Isvonaldo sou Protestante

Isvonaldo sou Protestante

quarta-feira, 31 de outubro de 2012


HALLOWEEN: INOFENSIVA BRINCADEIRA AMERICANA?

Por Jáder Borges
Chegamos na cidade de Minneapolis no mês de outubro e o final do outono anunciava que um rigoroso inverno viria pela frente, com possibilidades de tempestades de neve. À medida que o mês ia passando, casas e lojas iam intensificando as decorações do “Halloween”, o tradicional “dia das bruxas”, quando pregar peças nos outros em forma de sustos e festinhas embaladas com vampiros dançando com múmias, fica liberado. Crianças percorrem casas perguntando algo como “travessuras ou doces?”, e assim, todos esperam a noite cair, para que monstros e abóboras desfiguradas comandem a festa, ao som de muito agito, “Halloween”. O que esta palavra significa? A Funk and Wagnalls New Encyclopedia informa que este termo é aplicado à noite que precede o “dia de todos os santos”, uma espécie de abreviação-referência de “Allhallows Evening” (uma tradução mais literal de “Allhallows Evening” seria: “Noite de todos os consagrados”…).
Estão brincando com coisa séria…
A onda do Halloween vem crescendo no Brasil, levantada por centenas de cursos de inglês, escolas com fortes influências americanas, seriados de TV e por muitos jovens que tiveram contato com a América, seja através de estudo ou intercâmbio, e que têm fascínio pela cultura norte-americana. Na comemoração do Halloween, o que se escuta como justificativa é que este é um dos meios mais divertidos de se passar um pouquinho mais a cultura daquele país para os interessados e que tudo não passa de uma divertida e diferente aula de inglês, ou de sociologia, simplesmente carregada na maquiagem e nas sombras. Seria “brincadeira” mesmo? De onde vem o Halloween?
A “brincadeira” do Halloween não tem nada de brincadeira na sua origem. Quando se busca no tempoe na história, nesta época do calendário, os druidas (espécie de feiticeiros, antigos sacerdotes entre os gauleses e bretões), costumavam erguer fogueiras para invocação de Saman, o senhor da morte! Pelo menos outros quatro espíritos também eram invocados, com a finalidade de se consultar sobre o futuro ou sobre coisas ocultas. O povo celta também acreditava que nesta data os espíritos dos mortos voltavam à terra para visitar os lares durante a noite. Os romanos, após conquistarem a Grã-Bretanha, adotaram para si as crenças do Halloween, num de seus festivais rituais, em honra à deusa Pomona, senhora das frutas e das árvores.
Como podemos ver, a fonte dessa “brincadeira” traz consigo rituais e invocações a espíritos, tanto de demônios, como de mortos, coisas estas que a Palavra de Deus, a Bíblia, enfaticamente recomenda para não serem feitas, sob grande risco de tremendos distúrbios emocionais e espirituais. A Bíblia diz para não brincarmos e nem mexermos com o oculto, exatamente porque não existe nada de divertido nas densas trevas espirituais, de onde o Halloween se origina (veja Dt.18.9-14; 20.17,18; Is. 8.19; etc). Todos nós sabemos que quem brinca ao volante de um carro, pode se machucar seriamente; que quem brinca com fogo, pode se queimar… e, que quem brinca com uma arma, pode tombar, vítima de um disparo avassalador. Portanto, não brinque com práticas e representações que se aproximam daquilo que Deus avisou para não ser copiado, ou ridicularizado. As penas poderão ser muito duras.
Ora, irmão, deixe de exagero…
Vampiros, múmias, duendes travessos, fantasmas, feiticeiras e diabinhos; muitos diabinhos…. tudo infernalmente e “divertidamente” fantasiado… Que mal há nisto? Estes e muitos outros ícones do mal estão deixando de assustar as pessoas hoje em dia, e nem o velho diabo assusta mais. Evolução dos tempos? Não. Involução espiritual. O povo se distanciou da Palavra de Deus e penetrou por muitos caminhos, grande parte deles escuros e perigosos. Hoje, brinca-se com o diabo, porque não se acredita mais nele. Jesus Cristo sempre acreditou no diabo e teve com ele e suas hostes, grandes batalhas. O Filho de Deus sempre considerou sua astúcia e terrível maldade, sendo a única Autoridade a quem o diabo teme. Por que brincaria eu com o diabo, se nas páginas da Bíblia ele não tem nada de divertido? Ridicularizaria eu uma cascavel prestes a dar o bote?! Cutucaria uma onça com vara curta, estando a jaula aberta? Rapaz e moça… não brinquem com o diabo, pois ele não brinca com vocês. O que ele quer é devorar vidas! (1a Pe.5.8). Não se aproxime de qualquer ícone do mal nem se fantasie dele, sob o risco de sofrer terríveis perturbações espirituais, de origens demoníacas. Nem Jesus desacreditou da existência do diabo, e nem os anjos o fazem, por que faríamos nós? “Contudo, o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo… não se atreveu a proferir juízo infamatório contra ele; pelo contrário, disse: O Senhor te repreenda!” (Jd. v9). Quem nos informa isto é a Bíblia, a Palavra de Deus. E a Palavra de Deus não mente.
Depressões profundas, ideias suicidas, afundamento nos vícios, bárbaros assassinatos cometidos por jovens, escutar sons de gargalhadas horripilantes e vozes do além pela casa, tudo isso vem acontecendo com milhares de jovens em todo o mundo, que um dia ousaram “brincar” com o diabo ou com ícones a ele associados, e caíram, vítimas de seus laços mortais. Perderia Saman, tido como o senhor da morte, a primeira oportunidade de matar? Acredito que não. (“Saman” é um dos nomes com os quais Satanás se disfarça).
Finalizando, o meu conselho e incentivo é para que você não embarque nesta onda de “Halloween”, só porque a sua escola, ou a sua turma está fazendo tal festa. Professores, lembrem-se que também compete a vocês zelaram pelo bem-estar dos alunos. Não os empurre para iniciações com o mundo das trevas, nem por brincadeira! Desistam de qualquer “brincadeira” do Halloween enquanto ainda é tempo, pois ninguém precisa de Halloween para se divertir, exatamente por não haver diversão em maldições. O que todos nós precisamos é de seguir Jesus Cristo, para sermos verdadeiramente felizes.
Portanto, não vá com os outros, nem que os outros formem multidão. A história está repleta de casos em que a multidão estava completamente desnorteada, pagando um alto preço por causa disso. No caso específico do Halloween, muitos adolescentes e jovens entraram nessa “brincadeira” sem saber das profundas armadilhas espirituais escondidas por trás da “diversão” e hoje sofrem grandes tristezas. Jovens, não deem ouvidos à voz do povo, pois isso nem é bíblico, e trata-se de uma tremenda armação. A voz do povo nunca será a voz de Deus, ainda mais quando empurra pessoas para práticas que Deus condena! A Bíblia é que é a Voz de Deus! Escute o que ela diz: “Não seguirás a multidão para fazeres o mal”… (Êx.23.2a). “Então, perguntou Jesus aos doze: Porventura, quereis também vós outros retirar-vos? Respondeu-Lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna” (Jo 6:68).
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Jáder Borges Filho é pastor da Igreja Presbiteriana do Jardim Satélite, em São José dos Campos (SP), e foi secretário geral do Trabalho com a Infância da IPB (2006-2010). Estudou no Seminário do Recife e na Theologisches Seminar Ewersbach, na Alemanha. Promove o Congresso Infantil Primeiros Passos, voltado para quem trabalha com crianças, EBD e departamentos infantis.
Fonte: Editora Fiel, via Bereianos.

Halloween não é apenas uma brincadeira


Muita gente não sabe, mas o Dia das Bruxas, o Samhain ou Halloween, Ano Novo céltico (31 de outubro), tem uma conexão com o Dia de Todos os Santos da Igreja Católica Romana. Este era originalmente celebrado em maio, e não no primeiro dia de novembro.


No ano 608, o imperador romano Focas apaziguou o populacho dos territórios pagãos recentemente conquistados, permitindo-lhe combinar o antigo ritual de Samhain com o Dia de Todos os Santos. E, assim, o panteão de Roma, templo edificado para a adoração de uma multiplicidade de deuses, foi transformado em igreja.


Foram os imigrantes europeus, especialmente os irlandeses, que introduziram o Halloween nos Estados Unidos. Hoje, o Dia das Bruxas é muito importante para os lojistas, inclusive no Brasil. Salém, em Massachusetts (Estados Unidos), é a sede da bruxaria norte-americana. Ali celebra-se, na época do Halloween, o Festival da Assombração, para expandir a temporada turística de verão.


