer, antes de tudo, aos seus discípulos. 


A palavra discípulos não se restringe apenas aos doze. Além deles, Jesus tinha muitos outros seguidores que também eram considerados discípulos (veja, por exemplo, Jo 6.60,66). É bem provável que muitos deles estavam inseridos na multidão. Evidentemente, o discurso de Jesus também seria ouvido pela multidão em geral; ele sabia e queria isso, porém o seu foco era os discípulos. 


Todavia, Jesus inicia a sua mensagem utilizando a figura do fermento, que é algo maléfico para os judeus (Êx 12.15-20). Ele adverte os seus discípulos contra o fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. Essa advertência está intimamente relacionada com o que o Ele havia dito anteriormente na casa do fariseu (veja 11.39-44, 46). 

O “fermento se refere na verdade a levedura, que era uma porção retirada da massa de pão e deixada de lado para servir de fermento. As pessoas faziam seus próprios pães e estavam familiarizadas com a maneira na qual o fermento, ou a levedura, penetrava na massa vagarosamente e fazia com que esta aumentasse de volume”.[1]


A palavra fermento aparece outras vezes no Novo Testamento, porém sempre de forma negativa, com exceção da parábola registrada em Mateus 13.33. Paulo faz uso da figura do fermento para ilustrar o pecado (veja 1Co 5.6-8; Gl 5.9). A advertência que Jesus faz aos seus discípulos para absterem-se do fermento dos fariseus em Mateus 16.6,12, e seu paralelo em Marcus 8.15, com o acréscimo do fermento de Herodes, foi motivada por uma situação diferente da qual Lucas ressaltou. 

Lá, Jesus utiliza a figura do fermento para enfatizar o apego dos fariseus ao tradicionalismo religioso e condenar a doutrina deles como equivocada e herética. 

Fritz Rienecker afirma que Jesus acusa os fariseus de um tipo mais refinado de hipocrisia. Eles visavam envolver o povo em uma rede de formas religiosas, que carecia de qualquer cerne de devoção verdadeira. Havia uma contradição entre interior e exterior.[2] Sendo assim, os discípulos deveriam evitar o fermento dos fariseus, que é a hipocrisia religiosa. 


Basicamente, a palavra hipocrisia denota “fingimento”, “falsidade”. William Hendriksen ressalta que hipocrisia refere-se ao mau hábito de alguém esconder sua verdadeira personalidade por trás de uma máscara. Equivale a insinceridade. Hipocrisia é desonestidade, engano.[3]  

William Barclay destaca que a palavra hipócrita teve como primeiro significado alguém que responde; assim, hipocrisia significa “responder”. Utilizava-se esta palavra para perguntas e respostas em um bate-papo ou diálogo; depois se aplicou às perguntas e respostas em uma peça de teatro. Dali ela se tornou relacionada à atuação. Portanto, hipocrisia é atuar, representar um papel.[4] 


Aqui em Lucas, “a hipocrisia era a principal iniquidade dos fariseus, e esconder um coração perverso era um sinal de santidade”.[5] 


Aplicação prática

Assim como o fermento, a hipocrisia começa pequena, mas de forma rápida e silenciosa; e, ao crescer, contamina a pessoa inteira. A hipocrisia tem sobre o ego o mesmo efeito que o fermento tem sobre a massa do pão: ela o faz inchar (veja 1Co 4:6,18,19; 5.2). Logo, o orgulho toma conta, e o caráter deteriora-se rapidamente. Quem deseja ficar longe da hipocrisia deve evitar a primeira porção de "fermento", por menor que seja. Uma vez que se começa a fingir, o processo é rápido e, quanto mais esperamos, mais a situação piora.[6] 
  
Existem hipócritas em todas as esferas da vida. Eles são pessoas que tentam impressionar os outros refletindo aquilo que não são. O hipócrita esconde a sua verdadeira face através da máscara da falsidade. Hipocrisia é ausência de sinceridade.      
                                 
Na vida cristã, um hipócrita é alguém que tenta parecer mais piedoso do que é verdadeiramente. Na realidade, ele sabe que não é o que demonstra ser externamente. Sabe que está fingindo e não espera ser descoberto. A vida cristã dele é, indubitavelmente, uma farsa! O hipócrita nunca é verdadeiro; ele está sempre atuando, sendo alguém quem não é. 

2) A hipocrisia será exposta (12.2)


Os versículos 2-9 correspondem a Mateus 10.26-33. Lá, Jesus havia dito as mesmas palavras que Lucas escreveu no versículo 2. Entretanto, não temos aqui um paralelo com a descrição de Mateus; antes, Jesus reitera o mesmo ensinamento que havia transmitido aos discípulos em outra ocasião, especificamente no seu ministério na Galiléia, porém aplicado de modo diferente neste diálogo com os discípulos e a multidão. 


Por vezes, as diferenças de uso e aplicação dos ensinamentos de Jesus nos evangelhos são o que podemos chamar de “interpretação editorial” – ou seja, um dos escritores sacros observava, em uma declaração qualquer em outro evangelho, uma lição diferente que o outro escritor não relatou. Assim ele decidia [evidentemente inspirado pelo Espírito Santo] relatar a lição que observou em seu evangelho.  


Não obstante, tendo advertido sobre o pecado da hipocrisia, e o perigo de ser um hipócrita, Jesus, agora, salienta o motivo da advertência contra a hipocrisia religiosa. Senão vejamos: 

Um fato inelutável 


Ele afirma categoricamente:


2 - Nada há encoberto que não venha a ser revelado, e oculto que não venha a ser conhecido. 


A hipocrisia triunfa somente enquanto é escondida dos outros. Leon Morris ratifica que a arte de ser um hipócrita depende da capacidade de conservar algumas coisas ocultas. Quando o ocultamento já não é possível, o hipócrita é inevitavelmente desmascarado.[7]  



A hipocrisia de muitos é revelada e conhecida ainda nesta vida, enquanto a de outros permanece escondida. Porém, toda hipocrisia no dia do julgamento final será revelada e conhecida (veja Ec 12.14; Rm 2.16; 1Co 3.13; Ap 20.12). 


