Isvonaldo sou Protestante

Isvonaldo sou Protestante

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

.

Por Kevin DeYoung


Os termos monergismo e sinergismo se referem à obra de Deus na regeneração. Monergismo ensina que nós nascemos de novo somente através da obra de um (a palavra monotem origem no grego e significa ‘um’, erg vem do grego e significa trabalho’). Sinergismo ensina que nós nascemos de novo através da cooperação humana com a graça de Deus (o prefixo sin vem do grego e significa “com”). Os reformadores se opuseram fortemente contra todo o conceito sinergístico para o novo nascimento. Eles acreditavam que dada a morte espiritual, a falha moral do homem, nossa regeneração é devido inteiramente a soberana obra de Deus. Nós não cooperamos e não contribuímos para nosso novo nascimento. Três vivas para o monergismo!

Mas o que nós deveríamos dizer sobre a santificação? Por um lado, cristãos reformados detestam a palavra sinergismo. Não queremos de maneira alguma sugerir que a graça de Deus é de algum modo desprezível na santificação. Nem queremos sugerir que o duro trabalho de crescimento em piedade não é um dom sobrenatural de Deus. Por outro lado, estamos em um terreno perigoso se afirmarmos que somos passivos na santificação da mesma forma que somos passivos na regeneração. Não queremos sugerir que Deus é o único agente ativo em nossa progressiva santificação. Então a questão é: A santificação é monergística ou sinergística?

Eu acho que é melhor ficar longe de ambos os termos. A distinção é muito útil (e muito importante) quando falamos acerca da regeneração, mas esses termos teológicos restritos confundem quando se fala acerca da santificação. Sinergismo soa como um palavrão para os reformados, então ninguém quer dizer isso. E ainda, monergismo também não é uma palavra adequada. Para transformá-la em uma palavra conveniente, nós temos que providenciar uma definição diferente da qual nós damos quando discutimos acerca do novo nascimento. O que significa dizer que regeneração e santificação são ambos monergísticos se nós estamos inteiramente passivos em um e ativos em outro?

Aqueles que dizem que santificação é monergística querem proteger a graça, a natureza sobrenatural da santificação. Aqueles que dizem que a ela é sinergística, querem enfatizar que devemos cooperar ativamente com a graça. Esses exemplos estão ambos corretos. Eu acredito ainda que é melhor defender esses dois pontos com uma cuidadosa explicação do que com termos que normalmente tem sido usados em polêmicas teológicas. Santificação é, ao mesmo tempo, um dom gracioso de Deus, e requer nossa ativa cooperação. Eu tentei mostrar em artigos anteriores que essas duas verdades são bíblicas. Nesse artigo eu quero mostrar que essas duas verdades são também notavelmente reformadas.

Deixe me dar alguns breves exemplos:

João Calvino (1509-64)

No Comentário de 2 Pedro 1:5 (“E vós também, pondo nisto mesmo toda a diligência, acrescentai à vossa fé…”), Calvino diz:

Visto que isso é um grande e árduo trabalho, eliminar a corrupção que há em nós, ele nos ordena a atacar e fazer todo o esforço possível para atingir esse propósito. Ele intima que não se deve dar lugar à preguiça, e que nós devemos obedecer ao chamado de Deus não brandamente ou descuidadosamente, mas que haja necessidade de diligência; conforme ele disse: “Empenhe todos os esforços, e faça seu zelo ser manifestado a todos.

Para Calvino, crescer em piedade é um trabalho difícil. Não há lugar para preguiça. Nós devemos nos esforçar para  obedecer com rapidez e diligência. O crente não é nada passivo na santificação.


Mas depois, enquanto comentava no mesmo verso, Calvino também adverte contra “o delírio” de que nós tornamos os movimentos de Deus eficazes, como se a obra de Deus não pudesse ser feita a menos que nós O permitíssemos fazer. Pelo contrário, “desejos santos são criados em nós por Deus, e são reproduzidos por Ele eficazmente.” Na verdade, “todo nosso progresso e perseverança provém de Deus.” Sabedoria, amor, paciência – todos eles são “dons de Deus e do Espírito”. Então, quando Pedro nos diz para empregar toda nossa diligência, “ele não está querendo dizer que [essas virtudes] são realizadas pelos nossos próprios esforços, mas somente mostra que devemos ter e que deve ser feito.

Francisco Turretini (1623-87)

Turretini emprega santificação como um termo teológico “usado estritamente para uma real e interna renovação do homem.” Nessa renovação, nós somos tanto receptores da graça de Deus quanto atores ativos dela.

[Santificação] segue a justificação e se inicia pela regeneração e é promovida pelo exercício da santidade e das boas obras, até que uma seja consumada na outra pela glória. Nesse sentido, ela é passiva, na medida em que é operada por Deus em nós, e em outro sentido é ativa, na medida em que deve ser feito por nós. Deus realiza seu trabalho em nós e através de nós. (Institutes of Elenctic Theology 2.17.1)

Quando se trata da graça de Deus na regeneração, Turrentini se opõe a “todos os sinergistas”. Ele tem em mente os Socinianos, Remonstrantes, Pelagianos, Semipelagianos, e especialmente os Católicos Romanos, que anatematizaram: “Eles dizem que o livre arbítrio do homem, movido e estimulado por Deus, coopera de alguma forma” no chamado eficaz (Concílio de Trento). Turrentini foi feliz em ser o tipo de monergista que foi contra Trento. Entretanto, ele faz um esclarecimento:

Esse assunto não diz respeito ao segundo estágio da conversão, em que é certo que o homem não é meramente passivo, mas coopera com Deus (ou melhor, opera em submissão a Ele). Na verdade, ele realmente acredita e se converte a Deus; se move ao exercício da nova vida. Antes, essa questão diz respeito ao primeiro momento quando ele é convertido e recebe nova vida na regeneração. Nós afirmamos que ele é meramente passivo nesse caso, como um sujeito que recebe e não como um princípio ativo (2.15.5).

Dada essa ressalva, é difícil pensar que Turrentini se sentisse confortável em dizer que santificação é monergística, embora ele certamente acreditasse que a santidade é trabalhada no crente por Deus.

Wilhelmus A Brakel (1635-1711)

Semelhantemente a Turrentini e Calvino, A Brakel deixa claro que a santificação é um trabalho de Deus. Somente Deus é sua causa” ele escreve: “Assim como o homem não pode contribuir para sua regeneração, fé e justificação, da mesma forma não pode contribuir para sua santificação” (The Christian’s Reasonable Service, 3.4). Isso pode soar como se fôssemos completamente passivos na santidade, mas não é o que A Brakel quer dizer:

Crentes odeiam o pecado, amam a Deus, e são obedientes, e fazem boas obras. Entretanto, eles não fazem isso por conta própria nem independentemente de Deus; antes, o Espírito Santo, tendo infundido vida neles na regeneração, Ele mantém essa vida pela Sua contínua influência, despertando, ativando e fazendo com que ela funcione em harmonia com sua natureza espiritual. (3.4)

Nós não contribuímos em nada para santificação, e o crescimento em piedade é um dom de Deus. No entanto, nós devemos ser ativos no exercício desse dom. A Brakel vai ainda além quando diz: “Homem, sendo assim movido pela influência do Espírito de Deus, age, santifica a si mesmo, se compromete na atividade a qual sua nova natureza deseja e na direção que ela está disposta, e faz o que ele sabe que é seu dever” (3.4, grifo do autor). É por isso que A Brakel depois exorta seus leitores a “fazer um diligente esforço para se purificar de toda contaminação da carne e da mente, aperfeiçoando sua santificação no temor a Deus. Permita me despertá-lo para a obra santa; incline seu ouvido e permita que essas exortações endereçadas a você entrem seu coração” (3.24). Então em um certo sentido (no nível da causa e da origem) nós não contribuímos em nada para santificação e em outro sentido (no nível da atividade e esforço) nós santificamos a nós mesmos.

