Isvonaldo sou Protestante

Isvonaldo sou Protestante

quarta-feira, 28 de março de 2012


Lutero contra a igreja brasileira


Josaías Jr.

Depois de algum tempo tomando coragem, resolvi iniciar a leitura da famosa obra de Martinho Lutero, Da Vontade Cativa, em seu texto integral. Nesse trabalho, o reformador alemão responde a uma defesa da doutrina do livre-arbítrio feita pelo humanista Erasmo de Roterdã. Antes de entrar especificamente no assunto, o ex-monge trata de certas objeções que o filósofo católico levanta a respeito da necessidade dos mestres da igreja tratarem esse tema tão polêmico.

Para Erasmo, discussões que envolvem tópicos como livre-arbítrio, predestinação, contingência, necessidade e outras palavras complicadas não deveriam ser públicas, e essas questões não deveriam ser ensinadas ao povo. O reformador discorda de seu oponente e oferece algumas respostas para as objeções do humanista.

O curioso é que, apesar de ter escrito há quase 500 anos, os motivos que Erasmo levanta para que doutrinas mais complicadas não sejam discutidas é o mesmo argumento que muitos evangélicos brasileiros levantam hoje. E as resposta de Lutero são mais atuais que nunca.

A proposta desse artigo é aprendermos com o reformador e nos lembrarmos de que a Reforma Protestante surgiu não como tentativa de vencer controvérsias, mas como uma busca por um ensino doutrinário sadio e como fruto da preocupação de verdadeiros pastores. Nem todo aquele que entra em discussões complicadas o faz por amor à briga. Na verdade, em minha experiência, vejo que aqueles que se omitem em discussões sérias demonstram pouco amor pela igreja. Por isso, vejo que Lutero tem muito a nos ensinar hoje.

Sobre a dúvida

Uma das características marcantes de nosso tempo é a pouca atração por afirmações absolutas. Tomar uma posição clara a respeito de um assunto, ter certeza de respostas que os outros não ousam ter é um pecado capital. Claro, há exceções. Quando se trata de sentimentos – “tenho certeza de que estou feliz assim e vocês devem em respeitar” – ou de falta de certeza – “não há verdade absoluta”. Porém, sistemas abrangentes como a cosmovisão cristã são visto com desconfiança, uma vez que tendem a “oprimir” aqueles que não os aceitam.

Assim, pastores e teólogos temem tomar publicamente (ou mesmo privativamente) uma posição além do “feijão com arroz” do cristianismo. Ou eles já são influenciados pelo espírito da época, e creem de coração nas mentiras do nosso tempo ou simplesmente não querem parecer limitadores, tacanhos e extremistas, na busca pelos perdidos pós-modernos. Da mesma forma, as ovelhas são influenciadas e se comprometem apenas com a certeza da falta de certeza.

Veja, por exemplo, uma frase do popular livro A Cabana, pronunciada pelas pessoas da Trindade: “a fé não cresce na casa da certeza” e “gosto demais da incerteza”. Ou o que diz o pastor brasileiro Ricardo Gondim: Quero manter viva dentro de mim a chama da Reforma Protestante que se opôs ao dogmatismo; reivindicarei a possibilidade da dúvida”¹. Gondim também escreveu um livro, chamado Eu Creio, mas Tenho Dúvidas, onde a necessidade da insegurança como situação normal do cristão é defendida. Jovens de sua igreja declararam em uma carta o seguinte: “Não temos medo de incertezas… Não temos medo de não saber. Temos medo das certezas que prendem Deus a um esquema”. Philip Yancey, outro escritor popular, nos diz uma frase muito repetida em púlpitos, textos e sabedoria de internet: “A dúvida sempre anda com a fé, afinal, na certeza, quem precisaria de fé?”.

Tal forma de pensar, ao contrário do que Gondim pensa, aproxima mais o pensamento evangélico de pensadores modernos que dos movimentos de Lutero, Calvino e aqueles que os seguiram.

Sobre asserções

No início de Da Vontade Cativa, Lutero luta com algo parecido. Erasmo diz que o crente não deve “deleitar-se em asserções”. O que é isso? O reformador explica: “apegar-se com constância, afirmar, confessar, defender e perseverar com firmeza”. Boa parte dos cristãos, às vezes, sem perceber, são mais afeitos a Erasmo que a Lutero. Para eles, convicção em afirmações doutrinárias nada tem a ver com o cristianismo. Já ouvi pessoas dizendo que não seguem dogmas, seguem Jesus. Tolice! “Suprimiste as asserções, e suprimiste o cristianismo”, diz o reformador.

Em seguida, alguém replicará dizendo que a vida cristã é mais que apego a declarações doutrinárias. Concordamos, mas lembramos que não é menos que isso.

A resposta do reformador deve ser abraçada por todos aqueles que compreenderam as verdades bíblicas a respeito da regeneração e da obra do Espírito Santo. Basicamente ela se firma em três proposições.
  1. O próprio Espírito Santo ordena que os cristãos façam asserções (Mt 10.32, 1 Pe 3.15) e Ele mesmo o faz.
  2. A incerteza é algo lamentável e é impossível ser cristão sem compreender e apegar-se às verdades da Escritura.
  3. O Espírito santo escreve em nossos corações assertivas “mais certas e firmes do que a própria vida e toda a experiência”.

    Além disso, o reformador vai mais além e demonstra como Erasmo (e todos os que o seguem) mina o próprio pensamento ao negar aquilo que hoje conhecemos como perspicuidade da Escritura². O raciocínio do ex-monge alemão é simples. Se é impossível chegar a alguma conclusão a respeito da doutrina do livre-arbítrio (e aí você pode pensar em qualquer outra doutrina, como “quem é Deus”), como o humanista católico obteve essa informação? Isto é, dizer que não podemos chegar a qualquer conclusão a respeito da doutrina do livre-arbítrio já é, em si, certa conclusão.

