Isvonaldo sou Protestante

Isvonaldo sou Protestante

sábado, 29 de junho de 2013




Por Pr. Silas Figueira


A Igreja é o reflexo do seu pastor e, se o pastor se espelha nas Escrituras Sagradas, a igreja que ele pastoreia irá refletir esta mesma imagem. Mas o que temos visto por aí nesses últimos anos é uma total descrença no ministério pastoral, pois muitos não estão refletindo a imagem de Cristo. Foi feita uma pesquisa a respeito das três classes que estão mais desacreditadas e a conclusão que se chegou foi: os políticos, a polícia e os pastores. Isso tem ocorrido porque os pastores estão deixando de ser aquilo que pregam. Muitos estão mais envolvidos com as coisas dessa terra do que com o seu chamado. Charles Spurgeon dizia para os seus alunos: “Meus filhos, se a rainha da Inglaterra vos convidar para serdes embaixadores em qualquer país do mundo, não vos rebaixeis de posto, deixando de ser embaixadores do Reis dos reis e do Senhor dos senhores”.

A crise que tem atingido a sociedade tem respingado na Igreja, e o pior, tem chegado até o púlpito. Embora estejamos vivenciando um crescimento numérico na Igreja Brasileira, não temos visto a transformação da nossa sociedade. Tudo isso é um reflexo de que a Igreja não tem tido uma mensagem transformadora, mas uma mensagem moldadora. Uma mensagem que faz bem aos ouvidos, mas que não transforma o coração. E tudo isso, infelizmente, vem do púlpito. Outros por medo de perderem o seu lugar na igreja local se tornam boca do povo para Deus e não boca de Deus para o povo, ou seja, pregam o que o povo quer ouvir e não o que eles precisam ouvir.

Pastores que agem assim são, geralmente, pastores com muita “unção”, mas sem nenhum caráter. É bom lembrar que o caráter sustenta a unção e não vice versa. Há uma crise pastoral e ela precisa ser sanada muito rapidamente, para que a próxima geração não esteja totalmente perdida. Estamos vivendo uma crise ministerial isso é um fato. E isso começa com a teologia que muitos seguem. Muitos estão abraçando várias teologias, menos a bíblica. Vejamos o que tem atuado em muitas igrejas hoje:

O Evangelho da Prosperidade – onde a benção e a graça de Deus sobre a pessoa é medida pelos bens que ela possui. Teologia esta que está na maioria dos púlpitos das igrejas pentecostais e neopentecostais. Descobri recentemente um detalhe interessante nesta teologia, que Cristo morreu na Cruz do Calvário para que eu tivesse muita saúde, carro zero, casa na praia e ser muito rico, ou seja, Jesus não passa de um gênio da lâmpada.

Teologia Inclusiva – A Teologia Inclusiva, como a própria denominação sugere, é um ramo da teologia tradicional voltado para a inclusão, prioritariamente, dos homossexuais. Segundo os seus adeptos, a Teologia Inclusiva contempla uma lacuna deixada pelas estruturas religiosas tradicionais do Cristianismo, pois, por meio da Bíblia, compreende que todos os que compõem a diversidade humana, seja ela qual for, têm livre acesso a Deus por meio do sacrifício de Jesus Cristo na cruz. É o famoso venha como está e fique como está.

Alguns textos que condenam o homossexualismo: Gn 19; Lv 18.22, 20.13; Rm 1.24-28,32; 1Co 6.9,10; 1Tm 1.8-10. Mas Deus é poderoso para mudar a vida dessas pessoas.

Teísmo Aberto ou Teologia Relacional – O atributo mais importante de Deus é o amor. Todos os demais estão subordinados a este. Isto significa que Deus é sensível e se comove com os dramas de suas criaturas. Deus não é soberano. Deus ignora o futuro, pois Ele vive no tempo, e não fora dele. Ele aprende com o passar do tempo. Deus se arrisca. Ao criar seres racionais livres, Deus estava se arriscando, pois não sabia qual seria a decisão dos anjos e de Adão e Eva. E continua a se arriscar diariamente. Deus corre riscos porque ama suas criaturas, respeita a liberdade delas e deseja relacionar-se com elas de forma significativa.

Igrejas Emergentes – As igrejas emergentes estão mais preocupadas com o ouvinte do que com a mensagem em si, e em seu desejo de pregar um evangelho que seja “aceitável” ao homem pós-moderno, acabam por negligenciar os pressupostos básicos do cristianismo, chegando mesmo a negar a literalidade do nascimento virginal de Cristo, seus milagres, a ressurreição de Jesus e a existência do inferno eterno. É “a preferência pela vivência correta ao invés da doutrina correta”. Teologia passa longe dessas igrejas.

Missão Integral – Esse evangelho não passa de uma variante protestante da Teologia da Libertação. Os que defendem essa teologia são líderes cristãos que continuam trancados no armário do socialismo.[1]

Teologia Liberal (Liberalismo Teológico) – A “Teologia Liberal é um movimento que, iniciado no final do século XIX na Europa e Estados Unidos, tinha como objetivo extirpar da Bíblia todo elemento sobrenatural, submetendo as Escrituras ao crivo da crítica científica (leia-se ciências humanas) e humanista. No liberalismo teológico, geralmente, não há espaço para os milagres, profecias e a divindade de Cristo Jesus”. Relativizando a autoridade da Bíblia, o liberalismo teológico estabeleceu uma mescla da doutrina bíblica com a filosofia e as ciências da religião. Ainda hoje, um autor que não reconhece a autoridade final da Bíblia em termos de fé e doutrina é denominado, pelo protestantismo ortodoxo, de “teólogo liberal”. Um pequeno exemplo nós encontramos em relação à existência de Jó. Para os liberais ele não passa de uma alegoria, mas então eu me questiono porque que em Ez 14.14, 20; Tg 5.11 falam dele como se ele fosse um personagem real? Então eu fico com a Bíblia e não com os defensores dessa teologia. Bem disse Jesus “Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus” (Mt 22.29).

O que temos visto hoje em dia, são muitos pastores confusos teologicamente em seus ministérios. O Rev. Hernandes Dias Lopes nos fala que a igreja evangélica brasileira vive um fenômeno estranho. Estamos crescendo explosivamente, mas ao mesmo tempo estamos perdendo vergonhosamente a identidade de evangélicos. O que na verdade está crescendo em nosso país não é o evangelho, mas outro evangelho, um evangelho híbrido, sincrético e místico. Vemos prosperar nessa terra uma igreja que se diz evangélica, mas que não tem evangelho. Prega sobre prosperidade, e não sobre salvação. Fala de tesouros na terra, e não de tesouros no céu.

Nessa babel de novidades no mercado da fé, o Rev. Hernandes Dias Lopes identifica alguns tipos de pastores:[2]

Primeiro, há pastores que são mentores de novidades. São pastores marqueteiros. Quando um pastor entra por esse caminho, precisa ter muita criatividade, pois uma novidade é atraente por algum tempo, mas logo perde seu impacto. Aí é preciso inventar outra novidade. É como chiclete. No começo você mastiga, ele é doce, mas depois você começa a mastigar borracha.

Segundo, há pastores que são massa de manobra. São pastores sem rebanho que estão a serviço de causas particulares de obreiros fraudulentos.

Terceiro, há pastores que deliberadamente abandonaram a sã doutrina. Muitos pastores inexperientes, discipulados por esses mestres do engano, abandonam o caminho da verdade e se capitulam à heresia. É importante afirmar que o liberalismo é um veneno mortífero. Aonde ele chega, mata a igreja. Há muitas igrejas mortas na Europa, na América do Norte e, agora, há igrejas que estão flertando com esse instrumento de morte também no Brasil. Não temos nenhum registro de um liberal que tenha edificado uma igreja saudável. Não temos nenhum registro de um liberal que tenha sido instrumento de Deus para um grande reavivamento espiritual.

