Isvonaldo sou Protestante

Isvonaldo sou Protestante

terça-feira, 29 de outubro de 2013

SEXO ANTES DA CERIMÔNIA RELIGIOSA PODE?

Dani Marques


Na fase da adolescência, e durante uma boa parte da vida, os homens "pegam fogo" quando o assunto é sexo. Isso mesmo mãe, seu filho adolescente deseja fazer sexo! "Oh meu Deus, e agora? O que eu faço?” Calma, pode ficar tranquila. Isso só mostra que a sexualidade dele está se desenvolvendo dentro dos padrões da normalidade. O homem foi criado desta maneira, Deus o fez assim.


O corpo de um menino adolescente passa por um turbilhão de hormônios, e por volta dos 11/12 anos, iniciam-se as ejaculações. É absolutamente normal que ele pense e deseje sexo. Não podemos tapar o sol com a peneira e fingir que nada está acontecendo. É momento de buscar informações em fontes seguras e saudáveis e deixar o canal da comunicação aberto entre vocês.


As meninas também pensam em sexo, só que de uma forma diferente e bem mais "florida". As cenas são mais românticas e enfeitadas de palavras encantadoras, cenários, carinhos, beijos e... sexo, claro! Meninas, estou mentindo? E quer saber de uma coisa? Se seu filho quiser transar com a namorada e ela também quiser, nada poderá impedi-los (a não ser que tranque cada um no seu quarto até o dia do casamento). Por isso digo que o que deve ser trabalhado na cabeça dos jovens não é o que "pode e o que não pode", mas sim o verdadeiro significado do sexo, do casamento, do amor e as consequências de uma decisão impensada.

E o que fazer com dois adolescentes e jovens apaixonados que estão pegando fogo? Quanto tempo um casal de namorados aguenta sem sexo? O que Deus pensa a respeito disso? Ele permite que o sexo aconteça antes do casamento? Calma, calma, calma! Antes de responder a todas estas perguntas, precisamos entender algumas questões, e uma delas é o real significado da palavra "virgindade".


Muitas pessoas pensam ou afirmam que casaram virgens, mas estão redondamente enganadas. O que dizer de um casal que fez de um tudo, mas não consumou o sexo com a penetração? Claro que não são mais virgens! Seria uma bela hipocrisia dizer o contrário. Ao invés de falarmos sobre virgindade, precisamos trabalhar na cabeça dos nossos jovens a questão do verdadeiro amor e da pureza diante de Deus, pois uma coisa é bem diferente da outra.


O sexo puro é aquele feito dentro de uma aliança de amor verdadeiro e maduro, e não quando nosso corpo está dominado pelo desejo, no auge da paixão. O grande problema, é que o ser humano deturpou essa forma linda de expressão de amor. O sexo se tornou banal, usado apenas para satisfação pessoal. Se não está bom com o parceiro "x", simples, é só trocar pelo "y". Não vou nem entrar na questão “sexo sem compromisso”, pois já escrevi um texto sobre o assunto. Tudo o que fazemos na vida de solteiro, levaremos para a vida de casado, isso é fato! Hoje você faz as suas escolhas, amanhã suas escolhas fazem você. Temos que ter a convicção de que algumas atitudes que tomamos podem trazer consequências desastrosas para a nossa vida.


Ok, mas porque uma pessoa precisa entrar no casamento pura? Qual a importância disso pra Deus e para nós?


Deus criou o sexo para o casamento, não há dúvidas quanto a isso. Aliás, vou muito mais além: Sexo é casamento! Se Jesus nos ensina que apenas desejar uma pessoa em pensamento (que não seja o nosso cônjuge) é adultério, o que dizer então de uma pessoa que se une sexualmente a alguém, se torna uma só carne com ela, e depois casa com outra? Entendo isso como adultério, e adultério só acontece no contexto casamento. Então, pra mim, sexo também é casamento!


E o casamento envolve decisões muito importantes: "Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne." Gn 2:24. Esse é o tal do "casamento" que devemos esperar. Estas três coisas precisam acontecer juntas, isto é casamento!

A questão de deixar pai e mãe vai muito mais além do que sair da casa dos pais, mesmo porque, naquela época (e ainda hoje em algumas culturas), não se saía da casa dos pais. Na verdade, significa formar uma nova família e assumir uma responsabilidade sobre ela (e que responsabilidade!). Quando nos apaixonamos por alguém, desejamos estar com esta pessoa, dividir nossa vida com ela e por isso, somos impelidos a assumir um compromisso de "deixar pai e mãe". Há casais que estão unidos há dez anos mas o esposo ainda não deixou pai e mãe. Percebe como o buraco é mais embaixo?

Outra coisa é o tal do "se unir", que muitos entendem como a cerimônia religiosa. A Bíblia em momento algum diz que Deus proíbe o sexo antes da cerimônia religiosa, pois ela simplesmente não existia. O casamento era algo simples, familiar, singelo e não vinha cheio de regulamentações além do pacto entre as partes. "Adão e Eva não estavam menos casados por não terem tido “testemunhas humanas” para a cerimônia, que naquele caso foi apenas uma bela frase de surpresa: “Uau! Essa Sim!”. Isaque e Rebeca nem esperaram o jantar. Quando Isaque a viu no campo, sendo trazida pelo servo de seu pai, correu ao encontro de ambos, tomou a Rebeca sobre sua montaria e a levou direto para a tenda de sua mãe e a “possuiu”.

Esse casamento que temos hoje, com todos esses ritos e pompas não existia, no máximo acontecia uma festa entre amigos e parentes para comemorar a união do casal. Poucas coisas foram tão manipuladas pela religião quanto o ato do casamento. O que antes era leigo passou a ser “sacerdotal” e o que antes era coisa de duas pessoas e suas famílias, veio a se tornar algo que só é verdadeiro se um “ministro oficialmente ordenado” realizar a cerimônia dos plebeus desejosos de terem um dia de príncipe e princesa.


Nada contra, desde que se assuma que é uma representação apenas, posto que aquele ato só deve acontecer se o amor já tiver unido as partes"¹. Um casal que se ama verdadeiramente e resolve celebrar esta união somente entre os dois, pedindo a bênção de Deus e vivendo de acordo com a Sua vontade, será tão abençoado e feliz quanto o casal que celebrou o casamento na igreja. Acha que estou falando besteira? O que me diz então dos casais que tiveram a bênção do padre ou pastor e hoje vivem um inferno matrimonial? Que poder teve esta bênção ou esta cerimônia?

Ou seja, não é a bênção de um pastor ou uma cerimônia religiosa que vai te casar. "Quando dois seres humanos livres e sinceros se amam de verdade, eles já estão casados. Somente o amor casa e somente a falta dele descasa. Desse modo, quando há amor, nunca há sexo antes do casamento. Quando há amor de verdade, o sexo é o casamento! Mas sexo sem amor durante o “casamento” é pecado também, pois é uma afronta a alma, que "faz amor sem amor". Casamento não é algo que acontece de fora para dentro, só acontece de dentro para fora. É como tudo mais que tem valor para Deus: procede do coração. O casamento é como o batismo: um símbolo visível (o sexo), de uma realidade invisível (o amor entre duas pessoas)"².


Nas bodas de Caná, Jesus poderia ter celebrado a cerimônia e abençoado o casal para nos deixar um exemplo a ser seguido, mas não o fez. Ele estava mesmo é preocupado com a alegria dos noivos e dos convidados, e não com o ritual em si. E o que dizer de Pedro? Vocês realmente acreditam que ele teve uma festa nos moldes atuais para celebrar sua união com a esposa? É óbvio que não... Com isto não estou querendo dizer que sou contra a cerimônia religiosa, mas apenas desmistificando o "poder" que colocaram sobre ela. Acredito que o que mantém um casal unido é o "depois", a obediência a Palavra no dia-a-dia e o compromisso de amar e servir. Casamento se faz todo dia.