Tudo parece uma grande brincadeira, mas — conscientemente ou não — os participantes dessa festa estão se envolvendo com o ocultismo e o satanismo. Por outro lado, algumas denominações evangélicas, além de realizarem festas similares às juninas (o que já é um absurdo), estão promovendo também, no fim de outubro, uma espécie de Halloween, decorando o ambiente com abóboras, etc. Elas alteram o nome da brincadeira satânica para Jesusween ou Elohin!


Aos pastores destas igrejas quero apresentar um motivo melhor para festejar. Em vez de comemorarem o Dia das Bruxas, os pastores que se prezam deveriam se lembrar da Reforma Protestante. Na manhã de 31 de outubro de 1517, véspera do Dia de Todos os Santos, Martinho Lutero — sacerdote romanista, professor de teologia e filho de um minerador bem-sucedido — começou a questionar de modo mais contundente a Igreja Católica e a atacar a autoridade do papa.


Lutero, então, afixou na porta da Catedral de Wittenberg (pronuncia-se vitemberk) um pergaminho que continha 95 declarações. Estas, conhecidas como teses, eram quase todas relacionadas com a venda de indulgências (pacotes caros pagos pelo perdão, inclusive das pessoas que já haviam partido para a eternidade).


Em junho de 1520, Lutero foi excomungado por uma bula — decreto do papa que continha o seu selo oficial. Em dezembro do mesmo ano, com ousadia, ele queimou esse documento em reunião pública, à porta de Wittenberg, diante de uma assembleia de professores, estudantes e o povo. No ano seguinte, foi intimado a comparecer ante as autoridades romanistas, em Worms. E declarou: “Irei, ainda que me cerquem tantos demônios quantas são as telhas dos telhados”.


No dia 17 de abril de 1521, Lutero apresentou-se à Dieta do Concílio Supremo, presidida pelo imperador Carlos V. Para escapar da morte, teria de se retratar. Mas ele não faria isso, a menos que fosse desaprovado pelas próprias Escrituras. E asseverou perante todos: “Aqui estou. Não posso fazer outra coisa. Que Deus me ajude. Amém”.


Considerado herege, ao regressar à sua cidade Lutero foi cercado e levado por soldados ao castelo de Wartzburg, na Turíngia, onde ficaria “guardado”. Ali, ele traduziu o Novo Testamento para o alemão, obra que, por si só, o teria imortalizado. Ao regressar a Wittenberg, reassumiu a direção do movimento a favor da Igreja Reformada, e a partir daí os princípios da Reforma Protestante se espalharam por toda a Europa, com ajuda de homens de valor, como Ulrico Zuínglio, João Calvino, Jacques Lefevre, João Tyndale, Tomás Cranmer, João Knox, etc.


Assim como muitos teólogos estão fazendo hoje, os católicos romanos haviam substituído a autoridade da Bíblia pela autoridade da igreja. Eles ensinavam que a igreja era infalível e que a autoridade da Bíblia procedia da tradição. Os reformadores afirmavam que as Escrituras eram a sua regra de fé, de prática e de viver, e que não se devia aceitar nenhuma doutrina que não fosse ensinada por elas.


A Reforma devolveu ao povo a Bíblia que se havia perdido, passando a considerá-la a fonte primária de autoridade. Nesses tempos difíceis, em que muitos estão brincando com o pecado e até com festas satânicas, quantos cristãos sérios estão dispostos a protestar contra as heresias verificadas entre nós (2 Pe 2.1; At 20.28), à semelhança de Lutero?


Ciro Sanches Zibordi


Com suas teses, Martinho Lutero mudou
história 495 anos atrás
Em 31 de outubro é comemorado por evangélicos de todo o mundo o dia da Reforma Protestante. Em 1517, um dia antes da festa católica de “Todos os Santos”, o monge agostiniano Martinho Lutero pregou publicamente suas 95 teses, na porta da Catedral de Wittenberg (Alemanha). Seu apelo era por uma mudança nas práticas da Igreja Católica, por isso o nome “Reforma”.

A iniciativa teve consequências por toda a Europa, dividiu reinos, gerou protestos e mortes. E mudou para sempre a Igreja. Para alguns, Lutero destruiu a unidade do que era considerada “a” igreja, era um monge renegado que desejava apenas destruir os fundamentos da vida monástica. Para outros, é um grande herói, que restaurou a pregação do evangelho puro de Jesus e da Bíblia, o reformador de uma igreja corrupta.

O fato é que ele mudou o curso da história ao desafiar o poder do papado e do império, e possibilitou que o povo tivesse acesso à Bíblia em sua própria língua. A principal doutrina de Lutero era contra o pagamento de penitências e indulgências aos lideres religiosos. Ele enfatizava que a salvação é pela graça, não por obras.

Conta-se que muita coisa mudou dentro daquele monge até então submisso ao papa quando, em 1515, Lutero começou a dar palestras sobre a Epístola aos Romanos. Ao estudar as Escrituras se deparou com o primeiro capítulo de Romanos, que decretava “o justo viverá pela fé”. Desvendava-se diante dele o que é conhecida como “justificação pela fé”, ou seja, a justificação do pecador diante de Deus não é por um esforço pessoal, mas sim um presente dado àqueles que acreditam na obra de Cristo na cruz.

O movimento encabeçado por Lutero ocorreu durante um dos períodos mais revolucionários da história (passagem da Idade Média para o Renascimento) e mostra como as crenças de um homem pode mudar o mundo.

A controvérsia acabou sendo, segundo historiadores, maior do que Lutero pretendia ou imaginara. Porém, ao atacar a venda de indulgências por parte da igreja, acabou opondo-se ao lucro obtido por pessoas muito mais poderosas do que ele. Segundo Lutero, se era verdade que o Papa tinha poder de tirar as almas do purgatório, devia usar esse poder, não por razões egoístas, como a necessidade arrecadar fundos para construir uma igreja, mas simplesmente por amor, e devia fazê-lo gratuitamente. A idolatria aos santos também foi um dos grandes pontos de discórdia com os lideres católicos.

A maioria dos historiadores concorda que Lutero teria tentado apresentar seus argumentos ao Papa e alguns amigos de outras universidades. No entanto, as teses colocadas na porta da Catedral de Wittemberg e os muitos argumentos teológicos impressos e distribuídos por ele nos meses seguintes, acabaram se espalhando por toda a Europa, fazendo com que ele fosse chamado ao Vaticano para se retratar perante o Papa. A partir de então, entrou abertamente em conflito com a Igreja Católica.

Acabou excomungado em 1520, pelo papa Leão X. Alegava-se que ele incorria em “heresia notória”. Devido a esses acontecimentos, Lutero temendo a morte, ficou exilado no Castelo de Wartburg, por cerca de um ano. Durante esse período trabalhou na sua tradução da Bíblia para o alemão, resultando na impressão do Novo Testamento em setembro de 1522.

Sobre o legado de Lutero, o famoso pastor Charles Spurgeon escreveu:

“Lutero aprendeu a ser independente de todos os homens, pois ele lançou-se sobre o seu Deus! Ele tinha todo o mundo contra ele e ainda viveu alegremente.

Se o Papa excomungou, ele queimou a bula de excomunhão! Se o Imperador o ameaçou, ele alegrou-se porque se lembrou das palavras do Senhor: “Os reis da terra se levantam, e os príncipes dos países juntos. Aquele que está sentado nos céus se rirá” (Salmo 2).

Quando disseram-lhe: “Onde você vai encontrar abrigo se o Príncipe Eleitor não protegê-lo?”. Ele respondeu: “Sob o escudo amplo de Deus”. Lutero não podia ficar parado. Ele tinha que escrever e falar! E oh, com que confiança ele falou! Abominava as dúvidas sobre Deus e as Escrituras!”

Para algumas vertentes do catolicismo, os protestantes são hereges. Para outras, “irmãos separados”. O movimento originado por Lutero ficou conhecido como Protestantismo e seus seguidores como “protestantes”. O termo é pouco comum no Brasil, onde se prefere usar “evangélicos”. As informações são do Protestante Digital.