Quando, uma igreja chega ao ponto de abandonar sua confiança na inerrância e suficiência das Escrituras, seu destino é caminhar rapidamente para a destruição.

A teologia define o caráter e à medida que o pastor se afasta da teologia bíblica, automaticamente ele irá se afastar de Deus e seguir outra direção. Mudar a mensagem para agradar aos ouvintes é mercadejar a Palavra de Deus. Os bancos não podem controlar o púlpito. O pastor não pode ser seduzido pelas leis do mercado, mas deve ser um fiel despenseiro de Deus (1Co 4.1,2). O dever do pregador não é encher o auditório, mas encher o púlpito. Querendo as pessoas ou não ouvir a verdade, não temos que fazer marketing religioso e de falar apenas o que elas querem ouvir. A crise moral e espiritual está por demais enraizadas para ser solucionada com remendos superficiais. Por isso precisamos urgentemente reavaliar a nossa teologia, a nossa fé e o nosso ministério para não cairmos também no descrédito assim como muitos tem caído.

Notas:
1 - Venâncio, Norma Braga. A Mente de Cristo Conversão e Cosmovisão Cristã. Ed. Vida Nova, São Paulo, SP, 2012: p. 49.
2 – Lopes, Hernandes Dias. De: Pastor A: Pastor. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2008: p. 22,23.

Posted: 28 Jun 2013 09:12 AM PDT
Utilizada por religiosos de todo o mundo, palavra é usada da mesma maneira que os hebreus faziam no passado.
A palavra “amém” é um dos raros exemplos de palavras que mantiveram seu significado original quase imutável por milênios, mesmo após ser adotada por línguas das mais diversas famílias linguísticas. No entanto, você conhece a sua origem?

A palavra em hebraico אָמֵן (āmēn) pode ser traduzida literalmente como “espere por isso”. No entanto, o seu uso, desde alguns dos primeiros textos judaicos, apresenta o significado “que assim seja”, no sentido de reforçar a veracidade de uma declaração, ou de concordância com o seu conteúdo.

Ao longo dos séculos, a palavra acabou sendo transportada para diferentes línguas, mantendo este mesmo significado. Assim, hoje é possível ouvir “amém” sendo utilizada com o mesmo significado por católicos, judeus e muçulmanos de qualquer nacionalidade.

Curiosidades
Originada no hebraico, a palavra “amém” chegou ao grego e, posteriormente, ao latim quando teólogos gregos traduziram a Bíblia para o idioma. Posteriormente, a palavra chegou também ao árabe e ao inglês.

Um dos diversos nomes atribuídos a Jesus na Bíblia é “o Amém” em (Apocalipse 3:14), em que o profeta “é descrito como a testemunha fiel e verdadeira”.

A palavra hebraica “amen” deriva de “amán”, do mesmo idioma. Alguns estudiosos acreditam que esta palavra seria derivada de um antigo deus egípcio chamado Amum (que, em alguns casos, aparece chamado de Amen). No entanto, a maior parte dos especialistas acredita que isso não passa de uma mera coincidência.

A última palavra da Bíblia é Amém. “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos vós. Amém” (Apocalipse 22:21)

Fonte Today I Found Out

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Por Augustus Nicodemus Lopes


O padrão de Deus para o exercício da sexualidade humana é o relacionamento entre um homem e uma mulher no ambiente do casamento. Nesta área, a Bíblia só deixa duas opções para os cristãos: casamento heterossexual e monogâmico ou uma vida celibatária. À luz das Escrituras, relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo são vistas não como opção ou alternativa, mas sim como abominação, pecado e erro, sendo tratada como prática contrária à natureza. Contudo, neste tempo em que vivemos, cresce na sociedade em geral, e em setores religiosos, uma valorização da homossexualidade como comportamento não apenas aceitável, mas supostamente compatível com a vida cristã. Diferentes abordagens teológicas têm sido propostas no sentido de se admitir que homossexuais masculinos e femininos possam ser aceitos como parte da Igreja e expressar livremente sua homoafetividade no ambiente cristão.

Existem muitas passagens na Bíblia que se referem ao relacionamento sexual padrão, normal, aceitável e ordenado por Deus, que é o casamento monogâmico heterossexual. Desde o Gênesis, passando pela lei e pela trajetória do povo hebreu, até os evangelhos e as epístolas do Novo Testamento, a tradição bíblica aponta no sentido de que Deus criou homem e mulher com papéis sexuais definidos e complementares do ponto de vista moral, psicológico e físico. Assim, é evidente que não é possível justificar o relacionamento homossexual a partir das Escrituras, e muito menos dar à Bíblia qualquer significado que minimize ou neutralize sua caracterização como ato pecaminoso. Em nenhum momento, a Palavra de Deus justifica ou legitima um estilo homossexual de vida, como os defensores da chamada “teologia inclusiva” têm tentado fazer. Seus argumentos têm pouca ou nenhuma sustentação exegética, teológica ou hermenêutica.

A “teologia inclusiva” é uma abordagem segundo a qual, se Deus é amor, aprovaria todas as relações humanas, sejam quais forem, desde que haja este sentimento. Essa linha de pensamento tem propiciado o surgimento de igrejas onde homossexuais, nesta condição, são admitidos como membros e a eles é ensinado que o comportamento gay não é fator impeditivo à vida cristã e à salvação. Assim, desde que haja amor genuíno entre dois homens ou duas mulheres, isso validaria seu comportamento, à luz das Escrituras. A falácia desse pensamento é que a mesma Bíblia que nos ensina que Deus é amor igualmente diz que ele é santo e que sua vontade quanto à sexualidade humana é que ela seja expressa dentro do casamento heterossexual, sendo proibidas as relações homossexuais.

Em segundo lugar, a “teologia inclusiva” defende que as condenações encontradas no Antigo Testamento, especialmente no livro de Levítico, se referem somente às relações sexuais praticadas em conexão com os cultos idolátricos e pagãos, como era o caso dos praticados pelas nações ao redor de Israel. Além disso, tais proibições se encontram ao lado de outras regras contra comer sangue ou carne de porco, que já seriam ultrapassadas e, portanto, sem validade para os cristãos. Defendem ainda que a prova de que as proibições das práticas homossexuais eram culturais e cerimoniais é que elas eram punidas com a morte – coisa que não se admite a partir da época do Novo Testamento. 

É fato que as relações homossexuais aconteciam inclusive – mas não exclusivamente – nos cultos pagãos dos cananeus. Contudo, fica evidente que a condenação da prática homossexual transcende os limites culturais e cerimoniais, pois é repetida claramente no Novo Testamento. Ela faz parte da lei moral de Deus, válida em todas as épocas e para todas as culturas. A morte de Cristo aboliu as leis cerimoniais, como a proibição de se comer determinados alimentos, mas não a lei moral, onde encontramos a vontade eterna do Criador para a sexualidade humana. Quando ao apedrejamento, basta dizer que outros pecados punidos com a morte no Antigo Testamento continuam sendo tratados como pecado no Novo, mesmo que a condenação capital para eles tenha sido abolida – como, por exemplo, o adultério e a desobediência contumaz aos pais.

