Isvonaldo sou Protestante

Isvonaldo sou Protestante

sábado, 29 de outubro de 2011

Sexo cristão, por C. S. Lewis (2)



Por C. S. Lewis
Para sermos curados, temos de querer ser curados. Todo aquele que pede socorro será atendido; porém, para o homem moderno, até mesmo esse desejo sincero é difícil de ter. E fácil pensar que queremos algo quando na verdade não o queremos. Um cristão famoso, de tempos antigos, disse que, quando era jovem, implorava constantemente pela castidade; anos depois, se deu conta de que, quando seus lábios pronunciavam “ó Senhor, fazei-me casto”, seu cotação acrescentava secretamente as palavras: “Mas, por favor, que não seja agora.” Isso também pode acontecer nas preces em que pedimos outras virtudes; mas há três motivos que tornam especialmente difícil desejar — quanto mais alcançar – a perfeita castidade.
Em primeiro lugar, nossa natureza pervertida, os demônios que nos tentam e a propaganda a favor da luxúria associam-se para nos fazer sentir que os desejos aos quais resistimos são tão “naturais”, “saudáveis” e razoáveis que essa resistência é quase uma perversidade e uma anomalia. Cartaz após cartaz, filme após filme, romance após romance associam a idéia da libertinagem sexual com as idéias de saúde, normalidade, juventude, franqueza e bom humor. Essa associação é uma mentira. Como toda mentira poderosa, é baseada numa verdade – a verdade reconhecida acima de que o sexo (à parte os excessos e as obsessões que cresceram ao seu redor) é em si “normal”, “saudável” etc. A mentira consiste em sugerir que qualquer ato sexual que você se sinta tentado a desempenhar a qualquer momento seja também saudável e normal. Isso é estapafúrdio sob qualquer ponto de vista concebível, mesmo sem levar em conta o cristianismo. A submissão a todos os nossos desejos obviamente leva à impotência, à doença, à inveja, à mentira, à dissimulação, a tudo, enfim, que é contrário à saúde, ao bom humor e à franqueza. Para qualquer tipo de felicidade, mesmo neste mundo, é necessário comedimento. Logo, a afirmação de que qualquer desejo é saudável e razoável só porque é forte não significa coisa alguma. Todo homem são e civilizado deve ter um conjunto de princípios pelos quais rejeita alguns desejos e admite outros. Um homem se baseia em princípios cristãos, outro se baseia em princípios de higiene, e outro, ainda, em princípios sociológicos. O verdadeiro conflito não é o do cristianismo contra a “natureza”, mas dos princípios cristãos contra outros princípios de controle da “natureza”. A “natureza” (no sentido de um desejo natural) terá de ser controlada de um jeito ou de outro, a não ser que queiramos arruinar nossa vida. E bem verdade que os princípios cristãos são mais rígidos que os outros; no entanto, acreditamos que, para obedecer-lhes, você poderá contar com uma ajuda que não terá para obedecer aos outros.
Em segundo lugar, muitas pessoas se sentem desencorajadas de tentar seriamente seguir a castidade cristã porque a consideram impossível (mesmo antes de tentar). (…) Podemos ter certeza de que a castidade perfeita — como a caridade perfeita — não será alcançada pelo mero esforço humano. Você tem de pedir a ajuda de Deus. Mesmo depois de pedir, poderá ter a impressão de que a ajuda não vem, ou vem em dose menor que a necessária. Não se preocupe. Depois de cada fracasso, levante-se e tente de novo. Muitas vezes, a primeira ajuda de Deus não é a própria virtude, mas a força para tentar de novo. Por mais importante que seja a castidade (ou a coragem, a veracidade ou qualquer outra virtude), esse processo de treinamento dos hábitos da alma é ainda mais valioso. Ele cura nossas ilusões a respeito de nós mesmos e nos ensina a confiar em Deus. Aprendemos, por um lado, que não podemos confiar em nós mesmos nem em nossos melhores momentos; e, por outro, que não devemos nos desesperar nem mesmo nos piores, pois nossos fracassos são perdoados. A única atitude fatal é se dar por satisfeito com qualquer coisa que não a perfeição.
Em terceiro lugar, as pessoas muitas vezes não entendem o que a psicologia quer dizer com “repressão”. Ela nos ensinou que o sexo “reprimido” é perigoso. Nesse caso, porém, “reprimido” é um termo técnico: não significa “suprimido” no sentido de “negado” ou “proibido”. Um desejo ou pensamento reprimido é o que foi jogado para o fundo do subconsciente (em geral na infância) e só pode surgir na mente de forma disfarçada ou irreconhecível. Ao paciente, a sexualidade reprimida não parece nem mesmo ter relação com a sexualidade. Quando um adolescente ou um adulto se empenha em resistir a um desejo consciente, não está lidando com a repressão nem corre o risco de a estar criando. Pelo contrário, os que tentam seriamente ser castos têm mais consciência de sua sexualidade e logo passam a conhecê-la melhor que qualquer outra pessoa. Acabam conhecendo seus desejos como Wellington conhecia Napoleão ou Sherlock Holmes conhecia Moriarty; como um apanhador de ratos conhece ratos ou como um encanador conhece um cano com vazamento. A virtude – mesmo o esforço para alcançá-la — traz a luz; a libertinagem traz apenas brumas.
Para encerrar, apesar de eu ter falado bastante a respeito de sexo, quero deixar tão claro quanto possível que o centro da moralidade cristã não está aí. Se alguém pensa que os cristãos consideram a falta de castidade o vício supremo, essa pessoa está redondamente enganada. Os pecados da carne são maus, mas, dos pecados, são os menos graves. Todos os prazeres mais terríveis são de natureza puramente espiritual: o prazer de provar que o próximo está errado, de tiranizar, de tratar os outros com desdém e superioridade, de estragar o prazer, de difamar. São os prazeres do poder e do ódio. Isso porque existem duas coisas dentro de mim que competem com o ser humano em que devo tentar me tornar. São elas o ser animal e o ser diabólico. O diabólico é o pior dos dois. E por isso que um moralista frio e pretensamente virtuoso que vai regularmente à igreja pode estar bem mais perto do inferno que uma prostituta. É claro, porém, que é melhor não ser nenhum dos dois.
Extraído do livro Cristianismo Puro e Simples (Editora Martins Fontes)
Fonte e créditos  
Do blog Conversa Pornô. Divulgação: Pulpito Cristão