Charles Hodge (1797-1878)

Nós achamos os mesmos temas – santificação como um dom e santificação como uma ativa cooperação – em um grande sistematizador de Princeton. Hodge enfatiza que a santificação é “sobrenatural” e que as santas virtudes na vida de um crente não podem “ser produzidas pelo poder da sua vontade”, ou por todos os recursos do homem, embora possam ser prolongadas no seu exercício. Elas são presentes de Deus, fruto do Espírito” (Systematic Theology, 3.215).

Entretanto, Hodge é rápido em acrescentar que essa obra sobrenatural da santificação não exclui “a cooperação como causa secundária” Ele explica:

Quando Cristo abriu os olhos dos cegos, nenhuma causa secundária se interpôs entre sua vontade e o efeito. Mas os homens desenvolvem sua própria salvação, enquanto Deus trabalha neles o querer e o fazer, de acordo com Sua própria vontade. No trabalho da regeneração, a alma é passiva. Ela não pode cooperar. Mas na conversão, o arrependimento, a fé, e o crescimento em graça, todos seus poderes são chamados a entrar em exercício. Quando, porém, os efeitos produzidos superam a eficiência de nossa natureza caída, isso se deve a atividade do Espírito, e a santificação não deixa de ser sobrenatural, ou uma obra da graça, porque a alma é ativa e coopera no processo (3.215).

Há muitas idéias importantes no resumo do Hodge. Primeiro, ele afirma que a santificação é uma obra da graça sobrenatural. Isso não é algo que vem de nós ou poderia ser efetuado por nós. Segundo, ele sugere que a alma é passiva (monergismo) na regeneração, mas não no restante de nossa vida espiritual (nota: “conversão” nesse trecho significa seguir Cristo, não se refere ao novo nascimento). Terceiro, ele não hesita em usar a linguagem da cooperação. Nós somos ativos no processo de santificação com Cristo enquanto Ele trabalha em nós.


Herman Bavinck (1854-1921)

Mais do que Hodge, e da mesma forma que Calvino, Bavinck enfatiza a natureza “em Cristo” da santificação. Ele quer que vejamos que não somos “santificados pelo que realizamos por nós mesmos”. Antes, a santificação evangélica “consiste na realidade de que, em Cristo, Deus também nos garante, junto com justiça, plena santificação, e não apenas atribui, mas também nos concede pela obra regeneradora e renovadora do Espírito Santo até que nós tenhamos sido completamente conformados à imagem de seu Filho” (Reformed Dogmatics, 4.248). Bavinck continua ao dizer que a doutrina romana da “justiça imputada” não está incorreta como tal. Os Crentes “realmente obtém a justiça de Cristo por imputação”. O problema é que Roma faz dessa justiça, um motivo para o perdão. A nós é dado o dom da justiça ( por Cristo “vindo habitar em nós pelo Espírito Santo e nos renovar a Sua imagem”), mas nós somos declarados justos somente pelo dom da justiça imputada (4.249).

Santificação, para Bavinck, é antes de tudo o que Deus faz em e por nós. Mas isso não é tudo que devemos dizer acerca da santificação:

É admitido, em primeiro lugar que [santificação] é uma obra e dom de Deus (Fp 1:5; 1Tess 5:23); um processo no qual se inicia na regeneração. Embora essa obra seja estabelecida nos homens, ela alcança, em segundo lugar, um sentido ativo, e as próprias pessoas são chamadas e capacitadas a santificar a si mesmas e a devotarem completamente suas vidas a Deus. (Rom. 12:1; 2 Cor. 7:1; 1 Tess. 4:3; Heb. 12:14; e assim por diante). (4.253)

Enquanto Bavinck pode estar mais decidido a enfatizar a natureza passiva da santificação do que usar a linguagem de cooperação, no final ele ataca os mesmos tópicos que nós vimos em Calvino, Turrentini, A Brakel, e Hodge. Bavinck não vê conflito “entre essa atividade de Deus realizada em graça e a busca da santificação pelos cristãos” (4.254). Ele exorta que os cristãos perdem o foco quando não conseguem conciliar esses dois significados. Santificação é um dom de Deus, e nós somos ativos nesse dom.

Louis Berkhof (1873-1857)

Nós percebemos em Berkhof a mesma tendência de se resguardar contra qualquer ideia de auto-ajuda por um lado e a inatividade humana por outro.

[Santificação] é uma obra sobrenatural de Deus. Alguns tem a ideia equivocada de que santificação consiste apenas no alongamento da nova vida, inserida na alma pela regeneração, apresentando motivos convincentes para o desejo. Mas isso não é verdade. Isso consiste fundamentalmente e principalmente em uma divina operação na alma, por meio da qual, uma santa disposição é originada na regeneração e fortalecida e as boas obras são aperfeiçoadas. (Systematic Theology, 532).

Em outras palavras, santificação é essencialmente uma obra de Deus. Embora seja também “uma obra no qual crentes cooperam.” Quando é dito que o homem participa na obra da santificação, isso não significa que o homem seja um agente independente nesse esforço, de forma que parte seria trabalho de Deus e parte do homem, mas significa apenas que Deus efetua a obra através do homem como um ser racional, requerendo dele uma cooperação piedosa e inteligente com o Espírito. (534)

Conclusão

Então o que vemos nessa breve análise de teólogos reformados. Para começar, não vimos exatamente as palavras monergismo ou sinergismo aplicada à santificação. Em segundo lugar, percebemos que, dadas certas restrições, cada termo pode ser usado com mérito.

“Monergismo” pode funcionar porque santificação é um dom de Deus, Sua obra sobrenatural atuando em nós.

“Sinergismo” também pode, pois nós cooperamos com Deus na santificação e ativamente nós esforçamos para crescer em piedade.

Em terceiro lugar, vemos nessa análise reformada a necessidade de sermos cautelosos com nossas palavras. Por exemplo, “passivo” pode descrever nosso papel na santificação, mas somente se nós também dissermos que há um sentido no qual somos ativos. Do mesmo modo, nós podemos usar a linguagem da cooperação desde que entendamos que santificação não depende fundamentalmente de nós. E se tudo isso parece confuso, você pode simplesmente dizer: nós desenvolvemos nossa santificação assim como Deus trabalha em nós (Fp 2:12-13). Essa são duas verdades que devemos proteger: o dom de Deus na santificação e a atividade do homem. Nós buscamos o dom, é como John Webster coloca. Eu atuo o milagre, é uma frase de Piper. Ambos estão dizendo a mesma coisa. Deus nos santifica e nós também santificamos a nós mesmos. Com certas restrições e definições, eu creio que Calvino, Turrentini, A Brakel, Hodge, Bavinck, e Berkhof concordariam plenamente.

