Por Rev. Augustus Nicodemus Lopes
Quando
eu uso o termo “desigrejado,” estou me referindo àquela pessoa que se
professa crente em Jesus Cristo mas que não tem qualquer relacionamento
sério com uma comunidade cristã que contenha o mínimo necessário para
ser considerada uma igreja.
E
quando eu uso o termo “igreja,” como acabei de fazer no parágrafo
anterior, não estou me referindo ao templo ou construção que leva este
nome. Não uso a palavra “igreja” aqui no mesmo sentido de “templo” no
Antigo Testamento, que se referia à construção feita por Salomão. Quando
eu digo “igreja” me refiro a um ajuntamento de cristãos que se reúnem
regularmente para comunhão e outras atividades que definem aquilo que o
Novo Testamento chama de “igreja”.
Portanto,
quando eu digo “desigrejado,” não estou me referindo necessária e
exclusivamente a uma pessoa que parou de ir a um templo evangélico aos
domingos, mas a uma pessoa que parou de congregar-se com outros
cristãos, quer seja em templos evangélicos, nas casas, ou em qualquer
outro lugar, para fazer aquilo que é próprio de uma igreja conforme o
Novo Testamento nos ensina.
“Igreja”,
conforme o Novo Testamento nos ensina, é uma comunhão de pessoas que
professam a mesma fé em Jesus Cristo. Estes irmãos se reúnem e
desenvolvem atividades que identificam o grupo (grande ou pequeno, em
casas ou templos, com denominação ou sem denominação) como uma expressão
visível da Igreja de Cristo, o seu corpo, a sua noiva, Igreja esta
invisível, una e universal.
Estas
atividades que caracterizam uma "igreja" local são: estudo da Palavra
de Deus, realização do batismo e da Ceia e o exercício da disciplina
espiritual entre si. Além destas atividades, uma “igreja” – não no
sentido de templo, prédio, construção ou denominação – tem líderes
espirituais que a governam, e que são escolhidos de entre os irmãos.
Consideremos o embasamento bíblico em seguida.
1) Quando não havia ainda nem templos e nem denominações Jesus instituiu a sua igreja sobre a declaração de Pedro, que ele era “o Cristo, o Filho do Deus vivo”
(Mt 16.15-19). Todavia, fica praticamente impossível nos mantermos
sobre a rocha, Cristo, e sobre a tradição dos apóstolos registrada nas
Escrituras, sem participarmos de um grupo, comunidade, comunhão,
denominacional ou não, onde somos ensinados, corrigidos, admoestados,
advertidos, confirmados na verdade apostólica registrada nas Escrituras,
e onde os que se desviam desta verdade são rejeitados.
2)
Também muito antes de aparecerem as denominações e os templos cristãos,
Jesus estabeleceu o que chamamos de disciplina bíblica, quando ensinou
aos seus discípulos de que maneira deveriam proceder no caso de um irmão
que caiu em pecado (Mt 18.15-20). Após repetidas advertências em
particular, o irmão faltoso, porém endurecido, deveria ser excluído da
“igreja” – pois é, Jesus usou o termo – e não deveria mais ser tratado
como parte dela (Mt 18.17). Um bom exemplo disto é a exclusão do “irmão”
imoral da igreja de Corinto (1Co 5).
3)
Jesus também determinou que seus seguidores fizessem discípulos em todo
o mundo, e que os batizassem e ensinassem a eles tudo o que ele havia
mandado (Mt 28.19-20). Os discípulos entenderam isto muito bem. Eles
organizaram os convertidos em igrejas, os quais eram batizados e
instruídos no ensino apostólico, que já começava a ser cometido à forma
escrita. Eles estabeleceram líderes espirituais sobre estas igrejas, que
eram responsáveis por instruir os convertidos, advertir os faltosos e
cuidar dos necessitados (At 6.1-6; At 14.23). Definiram claramente o
perfil destes líderes e suas funções, que iam desde o governo espiritual
das comunidades até a oração pelos enfermos (1Tm 31-13; Tt 1.5-9; Tg
5.14).
4)
Ainda no período apostólico já encontramos sinais de que as igrejas
haviam se organizado e estruturado, tendo presbíteros, diáconos, mestres
e guias, uma ordem de viúvas e ainda presbitérios (1Tm 3.1; 5.17,19; Tt
1.5; Fp 1.1; 1Tm 3.8,12; 1Tm 5.9; 1Tm 4.14). E tudo isto poucos anos
depois de Pentecostes e muitos anos antes de aparecer a igreja
institucionalizada e as denominações.
5)
Jesus também mandou que seus discípulos se reunissem regularmente para
comer o pão e beber o vinho em memória dele (Lc 22.14-20). Os apóstolos
seguiram a ordem, e reuniam-se regularmente para celebrar a Ceia (At
2.42; 20.7; 1Co 10.16). Todavia, dada à natureza da Ceia, cedo
introduziram normas para a participação nela, como fica evidente no caso
da igreja de Corinto (1Co 11.23-34).
Para
mim, a Igreja de Cristo é muito maior que uma denominação – inclusive a
minha. As igrejas denominacionais instituídas e organizadas não são a
única expressão válida da Igreja de Cristo. Onde houver um grupo de
cristãos que fazem estas coisas prescritas por Jesus e pelos apóstolos
(itens 1 a 5 acima), ali está a igreja, ainda que imperfeita.
“Desigrejado,”
para mim, é quem diz ser cristão não quer participar de nenhuma destas
opções, não quer ser ensinado, corrigido e nem servir e abençoar os
demais. Resta a questão se um “desigrejado,” assim definido, pode, de
fato, se considerar um cristão verdadeiro. Calo-me aqui.
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