O casamento civil e religioso que temos hoje, foi algo instituído por homens e não por Deus. Encontramos referências Bíblicas apenas sobre a carta de divórcio, e não sobre a "carta de casados". Mas se existia a necessidade de uma carta de divórcio, é porque antes houve um compromisso de união, certo? Então, sim, precisa existir um compromisso entre as partes. Como vivemos debaixo de uma autoridade que reconhece o casamento apenas se os papéis forem assinados no cartório, devemos ser submissos a esta autoridade e fazer tudo conforme a lei. Mas em alguns outros lugares não funciona assim. Não consigo ser tão radical. Quanto às testemunhas, concordo que elas colocam um peso de responsabilidade sobre ombros dos noivos, afinal, é um compromisso público. Isso gera uma certa influência, claro, mas não tem poder nenhum de manter um casamento.


Quer dizer então que todos os jovens estão livres para transar se houver amor? Não é isso que estou dizendo! A grande questão é: Como saber se o que estou sentindo pelo meu namorado e noivo é amor de verdade? O amor pode ser facilmente confundido com paixão, e a paixão cega! Precisamos estar muito próximos de Deus para ter discernimento e domínio sobre a nossa carne: “Por isso digo: vivam pelo Espírito, e de modo nenhum satisfarão os desejos da carne”. Gálatas 5:16.

"E se eu já transei com três pessoas?" Desculpe lhe informar, mas você já está no seu terceiro casamento. Certa vez ouvi o Ed René compartilhando uma conversa que teve com um casal de noivos: "Vocês já transaram com outras pessoas?" O noivo respondeu que sim, com quatro pessoas. E a noiva também respondeu que sim, com três pessoas. Então o pastor disse: "Só gostaria que soubessem que este casamento que iremos celebrar agora será o seu quinto casamento (olhando para o noivo) e o seu quarto casamento (olhando para noiva). Ele também perguntou: “E vocês dois já mantiveram relações íntimas”? A resposta foi sim, e o pastor concluiu dizendo: "Então saibam que já estão casados, a cerimônia será apenas uma festa para celebrar uma união que já foi consumada e eu serei apenas mais um convidado dessa festa."

"E agora? Este casal vai pro inferno?" Eu te respondo com outras perguntas: Alguém vai pro inferno porque cometeu o pecado da gula 10 vezes? Ou porque se entupiu de guloseimas e refrigerante durante toda a sua vida? Ou quem sabe porque falou mal de alguns conhecidos? E qual é a diferença de um pecado sexual para outro qualquer?


Minha gente, a questão é muito mais profunda. Algo muito sério acontece quando duas pessoas se unem sexualmente: "Vocês não sabem que aquele que se une a uma prostituta é um corpo com ela? Pois, como está escrito: "Os dois serão uma só carne" 1 Coríntios 6:16. Vou explicar com uma ilustração. Cole duas folhas de papel uma na outra, espere um tempo e tente separá-las. Com certeza não sairão inteiras e nunca mais voltarão a ser como eram antes. É algo muito sério! Deus não quer isso pra nós. Como Pai, ele deseja que tenhamos uma vida de casados livre e plena. Sabe quando uma mãe fala para um filho: "Não coloca a mão aí que dá choque?" Ela não faz isso porque é uma ditadora que tem prazer em cercear a liberdade dos filhos, mas sim porque os ama e não deseja vê-los sofrer. Deus é assim. Ele nos ama e sabe que corremos grande risco de sofrer (física e emocionalmente) quando nos unimos sexualmente com uma pessoa fora da aliança do casamento.

Mas colocando os pés no chão, estes motivos nunca foram empecilho para os jovens desejosos de sexo, já estamos cansados de saber. Se hoje eu tiver que dar um conselho pra você que é jovem e está desesperado pra transar com a namorada, leia e releia esse texto, entenda o que é casamento de verdade e tente esperar. Não por medo ou porque a igreja e seus pais proíbem, mas porque esta é a melhor e mais madura decisão que pode tomar em benefício do seu casamento. Como eu já disse em outros textos, sexo não é sujo, sexo não é pecado e se feito com amor dentro da aliança do casamento nunca é errado.


"Mas Dani, se eu não transar antes de casar, como vou saber se ele(a) é mesmo bom(a) de cama?". Quando um casal se ama de verdade e procura ter intimidade sexual, desejando sempre o bem do outro, o sexo fica cada dia melhor! Pode até começar ruim, mas conversando sobre o que gostam ou não, sugerindo novas posições e carinhos, vão se aperfeiçoando e, JUNTOS, descobrem qual o sexo melhor para ELES. Não existe fórmula para um bom sexo, cada casal deve encontrar a sua, e isso só acontece com anos de convivência, regados de amor e verdadeira intimidade.


E outra coisa, durante o namoro deve haver um diálogo sério e transparente a respeito deste assunto. Você precisa saber com quem está se casando. Conheci um casal em que o esposo era maluco por sexo anal, e quando casou, achou que sua esposa iria satisfazê-lo nesta área. Pra resumir a história, o casamento caminhou a trancos e barrancos e culminou em divórcio. Aos casais de noivos, aconselho que, antes de se casarem, leiam juntos o livro “Entre Lençois – de Kevin Leman” e alguns textos aqui do blog: Sexo anal é pecado?, O que Deus pensa do sexo oral? e Vale tudo entre as quatro paredes do quarto?


O grande problema, é que nos dias de hoje a sociedade pressiona o jovem a esperar tempo demais para casar. Eles precisam concluir a faculdade, pós-graduação, doutorado, arrumar um bom emprego, comprar um carro do ano, uma casa, ter uma boa estabilidade financeira, para só então poder pensar em casar. Aí vem a igreja e diz: "É pecado transar antes de casar e é pecado se masturbar". E fica de braços cruzados esperando que o jovem simplesmente cumpra o mandamento. E se ele não cumpre, ela rapidamente descruza os braços e aponta o dedo dizendo: "Pecador!".


Deus instituiu o casamento, mas não instituiu o namoro que temos hoje, recheado de carinhos, beijos, abraços e momentos a sós. Tudo mudou! Antigamente as moças eram cortejadas e não existiam amassos no cinema, por isso era muito mais fácil resistir a tentação. O namoro que temos hoje, inclusive entre os cristãos, é um caminho que leva ao sexo. O beijo de língua faz parte das preliminares do sexo, ele excita! Nos padrões atuais, é quase impossível um casal que namora muito tempo ficar sem sexo. A não ser que eles sejam totalmente compromissados com Deus, busquem a santidade no namoro e evitem momentos a sós.


Existe uma pesquisa feita pela BEPEC, com mais de 1,6 milhões de evangélicos, que diz que 77% dos neopentecostais, 54% dos tradicionais, 57% dos pentecostais e 58% de outras denominações, fizeram sexo antes do casamento. Não podemos ignorar estas informações! Isso é uma prova de que simplesmente dizer para um jovem: "Transar antes do casamento é pecado" não funciona.


Mas diante de tudo isso, qual a solução para este problema? Eu vejo apenas três opções: 1. Os jovens deveriam namorar por pouco tempo; 2. Simplesmente não namorar, apenas cortejar; 3. Buscar intimidade com Deus antes de buscar intimidade no namoro. Quanto mais próximos estivermos de Deus, mais longe ficaremos do pecado: "Por isso digo: vivam pelo Espírito, e de modo nenhum satisfarão os desejos da carne. Pois a carne deseja o que é contrário ao Espírito, e o Espírito, o que é contrário à carne. Eles estão em conflito um com o outro, de modo que vocês não fazem o que desejam. Mas, se vocês são guiados pelo Espírito, não estão debaixo da lei." Gálatas 5:16-18.