***
Fonte: The Gospel Coalition
Tradução: Henderson Fonteneles

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

.

Por Lucas Rosalem


2.4 TAMANHO DA FÉ

Em Mateus 13:32, Jesus diz que o reino de Deus é semelhante a uma semente de mostarda, que, apesar de pequena se transforma em uma grande árvore. Olhando essa passagem o ensino de Jesus fica mais claro: o reino de Deus parecia ser insignificante, mas assim como a semente de mostarda cresce e se transforma em uma planta que pode atingir 3 metros de altura, assim aconteceria com o reino de Cristo. Há 5 passagens onde Jesus cita o grão de mostarda, 3 delas são uma comparação com o reino e 2 com fé, mas em nenhuma delas existe a palavra “tamanho”.

Apesar de algumas traduções trazerem “tamanho do grão de mostarda” (NVI e NTLH), a Bíblia não diz que a nossa fé tem que ter tamanho, muito menos compara o tamanho da fé com o tamanho da mostarda. Tanto o texto de Lucas 17:6, quanto a de Mateus 17:20 no Grego (o idioma em que foram escritas) trazem o seguinte:

ει (Se) ειχετε (tiverdes) πιστιν (fé) ως (como) κοκκον (grão) σιναπεως (mostarda).
Se tiverdes fé como grão de mostarda.

Nas passagens sobre fé Jesus comparou o próprio grão de mostarda com a fé, não o tamanho dele. Jesus estava ensinando sobre a semelhança da fé e uma pequena semente. A semente parece pequena, parece pouca coisa, mas é só disso que precisamos para plantar e assim é a nossa fé!

Os discípulos pediram a Jesus para que Ele aumentasse a fé deles. Jesus dá uma resposta que deixa claro a irrelevância do tamanho da fé. Ele usa como exemplo comparativo uma pequena semente de mostarda. O poder da operação do milagre não está na fé, mas em quem a fé é depositada: Deus! Você pode ter uma fé do tamanho de um caroço de abacate; mas, se a sua fé está firmada no saci-pererê, ela não valerá de nada! Não terá efeito, porque o saci-pererê nada pode fazer por você. Se a sua pequenina fé, tão pequena quando um grão de mostarda, está firmada no Deus vivo, a história é outra. Deus tem poder para operar o milagre independente de sua fé. Vou repetir: Quem opera o milagre é Ele, não a sua fé! (André R. Fonseca) [1]

É comum vermos pessoas dizendo que estão orando com muita fé, enquanto na verdade estão apenas pedindo com muita vontade. Ao invés de pedirem pela vontade de Deus, imploram ao vento que suas vontades sejam satisfeitas. Afinal, orar com muita vontade é orar com fé? Isso nos leva ao próximo item.

2.5 ORAR COM FÉ

A Bíblia diz que a oração eficaz é a oração feita com fé. Mas o que é orar com fé?

Irmão, não confunda fé com pensamento positivo. Pensar positivo é algo ótimo, aliás, otimismo é ótimo! Mas isso no máximo é sobre esperança e não sobre fé. Orar com otimismo não é orar com fé! Na verdade o otimismo confundido com fé é algo muito prejudicial à vida de um cristão, isso se chama Confissão Positiva e é uma confusão antibíblica que vamos falar um pouco mais à frente, mas grave essa expressão e pesquise melhor sobre ela quando puder. Continuando:

Deus requer fé da parte dos que oram (Hb 3:12; 11:6; Jer 29:12-14; Tg 1:5-8; 5:15). Esta fé é uma simples confiança de que Deus existe, que ele nos aceitou plenamente em Cristo e que é poderoso para nos dar aquilo que pedimos, ou então, nos dar muito mais do que imaginamos (Hb 4:14-16). Orar com fé é trazer diante de Deus nossas necessidades e descansar nele, confiantes que ele responderá de acordo com o que for melhor para nós (1 Jo 5:14-15). Orar com fé não significa determinar a Deus que cumpra nossos pedidos, ou decretar, como se a oração tivesse um poder próprio, que estes pedidos aconteçam. Orações não geram realidades espirituais e nem engravidam a história. É Deus quem ouve as orações e é Ele quem decide se vai respondê-las ou não, e isto de acordo com sua vontade e propósito de sempre nos fazer bem. (Rev. Augustus Nicodemus Lopes).[2]

A fé que a oração precisa ter está tão somente relacionada ao poder e à vontade do Pai, jamais ao desejo do coração do homem, independente de ser um desejo bom ou ruim. Ou seja, quando a Bíblia fala sobre orar com fé, ela está dizendo que a oração deve ser fundamentada no alcance do poder de Deus, mas não está dizendo que essa oração vai obrigar Deus te obedecer. Portanto, oremos com fé no poder de Deus e esperança de que Ele nos conceda a graça que precisamos!

A oração não muda as coisas, Deus é que muda as coisas através da oração. É nisso que você precisa crer: que Deus pode mudar as coisas conforme Ele deseje. Assim como a Graça é o meio pelo qual somos salvos, a oração é o meio pelo qual Deus opera certas bênçãos, e ambos os meios são eficazes mediante a fé.

Já sabemos que: 1) nossas palavras não tem poder especial; 2) gritar frases de efeito como “eu determino” ou “eu tomo posse” não tem força espiritual; 3) repetir as frases é vão; 4) pensar positivo não é ter fé; 5) orar com muita vontade de ser atendido não é orar com fé. Falta falarmos sobre profetizar.

2.6 PROFETIZAR

O que é profetizar? Será que estamos profetizando quando declaramos algo com vontade, desejo e força ou será que esse é um entendimento equivocado sobre profecia? Estamos levando em conta o que Deus disse sobre “profetizar falsamente em meu nome”?

A ideia de profetizar as coisas que queremos ao invés de batalhar por elas ou de simplesmente orar é algo tentador, mas antes vamos ler algumas passagens bíblicas para ponderarmos a respeito:

• "Eu não os enviei!", declara o Senhor. "Eles profetizam mentiras em meu nome. Por isso, eu banirei vocês, e vocês perecerão juntamente com os profetas que lhes estão profetizando". Jeremias 27:15
• Muitos me dirão naquele dia: 'Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?' Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês que praticam o mal! (Mateus 7:22-23)
• Pois tais homens são falsos apóstolos, obreiros enganosos, fingindo-se apóstolos de Cristo. Isso não é de admirar, pois o próprio Satanás se disfarça de anjo de luz. Portanto, não é surpresa que os seus servos finjam ser servos da justiça. O fim deles será o que as suas ações merecem. (2 Coríntios 11:13-15)
• Mas o profeta que ousar falar em meu nome alguma coisa que não lhe ordenei, ou que falar em nome de outros deuses, terá que ser morto". Mas vocês perguntem a si mesmos: "Como saberemos se uma mensagem não vem do Senhor?" Se o que o profeta proclamar em nome do Senhor não acontecer nem se cumprir, essa mensagem não vem do Senhor. Aquele profeta falou com presunção. Não tenham medo dele. (Deuteronômio 18:20-22)

Por favor, me diga que leu com atenção esses versículos! Se não leu direito, leia-os novamente, amado!