Aplicação prática

No fim dos tempos haverá uma manifestação geral de tudo que estava oculto. Esse princípio supremo do governo divino visa estimular-nos a desde já agir constante e permanentemente de acordo com a verdade, sem ceder (Mc 4.21-22). Pelo fato de que tudo será revelado à luz da verdade, cada discípulo de Cristo deve precaver-se contra a hipocrisia. Quando Deus trouxer à luz o motivo da conduta e do serviço, oculto nas sombras, então será manifesto se os servos da palavra de Deus foram hipócritas ou testemunhas da verdade. Por isso Jesus exorta os discípulos a exercer seu serviço visando o grande dia da revelação (Cl 3.3; 1Jo 3.2).[8]   

3) Um conselho geral (12.3)


Visto que Jesus advertiu primeiramente e especificamente os seus discípulos sobre a necessidade de evitar o pecado da hipocrisia, dessa vez, Jesus aconselha especificamente a multidão, embora o mesmo conselho se estenda também aos discípulos e cristãos em geral. Senão vejamos:  

  
Os segredos serão divulgados

Ele declara:


3 - Porque tudo o que disseste às escuras será ouvido em plena luz; e o que dissestes aos ouvidos no interior da casa será proclamado dos eirados. 


A expressão dissestes aos ouvidos traz a ideia de “sussurrar, falar cochichando aos ouvidos” para que ninguém saiba o que foi comunicado.


Já a expressão interior da casa, no grego ταμειοιξ (temeieion), é, literalmente, “quartos fechados”, ou conforme a ARC traduziu – gabinete. Esta expressão salienta um local restrito, onde assuntos secretos poderiam ser “sussurrados, cochichados” ou falados reservadamente (veja esta ideia em Mt 6.6; 24.26; Lc 12.24).    


Traz a ideia de despensa, que “são as salas de armazenagem que ficavam longe das paredes externas que facilmente poderiam ser escavadas.”[9] Champlin realça que, no oriente, os ladrões frequentemente invadiam uma casa arrombando uma das paredes. Por isso as despensas eram invioláveis por estarem afastadas da parede que dava para o exterior.[10] 


Por fim, Jesus afirma através de uma metáfora que tudo o que foi proferido em oculto será proclamado dos eirados. No oriente, muitas casas possuíam um pátio com telhado, isto é, casas com terraço. Esta cobertura era o lugar ideal onde alguém poderia discursar para outras pessoas que se encontravam na rua. Com esta metáfora, Jesus descreve a publicidade; em outras palavras, enfatiza o falar em público. 


No dia do julgamento final, Cristo, o justo juiz, irá revelar e proclamar tudo o que os homens [inclusive os seus discípulos ou os cristãos em geral não para a condenação deles, mas para o recebimento de galardões] tiverem dito em secreto, quer sejam coisas boas ou más (veja Rm 14.12; 2Co 5.10). 



Aplicação prática

Falar o que somos, fazemos e sentimos, mas na verdade falamos, fazemos e sentimos o contrário do que falamos, é hipocrisia! Os fariseus esboçavam piedade externa, mas internamente não eram nada do que demonstravam ser (veja Mt 23.25,28). 


Existem cristãos e pastores que pregam a plenos pulmões contra a mentira, o adultério, a prostituição, a maledicência, o roubo, a avareza e a falta de amor verdadeiro pelos irmãos, no entanto, praticam todos estes e outros pecados. Isto é hipocrisia, dissimulação! 


É inútil esconder a verdadeira identidade interna através de uma falsa identidade externa; ou seja, é hipocrisia demonstrarmos um comportamento perante os outros que destoa peremptoriamente do que realmente somos. 



Conclusão

Em outras palavras, podemos definir a hipocrisia como “viver uma vida dupla”! “Existe uma discrepância entre aquilo que a pessoa realmente é e a imagem que ela projeta de si mesma para os outros”.[11] Nesta advertência, Jesus não está condenando as falhas pessoais, pois todos nós falhamos; antes, Ele condena a hipocrisia “que nos faz assumir sermos melhores do que realmente somos”.[12] 

   
A hipocrisia endurece o coração, reprime a voz do Espírito Santo na consciência convidando ao arrependimento e cega os olhos para enxergar e reconhecer este pecado. A hipocrisia persistente é sinal de apostasia! Que venhamos através desta advertência de Jesus confessar e nos arrependermos de toda hipocrisia que praticamos, pois certamente o Senhor Deus perdoa e restaura o sincero de coração.   

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Notas:

Bíblia de Estudo Genebra. Notas de Rodapé, pág 1343.

2 Fritz Rienecker. Lucas, pág 175. 
3 William Hendriksen. Lucas, volume 2, pág 164. 
4 William Barclay. Lucas, pág 139.  
5 A.T. Robertson. Comentário de Lucas a luz do Novo Testamento Grego, pág 232. 
6 Warren Wiesrbe. Comentário Bíblico Expositivo do Novo Testamento, volume 1, pág 285. 
7 Leon Morris. Lucas – Introdução e Comentário, pág 196. 
8 Fritz Rienecker. Lucas, pág 176. 
9 Leon Morris. Lucas – Introdução e Comentário, pág 196. 
10 Russel Norman Champlin. Lucas, pág 124.
11 Comentário Bíblico Africano, pág 1257.
12 Ibid, pág 1258.      

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Fonte: Bereianos
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Por Denis Monteiro


O cantor cristão Stênio Marcius compôs uma música sobre um episódio da Bíblia, o qual relata o diálogo entre Pedro e Jesus, quando Cristo pede que os discípulos, depois de passarem a noite inteira pescando sem nenhum sucesso, lançassem as redes ao lago. Pedro, por sua vez, responde a Jesus se justificando que eles já tinham tentado a mesma coisa a noite inteira, e a música do Stênio mostra um Pedro, baseado na narrativa de Lucas (Lc 5.5), cheio de certezas de alguém que já nasceu na beira do mar, sempre pescando por ser ele filho de pescador. E a música mostra Jesus, filho de um carpinteiro, dizendo: 


          Filho de pescador eu nasci e aqui me criei
          Conheço o mar há tanto tempo que já nem me lembro mais
          Trabalhei noite inteira, e nada foi tudo que ganhei
          E agora vens, queres me ensinar aquilo que na vida eu mais sei

No relato bíblico, Pedro, cheio de certezas e confiança, age da mesma forma quando Jesus o avisa de sua traição na ocasião da prisão de JesusDisse também o Senhor: Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos. E ele lhe disse: Senhor, estou pronto a ir contigo até à prisão e à morte. (Lc 22.31-33)

Nos dois relatos acima, vemos a confiança de um pecador nele mesmo ante a Palavra do Mestre. No primeiro caso este pecador pensava entender daquilo que ele não criou, no segundo caso ele pensava entender sobre si mesmo, como num famoso dito popular: “eu me conheço, sei até onde eu posso ir. 