Ser guiado pelo Espírito. Aí está o segredo. Quanto mais buscarmos a Deus, mais próximos ficaremos da Sua vontade. Não é mais a lei que vai me guiar, mas sim o Espírito de Deus. Não vou deixar de fazer sexo fora do casamento simplesmente porque alguém disse que é pecado, mas sim porque o Espírito Santo de Deus vai me conduzir a isto: "Quem vive segundo a carne tem a mente voltada para o que a carne deseja, mas quem vive de acordo com o Espírito, tem a mente voltada para o que o Espírito deseja." Romanos 8:5.

Mas como posso buscar a Deus? Sugiro que ore: "Senhor, eu não sei como é esse negócio de viver pelo Espírito, mas quero isso pra minha vida!" Deus vai te entender. Enquanto isso, devore os evangelhos, em especial o de João, e peça sabedoria e entendimento a Deus como alguém que clama por água no deserto! "Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes, ela penetra ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e intenções do coração." Hebreus 4:12


"Quem tem os meus mandamentos e lhes obedece, esse é o que me ama. Aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele". João 14:21. Faça a sua parte e Deus fará e Dele, creia! "Da mesma forma o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos como orar, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexpremíveis. E aquele que sonda os corações conhece a intenção do Espírito, porque o Espírito intercede pelos santos de acordo com a vontade de Deus. Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito." Romanos 8:26-28

A Palavra vai muito além do que nossos olhos podem enxergar e muito mais além do que um simples "não fornicarás"! Ensinamos aos jovens que é pecado transar antes de casar, mas esquecemos de ensiná-los que tudo começa com um mal pensamento bem alimentado, e que este mal pensamento precisa ser dominado, para não dar a luz ao pecado: "Cada um, porém, é tentado pela própria cobiça, sendo por esta arrastado e seduzido. Então a cobiça, tendo engravidado, dá à luz o pecado, e o pecado, após ter-se consumado, gera a morte." Tiago 1:14-15. E como dominar e discernir o pecado? "Vivam pelo Espírito, e de modo nenhum satisfarão os desejos da carne. Pois a carne deseja o que é contrário ao Espírito; e o Espírito, o que é contrário à carne. Eles estão em conflito um com o outro, de modo que vocês não fazem o que desejam. Mas, se vocês são guiados pelo Espírito, não estão debaixo da lei." Gálatas 5:16-18


Deus criou o sexo para o casamento. Ele planejou que o homem tivesse apenas uma mulher para a vida toda e criou o sexo para selar esta união. O pecado, a maldade e a falta de amor distorceram e acabaram com este plano, que é perfeito. Se você ama a "mulher da tua mocidade", não fará mal a ela, ou seja, estará cumprindo a lei através do amor. Não falo do amor deste mundo, que é egoísta, erótico e sentimental, mas sim do Amor verdadeiro, dom dado por Deus: "O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta." 1 Coríntios 13:4-7.


Se você já escorregou, transou fora da aliança do casamento e está realmente arrependido por ter "adiantado o processo", peça perdão a Deus, vá e não peques mais! “Mas como vou aguentar?” Sinto-lhe dizer, mas pelas suas próprias forças você não vai conseguir: "Pois, no íntimo do meu ser tenho prazer na lei de Deus, mas vejo outra lei atuando nos membros do meu corpo, guerreando contra a lei da minha mente, tornando-me prisioneiro da lei do pecado que atua em meus membros. Miserável homem eu que sou! Quem me libertará do corpo sujeito a esta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor!" Romanos 7:22-25.

Que a sua plena realização e alegria esteja em Deus, e não no seu cônjuge ou futuro cônjuge. Se acha que vai preencher o vazio que existe em seu peito ao se casar, está redondamente enganado. Um casamento feliz é formado por duas pessoas que já encontraram a verdadeira felicidade em Cristo Jesus. Se o seu relacionamento com Ele for prioridade, TUDO cooperará para o seu bem: "Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito." Romanos 8:28



¹ e ² www.caiofabio.net
Dani Marques é colaboradora do  Genizah


Leia Mais em: http://www.genizahvirtual.com/search?updated-max=2013-10-26T05:23:00-07:00&max-results=6#ixzz2j7Baw35j
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Subcultura e o neopentecostalismo brasileiro

Como o Brasil se desenraizou da Igreja Católica e aderiu ao salvacionismo de auditório


Candido Mendes 




Da crença ao rapto eletrônico


A história da subcultura nos países subdesenvolvidos vive de uma dinâmica de desgarre, de frustrações e sobressaltos de um quadro histórico desamparado da consciência crítica; de inércia crescente das elites instaladas e de crescimento vegetativo da população no fluxo dos eixos migratórios, tangidos pela busca de oportunidade de trabalho.

O evento evangélico recente colhe essa nova decantação social em que se desenraizou o apelo matricial da Igreja Católica, e vinga uma convocatória às satisfações imediatas das expectativas coletivas, de retribuições simbólicas que permitem a acolhida eletrônica de massa e o salvacionismo de auditório.  Esse evangelismo colhe a marginalidade errante do país, num simulacro da liturgia católica, mas na tangibilidade de retribuições, nas interações de reconhecimento comunitário. Desde os seus bispados ostensivos – em confronto com a modéstia do pastoreio luterano – até o mais solene e elaborado dos dísticos, seus letreiros pateticamente góticos, buscando um intemporal do recado, e de sua convocatória em nossos dias.

Nas faixas exaustas de destituídos em toda a América Latina, despertaria assim um chamamento, como o evangélico é um fenômeno estrito da nossa subcultura e da sua exploração como um dado da mudança brasileira, no empreendedorismo desenvolto da igreja do bispo Macedo e similares.  Nesse quadro crítico, estão nos neopentescostismos denominações como a Universal do Reino de Deus,  “Deus é Amor” e a “Casa da Bênção”.  Esses comportamentos se distinguem do empenho das demais redes particulares de ação tão fecunda e consequente no avanço da dignidade humana entre nós. A Universal vai à convocatória da fé num país de destituição radical, como uma commodity literal, a ser vivida, nas suas compensações simbólicas imediatas, e na reiteração quase que terápica de suas certezas.

Esse protagonismo sintetiza as complacências de uma subcultura no campo da crença que a desses autodenominados pastores, da igreja do bispo Macedo, sem qualquer explicitação de suas credenciais, alinhados pela repetição de seus formulários, no mais elementar das prédicas, entoados do Amargedon, periódico dos estádios, à reunião enfarpelada nos seus templos. Obedecem à retórica de um congraçamento do curandeirismo da alma, que não chega, sequer, a precisar dos lances de uma terapia de grupo, que marcaria, por exemplo, o evangelismo dos grupos desvalidos nos Estados Unidos.

Historicamente, a pregação de Edir Macedo remeter-se-ia aos pastores do Deep South e às “opções por Cristo” nos estádios americanos.  E é de imediato que ela ganhou extrema criatividade, no trinômio de “pregação, sideração e controle”, pelo qual esse evangelismo emergiu como fenômeno genuinamente brasileiro nas culturas de orla, ou de marginalidade, do país dos excluídos.

O evangelismo se concentra numa tônica que é, de fato, a do anúncio da assistência divina direta, para além, inclusive, de qualquer escatologia de vinda do reino, traduzível na mudança da situação imediata, de opróbrio ou destituição.  Nada de comum nessa pregação acomodatícia, inclusive, à Teologia da Libertação e de um profetismo prospectivo que acontecia paralelamente no catolicismo brasileiro.

Terapia e possessão do imaginário
O neopentecostalismo do bispo Macedo no Brasil descarta toda experiência comunitária pela presença reiterativa, na batida do cantochão, de uma militância elementar, que prescinde de qualquer rito iniciático ou leitura interior.  A vivência da esperança se troca no incitamento das palavras de ordem, e todas elas da convocação à presença e ao bordão-chamamento de Jesus, como tentativa vocabular, que extravasa da ladainha católica para a possessão verbal obsessivamente reentoada. Só se interrompe num transe pelas próprias palavras de ordem em que o cerimonial religioso se cumpre, na presunção da sua saciedade, a jamais superar a disciplina de seu gestual primário.  E é como espetáculo, também, rigorosamente administrado, que se cumpre essa liturgia básica das rações outorgadas ao seu imaginário, e do ritual das curas das interseções do sobrenatural; no resultado, ou na programação rígida de seu desfecho, ou ainda na premissa da credibilidade limite indiscutível, nas aparições demoníacas à hora certa.