As Mulheres na Reforma Protestante



Sempre que se fala em Reforma Protestante, pensa-se de imediato em homens como Lutero, Calvino, Knox, Wycliffe, Zwínglio e tantos outros. Errado? Não, de maneira nenhuma! Porém, a história também nos fornece que não somente homens contribuíram para o “estouro” da Reforma. A mulheres também tiveram seu importante papel na causa reformista.
O site Eleitos de Deus publicou ontem uma pequena história de duas mulheres que tiveram participação notável na Reforma. Republico aqui um resumo de suas histórias. Estou falando da belga Marie Dentière e da alemã Katharina von Bora.
Marie Dentière
Marie Dentière (Tournai, 1495 – Genebra, 1561), também conhecida como Marie d’Ennetieres, foi uma teóloga e reformadora protestante belga. Teve um papel ativo na reforma religiosa e política de Genebra, especialmente no fechamento de conventos e pregando junto a João Calvino e Guilheme Farel. Seu segundo marido, Antônio Froment, também foi um ativo reformador. Além disso, seus trabalhos em favor da Reforma e seus escritos são considerados uma defesa da perspectiva feminina em um mundo que passava por rápidas e drásticas transformações em pouco tempo. É de sua autoria uma das frases mais importantes da época: “Passei muito tempo na escuridão da hipocrisia. Somente Deus foi capaz de fazer-me enxergar minha condição e conduzir-me à luz verdadeira”. Seu segundo marido, Antoine Froment, também foi um ativo reformador.
Em 1539, Dentiére escreveu uma carta aberta a Margarita de Navarra, irmã do Rei da França, Francisco I, intitulada Espistre tres utile (O título completo em português é “Epístola muito útil, escrita y composta por uma mulher cristã de Tournay, enviada ao Reino de Navarra, irmã do Rei da França, contra os turcos, judeus, infiéis, falsos cristãos, anabatistas e luteranos”). Na carta, ela incitava a expulsão do clero católico da França e criticava a estupidez dos protestantes que obrigaram a Calvino e Farel a abandonar Genebra. A carta foi rapidamente proibida por seu teor abertamente subversivo.
Apesar da qualidade de seus escritos teológicos, Marie Dentière sofreu perseguição e incompreensão tanto por parte das autoridades católicas como pelos próprios reformadores genebrinos, que impediram a publicação de qualquer texto escrito por uma mulher na cidade durante o resto do século XVI.
Em 3 de novembro de 2002 seu nome foi gravado no Monumento Internacional da Reforma, em Genebra, por sua contribuição à história e à teologia da Reforma, tornando-se a primeira mulher a receber tal reconhecimento.
Leia mais sobre sua vida e veja a galeria de imagens dela neste link.
Katharina von Bora
Catarina (Katharina) von Bora (Lippendorf, 29 de janeiro de 1499 – † Torgau, 20 de dezembro de 1552) foi uma freira católica cisterciense alemã. Em 13 de Junho de 1525, casou-se com Martinho Lutero, líder da Reforma Protestante.
Catarina abriu as portas da sua casa pra que monges, freiras, padres que escancaravam seus corações pra verdade de Deus e se tornavam adeptos da Reforma se refugiassem, mesmo sabendo que estavam entrando num tempo de perseguição e isso pudesse resultar numa invasão ao seu lar. Existiram vezes, que 25 pessoas moravam em sua casa, sem contar ela, Lutero, as crianças e os 11 órfão de quem cuidavam!
Lutero nunca se negava a ajudar um necessitado. Sempre oferecia dinheiro a quem precisava e logo logo, acabou com as lindas porcelanas que Catarina ganhou de presente de casamento, vendendo para conseguir dinheiro e abençoar aqueles que lutavam pela causa da graça de Cristo!
Katy cuidou de Hans Lutero, seu primeiro filho, ao mesmo tempo em que seu esposo passava por uma terrível depressão. Ela se sentava ao seu lado e lia a Bíblia pra ele edificando seu coração. Conciliou as tarefas da casa, de hospedagem, mãe, esposa com a árdua tarefa de ajudar Lutero na tradução das escrituras para o alemão. Ouvia os desabafos de Martinho e sabia que cada vez que ele saia para pregar podia não o ver voltar, pois quanto mais pregava, mais inimigos Lutero ganhava. Expandir o Reino e as verdades bíblicas significava para Catarina poder ficar viúva. Mas ela sempre o encorajava: “Deus cuidará de nós. Não tema! Pregue!”.
Ela realmente é admirável. Sua postura permitia Lutero pregar livremente e arriscar sua vida pela Verdade!
“Catarina não escreveu nenhum livro nem pregou nenhum sermão, mas sua inestimável ajuda possibilitou que o marido fizesse isso. Ela foi um grande apoio pra ele.” Como Lutero mesmo disse a um amigo: “Minha querida Katy me mantém jovem e em boa forma também (risos). Sem ela eu ficaria totalmente perdido. Ela aceita bem minhas viagens e, quando volto, está sempre me esperando. Cuida de mim nas depressões. Suporta meus acessos de cólera. Ela me ajuda em meu trabalho e, acima de tudo ama a Jesus. Depois de Jesus, ela é o melhor presente que Deus em deu em toda a vida… Se um dia escreverem a história da Reforma da Igreja espero que o nome dela apareça junto ao meu e oro por isso”.
Tudo que Catarina Lutero falou ao ouvir isso foi: “Tudo que tenho sido é esposa e mãe e acho que uma das mais felizes de toda a Alemanha!”. Lutero chamava sua esposa de “estrela da manhã de Wittinberg”. Katie viveu por mais seis anos após a morte do esposo em 1546.
Fonte: todos os créditos para 
Do blog Eleitos de Deus, via Bereianos. Divulgação: Pulpito Cristão