O problema não é o “ser confiante”, mas quando a confiança é um orgulho torna-se pecado. Portanto, quando Pedro não confia nas palavras do Senhor Jesus, ele peca. Isso nos mostra que, assim como Pedro foi orgulhoso, nós podemos ser igual a ele quando não cremos no que a Palavra de Deus nos mostra. 

A graça de Deus

Um dos sinais da graça de Deus na vida de um pecador regenerado que age desta maneira é o fato do Espirito Santo fazer lembrar daquilo que Jesus disse (Jo 14.26). Veja quando Pedro nega a Cristo ao ser reconhecido por uma criada, Jesus se volta para ele e Pedro se lembra das palavras de Jesus:

E, virando-se o Senhor, olhou para Pedro, e Pedro lembrou-se da palavra do Senhor, como lhe havia dito: Antes que o galo cante hoje, me negarás três vezes.” (Lc 22.61)

O fato de Pedro se lembrar do que Jesus havia lhe dito, é o que produziu um verdadeiro arrependimento. Remorso produz morte, mas arrependimento produz vida. Como por exemplo, o caso de Pedro e Judas; os dois foram avisados que eles iriam trair a Jesus, eles traíram, porém um se arrepende e o outro sente remorso, um se enforca, o outro chora amargamente e se volta para o mestre. Jesus tinha dito que escolheu doze e um deles era o diabo (Jo 6.70). Pedro, da mesma forma, foi chamado de Diabo (Mt 16.23). Por que um se arrepende e o outro não? 

Satanás, por permissão de Deus, entrou em Judas e em Pedro. Porém, observe que Jesus roga ao Pai para que preservasse somente a fé de Pedro (Lc 22.31,32b). A graça de Deus fez com que estes dois discípulos servissem a Cristo e fizessem a obra que Ele os designou, mas a graça salvadora de Deus fez com que somente Pedro fosse preservado diante da tentação. 

Essa escolha de Deus em preservar um e outro não, não é baseado nos que eles fizeram, pois os dois negaram a Cristo – os dois pecaram. Mas a escolha que Deus já havia feito foi baseada em Sua própria vontade. 

Diante disso, vemos que as nossas certezas (orgulho) não são nada diante da graça de Deus, pois se nós não confiarmos naquilo que a Bíblia nos diz, estaremos sendo arrogantes confiando em nós mesmos, sendo nós mesmos os nossos deuses e senhores. Mas Deus, por sua infinita graça, quebra esse nosso orgulho mediante as tentações que nos fazem ficar mais dependentes d'Ele, mostrando que não somos nada. 

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Fonte: Bereianos
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Por Peter Pike


Ao considerar o Arminianismo, há muita coisa que eu acho que simplesmente não faz qualquer sentido sobre ele. Na verdade, se eu tivesse quaisquer inclinações arminianas à esquerda, eu acho que eu seria um teísta aberto porque eu não considero muito o arminianismo como um todo consistente. Eu irei tratar apenas de uma área aqui: a predestinação absoluta no arminianismo.

Agora, para o crédito deles, a maioria dos arminianos reconhecem a predestinação. É difícil negar dado as passagens como Romanos 8.29 e Efésios 1.5, 11 que na verdade usam a palavra “predestinados”. Mas eu tenho descoberto que arminianos de internet com quem eu tenho discutido tendem a fracassar em dois campos quando vem à tona a predestinação. O primeiro campo acredita que a predestinação é o que Deus faz quando Ele examina o que o futuro será e então decide fazê-lo assim. O segundo campo acredita que a predestinação é quando Deus seleciona por grupos (não indivíduos) para serem apontados para a salvação.

Mas em nenhum caso a predestinação é de fato necessária ou útil. Por que Deus precisaria olhar através do tempo para declarar: “o que vai acontecer é o que vai acontecer” quando o que vai acontecer vai acontecer ainda que ele não olhe através do tempo? Aqueles que têm apresentado esta visão para mim estão decididos de que Deus não está executando nenhuma mudança ao predestinar o que acontecerá. Afinal de contas, o ponto todo de tal conceito de predestinação é evitar Deus de ser o fator determinante de quem é salvo e quem é condenado. Mas na verdade, este ponto de vista torna a predestinação como equivalente à presciência (pelo qual eu quero dizer a presciência da qual os arminianos tipicamente falam, não a visão reformada que leva junto ao aspecto do “conhecimento” a ideia de amor de Deus). Em resumo, o arminiano está dizendo que Deus prevê o que acontecerá e então predestina o que ele prevê, mas sua predestinação é simplesmente uma atualização de sua presciência. Isto é totalmente sem sentido aqui.

Mas e quanto ao segundo campo que defende que o que Deus predestina são os grupos ou classes de pessoas? Uma vez mais, isto torna a predestinação desnecessária. Primeiramente, não há vantagem de predestinar uma classe de pessoas se você não está também predestinando os membros daquela classe. Por um lado, sem predestinar os membros você nem mesmo sabe se haverá quaisquer membros até que depois o tempo se desenrole (assim para preencher a classe, a versão arminiana de Deus vai ter de recorrer aos procedimentos desnecessários discutidos nos parágrafos anteriores a respeito da presciência). Por outro lado, o conteúdo do decreto não afeta as escolhas de ninguém (isto é crítico no arminianismo, pois Deus absolutamente não pode violar a liberdade sem destruir a responsabilidade, etc) e portanto este decreto pode simplesmente tão facilmente vir no final do tempo em vez de antemão. Finalmente, se tudo que a predestinação é resume-se a Deus dizer: “Eu vou tratar as pessoas que se encontram nesta condição específica nesta maneira específica” então qual é a diferença entre predestinação e a clara lei antiga? As leis de Deus especificamente dizem coisas como “Todo animal que tem unhas fendidas, mas cuja fenda não as divide em duas, e que não rumina, será para vós imundo; qualquer que tocar neles será imundo.” (Levítico 11.26). Isto é predestinação? E qual é a diferença entre dizer: “Se alguém tocar em animal impuro ele será impuro” e “se alguém crê em Cristo será salvo” em termos de estrutura de classe e grupos de pessoas?