Pecado e destruição

Os teólogos inclusivos gostam de dizer que Jesus Cristo nunca falou contra o homossexualismo. Em compensação, falou bastante contra a hipocrisia, o adultério, a incredulidade, a avareza e outros pecados tolerados pelos cristãos. Este é o terceiro ponto: sabe-se, todavia, que a razão pela qual Jesus não falou sobre homossexualidade é que ela não representava um problema na sociedade judaica de sua época, que já tinha como padrão o comportamento heterossexual. Não podemos dizer que não havia judeus que eram homossexuais na época de Jesus, mas é seguro afirmar que não assumiam publicamente esta conduta. Portanto, o homossexualismo não era uma realidade social na Palestina na época de Jesus. Todavia, quando a Igreja entrou em contato com o mundo gentílico – sobretudo as culturas grega e romana, onde as práticas homossexuais eram toleradas, embora não totalmente aceitas –, os autores bíblicos, como Paulo, incluíram as mesmas nas listas de pecados contra Deus. Para os cristãos, Paulo e demais autores bíblicos escreveram debaixo da inspiração do Espírito Santo enviado por Jesus Cristo. Portanto, suas palavras são igualmente determinantes para a conduta da Igreja nos dias de hoje.

O quarto ponto equivocado da abordagem que tenta fazer do comportamento gay algo normal e aceitável no âmbito do Cristianismo é a suposição de que o pecado de Sodoma e Gomorra não foi o homossexualismo, mas a falta de hospitalidade para com os hóspedes de Ló. A base dos teólogos inclusivos para esta afirmação é que no original hebraico se diz que os homens de Sodoma queriam “conhecer” os hóspedes de Ló (Gênesis 19.5) e não abusar sexualmente deles, como é traduzido em várias versões, como na Almeida atualizada. Outras versões como a Nova versão internacional e a Nova tradução na linguagem de hoje entendem que conhecer ali é conhecer sexualmente e dizem que os concidadãos de Ló queriam “ter relações” com os visitantes, enquanto a SBP é ainda mais clara: “Queremos dormir com eles”. Usando-se a regra de interpretação simples de analisar palavras em seus contextos, percebe-se que o termo hebraico usado para dizer que os homens de Sodoma queriam “conhecer” os hóspedes de Ló (yadah) é o mesmo termo que Ló usa para dizer que suas filhas, que ele oferecia como alternativa à tara daqueles homens, eram virgens: “Elas nunca conheceram (yadah) homem”, diz o versículo 8. Assim, fica evidente que “conhecer”, no contexto da passagem de Gênesis, significa ter relações sexuais. Foi esta a interpretação de Filo, autor judeu do século 1º, em sua obra sobre a vida de Abraão: segundo ele, "os homens de Sodoma se acostumaram gradativamente a ser tratados como mulheres."

Ainda sobre o pecado cometido naquelas cidades bíblicas, que acabaria acarretando sua destruição, a “teologia inclusiva” defende que o profeta Ezequiel claramente diz que o erro daquela gente foi a soberba e a falta de amparo ao pobre e ao necessitado (Ez 16.49). Contudo, muito antes de Ezequiel, o “sodomita” era colocado ao lado da prostituta na lei de Moisés: o rendimento de ambos, fruto de sua imoralidade sexual, não deveria ser recebido como oferta a Deus, conforme Deuteronômio 23.18. Além do mais, quando lemos a declaração do profeta em contexto, percebemos que a soberba e a falta de caridade era apenas um entre os muitos pecados dos sodomitas. Ezequiel menciona as “abominações” dos sodomitas, as quais foram a causa final da sua destruição: “Eis que esta foi a iniquidade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão e próspera tranquilidade teve ela e suas filhas; mas nunca amparou o pobre e o necessitado. Foram arrogantes e fizeram abominações diante de mim; pelo que, em vendo isto, as removi dali” (Ez 16.49-50). Da mesma forma, Pedro, em sua segunda epístolas, refere-se às práticas pecaminosas dos moradores de Sodoma e Gomorra tratando-as como “procedimento libertino”.

Um quinto argumento é que haveria alguns casos de amor homossexual na Bíblia, a começar pelo rei Davi, para quem o amor de seu amigo Jônatas era excepcional, “ultrapassando o das mulheres” (II Samuel 1.26). Contudo, qualquer leitor da Bíblia sabe que o maior problema pessoal de Davi era a falta de domínio próprio quanto à sua atração por mulheres. Foi isso que o levou a casar com várias delas e, finalmente, a adulterar com Bate-Seba, a mulher de Urias. Seu amor por Jônatas era aquela amizade intensa que pode existir entre duas pessoas do mesmo sexo e sem qualquer conotação erótica. Alguns defensores da “teologia inclusiva” chegam a categorizar o relacionamento entre Jesus e João como homoafetivo, pois este, sendo o discípulo amado do Filho de Deus, numa ocasião reclinou a sua cabeça no peito do Mestre (João 13.25). Acontece que tal atitude, na cultura oriental, era uma demonstração de amizade varonil – contudo, acaba sendo interpretada como suposta evidência de um relacionamento homoafetivo. Quem pensa assim não consegue enxergar amizade pura e simples entre pessoas do mesmo sexo sem lhe atribuir uma conotação sexual.

“Torpeza”

Há uma sexta tentativa de reinterpretar passagens bíblicas com objetivo de legitimar a homossexualidade. Os propagadores da “teologia gay” dizem que, no texto de Romanos 1.24-27, o apóstolo Paulo estaria apenas repetindo a proibição de Levítico à prática homossexual na forma da prostituição cultual, tanto de homens como de mulheres – proibição esta que não se aplicaria fora do contexto do culto idolátrico e pagão. Todavia, basta que se leia a passagem para ficar claro o que Paulo estava condenando. O apóstolo quis dizer exatamente o que o texto diz: que homens e mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza, e que se inflamaram mutuamente em sua sensualidade – homens com homens e mulheres com mulheres –, “cometendo torpeza” e “recebendo a merecida punição por seus erros”. E ao se referir ao lesbianismo como pecado, Paulo deixa claro que não está tratando apenas da pederastia, como alguns alegam, visto que a mesma só pode acontecer entre homens, mas a todas as relações homossexuais, quer entre homens ou mulheres.

É alegado também que, em I Coríntios 6.9, os citados efeminados e sodomitas não seriam homossexuais, mas pessoas de caráter moral fraco (malakoi, pessoa “macia” ou “suave”) e que praticam a imoralidade em geral (arsenokoites, palavra que teria sido inventada por Paulo). Todavia, se este é o sentido, o que significa as referências a impuros e adúlteros, que aparecem na mesma lista? Por que o apóstolo repetiria estes conceitos? Na verdade, efeminado se refere ao que toma a posição passiva no ato homossexual – este é o sentido que a palavra tem na literatura grega da época, em autores como Homero, Filo e Josefo – e sodomita é a referência ao homem que deseja ter coito com outro homem.

Há ainda uma sétima justificativa apresentada por aqueles que acham que a homossexualidade é compatível com a fé cristã. Segundo eles, muitas igrejas cristãs históricas, hoje, já aceitam a prática homossexual como normal – tanto que homossexuais praticantes, homens e mulheres, têm sido aceitos não somente como membros mas também como pastores e pastoras. Essas igrejas, igualmente, defendem e aceitam a união civil e o casamento entre pessoa do mesmo sexo. É o caso, por exemplo, da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos – que nada tem a ver com a Igreja Presbiteriana do Brasil –, da Igreja Episcopal no Canadá e de igrejas em nações européias como Suécia, Noruega e Dinamarca, entre outras confissões. Na maioria dos casos, a aceitação da homossexualidade provocou divisões nestas igrejas, e é preciso observar, também, que só aconteceu depois de um longo processo de rejeição da inspiração, infalibilidade e autoridade da Bíblia. Via de regra, essas denominações adotaram o método histórico-crítico – que, por definição, admite que as Sagradas Escrituras são condicionadas culturalmente e que refletem os erros e os preconceitos da época de seus autores. Desta forma, a aceitação da prática homossexual foi apenas um passo lógico. Outros ainda virão. Todavia, cristãos que recebem a Bíblia como a infalível e inerrante Palavra de Deus não podem aceitar a prática homossexual, a não ser como uma daquelas relações sexuais consideradas como pecaminosas pelo Senhor, como o adultério, a prostituição e a fornicação.