    Sim, existem doutrinas que são mais claras, outras que nos impedem de ter um conhecimento extensivo de todos os seus pontos e ainda aquelas que exigem maior cuidado do leitor da Bíblia. Alguns exemplos são as doutrinas da Trindade, Encarnação e as diversas posições quanto a Escatologia. Mas veja – isso é diferente de sugerir que tais assuntos não possam ser tratados, pesados e defendidos. Ou que todas as propostas sobre determinado assunto têm a mesma coerência. A doutrina da Trindade, por exemplo, é cheia de mistérios. No entanto, nem por isso os concílios do passado hesitaram em banir hereges e falsas doutrinas.

    Para piorar, Erasmo usa como argumentos contrários à doutrina luterana da livre graça textos de pais da igreja e teólogos católicos. Para ele, só podemos entender tais doutrinas com o auxílio dos mestres da igreja romana. O reformador rapidamente questiona o que seu oponente quer dizer. Ele pede que Erasmo decida-se entre a obscuridade da Bíblia ou a capacidade dos mestres romanistas:

    “Se crês que a opinião deles foi correta, por que não os imitas? (…) Eu não os teria honrado com meu desprezo privado da maneira como tu o fazes em teu elogio público (…) Pois é preciso que uma das duas afirmações seja falsa: ou tua afirmação de que eles foram admiráveis por seu conhecimento das Sagradas Letras, por sua vida e martírio, ou tua afirmação de que a Escritura não é clara. (…)Só resta concluir que foi por brincadeira ou por adulação que disseste que eles são extremamente peritos na Escritura.”

    Evangélicos católicos

    Um escritor que me ajudou a perceber mais claramente como nos distanciamos dos princípios da Reforma foi Carl Trueman, professor de teologia histórica e história eclesiástica no Westminster Theological Seminary. Seus ensaios me inspiraram a ler mais de Martinho Lutero e a perceber como muito do evangelicalismo hoje foge daquilo que é historicamente protestante. Em seu artigo Beyond the Limitations of Chick Lit³, o historiador apresenta alguns pontos em que protestantes podem aprender dos católicos. Em seguida, as maiores diferenças são apresentadas e uma delas diz respeito ao tema que estamos tratando.

    A respeito da clareza da Escritura, vemos claramente que, como Erasmo, a igreja evangélica afirma agora que a presença de mestres é imprescindível para a leitura da Escritura, uma vez que o crente comum não pode entender sozinho a Palavra de Deus. Além disso, ela concorda com o filósofo católico em sua falta de certeza e no pouco interesse pelo tratamento de doutrinas difíceis.

    É claro que os mestres, o estudo, as confissões de fé e os comentários bíblicos são importantes para o protestante. Mas eles não eram vistos como pilares em que toda interpretação deveria se fundamentar. Embora nem todos alcançassem conhecimento de todos os pontos doutrinários, o leitor simples era considerado apto para compreender a Palavra.

    Hoje, porém, percebemos que, em muitas igrejas, as suposições de Erasmo são aquelas que dominam: Não podemos entender boa parte das doutrinas. Não podemos “encaixotar” Deus. Não podemos tomar uma posição apenas. Não é possível entender a Palavra sem fazermos uso de todas as ferramentas disponíveis no mercado, como filosofia existencialista, planejamento estratégico, psicanálise, história das religiões, os manuscritos do Mar Morto e por aí vai. Generalizando um pouco, esse é o lado mais acadêmico da igreja evangélica.

    Seguindo os mesmos princípios, sem perceber, estão as igrejas pentecostais e neopentecostais em que a palavra e a interpretação do líder são supremas. Ou as revelações que ele tem moldam a cosmovisão da comunidade tanto (ou mais) que a Escritura. Aqui a certeza parece ganhar da dúvida, mas ela se baseia numa patética versão “protestante” do Magistério católico4.

    Assim, perdida entre igrejas que perderam suas identidades, há ainda aquele pequeno grupo que ainda entende suas raízes e as reconhece como claras na Palavra de Deus. A igreja reformada não é perfeita, e a mera aceitação da necessidade do que Lutero chama de asserções não garante uma comunidade saudável. Ainda assim, em meio ao caos evangélico, pastores e professores protestantes devem reforçar o ensino da Palavra, como algo claro, acessível e que produz segurança na vida do crente. E esses mesmos líderes não devem temer discordâncias e perguntas honestas sobre doutrina. Como disse o historiador Johannes Schulthess, “Protestantismo é a verdade em todas as circunstâncias”.

    Há algum tempo, conversei com um jovem que, com alguma oposição do “apóstolo” de sua igreja, acabara de deixar o neopentecostalismo. Ao tornar-se membro de uma igreja protestante, foi recebido com a típica e estranha hospitalidade dos seguidores da Reforma – diversos livros, sugestões de sites, convites para cursos, treinamentos, etc. Impressionado, ele me disse: “engraçado que o pessoal aqui não tem medo de passar informação, né?”. De fato, o legado da Reforma Protestante é o amor pela verdade e o desejo de transmiti-la.

    Que a igreja evangélica brasileira lembre-se disso.




    ¹ É curioso que Ricardo Gondim se considere (ou, pelo menos, se considerava) representante dos princípios da Reforma quando a frase acima, como veremos, pouca relação tem com a Reforma.
    ² A palavra é complicada, mas o significado é tranquilo: quer dizer que a Bíblia é clara e pode ser compreendida sem dificuldades.
    ³ Você pode ler em inglês as duas partes aqui e aqui. Esse artigo também foi reproduzido nos dois excelentes livros de Trueman – Minority Report e Fools Rush in Where Monkeys Fear to Tread.
    4 Alguém pode questionar também o valor que o eixo reformado dá às suas confissões. É claro que sempre há o risco de elevá-las acima da Escritura, mas isso seria feito em contradição, uma vez que as próprias confissões declaram-se falíveis.