Assim, me parece que não há propósito para a predestinação no Arminianismo, embora haja versos usando este termo. Por que Deus faria algo totalmente sem sentido e irrelevante? Por que ele em vez disso não teria uma razão para a predestinação, assim como o calvinista vê?

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Fonte: Triablogue
Tradução: Francisco Alison Silva Aquino
Via: Pelo Calvinismo

Um dos melhores blogs sobre calvinismo em português, assim definimos o blog Pelo Calvinismo. São várias traduções de textos excelentes, feitas pelo irmão Alison Aquino. Recomendamos!
Cruz - Substituição
"Cristo nos redimiu da maldição da lei quando se tornou maldição em nosso lugar, pois está escrito: 'Maldito todo aquele que for pendurado num madeiro'." (Gálatas 3:13-14)
No Brasil a maioria das pessoas consegue entender um jogo de futebol, o que em outras partes do mundo talvez seja melhor exemplificado por outro esporte coletivo. Chamou-me a atenção o Espírito Santo certa vez ministrar ao meu coração sobre outros esportes no qual não há substituição: tênis, atletismo, boxe, ping-pong, fórmula-1. Veio-me claramente o entendimento que pretendo repartir aqui. Mesmo se o esporte for muito individual como uma luta de boxe, ou totalmente coletivo como o basquete - sempre há uma equipe de retaguarda. Há treinadores, técnicos, médicos, nutricionistas, patrocinadores e tantos outros. Quando Jesus foi para a cruz "sozinho" ele não estava jogando um jogo solitário. Havia legiões de anjos servindo-o, havia discípulos tomando nota para registrar nas Escrituras, havia pessoas acompanhando... Não se trata de estar ou não estar só, mas de ser quem deve fazer o que deve ser feito.

Jesus não poderia ser substituído na cruz, só Ele poderia ter feito o que Ele fez. Talvez (estou conjecturando) anjos se tenham se enfileirado se oferecendo para trocar de lugar com Ele. Talvez algum discípulo mais desprendido tenha cogitado fazê-lo. Mas não era possível, pois só Ele poderia ir para aquela cruz. A cruz não era para Ele, mas só Ele podia encará-la.

O mistério que precisamos revelar é que a crucificação de Jesus, com base no texto acima, já era uma substituição. Era eu quem deveria estar lá. Sim, só Jesus poderia ter ido para a cruz por que ninguém suportaria, ninguém seria bom o suficiente, ninguém mais serviria como propiciação. Ele me substituiu e te substituiu naquela cruz, não havia outro que pudesse fazê-lo. Mas isso não se refere unicamente a morrer em meu e em seu lugar.

Não importa o quanto isso pareça ter pouco valor na sua vida, não importa o quanto seja esquisito olhar para Jesus na cruz e se imaginar ali. Aquela cruz não era para Jesus, era para nós. Ainda que outro quisesse (se é que alguém o fez) ninguém poderia substituí-lo pois Ele já era o substituto.

A troca foi mais do que uma morte física, foi assumir uma pesada conta a ser paga, a conta da maldição. E isso, como se fosse pouco, ainda foi potencializado pelo fato de ser uma substituição voluntária, dada pela necessidade de nos livrar dessa maldição. Jesus se tornou maldição em nosso lugar, não "apenas" morreu em nosso lugar, Ele fez um sacrifício voluntário de se tornar maldito por minha e por sua causa. Quem suportaria tamanho peso além Dele?

Temos de entender que mesmo que Jesus não estivesse só, era o único que poderia fazer o que fez. Na cruz acabou a maldição da lei que pesava contra nós, acabou o peso que nos impedia de prosseguir, acabou o jugo, acabou a servidão. O meu preço foi pago e Jesus foi que pagou.

Se aquela cruz fosse uma substituição de morte já seria algo sobrenatural, mas foi além disso. Anulou a maldição da lei sobre a minha vida. Substituiu todo peso da lei que havia em cima de meus ombros. Assumiu a minha culpa, pagou o meu preço, recebeu a minha maldição. De que adiantaria morrer em meu lugar, se eu tivesse de carregar ainda em vida a maldição da lei?

Se isso não for motivo suficiente para darmos aleluias ao Rei dos Reis, sinceramente não sei o que fazer.
"Senhor, ajuda-me a perceber que ao morrer em meu lugar Teu Filho me livrou de mais do que da morte, me livrou de uma vida amaldiçoada. Te agradeço de todo meu coração."
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http://www.ichtus.com.br/dev/2015/03/29/cruz-substituicao/
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Por Thiago Oliveira


Filho do espírito racionalista de sua época, numa sociedade pós-Iluminismo, esse método pretendeu tornar a Bíblia relevante para o homem inerente daquele período. Colocando a razão para medir o conteúdo das Escrituras, os adeptos da alta crítica (assim também é chamado o método histórico-crítico) negam bastantes coisas do relato canônico. Inclinados (conscientemente ou não) ao deísmo, creem num Deus Criador que após finalizar a criação deixou o mundo com suas leis bem estabelecidas, assim sendo, não há necessidade de intervenções transcendentais. Com isso, o relato da Queda não é visto como um fato real acontecido no espaço/tempo e todo registro de milagres é invalidado.


Por se apresentar como uma metodologia científica, pregando a neutralidade investigativa, muitos foram os teólogos que se admiraram com a proposta da alta crítica. Toda assertiva dogmática foi vista com desprezo e a produção teológica existente até então foi até ridicularizada. Adjetivos como infantil e supersticiosa foram termos pejorativos adotados para atacar outras escolas hermenêuticas.

O mote do método histórico-crítico o antecede. É justamente a ideia de separar Palavra de Deus e Escritura. De acordo com tal proposta, é preciso investigar dentro do cânonformal, isto é, os 66 livros da Bíblia Sagrada, o que é normativo para os cristãos. Essa investigação parte do pressuposto de que há erros na Escritura lado à lado com a Palavra revelada e autoritativa do SENHOR. Por isso, a razão de ser do método é separar - na Escritura – o que é divino e o que é humano. No entanto, não existe nenhum consenso entre os adeptos da alta crítica sobre quais trechos serviriam para compor o cânon normativo.