Contudo, é um erro pensar que a Bíblia encara a prática homossexual como sendo o pecado mais grave de todos. Na verdade, existe um pecado para o qual não há perdão, mas com certeza não se trata da prática homossexual: é a blasfêmia contra o Espírito Santo, que consiste em atribuir a Satanás o poder pelo qual Jesus Cristo realizou os seus milagres e prodígios aqui neste mundo, mencionado em Marcos 3.22-30. Consequentemente, não está correto usar a Bíblia como base para tratar homossexuais como sendo os piores pecadores dentre todos, que estariam além da possibilidade de salvação e que, portanto, seriam merecedores de ódio e desprezo. É lamentável e triste que isso tenha acontecido no passado e esteja se repetindo no presente. A mensagem da Bíblia é esta: “Todos pecaram e carecem da glória de Deus”, conforme Romanos 3.23. Todos nós precisamos nos arrepender de nossos pecados e nos submetermos a Jesus Cristo, o Salvador, pela fé, para recebermos o perdão e a vida eterna.

Lembremos ainda que os autores bíblicos sempre tratam da prática homossexual juntamente com outros pecados. O 20º capítulo de Levítico proíbe não somente as relações entre pessoas do mesmo sexo, como também o adultério, o incesto e a bestialidade. Os sodomitas e efeminados aparecem ao lado dos adúlteros, impuros, ladrões, avarentos e maldizentes, quando o apóstolo Paulo lista aqueles que não herdarão o Reino de Deus (I Coríntios 6.9-10). Porém, da mesma forma que havia nas igrejas cristãs adúlteros e prostitutas que haviam se arrependido e mudado de vida, mediante a fé em Jesus Cristo, havia também efeminados e sodomitas na lista daqueles que foram perdoados e transformados.

Compaixão

É fundamental, aqui, fazer uma importante distinção. O que a Bíblia condena é a prática homossexual, e não a tentação a esta prática. Não é pecado ser tentado ao homossexualismo, da mesma forma que não é pecado ser tentado ao adultério ou ao roubo, desde que se resista. As pessoas que sentem atração por outras do mesmo sexo devem lembrar que tal desejo é resultado da desordem moral que entrou na humanidade com a queda de Adão e que, em Cristo Jesus, o segundo Adão, podem receber graça e poder para resistir e vencer, sendo justificados diante de Deus.

Existem várias causas identificadas comumente para a atração por pessoas do mesmo sexo, como o abuso sexual sofrido na infância. Muitos gays provêm de famílias disfuncionais ou tiveram experiências negativas com pessoas do sexo oposto.  Há aqueles, também, que agem deliberadamente por promiscuidade e têm desejo de chocar os outros. Um outro fator a se levar em conta são as tendências genéticas à homossexualidade, cuja existência não está comprovada até agora e tem sido objeto de intensa polêmica. Todavia, do ponto de vista bíblico, o homossexualismo é o resultado do abandono da glória de Deus, da idolatria e da incredulidade por parte da raça humana, conforme Romanos 1.18-32. Portanto, não é possível para quem crê na Bíblia justificar as práticas homossexuais sob a alegação de compulsão incontrolável e inevitável, muito embora os que sofrem com esse tipo de impulso devam ser objeto de compaixão e ajuda da Igreja cristã.

É preciso também repudiar toda manifestação de ódio contra homossexuais, da mesma forma com que o fazemos em relação a qualquer pessoa. Isso jamais nos deveria impedir, todavia, de declarar com sinceridade e respeito nossa convicção bíblica de que a prática homossexual é pecaminosa e que não podemos concordar com ela, nem com leis que a legitimam. Diante da existência de dispositivos legais que permitem que uma pessoa deixe ou transfira seus bens a quem ele queira, ainda em vida, não há necessidade de leis legitimando a união civil de pessoas de mesmo sexo – basta a simples manifestação de vontade, registrada em cartório civil, na forma de testamento ou acordo entre as partes envolvidas. O reconhecimento dos direitos da união homoafetiva valida a prática homossexual e abre a porta para o reconhecimento de um novo conceito de família. No Brasil, o reconhecimento da união civil de pessoas do mesmo sexo para fins de herança e outros benefícios aconteceu ao arrepio do que diz a Constituição: “Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento” (Art. 226, § 3º).

Cristãos que recebem a Bíblia como a palavra de Deus não podem ser a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo, uma vez que seria a validação daquilo que as Escrituras, claramente, tratam como pecado. O casamento está no âmbito da autoridade do Estado e os cristãos são orientados pela Palavra de Deus a se submeter às autoridades constituídas; contudo, a mesma Bíblia nos ensina que nossa consciência está submissa, em última instância, à lei de Deus e não às leis humanas – “Importa antes obedecer a Deus que os homens” (Atos 5.29). Se o Estado legitimar aquilo que Deus considera ilegítimo, e vier a obrigar os cristãos a irem contra a sua consciência, eles devem estar prontos a viver, de maneira respeitosa e pacífica em oposição sincera e honesta, qualquer que seja o preço a ser pago.

[Artigo publicado na revista Cristianismo Hoje]

sexta-feira, 28 de junho de 2013


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Por Fábio Correia (filósofo calvinista)


Mateus 28:19-20: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século”.

Algumas pessoas costumam dizer que não gostam de teologia. “Meu negócio é vida prática”, afirmam. São verdadeiros "Teolofóbicos". No texto acima, um dos mais conhecidos, sempre que é citado, pontua-se a questão do “Ide” (v.19), da “evangelização”. Mas, não podemos esquecer que o mesmo imperativo para “evangelizar” é aplicado, com a mesma intensidade, para a necessidade do “ensino na palavra de Deus” (v.20). Em Mateus 22:29, Jesus levanta mais uma vez a questão da importância do aprofundamento no estudo das escrituras. Diz ele: “Errais, não conhecendo as Escrituras”. Em João 5:39, sobre esse assunto, mais uma vez Jesus incentiva o aprofundamento nas escrituras, diz ele: “Examinai as escrituras”.

Portanto, não devemos fazer essa equivocada distinção dicotômica entre Teologia e Vida prática. Afinal, como alguém já disse, somos aquilo que acreditamos, aquilo que aprendemos, aquilo que lemos. Erra gravemente quem pensa que o estudo da teologia produz uma vida apática e desassociada de atitudes práticas.

Os maiores missionários do passado eram, também, profundos conhecedores da Teologia, especialmente Reformada. O sociólogo Max Weber, autor do livro de não ficção mais importante do século XX “Ética protestante e o Espírito do Capitalismo”, por exemplo, após um denso estudo sobre variadas culturas, chegou à conclusão que os países cuja população era predominantemente Calvinista, possuíam melhor qualidade de vida, com maior desenvolvimento espiritual, ético e moral. Ele atribui isso ao conhecimento profundo da doutrina Reformada. Veja o que ele afirma:

O Deus de Calvino exigia de seus crentes não boas ações isoladas, mas uma vida de boas ações combinadas em um sistema unificado. Mas no curso de seu desenvolvimento, o calvinismo acrescentou algo de positivo a isso tudo, ou seja, a ideia de comprovar a fé do indivíduo pelas atitudes seculares. [...] consideramos apenas o calvinismo e adotamos a doutrina da predestinação como arcabouço dogmático da moralidade puritana, no sentido de racionalização metódica da conduta ética.(WEBER, 2004. p.91,94,96).