Comemorando a Reforma



Há 489 [Nota do Blog dos Eleitos: em 2011 comemoramos 494 anos] anos atrás um padre colocava um cartaz, contendo 95 teses, na porta da Catedral de Wittenberg. No dia 31 de Outubro, Martinho Lutero resolveu expor publicamente o que ele descobrira acerca da salvação nos seus estudos da Escritura Sagrada.

Eventos antecedentes à Reforma

A Reforma iniciou num ambiente favorecido pela crise que a Europa sofria durante a Idade Média. Seis eventos podem esclarecer a origem deste movimento:

1. A origem e desenvolvimento da burguesia. Durante a Idade Média uma nova classe social surgiu no sistema feudal. Uma "classe média" interpôs-se entre os senhores feudais e os seus miseráveis vassalos. Artesãos enriqueciam, e começaram a enviar os seus filhos para os monastérios, não com o intuito de tornarem-se monges, mas para aprenderem o uso das letras, para adquirir a cultura necessária para aplicá-la nas transações comerciais emergentes.

2. A origem das universidades. Os monges eram os detentores da cultura, por isso, criaram escolas anexas aos seus monastérios. Os senhores feudais e os burgueses com recurso financeiro enviavam os seus filhos para serem educados por eles. A partir do século XI a Europa passa a ter seis centros culturais nas cidades de Salerno, Bolonha, Salamanca, Coimbra, Orfoxd, e Paris. Este movimento educacional conhecido como Escolasticismo limitava-se ao estudo de quatro áreas especiíficas como a medicina, direito, artes e a teologia, que era o centro unificador destes cursos recebendo o título de rainha das ciências.

3. O enfraquecimento do poder político da Igreja Católica Romana. O evento conhecido como Cativeiro Babilônico, em que o Papa Bonifácio VIII, ficou prisioneiro do rei francês Felipe, causou uma mudança no eixo do controle da Europa medieval. O Papa que então entronizava, ou efetiva maldições sobre reis e reinos, tornava-se detento de sua própria estratégia de centralizar o poder. Em reação, o clero romano propõe anular o seu papado, sob domínio francês, e anunciar um substituto; então, surgem simultaneamente três papas na Europa: Urbano VI, em Roma, Bento XIII, em Avinhão e Clemente VIII, em Anagni. Esta controvérsia ficou conhecida como o Grande Cisma (1378-1423).

4. O grande número de mortes por causa da Peste [bubônica], em 1347. Com a desestruturada migração para as cidades, a falta de recursos básicos em higiene e moradia, bem como a proliferação de animais peçonhentos, propiciou para um ambiente em que uma pandemia como a peste bubônica se alastrasse de uma forma nunca vista antes na Europa medieval. A religião não forneceu respostas, nem garantias para a presente vida. As pessoas procuravam assegurar a sua vida eterna através das exigências da Igreja Romana. Este ambiente religioso gerou um sentimento apocaliptíco na Europa, de modo que a Igreja reconquistou o controle sobre a população européia.

5. A crise moral e doutrinária da Igreja Católica. Apesar dos conflitos internos e externos a Igreja tentava centralizar o poder em Roma, convergindo a atenção da Cristandade na construção da suntuosa Basílica de São Pedro. A simonia tornou-se a prática dominante entre os arrecadores de dinheiro para tamanho empreendimento arquitetônico. Vendia-se de tudo o que era identificado como "sacro", desde unhas, ossos, roupas, objetos de santos, dos apóstolos, e do próprio Cristo. Mas, a indulgência era o produto mais procurado para aquisição, pois, segundo o ensino católico, garantia o perdão dos pecados passados e futuros, bem como o alívio das almas presentes no purgatório. A imoralidade havia se alastrado em todas as áreas da Igreja e da sociedade.