Contrariando a ortodoxia reformada de que a Escritura é suficiente e inerrante, a alta crítica não foi capaz, em mais de dois séculos de pesquisa, de elucidar o que de fato seria Palavra de Deus. Existe muito subjetivismo e isto obscurece o conteúdo bíblico. Eis um motivo para rejeitarmos o método histórico-crítico: Ele utiliza-se da razão natural e esta é incapaz de interagir corretamente com a Revelação Divina. O pecado tornou o intelecto humano incapacitado de reagir positivamente as coisas divinas, é o que a Teologia Reformada chama de “Depravação Total do Homem”. É necessário que haja iniciativa do Alto para que tudo aquilo que seja inerente a Deus seja descortinado e faça com que o homem, pelo poder do Espírito Santo, volte-se para o Todo-Poderoso e compreenda aquilo que Ele revelou sobre si mesmo.

Diante do caminho apontado pelo método histórico-crítico que não nos leva a lugar nenhum, é necessário utilizarmos uma hermenêutica que assegure a infalibilidade escriturística e a partir deste pressuposto, estudar a Bíblia tendo ela por Palavra de Deus, necessária e suficiente para andarmos instruídos segundo a vontade de Deus. Os reformadores utilizavam o método histórico-gramatical, talvez, incorporando recentes descobertas hermenêuticas a este método, caminhemos por uma via sadia, ortodoxa, que edifique a Igreja e - sobretudo - glorifique ao SENHOR dela.

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Divulgação: Bereianos

sexta-feira, 27 de março de 2015


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Por Rev. Ricardo Rios Melo


Há um crescimento exponencial de comunidades evangélicas no Brasil. Aliás, o advento das comunidades é uma febre em todas as áreas da sociedade: comunidades sociais de cunho físico ou virtual. A internet facilitou e promoveu a possibilidade de criação de comunidades virtuais por afinidade de sentimentos, características pessoais, patologias, estética e milhares de outras comunidades que pretendem, em última instância, dizer que você pertence a um grupo, você é comum. Ser comum normaliza o sujeito.

A palavra comunidade tem o sentido de agremiação, sociedade, comuna, grupo que se reúne geograficamente e, mais recentemente, grupo de fiéis que se reúnem em determinado espaço. É curioso notar que o sentido contemporâneo de comunidade não implica espaço material, físico. Você pode pertencer a uma comunidade virtual.

Comunidade, dentro de um dos sentidos filosóficos, é uma comunhão de espaço e ideias que, necessariamente, não se pode averiguar empiricamente. A sociologia tornou a expressão diretamente ligada a pessoas que se vinculam na sociedade por interesses e, principalmente, comportamentos comuns. (Cf. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia, 4ª ed., São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 162).

Bauman entende que a comunidade é lugar de segurança do sujeito. É o lugar de pertencimento, aconchego, refúgio, abrigo:
(...) é um lugar ‘cálido’, um lugar confortável e aconchegante. É o teto sob o qual nos abrigamos da chuva pesada, como uma lareira diante da qual esquentamos as mãos num dia gelado, lá fora, na rua, toda sorte de perigo está à espreita; temos que estar alertas quando saímos, prestar atenção como quem falamos e a quem nos fala, estar em prontidão a cada minuto. Aqui, na comunidade podemos relaxar – estamos seguros, não há perigos ocultos em cantos escuros (com certeza, dificilmente um ‘canto’ aqui é ‘escuro’). (BAUMAN. Zygmunt. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual, Rio de Janeiro; Jorge Zahar, Ed. 2003, p. 7).

Esse “oásis” em pleno deserto pós-moderno tem levado a Igreja institucional, tradicional, confessional ou clássica, a repensar seus valores e propósitos. Um autor que enfatiza muito a necessidade de ressignificação, o que ele chama de propósitos, é Rick Warren em seu livro “Uma Igreja com Propósitos”.

Parece que a igreja, a qual será chamada nesse arrazoado de tradicional, passa por um processo de ressignificação. Ela tem sido atacada de todos os lados. A igreja emergente, comunidade, missão integral e outras designações trazem em seu discurso uma crítica aos moldes protestantes históricos. A própria existência desse “novo” grupo já é uma crítica contundente, pois demostra inquietação e, no entendimento de muitos deles, inabilidade da tradição reformada de responder às demandas modernas.

As palavras: relevância, significado, integral, mudança social têm sido palavras replicadas e decantadas nos discursos. Há um antinomismo claro nos discursos. Há o esvaziamento do púlpito, que em boa parte desses grupos não existe mais.

O pastor não é um pregador, mas um palestrante. Ele precisa vestir-se despojadamente e falar com liberdade e em uma linguagem moderna e sobre atualidades para que sua mensagem seja relevante e sua própria presença seja admitida pela comunidade. Não há lugar para estruturas físicas com formato de igreja. Em 1824, as igrejas protestantes receberam a permissão de celebrarem seus cultos com uma condição: não criarem templos com formatos de igreja.

Hoje, a proibição é epistêmica e pragmática. A ideia é que, para agradar e ser “relevante”, a igreja não pode ter formato interno e externo de igreja. Os templos poderão ser substituídos por locais aconchegantes e de preferência com cara de teatro. E o nome precisa ser modificado para não afastar as pessoas.

Quem estiver atento à ideia de signo, significado, significante, entenderá que estruturas externas pretendem demostrar sinais da mensagem interna que se quer passar. Portanto, um nome ou uma construção não é isenta de significado, existe uma estética filosófica. Uma mensagem direta e indireta. Não era sem motivos que as construções das igrejas medievais tinham aqueles formatos. Era imperativo para a igreja dominante da época passar uma mensagem.

Um exemplo contemporâneo é a construção de templos gigantescos das igrejas neopentecostais. Não se pode falar de prosperidade se a própria igreja é pequena, acanhada, não próspera. Há intencionalidade, método, estudo mercadológico, sociológico.