Fonte: Gospel Prime


Sermão pregado pelo Reformador Martinho Lutero, para o Domingo da Santíssima Trindade de 11 de junho de 1536:

"Havia um homem dos fariseus que se chamava Nicodemos, um principal entre os judeus. Este veio a Jesus de noite e lhe disse: “Rabi, sabemos que és mestre vindo de Deus, porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes se Deus não estiver com ele. Respondeu-lhe Jesus: “Em verdade, em verdade te digo se o homem não nascer de novo, não poderá ver o reino de Deus”. Nicodemos lhe disse: “Como pode um homem nascer de novo sendo velho? Pode por acaso entrar uma segunda vez no ventre de sua mãe e nascer?”Respondeu-lhe Jesus: “Em verdade, em verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito não poderá entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; o que é nascido do Espírito é Espírito. Não te maravilhes do que eu te disse: é necessário nascer de novo. O vento sopra onde quer e se ouve o seu som; mas ninguém sabe de onde vem e nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito”. Perguntou-lhe Nicodemos: “ Como pode acontecer isso?” Respondeu-lhe Jesus: “Tu és mestre de Israel  e não sabe disso? Em verdade, em verdade te digo que aquilo sabemos falamos, e aquilo que temos visto testificamos, mas vós não recebeis o nosso testemunho. Se eu vos tenho dito coisas terrenas e não acreditastes, como acreditareis se eu vos falar das celestiais? Ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu, o Filho do Homem, que está no céu. E assim como Moisés levantou a serpente do deserto, é necessário que o filho do homem seja levantado para que todo aquele que Nele crer, não se perda, mas tenha vida eterna. Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito para que todo aquele que Nele crer não se perda, mas tenha vida eterna”. João 3:1-16

COMO ALCANÇAR A SALVAÇÃO, a pergunta principal da humanidade

Hoje ainda não lhes foi explicado o Evangelho. Escreve o evangelista São João que certo fariseu de nome Nicodemos veio ao Senhor de noite e teve com ele uma conversa, e Cristo, de sua parte, lhe pregou um sermão para aquele homem piedoso que realmente ele não sabia que fazer com ele: quanto mais o ouvia, menos o entendia.

Sobre essa historia se prega todo ano. Mas como hoje o momento novamente é propício, falaremos mais uma vez sobre ela. Desde que o mundo existe, os sábios que existem nele se perguntam: “De que modo se pode alcançar a justiça e a bem-aventurança?” Essa questão se discute desde quando há homens na terra, e continuará sendo discutida até que o mundo chegue a seu fim. Ainda nos nossos dias atuais pode-se ver com quanto ardor debatemos esse assunto. Todos crêem estar em condições de emitir um juízo, porém, com seu juízo, revelam sua ignorância. Esta mesma questão, como nos informa o Evangelho para o dia de hoje, Cristo a tratou com um homem que, falando nos términos da lei judaica, era uma pessoa corretíssima e muito instruída.

Aquele homem quer discutir sobre aquilo que devemos fazer e como devemos viver para sermos salvos, e espera que Cristo lhe dê uma resposta. “Porque tu” ele diz, “és mestre vindo de Deus, pois os sinais que tu fazes vão além da capacidade de qualquer ser humano. Nós os fariseus ensinamos, no campo do espiritual, a lei de Moisés. Opinas tu que há algo melhor que possa nos recomendar?” Surge assim na discussão entre ambos a pergunta sobre as obras, ou seja, a vida perfeita – a pergunta que inquieta aos homens de todas as gerações.

I. O que tenta alcançar a salvação pelos caminhos das obras, não a alcançará

Já os antigos romanos meditavam com muita seriedade sobre qual era o caminho reto a seguir, acerca de como, por exemplo, se devia lidar corretamente com a casa e a família. Seus interesses se dirigiam diante de toda a exata determinação do que exige a “justiça”. Mas com isso se meteram em um problema que não tem solução, como eles mesmos tiveram que admitir: “excesso de justiça, excesso de injustiça.” Por qual motivo? Porque a “justiça” no sentido estrito da palavra está fora de nosso alcance. Por isso que se tem que buscar o caminho do meio e adaptar-se às circunstâncias. Nesse sentido também se costuma dizer: “acertou como os atiradores quando acertam o alvo”, quer dizer, não graças a sua pontaria, senão graças a um impacto fortuito. Pois um bom atirador e até um eventual ganhador é também aquele que chegou mais próximo do alvo. Assim o reconhecem até os juristas. Tem que se dar por satisfeitos se com seu governo e administração da coisa pública conseguem que ninguém inflija a outro injustiças muito grosseiras, ainda quando seja impossível acertar e aplicar rigidamente a justiça em sua forma pura. Porém quando chega ao poder um desses desorientados, só causa alvoroço, distúrbios e dissensões.

Assim toda autoridade secular tem que se ater ao que é possível. Não obstante, a razão gostaria de elevar a salvação ou a uma ordem política perfeita pela via da injustiça. Porém tal coisa é impossível. Que fazer então? Quase se diria que acontece como com aquele que queria subir uma alta montanha e por não poder fazer, exclamou: “Pois bem, ficarei aqui”. No entanto, Cristo nos diz: “Se vossa justiça não for maior que a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos céus” (Mateus 5:20). Ali no sermão do monte o Senhor explica qual o verdadeiro cumprimento da lei, e o que significa acertar o alvo: não se irar, nem mesmo no recôndito do coração; não cobiçar nem mesmo em pensamentos a mulher ou os bens do nosso próximo. Ali se coloca diante dos nossos olhos a justiça mais perfeita. E, apesar de tudo os homens acreditam poder alcançá-la mediante o cumprimento da lei. “Não queremos nem pretendemos”, dizem, “acertar exatamente o alvo”; se o conseguem com certa aproximação, se têm por desculpados. Nós, porém, atentamos para o que nos ensina Cristo: “Ninguém pode ver o reino de Deus ao menos que tenha acertado o alvo”. E no Apocalipse lemos: “Neste tabernáculo não entrará nenhum imundo”. Que devemos fazer pois? Também exclamaremos: “Temos que ficar aqui embaixo, não podemos subir a montanha”?

Tampouco Nicodemos sabe outra coisa que esta: “Eu sou uma pessoa correta, vivo piedosamente conforme a lei e transito pelo caminho que conduz ao céu”. E agora ele quer que esse Mestre lhe expresse sua aprovação ou desaprovação – ainda que não gostaria de pensar nesta última opção, senão espera que o Senhor lhe responda: “Sim, Nicodemos, és perfeito, e ainda: Já és bem-aventurado e os demais entrariam no reino dos céus se fizessem como tu”. Porém, ocorre justamente o contrário: Cristo o bota a correr do reino dos céus: “Por certo, és um homem bom. Porém se não nasces de novo, tua justiça não te servirá de nada.” O “nascer de novo”: esta é a justiça na qual insistimos tanto em nossa pregação. Ou seja: Cristo não tem a intenção de rechaçar a lei, antes quer que ela seja cumprida. “Porém”, diz “a forma como  vós a cumpríeis não tem validade. Cumpríeis a lei só em vossa imaginação, mas não na realidade. Os Dez Mandamentos são perfeitos, e quero que os cumpra. Quem quiser entrar no céu tem que cumpri-los. Porém, com o vosso conceito do ‘direito’ e com a vossa justiça, não os estais cumprindo”. Não temos outra justiça melhor do que a que resultaria do meu cumprimento de tudo o que se manda nas duas tábuas da lei de Moisés. Então seríamos “justos” – porém só justos conforme a justiça dos fariseus, e não conforme a justiça exigida pela lei.

II.  Só a regeneração nos torna participantes da salvação eterna

É-nos dito, pois: “lhe é necessário nascer pela segunda vez”. Para Nicodemos isso é chocante. Ele pensa em outras leis, alem do ponto das leis mosaicas, tais como as que achamos no papado e no judaísmo farisaico; espera que Cristo estabeleça artigos novos, leis novas, todo um código novo. Porém, nada disso: Cristo não diz uma palavra quanto a leis e estatutos novos. “Pois o que possuis em matéria de leis já é mais do que podeis cumprir. Eu, em troca, os prego assim: Vós, vós mesmos precisam chegar ser outras pessoas. Eu não falo de fazer ou não fazer, senão de chegar a ser. Tu tens que chegar a ser outro homem, tens que nascer de novo. Isso será então a justiça que acerta o alvo, a justiça sem mancha nem ruga, a justiça que conseguirá entrar no céu”. Para Nicodemos, ao ouvir Jesus falar dessa maneira, lhe vem certas duvidas. Essas são palavras novas para ele. “Entrar eu pela segunda vez no ventre de minha mãe? Tolice!” Porém a essas tolices Cristo acrescenta outras piores: “não te digo que tenhas de nascer de novo de pai e mãe humanos, senão da água e do Espírito Santo”. Agora, Nicodemos fica totalmente confundido. “Que homem e mulher são esses: água e Espírito?” E como se ainda não fosse suficiente, Cristo lhe pergunta: “Tu és mestre de Israel e não sabes disso?”, o que soa como zombaria manifesta. E sem dúvida, Cristo tem que falar assim porque o assunto é totalmente novo para Nicodemos. Para explicá-lo Cristo recorre a uma ilustração como se quisesse dizer a Nicodemos: “queres que eu desenhe para que tu entendas? Digo-te porém: se não podes captar com a razão, capta-a com a fé. Pois se não acreditaste quando te falei coisas terrenas, como crerás se eu te falasse das coisas espirituais? Nós falamos o que sabemos, e o que sabemos é a verdade e vós não acreditais Pois bem: se alguém não quer crer, deixe-se!”