6. O desenvolvimento do movimento Humanista nas universidades. Apesar da maioria da população ser controlada pela Igreja Romana, um grupo pensante questionava as incoerências doutrinárias e morais ensinadas pela Igreja Romana. O espírito pesquisador levou os humanistas a procurarem esclarecimento, não apenas nas respostas prontas da tradição católica, mas a retornarem ad fontes. O estudo dos textos clássicos impulsionaram estes pesquisadores a redescobrirem os antigos filósofos, os Pais da Igreja, mas principalmente, o estudo das Escrituras a partir dos originais hebraico e grego. Assim, descobriram que algumas das doutrinas centrais da fé católica derivaram a sua origem de uma má interpretação e tradução da Vulgata Latina, e de uma tradição distorcida.

O início da Reforma

Dentro deste contexto ocorre uma mudança na vida de Martinho Lutero. A conversão de Lutero aconteceu entre 1516-17, sobre a qual ele descreveu o seguinte: “embora eu vivesse irrepreensível como um monge, percebi que era um pecador diante de Deus, com uma consciência extremamente perturbada. Não conseguia crer que Ele estava satisfeito com a minha dedicação. Eu não o amava; sim, eu odiava o Deus justo que punia pecadores, e secretamente, se não de maneira blasfematória, certamente murmurando, estava com ódio de Deus... Finalmente, pela misericórdia de Deus, meditando dia e noite, dei ouvidos ao contexto das palavras: ‘A justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito, 'O justo viverá por fé'’ (Rm 1:17). Então, comecei a compreender que a justiça de Deus é aquela mediante a qual o justo vive por uma dádiva de Deus, ou seja, pela fé. E, é este o significado: a justiça de Deus é revelada pelo evangelho, a saber, a justiça passiva com a qual o Deus misericordioso nos justifica pela fé, segundo está escrito: ‘O justo viverá por fé’. Aqui, senti como se renascesse totalmente e entrasse no paraíso pelos portões abertos" (Preface to Writings on Latim, Luther's Works, vol. 34, pp. 336-37).

Houve muita controvérsia dentro da Igreja, por causa dos escritos de Martinho Lutero, porque muitos desejavam uma reforma moral, educacional, social, mas principalmente teológica. Com a excomunhão de Lutero, em 15 de Junho de 1520, ficou consumado a divisão entre reformadores e católicos. Com o reformador alemão outros adotaram o programa de reformar a Igreja e a sociedade, usando o princípio da sola Scriptura [somente a Escritura é fonte e autoridade final], como Ulrich Zuínglio, Felipe Melanchton, Martin Bucer e João Calvino. A Reforma expandiu-se da Alemanha e Suiça para todo o continente europeu.

Breve cronologia biográfica de Lutero
1483 - Nascimento de Lutero em Eisleben
1490 - Foi para a escola de Mansfeld
1497 - Mudou-se para a escola de Magdeburg
1498 - Mudou-se para a escola de São Jorge em Eisenach
1501 - Iniciou na Universidade de Erfurt
1505 - Tornou-se noviço agostiniano
1507 - É ordenado monge
1507 - Enviado para Universidade de Wittemberg por Johann von Staupitz
1510 - Ida à Roma
31/10/1517 - Escreve as 95 teses
1519 - Debate de Leipzig com Johann Eck
1520 - Recebe a bula papal Exsurge Domini decretando a sua exclusão
1521 - Dieta de Worms
1522 - Controvérsia com "os entusiastas" [profetas de Zwickau]
1524-1525 - Ocorre a revolta dos camponeses
1525 - Lutero rompe com os Humanistas [Erasmo de Rotterdam]
1529 - Debate com Zwinglio sobre a Ceia do Senhor
1530 - Escrita a Confissão de Augusburg por Felipe Melanchthon
1531 - União Esmalcada - defesa contra os princípes católicos
18/02/1546 - Lutero falece em Eisleben

Rev. Ewerton B. Tokashiki
Extraído de: [ Blog dos Eleitos ] 

O batismo do Espírito Santo

Ótimo artigo sobre o Batismo do Espírito Santo, de Antônio Almeida, publicado originalmente no Projeto Os Puritanos. O texto é longo, mas vale a pena ler até o final. Bom estudo!Ruy________________ .



Por Antônio Almeida
A doutrina do batismo do Espírito Santo, para ser devidamente compreendida, deve ser estudada, como as demais doutrinas bíblicas, dando-se atenção à sua evolução histórica, às circunstâncias que determinaram os acontecimentos relacionados com ela, e aos termos pelos quais a própria Bíblia a define e aplica.

Vamos dividir o assunto em três partes.

1º O BATISMO DO ESPÍRITO SANTO PROFETIZADO E PROMETIDO.

A primeira alusão ao batismo do Espírito Santo é feita por João Batista em forma profética, e se acha nos quatro Evangelhos.

Mateus 3: 11. “Eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu... ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo”.

Marcos 1: 8. “Eu, em verdade, vos batizo com água; ele, porem, vos batizará com o Espírito Santo”.

Lucas 3: 16. “Eu, na verdade, batizo-vos com água, mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu ... esse vos batizará com o Espírito Santo e com fogo”.

João 1: 33-34. “Eu não o conhecia, mas o que me mandou a batizar com água, esse me disse: Sobre aquele que vires descer o Espírito, e sobre ele repousar, esse é o que batiza com o Espírito Santo. E eu vi, e tenho testificado que é o Filho de Deus”.

João foi e ficou sendo chamado Batista porque foi o profeta do batismo. Sua pregação foi acompanhada e confirmada pelo simbólico batismo com água em sinal de arrependimento e em preparação para o recebimento do Messias; foi ele quem aplicou esse mesmo batismo simbólico ao próprio Jesus quando este quis identificar-se com os pecadores afim de poder cumprir por eles toda a justiça, e foi ele quem profetizou que Jesus administraria um batismo superior ao seu, batismo não simbólico, mas real, o batismo do Espírito Santo. É a primeira noção que aparece dessa doutrina.