Precisamos entender que sempre fazemos uma opção teológica. Queiramos ou não. Ainda que afirmemos não gostar de teologia.

Ou como calvinistas, ou como arminianos.

Não temos como fugir disso. Essa escolha reflete diretamente na nossa prática cúltica e litúrgica. Quando dizemos: “não quero saber de estudar teologia”; sem saber, nossas atitudes e forma de adoração, acabam por revelar, automaticamente, a posição teológica que estamos seguindo.

Um bom exemplo disso é o sistema de APELO, trazido por Charles Finey, no século XIX. Muita gente diz que não gosta de teologia, mas, sempre, depois de sua pregação, faz o famoso “apelo” para que as pessoas aceitem a Cristo. Isso, caros irmãos, é teologia pura. Se está certa ou não, é outro assunto. Isso é uma prática complemente lastreada por uma posição teológica.

Ou somos Calvinistas ou somos Arminianos, repetimos. Não temos como fugir disso. Queiramos ou não, assumimos uma posição teológica. Sem contar nos muitos absurdos e nas muitas aberrações, que temos visto no meio evangélico, pela pura falta de estudo da Palavra de Deus; da Teologia.

Não seria mais prudente, então, seguir a orientação de Jesus e estudar profundamente sua palavra? Isso é teologia. Fazendo isso, podemos escolher, sem nenhuma imposição, a postura teológica que mais simpatizamos, que mais, em nossa opinião, se aproxima da verdade das Escrituras Sagradas. Porém, essa escolha “consciente” só poderá ser feita mediante um conhecimento aprofundado da Palavra de Deus, que só pode ser adquirido com o estudo da Teologia.

quinta-feira, 27 de junho de 2013


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Por Danyllo Gomes

Da própria Escritura derivam-se alguns princípios para guiar nossa interpretação do texto. É óbvio que nós (seres pensantes) quando vamos a um texto vamos com uma “bagagem”. Nossos pressupostos, princípios que nos guiaram por toda a vida, filosofia própria, estilo de vida, modo de pensar, cosmovisão própria; tudo isso influencia-nos quando vamos entender um texto. Por isso, para termos consciência do que o Senhor nos deu como revelação, precisamos nos apegar a alguns princípios extraídos da própria Escritura, para que através deles, possamos nos esvaziar de nós mesmos e apendermos os ensinamentos do Senhor. Portanto, é de importância central termos consciência desses princípios.

Auto-interpretação das Escrituras

Como princípio primário e fundamento temos a auto-interpretação das Escrituras. Esse princípio nos ajudam a entender cada passagem, independentemente de ser uma passagem obscura ou não. A Bíblia interpreta ela mesma, esse é o significado. Todos os outros princípios dependem desse. Não há sentido em dizer: “passagens mais claras dão lugar a passagens mais escuras” se antes não entendermos que a Bíblia se auto-interpreta. A Confissão de Fé de Westminster tem uma organização bem interessante. No primeiro capítulo ela não fala sobre Deus, nem sobre o homem; ela inicia falando sobre a Escritura. A Escritura é que vai guiar o nosso entendimento quanto a Deus, quanto ao homem, ou seja lá qual for o assunto. Os reformadores seguiram esse princípio ao pé da letra; o lema deles era: “Scriptura, Scriptura interpres.”[1], ou seja, o melhor intérprete para a Escritura é ela mesma.

Esse fundamento nos leva a outro ponto. Precisamos ter consciência que nem a tradição, nem os Pais da Igreja, nem filosofia, nem qualquer outro tipo de influencia pode guiar nosso entendimento a respeito das Escrituras. Ela é a única fonte infalível, inerrante e autoritativa. A quem mais devemos recorrer senão ela?

Princípio da analogia da fé

Também definido como a harmonia geral das doutrinas bíblicas fundamentais, o princípio da analogia da fé não nos apresenta um conceito concreto, mas Walter Kaiser nos apresenta alguns que podem servir: (1) axiomas ou doutrinas centrais da fé cristã; (2) passagens bíblicas claras. Paulo Anglada a define como: “significa que uma passagem bíblica deve ser interpretada à luz do ensino geral das Escrituras.” [2]

Este princípio - dentre tantos benefícios para interpretação – nos impede de interpretar a Bíblia incoerentemente, fazendo-a contraditória. Se o ensinamento de um texto vai contrário ao ensinamento de outro texto de modo nenhum é porque a Bíblia é contraditória; pode ser culpa de tudo: tradição, capacidade humana, ou qualquer outras coisas, mas nunca a Bíblia. Faço das minhas palavras a de A. W. Pink: “Nenhum verso das Escrituras deve ser explicado de modo que conflite com o que é ensinado clara e uniformemente nas Escrituras como um todo, nossa única regra de fé e obediência. Isto requer do expositor não apenas um conhecimento do sentido geral da Bíblia mas também que ele se dê ao trabalho de reunir e comparar todas as passagens que tratam ou têm relação específica com o assunto diante de si, de modo que possa obter a intenção do Espírito acerca do assunto.” [3]

Com base nisso, segue-se alguns pontos que preciso ressaltar. Primeiramente o teólogo precisa ter uma boa base de Teologia Sistemática. Na Teologia Sistemática o estudioso terá uma visão geral das principais doutrinas bíblicas durante toda a Escritura. A Teologia Sistemática não se resume a uma passagem, não se resume a um capítulo, não se resume a um livro; a Teologia Sistemática estuda um determinado assunto durante toda a Bíblia. Mas por que isso é importante? A importância é que além de você saber as principais doutrinas Bíblicas (as que não devem ser quebradas de maneira nenhuma), você também saberá o que toda a Bíblia fala de um determinado assunto. Isso previne o estudioso de cometer qualquer contradição bíblica.

Por outro lado, é de suma importância que o estudioso tenha bastante conhecimento da Teologia Bíblica. Na Teologia Sistemática o teólogo terá um entendimento de uma doutrina de modo geral nas Escrituras; já na Teologia Bíblica o teólogo precisará entender a passagem de acordo com seu contexto. Em vez de estudar a doutrina que aquela passagem passa, ele estudará a passagem, o seu contexto, o seu capítulo e o seu livro. É de vital importância que o estudioso entenda a passagem de acordo com seu contexto. Para que ele extraia o ensinamento do texto, ele deve saber o que aquela passagem está falando naquele contexto.

Observando o ensinamento da Trindade como exemplo: em Mateus 3:16-17 diz: “Batizado que foi Jesus, saiu logo da água; e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito Santo de Deus descendo como uma pomba e vindo sobre ele; e eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.” Para que esse texto não entre em contradição e haja uma interpretação consistente, o teólogo primeiro deve observar a passagem de acordo com o seu contexto. Perguntas como: “onde a passagem se passa? O que está acontecendo? Entre outras...” deve guiar a interpretação Bíblica. Por outro lado, quando o significado é retirado do texto (nesse caso o ensinamento da Trindade) deve-se observá-lo de acordo com todo o ensino da Escritura a respeito dele. No caso do texto, utilizaremos a Teologia Sistemática para entendermos o ensino da Trindade durante toda a Bíblia. Portanto, na interpretação Bíblica a Teologia Sistemática e a Teologia Bíblica precisam ser harmonizadas e usadas como instrumento de entendimento.