As igrejas emergentes, comunidades integrais ou não, pretendem realizar uma reforma ou reformissão[1]. Contudo, essa pseudo reforma não tem nenhuma conexão com a reforma do século XVI. Para Carson, existe uma diferença gritante entre as igrejas emergentes e os reformadores:
O que impulsionou a Reforma foi a convicção, que tomou conta de todos os seus líderes, de que a Igreja Católica Romana havia se distanciado das Escrituras e introduzido uma teologia e uma prática contrária à fé cristã genuína. Em outras palavras, eles queriam que as coisas mudassem, mas não porque perceberam que havia ocorrido mudanças na cultura, de modo que a igreja teria que se adaptar a esse novo perfil cultural; antes, eles queriam mudanças por terem percebido o surgimento na igreja de teologia e prática novas que contrariavam as Escrituras e que, portanto, havia uma necessidade de que tudo isso fosse reformado pela palavra de Deus. (...) Trocando em miúdos, no centro da reforma proposta pelo movimento emergente encontra-se a percepção de uma grande mudança na cultura. (CARSON. D. A. Igreja Emergente: o movimento e suas implicações, São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 49,50).

A tentativa de decretar a falência da suposta insolvência da igreja tradicional nada mais é que um oportunismo mercadológico. Não há argumentos bíblicos e históricos para que esse processo se torne realidade. Dentro da criação e consumação divina, na perspectiva histórico-redentiva, não há fundamentos substanciais para se propor mudança dogmática.

Os apóstolos já passaram pela tentação de mudar sua mensagem para agradar o público. O apóstolo Paulo, quando escreveu aos Coríntios, no capítulo 1.21-25, não sucumbiu aos apelos extremados dos seus ouvintes e nem aderiu a qualquer perspectiva hegeliana de síntese:
Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que creem pela loucura da pregação. Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria;  mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios;  mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus.  Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens”.

O nosso Senhor Jesus passou pelo desafio de mudar sua mensagem em João 6, pois Ele sabia que muitos que o seguiam não estavam dispostos a seguir o Evangelho da cruz:
Muitos dos seus discípulos, tendo ouvido tais palavras, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir? Mas Jesus, sabendo por si mesmo que eles murmuravam a respeito de suas palavras, interpelou-os: Isto vos escandaliza? Que será, pois, se virdes o Filho do Homem subir para o lugar onde primeiro estava? O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida. Contudo, há descrentes entre vós. Pois Jesus sabia, desde o princípio, quais eram os que não criam e quem o havia de trair. E prosseguiu: Por causa disto, é que vos tenho dito: ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido. À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele. Então, perguntou Jesus aos doze: Porventura, quereis também vós outros retirar-vos? Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna; ( JO 6.60-68)”.

Bom, alguns poderão dizer, por que você não avalia os pontos desses grupos pormenorizadamente dentro das Escrituras? A resposta é simples: como Carson disse, em outras palavras, as mudanças que ocorreram nesses grupos não vieram das Escrituras, mas da exigência sociocultural. “Como dizia Marx sobre a cultura orientada pelo mercado: ‘tudo o que é sólido desmancha no ar’. Deus também se torna uma mercadoria – um produto ou terapia que podemos comprar e usar para nosso bem-estar pessoal” (HORTON, Michael.Cristianismo sem Cristo, São Paulo; Cultura Cristã, 2010, p. 61,62).


O problema que emerge, desculpe o trocadilho, é que as comunidades e afins surgem de uma tentativa de liberdade das amarras institucionais. Entretanto, inevitavelmente, se tornarão instituições e, quando isso acontecer, estarão decretando sua falência:
Como ‘comunidade’ significa atendimento compartilhado do tipo ‘natural’ e ‘tácito’, ela não pode sobreviver ao momento em que o entendimento se torna autoconsciente, estridente e vociferante; quando, para usar mais uma vez a terminologia de Heidegger, o entendimento passa do estado de zuhanden para o de vorhanden e se torna objeto de contemplação e exame. A comunidade só pode estar dormente – ou morta. Quando começa a versar sobre o seu valor singular, a derrarmar-se lírica sobre sua beleza original e a afixar nos muros próximos loquazes manifestos conclamando seus membros a apreciarem suas virtudes e os outros a admirá-los ou calar-se – podemos estar certos de que a comunidade não existe mais (ou ainda, se for o caso). A comunidade ‘falada’ (mais exatamente: a comunidade que fala de si mesma) é uma contradição em termos” (BAUMAN. Zygmunt. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual, Rio de Janeiro; Jorge Zahar, Ed. 2003, p. 17).

Queridos irmãos, é um fato que a pós-modernidade trouxe desafios de comunicação para a igreja tradicional, contudo, a resposta não virá de fora das Escrituras. Achar que a nossa sociedade é pior do que a sociedade em que viveram nossos pais apostólicos e reformadores é, no mínimo, pretensão.

Mudança de símbolo implica mudança da realidade. Alguns querem trocar as escamas sem trocar de corpo. É uma tentativa hercúlea de síntese pós-moderna onde uma libélula bateria suas asas, mas com a certeza que pode voltar para o casulo.

A igreja tradicional precisa se preparar para receber os filhos pródigos, pois, mudando o que deve ser mudado, eles sabem que é na casa do Pai (igreja) que são bem tratados!

para que, se eu tardar, fiques ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade”. 1Tm 3:15


Deus nos abençoe!

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Fonte: Arrazoar

quinta-feira, 26 de março de 2015

A História da canonização do Novo Testamento
Trabalho de doutorado em Exegese do Novo Testamento

Introdução. O que virá adiante faz parte do meu doutorado, onde exclui o evangelho de Lucas, em especifico como ponto de partida o capítulo 16 e em especial o versículo 19 em diante.

I. Considerações Preliminares.
 
O cânon é a coleção de 27 livros que a igreja (geralmente) recebe como parte construtiva do Novo Testamento. A história do cânon é a história do processo pelo qual estes livros foram reunidos e o valor deles oficialmente gerou o Novo Testamento oficialmente reconhecido. O processo de canonização foi gradual, sendo avançado por necessidades definidas, e, entretanto inquestionavelmente contínuo. Há duas considerações de sua construção. Estes são:

1. Os cristãos primitivos tiveram o Antigo Testamento: 

Os cristãos primitivos tiveram em mãos o que para eles era a Bíblia, isto é, os livros do Antigo Testamento. Estes foram usados a uma extensão surpreendente na instrução Cristã. Durante um século inteiro depois da morte de Jesus.
 