Se você vive dizendo “eu profetizo” sempre que quer muito alguma coisa, me diga: o que você profetiza sempre se cumpre? Pense comigo, se alguma vez na vida você já profetizou algo que não se cumpriu com exatidão, você nessa situação foi um falso profeta. A Bíblia declara que quem profetiza falsamente merece a morte. Isso é muito sério. Se for seu caso, se arrependa e peça perdão ao nosso Deus, pois ele é fiel e justo para perdoar pecados.

Se você lê as passagens bíblicas sobre os profetas e pensa que tudo acontecia pela força da palavra deles, você está muito enganado.

Quando um profeta fala algo em nome de Deus, só pode ser duas coisas: 1) Ordem direta de Deus (palavras que o próprio Deus o mandou dizer); 2) Mentira do falso profeta (vontades do coração do homem);

Quando lemos uma profecia nas Escrituras, sabemos que cada palavra que o profeta falava tinha de proceder de Deus, ou ele seria um falso profeta (Nm 22:38; Dt 18:18-20; Jr 1:9; 14:14; 23:16-22; 29:31,32; Ez 2:7; 13:1-16). Alguns leem a passagens como 1 Reis 17:1 e não compreendem o texto, acham que o poder está na palavra do profeta ao invés da profecia ser um simples comunicado de Deus pela boca de um homem. Veja a passagem que mais confundem: “Vive o SENHOR Deus de Israel, perante cuja face estou, que nestes anos nem orvalho nem chuva haverá, senão segundo a minha palavra” (1 Reis 17:1).

Será que Elias tinha poder? Eram realmente as palavras dele que compunham uma profecia e que dava valor espiritual a ela? Vamos ler uma outra passagem de uma ocasião que ocorreu depois dessa e ver como as profecias aconteciam e de onde vinha realmente o poder e a decisão, atenção ao meu grifo:

"O SENHOR Deus de Abraão, de Isaque e de Israel, manifeste-se hoje que tu és Deus em Israel, e que eu sou teu servo, e que conforme a tua Palavra fiz todas estas coisas” (1 Reis 18:36).

Se até Elias afirmou que tudo que profetizava era conforme o que Deus o orientava diretamente, imagine só nós, meros humanos, achando que profetizamos o que queremos. Elias sempre agiu em conformidade com a ordem direta de Deus, não com pensamento positivo. Desejar não é profetizar. O fato de você usar a palavra "profetizo" numa frase não faz de você um profeta e muito menos faz da sua prece uma profecia. Isso no máximo, como já vimos, seria uma falsa profecia e faria de você um falso profeta. Tenhamos temor de Deus.

Talvez não seja seu caso, mas sabemos que muitos mal-intencionados se trajam de pastores com palavras de vitória e satisfação pessoal pra falar em nome de Deus, que eles não conhecem e que não os reconhecerá no Dia do Juízo (Mateus 7:22). A Bíblia ainda diz que falsos profetas fariam sinais e maravilhas enganando até os eleitos se possível! Se não acredita, leia Mateus 24:24.

Algumas pessoas talvez não acreditem mesmo nisso, pois hoje é algo tão frequente que parece não as incomodar. Será que a igreja está se acostumando com falsas profecias? As falsas profecias dão consolo momentâneo e com os dias as pessoas se esquecem delas, mas mesmo quando se lembram e percebem que foi uma falsa profecia, as pessoas não se manifestam mais!

Jamais aceite uma profecia que tenha origem na vontade humana. Profetizar não é declarar "em nome de Jesus" algo que Ele não disse (2 Pedro 1:21). Se o povo de Deus começasse ler mais a Bíblia veria o que realmente Deus está te dizendo e jamais ficaria sem resposta!

A fonte de toda profecia verdadeira na história nunca foi a decisão ou desejo do homem a respeito do que ele queria, mas os desígnios do próprio Deus.

Profecia a esmo, jogada ao vento não é profecia! As profecias bíblicas são específicas, e não o que normalmente vemos por aí! Querem ver profecias? Leiam as suas Bíblias, encham a cabeça com o Evangelho, se saturem de Cristo, e depois (se é que vão precisar) pensem em profecias extrabíblicas. (Jackson Jacques).[3]

“Quer ser um profeta de Deus? Cave a fundo as Escrituras Sagradas e proclame fielmente a mensagem de Deus!” (Roberto de Carvalho). [4]

2.7 CURAS E MILAGRES

Poderia escrever vastamente sobre esse assunto, mas o livro não é sobre isso, então vou fazer considerações básicas e óbvias a partir dos itens anteriores.

Profetizar, decretar, determinar ou ordenar uma cura é uma das formas de percebemos que não temos realmente nenhuma autoridade espiritual que não venha da decisão e vontade de Deus. Quando uma pessoa não é curada em sua igreja, mesmo com várias pessoas tendo "profetizado" a cura ou “determinado” e “tomado posse”, o que você pensa ter sido o problema? O cristão que não tem uma boa compreensão da Palavra sempre clamará pela bênção da forma errada, como se Deus tivesse alguma obrigação para com ele, mas quando não receber a bênção, vai sempre procurar um motivo para justificar essa espécie de derrota. Há cristãos que oram pensando de uma forma e depois se justificam de outra. Oram exigindo, mas ao não receberem, arranjam desculpas ao invés de se voltarem para a Bíblia e ver o que exatamente ela diz e quais são as promessas legítimas de Deus para nós.

Afinal, podemos orar por cura? Sim, devemos! A oração é um meio pelo qual Deus concede misericórdia mediante a fé de quem ora. Então fica a dúvida: por que a maioria das curas não acontece, mesmo com muita oração? Por que essa dúvida sempre aparece na mente do cristão, se a Bíblia tem tantas evidências claras? Será que esquecemos que Deus disse a Paulo que a Sua Graça lhe era suficiente depois dele orar para que Deus lhe tirasse um espinho na carne? Se não estiver nos planos de Deus, a cura não vem e pronto. Não sabemos os propósitos do Senhor. Eliseu, ainda depois de morto, ressuscitou um homem que caiu em cima de seu corpo! É lindo isso, mas parece que ninguém percebe o texto anterior que fala que Eliseu morreu de doença (2 Rs 13:14).

Vemos também o amigo de Paulo, que andava por todo canto com ele, vendo curas e talvez até as ministrando junto com o apóstolo (2 Tm 4:20 / 2 Co 12:9), no entanto, também não recebeu e obviamente eles tinham fé, ainda mais que nós hoje. Cristo orou “Pai não seja a minha, mas a tua vontade” (Lc 22:42); Paulo pediu cura e, quando não recebeu, conformou-se e glorificou a Deus, entendendo que o problema era exatamente para mantê-lo forte em Deus (2 Co 12:9).

Veja esse outra passagem: “Não bebas mais água só, mas usa um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas frequentes enfermidades.” (1 Timóteo 5:23)

É um claro exemplo bíblico para nós de que muitos não serão curados, mas ainda assim alguns lobos, falsos mestres que saqueiam a noiva de Cristo, continuarão dizendo que todo cristão deve ser curado, e quando a cura não vem, logo colocam a culpa na falta de fé do doente. Poderiam dizer isso de Paulo, Timóteo e Eliseu?

Alguns maus ministros ensinam "exigir, determinar, decretar e ordenar a bênção", enquanto a Jesus, Paulo, Tiago e todo o restante da Bíblia ensinam a pedir. A Bíblia mostra ainda alguns casos em que a pessoa curada nem fé exercia! O cego do tanque de Betesda foi curado por Jesus sem ter fé e sem ao menos conhecê-lo; leia João 5: 8-13.