A nossa pregação, iniciada naquelas condições por Cristo, se apoia exclusivamente na fé. Só com a fé se pode compreender da “regeneração pela água e pelo Espírito”. O Espírito é o homem e a água a mulher. O que isso implica, não o podes medir com a tua razão. Daí o tema que pregamos seja artigo de boas obras ou de fé. E já os papistas aprenderam algo de nós ao dizer que com a fé e a graça começa a vida verdadeiramente cristã. Antes só se falava da missa privada e da invocação dos santos; agora, em troca, dizem que a fé, efetivamente, salva, porém não só a fé, senão a fé em cooperação com nossas obras. E essa cooperação, apóiam, é imprescindível. E a nós criticam duramente afirmando que proibimos as  obras e induzimos os homens à preguiça. Todavia lhes falta bastante para serem tão piedosos e estarem tão próximos da verdade como Nicodemos. Nós nunca proibimos as boas obras; mais ainda: se dizemos algo a respeito das boas obras, nossa própria gente fica logo com raiva, o qual é um claro sinal de que realmente pregamos sobre esse tema.

E apesar disso os papistas seguem blasfemando de nós. Eles ensinam: “as boas obras têm quer vir com a ajuda da fé – vãs palavras que demonstram que esses mestres não têm noção do que é fé, boas obras, nascer do Espírito, nascer de Deus. É por isso que é necessário que estudemos com cuidado o nosso presente texto (João 3:5) e outros iguais. Aqui se fala de “nascer de novo”, não de “fazer algo novo”. Primeiro deves plantar uma arvore, e logo terás também os frutos. Segundo seja boa ou mal a arvore, serão também bons ou maus os frutos. O mesmo ocorre aqui. Nós chamamos um novo nascimento, quer dizer, uma nova maneira de ser, uma nova pessoa, não somente um novo vestido ou novas obras. Quando eu era monge, minha vestimenta era distinta e também minhas obras eram; as sete horas para as orações, a missa, o crisma, o celibato – todas essas eram outras obras, muito dessemelhantes de minhas obras anteriores. Porém a simples mudança das obras não é o que vale; que mude a pessoa, que mudem os pensamentos e o ânimo: esse é o novo nascimento. Portanto não se pode sobrepor as obras à fé. Em que uma criança contribui para que seja concebida e venha à luz? Isso é obra dos pais; a criança não faz nada para que suas perninhas e todos os seus membros cresçam; não é  parte ativa nesse processo de crescimento, senão parte meramente passiva. Qual foi, nesse sentido, a nossa contribuição? Onde estão as obras cooperantes? Queria saber então de onde vem essa insistência de que se deve agregar também obras , e logo obras próprias nossas!

É verdade: a mãe leva a criatura em suas entranhas e lhe dá o calor materno; no entanto, não é obra dela que essa criatura se origine. De igual maneira quem pregamos e batizamos somos nós, no entanto, a palavra e o batismo não são nossos; somente pomos à disposição nossa boca e nossas mãos. Na realidade a palavra e o batismo são de Deus, no entanto somos chamados colaboradores de Deus (1 Coríntios 3:9). É, por certo, uma colaboração bastante modesta a nossa. Não que contribuamos com obra ou a palavra; o único com que contribuo ao batizar e pregar é com a voz, os dedos, a boca. Assim, na geração de uma criança, o pai e a mãe só contribuem com a carne e o sangue como fatores seus; a criatura concebida não contribui absolutamente em nada, senão que “se deixa criar” por Deus todos os seus membros, e a mãe a leva em seu seio. Há alguma razão então para que eu retire a honra de Deus e diga que eu mesmo me gerei e que minha própria atuação contribuiu para que eu nascesse? Isso não significaria um agravo a Deus? Por acaso não somos chamados seus filhos, obras de suas mãos? Se é verdade que as obras colaboram na regeneração, vejo-me obrigado também a achar que eu colaborei com Deus – e isso é uma blasfêmia contra Ele. Mas se é verdade que eu sou nascido de novo, como diz Cristo, não tenho que colaborar com nada, senão que tenho que permanecer quieto e passivo para aquele que é meu Pai e Criador me faça nascer de novo como filho seu. Nesse sentido o apostolo Paulo declara que “nós somos uma nova criação, criados em Cristo para boas obras”. Como se vê, Paulo não se esquece das boas obras, mas as menciona não por que tenham contribuído em algo, não por que sejam elas que produzem a nova criação, mas “para que andássemos nelas”. Se é certo que minhas próprias obras contribuem para que eu seja uma nova criação, bem posso me gloriar de ser meu próprio Deus; porque o criar é obra exclusiva de Deus. Se eu colaboro, então Deus não é meu único Deus, senão que eu também o sou. Por outro lado, se Ele é o único, não o posso ser eu também, como se afirma muito claramente no Salmo: “Ele nos fez e não nós a nós mesmos; somos seu povo e ovelhas de seu pasto”. E não obstante, certa gente incorre em tremenda tolice de sustentar que a fé cria homens novos, mas com a ajuda das obras. Mas precisa de toda lógica dizer que eu me crio a mim mesmo e sou Deus junto com Deus, de modo que Ele me tem a seu lado como um Deus adjunto. Assim como eu não me formei a mim mesmo no corpo de minha mãe, senão que foi Deus quem me formou, valendo-se dos meus membros e do calor de minha mãe, assim tampouco na regeneração somos convencidos mediante nossas próprias forças e obras, senão unicamente pelas mãos e o Espírito de Deus. Em consequência, é ilícito acrescentar obras à fé; do contrário, não é Deus só o que me cria, senão que eu sou simultaneamente com ele meu próprio criador. Ao fogo do inferno com um criador que se cria a si mesmo! A Escritura me chama de uma nova criação de Deus e, não obstante, eu haveria de atribuir a nova criação a mim mesmo? De esse modo eu seria criação e criador, obra e obrador em uma mesma pessoa. A toda luz, esses são pensamentos diabólicos e ensinos de homens cegos. Devemos observar estritamente ao que aqui nos ensina o evangelista São João. Também Paulo nos chama “novas criaturas”. Da mesma maneira, pois, como não contribuo para meu nascimento corporal e pela minha concepção, senão que sou parte meramente passiva e ‘me faço’ gerar e criar, da mesma maneira tampouco as obras contribuem em nada para que o homem seja regenerado. Se não for assim, Deus já não será apenas Deus, senão que nós seremos Deus junto com Ele e seremos nossos próprios progenitores. Mas quando a criatura já está gerada, e quando a criancinha já está formada no seio materno com todos seus membros, a mãe diz: “Sinto que o nenezinho faz as obras que em seu estado pode fazer”. Porem, só o já criado dá esses sinais de sua existência, e só quando foi dado à luz move seus membros, e fica com vida, aprende a caminhar e a cantar. Mas se não tivesse sido criada previamente, agora não se moveria.

III. O regenerado se manifesta como crente mediante a prática de boas obras.

Nossa pregação quanto à nova criação é, pois, uma vez que fomos regenerados, devemos andar em boas obras. Nesse sentido fazemos algo: pregamos; aqueles, todavia, que são convertidos não fazem nada para chegar a sê-lo, já que somos criação e obra de Deus, “criados para que andássemos em boas obras” (Efésios 2:10). Essas palavras nos falam com inteira claridade. A semelhança com uma criatura humana é evidente. A criatura deve se separar do corpo materno; antes de estar completamente formada, não contribui em nada para esse fato. Por que Deus a beneficiou de membros? Para se mover; uma vez nascida deve caminhar, ficar de pé, comer, beber, trabalhar, mandar, pois para isso nasceu. Se não fizesse nada, seria um tronco ou uma pedra. Porém deve fazer algo, para isso foi criada. A isso se refere Cristo quando disse ao fariseu Nicodemos: “Todos vós quereis ser vossos próprios criadores. Possuíeis a lei de Moisés e esforçai-vos para cumpri-la. Porem não obtereis êxito, uma vez que ainda não nascestes de novo; não possuíeis o Espírito Santo. Por conseguinte todas as vossas obras são obras do velho homem. Podeis, por exemplo, construir uma casa ou fabricar um sapato, porém tais obras não têm nada haver com o céu. Não são obras que conferem justiça a quem as faz. Também os gentios são capazes de fazê-las. Ademais trazeis oferendas, circuncidais a vossos filhos, usais as vestiduras sagradas – também isso está ao alcance de qualquer pagão.  Por isso digo que são obras do homem velho, nascido uma só vez, a saber, do seio de sua mãe. Mas se quereis fazer obras que sejam de valor diante de Deus e que tragam proveito ao próximo, precisais nascer de novo. Vós por sua vez acreditam que o fazer obras que exteriormente parecem ser boas já está assegurada a vossa entrada no céu, ainda mesmo o coração não se achando no estado devido. Porem não façais as coisas ao contrário, não comeceis pelas obras!”