Quando mais tarde Jesus ensinava aos discípulos o valor da oração e a boa vontade do Pai em lhes conceder todas as coisas boas que lhe pedissem, proferiu esta promessa, a que ainda mais tarde alude como “a promessa do Pai que de mim ouvistes”: “E eu vos digo a vós: Pedi, e dar-se-vos-á: buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á... Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?”. Lucas 11: 9-13. Aqui não se emprega a palavra batismo. Parece, porém, razoável crer que Jesus se referisse ao batismo do Espírito Santo juntamente com todos os outros aspectos de sua vinda especial como se realizou no Pentecostes, visto que o Espírito Santo como agente do novo nascimento já tinha neles exercido sua renovadora influência. Foi a esses discípulos que criam nele, a quem, por conseguinte, fora dado o poder de se tornarem filhos de Deus (João 1: 12-13), e a quem Jesus ensinara a dirigir-se a Deus como filhos a um Pai, que ele fez essa valiosíssima promessa. Debalde, porém, procuraremos encontrar esses discípulos a pedir ao Pai celestial essa dádiva tão preciosa, e não menos debalde buscaremos vê-la cumprida durante o ministério terrestre do Senhor.

Assim chegamos a uma terceira etapa nas predições concernentes ao batismo do Espírito Santo. Não o tendo os discípulos pedido nem recebido, Jesus mesmo agora, na véspera de sua morte, promete-lhes: “Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador para que fique convosco para sempre, o Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós” (João 14: 16-17).

Notemos as verdades mais salientes deste texto antes de passarmos adiante. Primeiro que tudo, é notável a substituição da recomendação — pedi — da passagem anteriormente citada, pela declaração: “Eu rogarei”. Já não são mais os discípulos quem tem de pedir; porque Jesus mesmo se encarrega de rogar e obter. Em segundo lugar, contrasta-se o mundo, que não pode receber o Espírito Santo, com os crentes — “vós” — que o conhecem e em quem ele há de estar. Este contraste é sempre mantido no Novo Testamento, e nunca um contraste entre crentes que tenham recebido o Espírito Santo e crentes que o não tenham recebido. Segundo Jesus, ao passo que nenhum descrente pode receber o seu Espírito, nenhum crente pode deixar de o receber e de o ter permanentemente residindo em seu coração. Vemos, em terceiro lugar, as duas atitudes do Espírito Santo em relação aos discípulos, antes e depois de sua prometida vinda como Paráclito. Antes ele estava com eles, pois presidia a todo o ministério de Jesus; mas depois estaria neles, residindo em seus corpos, que se tornariam em santuários de Deus.

Avancemos para outro marco. Depois de ressuscitado, Jesus se manifestou aos discípulos por espaço de quarenta dias. “E, estando com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que (disse ele) de mim ouvistes. Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias” (Atos 1: 4-5). Esta ordem de Jesus confirma a promessa anterior, de que ele mesmo é que ia rogar ao Pai que lhes enviasse o Paráclito; define a natureza dessa vinda como sendo o batismo do Espírito Santo profetizado por João e simbolizado no seu batismo d’água; e determina o lugar e o tempo em que esse batismo se havia de realizar, isto é, em Jerusalém e dentro de poucos dias.

Lançando agora um olhar retrospectivo, vemos que a profecia de João Batista deu lugar a uma promessa do Pai à disposição dos discípulos que orassem; esta cedeu lugar a uma incumbência de Jesus, que promete pedir ele mesmo e obter do Pai a vinda do Paráclito divino; e, por fim, o mesmo Jesus instrui aos discípulos quanto ao tempo e ao lugar em que iam receber essa benção do céu. Suponhamos que algum desses discípulos, em vez de esperar em Jerusalém, se retirasse para a Galiléia e reunisse outros crentes, alegando a promessa de Lucas 11: 13, e se pusessem a orar e a pedir com instâncias, com rogos, com lágrimas, com jejuns, com êxtases, com todas as desordens nervosas a que está sujeita a sensibilidade humana quando dominada por uma idéia fixa. Que diríamos desse discípulo? Que era um insensato, e que estava se desencaminhando a si mesmo e aos outros da única maneira legítima de receber a bênção.

Felizmente os discípulos do Senhor souberam seguir a natural evolução da doutrina, passando de Lucas 11: 13 para João 14: 16-17 e daí para Atos 1: 4-5. O cumprimento da promessa que tinha dependido de eles pedirem o Espírito Santo, agora não mais dependia deles, e sim de Jesus pedir e o enviar da parte do Pai, e já agora estava tudo tão certo e definido que eles sabiam quando e onde devia se realizar a promessa.