    Originalmente no iprodigo


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    NOSSA APOLOGÉTICA TEM DE APONTAR PARA CRISTO

    Por Nathan Busenitz
    O alvo da apologética deve ser evangelístico e, assim sendo, sua mensagem deve estar centrada na pessoa e obra de Jesus Cristo. Ele é a resposta a todos os males sociais e a cada coração que o busca. “Mas nós pregamos a Cristo crucificado”, Paulo explicou aos coríntios, “escândalo para os judeus, loucura para os gentios” (1 Co 1.23). De maneira semelhante, disse aos crentes de Colossos: “o qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo” (Cl 1.28). Armado com o lema “para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fp 1.21), Paulo enfrentou o mundo como embaixador de Cristo, rogando aos ouvintes “em nome de Cristo, vos reconcilieis com Deus” (2 Co 5.20). Ele jamais tomou uma posição apologética que não apontasse para Cristo. Quer no Areópago (At 17) quer no tribunal diante do governador romano (At 26), a defesa da fé feita por Paulo sempre era centrada no evangelho (1 Co 15.3-4).
    Uma apologética que deixa de apresentar o evangelho por inteiro deixa no mesmo lugar os pecadores: ainda perdidos. Até confessarem Jesus como Senhor e crer que Deus o ressuscitou da morte, eles permanecem mortos em seus pecados (Rm 10.9). Sua eternidade depende do que farão com Jesus Cristo. À pergunta: “O que devo fazer para ser salvo?” Jesus é a única resposta (At 16.30-31). Para o problema do pecado, ele é a única solução. Como disse João Batista a respeito de Jesus: “quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus” (Jo 3.36).
    Não podemos nos contentar com uma abordagem apologética que diminua ou negligencie o evangelho. Afinal de contas, nossa meta final não é apenas converter os ateus ao teísmo ou evolucionistas ao criacionismo, mas chamar os incrédulos (quer sejam eles ateus ou teístas, evolucionistas ou criacionistas) a receberem Jesus Cristo. Os argumentos quanto ao teísmo e criacionismo são importantes, mas a apologética cristã será incompleta se parar por aí e não proclamar o evangelho.
    Uma ilustração disso está no fato de que muitos evangélicos deram grande valor à conversão do renomado ateu britânico Antony Flew do ateísmo para o teísmo. Ele documentou sua mudança de ideia no livro There is a God, onde admitiu que os argumentos do projeto inteligente o levaram a “aceitar a existência de uma Mente infinitamente inteligente”. [1] No fim do livro, Flew nota que poderia estar aberto ao cristianismo, mas não chega a reconhecer nenhum compromisso pessoal com Cristo. Por sua parte, Flew se identifica como deísta. [2]
    Como avaliar esse tipo de conversão? Por um lado, alegramo-nos porque um renomado ateu renunciou publicamente seus erros anteriores. Podemos ser gratos pelos esforços daqueles que, por sua influência, o ajudaram a ver a falência filosófica do sistema ateu. Mas não podemos estar completamente satisfeitos com o resultado, pois o Professor Flew não se tornou cristão.
    Quando o apóstolo Paulo esteve diante da oposição, quer no areópago quer diante de Festo e Felix, não se contentou apenas em convencer seus ouvintes da existência de Deus. Na verdade, eles já eram teístas. Contudo, eles tinham renhida necessidade de se reconciliarem com Deus, razão pela qual a mensagem de Paulo era centrada no evangelho de Jesus Cristo. Em uma época quando o ateísmo naturalista ganha aprovação popular, poderá ser tentador pensar que defender a existência de Deus deva ser nosso principal alvo. Mas se deixarmos de fora a mensagem cristocêntrica do evangelho, nosso trabalho apologético ficará incompleto. [3] Fomos comissionados a fazer discípulos do Senhor (Mt 28.18-20), não apenas teístas. Assim, pregamos Cristo crucificado a todas as pessoas, quer elas creiam quer não creiam em Deus.

    [1] Antony Flew, There Is a God (New York: HarperCollins, 2007), 158.
    [2] Antony Flew e Gary R. Habermas, “My Pilgrimage from Atheism to Theism: An Exclusive Interview with Former British Atheist Professor Antony Flew,” Philosophia Christi 6, no. 2 (Winter 2004). Online at www.biola.edu
    [3] Se nos esquecermos da mensagem do evangelho que é centrada em Cristo, corremos o perigo de nos juntar a outros teístas, incluindo cristãos não evangélicos, em um esforço de convencer os não teístas a tornarem-se teístas.
    Fonte: 
    Nathan Busenitz, pastor associado e assistente pessoal de John MacArthur da Grace Community Church em Sun Valley, Califórnia. Do BlogFiel, divulgado pelo Púlpito Cristão.

    segunda-feira, 26 de março de 2012


    O QUE FAZER QUANDO A JUMENTA ESTÁ FALANDO?