2. Nenhuma intenção de escrever um Novo Testamento: 
Quando iniciaram o trabalho de escrever uma carta, ninguém teve o propósito definido de contribuir para a formação do que nós chamamos hoje de “Bíblia.” Todos os escritores do Novo Testamento olharam para “o fim” como algo próximo. As suas palavras eram apenas para satisfazer as necessidades definidas em suas nas vidas e com pessoas a eles relacionadas. Não houve nenhum pensamento de criar uma literatura sagrada nova. As circunstâncias e influências que provocaram este resultado serão brevemente fixado adiante.

II. O processo em três fases. 

Para conveniência de definição de impressão o processo inteiro pode ser separado em três fases:
 

a) O tempo dos apóstolos até 170 d.C;
 

b) Os anos finais do 2º século e o inicio do 3º (170-220 d.C);
 

c) Do 3º ao 4º século.
No primeiro se busca as evidências do crescimento em avaliação ao valor estranho das escritas do Novo Testamento; no segundo se descobri o reconhecimento claro, uma grande parte destas escritas como sagrado e autorizado; no terceiro a aceitação do cânon completo tanto no Leste como no Oeste.


1. Dos Apóstolos a 170 d.C: 


1.1. Clemente de Roma; Inácio; Policarpo: 
O primeiro período estende-se a 170 d.C. Ao final do 1º século todos os livros do Novo Testamento eram existentes. Eles eram, como tesouros de determinadas igrejas, extensamente separados e honrados como contendo a palavra de Jesus ou o ensino dos apóstolos. Os primeiros livros a serem reconhecidos eram aqueles que gozavam a autoridade de Jesus.

O crescimento da igreja e a partida dos apóstolos para terras distantes enfatizaram o valor dos escritos do Novo Testamento. No inicio de período primitivo houve o desejo de que cada igreja obtivesse instrução de cada carta para que houvesse um meio de conduta ideal.

Policarpo (110 d.C?) escrevendo aos Filipenses: “eu recebi as vossas cartas como também as de Inácio. Vocês recomendam que eu envie para a Síria; Eu tão farei pessoalmente ou por outros meios. Em retorno, eu lhes envio a carta de Inácio como também outras que eu tenho em minhas mãos as quais vocês pediram. Elas servirão para edificar a fé e a perseverança" (Carta aos Filipenses, XIII).

Esta é uma ilustração do que deve ter acontecido para avançar o conhecimento das escritas dos apóstolos. Até que ponto os livros do Novo Testamento começaram a serem difundidos é impossível dizer, mas é justo deduzir que uma coleção das epístolas de Paulo já existia no período de Policarpo quando escreveu aos filipenses e quando Inácio escreveu as suas sete cartas para as igrejas da Ásia Menor, i.e. aproximadamente 115 d.C.

Clemente de Roma, em 95 d.C, escreveu uma carta em nome dos cristãos de Roma para os de Corinto. Na carta ele faz menção de registros encontrados em Mt, Lc, dando isto uma retribuição grátis (veja capítulos 46 e 13); ele foi influenciado muito pela Epístola aos hebreus (veja capítulos 9, 10, 17, 19, 36). Ele reconhece romanos, coríntios, e também há menção de 1 Tm, Tt, 1 Pe e Ef.

As Epístolas de Inácio (115 d.C) tem muita semelhança ao conteúdo dos evangelhos em vários lugares (Ef 5; Rm 6; 7) e incorpora muitas relações em sua cartas semelhantes a das epístolas Paulinas. A Epístola de Policarpo faz uso de filipenses, e além disto cita nove das outras epístolas de Paulo. Inácio cita Mateus, aparentemente de memória; também 1 Pedro e 1 João.

Com respeito ao que Clemente, Policarpo e Inácio escreveram não é o bastante para dizer que eles nos trazem reminiscências ou cotações disto ou daqueles livros. O ensino dos doze apóstolos (aproximadamente 120 d.C em sua forma presente); a Epístola de Barnabé (aproximadamente 130 d.C) e o Pastor de Hermas (aproximadamente 130 d.C). Estes exibem os mesmos fenômenos assim como está atestado nas escritas de Clemente, Inácio e Policarpo.



2. O valor dos escritos: 


2.1. Os gnósticos, Marcion: 
Basilides considerado o grande mestre que ensinou na Alexandria durante o reinado de Adriano (d.C 117-38), teve por tradição a autoridade dos apóstolos Matias e Glaucias, intérprete alegado de Pedro, ele testemunhou Mateus, Lucas, João, Romanos, 1 Coríntios, Efésio, e Colossenses no esforço para recomendar as suas doutrinas.

O mais notável dos Gnósticos era Marcion, um nativo de Pontus. Ele foi para Roma (aproximadamente 140 d.C). Em defesa das suas visões, ele formou o seu próprio cânon que consistia no Evangelho de Lucas e dez das epístolas de Paulo. Ele rejeitou as Epístolas Pastorais, Hebreus, Mateus, Marcos, João, Atos, as epístolas católicas e o Apocalipse, e fez uma recensão do evangelho de Lucas e as epístolas de Paulo que ele aceitava. A importância do seu trabalho está no fato de que é ele quem dá a primeira evidência clara da canonização das epístolas de Paulo.

2.2. De 170 d.C a 220 d.C: 
O período de 170 d.C a 220 d.C. Inicia a idade de uma literatura teológica volumosa, ocupando os grandes assuntos do cânon da igreja e do credo. É o período dos grandes nomes como: Irineu, Clemente de Alexandria, e Tertuliano, representando a Ásia Menor, Egito e a África.

2.2.1. Irineu. 
Nasceu na Ásia Menor, viveu e ensinou em Roma e se tornou o bispo de Lions posteriormente. Fora discípulo de Policarpo, o qual, também fora discípulo do apóstolo João. Defensor sério da verdade, ele fez do Novo Testamento em grande parte a sua autoridade. Os quatro Evangelhos, Atos, as epístolas de Paulo, e a maioria das epístolas católicas e o Apocalipse é para ele a Bíblia em o sentido mais pleno da verdade o qual ele considerou genuínos e autorizados, assim como em seu tempo o Antigo Testamento já era. Tertuliano segue a mesma posição, enquanto Clemente de Alexandria aceita apenas os quatro evangelhos como a “Bíblia.” No final do 2º século foi resolvido o cânon dos evangelhos. O mesmo aconteceu com as epístolas de Paulo.