Também os papistas são da opinião de que se pode merecer o céu com suas obras que acompanham a graça. É um engano. As boas obras não podem ajudar de nenhuma forma, nem como obras que precedem a graça, nem como obras que lhe correm paralelas, nem tampouco como obras que seguem a graça, senão que tudo tem que proceder do Espírito Santo e da água. “No lugar de pai e mãe vos darei água e o Espírito Santo”, reza a pregação de Cristo. Onde isso é assim, posso dizer: “minhas próprias obras não me criaram, nem me geraram como nova criação, nem tampouco poderão fazê-lo, posto que fui criado e gerado da água e do Espírito”. Também resulta agora fácil provar e julgar os espíritos fanáticos. Pois o que nasceu, o que já foi feito e criado, não tem necessidade de ser feito e criado. Como podem dizer então que as obras subsequentes à graça me geram e me criam? Fazer boas obras é necessário; correto – porém não para chegar a ser por meio delas uma nova criação. Portanto há de se diferenciar entre fé e obras; assim, aqui o Senhor nos ensina. As obras feitas antes da fé são condenadas como pecado. Em contrapartida, as obras feitas por quem já tem fé são obras preciosas e boas. Todavia, tampouco essas servem para nos converter em homens justos, senão para louvar e glorificar a nosso Pai que está nos céus (Mateus 5:16) e para causar alegria aos anjos. Pois quem por meio de boas obras e de uma pregação frutífera honra ao Pai, receberá também dele a recompensa correspondente. Se não andas em boas obras, tampouco nasceu ainda para elas (Efésios 2:10).

Onde se ensina e se vive dessa maneira, a verdade aqui ensinada por Cristo permanece vigente em toda a pureza. Cristo diz que temos que nascer, Paulo reforça que temos que ser criados por Deus. Falando em termos de comparação com uma criatura: a criatura não se gera nem se faz nascer a si mesma, senão que depois de ser criada pode fazer obras. Analogamente, a árvore frutífera depois de plantada dá frutos. Não se diz: “Se não tiver peras na árvore, essa não é uma árvore”, senão o inverso. Por isso cresce a pereira, para que dê peras, para glória e louvor de Deus o Criador, e para que nós as comamos. Assim, a obra de Deus é a que precede, e a nossa obra é a que segue. Igualmente: se não existisse ferreiro, não existiria machado, pois para que machado corte, previamente precisa ser fabricado. Só um perfeito idiota poderia dizer: “Faz-me um machado que colabore na sua fabricação, de maneira que mediante seu despedaçar e cortar se transforme em machado”. Primeiro se fabrica o machado, e só então se pode empregá-lo nos trabalhos aos quais a ele se destinam.

Sobre esse tema se discute de modo por demais obstinado desde os primórdios da humanidade. E esse é o nosso ensino no qual insistimos com toda energia, afim de que conserve o lugar correspondente na igreja e para evitar que penetrem nela pessoas que atribuem um efeito também às obras precedentes ou concomitantes. Primeiro deve estar a criação, o nascimento: logo pode seguir a obra. Nicodemos não pode compreender isso porque ele vive na crença equivocada de que obterá êxito para entrar no céu graças as suas obras precedentes. Cristo se opõe a ele com um sonoro NÃO: “o que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. Todos aqueles que ensinam algo que contrarie esse artigo são falsos mestres. Nós, todavia, cremos e damos graças a Deus pelo fato de que ao fim foi trago a luz e posto ao conhecimento de todos qual é o verdadeiro caminho da vida: “Faz com que eu seja regenerado sem a colaboração de nenhuma obra minha, mas apenas pela palavra e pela fé”. Se tal é o caso, sou filho de Deus, tenho livre acesso a casa de meu Pai, e tudo quanto faço é bom e aceito diante de seus olhos. Se meu pé escorrega, Ele me castiga.  Se eu sou uma arvore boa, levo frutos bons. Se a árvore é tomada por vermes nocivos, o Pai os extermina. Se eu sou um bom machado, sirvo para cortar; se no machado se produz uma falha, também esse mal poderá ser sanado pelo Pai. Por isso vós os fariseus estais muito distantes do alvo com vossas obras precedentes; porque dessas resulta não mais que uma justiça válida diante dos olhos do mundo e para ela vale o que acabo de dizer quanto ao atirador. A justiça proveniente da fé acerta o alvo: aponta ao centro mesmo e penetra até a vida eterna – não por nossos próprios meios, senão em união com aquele que é o Mediador, do qual se fala na parte final do evangelho (João 3:14 e similares). Fomos criados por Ele e somos recriados por Ele; por meio Dele somos uma criação perfeita, apesar de ainda não estarmos livres de faltas e debilidades.

Isso se chama falar de forma cristã sobre a regeneração, da qual os papistas, os turcos e os judeus não têm o menor conhecimento. Estou seguro, portanto, que no Concílio[1] dos papistas rejeitarão esse artigo, já que a norma deles é julgar a obra de Deus segundo eles mesmos a entendem. Cristo, porém, sustenta invariavelmente: “O que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. É preciso, pois, deixar de lado os pensamentos próprios, a sabedoria própria, as opiniões próprias e ouvir somente a palavra por meio da qual é criado em ti um coração novo sem a tua contribuição, como o novo ser no corpo da mãe. Este texto soluciona a questão que se vem debatendo no mundo inteiro sobre como é possível uma vida bem-aventurada e feliz. Não há outro meio que a justiça efetuada pela regeneração não atinja o alvo.

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Original em espanhol: Nos Es Necesario Nacer De Nuevo.
Convertido para o formato digital por Andrés San Martín Arrizaga, 27 de Fevereiro de 2007
Tradução: Luciano de Oliveira
Revisão: Armando Marcos Pinto
18 de outubro de 2012
Baixe em PDF aqui!
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domingo, 21 de outubro de 2012



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Por Márcio Jones

Seus movimentos são fria e milimetricamente calculados. Caminhar lento e passos firmes. Olhar penetrante, persuasivo, e fala convincente, com alternâncias de tonalidade e volume. Um levantar de mãos aqui, um soco no ar ali, e desse modo ele vai conduzindo a sua reunião "profética". Nada disso, no entanto, se dá antes que o grupo de louvor engendre a atmosfera emocional propícia, que tenha o condão de fazer fluir lágrimas pelo rosto dos ouvintes ou, ao revés, os conduza à visualização de uma situação de guerra, em marcha, muito bem delineada pelas películas retumbantes da bateria e pelos gestos efusivos das dançarinas. Ato dois: os fieis se encontram à sua mercê. Hipnotizados, anestesiados pela "unção" que parece emanar da epiderme do pregador. Transpiração, calafrios, choro e rajadas de línguas permeiam o ambiente. Até que, sob a orientação do pseudo-mensageiro, quão logo se dispersa a “atmosfera espiritual”, apanham a Escritura, abrem-na e leem um único versículo - quando não são desencorajados a abri-la. Tomam assento. Inicia-se a interminável digressão do pregador, sob um tema sempre curioso, intrigante ou cabalístico, que introduz a aura gnóstica de revelação só a ele acessível, por óbvio. O texto é o ponto de partida, mas não o de chegada; aponta a direção, mas interessam mais os desvios do caminho. Ao final do sermão, exclamam um e outro: "por dezenas de vezes li tal texto e nunca notei o aludido pelo pregador. Verdadeiramente ele é um homem ‘ungido’”! Não me refiro a Jonas Nightengale, o ficto evangelista protagonizado por Steve Martin em Fé demais não cheira bem, mas à figura do pastor — neopentecostal —  de nosso tempo.

Por conseguinte, apelo: pastor, exponha a Cristo crucificado, e não suas técnicas persuasivas de manipulação de massas. Já foi dito que o púlpito não é um local para discurso acerca de preferências e opiniões pessoais, para pirotecnias ou extravasar de megalomanias, mas para a fiel exposição da Sagrada Escritura.  Utilizar-se do momento de maior preeminência durante um culto público para turvar mais ainda a visão daqueles que já andam a tatear em um contexto cristão de absoluto analfabetismo bíblico é um atentado contra a obra do Senhor. A pregação do evangelho, no dizer de Calvino, é centro da vida e obra da igreja. Tal momento não serve de palanque para teatralidade ou demonstração de uma espiritualidade que mais estatui um sistema de castas, à semelhança do existente na Igreja Romana, levando as ovelhas a vislumbrar um “nível de intimidade com Deus” ao qual elas nunca chegarão. Entenda que os pregadores de maior destaque na história da igreja foram aqueles que não se apegaram a nenhuma forma de exibicionismo ou a subterfúgios psicológicos, antes se esvaziaram até que nada mais de si restasse. Compreenderam que, ao se apequenar, pela graça de Deus, poderiam se fazer hábeis instrumentos nas mãos do Senhor. Compreenderam que ao Senhor pertence a glória, no diapasão do dizer de C. H. Spurgeon, ao exprimir seu anseio como cooperador do Reino, nas seguintes palavras: “que eu seja sepultado em algum lugar silencioso, onde as folhas caem e os pássaros brincam e onde as gotas de orvalho brilham nos raios de sol; e se acaso tenha que ser escrito algo sobre mim, que seja o seguinte: "aqui jaz o corpo de um "João Ninguém", esperando pelo surgimento de seu Senhor e Salvador, Jesus Cristo". É necessário que Ele cresça e nós diminuamos (Jo 3:30).