    Por Giuliano Miotto
    “E, vendo a jumenta o anjo do SENHOR, deitou-se debaixo de Balaão; e a ira de Balaão acendeu-se, e espancou a jumenta com o bordão. Então o SENHOR abriu a boca da jumenta, a qual disse a Balaão: Que te fiz eu, que me espancaste estas três vezes? E Balaão disse à jumenta: Por que zombaste de mim; quem dera tivesse eu uma espada na mão, porque agora te mataria. E a jumenta disse a Balaão: Porventura não sou a tua jumenta, em que cavalgaste desde o tempo em que me tornei tua até hoje? Acaso tem sido o meu costume fazer assim contigo? E ele respondeu: Não.” (Números 22:27-30)
    Alguns pastores têm caminhado pela estrada do ministério com tanta sede de dinheiro, de serem reconhecidos, de terem cada vez mais pessoas debaixo de sua “cobertura”, de estarem debaixo das luzes da ribalta que se esquecem de observar se não tem algum anjo do Senhor no meio do caminho já com a espada desembainhada para feri-los de morte e pior, começam a espancar as mulas que dão sustentação ao seu ministério, à sua caminhada. Só porque as pobres “jumentas-profetas” estão tentando mostrar que alguma coisa está muito errada neste caminho que está sendo seguido.
    Não é fácil sair do caminho das facilidades, pois quando olhamos para os grandes ministérios de longe tudo parece tão glamoroso, aqueles homens e mulheres com tanta unção, tanto brilho, carros e jóias caras, que a maioria dos pastores mal podem esperar para verem seus ministérios explodirem e se transformarem nos pregadores ou cantores da moda.
    Existe todo esse esforço nas igrejas no sentido de produzir crescimento, mesmo que seja artificial, essa pressa de se formar “líderes” prontos para conquistarem sua geração, que não dá tempo para ouvir essas estúpidas jumentas que não param de dar trabalho e de reclamar do chicote pesado.
    Mas quem foi Balaão? Foi um profeta que havia sido instruído por Balaque para pôr tropeços e amaldiçoar o povo de Israel. No entanto, Deus lhe revelou que ele deveria, na verdade, abençoar o povo. No entanto, ludibriado por ofertas financeiras feitas pelo rei, se pôs a caminho para amaldiçoar o povo, momento em que ocorreu a situação descrita acima com a jumenta.
    Interessante que o livro do Apocalipse, na carta de Jesus à Igreja de Pérgamo, está escrito que: “Mas algumas poucas coisas tenho contra ti, porque tens lá os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, para que comessem dos sacrifícios da idolatria, e se prostituíssem. Assim tens também os que seguem a doutrina dos nicolaítas, o que eu odeio. Arrepende-te, pois, quando não em breve virei a ti, e contra eles batalharei com a espada da minha boca” (Apocalipse 2:14-16). Olha a espada desembainhada de novo.
    Assim amado pastor e líder, se as jumentas que sustentam sua vida ministerial começarem a dar com os burros n’água, tentando te alertar de alguma coisa, se os seus propósitos têm sido metas numéricas e financeiras, apenas meta o chicote na jumenta, mas bata com gosto, com muita força mesmo, quem sabe no desespero da mula Deus não abre sua boca para que falem alguma coisa e você possa ver o anjo com a espada desembainhada? Quem sabe Deus não abre seus olhos para que você irmão possa ver o quanto seu caminho está errado? Batendo na jumenta, tudo pode acontecer.
    O bom da Bíblia é isso, que até mesmo uma jumenta pode nos ensinar alguma coisa e ser usada por Deus para nos alertar de algo que esteja errado. E se Deus pode usar jumentas, imagina o que Ele não pode fazer com um profeta?
    Mas temo que esses Balaãos modernos não queiram mais dar ouvidos, nem a jumentas, nem aos profetas, e por isso se cumpre a palavra que diz:“Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu.” (Romanos 1:21)
    Na história da Bíblia pelo menos Balaão viu o anjo e escutou o murmúrio da pobre jumenta. Mas os pastores de hoje estão tão obstinados em sua caminhada tresloucada rumo ao sucesso, que nem se a jumenta gritar vai fazer com que eles mudem o curso. Pior, eles vão continuar castigando impiedosamente quem não se conforma com suas visões de mundo. Isso é uma pena, pois eles acreditam que a nossa inveja (de nós jumentas ou profetas) é o combustível de seu sucesso (frase tosca de pára-choque de caminhão).
    Oremos…
    Não sejais como o cavalo, nem como a mula, que não têm entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio para que não se arremetam a ti. (Salmo 32:9)
    ***
    Giuliano Miotto é editor do Voz do que clama na Net.

    PROCURA-SE NAMORADA!

    Por Andrew McAlister
    Estou carente, sozinho. Preciso de um abraço. Preciso de alguém que vá me entender, alguém para quem meia frase basta. Um olhar explicará tudo e o sorriso dela fará com que todos os meus problemas se anuviem e eu consiga enxergar apenas o quão doce é beijar aquela linda menina. Minha alma gêmea, a menina que terminará as minhas frases, que dará razão aos meus dias. E será perfeito.
    Mais ou menos… ou melhor, bem menos.
    Namoro é uma coisa complicada para o cristão. Em primeiro lugar a Bíblia não fala de namoro. Fala somente de casamento… mas não de namoro. Logo, o cristão que decide começar um namoro deve o fazer somente se houver a real possibilidade de casamento. Não, você não precisa saber se aquela é a pessoa com quem vai passar o resto da vida. Mas, se você tem certeza que não pode viver com aquela pessoa ou se quer vislumbra, mesmo que num futuro bem distante, o casamento… então namorar não faz o mínimo sentido.
    Namoro é uma etapa na qual duas pessoas se comprometem a se conhecer com interesses explicitados. Namoro não é entretenimento emocional ou a prática de como se relacionar com o sexo oposto. Quando alguém faz algo com muita frequência, geralmente se torna experiente no assunto e, consequentemente, adquire bastante sabedoria em relação à tal prática. Paradoxalmente, quando se fala de namoro, os que mais namoram geralmente são os que não têm a menor ideia do que fazem.
    O casamento (conclusão lógica de qualquer namoro de sucesso) é o resultado de duas pessoas de pé que se complementam. Namoro não é duas pessoas inclinadas, apoiadas uma noutra que se completam. Pois quando esse tipo de namoro acaba, ambos caem. Mas, logo começam a namorar uma outra pessoa para “preencher o vazio”. Achei o vídeo a seguir sensacional!
    Namoro é isso! Duas partes se unindo para criar algo maior que o valor de cada parte individualmente. Mas para tanto, você tem que ter algo para somar. Se você entra num relacionamento para ser servido, para receber, acaba neutralizando a outra pessoa. E isso não é um relacionamento saudável.
    O que é que o mundo nos ensina? “Fundamental é mesmo o amor.
 É impossível ser feliz sozinho…” Mentira. Antes de aprender a ser feliz a dois, é necessário aprender a ser feliz sozinho. Ou melhor, a encontrar sua felicidade e sua identidade em Deus, em primeiro lugar. Uma vez que isso for estabelecido, o amor a dois então se torna a real união de duas felicidades distintas para então se formar uma felicidade maior do que cada parte individualmente.
    Deus nos fez para a glória d’Ele, então nunca seremos verdadeiramente felizes até que encontremos a Sua felicidade absoluta. Podemos buscar quantos abraços e carícias forem necessários, mas nunca serão o suficiente. Nenhum abraço suprirá, nenhum relacionamento lhe dará a devida satisfação, pois aquilo que procura não pode ser suprido numa pessoa deste mundo.
    Deus criou o casamento, assim como todas as outras coisas, para a Sua glória. Qualquer relacionamento que não for segundo a vontade d’Ele será apenas mais um a ser eventualmente esquecido.
    E para você que está sozinho?
    “Confia no SENHOR e faze o bem; habitarás na terra, e verdadeiramente serás alimentado. Deleita-te também no SENHOR, e te concederá os desejos do teu coração. Entrega o teu caminho ao SENHOR; confia nele, e ele o fará.” Salmos 37.3-5
    Fonte:
    ***
    Do blog do Andrew McAlister. Divulgação Púlpito Cristão.