É como a vinda de Jesus ao mundo. A princípio ele foi prometido como a “semente da mulher”, de maneira que qualquer mulher, em qualquer tempo e em qualquer lugar do mundo podia esperar ser a mãe do Redentor. Mais tarde a promessa é restrita à “semente de Abraão”, depois ele tem de vir da descendência de Isaque, depois é da linhagem de Jacó e não de Esaú, é da tribo de Judá, da casa de Davi, tem de nascer de uma virgem, em Belém de Judá, quatrocentos e tantos anos depois do cativeiro babilônico e nos dias em que ainda existisse o segundo templo de Jerusalém. Quando chegou o tempo determinado, tudo se cumpriu como estava predito e já nenhuma mulher neste mundo tem base para esperar dar à luz o Filho de Deus, porque isso já se efetuou como e quando estava predito que se efetuaria. De igual modo, a vinda do Espírito Santo para habitar na terra, no coração de cada crente, foi um acontecimento definido e único, marcado para um tempo e um lugar e realizado quando e onde estava predito que se realizaria, e isto naquele memorável dia de Pentecostes em Jerusalém; e ninguém tem mais base alguma para pedir a Deus e esperar um novo Pentecostes. A denominação de Pentecostal dada a qualquer movimento de tal natureza é falsa e antibíblica.

2º O BATISMO DO ESPIRITO SANTO DEFINIDO

No dia de Pentecostes se realizou a vinda do Espírito Santo. Essa vinda foi a mudança temporária de sua residência do céu para a terra, onde ele veio habitar em cada coração crente, e significou, como já vimos, um selo, um penhor, uma unção e um batismo, além do fato declarado de haver ele naquele dia enchido a todos quantos se achavam sentados na casa. Daí se segue que procedem precipitadamente os que concluem, sem mais estudos do assunto, que todos os fenômenos daquele dia são inseparáveis do batismo do Espírito Santo. O que nos convém fazer é indagar nas Escrituras, deixando que elas mesmas nos digam em que consiste o batismo do Espírito Santo, assim como já nos mostraram em que consistem o selo, o penhor e a unção.

(1) A definição.

O apóstolo Paulo nos diz com suficiente clareza em que consiste o batismo do Espírito Santo, tornando o assunto ainda mais claro por meio de uma ilustração. Abramos a Primeira Epístola aos Coríntios no capítulo 12 e leiamos os vs. 12 e 13. “Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também. Pois todos nós fomos batizados em[1] um Espírito, formando um corpo”.

De que se ocupa o apóstolo nestes dois versículos? Da unidade de Cristo com seu corpo místico constituído de todos nós que nele cremos.

Como ilustra ele esse ponto? Comparando-o com um corpo humano, em que há muitos membros ou muitas partes, mas todos constituem um só corpo.

Como é que ele explica a formação do corpo? “Todos nós fomos batizados com um Espírito, formando um corpo”.

Daí se conclui, necessariamente, o seguinte:

a) Visto que Paulo não diz que precisamos ser batizados, nem que devemos ser batizados, nem que o podemos ser, e sim que fomos batizados, claro está que esse batismo com o Espírito é um fato já realizado em relação ao crente, e não alguma coisa que ele deva procurar ainda conseguir. A confusão que fazem os propagandistas de um novo Pentecostes no uso dos tempos dos verbos é uma indicação segura do erro em que laboram. Quando os apóstolos de Cristo escreviam aos crentes sobre este assunto, diziam que eles já tinham sido batizados com o Espírito Santo, ao passo que os apóstolos do erro vêm admoestando os crentes a que orem pedindo esse batismo.

b) Visto que Paulo diz que todos nós fomos batizados com o Espírito Santo, claro está que não havia então nem há hoje crentes que estejam sem ser batizados com esse Espírito. E observe-se cuidadosamente a quem é que o apóstolo escreve e de quem é que fala. Não é aos fiéis tessalonicenses, nem aos bondosos filipenses, nem aos espirituais efésios, mas aos carnais coríntios (3: 1). Quando ele diz: todos nós fomos batizados, inclui alguns que eram culpados de vil imoralidade, de litígios contra irmãos perante os tribunais pagãos e de comer viandas sacrificadas aos ídolos. Sem excluir estes, o apóstolo diz: “Todos nós fomos batizados com um Espírito, formando um corpo” (w. Grahasn. Soroggie). Por conseguinte, o batismo do Espírito Santo não indica haver o crente atingido a um alto grau de espiritualidade, mas apenas sua posição em Cristo.

c) Dizendo Paulo que “fomos batizados com um Espírito, formando um corpo”, fica explicado em que consiste o batismo do Espírito Santo. É o ato pelo qual o Espírito Santo nos une ao corpo místico de Cristo, de modo que ficamos fazendo parte dele, como o pé ou a mão fazem parte do corpo humano (v. 15). Não é geralmente reconhecido, mas é verdade que a idéia fundamental de batizar, nas Escrituras, é unir, identificar, tornar um. Quando os israelitas atravessaram o Mar Vermelho miraculosamente aberto e viram perecer afogados os seus perseguidores egípcios que tinham saído para os destruir, tiveram pela primeira vez os seus corações verdadeiramente unidos ao de Moisés em sua atitude para com o Egito e para com Deus, atitude que Moisés assumira quarenta anos antes. O cap. 14 do Êxodo, que narra esse acontecimento, encerra-se com a afirmação: “E creram no Senhor e em Moisés, seu servo”. Paulo, querendo indicar como o povo se identificou com Moisés nessa transação, diz: “E todos foram batizados em Moisés na nuvem e no mar” (1 Co. 10: 2).

(2) A confirmação

Vejamos agora outros textos nas epístolas que confirmam a definição acima, isto é, que o batismo do Espírito Santo consiste em ele nos unir ao corpo místico de Cristo, que é sua Igreja Invisível.