Paulo, o abnegado apóstolo, ao pregar aos cristãos de Corinto deixou-lhes claro que não fez sobressaltarem os seus dons naturais como se o evangelho de Jesus se resumisse à ostentação de linguagem ou de sabedoria (1 Co 2:1), mas que não teve outro objetivo a não ser expor a Cristo e este crucificado (1 Co 2:2). O apóstolo não somente entendia o que estritamente lhe competia anunciar, como despenseiro que da obra de Deus, contudo também se encontrava imbuído até as entranhas por um santo temor por entender que sua incumbência não estava calcada em mérito pessoal, e sim na transbordante misericórdia proveniente de Deus (2 Co 4:1). A mensagem do evangelho não demanda muletas para que alcance plena eficácia, métodos mirabolantes que o façam mais atrativo para quem deseja uma religião que o faça lembrar-se de tudo que o agrada no mundo. E nesse itinerário tudo é permitido, sob a bandeira do pragmatismo: o importante são os resultados, não importando os meios.

O evangelho autêntico continua a ser o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê. O pregador não necessita de lançar mão de outro meio a não ser a fiel exposição da Escritura. Ora, penso que se o evangelho se constituísse em algo alcançável mediante esforços intelectuais ou cognitivos, seria perfeitamente lícito ao homem, além de gloriar-se por seus próprios méritos, entupi-lo com toda a sorte de mecanismos psicológicos para arrebanhar uma gama de simpatizantes que sequer cogitam o porquê de poderem se declarar cristãos e de serem verdadeiramente salvos. Não é este, porém, o evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual não atribui glória a homem algum, mas confere única e exclusivamente a Si mesmo, o Senhor da Glória, todo o louvor, majestade, domínio, aclamação, honra pelos séculos dos séculos. Não a nós Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória, por amor da tua misericórdia e fidelidade (Sl 115:1).

Sola scriptura



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Por Solano Portela

Todos nós experimentamos, como alunos, os efeitos da secularização profunda do nosso ensino. Ele se mostra não apenas incapaz de produzir uma visão holística de vida, mas também, para os cristãos, promove uma dicotomia entre a fé a as áreas de conhecimento nas quais fomos treinados. Todos os que foram resgatados por Cristo deveriam relembrar os ensinamentos bíblicos sobre o Deus Soberano a quem servem, constatar a abrangência dessas doutrinas em suas áreas de atividades e trazer paz ao pensar e ao caminhar como cristãos em um mundo hostil. Quando falamos de educação e ensino, portanto, temos temas pertinentes a todos nós.

Desde que pisamos nesta terra vivemos um dilema no que diz respeito aos caminhos do conhecimento humano. Quer tenhamos sido encaminhados em lares cristãos, quer tenhamos sido alvo de conversão posterior, encontramos dificuldade em reconciliar o chamado e os princípios cristãos com a carreira. Em compatibilizar as determinações e ensinamentos da Palavra de Deus, com a aquisição progressiva de conhecimentos a que somos submetidos desde a nossa tenra idade e com a profissão à qual nos dedicamos, depois de firmarmos nossos próprios horizontes e interesses.

Desenvolvemos com muita facilidade o pensamento de que as coisas espirituais, as questões relacionadas com Deus, as determinações da Palavra dizem respeito ao nosso futuro espiritual. Por vezes compartimentalizamos esses interesses às ocasiões de culto. Enquanto isso, absorvemos conhecimentos diversos, seguimos uma carreira, educamos os nossos filhos e somos educados em um universo estanque, distanciado e divorciado dos conceitos das Escrituras.

Não é que duvidemos da veracidade da Bíblia – até aceitamos tudo e abraçamos doutrinas contidas na Palavra que, muitas vezes, não entendemos plenamente, mas as recebemos tão somente pela fé. No entanto, deixamos que essas convicções não perturbem muito a nossa vida diária, nem as carreiras e profissões que escolhemos. As questões espirituais são segregadas àquelas épocas e ocasiões que dedicamos à expressão de nossa religiosidade – cultos públicos e devoções privadas.

Se analisarmos com honestidade a nossa postura de vida, vamos nos encontrar, na realidade, em uma situação de conflito mental em muitos sentidos: Justamente por sermos cristãos e desejarmos estar no seio da “vontade de Deus” somos escravos de um complexo de culpa por nos dedicarmos a atividades várias, às demandas da nossa profissão, quando a igreja e o “trabalho do Senhor” clamam por atenção, ação e envolvimento. Somos, portanto:

• escravos de uma visão que separa o secular do sagrado; o ganha-pão da adoração; a honestidade da vida e prática cristã da desonestidade e descaminho dos negócios.

• escravos de uma visão curta que não enxerga a amplitude dos princípios apresentados nas Escrituras – de um Deus que é todo poderoso, criador e mantenedor do universo; que não nos deu, na Palavra, apenas um manual acanhado de Escola Dominical, mas um conceito e uma compreensão de vida, uma cosmovisão, que deve permear toda a nossa existência.

• escravos de uma postura eclesiástica que declara a existência de duas categorias de servos de Deus – os que estão envolvidos em seu trabalho e os que estão servindo ao mundo.

• escravos de uma postura profissional que nos coloca como alienados no meio de uma classe de pessoas integradas com o seu meio, enquanto que nós nos debatemos com contradições metafísicas, em vez de tranquilamente agirmos na redenção da área em que estamos atuando.

No meio desse dilema e dessas tensões as doutrinas resgatadas pelos reformadores, aquilo que chamamos da teologia da reforma, ou de fé reformada, aparecem com todo o seu vigor e poder, como uma força libertadora dessa escravidão, desse conflito e dessa opressão intelectual. É exatamente a teologia calvinista, apresentando a pessoa de Deus em toda a sua soberania e majestade, que liberta, ainda que acusada de promover a escravidão das pessoas, pela sua rigidez doutrinária e subordinação ao conhecimento transcendente encontrado nas Escrituras. A Fé Reformada não trata simplesmente de realizar uma integração entre o secular e sagrado, mas de demonstrar a abrangência das raízes espirituais de cada atividade. Ela apresenta o todo do conhecimento e das atividades humanas como algo abrigado e aprovado pela providência divina, subsistindo o próprio Deus como fonte de todo o verdadeiro conhecimento e sabedoria.

Solano Portela
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P.S. - Dentre as múltiplas atividades que levaram às minhas poucas postagens neste BLOG, estive dedicado por vários meses ao término do livro: "O Que Estão Ensinando aos Nossos Filhos?". Ele foi lançado na semana passada (02.10.2012) na Conferência FIEL, em Águas de Lindóia e já está disponível no link abaixo, da Editora FIEL. É destinado a pais, educadores e escolas cristãs e faz uma avaliação crítica da pedagogia contemporânea, apresentando a alternativa da Educação Escolar Cristã.

O livro é dividido em três partes. A primeira, "O Cenário" - examina diversas situações no contexto educacional de nossa época. A segunda, "O Contraste", apresenta a Educação Escolar Cristã, como uma alternativa. A última, "A Proposta", apresenta aos educadores a necessidade de desenvolvermos uma Pedagogia Redentiva, com seus nove alicerces.

Sou grato a Deus por possibilitar a compilação: de quase 30 anos de meditação sobre o assunto, das inúmeras palestras proferidas e de artigos escritos, agora apresentados em forma de livro. Agradeço, igualmente à Editora FIEL por acreditar nesse projeto.

Aos interessados, o LINK é: 

sábado, 20 de outubro de 2012



CHAMA agora; há alguém que te responda?
E para qual dos santos te virarás? Jó 5:1
Buscamos diariamente respostas para as nossas inquietações da alma. O homem não é só matéria, se engana quem pensa desta forma, existe algo dentro dele que precisa de cura, salvação e resposta. Não nascemos por acidente, não somos obra do acaso, não surgimos do nada.

Dentro de cada um de nós, existe o homem espiritual, o homem eterno. Enquanto estamos por aqui na terra em nossa peregrinação, moramos em uma capa que é nossa carne, conhecida como matéria. Somos corpo alma e espírito, diante disso temos algo dentro de nós que sente fome e sede de respostas, que só Deus pode aquietar-nos, salvar-nos e responder-nos.

É engano pensar que nunca precisaremos de Deus para solucionar nossas inquietações, temores e medos. O texto base desta reflexão faz um questionamento: Quem poderá curar teu interior? Quem pode salvar tua alma? Quem pode responder suas perguntas?