Outro ponto importante é o conceito de progressividade da revelação. Precisamos ter em mente que a Bíblia não foi escrita apenas em um momento. Temos vários anos de história antes dela estar completa. Portanto, cada escritor estava no seu contexto. É importante então entendermos cada momento da revelação.

Princípio Cristológico

Paulo Anglada define esse princípio da seguinte forma: “afirma que Cristo é a chave para a interpretação bíblica, porquanto toda ela, inclusive o Antigo Testamento, se refere a Ele, se concentra Nele e dá testemunho Dele.” [4] Em resumo, esse princípio nos diz que Cristo é o centro de toda a Escritura; desde Gênesis até Apocalipse. Seguindo o modelo de Paulo Anglada podemos descrever a relação de Cristo com o texto da seguinte forma (citarei as principais):

(1) Perspectiva neotestamentária: a nossa visão do Antigo Testamento não deve-se reter apenas ao ensinamento histórico das narrativas. Precisamos fazer uma ponte com o Novo Testamento para entender qual o significado que Cristo tem em determinada passagem do Antigo Testamento. Vale salientar que esse tipo de interpretação não muda o sentido do texto, mas aprofunda até chegar a Cristo.

(2) Conceito de aliança: A Bíblia é formada por alianças. Alianças estas que Deus fez com seu povo para que ele se reconciliasse com o Criador. A Antiga Aliança é descrita por determinadas características. Como também a Nova Aliança tem as suas próprias características. As Escrituras descrevem como foi o decorrer dessas alianças, sempre enfatizando o seu mediador: Jesus Cristo. Os pactos vão ser bem mais claramente entendidos à luz daquele que é o Mediador.

(3) Peleja história entre o descendente da mulher e o descendente da serpente: para entender o personagem principal de toda a Escritura é necessário entendermos como ele surgiu. Em Gênesis já vemos a semente do evangelho. Cristo sendo profetizado através da descendência da mulher. Como entender o decorrer desta história se não apontarmos para Cristo?

(4) Relação entre os ofícios de Cristo. Cristo é tanto sacerdote, quanto rei, quanto profeta. A relação entre esses ofícios, a Escritura e as Alianças são inseparáveis. Cristo é sempre representado como rei na Escritura; Ele é o sacerdote supremo do Seu povo nos pactos; e Ele é o profeta de Deus diante de toda a terra. “Qualquer referência bíblica aos ofícios profético, sacerdotal e real deve ser interpretada à luz da sua relação com os ofícios de Cristo”, diz Paulo Anglada. [5]

Tipologia

Tipologia é o estudo de pessoas, eventos, objetos no Antigo Testamento (tipos) que prefiguram o há de acontecer (antítipo), ou prefigura algo no futuro. Por exemplo: no Antigo Testamento o sacrifício do povo de Deus era feito através do cordeiro. No Novo Testamento Jesus Cristo “é o cordeiro que tira o pecado do mundo.” Portanto, o cordeiro é a prefiguração do Cristo vivo. O cordeiro é o tipo e Jesus Cristo é o antítipo.

Os “tipos” tem suas características para que ele possa ser identificado, elas são:

(1) Elemento de relação, semelhança ou correspondência: Para que uma pessoa, evento ou instituição seja interpretada como tipo, deve haver um relacionamento de semelhança entre a pessoa , evento ou instituição. Esse ponto é fundamental para a observação da tipologia e sua identificação. Devemos sempre perceber as semelhanças e a relação entre o tipo e o antítipo.

(2) Elemento histórico. Há uma diferença profunda entre tipologias e parábolas. Parábolas não são consideradas tipologias apesar de terem alguma relação. A parábola é mais caracterizada pela correspondência do que pela tipologia. A tipologia tem um caráter histórico no que diz respeito a seu entendimento. Por exemplo, os personagens do Antigo Testamento como Adão, Isaque, Jacó podem ser considerados como tipologias de Cristo, isso porque além da relação de semelhança, é também observado o caráter histórico dessas passagens.

(3) Elemento profético ou prefigurativo. A tipologia também pode ser considerada profética, isto é, sempre intimamente relacionada com um acontecimento futuro. Isso se dá normalmente por conta da Antiga Aliança, onde suas tipologias sempre apontam para algo no futuro, ou seja, para a Nova Aliança. Também considerada prefigurativa por figurar algo futuro e sempre uma relação de semelhança.

(4) Elemento de progresso ou elevação histórica. Como bem sabemos a história da salvação da Escritura é passada de forma progressiva, ou seja, a revelação foi escrita ao longo do tempo, e não pronta num momento específico. Com base nisso podemos afirmar que a tipologia se caracteriza por sempre - dentro desse progresso de revelação – observar a construção e a relação entre personagens ou instituições ou seja lá qual foi o item tipológico.

(5) Intenção divina. Paulo Anglada afirma: “Para que uma pessoa, instituição ou evento histórico seja considerada uma tipológica de realidades futuras, deve haver ainda evidências bíblicas de que Deus realmente tencionou empregá-las como tal.”[6] Esse, particularmente, creio que é o ponto principal. Tudo se baseia na intenção do Senhor. Todas essas características vão estar baseada nesta: foi a intenção do Senhor mostrar determinada pessoa, evento ou instituição histórica como tipológica?

Princípio da interpretação de passagens obscuras

Esse princípio é derivado do primeiro que estudamos (Auto-interpretação das Escrituras). A principal ideia aqui se refere a como vamos entender um passagem que, por si só, não é tão fácil de ser entendida. É aí que entra esse princípio. A partir do momento que temos uma passagem difícil de ser entendida o que precisamos fazer para obter desta passagem o ensino que ela nos traz de forma clara? Segundo o princípio isso é feito através de textos paralelos.

Através dos textos paralelos é possível fazermos a interpretação correta de algum texto obscuro. Normalmente esses textos paralelos são encontrados em textos do mesmo autor, tonando assim o sentido da passagem obscura mais clara. Portanto, devemos interpretar as passagens obscuras à luz das passagens mais claras.

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Notas:

¹ Introdução à Hermenêutica Reformada, Paulo Anglada, Ed. Knox, pág. 165.
² Introdução à Hermenêutica Reformada, Paulo Anglada, Ed. Knox, pág. 168.
³ Interpretation of the Scripture, Arthur W. Pink.
4 Introdução à Hermenêutica Reformada, Paulo Anglada, Ed. Knox, pág. 179.
5 Introdução à Hermenêutica Reformada, Paulo Anglada, Ed. Knox, pág. 185.
6 Introdução à Hermenêutica Reformada, Paulo Anglada, Ed. Knox, pág. 194.


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Por – Franklin Ferreira


Deus estabelece na criação várias instituições para a ordem social, cada qual com sua própria esfera de atividade e missão, e responsável por algo diante dele. Mas, antes de considerarmos a posição reformada sobre a relação da igreja com o estado, será útil compará-la com outros modelos políticos e teológicos rivais.