O cristão deve buscar em Deus a cura, deve clamar pelas bênçãos do Pai, deve perseverar, assim como Davi, homem segundo oração de Deus (Atos 13:22) e assim também compreender que o milagre que tanto queremos, mesmo clamando com persistência, pode não acontecer, pois em 2 Samuel 12 vemos o drama do rei Davi que clamou em jejum durante dias para que Deus curasse seu filho recém nascido, mas a cura não veio e a criança morreu.

O pastor Lécio Contu escreveu: “Deus não é o gênio da lâmpada, não somos o Aladim e oração não é magia!” [5]

Podemos orar por milagres, claro! Mas não podemos ignorar fatos que sabemos sobre profetas, apóstolos e outros homens santos da Bíblia; não podemos ser egocêntricos, achando que os planos de Deus estão baseados em nossos caprichos; não faz sentido ter tanto orgulho a ponto de pensar que Deus está em dívida e tem dia marcado pra se apresentar prontamente a curar e tampouco devemos deixar falsos profetas enganarem irmãos fracos na fé e no conhecimento, que são levados em roda por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente.” (Efésios 4:14).

Há curas, há milagres, jamais desacredite! Mas os milagres são pra exaltar o nome de Deus, não pra fazer nossa vontade. É por isso que Cristo orientou na oração do Pai Nosso: Seja feita a Sua vontade. Se é no Deus da Bíblia que nós acreditamos, então devemos, sim, pedir por cura, mas assim como na Bíblia, a cura pode não vir, ainda assim glorificaremos ao Deus de João 3:16, Romanos 3:24, Efésios 1:5, Romanos 5:8 e 1 João 4:16. Amém!

SOBRE FÉ

A fé não é um sentimento ou uma sensação. Ter fé não consiste em esperar, mas em ter fundamento para o que se espera. Ter fé é crer confiantemente que Deus é poderoso para intervir a seu favor.

A fé cristã é confundida por alguns com convencimento mental: “eu estou convencido disto, logo Deus está obrigado a agir”. Isso pode até ser fé em si próprio, mas não em Deus, não nas promessas, não na Sagrada Escritura. É preciso salientar que a fé cristã não está em insistir com Deus em nossos desejos pessoais, mas clamar a Ele que cumpra em nós Sua vontade.

Um dos enganos que as pessoas têm atualmente é colocar fé na fé e não fé em Deus. Fé é confiar em Deus, no Seu poder e na Sua vontade e não em nossa própria capacidade de confiar em Deus. Orar com fé não é orar com poder, é orar confiante no poder de Deus. (Vinicius Musselmann).[6]

Alguém irá perguntar: mas fé não é a certeza daquilo que nós esperamos?

Fé não é só isso. Isso é uma característica da fé. O versículo é uma descrição sobre quem tem fé e não um conceito sobre fé. A fé é o alicerce da vida cristã e é disso que o versículo trata. Entende a diferença? Vamos ver o versículo: “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem.” (Hebreus 11:1). O versículo está dizendo que a fé é o que sustenta e fundamenta o que nós pedimos e esperamos. Não é uma definição de fé, ou seja, ele não está dizendo o que significa fé, mas diz que esperar está baseado na fé.

Outro detalhe é que “esperar” tem mais a ver com esperança. O versículo, em outras palavras, diz: “Quando você tem certeza de algo que está esperando, isso é fé”. No entanto, não temos como ter certeza de algo que nunca foi prometido a nós (como coisas corriqueiras do dia-a-dia), então oramos com esperança, como sugere o texto de Romanos 8:24-25: “Porque em esperança fomos salvos. Ora a esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém vê como o esperará? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o esperamos.”

A fé não consegue tudo. Isso porque ter fé é acreditar que Deus tem poder, mas não que Ele de fato fará o que eu quero, pois isso é outra coisa: esperança. E essa é a maior confusão que costumamos fazer. A fé cristã é basicamente crer sem dúvidas nas promessas bíblicas. Assim como nossa esperança está fundamentada na fé, nossa fé deve estar firmemente fundamentada e se você é cristão, seu único fundamento é a própria Bíblia, não suas necessidades, objetivos e vontades pessoais. Um entendimento equivocado da fé bíblica fará com que sua oração seja egoísta, arrogante, hipócrita e sem fundamento. Aliás, fundamentada em você mesmo ao invés da Palavra.

Mas apenas conhecer a visão teológica sobre o assunto não nos tornará cristãos de oração. A condição de quem ora é fator crucial para a eficácia da oração. 

_____________
Notas:
[1] André Fonseca. Disponível em: < www.andrerfonseca.com/2012/10/resposta-ao-leitor-ungir-com-oleo.html > Acesso em: 18 maio 2014.
[2] Disponível em:
[3] Disponível em: < http://goo.gl/cXMgUJ > Acesso em: 27 julho 2014.
[4] Disponível em: Acesso em: 27 julho 2014.
[5] Fonte: A oração dos filhos de Deus, Lécio Contu, p.44.
[6] Disponível em: < http://voltemosaoevangelho.com/blog/2011/05/pve-devemos-ungir-com-oleo/ > Acesso em: 20 julho 2014. 

***
Artigo gentilmente cedido pelo autor ao blog Bereianos. O texto faz parte do livro "400 Metros de Oração" o qual recomendamos.

Fonte: 400 Metros de Oração

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

.

Por Rev. Ericson Martins


Disse-lhe Jesus: Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram.” (Jo 20:29)

Não foram poucas as oportunidades que ouvimos a declaração de que a fé e a ciência são incompatíveis, porque a fé se preocupa com a natureza espiritual do homem enquanto a ciência com a física. Porém, a Bíblia não exige da ciência a abstenção da fé, e da fé a privação da ciência.

Jesus nunca exigiu das pessoas que acreditassem nele negando qualquer evidência natural de que era verdadeiramente o Filho de Deus, o Messias prometido. O que Jesus recusou foi o condicionamento da fé às ciências, por elas serem limitadas à compreensão do homem. Se ele não consegue a total compreensão do universo, quanto mais difícil será entender plenamente a Divindade. E também, porque se a ciência fosse a fonte determinante do conhecimento de Deus, se tornaria maior que o próprio Deus e objeto de devoção. Somente Jesus é a fonte absoluta desse conhecimento (Jo 14:9).

Quando João (Batista) ouviu falar das obras de Cristo, enviou os seus discípulos para perguntar-lhe: “És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro?” (Mt 11:3). Então, Jesus deu a seguinte resposta: “Ide e anunciai a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres está sendo pregado o evangelho” (Mt 11:4-5).

Notemos que Jesus apelou para as evidências naturais daquilo que estavam ouvindo e vendo, quanto a ocorrências consideradas impossíveis de serem alteradas pela ciência, inclusive a morte. Todas elas serviram como provas incontestáveis, de acordo com as profecias (Is 35:1-6, 61:1-3), de que o Operador de tais sinais era o messias e que por ele o reino de Deus havia chegado. Por isso, o anúncio à João carregava a confiança para crer, mesmo impedido, por estar preso, de ouvir com os seus ouvidos e de ver com os seus olhos, de que Jesus era o enviado por Deus para aliviar os “cansados e sobrecarregados” (Mt 11:28) pelo pecado. A fé, nesse sentido, não se opõe à ciência, mas é servida por ela e se encontra em mais elevado nível de excelência.