O mundo secular tenta cada vez mais inculcar em nossas mentes, que não precisamos de um Deus para cuidar de nós, não precisamos de um salvador. As religiões tentam inculcar que precisamos de vários santos, vários mediadores, até nos apresentam deuses e deusas para nossa salvação.

Os ateus tentam nos provar que não existe Deus e que nós podemos resolver seja qual for o problema, pois temos capacidade para isso. Eu te pergunto: Será que um sujeito desajustado, ferido do corpo e alma pode por si próprio se ajudar?

Qual o mortal que poderá te ajudar? Qual o santo ou imagem que poderá te responder? Quem vai te salva? Quem é realmente o mediador entre Deus e os homens? Não esqueça, sua alma é eterna, ela não acaba quando você desce à sepultura. Mesmo que você não creia, depois de sua morte física ninguém poderá te ajudar.

A Bíblia diz que depois da morte segue-se a juízo e acompanha as obras. Não pense que após a morte alguém poderá interceder por você, faça enquanto você está vivo. Crendo ou deixando de crer, um dia todos nós enfrentaremos esta realidade. Você está preparado para isso?

O Salmista Davi em seu salmo 65:2 diz: Ó tu que ouves as orações, a ti virá toda a carne. Todos nós devemos ir ao encontro de Deus e converter-nos de nossos pecados.

Só Deus pode responder as nossas orações, só Deus pode nos salvar, através de seu filho amado Jesus. João 3:16. Vire-se pra Ele, pois Ele resolve o que está de errado por dentro de nós. Ele mexe onde nenhum homem pode mexer.

Ele é o “Santo” dos santos, Ele é o “Senhor” dos senhores, Ele é o “Médico” dos médicos. Ele não se fabrica, Ele não se desenha, Ele não se cria, Ele não divide sua glória com ninguém. Ele é O suficiente pra sua vida, creia nisso. Graça e paz.

Por Josiel Dias
IEC Alcântara


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A pregação expositiva não é necessariamente um método. É muito mais uma atitude para com a Bíblia, que consiste em reconhecê-la como a infalível Palavra de Deus e em trazer seu conteúdo aos ouvintes de maneira clara, fiel e direta. 

Pregação expositiva não é a mesma coisa que fazer um comentário verso a verso de uma passagem bíblica. Envolve aplicar o sentido destes versos às consciências dos ouvintes, seguido de forte apelo a que creiam e obedeçam. Há várias maneiras de se fazer isto. O próprio texto determinará qual a melhor maneira de ser exposto. É por isto que não podemos reduzir a pregação expositiva a um único modo ou forma. 

Quem confunde pregação expositiva com um método que consiste em explicar versículos em seqüência de livros em seqüência condena grande parte dos reformadores e puritanos como pregadores não expositivos. Inclusive Spurgeon.

Por - Augustus Nicodemus Lopes
Via: Facebook

domingo, 14 de outubro de 2012





Por - Fernando Galli

Conhecer a doutrina Católica Apostólica Romana tem sido para mim uma bênção. Tenho aprendido muito com o Catecismo Católico e com ele tenho conseguido levantar muitas verdades bíblicas. Além delas, tenho encontrado também erros de interpretação, dos perfeitamente compreensíveis devido às limitações humanas até os mais perigosos à doutrina cristã.

Um desses ensinos perigosos à doutrina cristã é a Crença de um Purgatório. Se você for um irmão Católico Romano, por favor, compreenda que de modo algum quero ofendê-lo por refutar uma crença da qual a Palavra de Deus jamais ousou ensinar. Portanto, acompanhe passo a passo a refutação da definição que o Catecismo Católico dá sobre Purgatório.


A Purificação Final ou Purgatório


Os textos a serem refutados a seguir foram extraídos da obra Catecismo da Igreja Católica, página 290, cânons 1030 e 1031, páginas 290, 291, Edições Loyola, São Paulo, Reimpressão de 2004.

ARGUMENTO CATÓLICO ROMANO - "Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados embora tenham garantida sua salvação eterna, passam, após sua morte, por uma purificação, a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do Céu. A Igreja denomina Purgatório esta purificação final dos eleitos, que é completamente distinta do castigo dos condenados." 

REFUTAÇÃO CRISTà- A fé católica (universal) protestante e evangélica discorda da necessidade de as almas já salvas passarem por uma purificação a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do Céu. Por quê? A Bíblia ensina ser a fé que santifica o crente. Paulo diz ter ouvido de Jesus a expressão "para que recebam o perdão dos pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim". (Atos 26:18) Então a Fé Católica Romana contra-argumentaria que é Jesus que santifica o salvo, mas gradativamente, parte aqui na terra, o restante no Purgatório. Mas onde a Bíblia ensina isso?

A Bíblia menciona santificação enquanto vivos, não depois de mortos. Por exemplo, Paulo diz aos romanos "apresentai agora os membros do vosso corpo como escravos da justiça para santificação". (Romanos 6:19) Enquanto vivos é que somos santificados. Paulo também fala de "os gentios sejam aceitáveis a Deus como oferta santificada pelo Espírito Santo" (Romanos 15:16) Será que o Espírito Santo não santifica o necessário para alguém ir direto ao paraíso? Em 1 Coríntios 1:2 lemos que a carta se destina aos "santificados em Cristo Jesus, chamados para serem santos". Será que Jesus também não os santifica o suficiente a ponto de precisarem fazer um pit-stop no Purgatório? Ainda aos coríntios, Paulo afirma que eles foram "lavados, santificados e justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus". (1 Coríntios 6:11) Isto não é suficiente para receber o perdão dos pecados e levar a alma ao paraíso?

É verdade que a santificação é gradativa. Paulo escreve aos cristãos tessalonicenses, tão santificados quanto os cristãos coríntios, que Deus queria deles a santificação. (1 Tessalonicenses 4:3) Todavia, a obra de Cristo na cruz permite o grau de santificação necessário para a salvação do crente e para levá-lo direto ao paraíso, pois se Jesus nos purifica de todo o pecado (1 João 1:7), por que deveríamos crer numa purificação adicional de Cristo no pós-vida? Por isso, Jesus Cristo, por sua morte (oferta), aperfeiçoa de uma vez para sempre os que estão sendo santificados. (Hebreus 10:14) Quando ele, então aperfeiçoa de uma vez para sempre - quando morreu na cruz ou termina essa obra de aperfeiçoamento num suposto Purgatório? Evidentemente que na cruz. Então para que o Purgatório?

ARGUMENTO CATÓLICO ROMANO - "A Igreja formulou a doutrina da fé relativa ao Purgatório sobretudo no Concílio de Florença e de Trento. Fazendo referência a certos textos da Escritura [1 Coríntios 3:5 e 1 Pedro 1:7), a tradição da Igreja fala de um fogo purificador: No que concerne a certas faltas leves, deve-se crer que existe antes do juízo um fogo purificador, segundo o que afirma aquele que é a Verdade, dizendo, que, se alguém tiver pronunciado uma blasfêmia contra o Espírito Santo, não lhe será perdoada nem no presente século nem no século futuro (Mt 12,32). Desta afirmação podemos deduzir que certas faltas podem ser perdoadas no século presente, ao passo que outras, no século futuro (São Gregório Magno)."

REFUTAÇÃO CRISTà- A questão não é quando e onde a Igreja formulou a doutrina do Purgatório. O problema reside no fato de tal doutrina ser extraída de cultos pagãos, o que não tem nada a ver com a santificação de uma igreja que reivindica ser a única Igreja de Cristo: Una, Santa, Católica e Apostólica. Ormuz diz a Zoroastro que os perversos passariam pelo fogo para serem purificados. A ideia de purificação, em si, após a morte existe em Platão quando fala daqueles nesta vida que não foram bons nem perversos irem ao Rio Aqueronte para serem purificados. Depois Platão chegou afirmar que ninguém poderia ser perfeitamente feliz após a morte se não tivesse seus pecados plenamente expiados. E se formos mais a fundo, veremos ideias similares entre os egípcios e os mesopotâmios. 

Mas e quanto ao texto de Mateus 12:32? Usar ali a expressão "nem no século presente nem no século futuro" para significar que uns pecados poderão ser perdoados no pós-vida é por na boca de Jesus o que não pretendeu dizer. Conforme comentaram Charles Hodge e Norman Geisler & Ron Rhodes:
"Dizer que algo não pode acontecer nem agora nem depois, nem neste mundo nem no vindouro, é uma maneira familiar de dizer que nunca pode acontecer, sob nenhuma circunstância. Nosso Senhor disse simplesmente que a blasfêmia contra o Espírito Santo jamais poderá ser perdoada." [1]
"De acordo com o ensino católico, o purgatório envolve apenas pecados veniais, mas este não é um pecado venial; é mortal, sendo eterno e imperdoável. Como é possível que uma declaração a respeito da impossibilidade de um pecado mortal na vida vindoura se constitua a base para um argumento que diz que pecados não mortais serão perdoados? [...] Como é possível que uma passagem que não fala a respeito de punição para os salvos após a morte seja utilizada como base para a crença no purgatório, a qual afirma existir punição para os salvos?" [2]

Além disso, como admitir que uma pessoa salva foi para o pós-vida com pecados não perdoados, se Cristo já a justificou e a considerou salva?