O rebanho, assim cantonado, verte-se à disciplina dos deveres, ao óbolo obrigatório e fica como o laço ostensivo de seu sacrifício por definição irrenunciável, e a permitir a tranquilidade econômica da Universal.  Não se trata mais da espórtula em que a Igreja, por demais instalada, permite a liberdade da coleta católica na dádiva da missa.

Cura; sideração; exorcismo
O que importa, sim, é o valor siderante do possível contato direto entre o aflito e Deus, traduzido no espetáculo continuado das curas, a que deve dar lugar toda reunião da Universal. O hinário se contrapõe imediatamente às gratulações e aos agradecimentos dos assistentes, no entrecortar entre os améns, as citações trituradas, à catadupa, de versículos bíblicos e o entoar da gratidão pelo miraculado da hora, acompanhado de todo um coro ad hoc dos assistentes.

O contágio é instantâneo, e se faz todo no hinário ovante e gratulatório que é o do sursum dos circunstantes. Não há discurso, ou raciocínio, ou, literalmente, sessões de interpretação conjunta, ou de reflexão sobre o conteúdo bíblico.  Ele é todo um despejo de roldão da palavra, sinalizada exatamente pelo seu hieraticismo, de que o pastor é um servidor orante, mais que um intérprete do seu conteúdo, ou de qualquer didática genuinamente apostólica da sua aplicação.

Não se trata de colocar o destituído num imaginário opulento de participação do evento de Cristo, ou da espetaculosidade continuada do Novo Testamento. Mas da sensação, tão cutânea quanto irrefugável, de se estar diante de um milagre iminente, da cura em que é, sobretudo, o sentimento de merecer-se aquele momento o olhar rigorosamente intuita personae de Deus, que se torna incomparável ao resgate da autoestima do beneficiário da graça e da sacramentação dos améns à sua volta.

No ápice de todo esse espetáculo estão, por força, para além das curas, os exorcismos.  E não se economiza no cerimonial, e na coreografia pesada, com resultado simultâneo, de domesticar o estarrecimento, e exigir, até, uma pontualidade rotineira, no que seria essa convocação do demônio frente à plateia dos crentes.  Tal como se, entre a cura esperada e o seu clímax, se mantivesse um contínuo do espetáculo, em que o fluxo todo da interação, no aponte do milagre e seu agradecimento, passasse à disciplina do escarmento do demo domado.

Na prova da frequentação do sobrenatural, de todo retirado de qualquer transcendência, como espécie de assinatura repetida, assenta-se o campo de crenças em que se baseia a Universal e a ponte que abre, pelas mãos e os gestos dos pastores, com um mais-além desse cotidiano paupérrimo.  É o do vale de lágrimas transformado em feira de prodígios, a que o comparecimento programado do demônio empresta a reiteração continuada da credibilidade, em todo esse domar-se pela docilidade do abominável ao látego dos pastores do Reino de Deus.

O chão da cena se torna cada vez mais a do espetáculo sovado, todo suprido pela cantilena gratulatória.  Da trívia, trivialíssima, das curas, e do mesmo amém que as consagra, até a pontualidade rigorosa da expulsão do espírito impuro.

A fidelidade do povo à Universal se consolida, pois, toda entre o performático continuado, e exigido pelo rito do espetáculo, a tangibilidade das contribuições e a prática cada vez mais intensa dos devassamentos da alma,coram populo. Não há confissões, mas estímulos aos crentes para que abram o coração em público e façam da proclamação das suas ditas misérias ou vergonhas um testemunho do advento da cura espiritual. Essa, dos testemunhos da hora que aprisionam tal como criam uma espiritualidade promíscua nascida das comparações das narrativas e de uma adesão estridente aos receituários da alma.

Missionarismo e mimetismo
É também desnecessário salientar o quanto a corrente da cura nas assembleias não vai só à espórtula compulsória de sustento da igreja, mas à absoluta fidelidade à palavra do pastor, no que comande as ações, no corrupto mundo dos homens e, sobretudo, no exercício do voto.

A Universal, por outro lado, adotando por inteiro como sua menagem espiritual a virtualidade do universo mediático retratou, pelo mesmo espelho, a sua organização na réplica do aparelho e da visibilidade institucional da Igreja Católica. São os bispos os apóstolos dessa colegialidade, tão nítida quanto difusa, na ambiguidade procurada do pastoreio desse evangelismo.  Sem explicações a dar; peremptória no aconselhamento, em aparência compassiva, como o dos consultórios sentimentais; solene em qualquer circunstância, refletindo muito mais que a acolhida do fiel à reiteração da distância com o pastor.  Nem esse, via de regra, consegue chegar mais ao coloquial do contato, tanto é um vocativo imaginário que soleniza o dirigir-se ao outro.  A continuidade do discurso é de um versejar à distância, quase que em eco de uma impostação inevitável – com tropeços, pausas, mudanças de registro – do arcano bíblico, no que, afinal, se torna uma liturgia remota, a cercar os fiéis.

Os vocativos quebram e reaglutinam esse linguajar, numa surdina sempre, de como se entende a palavra das Escrituras, ou o levantar de voz nesses páramos, em toda a passividade do rebanho.  Pastores ou bispos, sempre cativos desse cenário virtual, não falam dos degraus de pedra, de altares ou púlpitos, mas já diante da população mediática, sobre a qual investem com o desatavio e o monocórdio da litania.

No papel que desempenha, hoje, a Universal, define-se o avanço no controle da coletividade pelo anúncio evangélico.  Neles, o anúncio, refeito ao profetismo doméstico, tão sumário quanto ameaçador, instala-se na passagem, da deferência clássica devida aos pastores, ao misto de temor e veneração curandeira, de uma relação de dependência buscada a cada lance interativo.

Conservadorismo e mudança
Não se trata só, entretanto, de definir esses jogos de correspondência, mas de atentar de que forma o laivo religioso repercute nesses grupos, em tom de uma política pública apontando para a mudança ou o conservadorismo.  O lineamento geral é do extremo da conduta ainda típica de um atentismo de clientela, em que a tônica do voto é a de obter, em contrapartida, vantagens institucionais ainda das igrejas, como um aparelho de fruição de favores específicos de seus dirigentes.

Não é possível encontrar-se uma correspondência entre essa mensagem neopentecostal e a alteração das estruturas sociais vigentes.  Nenhum vento da reflexão católica, especialmente após a lufada do Vaticano II, levando a algo de parecido com a opção preferencial pelos pobres, ou a ideia de poder a estrutura social ser objetivamente contrária à promoção dos homens. Nem se registra o aponte de uma política de rebalanceamento das condições mínimas de acesso do povo de Deus aos bens coletivos, da renda ao acesso aos serviços sociais ou assentamento da terra.

Logra-se, sim, uma negociação, via de regra intuita personae, de representantes localizados dessa bancada, em função de benefícios para suas igrejas, em que assume capital importância a política evangélica na concessão de canais de televisão, ou facilidades fiscais na importação de equipamentos, ou na clássica demanda – em que se associam as deputações católicas – por atestados de filantropia e por outras vantagens fiscais.

O contrabando da prosperidade terrena e o mais-ser dos homens 
No ideário global, frente às condições de bem-estar coletivo, ou de relembrar a promessa do Reino de Deus, as denominações do evangelismo de massa adicionam a ortodoxia da pregação de Cristo ao compromisso classicamente protestante da garantia da prosperidade nesse mundo.  É como uma passagem à cultura saxônica, e à identificação weberiana do justo como o próspero no mundo, ficando a riqueza como sinal do placet divino ao cristão assim justificado aos olhos do Criador.