Os sinais e maravilhas realizados por Jesus diante do povo culminaram em seu sacrifício na cruz e na ressurreição. Esses eventos deveriam ser divulgados em todo o mundo (Mc 16:15-16) para que, ouvindo o Evangelho, cressem em Jesus todos aqueles que foram destinados à salvação (At 13:48, 15:7).

A inigualável e insubstituível prova que possuímos hoje de Jesus e sua missão não é medida pelo grau de prosperidade material, curas ou “revelações”, e sim pelo testemunho da Palavra de Deus, a Bíblia. Esse testemunho necessita ser compartilhado com os nossos familiares, amigos e colegas de profissão, mesmo se recebido com desconfiança, pessimismo, sarcasmo ou incredulidade. Felizes, para sempre, serão todos aqueles que, ouvindo, crerem em Jesus como Redentor e se arrependerem dos seus pecados. Esses serão justificados e receberão gratuitamente de Deus a vida eterna.

Portanto, pregue fielmente o Evangelho, mesmo que seja com simplicidade, na confiança de que o Espírito Santo o assistirá com poder, nessa missão!

***
Fonte: PIPG - Boletim Semanal, Ano XIX - Nº 06
.

Por Burk Parsons


O cristianismo é uma religião confessional. Não se pode separar o cristianismo dos seus antigos credos. Na verdade, todo verdadeiro cristão adere aos antigos credos da Igreja¹, saiba ele ou não. Todos nós temos credos. Sejam eles formais ou informais - sejam escritos ou não escritos - de uma forma ou de outra, todos temos credos pelos quais nossas crenças são expressadas. Muitos cristão possuem credos formais, escritos, aos quais aderem. Outros cristãos professos possuem credos informais, não-escritos e não-ortodoxos, que podem facilmente mudar e constantemente mudam de acordo com os caprichos do indivíduo ou do seu pastor.

Os credos são concisos sumários doutrinários sobre as doutrinas da Escritura, e credos estão subordinados à Escritura como nossa única e infalível regra de fé e prática. Embora de forma alguma creiamos que os credos são infalíveis, cremos que os credos são autoritativos à medida que sumarizam fielmente os ensinos da Escritura. Apesar de não sabermos todos os credos decor, se somos cristãos, nós iremos afirmá-los, confessá-los e ensiná-los aos nossos filhos de todo coração. Pois se rejeitarmos os antigos credos da Igreja, nós estaremos rejeitando o cristianismo; se negarmos uma formulação confessional essencial sobre a pessoa e obra de Cristo, nós estaremos negando a Cristo.

Porém, de vez em quando eu ouço pessoas respondendo apaixonadamente: "Eu não preciso dos antigos credos da Igreja. Meu único credo é Cristo!" Mas assim que faço a pergunta, "que Cristo?", eles são rápidos em dar-me seu credo pessoal sobre a pessoa e obra de Cristo. Frequentemente o credo pessoal destas pessoas é herético, antibíblico e não está de acordo com os antigos credos da Igreja. Então eu tento explicar pacientemente que se eles não crêem no Cristo da Escritura, mas crêem em um cristo feito pela sua própria imaginação, eles se encontrarão entre aqueles a quem Cristo dirá: "Apartem-se de mim, pois nunca conheci vocês". Afinal, se é o Cristo da Bíblia que nos salva, nós devemos confessar o único e verdadeiro Cristo da Bíblia, a fim de possuir verdadeiramente a salvação do Deus da Bíblia.

Sempre que cantamos simples cantigas cristãs para nossos filhos, tais como "Jesus me ama sim, eu sei porque a Bíblia diz pra mim", nós temos formulada uma afirmação confessional sobre Jesus, Seu amor, os objetos do Seu amor, nossa segurança no Seu amor, e a natureza da autoridade bíblica. Esse é o objetivo dos antigos credos que dizem respeito à pessoa e obra de Cristo; ou seja, eles servem para nos ajudar a crer, confessar e proclamar a verdade sobre Cristo a partir da Escritura - da qual Cristo é o autor, cumpridor, defensor e proclamador. Se somos verdadeiros cristãos que colocam sua confiança no Cristo da Bíblia, é impossível não confessarmos as afirmações dos antigos credos da Igreja sobre os ensinos da Bíblia. Além do mais, nós vivemos em dias em que não devemos apenas confessá-los, mas também defendê-los dos violentos ataques dos ensinos heréticos sobre a pessoa e obra de Jesus Cristo.

__________ 
Nota:
1. Caso você não conheça os antigos credos da Igreja, segue a lista dos credos ecumênicos: Credo ApostólicoCredo Niceno; Credo Niceno-Constantinopolitano; Credo de Atanásio e Credo da Calcedônia.

***
Fonte: Ligonier Ministries
Tradução: Thiago McHertt
.

Por Denis Monteiro


Todas as vezes que alguém faz um favor para nós ou devemos alguém, e esse alguém a quem devemos nos abona diante da dívida, nós dizemos: “Deus lhe pague!”. 

Sendo assim, o Catecismo de Heidelberg nos dias 2 – 4 mostra, conforme a Escritura, a corrupção humana de forma bem clara, apontando que diante de Deus a humanidade está em débito com seu Criador após a entrada do pecado no mundo, nos tornando inúteis. Diante do que o Catecismo nos mostra, nós devemos a Deus o qual não nos deve nada. Portanto, quem poderá pagar a nossa dívida diante de Deus? Assim, o Catecismo nos mostra duas coisas: A problemática e a solução. 

A problemática
Pergunta 12: Segundo o justo juízo de Deus merecemos penas temporais e eternas; e não há possibilidades de nos livrarmos de tais penas e nos reconciliarmos com Deus?
Resposta: Deus requer que sua justiça seja cumprida¹; portanto, ou por nós mesmos ou por outra pessoa, importa que se satisfaça integralmente a sua justiça.²
(1) Gn 2:17; Êx 20:5; Êx 23:7; Ez 18:4; Hb 10:30. (2) Mt 5:26; Rm 8:3,4.
Pergunta 13: Podemos, por nós mesmos, oferecer a Deus tal satisfação? 
Resposta: De modo algum; antes acrescentamos mais débitos a cada dia.
Jó 4:18,19; Jó 9:2,3; Jó 15:16; Sl 130:3; Mt 6:12; Mt 16:26; Mt 18:25.
Pergunta 14: Poderia haver alguém, no céu ou na terra, simples criatura, que pudesse pagar nossos débitos? 
Resposta: Não. Primeiro, porque Deus não quer punir outra pessoa pelo pecado do homem.¹ Segundo, porque uma simples criatura seria incapaz de suportar a eterna ira de Deus contra o pecado para salvar outros.²
(1) Gn 3:17; Ez 18:4. (2) Sl 130:3; Na 1:6.

O Catecismo nos mostra que nós ou outra pessoa deve satisfazer ou pagar a dívida que temos diante de Deus. Mas o grande problema é que, primeiro, nem nós, nem nenhuma outra pessoa pode pagar essa dívida diante de Deus, pois se nós tentarmos pagar, na verdade, ela só aumentaria com os nossos pecados diários. Segundo, Deus não iria condenar outra pessoa por causa do nosso pecado porque a alma que pecar, essa morrerá (Ez 18.4). Terceiro, nós não suportaríamos a ira de Deus sobre nós para nos livrar e, assim, não conseguiríamos livrar outras pessoas. Ou seja, se não conseguimos salvar a nós mesmos, como poderemos salvar outros?