Em 1 Coríntios 3:15, lemos o seguinte:
"Se a obra de alguém se queimar, este sofrerá prejuízo, mas será salvo, como alguém que passa pelo fogo." 

Então, quer a Igreja Católica Apostólica Romana apregoar com este texto que o sofrimento por fogo no purgatório, evidentemente em escala muito menor que o do inferno, purificará os salvos e os preparará para terem maior santidade e entrar na alegria do céu.

Mas o que é queimado aqui segundo o texto: A obra ou a alma da pessoa? A obra. O contexto fala do fogo do Juízo (versículo 13, na expressão "aquele dia"). Mas a doutrina do Purgatório afirma que a alma é que sofrerá para purificar-se. O ensino de Paulo aqui é: No dia do juízo, e não no Purgatório, sofremos perdas, mesmo sendo salvos, devido às nossas obras más. Apenas isso. Deixaremos de ganhar certas recompensas caso haja obras queimadas pelo fogo. Assim, a consequência desse fogo é o prejuízo diante das obras más, não a purificação que leva o salvo de um suposto Purgatório para o céu.

O Catecismo Católico cita também 1 Pedro 1:7 em favor da crença num Purgatório. Lemos ali:
"Para que a comprovação da vossa fé, mais preciosa do que o ouro que perece, embora provado pelo fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo."

Sem o versículo anterior, não temos a compreensão de quando ocorre essa provação: antes ou depois da morte? Vejamos:
"Nisso exultais, ainda que agora sejais necessariamente afligidos por várias provações por um pouco de tempo, para que a comprovação da vossa fé, mais preciosa do que o ouro que perece, embora provado pelo fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo." - 1 Pedro 1:6, 7.

E a interpretação é simples e nada tem a ver com Purgatório. A aflição e as provações ocorrem nesta vida, não numa futura. D. A. Carson Comenta:

"Essas bênçãos de Deus podem levar à alegria e exultação em meio às dificuldades. O propósito das provações terrenas é peneirar e separar o que é genuíno em nossa fé. Isso, por sua vez, resultará em louvor, glória e honra, tanto para Jesus quanto para a pessoa que sofreu, no dia da revelação de Jesus Cristo." [3]

Há ainda outro texto usado pelos Católicos Romanos e se encontra em Apocalipse 21:27. Lemos ali:
"Nela não entrará coisa alguma impura, nem o que pratica abominação ou mentira, mas somente os inscritos no livro da vida do Cordeiro."

Argumentam: Como a alma de uma pessoa que acabou de falecer pode abandonar suas mágoas, as más lembranças, e sua tendência para o pecado do nada? Impossível! Por isso, antes de entrar na alegria do céu, precisam aprender a se livrar desses resquícios da vida terrena. Com todo o respeito à fé romana, não seria melhor ter inventado um modo mais bondoso para Deus purificar o coração dessas almas? 

Por exemplo, poderia ser através de conversas com seres angelicais, ou em encontros com as almas dos servos pré-cristãos como Abraão, Moisés e Davi. Ou quem sabe com o primeiro salvo na história cristã, aquele ladrão na cruz que teve tempo apenas para se arrepender e pedir a Jesus que se lembrasse dele quando Jesus entrasse em seu reino. Aqui os católicos até procuram ensinar: "Se o ladrão admite que Jesus precisaria se lembrar dele, é porque Jesus estaria num lugar (céu) e o bandido no outro (purgatório). Todavia, a resposta de Jesus fulmina essa falácia: "Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso." - Lucas 23:42, 43.

Mas a Igreja Católica foi criar um meio de purgar os pecados da vida terrena de uma forma bem parecida a um inferno com ar condicionado, ou seja, com um fogo mais suave. Que absurdo uma alma salva ter que sofrer para se santificar mais e se purificar através do fogo do Purgatório. 
ARGUMENTO CATÓLICO ROMANO - "Este ensinamento apóia-se também na prática da oração pelos defuntos, da qual já a Sagrada Escritura fala: "Eis por que ele [Judas Macabeu] mandou oferecer esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, a fim de que fossem absolvidos de seu pecado" (2 Mc 12,46). Desde os defuntos e ofereceu sufrágios em seu favor, em especial o sacrifício eucarístico, a fim de que, purificados, eles possam chegar à visão beatífica de Deus." 

REFUTAÇÃO CRISTà- Como poderíamos acreditar em 2 Macabeus como um livro inspirado e, portanto, portador apenas de verdades para o povo de Deus, se o autor termina com os seguintes dizeres sobre sua narração:
"Terminei com isto a minha narração. Se ela está felizmente concebida e ordenada, como convém a uma história, este era o meu desejo; mas se está imperfeita e medíocre, seja-me revelada a falta." - 2 Macabeus 15:38, 39.

Todavia, suponhamos que Judas Macabeu realmente tivesse mandado fazer tal sacrifício em favor dos que haviam morrido. Será que isso provaria a doutrina do Purgatório? Não, pois tal ato não é corroborado pelas Escrituras. Se fez, errou, e quem sabe se o fez por influência de povos pagãos ao seu redor que criam ser possível ajudar na purificação de seus mortos.

ARGUMENTO CATÓLICO ROMANO - "A Igreja recomenda também as esmolas, as indulgências e as obras de penitência em favor dos defuntos:Levemo-lhes socorro e celebremos sua memória. Se os filhos de Jó foram purificados pelo sacrifício de seu pai (Jó 1,5), por que deveríamos duvidar de que nossas oferendas em favor dos mortos lhes levem alguma consolação? Não hesitemos em socorrer os que partiram e em oferecer nossas orações por eles (São João Crisóstomo)."

REFUTAÇÃO CRISTà- Em primeiro lugar, no caso de Jó, o ato de oferecer sacrifício a seus filhos vivos  não é uma passagens prescritiva, mas sim descritiva. Não se pede ou ordena que façamos o mesmo, mas apenas narra em que Jó cria. Em segundo lugar, em parte alguma do livro de Jó, depois que os filhos dele morrem, vemos Jó oferecendo sacrifícios ou indulgências a eles. Portanto, não faz o menor sentido o uso de Jó 1:5 em favor de uma doutrina jamais apregoada na Palavra de Deus.

Conclusão

Ao falar sobre as verdades bíblicas aos católicos praticantes ou nominais, que já creem em Jesus como o único e suficiente salvador, precisamos orientá-los a viver essa crença de fato. Precisamos elogiá-los por sua fé em Jesus, mas raciocinar com eles sobre a suficiência do sacrifício de Jesus, e que somente Ele pode nos salvar. Quanta incoerência com esta crença o fato de orações e indulgências serem meios de purificar e santificar por completo o que apenas a obra de Cristo na cruz pode fazer.

Por último, gostaria de que todos os cristãos protestantes e evangélicos adquirissem o Catecismo Católico, para aprenderem em que realmente creem os romanistas. Já vi apologistas e professores protestantes e evangélicos ensinarem que segundo a Igreja Católica as almas no purgatório podem ser salvas e irem ao céu ou para o inferno, dependendo do comportamento delas lá. Não é isto que o Catequismo Católico Romano ensina. Também há quem entre nós diga: "O purgatório é uma nova chance, para os romanistas, de serem salvos." Também não é nisto que os católicos creem. Para eles, quem está no purgatório já tem a salvação garantida e serão purgados para consolidar essa salvação.

Que Deus nos faça conhecedores da Palavra e das doutrinas errôneas. Este diálogo sadio entre verdades e mentiras nos fazem crescer na fé e capacita-nos a dialogar com nossos irmãos católicos, que mesmo crendo em Jesus Cristo como Salvador, não compreendem que tal doutrina do purgatório se choca com as Escrituras. - Fernando Galli.
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[1] HODGE, Charles. Teologia Sistemática. Página 1574. São Paulo : Hagnos, 2001.
[2] GEISLER, Norman & RHODES, Ron. Resposta às Seitas. Páginas 178, 179. CPAD : Rio de Janeiro, 2000. 
[3] CARSON, D. A. Comentário Bíblico Vida Nova. Página 2059. São Paulo : Vida Nova, 2009.
- Sobre o autor: Fernando Galli, cristão batista, 42 anos, casado com Roberta. Escritor. Bacharelando em teologia no Seminário Batista Regular. Palestrante sobre seitas e religiões mundiais. Graduado e professor do Instituto Haggai. Resposável pelo Instituto Apologético Cristo Salva. 

Fonte: IACS