Cada vez mais essa prosperidade objetiva se soma ao ementário milagreiro, sem que se faça qualquer distinção entre obtenção de condições de bem-estar coletivo, condizente com a lição libertadora do Evangelho, de par com o bem-estar na vida transeunte.  Ou seja, com o manancial da abundância de bens crassamente materiais, tal como se estendesse à orla do Brasil da marginalidade, e da audiência da Universal o mesmo ideário dos Robber barons americanos, ou do impulso à justificação pela prosperidade material, característica do nervo puritano responsável pela opulência dos Estados Unidos.

O que importa, nesse particular, é hoje saber-se, na linha do impacto, até para além da mensagem, de que forma esse evangelismo, passado das liturgias hirtas das igrejas à bacia das almas do pastoreio eletrônico, repercute no inconsciente coletivo brasileiro; concorre, ou não, para a sua promoção; é, pelo seu poder de contágio, alavanca também de um possível mais-ser do homem todo e de todos os homens, em que, afinal, o impulso básico do cristianismo não tem gentios, mas congrega, no apelo de Paulo VI, todas as fés à Boa Nova indemolível da maior humanidade, aqui e agora, do povo de Deus.

Indiscutivelmente, na receita do miraculado, no amém do coro de fiéis, na intercessão ad hoc de cada cura no cuidado e no afinco do pastor, o crente se vê reconfortadíssimo na sua vivência de pessoa.  Sai de toda condição de ser derelicto, ou imprensado na massificação de todas as abjeções, de toda entregue à inércia do cotidiano, a seu cinzento e a seu perder-se de viver, no anonimato, em que a quebra da espera é, ao mesmo tempo, a necrose da esperança.

Nessa cura, tantas vezes simulada, no faz de conta dessa intercessão, tudo é verdade no gesto.  Ou na ritualística de especificação de reconhecimento e ressalto.  De terapia, pois, inegável, de uma personalização do beneficiado que soma, muitas vezes, como uma explosão do reconhecimento íntimo, em bem da dignidade escalavrada e recuperada do crente, assim reconhecido na assembleia de seus iguais.

A certeira prática da autoestima
As assembleias-terapias da Universal são todas indiscutivelmente lugares do egrégio, ainda que fugacíssimo, tanto quanto curas e exorcismos, verdadeiros, ou não, assimilam-se no que importa ao levantamento interno do ego, que é o cerimonial no que importa ao levantamento interno do ego, que é o cerimonial à ribalta enorme, a quebra entre um antes e após, no momento de um indiscutível sursum.  Em cada um desses améns e desse olhar para o alto dos oficiantes do culto, repercute a mesma imensidão dos estádios de Billy Graham, e do gesto dramático por excelência, protagonizador de ruptura e reinauguração – que é o passo por Deus.  É quando se ponteiam, um a um, no cenário enorme, a vontade de um renascer em Cristo, na prodigalização de uma outra vertente batismal, que é o simbolismo já, no espetáculo de massa, da ruptura do corte entre um antes e um depois, no mofino da vida, da marginalidade ou das contradições, na pobreza de eventos – em que, de toda forma, se articula uma possessão do futuro pela vontade dessa decisão fundadora.

Dentro das liturgias de engaste – desse momento pleno – que pode ocorrer a qualquer um e que se promete a todos –, na iminência e no advento do milagre –, força-se o ritual da retribuição.  Essa que se exprime pelo óbulo, mais que pelas meras espórtulas, tão mais insuscetíveis de quebrar a cadeia do dar em dinheiro a que cada um se compromete, e tanto mais o cumprem os fiéis quanto mais parcas são as suas rendas, ou dramática a sua miserabilidade.

O mais importante, entretanto, hoje, é saber-se qual é o registro final, dentro de uma avaliação do quadro da destituição brasileira; do limite da marginalidade, do encontro do outro; da cultura do medo, a decidir-se sobre a do egoísmo; do inenarrável das distâncias do país do status quo.  Como, afinal, estão obrigados a convergir os anúncios na matriz evangélica, uma espiritualidade como a do pós-Vaticano II, em todo o seu enorme trabalho dialético da Igreja versus populo.  E o que possa ser, na aridez desse solo, de todos os espantos e de todas as prostrações, o missionarismo mediático, inseparável de toda economia pro domo sua, que se substantiva também – no trato da destituição social?

Por linhas travessas, o pastoreio eletrônico e o da igreja na voz dos seus pastores convergem num jogo que não é de soma zero.  O desvalimento é tal – em terra de desolação, como Jacarezinho, Vigário Geral ou os acampamentos de lixo da Baixada – que só pode emergir um efeito, in bonis, do que já é tal, por chegar a tocar o abissal da destituição.  Soma-se numa mesma cadeia o quase nada, ou o muito, ou o feito do cálculo, no gesto que interrompe o abandono, seja por figuração ou efetiva chegada ao outro.

O preço do consumismo da alma
São múltipas as formas, os estratos e os graus dessa enorme terapia ou didática da toma de consciência, que é o nervo de qualquer política de promoção social, venha de qualquer quadrante.  Toda busca hoje dos “sinais dos tempos” encontra as pontas de um mesmo fio, frente ao peso morto da inércia coletiva que afunda toda arquitetura de um mais-ser da modernidade.

A contribuição no culto do bispo Macedo é inescapável, feita coram populo, nesse coletivo massageante da esperança laicizada da religiosidade, mas em reconhecimento instintivo do clamor dos destituídos. É significativo que esse evangelismo se tenha transformado no contraponto da outra alternativa em que, num país subdesenvolvido, desperte a subjetividade do excluído, na ruptura de exploração radical de um viver alienado, imerso no inconsciente coletivo.  Tanto esse evangelismo existe exemplarmente no Brasil como só no nosso país acordou, no mesmo quadro de desvalimento, o PT enervando-se de imediato de um protagonismo político, para superar uma condição de vazio social, sem acesso ao mercado de trabalho, e condenado às condições vegetativas de uma subsistência errática.

Chama a atenção o quanto essa marginalidade crônica, amortecida na inércia envolvente, retarda a iniciativa diretamente política da ruptura.  Ou, por outro lado, como se rende esse destituído à passagem da esperança à infinita transação da espera?  No evangelismo de massa repete-se assim a terapia frente a uma mesma pobreza histórica e multissecular, em que o proletariado romano se domesticava à ração exata do pão e do circo.

É pela remuneração imperativa que o evangelismo do bispo Macedo captura o desmunido, na troca, pela paga imediata do dízimo, dos consolos sumários na repetição infindável do espetáculo, e na simulação da verdadeira comunidade brotada para a “toma de consciência”, trocada pela do prófugo, ou do anulado como marginal.

Enfim, o evangelismo político
Numa dinâmica agregada da subcultura brasileira, a organização da empresa evangélica pode ganhar a sua própria dinâmica e enveredar para novos graus de controle coletivo, e da previsível dominação subsequente. A religião mediática ruma para a presença política e a exploração de seu poder maciço sobre mentes e almas e, portanto, intenções eleitorais, na transformação em força política unitária, em pleno aproveitamento das oportunidades de voto de uma democracia.

Tanto o PT manteve a transparência da primeira mobilização – e a decepção uma primeira entrada na realpolitik – como o evangelismo político está apenas na sua nascente, e abre dimensões até hoje insuspeitas sobre o que possa ser a fidelidade desses eleitores aos governantes que venham a escolher. Depara-se, por aí, um reverso tenebroso de todas as tertúlias e demandas da relação entre Igreja e Estado nos quadros das sociedades democráticas contemporâneas. Mantidas isoladas as expectativas do que seja de Deus e de César, o nível de interferência religiosa na política dar-se-ia sempre de maneira incidente, e no plano das chamadas questões mistas (matéria relativa à família e à educação), seus avanços e recorrências, cujo amplo e conhecido dossiê de reivindicações acomoda a Igreja Católica ao Estado leigo e seus poderes em nossa modernidade. O novo agora se marca pela conjugação inversa desses dois extremos. Cada vez menos tem a ver com a satisfação de interesses objetivos da militância da população evangélica, trazida ao voto e ao sonambulismo como massa eleitoral, para o estrito benefício de seus dirigentes.