Ao tratar-se de modelos políticos, fala-se de espectro político, que é o conjunto de posições políticas representadas em um país ou localidade. A classificação das correntes políticas geralmente se faz através da sua localização em um ou mais eixos, cada um representando um aspecto da política. Isso é representado pelo diagrama abaixo, que mostra onde está situada uma pessoa, um partido político ou um governo no que diz respeito à sua ideologia política.[39]



Um primeiro modelo político é apresentado no gráfico abaixo, que ilustra as ênfases estatizantes e intervencionistas associadas à posição esquerdista, como no comunismo e no nazismo. Nesse modelo, há pouca ou nenhuma liberdade pessoal e nenhuma liberdade econômica. O estado ou partido ganha uma dimensão transcendente, agindo para estender seu domínio ideológico sobre todas as esferas da sociedade:


O estatismo é o cerne do esquerdismo, não a mera ausência de eleições livres e “democracia”. Portanto, em última instância, tanto o comunismo como o nazismo são socialismos, sendo o primeiro um socialismo de classe e internacional, e o segundo um socialismo étnico e nacionalista.[40]

Um segundo modelo é ilustrado no gráfico abaixo, que resume os ideários políticos associados à posição direitista, em que se privilegia a liberdade pessoal e econômica, e a garantia dos direitos individuais, sendo os limites o respeito à vida, à propriedade e à liberdade dos demais:


Os dois primeiros gráficos delineiam os dois principais lados em disputa no espectro político, especialmente desde antes da II Guerra Mundial, mas que se tornaram proeminentes no Pós-Guerra. Obviamente, há várias gradações partidárias entre a esquerda e a direita. À esquerda podem ser associados o comunismo, o socialismo e o nazismo. A centro-esquerda, a essencialmente pecaminosas e impedidas de qualquer possibilidade de redenção:


Como visto anteriormente, a visão reformada da sociedade não se centraliza no indivíduo nem na instituição, mas na soberania de Deus sobre as esferas da criação, nas quais diferentes instituições estão debaixo do reinado de Deus. Essa posição destaca que “todos os homens vivem numa rede de relacionamentos divinamente ordenada.” Nesse sentido, “as pessoas não encontram sentido ou propósito quer em sua própria individualidade, quer como parte de um todo coletivo.” Na verdade, “elas atendem a seus chamados dentro de uma pluralidade de associações comunais, como família, escola e Estado”, portanto “Deus ordenou cada uma dessas esferas de atividade como parte da ordem original. Juntas, elas constituem a comunidade da vida.”[41]

O gráfico a seguir esboça essa posição:

Nessa posição, a família, o indivíduo e a igreja são esferas independentes, pois existem a despeito do Estado, derivando sua autoridade somente de Deus. O papel do Estado é mediador, intervindo quando as diferentes esferas entram em conflito entre si ou para defender os fracos contra abusos de poder.

Abaixo, é oferecido um desenvolvimento dessa posição por meio de algumas premissas que podem guiar o entendimento evangélico da relação entre o cristão e a política:[42]

Em primeiro lugar, afirma-se a distinção entre igreja e Estado, lembrando que toda autoridade procede de Deus. As tarefas da igreja e do Estado são de dois tipos e são distintas, não podendo ser confundidas. A existência do Estado deve ser reconhecida como um dom e uma ordem de Deus, estabelecida a partir da Queda, por causa do pecado (1Sm 12.17-25; 24.7,11; 26.9-11; 2Sm 1.14-16; Rm 13.1-5; 1Pe 2.13; Ap 13.10). Portanto, os que assumem cargos públicos devem reconhecer que sua autoridade é delegada. O governo estabelecido por Deus é mediado pelo povo, que elege seus governantes. Estes são eleitos para servir ao povo, ao mesmo tempo que cumprem suas tarefas com senso de dever, pois sabem que darão contas de seus atos perante uma autoridade maior.

Em segundo lugar, rejeita-se o conceito de soberania absoluta do Estado e o conceito de soberania absoluta do povo. Para a fé cristã, o poder reside em Deus e em Cristo, que é o Senhor de todo poder e autoridade (Ef 1.21,22) e “o soberano dos reis da terra” (Ap 1.5; 19.16), comandando todas as esferas sociais. Somente Deus detém o poder absoluto: “Porque o SENHOR é o nosso juiz; o SENHOR é o nosso legislador; o SENHOR  é o nosso rei; ele nos salvará” (Is 33.22). Portanto, Deus é a fonte final da lei e de toda autoridade. Logo, prestar fidelidade ou lealdade absoluta ao Estado é idolatria, pois é Deus quem estabelece o certo por meio de sua lei, portanto deve-se compartilhar a lei de Deus por meio da mudança das estruturas sociais. Por isso que, na mesma medida em que as leis estabelecidas numa nação devem ser derivadas da lei de Deus, essas leis devem ser aplicadas a todas as pessoas, incluindo os governantes. Mesmo numa nação que não é cristã, pode-se apelar à lei de Deus escrita na criação e gravada na consciência dos seres humanos, que é coincidente com a lei revelada. Portanto, numa nação, não há ninguém que esteja acima da lei. Esse é o princípio da lex rex (a lei é o rei), que se opõe ao princípio despótico da rex lex (o rei é a lei).

Em terceiro lugar, Deus delega poder tanto ao governante quanto às pessoas. Ao ocupar um cargo de autoridade, nenhum homem tem poder sobre outro, a não ser quando essa capacidade é delegada por Deus. Mas esse poder é relativo e revogável. Por isso, os cristãos devem opor-se a todo sistema político totalitário. Mais do que um direito, isto é um dever: “É mais importante obedecer a Deus que aos homens” (At 5.29). A fé cristã honra as autoridades, embora negue ao Estado o direito de intervir em matérias de culto, doutrina e ética. O exercício da autoridade é necessário, mas jamais ao custo da liberdade de consciência, pois somente Deus é o único Senhor. Já que o poder não é algo intrínseco ao governante, mas delegado por Deus, os cristãos devem resistir, pelos meios corretos e legítimos, a quem exerce o poder político contra a vontade de Deus. Para a tradição reformada, o governo é governo legítimo quando e na medida em que é servo de Deus. Assim, não devemos identificar um governo, de forma direta e automática, com a vontade de Deus.[43] Nesse sentido, a resistência ao Estado que faça mau uso do poder que lhe foi delegado deve ser entendida como desobediência civil.[44]  Desde que exercido dentro de limites aceitáveis, esse é um mecanismo legítimo a que tem direito todo cidadão e, de forma específica, todo cristão, quando em confronto com um Estado totalitário que interfere na esfera litúrgica, doutrinária ou ética, e requer para si o que equivale à adoração. Portanto, a “rebelião contra os tiranos é obediência a Deus” (Rebellion to tyrants is obedience to God).

Em quarto lugar, nenhuma ideologia é absoluta e nem pode ser confundida com o evangelho. Com acerto, a Declaração Teológica de Barmen afirma: “[8.18] Rejeitamos a falsa doutrina de que à Igreja seria permitido substituir a forma da sua mensagem e organização, a seu bel-prazer ou de acordo com as respectivas convicções ideológicas e políticas reinantes.” Sempre que a igreja identifica determinada ideologia com o reino de Deus ou com a mensagem bíblica, essa mensagem não apenas foi distorcida, como também acabou sendo obliterada. Por outro lado, a igreja deve manter vigilância sobre o Estado. Não se pretende com isso substituir o sermão baseado na Escritura pelo discurso político. Adorar a Deus, proclamar sua Palavra e ministrar os sacramentos é a principal tarefa da igreja, além da qual não existe outra. Ao proclamar com fidelidade a Palavra de Deus, a igreja influencia o Estado, fazendo com que suas leis se conformem com a vontade de Deus. De tal fidelidade decorrem consequências políticas e sociais ao chamado primário da comunidade cristã.