E por que não conseguimos pagar a nossa própria dívida? Porque somos pecadores desde o momento de nossa concepção (Sl 51.5; 58.3; Is 48.8), sendo assim, por causa de nossa natureza pecaminosa sem a mediação de Cristo, estamos dia após dia em guerra com Deus, pois Deus, para o pecador não redimido, é seu inimigo numero um. Somos limitados, não sabemos o que vai acontecer daqui a dois minutos, não escolhemos onde nascer e como nascer ou com que cor nascer, não podemos acrescentar um palmo à nossa estatura (Lc 12.25). Então, como nós, sendo limitados, podemos pagar uma dívida com um Deus eterno e santo que está irado? 

A Pergunta e Resposta 15 nos mostra a solução.
Pergunta 15: Então, que Mediador e Redentor devemos buscar?
Resposta: Um que seja verdadeiro¹ homem, mas perfeitamente justo², mais poderoso que todas as demais criaturas, isto é, que seja, ao mesmo tempo, verdadeiro Deus.³
(1) 1Co 15:21. (2) Hb 7:26. (3) Is 7:14; Is 9:6; Jr 23:6; Lc 11:22; Rm 8:3,4.

A única pessoa que pode nos livrar na ira de Deus, é alguém perfeito e justo e mais poderoso do que qualquer criatura, mas ao mesmo tempo verdadeiro Deus. Cristo é o único homem que pôde tomar o nosso lugar e satisfazer a ira de Deus, pois o sangue de animais não tira pecado e nenhum homem pode dar a vida em lugar de outro homem (Hb 10.4; Ez 18.4). Portanto, Cristo, sendo o Cordeiro de Deus e o Leão da Tribo de Judá, Deus fez cair sobre Ele à iniquidade de nós todos (Is 53.6). Portanto, somente Cristo pôde suportar a ira de Deus e salvar os eleitos da condenação eterna. 


Que essa realidade seja motivo de jubilo e gratidão, mas também um ato de humildade perante Deus em Cristo. Motivo de jubilo e gratidão, pois pela morte de Cristo, a carne rasgada do cordeiro (Hb 10.20), temos livre acesso a Deus, fazendo parte do pacto não sendo mais inimigos, mas recebendo a paz entre Deus e nós (Ef 2.18). Mas também deve ser motivo de humildade, pois o Catecismo, conforme a Escritura, declara que nós éramos incapazes de cumprir a Lei de Deus e pagar por nossas próprias faltas. Mas aprouve a Deus enviar Seu único Filho para morrer em nosso lugar. 

Amém!

***
Fonte: Bereianos

domingo, 8 de fevereiro de 2015

.

Por Denis Monteiro


A Tese 62 de Lutero diz: “O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus”. É correto afirmar que a graça de Deus abrange todas as coisas, pois para qualquer coisa existente, se não houvesse a graça de Deus não teria a mínima graça.

A graça e a salvação

A graça de Deus é o cerne do Evangelho o qual existe desde o Antigo Testamento (Gl 3.8). Sendo assim, a salvação sempre foi apregoada pela graça de Deus.

A graça de Deus, segundo alguns, completa aquilo que faltava no pecador. Essa visão é totalmente errônea, pois o Homem, sendo um pecador, não há nada nele que possa ser utilizado se não fora dado pela própria graça de Deus. Como Deus nos diz: Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite” (Is 55.1). Veja que a graça é oferecida aos que não tem dinheiro, e não aos que não tem dinheiro suficiente.

A graça de Deus salvadora é concedida a todos quantos por quem Seu Filho morreu para remir toda a iniquidade, e purificar para si um povo todo seu, zeloso de boas obras (Tt 2.14). E esses mesmos a quem a graça se revela são os mesmos que Deus estava irado, os quais, segundo o apóstolo, não eram justos, não entendiam, não buscavam a Deus, não faziam o bem e nem havia um sequer que o fizesse (Rm 3.10-12). Ou seja, a graça de Deus ninguém merece, mas Deus nos concede pela sua misericórdia, onde que, Cristo satisfez a ira de Deus em nosso lugar. Portanto, só reconheceremos a graça de Deus na salvação quando entendermos realmente quem é a humanidade: A imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice” (Gn 8.21); Eis que eu nasci em iniquidade, e em pecado me concedeu minha mãe” (Sl 51.5); Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós” (Is 53.6).

Sendo assim, podemos ver que:

- A graça de Deus deve ser retratada no contexto de que nós já fomos inimigos de Deus, merecedores do inferno eterno.
- A graça de Deus age sem ver o pecador com mais ou menos merecimento, mas trata a pessoa sem qualquer referência de merecimento e segundo a bondade de Deus infinita.
- A graça de Deus não é meritória. Não fizemos nada para merecê-la. Éramos devedores de Deus, devíamos um valor altíssimo, mas Deus perdoou a nossa dívida.
- Como já vimos, não fizemos nada para que a merecesse. Mas recebemos a graça de Deus para que façamos boas obras. As nossas boas obras são frutos desta graça Divina. Sendo assim, fomos justificados pela graça de Deus e não pelas obras (Rm 3.24).
- A graça não passou a existir com a vinda de Cristo, porque a graça é eterna, como o próprio Paulo diz: não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, e manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus, o qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho” (2Tm 1.9,10).
- O fato da graça de Deus ser não meritória mostra claramente que Deus é soberano, não sendo obrigado a derramar essa graça sobre todos. Pois, se Deus fosse obrigado a derramar a graça sobre toda a humanidade, logo, a graça já não seria graça.
- Por fim, a graça de Deus atua em toda a nossa salvação. Pois fomos eleitos pela graça de Deus (Rm 11.5), a nossa regeneração foi pela graça (Ef 2.5; Tt 3.5-7), a nossa redenção (2Co 8.9; Ef 1.7), nossa justificação (Rm 3.24), de fato, toda a nossa salvação é pela graça de Deus (Ef 2.8).

A graça comum

Alguns teólogos reformados negam a graça comum de Deus, por entenderem que; se Deus age graciosamente (graça providencial) Ele deverá amar todas as pessoas indistintamente. Outros negam o termo graça comum pelo fato da Bíblia não mostrar que Deus dê a sua graça aos ímpios não eleitos. Mas isso é brigar por definição de termo, sendo que, o fim é o mesmo. Nós não podemos negar que Deus dê benefícios para todos os povos, sendo que, há pessoas entre esses povos que não serão salvas, mas são beneficiadas pela graça de Deus. Como vimos acima, graça é uma dadiva de Deus a um pecador que não merece nada de Deus. Sendo assim, todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, e mesmo assim, Deus concede dons e talentos a cada pecador, como esses textos nos mostram:

E Ada deu à luz a Jabal; este foi o pai dos que habitam em tendas e têm gado” (Gn 4.20);

E o nome do seu irmão era Jubal; este foi o pai de todos os que tocam harpa e órgão” (Gn 4.21);

E Zilá também deu à luz a Tubalcaim, mestre de toda a obra de cobre e ferro; e a irmã de Tubalcaim foi Noema” (Gn 4.22);

Em meio ao endurecimento progressivo do pecado – poligamia e a vingança grosseira e injusta – Deus concede dons e talentos quanto a extensão do mandato cultura, desde agricultura animal (Gn 4.20) às artes (Gn 4.21) e às ciências (Gn 4.22). Como Deus concede tais graças à uma descendência ímpia? Não sei, mas isso se chama graça comum. Da mesma forma como mostra o nosso Senhor Jesus que Deus “faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos” (Mt 5.45).