O catolicismo, de fato, permitiu todo o intercâmbio aberto entre o poder e o rebanho no que entendesse como a sua melhoria na sociedade civil. O evangelismo do bispo Macedo se concentra nos benefícios simbólicos de estrito consolo de cada um, dissociando-se, por inteiro, de qualquer interesse de bem comum na conduta política, vendo nesta, apenas, uma rotina que se adiciona, neste elenco, ao projeto de poder que administra. Seu êxito é o de que acolhe os rejeitados do sistema, destituídos, por inteiro, de uma sensibilidade à ação de mudança, e entregues à ritualística dessa compensação. Os templos góticos da Igreja Universal e suas grafias heráldicas alongam um imaginário religioso saciado no seu horizonte, na estrita demanda dos ritos inalteráveis de conformismo coletivo.  É por aí mesmo que uma síndrome da subcultura pode chegar a transações perversas – e talvez definitivas – com esse próprio sentimento de um “mais ser” e sua conquista, pela pessoa, como um protagonismo de crescente liberdade.  Esse neopentecostalismo a troca, ao contrário, por um entorpecimento de toda reflexão coletiva, pela addiction mais grosseira da terapia religiosa.

Essa clara tensão interna no neopentecostalismo, com a chegada da Universal ao jogo frontal de poder, contrastará com toda a tradição do que a Igreja Católica, e especialmente a partir do Vaticano II, situa como uma efetiva política de desenvolvimento social nos países das periferias ou dos destituídos, de onde está hoje saindo o Brasil. O catolicismo brasileiro não se expande apenas nas áreas do seu enraizamento multissecular, como as do Nordeste e da nação rural, mas também no país que saiu da marginalidade, hoje, com o “povo de Lula”.

O trabalho da Pastoral, na sequência da Teologia da Libertação e do profetismo de D. Hélder, é hoje o responsável pelo maior viço comunitário da nossa mobilidade social, e pela tomada de consciência cidadã para a mudança.  Esse ímpeto continua na liderança que a Igreja mantém na busca do ecumenismo e, exatamente nele, e sem o proselitismo intransitivo das Universais, no avanço de uma plataforma dos direitos humanos, ou de uma visão ecológica, subordinada à prioridade da luta pela justiça social e à expansão dos movimentos sociais.

Não é sem razão que o Programa da “Ficha Limpa” mereceu todo o apoio da CNBB, e a exigência da reforma política tenha, entre os católicos, toda a prioridade, em contraste com o conservatismo e situacionismo neopentecostal.  Na grande toma de consciência, que é a marca, hoje, do Brasil que emerge, o clamor do Vaticano II continua, de par com o repúdio à riqueza concentrada e ao progressismo desatento ao salto do desenvolvimento.




Candido Mendes é Reitor da Universidade Candido Mendes e membro da Academia Brasileira de Letras

cmendes@candidomendes.edu.br






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Até que ponto uma religião pode interferir na vida de um adepto

Cena do filme To Verdener

por Johnny Bernardo

O paralelo entre o espiritual e o material (ou social) há séculos é interpretado de diversas maneiras. A grande dificuldade é em saber quais os limites entre a vida espiritual de um adepto, e sua realidade social. De forma geral, todas as religiões interferem de alguma forma no cotidiano de seus seguidores.

Questões associadas à vestimenta, à alimentação, ao entretenimento são discutíveis em grupos religiosos pertencentes, por exemplo, ao cristianismo e ao islamismo. Outras restrições, como a do acesso aos meios de comunicação (televisão, rádio, revistas) e a publicação de listas de “livros proibidos” aos membros ou cidadãos de um país confessional, também são interferências diretas na forma de vida dos indivíduos.

No Irã – e em outros países islâmicos confessionais, dirigidos com base na Sharia – a religião não é simplesmente um elemento social, parte de um contexto geral da sociedade, mas permeia todos os aspectos sociais dos iranianos, com restrições e punições igualmente severas. A execução de 16 rebeldes opositores, neste sábado (26), no Irã, e a postagem de vídeos por uma muçulmana dirigindo, na Arábia Saudita - é proibido às mulheres dirigirem -, são dois exemplos recentes. De forma semelhante, a religião também é usada em alguns países ocidentais como um mecanismo de controle, de influência política.

Mesmo com o avanço da democracia, da laicidade do Estado, a religião ainda é um elemento que exerce forte influência em governos, em discussões de abrangência universais. Há séculos o Catolicismo Romano se utiliza de mecanismos de submissão, seja quando das cruzadas, das inquisições, dos cerceamentos científicos, da indução ao belicismo e aos conflitos étnicos.


Aspectos constitucionais, das leis, em muitas ocasiões são desrespeitados por denominações religiosas, como os que praticam a poligamia nos EUA (ver Igreja Fundamentalista de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias), ou que induzem seus membros a doarem mais do que o necessário para à manutenção de sua estrutura organizacional. Neste segundo aspecto, o neopentecostalismo brasileiro se destaca pelo o fato de que exerceforte domínio psicológico sobre seus adeptos.

O fanatismo religioso – particularmente no que se refere às igrejas pentecostais extremistas, a exemplo da Igreja Deus é Amor, Sinos de Belém Missão das Primícias e Congregação Cristã no Brasil, para citar algumas igrejas – se traduz pelo o que o membro pode ou não fazer ou ser. Por exemplo, a persistência da IPDA em proibir o acesso à televisão, à vestimenta já adotada por outras igrejas, à prática esportiva e ao entretenimento, interfere de forma radical na vida de seus membros.

Apesar das restrições impostas pela IPDA, a tendência é de que, futuramente – como em uma eventual ausência de seu líder máximo, David Miranda -, ocorram mudanças semelhantes as que vêm ocorrendo nas Assembleias de Deus – particularmente desde que a televisão e os usos e costumes foram liberados aos membros. A dificuldade de assimilação dos limites entre o espiritual e o social é um sério problema porque gera transtornos dificilmente irreparáveis na medida em que a capacidade crítica, de vivência social, de um fiel é seriamente prejudicada e limitada.



Há questões econômicas, de controle, por trás do fanatismo religioso que ultrapassa os limites pentecostais, cristãos, e que são perceptíveis na forma como organizações com forte atuação no Brasil (como as Testemunhas de Jeová) se articulam no cenário religioso. Nas TJ, a maneira quase militarizada como seus membros são organizados, e a influência exercida sobre as famílias (inclusive com proibições de contato com membros disciplinados – a preguiça também é tida como aspecto passível de disciplina) são retratados em filmes como To Verdener (Mundos Separados).

Produzido pelo dinamarquês Niels Arden Oplev, em 2008, To Verdener retrata a história de Sara (Rosalinde Mynster), uma jovem de 17 anos que foi criada com base nos ensinos das Testemunhas de Jeová, e que se vê em situação de conflito após iniciar um relacionamento com o ateu Teis (Johan Philip Asbaek). Disciplinada pelos anciões de sua congregação, Sara passa a ser rejeitada por sua própria família. O enredo, baseado em uma história verídica, é algo comum nas TJ.

Manipulação, restrições, cerceamentos, mortificações, são mecanismos de controle psicológico, característico de grupos destrutivos, e que visam explorar financeiramente adeptos. Novamente, todas as religiões possuem algum nível de influência no cotidiano de seus membros, mesmo que em alguns casos de forma não perceptível ou racional. Neopentecostais, pseudocristãos, são citados como exemplos, mas há inúmeros outros que se enquadram na proposta de análise da matéria.