    SENTIMENTO DE AMOR: O que há por trás?



    Eu te amo meu amor”. Quantas vezes recitamos e ouvimos essa frase “clichê” pela vida afora. Quantas vezes a palavra “amor” está sendo repetida por esse mundão de Deus, agora mesmo, quando me debruço para escrever sobre o que sutilmente se encontra por trás desse tão falado e decantado afeto.

    Quero falar do sentimento de amor que se confunde com o senso de “poder”. O poder intuitivo de dominar o outro, de tomar posse do outro. Afeto esse, que na maior parte das vezes não se torna consciente, por se encontrar escondido nas instâncias mais obscuras e profundas do nosso ser.

    Será que ele mentiu quando disse que a amava tanto, que não podia viver sem ela?.

    Será que traduzindo em miúdos, o “amor”, para o galanteador, não se resume a um mero sentimento de posse ─, o desejo possessivo de ter uma pessoa transformada em instrumento ou objeto em suas mãos?.

    Às vezes, dizemos que amamos a esposa, o filho, o empregado de casa, ou mesmo um mendigo de rua, sem se ater a uma reflexão mais criteriosa. Reflexão essa, que pode simplesmente desembocar na constatação de que esse “amor” não passa de um sentimento de gratidão, por essas pessoas terem se tornado objetos de nossa dominação. Então, imaginamos que dominamos àquelas vidas, pelo simples fato de “amá-las” muito; na verdade, “as amamos” porque as dominamos.

    Por vezes, aprisionamos nossos filhos em gaiolas douradas, e dizemos para nós mesmos: “é para sua proteção”. Racionalizamos que essa preocupação natural é “amor”. No entanto, essa percepção não passa de uma dominação ou propriedade.

    O resultado é que quando o filho cresce, o que fica plantado nele é o receio de amar, pois o amor para ele, subtende-se, que é ficar preso e obstado. O amor que trava a liberdade não é amor, é possessão.

    Infelizmente, em nossa cultura tratamos os outros como mercadoria. Achamos que para adquiri-los basta que eles fiquem dependentes de nós. Erich Fromm ─ o grande humanista da filosofia clássica alemã, escreveu: “Só há um sentido para a vida: o próprio ato de viver”.

    Poderemos até pensar que a educação ensina a amar. Educar como se doma um animal, nunca vai fazer nascer na criança o sentimento do amor. Não podemos negar que, na grande maioria das vezes, o que as crianças aprendem na escola, são modos de representação para indicar para sociedade que elas gostam e aprovam aquilo que foi infundido em suas mentes. Tanto os pais, como os professores ensinam a criança a ser indiscriminadamente amistosa, como os trejeitos ensaiados de como sorrir e tagarelar.

    Então, em suma, o que se esconde por trás desse amor artificialmente imprimido?

    Escondem-se a jovialidade e a cordialidade adquiridas e expressas no que denominamos: “bons modos sociais”, ditas em outras palavras: “reações condicionadas”. E nós, os pais, ficamos na incumbência de ligar e desligar o interruptor dos nossos autômatos filhos.

    Por outro lado, a religião corrobora com todo esse mecanismo de dominação, ao ensinar a esconder os próprios sentimentos. Os atos psíquicos originais da criança, através de subornos, são substituídos por meros clichês de convivência social. Sem poder expressar os seus sentimentos, o ser em formação vai se adaptando a um regime de escravidão psicológica dentro de um mundo ilegítimo e estéril.

    Ela, a criança, aprenderá no mínimo, que AMAR, é ter que dominar o outro, e submetê-lo aos seus próprios poderes.

    Como haverá lugar para o amor, se o mais alto valor humano é o sucesso? Como haverá lugar para o amor se em nossa vida diária o objetivo principal é nos transformarmos em um mero instrumento de competição dentro de uma máquina que nós mesmos construímos? É no meio dessa engrenagem chamada “sociedade” que tudo se confunde: desejo se confunde com fé; dependência se confunde com benevolência; ações egoístas se confundem com amor e altruísmo.

    Vivemos dentro dos meandros de um amor utilitarista que depende da aprovação alheia ─ que faz o homem perder a sua identidade, alienando de si mesmo. É essa alienação constituída pela indiferença a si próprio e aos outros, que faz deitar raízes maléficas em toda a nossa cultura secular.