Em quinto lugar, o realismo cristão ressalta que a corrupção na política tem origem primariamente no coração dos seres humanos. Se a doutrina da criação afirma a dignidade humana, o ensino bíblico sobre a queda afirma a corrupção humana. Os pecados individuais se tornam pecados estruturais, tais como idolatria, egoísmo, violência, despotismo, corrupção; estes acabam por afetar as estruturas do poder constituído. Por isso, a igreja cristã “prega uma conversão interior dos governantes e dos governados a Deus”, crendo que, a partir do arrependimento e quebrantamento pessoal, as estruturas serão limpas de iniquidades. Por outro lado, a revelação geral e a graça comum ensinam que “há princípios que, se aplicados, produzirão a ética na política.” Essas são as doutrinas que proporcionam a base dos valores éticos em pessoas que não são cristãs. Portanto, “o caminho para a ética na política” não passa pela conversão de todos ao cristianismo, nem consiste “em colocar em cargos políticos quem se professa cristão”, mas em “contribuir para que a lei de Deus seja reconhecida” por todos.[45]  Por isso, podemos cooperar com incrédulos como cobeligerantes na esfera política, lutando contra males aos quais também nos opomos.

Em sexto lugar, por causa do pecado na sociedade, a república se torna não apenas o melhor sistema, mas o sistema mais viável. A forma de governo que mais se aproxima do modelo bíblico é a república, na qual a nação é governada pela lei constitucional e administrada por representantes eleitos pelo povo. Porque somente Deus concentra em si todo o poder (cf. Is 33.22), deve haver a divisão e a separação dos poderes executivo, legislativo e judiciário, de modo que nenhum governo ou ramo do governo monopolize o poder. Assim, a república se torna o melhor sistema, pois é a salvaguarda das liberdades individuais, “designada para fragmentar o poder político, de modo que ele não possa ameaçar as vidas, liberdades e propriedades.”[46] Portanto, devido à inclinação humana para a injustiça, advinda do pecado, a república torna-se necessária; e devido à inclinação humana para a justiça, capacitada pela graça comum, a república torna-se possível.

Portanto, os cristãos defendem os fatores que definem uma república, que são aqui esboçados e que podem ser deduzidos ou inferidos da Escritura:

  • ênfase nas funções primordiais do Estado, em que os governantes têm a obrigação de zelar pela segurança do povo, afinal, pagamos impostos por ela (cf. Rm 13.1-7);
  • limitação da extensão e do poder do Estado, pois, a partir das Escrituras, entende-se que o governo não tem autoridade para estabelecer impostos exorbitantes, redistribuir propriedades ou renda, criar zonas francas ou confiscar depósitos bancários;
  • separação e cruzamento fiscalizador (checks and balances) entre os poderes executivo, legislativo e judiciário, para que nenhum poder possua poderes absolutos, e para que sempre haja equilíbrio;
  • oportunidades de ascensão social para todas as pessoas, investindo e promovendo educação e serviços médicos;
  • promoção de uma ética protestante do trabalho, pois “o que Max Weber chama de trabalho ético protestante é um conjunto de virtudes econômicas [bíblicas]: honestidade, pontualidade, diligência, obediência ao quarto mandamento — ‘seis dias trabalharás’, obediência ao oitavo mandamento — ‘não furtarás’, e obediência ao décimo mandamento — ‘não cobiçarás’”, reconhecendo que a ênfase no “trabalho produtivo origina-se da Bíblia e da Reforma”;[47]
  • direito à propriedade privada como direito fundamental (cf. Êx 20.15,17; 1Rs 21);[48]
  • alternância do poder civil, que impede que um partido ou autoridade se perpetue no poder, assim como a defesa do pluralismo político e partidário;
  • centralidade do contrato social, que é um acordo entre os membros de uma sociedade pelo qual reconhecem a autoridade sobre todos de um conjunto de regras; a constituição, que limita o poder, organiza o Estado e define direitos e garantias fundamentais;
  • garantia das liberdades individuais, por meio do estabelecimento de normas gerais de conduta, que redundem em liberdade de expressão, associação e de imprensa.
Esses são o conjunto de princípios que a tradição reformada tem afirmado ao tratar da relação dos fiéis e da comunidade cristã com o Estado. Que, à luz desse ensino, os cristãos orem e intercedam pelos governantes, “para que tenhamos uma vida tranquila e serena, em toda piedade e honestidade” (1Tm 2.1-3).

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Notas:

[39] Gráficos adaptados de Greg Johnson, O mundo de acordo com Deus. São Paulo, Vida, 2006, p. 93,94 (usados com permissão da Editora Vida), Espectro político,http://pt.wikipedia.org/wiki/Espectro_político e “Espectropolítico”, O capitalista: vida, liberdade, propriedade, htttp://www.ocapitalista.com/2007/12/espectro-poltico.html, acessados em 27 de abril de 2010.
[40] Para uma introdução à conceituação da esquerda aqui adotada, cf., por exemplo, Alain Besançon, A infelicidade do século. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2000, Jonah Goldberg, Fascismo de esquerda. Rio de Janeiro, Record, 2009 e Czeslaw Milosz, Mente cativa. São Paulo, Novo Século, 2010. Para uma crítica ao marxismo e ao nazismo como cosmovisões rivais da fé cristã, cf., por exemplo, Alister McGrath, Apologética cristã no século XXI. São Paulo, Vida, 2008, p. 272-279 e Franklin Ferreira, “A Igreja Confessional Alemã e a ‘Disputa pela Igreja’ (1933-1937)”, Fides Reformata, v. 15, n. 1 (2010), p. 9-36. Cf. também os textos de Thomas Schirrmacher: “Four Problems with Germany’s Re-unification”, Contra Mundum,http://www.contra-mundum.org/schirrmacher/probreun.html, “The Myth of the End of Communism”, Contra Mundum, http://www.contra-mundum.org/schirrmacher/mythcomm.html e “National Socialism as Religion”, Chalcedon Report 1992, http://ww.contra-mundum.org/schirrmacher/NS_Religion.pdf.
[41] Gordon Spykman, “The principled pluralistic position”, em Gary Scott Smith (ed.), God and Politics: Four Views on the Reformation of Civil Government. Phillipsburg, NJ, Presbyterian and Reformed, 1989, p. 79, citado em Greg Johnson, O mundo de acordo com Deus, p. 93. 
[41] Gordon Spykman, “The principled pluralistic position”, em Gary Scott Smith (ed.), God and Politics: Four Views on the Reformation of Civil Government. Phillipsburg, NJ, Presbyterian and Reformed, 1989, p. 79, citado em Greg Johnson, O mundo de acordo com Deus, p. 93.
[42] Pontos básicos extraídos de: Augustus Nicodemus Lopes, Ética na política e a universidade: Carta de princípios 2006. São Paulo, Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2006; Eberhard Busch, “Igreja e política na tradição reformada”, em Donald McKim (ed.), Grandes temas da tradição reformada, p. 160-175; “Um manifesto cristão”, em Francis Schaeffer, A igreja no século 21. São Paulo, Cultura Cristã, 2010, p. 157-239; André Biéler, A força oculta do protestantismo. São Paulo, Cultura Cristã, 1999; Abraham Kuyper, Calvinismo. São Paulo, Cultura Cristã, 2002, p. 85-115; Greg Johnson, O mundo de acordo com Deus, p. 92-101; Johannes Althusius, Política. Rio de Janeiro, TopBooks, 2003; David W. Hall, The Genevan Reformation and the American Founding. Lanham, MD, Lexington, 2005.

Fonte: Trecho do 6º Capítulo do livro “Teologia Cristã”  (Vida Nova), de Franklin Ferreira.
Extraído de: Voltemos ao Evangelho