Resumindo, o ponto principal a ser tomado como foco de análise é até que ponto uma religião pode interferir na vida de um adepto? Restrições como a de acesso a livros, a da ingestão de certos alimentos (como café e chá preto, no caso do Mormonismo), à participação em eventos festivos, recreativos ou de entretenimento (como no caso de algumas igrejas pentecostais, a exemplo da IPDA), de inserção em cursos universitários (como no caso das Testemunhas de Jeová), e aos direitos da mulher (como no caso do islamismo), são questões a serem investigadas mais de perto.






Johnny Bernardo é jornalista, pesquisador da 
religiosidade brasileira e colaborador do Genizah 


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Até que ponto uma religião pode interferir na vida de um adepto

Cena do filme To Verdener

por Johnny Bernardo

O paralelo entre o espiritual e o material (ou social) há séculos é interpretado de diversas maneiras. A grande dificuldade é em saber quais os limites entre a vida espiritual de um adepto, e sua realidade social. De forma geral, todas as religiões interferem de alguma forma no cotidiano de seus seguidores.

Questões associadas à vestimenta, à alimentação, ao entretenimento são discutíveis em grupos religiosos pertencentes, por exemplo, ao cristianismo e ao islamismo. Outras restrições, como a do acesso aos meios de comunicação (televisão, rádio, revistas) e a publicação de listas de “livros proibidos” aos membros ou cidadãos de um país confessional, também são interferências diretas na forma de vida dos indivíduos.

No Irã – e em outros países islâmicos confessionais, dirigidos com base na Sharia – a religião não é simplesmente um elemento social, parte de um contexto geral da sociedade, mas permeia todos os aspectos sociais dos iranianos, com restrições e punições igualmente severas. A execução de 16 rebeldes opositores, neste sábado (26), no Irã, e a postagem de vídeos por uma muçulmana dirigindo, na Arábia Saudita - é proibido às mulheres dirigirem -, são dois exemplos recentes. De forma semelhante, a religião também é usada em alguns países ocidentais como um mecanismo de controle, de influência política.

Mesmo com o avanço da democracia, da laicidade do Estado, a religião ainda é um elemento que exerce forte influência em governos, em discussões de abrangência universais. Há séculos o Catolicismo Romano se utiliza de mecanismos de submissão, seja quando das cruzadas, das inquisições, dos cerceamentos científicos, da indução ao belicismo e aos conflitos étnicos.


Aspectos constitucionais, das leis, em muitas ocasiões são desrespeitados por denominações religiosas, como os que praticam a poligamia nos EUA (ver Igreja Fundamentalista de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias), ou que induzem seus membros a doarem mais do que o necessário para à manutenção de sua estrutura organizacional. Neste segundo aspecto, o neopentecostalismo brasileiro se destaca pelo o fato de que exerceforte domínio psicológico sobre seus adeptos.

O fanatismo religioso – particularmente no que se refere às igrejas pentecostais extremistas, a exemplo da Igreja Deus é Amor, Sinos de Belém Missão das Primícias e Congregação Cristã no Brasil, para citar algumas igrejas – se traduz pelo o que o membro pode ou não fazer ou ser. Por exemplo, a persistência da IPDA em proibir o acesso à televisão, à vestimenta já adotada por outras igrejas, à prática esportiva e ao entretenimento, interfere de forma radical na vida de seus membros.

Apesar das restrições impostas pela IPDA, a tendência é de que, futuramente – como em uma eventual ausência de seu líder máximo, David Miranda -, ocorram mudanças semelhantes as que vêm ocorrendo nas Assembleias de Deus – particularmente desde que a televisão e os usos e costumes foram liberados aos membros. A dificuldade de assimilação dos limites entre o espiritual e o social é um sério problema porque gera transtornos dificilmente irreparáveis na medida em que a capacidade crítica, de vivência social, de um fiel é seriamente prejudicada e limitada.



Há questões econômicas, de controle, por trás do fanatismo religioso que ultrapassa os limites pentecostais, cristãos, e que são perceptíveis na forma como organizações com forte atuação no Brasil (como as Testemunhas de Jeová) se articulam no cenário religioso. Nas TJ, a maneira quase militarizada como seus membros são organizados, e a influência exercida sobre as famílias (inclusive com proibições de contato com membros disciplinados – a preguiça também é tida como aspecto passível de disciplina) são retratados em filmes como To Verdener (Mundos Separados).

Produzido pelo dinamarquês Niels Arden Oplev, em 2008, To Verdener retrata a história de Sara (Rosalinde Mynster), uma jovem de 17 anos que foi criada com base nos ensinos das Testemunhas de Jeová, e que se vê em situação de conflito após iniciar um relacionamento com o ateu Teis (Johan Philip Asbaek). Disciplinada pelos anciões de sua congregação, Sara passa a ser rejeitada por sua própria família. O enredo, baseado em uma história verídica, é algo comum nas TJ.

Manipulação, restrições, cerceamentos, mortificações, são mecanismos de controle psicológico, característico de grupos destrutivos, e que visam explorar financeiramente adeptos. Novamente, todas as religiões possuem algum nível de influência no cotidiano de seus membros, mesmo que em alguns casos de forma não perceptível ou racional. Neopentecostais, pseudocristãos, são citados como exemplos, mas há inúmeros outros que se enquadram na proposta de análise da matéria.

Resumindo, o ponto principal a ser tomado como foco de análise é até que ponto uma religião pode interferir na vida de um adepto? Restrições como a de acesso a livros, a da ingestão de certos alimentos (como café e chá preto, no caso do Mormonismo), à participação em eventos festivos, recreativos ou de entretenimento (como no caso de algumas igrejas pentecostais, a exemplo da IPDA), de inserção em cursos universitários (como no caso das Testemunhas de Jeová), e aos direitos da mulher (como no caso do islamismo), são questões a serem investigadas mais de perto.






Johnny Bernardo é jornalista, pesquisador da 
religiosidade brasileira e colaborador do Genizah 


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sábado, 26 de outubro de 2013



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Por Rev. Ericson Martins


Levantou-se, pois, toda a congregação e gritou em voz alta; e o povo chorou aquela noite. Todos os filhos de Israel murmuraram contra Moisés e contra Arão; e toda a congregação lhes disse: Tomara tivéssemos morrido na terra do Egito ou mesmo neste deserto! E por que nos traz o SENHOR a esta terra, para cairmos à espada e para que nossas mulheres e nossas crianças sejam por presa? Não nos seria melhor voltarmos para o Egito? Números 14:1-3

A palavra “murmuração”, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, significa: “persistente reclamação”, “reinvindicação”, “descontentamento”, “falar mal de outrem em voz baixa, em segredo” ou “questionamento malicioso”.

Nesses dias, jovens e adultos, descontentes com a imoralidade política dos seus representantes nos três poderes da República, transformaram as principais capitais de todo Brasil em palcos de manifestações. Seus protestos foram reconhecidamente justos e dignos de serem considerados, pois rogaram pela punição dos corruptos, fortalecimento do sistema de saúde, humanização do transporte coletivo, dentre outras obrigações constitucionais da administração pública. A possibilidade dessas manifestações é um dos privilégios e responsabilidades de uma sociedade democrática. Não é errado reclamar quando a reivindicação é justa e irrevogavelmente necessária. Por exemplo: os helenistas murmuraram contra os hebreus porque as suas viúvas estavam sendo esquecidas na distribuição diária (At 6:1). Nesse caso a murmuração significou uma justa reclamação, sem denotação pecaminosa.

Contudo, em boa parte da bíblia a murmuração é tratada como sendo mais que uma justa reclamação, e sim como um protesto da rebeldia, do egoísmo, da ingratidão e da difamação. Ou seja, é tratada como pecado.