Gl. 3: 27-28. “Porque todos quantos fostes batizados em Cristo, já vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem gentio, não há servo nem livre, não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo”. Embora não se diga aqui expressamente que este batismo é com o Espírito Santo, claro fica que outro qualquer processo não batiza em Cristo, nem nos reveste de Cristo, nem desfaz as nossas diferenças nacionais e sociais, tornando-nos um em Cristo. Isto posto, vemos que este texto confirma o anterior.

1º Em dizer que os crentes já foram batizados em Cristo;

2º Em mostrar que esse batismo consiste em unir todos os crentes espiritualmente, de modo a poder o apóstolo concluir: “Todos vós sois um em Cristo”.

Ef. 4: 3-5. Tendo exortado os crentes a andar de uma maneira digna da vocação com que foram chamados (v.1), o apóstolo lhes indica um dos meios de o realizar: “Procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (v. 3). Notemos logo aqui que o assunto é a unidade do Espírito, isto é, aquela unidade em Cristo como um só corpo, efetuada,como já vimos, pelo batismo do Espírito Santo. O que Paulo recomenda é que na prática ordinária da vida essa unidade seja mantida entre os crentes pelo vínculo da paz. Em seguida ele dá a razão, mostrando a possibilidade dessa harmonia cristã no fato de já existir essa unidade espiritual: “Há um só corpo (a Igreja invisível e real é uma só e indivisível) e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo” (o batismo do Espírito Santo, que realiza a unidade espiritual, identificando-nos a todos como membros do corpo único).

Fica, pois, iniludivelmente claro que o batismo do Espírito Santo de que nos falam as Santas Escrituras é aquele ato da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade pelo qual, quando oremos em Jesus Cristo como nosso Salvador, somos unidos ao seu corpo místico, tornando-nos participantes da sua vida ressurreta, como o sarmento participa da seiva da videira.

Antes do dia de Pentecostes, os filhos de Deus estavam dispersos e não unidos em um corpo (João 11: 52): naquele dia o Espírito veio e reuniu (batizou) em um corpo aqueles discípulos em Jerusalém, que eram todos judeus; e, desde então, ele vem unindo ao corpo todos quantos se convertem a Cristo, quer judeus quer gentios.

O batismo do Espírito Santo não é uma experiência emocional, nem é necessariamente acompanhado de sinais visíveis ou audíveis, como supõe muita gente. É simplesmente o ato de nos unir ao corpo de Jesus Cristo, ato que se efetua sem que nós tenhamos dele consciência alguma, e só sabemos que ele se realizou em nós porque Deus o afirma em sua Palavra.

Visto que o batismo do Espírito Santo é que faz de nós membros ou partes do corpo de Cristo, segue-se que, si somos membros do corpo de Cristo, é porque já fomos batizados com o Espírito Santo. Por conseguinte, é grande erro pedir o batismo do Espírito Santo. Se não sois crentes, crede no Senhor Jesus Cristo, e sereis salvos e batizados com o Espírito Santo para vos tornardes membros do seu corpo, sem mais necessidade de pedi-la. Si, porém, já sois crentes, salvos por Jesus Cristo, sois também membros do seu corpo, relação esta em que entrastes em virtude do batismo do Espírito Santo, e, por isso mesmo, não tendes necessidade de pedir o que já tendes.

Como se vê, pedir o batismo do Espírito Santo é manifestar crassa ignorância do ensino das Escrituras sobre o assunto. E, quando sucede que alguém, nessa ignorância, se entrega a prolongados exercícios de concentração psíquica e vem a experimentar emoções estranhas, sensações que dizem inexplicáveis e indescritíveis, acreditando haver nesse momento recebido o batismo do Espírito Santo, nós não podemos deixar de protestar em nome das Santas Escrituras que tais pessoas laboram em grave erro e se expõem a grandes perigos em sua vida espiritual. Aqui podemos dogmatizar pela autoridade da Palavra de Deus: isso não é, nem pode ser o batismo do Espírito Santo.

3º O BATISMO DO ESPIRITO SANTO REALIZADO

Até aqui temos visto, pelo ensino claro e insofismável da Palavra de Deus, que o batismo do Espírito Santo é esse ato pelo qual ele une os crentes espiritualmente de modo a formarem o corpo místico de Cristo, o qual é sua Igreja invisível e real, assim como pelo batismo ritual com água somos unidos à Igreja visível. Vimos que houve em todos os tempos pessoas renascidas pelo Espírito Santo, e que, com a vinda de Jesus ao mundo, os que nele creram foram tornados filhos de Deus, mas esses filhos se achavam dispersos, não constituídos em um corpo, pois ainda lhes faltava o vínculo, o batismo do Espírito Santo, que os havia de unir, ligar, formar esse organismo místico, cuja cabeça é o Senhor Jesus Cristo glorificado.

A formação desse corpo começou no dia de Pentecostes com a vinda especial do Espírito de Deus para residir nos crentes como selo, penhor, unção e batismo. Sendo o cumprimento de uma promessa especial; importando na inauguração da nova residência da Terceira Pessoa da Trindade na terra, e efetuando o início de uma nova entidade no mundo; que era a Igreja Universal, — não podia esse acontecimento deixar de ser acompanhado de manifestações exteriores, sensíveis, que o autenticassem perante crentes e descrentes.

Assim aconteceu, como narra S. Lucas nos Atos (2: 1-4). “E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; e de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem”. Assim se cumpriu, se consumou, o dia de Pentecostes, e consummatum est.

O Pentecostes, tal como se cumpriu naquele ano em Jerusalém, foi acontecimento único, singular, e não há mais Pentecostes.