    Não há dúvida de que há muita inverdade e artificialidade por trás daquilo que tão “humanamente” denominamos de “amor”.

    O escolástico Hugo de São Victor (século XI), à respeito do amor desinteressado, assim se pronunciou: “[..]Pois o que é amar, senão querer possuir a quem se ama? Na realidade não procuras outra coisa em troca de teu amor, e no entanto procuras e desejas algo naquilo mesmo que amas”.

    O Apóstolo Paulo no final de seu memorável sermão sobre o amor, disse: “Agora vemos em espelho, de maneira obscura [...];” (I Coríntios 13 :12)

    Está escrito: “o amor é paciente, é benigno. O amor não inveja, não se vangloria, não se ensoberbece, não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal. O amor não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo suporta, nunca falha [...]”(Coríntios 13). Nesse mesmo capítulo fala-se de fé e esperança. Esperemos então esse verdadeiro sentimento pleno de amor. “Um dia o veremos face a face” ─ disse o apóstolo Paulo, resignadamente.

    Peçamos a Deus que nos dê de sua graça e estenda a sua misericórdia sobre nós, pois, somos reles humanos, vendidos como escravos ao pecado. Quanto mais lutamos para conhecer esse amor em toda a sua plenitude ─ do qual Cristo foi portador ─ mas afundamos dentro de nossa desprezível pequenez. “A minha graça te basta, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” ─ foi a resposta Divina dada a Paulo num momento em que ele se deixou levar pelo “poder” da exaltação.

    Mas, finalmente, o que há por trás desse sentimento de amor que permeia nossa vida de relação? Será que existe em nós uma verdade latente que resistimos em aceitá-la? Será que não estamos a confundir o sentimento de amor com os nossos discursos amorosos, provisórios e às vezes antagônicos, em relação ao outro? Será que por trás desse discurso afável, de belos gestos e belas palavras, não se escondem odiosos pensamentos e os mais repulsivos intentos? Será que o poder racional de convencimento, que manejamos tão bem, não é uma “meia verdade” que se oculta por trás do nobre sentimento de amor, que tanto se fala, se canta, e se declama em versos, ensaios e prosas?

    Fonte:  http://levibronze.blogspot.com.br/2009/05/sentimento-de-amor-o-que-ha-por-tras.html 

    “...porque o AMOR é forte como a morte, e duro como a sepultura o ciúme.”(Cantares de Salomão 8: 6)