O texto de Números 14:1-3 relata um dos momentos em que os israelitas murmurarem contra Deus, sendo Ele clemente e amoroso, e contra Moisés que fora designado para conduzir Israel pelo caminho que Ele mesmo dirigiu (Nm 14:14 cf. Êx 13:21, Ne 9:12). O povo de Israel murmurou frequentemente ao longo da sua peregrinação no deserto, e toda uma geração foi destruída por causa disso (1 Co 10:10-11).

Infelizmente, muitos são murmuradores, se queixam o tempo todo e por todo motivo, no contexto da sociedade, da profissão, da família e da igreja. Nada lhes satisfazem, já não conseguem reconhecer as benesses de Deus nesses contextos e serem sinceramente gratos. Para esses, ser grato é ser passivo ou omisso, e enchem seus corações de amargura e seus lábios de injustiça.

Murmuradores são insaciáveis, porque suas expectativas são irreais e infantis. Veio João Batista, que não comia nem bebia, e disseram: “Tem demônio!”. Veio o Filho do homem, que comia e bebia, e disseram: “Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores” (Mt 11:18-19). O tom geral dessa conduta do coração e do relacionamento, se resume no fato de, se não atender as falsas expectativas que criam, se não estiver de acordo com seus interesses infantis, murmuram. Não nos enganemos: a murmuração é pecado e, portanto, passivo da disciplina do Senhor.

A bíblia diz: “Fazei tudo sem murmurações nem contendas, para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo...” (Fl 2:14-15).

Infelizmente, a murmuração, na qualidade de uma persistente reclamação, é um dos pecados mais comuns em nosso meio. Ninguém deveria tolerar o murmurador e suas reinvindicações porque a murmuração é pecado. Também, porque ela aborrece a paz e a tranquilidade com a rixa e o pessimismo (Pv 21:9).

Murmuradores são descontentes eufóricos. Grande parte dos nossos interesses jamais serão atendidos porque somos pecadores (Tg 4:1-3). Também, porque interpretamos mal a experiência da vida. Julgamos que o que dá prazer é sempre bom, e não admitimos que o desprazer de determinadas experiências seja eficazmente útil para tratar as nossas falsas expectativas e interesses egoístas (Hb 12:11; Tg 2:1-4). Por isso, o descontentamento gera a murmuração. Os cristãos são ensinados a se contentarem com as suas necessidades (1 Tm 6:7-8; Hb 13:5); porém o descontente, tendo suas necessidades mais fundamentais supridas, murmura, porque tudo tem de ser conforme os seus interesses ou modo de pensar. Também, o descontentamento gera o descaso com a palavra de Deus: “desprezaram a terra aprazível e não deram crédito à sua palavra; antes, murmuraram em suas tendas e não acudiram à voz do Senhor” (Sl 106:24-25). Murmuradores podem ter tudo, mas agem como se nada tivessem. Porém, os que dão crédito à palavra de Deus experimentam o contentamento por confiarem no Senhor.

A bíblica diz: “De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores. Tu, porém, ó homem de Deus, foge destas coisas; antes, segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão” (1 Tm 6:6-11).

Murmuradores são caluniadores discretos. A palavra grega que traduz “murmuração” tem o sentido de murmúrio, resmungação, palavras desagradáveis ditas em voz baixa. O murmurador é aquele que, discretamente, espalha seus descontentamentos sobre determinadas pessoas e, com essa conduta, provocam dissensões. Geralmente agem assim pela firme certeza que estão mais certos do que os demais. Leia este relato: “Falaram Miriã e Arão contra Moisés,... E disseram: Porventura, tem falado o Senhor somente por Moisés? Não tem falado também por nós? O Senhor o ouviu… E a ira do Senhor contra eles se acendeu; e retirou-se” (Nm 12:1-2, 9).

As queixas dos murmuradores expressam, também, sua imensa inquietação com o crescimento dos outros. Se queixam da sua realidade e dos outros, pois são frustrados com as suas próprias experiências pessoais nos contextos da sociedade, ou da profissão, ou da família ou da igreja. São infelizes e amargurados consigo mesmos.

A bíblica ensina substituir a murmuração pela ação de graças (1 Ts 5:18), porque somente a gratidão pode vencer o descontentamento do coração. Reconhecer as virtudes mais que os defeitos, as oportunidades mais que as dificuldades, o que já tem mais do que poderia ter, o que os outros fazem pelo nosso bem mais que aquilo que deixam de fazer e etc, dá a vida pessoal maior significado e felicidade pelos efeitos da gratidão (Fl 4:11-13; 1 Tm 4:4).

Que em nossos corações haja mais gratidão que ingratidão, haja mais contentamento que a perturbadora insatisfação por confiarmos no Senhor as nossas vidas com tudo o que ela necessita.
No amor de Deus,

Ericson Martins

***


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Por Horatius Bonar


A história de seis mil anos acerca do mal se perdeu para o homem. Ele se recusa a ler sua terrível lição concernente ao pecado e ao desagrado de Deus contra o pecador, registrada por essa história. Ele se esqueceu da inundação de perversidade que resultou de um único pecado. A morte, a escuridão, a tristeza, a enfermidade, as lagrimas, a fadiga, a loucura, a confusão, o derramamento de sangue, o ódio enfurecido entre homem e homem, fazendo da Terra um subúrbio do inferno - todas essas coisas foram negligenciadas ou mal interpretadas; e o homem rejeita a ideia de que o pecado seja um crime, o qual Deus odeia com um ódio infinito, e o qual Ele, em Sua justiça, deve condenar e punir.

Se o pecado for algo tão superficial, tão insignificante, quanto o homem o considera, qual é a importância dessa história tão longa e triste? Será que os milhares de cemitérios, onde os amores humanos encontram-se sepultados, não contam uma narrativa mais sombria? Será que os milhões e milhões de corações em pedaços e olhares abatidos dizem que o pecado é apenas insignificante? Será que os gemidos nos hospitais ou a mortandade dos campos de batalhas, a espada banhada de sangue e artilharia mortal proclamam que o pecado é uma simples casualidade, e que o coração humano é, afinal, a sede da bondade? Será que o terremoto, o vulcão, o furacão e a tempestade nada falam do mal irremediável do pecado? Será que a dor de cabeça do homem, o coração vazio, o espírito oprimido, a fronte sombria, o cérebro exausto e as pernas cambaleantes não anunciam com nitidez, de modo inequívoco, que o pecado é uma CULPA, e que essa culpa deve ser castigada – punida pelo Juiz dos juízes – não como uma mera “violação das leis naturais, mas como uma contravenção da lei eterna, que não admite anulação? “A alma que pecar, essa morrerá”. Porque sem a lei, o pecado não existe. “A força do pecado é a lei” (1Co 15.56). Aquele que faz do pecado algo trivial está defendendo a confusão moral e injustiça; e aquele que se recusa a reconhecer o pecado como culpa está anulando a lei do universo ou atribuindo imbecilidade e injustiça ao Juiz de todos os juízes.

O mundo tem envelhecido no pecado e hoje, mais do que nunca, tem começado a brincar com ele, quer seja como uma necessidade que não pode ser tratada ou como um desvio parcial da boa ordem que se auto-corrigirá em breve. É essa falsificação do mal, essa recusa em ver o pecado como Deus o vê; conforme a lei o declara, e conforme a história da nossa raça tem revelado; que tem sido, em todas as eras, a raiz do erro e do abandono da fé que uma vez por todas foi entregue aos santos. Admita a maldade do pecado, com todas as suas consequências eternas, e você deverá se calar diante do modo divino de lidar com ele. Negue a maldade do pecado e os resultados futuros dessa maldade, e você estará negando toda a revelação de Deus, desprezando a cruz, e ab-rogando a lei.

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Fonte: A justiça eterna - Horatius Bonar (Como o homem será justo diante de Deus?) 
Ed. Fiel, p. 21-22.