Irineu fez mais de duzentas citações de Paulo, ele foi considerado o maior defensor das epístolas de Paulo. Pode se dizer que o cânon do Novo Testamento era para ele os evangelhos e os apóstolos. O título Novo Testamento parece ter sido usado pela primeira vez por um escritor desconhecido contra o Montanhismo (aproximadamente 193 d.C). Após Orígenes e escritos posteriores é que esse termo é utilizado.


2.3. O Fragmento Muratoriano. 
O fragmento muratoriano é assim denominado porque sua descoberta em 1740 se deu pelo bibliotecário de Milão, Muratori. Sua datação está perto do fim do 2º século, é de interesse vital no estudo da história do cânon, pois registra uma lista dos livros do Novo Testamento. Contêm os Evangelhos (inicia com Marcos, mas Mateus é claramente incluído), Atos, as epístolas de Paulo, Apocalipse, 1 e 2 João e Judas.

Não menciona 1 e 2 Pedro, Hebreus, Tiago. Nesta lista se tem a posição do cânon do final do 2º século. Sete livros não tiveram contudo um lugar seguro ao lado dos evangelhos, e as cartas de Paulo como também as igrejas da palestina e síria rejeitaram o Apocalipse por muito tempo, enquanto algumas das epístolas católicas estavam no Egito considerado duvidoso. A história da aceitação final do Cânon e seus livros só se deram perto do inicio do terceiro século.

3. 3º e 4º Séculos: 


3.1. Orígenes: 
Nasceu na Alexandria aproximadamente em 185 d.C. Em 203 foi designado bispo, e morreu em 254. A sua fama se deu na habilidade com os manuscritos, ele foi considerado como o maior exegeta, entretanto ele trabalhou laboriosamente e prosperamente em outros campos.

O seu testemunho é de valor alto, não simplesmente por causa dos seus próprios estudos, mas também por causa do seu conhecimento o qual estar em debates em centros do cristianismo no mundo em seu tempo. Apenas os Evangelhos, as epístolas de Paulo e Atos, que ele aceitou como canônico.

3.1. Dionísio: 
Outro nome notável deste século é Dionísio de Alexandria, um discípulo de Orígenes (morreu 265). A discussão mais interessante dele está em considerar o livro do Apocalipse a um João desconhecido, mas ele não ignora sua inspiração.

É um fato singular que a igreja ocidental o aceitou logo de inicio, enquanto sua posição no oriente foi variável. Com respeito às epístolas católicas Dionísio apóia Tiago, 2 e 3 João, mas não 2 Pedro e Judas.

3.2. Cipriano: 
No Oeste o nome de Cipriano, bispo de Cartago (248-58 d.C), era muito influente. Ele estava muito comprometido em controvérsia, mas um homem de grande força pessoal. O livro do Apocalipse que honrou altamente, mas concernente ao livro de hebreus ele não considerava como canônico. Ele também recorre a só dois das epístolas católicas, 1 Pedro e 1 João.

3.3. Eusébio: 
Inicio do 4º século (270-340 d.C), bispo de Cesárea antes de 315. Os critérios para cada um deles eram: autenticidade e apostolicidade, e na lista houve os Evangelhos, Atos, e as epístolas de Paulo. Entretanto os livros disputados, i.e. Os que foram reconhecimento parcialmente foram: Tiago, Judas, 2 Pedro e 2 João. Já o livro do Apocalipse ele não estava seguro. Vê-se que não houve muito avanço no 3º século. Tudo isso demonstra que nenhuma decisão oficial e nem uniformidade ao canon foi uso da igreja. Na metade do 4º século repetiu-se e foram feitos esforços para acabar com a incerteza.

3.4. Atanásio: 
Atanásio em uma de suas cartas pastorais com relação à publicação do calendário eclesiástico dá uma lista dos livros que ele teve como Bíblia, e na porção do Novo Testamento são incluídos todos os 27 livros que nós reconhecemos agora. “Estes são a fonte da salvação", ele escreve.
 

Gregório de Nazianzo (morreu 390 d.C) também publicou uma lista que omite Apocalipse, como fez Cirilo de Jerusalém (morreu 386), e totalmente ao término do século (4º) Isidoro fala do “cânon de verdade, como Escritura Divina”. Durante um tempo considerável o livro do Apocalipse não foi aceito nas igrejas palestinas ou sírias.
 
Atanásio ajudou para a sua aceitação na igreja de Alexandria. Porém, algumas diferenças de opinião continuaram. A igreja da síria não aceitou todas as epístolas católicas.

4. Concilio de Cartago, Jerônimo; Agostinho: 

O Concilio de Cartago em 397, decretou que os livros que não estavam inseridos na Bíblia não deveriam ser lidos nas igrejas e nem considerados como Escrituras Divinas.
 

Depois que houve um empenho para atestar a unanimidade, mesmo assim houve divergência de julgamento. Os livros que tinham variado por estes séculos eram o Apocalipse e as cinco epístolas católicas. O avanço do Cristianismo por Constantino teve muito significado para a recepção do grupo inteiro dos livros em sua época.
 
A tarefa que o imperador deu a Eusébio para preparar “cinqüenta cópias da Escritura Divina” estabeleceu um padrão que ao seu tempo deu reconhecimento aos livros que até então eram duvidosos. No Oeste, Jerônimo e Agostinho eram os protagonistas na determinação do cânon. A publicação da Vulgata fez determinar o assunto.

A conclusão que se chega é que o elemento humano fora o envolvimento no processo inteiro de formar o Novo Testamento. Ninguém disputou um dominio providencial de tudo. É bom ter em mente que todos os livros não têm o mesmo título no cânon até a sua história de atestação. Porém, claro e cheio e unânime foi desde o princípio o julgamento nos Evangelhos, Atos, as epístolas de Paulo, 1 Pedro e 1 João.

Fonte: 
http://exegesebiblica.blogspot.com.br/p/historia-da-canonizacao-do-novo.html