    “É POSSÍVEL ACREDITAR EM DEUS USANDO A RAZÃO”, AFIRMA WILLIAM LANE CRAIG

    Quando o escritor britânico Christopher Hitchens, um dos maiores defensores do ateísmo, travou um longo debate nos Estados Unidos, em abril de 2009, com o filósofo e teólogo William Lane Craig sobre a existência de Deus, seus colegas ateus ficaram tensos. Momentos antes de subir ao palco, Hitchens — que morreu em dezembro de 2011. aos 62 anos — falou a jornalistas sobre a expectativa de enfrentar Craig.
    “Posso dizer que meus colegas ateus o levam bem a sério”, disse. “Ele é considerado um adversário muito duro, rigoroso, culto e formidável”, continuou. “Normalmente as pessoas não me dizem ‘boa sorte’ ou ‘não nos decepcione’ antes de um debate — mas hoje, é o tipo de coisa que estão me dizendo”. Difícil saber se houve um vencedor do debate. O certo é que Craig se destaca pela elegância com que apresenta seus argumentos, mesmo quando submetido ao fogo cerrado.
    O teólogo evangélico é considerado um dos maiores defensores da doutrina cristã na atualidade. Craig, que vive em Atlanta (EUA) com a esposa, sustenta que a existência de Deus e a ressurreição de Jesus, por exemplo, não são apenas questões de fé, mas passíveis de prova lógica e racional. Em seu currículo de debates estão o famoso químico e autor britânico Peter Atkins e o neurocientista americano Sam Harris (veja lista com vídeos legendados de Craig). Basta uma rápida procura no Youtube para encontrar uma vastidão de debates travados entre Craig e diversos estudiosos. Richard Dawkins, um dos maiores críticos do teísmo, ainda se recusa a discutir com Craig sobre a existência de Deus.
    Em artigo publicado no jornal inglês The Guardian, Dawkins afirma que Craig faz apologia ao genocídio, por defender passagens da Bíblia que justificam a morte de homens, mulheres e crianças por meio de ordens divinas. “Vocês apertariam a mão de um homem que escreve esse tipo de coisa? Vocês compartilhariam o mesmo palco que ele? Eu não, eu me recuso”, escreveu. Na entrevista abaixo, Craig fala sobre o assunto.
    Autor de diversos livros — entre eles Em Guarda – Defenda a fé cristã com razão e precisão (Ed. Vida Nova), lançado no fim de 2011 no Brasil, — Craig é doutor em filosofia pela Universidade de Birmingham, na Inglaterra, e em teologia pela Universidade de Munique, Alemanha. O filósofo esteve no Brasil para o 8º Congresso de Teologia da Editora Vida Nova, em Águas de Lindóia, entre 13 e 16 de março. Durante o simpósio, Craig deu palestras e dedicou a última apresentação a atacar, ponto a ponto, os argumentos de Richard Dawkins sobre a inexistência de Deus.
    Por que deveríamos acreditar em Deus? Porque os argumentos e evidências que apontam para a Sua existência são mais plausíveis do que aqueles que apontam para a negação. Vários argumentos dão força à ideia de que Deus existe. Ele é a melhor explicação para a existência de tudo a partir de um momento no passado finito, e também a para o ajuste preciso do universo, levando ao surgimento de vida inteligente. Deus também é a melhor explicação para a existência de deveres e valores morais objetivos no mundo. Com isso, quero dizer valores e deveres que existem independentemente da opinião humana.
    Se Deus é bondade e justiça, por que ele não criou um universo perfeito onde todas as pessoas vivem felizes? Acho que esse é o desejo de Deus. É o que a Bíblia ensina. O fato de que o desejo de Deus não é realizado implica que os seres humanos possuem livre-arbítrio. Não concordo com os teólogos que dizem que Deus determina quem é salvo ou não. Parece-me que os próprios humanos determinam isso. A única razão pela qual algumas pessoas não são salvas é porque elas próprias rejeitam livremente a vontade de Deus de salvá-las.
    Alguns cientistas argumentam que o livre-arbítrio não existe. Se esse for o caso, as pessoas poderiam ser julgadas por Deus? Não, elas não poderiam. Acredito que esses autores estão errados. É difícil entender como a concepção do determinismo pode ser racional. Se acreditarmos que tudo é determinado, então até a crença no determinismo foi determinada. Nesse contexto, não se chega a essa conclusão por reflexão racional. Ela seria tão natural e inevitável como um dente que nasce ou uma árvore que dá galhos. Penso que o determinismo, racionalmente, não passa de absurdo. Não é possível acreditar racionalmente nele. Portanto, a atitude racional é negá-lo e acreditar que existe o livre-arbítrio.
    O senhor defende em seu site uma passagem do Velho Testamento em que Deus ordena a destruição da cidade de Canaã, inclusive autorizando o genocídio, argumentando que os inocentes mortos nesse massacre seriam salvos pela graça divina. Esse não é um argumento perigosamente próximo daqueles usados por terroristas motivados pela religião? A teoria ética desses terroristas não está errada. Isso, contudo, não quer dizer que eles estão certos. O problema é a crença deles no deus errado. O verdadeiro Deus não ordena atos terroristas e, portanto, eles estariam cometendo uma atrocidade moral. Quero dizer que se Deus decide tirar a vida de uma pessoa inocente, especialmente uma criança, a Sua graça se estende a ela.
    Se o terrorista é cristão o ato terrorista motivado pela religião é justificável, por ele acreditar no Deus ‘certo’? Não é suficiente acreditar no deus certo. É preciso garantir que os comandos divinos estão sendo corretamente interpretados. Não acho que Deus dê esse tipo de comando hoje em dia. Os casos do Velho Testamento, como a conquista de Canaã, não representam a vontade normal de Deus.
    O sr. está querendo dizer que Deus também está sujeito a variações de humor? Não é plausível esperar que pelo menos Ele seja consistente? Penso que Deus pode fazer exceções aos comandos morais que dá. O principal exemplo no Velho Testamento é a ordem que ele dá a Abraão para sacrificar seu filho Isaque. Se Abraão tivesse feito isso por iniciativa própria, isso seria uma abominação. O deus do Velho Testamento condena o sacrifício infantil. Essa foi uma das razões que o levou a ordenar a destruição das nações pagãs ao redor de Israel. Elas estavam sacrificando crianças aos seus deuses. E, no entanto, Deus dá essa ordem extraordinária a Abraão: sacrificar o próprio filho Isaque. Isso serviu para verificar a obediência e fé dele. Mas isso é a exceção que prova a regra. Não é a forma normal com que Deus conduz os assuntos humanos. Mas porque Deus é Deus, Ele tem a possibilidade de abrir exceções em alguns casos extremos, como esse.
    O sr. disse que não é suficiente ter o deus certo, é preciso fazer a interpretação correta dos comandos divinos. Como garantir que a sua interpretação é objetivamente correta? As coisas que digo são baseadas no que Deus nos deu a conhecer sobre si mesmo e em preceitos registrados na Bíblia, que é a palavra d’Ele. Refiro-me a determinações sobre a vida humana, como “não matarás”. Deus condena o sacrifício de crianças, Seu desejo é que amemos uns ao outros. Essa é a Sua moral geral. Seria apenas em casos excepcionalmente extremos, como o de Abraão e Isaque, que Deus mudaria isso. Se eu achar que Deus me comandou a fazer algo que é contra o Seu desejo moral geral, revelado na escritura, o mais provável é que eu tenha entendido errado. Temos a revelação do desejo moral de Deus e é assim que devemos nos comportar.