Sendo assim, não podemos confundir graça comum com a graça salvadora mostrada acima, como nos mostra Michael Horton:
A graça comum beneficia a humanidade caída em termos da presente época, mas não traz a era futura, ou seja, não faz acontecer o reino de Deus. Não salva os malfeitores do juízo vindouro, nem redime a arte, a cultura, o estado ou as famílias. Diferente da graça salvadora. A graça comum se restringe ao mundo atual até o dia do juízo e não impedirá a mão de Deus de agir com justiça naquele temível dia.[1]

Quanto a nós cristãos, não devemos menosprezar a graça comum, pois além de recebermos a graça salvadora nós temos a graça comum em nossas vidas antes mesmo de aceitarmos a fé. Mas a questão é que todos os nossos atos, frutos desta graça comum, não devem ser para o nosso prazer último. Mas que os nossos atos devem ser feitos visando à glória de Deus, mostrando em nossos feitos uma vida redimida pelo Santo Espirito de Deus.

Certa feita um sapateiro perguntou a Lutero “de que forma poderia servir a Deus da melhor maneira”, Lutero respondeu: “Faça um bom sapato e venda por um preço justo”. A graça comum que recebemos antes de nossa conversão, agora, depois de converso, deve ser mostrada em dignidade e em conformidade com o Evangelho.

Se vestindo da graça

Porque a graça salvadora de Deus se há manifestado a todos os homens. Ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente.” - Tito 2.11,12

Vimos sobre a graça de Deus na salvação, como ela atua na salvação do pecador e vimos sobre a graça de Deus como providência geral na humanidade. Agora, tentarei mostrar a graça de Deus na vida dos eleitos. O texto acima nos mostra que a graça de Deus nos ensina a dizer “não” para a impiedade e para as paixões mundanas, para poder viver no século presente uma vida piedosa. No entanto, quero focar em cinco características que são relacionados à graça: a gratidão, o contentamento, a humildade, a paciência e o perdão.[2]

A) Gratidão

Entrai pelas portas dele com gratidão, e em seus átrios com louvor; louvai-o, e bendizei o seu nome. Porque o Senhor é bom, e eterna a sua misericórdia; e a sua verdade dura de geração em geração.” - Salmo 100.4,5

A primeira característica que deve fluir por causa da graça de Deus é a gratidão a Ele. Tudo o que somos e tudo o que fazemos são frutos da graça de Deus em nós, por isso devemos ser gratos a Deus. Ser grato a Deus é reconhecer o Seu cuidado em nós, tanto a sua bondade quanto a sua fidelidade. Não ser grato a Deus reflete a nossa imoralidade, como o próprio Paulo disse: Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu” (Rm 1.21). Glorificar a Deus é reconhecer a majestade e dignidade de Sua pessoa. Dar graças a Deus é reconhecer a generosidade de Suas mãos em suprir-nos e cuidar de nós. Se a nossa vida não é de gratidão a Deus, nós, possivelmente, estamos servindo a outro deus que não é o Deus Todo Poderoso.

B) Contentamento

De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento.” - 1 Timóteo 6.6

O contentamento é uma forma de mostrar que o coração está centrado em Deus. Pois, quando o pecador redimido entende realmente que foi alcançado pela graça de Deus, sem a qual não poderia nem viver neste mundo feito por Ele, tal pecador se contenta com aquilo que Deus lhe deu. Agora, quando estamos descontentes com algo, isso expressa a nossa ingratidão com Deus, passando a viver pelas obras e achando que merecemos mais do que recebemos. Um espírito pobre prestigia as riquezas do mundo estando descontente. Mas uma alma viva pela graça de Deus flui o contentamento, reconhecendo que não recebe o que realmente merece, mas diariamente recebe aquilo que não merecia.

C) Humildade

Porque todo o que se exalta, será humilhado; mas o que se humilha, será exaltado.” - Lucas 18.14

Humildade não significa que temos que negar o que há de bom em nós, mas sim, entender que o que há de bom em nós só existe porque isso é devido à graça de Deus. A humildade não é somente recomendada por Deus (Is 57.15; 66.1,2), como também, a humildade foi exibida plenamente em Seu Único Filho: “E, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente ate a morte, e morte de cruz” (Fp 2.7,8). Sendo assim, quando olhamos para a graça de Deus temos que ter em mente o que disse o apóstolo: Porque, quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido?” (1Co 4.7). Toda habilidade e toda vantagem que temos vem do próprio Deus e foram nos dada para servimos a Deus, e não nos gloriarmos naquilo que não merecíamos.

D) Paciência

Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de… longanimidade.  - Colossenses 3.12

A paciência na Bíblia é muitas vezes retratada como longanimidade (tardio em irar-se). Todas as vezes que não somos pacientes nós estamos mostrando que não merecíamos a longanimidade de Deus. Pois, Deus sendo eternamente justo, tinha todas as razões para que nos lançássemos ao inferno. Portanto, para um crente que reconheceu a graça de Deus em sua vida ele buscará a todo momento essa paciência com seu próximo, pois a paciência é acompanhada da unidade, carinho e amor (Ef 4.1-3).

E) Perdão

… perdoando-vos uns aos outros.” - Colossenses 3.13

O perdão está acompanhado da paciência, porque se nós formos pacientes, saberemos perdoar. Porque, este pecador redimido entende que Deus foi longânimo e perdoador. Pois, éramos fortes candidatos ao inferno, mas Deus nos perdoou de toda iniquidade e continua nos perdoando. Logo, a oração do Pai Nosso retrata bem o perdão de Deus em nossas vidas quando diz: E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores” (Mt 6.12). Se nós entendemos de fato a graça de Deus em nossas vidas, nós perdoaremos o nosso próximo que erra da mesma forma que nós.

Conclusão

A graça de Deus está em nossas vidas desde o momento em que Deus permitiu que mais um pecador nascesse nesta criação feita por Deus. A nossa concepção foi por causa da graça de Deus, todo o trabalho que o médico teve em conduzir o parto foi pela graça de Deus que nos atingiu. A nossa vida familiar, no trabalho e/ou na igreja é por causa da graça de Deus. Se não fosse a graça de Deus não teria a mínima graça. A compreensão desta graça que Deus concede, nos ajuda a entender o tamanho deste Deus e como Ele é bom, pois Deus age em todas as coisas para a Sua própria glória, até por meio de algumas coisas que não entendemos, Deus age graciosamente.

_________
Notas:
[1] HORTON, Michael. Bom demais para ser verdade: encontrando esperança num mundo de ilusão. Tradução: Elizabeth Gomes. São José dos Campos [SP]: Editora Fiel, 2013, p. 109.
[2] Essa divisão foi proposta pelo escritor Jerry Bridges em seu livro Graça que transforma. Tradução: Elizabeth Stowell Charles Gomes [SP]: Cultura Cristã, 2007, p.194

***
Fonte: Bereianos