1. A situação foi única na história.

a) A festa de Pentecostes era uma das festividades anuais de Israel, as quais tinham sua exata sucessão e sua significação típica. Naquele ano as outras duas festividades que precediam a de pentecostes já tinham visto realizada sua tipologia. A páscoa, cujo simbolismo se concentrava na imolação do cordeiro, cumprira-se na cruz, como o declara S. Paulo: “Cristo, nossa páscoa, já foi sacrificado por nós” (1 Co. 5: 7), o que dava ao apóstolo ensejo de apelar aos seus leitores para que realizassem a pureza de vida simbolizada nos asmos de que se fazia uso na páscoa e após ela. A festa das primícias, que era celebrada no dia seguinte ao sábado da semana pascoal e consistia principalmente no oferecimento de um molho das primícias do trigo, tinha igualmente sido cumprida em sua significação típica no dia exato de sua celebração pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos “feito as primícias dos que dormem” (1 Co. 15: 20 e 23). Agora, cinquenta dias depois, era chegado o dia exato de se cumprir também o que significava tipicamente o pentecostes. Cumpriu-se, de fato, com a descida do Espírito Santo.

Ora, se as outras duas festas de um só dia tiveram cada uma um só cumprimento, de modo que ninguém tem direito de esperar que Jesus morra e ressuscite muitas vezes, é claro que a terceira festividade, também de um só dia, teve cumprimento em um só acontecimento, não devendo ninguém jamais esperar que o Espírito de Deus tenha de vir do céu muitas vezes, mormente quando é sabido que ele veio para ficar, e continua conosco. Verdade é que Jesus há de vir ao mundo segunda vez; mas não para cumprir de novo a páscoa. Assim também é certo que o Espírito Santo há de ainda ser derramado sobre toda a carne; mas não para repetir o Pentecostes, nem antes que ele volte para o céu levando consigo a Igreja ao encontro do Noivo celeste, e portanto não nesta dispensação e não para a Igreja cristã.[2]

b) As pessoas que em Jerusalém estavam reunidas tinham uma promessa especial do batismo do Espírito Santo, que devia se realizar naquele lugar determinado e dentro de poucos dias (Atos 1: 4-5). Nunca mais, em tempo algum, houve um grupo de crentes que pudesse alegar tais circunstâncias. É pura insensatez, ainda que muito bem intencionada, reunirem-se em tempo e lugar que o Senhor não lhes determinou para reclamarem uma promessa que lhes não foi feita a eles, promessa, porém, que o Senhor já cumpriu nos termos em que foi feita.

2. O conjunto de sinais exteriores só essa vez se efetuou.

a) Um som ou ruído como de um vento veemente e impetuoso, que encheu toda a casa, e foi também ouvido fora na cidade (v. 6,V.B.).

b) Línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles.

c) O “fala em outras línguas” nos dialetos de catorze nacionalidades ali representadas, que os ouviram exprimir-se nos provincianismos das terras donde vieram.

Verificado que a situação histórica do Pentecostes não se pode reproduzir em tempo algum, já porque a significação típica da festa se realizou então de uma vez por todas, à semelhança do que se deu com as festividades da páscoa e das primícias, já porque ninguém, senão aqueles discípulos, recebeu do Senhor instruções e promessas tão definidas para lugar e tempo determinados: verificado igualmente que os fenômenos exteriores da presença do Espírito de Deus no Pentecostes jamais se reproduziram em seu conjunto, podemos ter a mais absoluta certeza de que o Pentecostes nunca se repetiu, não se está repetindo, nem jamais se repetirá.

RESUMINDO

O Pentecostes foi a vinda do Espírito de Deus para residir na terra, habitando nos crentes, cujos corpos se tornaram santuário de Deus.

Com essa vinda e essa residência, ele veio a ser para nós:

1º Um selo da propriedade que o Senhor tem em nós — nossa relação para com Deus.

2º Um penhor de nossa herança, até que estejamos de posse dela — nossa relação futura.

3º Uma unção pela qual somos separados e consagrados — nossas funções na casa de Deus.

4º Um batismo que nos une ao corpo místico de Cristo — nossa relação para com a Igreja Invisível.

Tudo isso se estabelece de uma vez para sempre no momento em que cremos no Senhor Jesus Cristo como nosso Salvador e, nunca se repete.

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NOTAS:
[1] A proposição grega en aqui traduzida em, é a mesma posta nos lábios de João Batista em todos os quatro evangelhos quando disse que Jesus batizaria com o Espírito Santo, e a mesma de que usou Jesus sobre o mesmo assunto em Atos 1:5.
[2] Infelizmente aqui o autor revela sua posição pré-milenista dispensacionalista que era comum no meio presbiteriano da época (NE).
Extraído do livro A Doutrina Bíblica do Espírito Santo do Pastor Antônio Almeida, publicado em 1934 pela Tipografia Norte Evangélico, Garanhuns. Dr. Antônio Almeida fez seu aperfeiçoamento em Teologia no Union Seminary – Richmond -Virginia, USA, foi Reitor do Seminário Evangélico do Norte (depois SPN) e Professor de Hebraico, Hermenêutica e Exegese do referido Seminário; foi o quinto pastor da Primeira Igreja Presbiteriana do Recife onde desenvolveu um ministério profícuo durante vinte anos (1911-1930).


Fonte: [ Projeto Os Puritanos ] 
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