    O sr. deposita grande parte da sua argumentação no conteúdo da Bíblia. Contudo, ela foi escrita por homens em um período restrito, em uma área restrita do mundo, em uma língua restrita, para um grupo específico de pessoas. Que evidência se tem de que a Bíblia é a palavra de um ser sobrenatural? A razão pela qual acreditamos na Bíblia e sua validade é porque acreditamos em Cristo. Ele considerava as escrituras hebraicas como a palavra de Deus. Seus ensinamentos são extensões do que é ensinado no Velho Testamento. Os ensinamentos de Jesus são direcionados à era da Igreja, que o sucederia. A questão, então, se torna a seguinte: temos boas razões para acreditar em Jesus? Ele é quem ele diz ser, a revelação de Deus? Acredito que sim. A ressurreição dos mortos, por exemplo, mostra que ele era quem afirmava.
    Existem provas que confirmem a ressurreição de Jesus? Temos boas bases históricas. A palavra ‘prova’ pode ser enganosa porque muitos a associam com matemática. Certamente, não temos prova matemática de qualquer coisa que tenha acontecido na história do homem. Não temos provas, nesse sentido, de que Júlio César foi assassinado no senado romano, por exemplo, mas temos boas bases históricas para isso. Meu argumento é que se você considera os documentos do Novo Testamento como fontes da história antiga, — como os historiadores gregos Tácito, Heródoto ou Tucídides — o evangelho aparece como uma fonte histórica muito confiável para a vida de Jesus de Nazaré. A maioria dos historiadores do Novo Testamento concorda com os fatos fundamentais que balizam a inferência sobre a ressurreição de Cristo. Coisas como a sua execução sob autoridade romana, a descoberta das tumbas vazias por um grupo de mulheres no domingo depois da crucificação e o relato de vários indivíduos e grupos sobre os aparecimentos de Jesus vivo após sua execução. Com isso, nos resta a seguinte pergunta: qual é a melhor explicação para essa sequência de acontecimentos? Penso que a melhor explicação é aquela que os discípulos originais deram — Deus fez Jesus renascer dos mortos. Não podemos falar de uma prova, mas podemos levantar boas bases históricas para dizer que a ressurreição é a melhor explicação para os fatos. E como temos boas razões para acreditar que Cristo era quem dizia ser, portanto temos boas razões para acreditar que seus ensinamentos eram verdade. Sendo assim, podemos ver que a Bíblia não foi criação contingente de um tempo, de um lugar e de certas pessoas, mas é a palavra de Deus para a humanidade.
    O textos da Bíblia passaram por diversas revisões ao longo do tempo. Como podemos ter certeza de que as informações às quais temos acesso hoje são as mesmas escritas há 2.000 anos? Além disso, como lidar com o fato de que informações podem ser perdidas durante a tradução? Você tem razão quanto a variedade de revisões e traduções. Por isso, é imperativo voltar às línguas originais nas quais esses textos foram escritos. Hoje, os críticos textuais comparam diferentes manuscritos antigos de modo a reconstruir o que os originais diziam. O Novo Testamento é o livro mais atestado da história antiga, seja em termos de manuscritos encontrados ou em termos de quão próximos eles estão da data original de escrita. Os textos já foram reconstruídos com 99% de precisão em relação aos originais. As incertezas que restam são trivialidades. Por exemplo, na Primeira Epístola de João, ele diz: “Estas coisas vos escrevemos, para que o vosso gozo se cumpra”. Mas alguns manuscritos dizem: “Estas coisas vos escrevemos, para que o nosso gozo se cumpra”. Não temos certeza se o texto original diz ‘vosso’ ou ‘nosso’. Isso ilustra como esse 1% de incerteza é trivial. Alguém que realmente queira entender os textos deverá aprender grego, a língua original em que o Novo Testamento foi escrito. Contudo, as pessoas também podem comprar diferentes traduções e compará-las para perceber como o texto se comporta em diferentes versões.
    É possível explicar a existência de Deus apenas com a razão? Qual o papel da ciência na explicação das causas do universo? A razão é muito mais ampla do que a ciência. A ciência é uma exploração do mundo físico e natural. A razão, por outro lado, inclui elementos como a lógica, a matemática, a metafísica, a ética, a psicologia e assim por diante. Parte da cegueira de cientistas naturalistas, como Richard Dawkins, é que eles são culpados de algo chamado ‘cientismo’. Como se a ciência fosse a única fonte da verdade. Não acho que podemos explicar Deus em sua plenitude, mas a razão é suficiente para justificar a conclusão de que um criador transcendente do universo existe e é a fonte absoluta de bondade moral.
    Por que o cristianismo deveria ser mais importante do que outras religiões que ensinam as mesmas questões fundamentais, como o amor e a caridade? As pessoas não entendem o que é o cristianismo. É por isso que alguns ficam tão ofendidos quando se prega que Jesus é a única forma de salvação. Elas pensam que ser cristão é seguir os ensinamentos éticos de Jesus, como amar ao próximo como a si mesmo. É claro que não é preciso acreditar em Jesus para se fazer isso. Isso não é o cristianismo. O evangelho diz que somos moralmente culpados perante Deus. Espiritualmente, somos separados d’Ele. É por isso que precisamos experimentar Seu perdão e graça. Para isso, é preciso ter um substituto que pague a pena dos nossos pecados. Jesus ofereceu a própria vida como sacrifício por nós. Ao aceitar o que ele fez em nosso nome, podemos ter o perdão de Deus e a limpeza moral. A partir disso, nossa relação com Deus pode ser restaurada. Isso evidencia por que acreditar em Cristo é tão importante. Repudiá-lo é rejeitar a graça de Deus e permanecer espiritualmente separado d’Ele. Se você morre nessa condição você ficará eternamente separado de Deus. Outras religiões não ensinam a mesma coisa.
    A crença em Deus é necessária para trazer qualidade de vida e felicidade? Penso que a crença em Deus ajuda, mas não é necessária. Ela pode lhe dar uma fundação para valores morais, propósito de vida e esperança para o futuro. Contudo, se você quiser viver inconsistentemente, é possível ser um ateu feliz, contanto que não se pense nas implicações do ateísmo. Em última análise, o ateísmo prega que não existem valores morais objetivos, que tudo é uma ilusão, que não há propósito e significado para a vida e que somos um subproduto do acaso.
    Por que importa se acreditamos no deus do cristianismo ou na ‘mãe natureza’ se na prática as pessoas podem seguir, fundamentalmente, os mesmos ensinamentos? Deveríamos acreditar em uma mentira se isso for bom para a sociedade? As pessoas devem acreditar em uma falsa teoria, só por causa dos benefícios sociais? Eu acho que não. Isso seria uma alucinação. Algumas pessoas passam a acreditar na religião por esse motivo. Já que a religião traz benefícios para a sociedade, mesmo que o indivíduo pense que ela não passa de um ‘conto de fadas’, ele passa a acreditar. Digo que não. Se você acha que a religião é um conto de fadas, não acredite. Mas se o cristianismo é a verdade — como penso que é — temos que acreditar nele independente das consequências. É o que as pessoas racionais fazem, elas acreditam na verdade. A via contrária é o pragmatismo. “Isso Funciona?”, perguntam elas. “Não importa se é verdade, quero saber se funciona”. Não estou preocupado se na Suécia alguns são felizes sem acreditar em Deus ou se há alguma vantagem em acreditar n’Ele. Como filósofo, estou interessado no que é verdade e me parece que a existência desse ser transcendente que criou e projetou o universo, fonte dos valores morais, é a verdade.
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