Isvonaldo sou Protestante

Isvonaldo sou Protestante

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

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Por Morgana Mendonça Santos


Hebreus 4.14 "Tendo, portanto, um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou os céus, retenhamos firmemente a nossa confissão."

É inquestionável, as Escrituras Sagradas é o verdadeiro e único tesouro que nos foi entregue. Olhar com um retrovisor e perceber toda a história da transmissão do texto bíblico, o processo do cânon, as traduções, todo caminho percorrido, os manuscritos e toda a estruturação do texto bíblico é definitivamente incrível. As Escrituras Sagradas devem ser reverenciadas em todas as épocas, em todos os povos, em todas as culturas, é a palavra de Deus - inspirada, infalível, inerrante e suficiente. É fundamental a lembrança constante que somente e toda a Escritura é suficiente para vivermos uma vida agradável a Deus. Nossa regra de fé e prática!

No entanto, existe uma herança que chamo pessoalmente de pérolas preciosas, a história do cristianismo nos oferece documentos, credos, confissões, catecismos, cânones, que não podemos desvalorizar. Seria uma pena subestimá-los sem ao menos conhecer. São chamados de símbolos da fé, ou seja, resumo sistemático das verdades fundamentais do Cristianismo. 

1 - Os CREDOS podemos dizer que são declarações de fé, de uma forma resumida. Os mais antigos símbolos da fé. Exemplos: Credo ApostólicoCredo NicenoCredo Atanásio

2 - As CONFISSÕES são maiores, detalhadas, produto da reforma protestante, um símbolo de fé. Exemplos: Confissão de Fé Belga, Confissão de Fé de Westminster, Antiga Confissão de Fé Escocesa, Confissão da Guanabara.

3 - Os CATECISMOS podemos afirmar que são resumos da fé cristã, estruturados em forma de perguntas e respostas com objetivo didático, uma ferramenta para o ensino da igreja. Exemplos: Catecismo de HeidelbergCatecismo de Lutero e de Westminster

4 - Os CÂNONES são decisões oficiais de concílios, em relação a doutrinas específicas. Exemplos: Os Cânones de Dort.

Existe uma história que foi preservada de forma sistemática, existe um valor que deve ser aplicado a esses documentos, na história da igreja esses símbolos da fé tornou-se uma grande ferramenta para instrução, defesa da fé e, de forma prática e litúrgica, proporciona um convívio eclesiástico. Em seu livro Sola Scriptura, Paulo Anglada afirma: "Os credos e confissões tem servido, portanto, ao propósito de registrar para a posteridade o progresso da compreensão bíblica e das formulações teológicas no decurso dos séculos".¹ 

Nada pode ser comparado as Escrituras Sagradas. Afirmando isso podemos questionar, qual o verdadeiro valor que podemos entregar aos símbolos de fé? Podemos observar o reflexo, a subordinação a Palavra de Deus, a luz que recebem das Escrituras nos garante que é uma pérola preciosa, mesmo não reivindicando inerrância, contudo, é uma expressão proporcional e coerente ao ensino bíblico. Isso é valioso.

Destaco nesse pequeno texto a história da Confissão Belga, desejo motivar o leitor a buscar conhecer todo esse aparato que temos como herança da história do Cristianismo. AConfissão Belga ou Confissão dos Países Baixos foi escrita por um homem chamado Guido de Brès, no ano de 1561, escreveu em francês, traduzindo no ano seguinte para o holandês. No ano de 1567, exatamente no dia 31 de maio, Guido de Brès foi condenado a forca por sua fidelidade a fé reformada, foi martirizado. A Confissão Belga contem 37 artigos, tratando dos seguintes temas: Ser de Deus e Sua obra, Escrituras, pessoa e obra de Cristo, pessoa e obra do Espírito Santo, criação, natureza do homem, queda, eleição, promessa, salvação pela graça de Deus mediante a fé em Cristo, igreja universal, governo, disciplina eclesiástica, sacramentos como selos da promessa, autoridade civil, juízo e vida eterna. 

Guido de Brès havia preparado essa confissão com o propósito de protestar contra a cruel opressão por parte do governo católico-romano. Um exemplar da sua confissão foi enviado ao rei Felipe II, juntamente com uma petição em que os signatários declaravam estar prontos a obedecer o governo em todas as coisas legítimas, mas que estavam prontos "a oferecer as suas costas aos chicotes, suas línguas às facas, suas bocas às mordaças e o seu corpo inteiro às chamas" ao invés de negarem as verdades expressas nessa confissão. 

Junto com milhares que foram mortos por conta da sua genuína fé, Guido de Brès foi um deles, que selou a fé com a sua própria vida, na manhã do seu martírio, as suas últimas palavras foram ouvidas: "Fui condenado à morte hoje, por causa da doutrina do Filho de Deus. Louvado seja por isso o nome do Senhor! Estou muito feliz. Nunca pensei que Deus me daria esta honra. Noto que meu rosto se transforma pela graça que Deus faz aumentar mais e mais em mim. Sou robustecido a cada momento que passa; e mais, meu coração salta de alegria".² Como não valorizar uma pérola tão preciosa? A sua confissão de fé foi confirmada com a sua vida, esse tratado foi traduzido em português e podemos aproveitar para conhecer a herança que a história da igreja nos deixou, um belo presente, uma pérola preciosa. Me pergunto se estou pronta para morrer por minha confissão de fé...

A Deus toda Glória, Rm 11.36.

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Notas
[1] ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura. Ananindeua: Knox Publicações, 2013, p.24.
[2] Prólodo de G. De Brès, Creemos y Confesamos: Confesión de Fe de los Países Bajos (Barcelona: Fundacion Editorial de Literatura Reformada, 1973, 1976), 22. As três formas de unidade das Igrejas Reformadas. Os puritanos.

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Divulgação: Bereianos
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Por Clóvis Gonçalves


E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo.” - Jo 12:32

A extensão da expiação é um dos temas mais debatidos pelos interessados em teologia. Duas posições são defendidas fervorosamente, uma delas afirmando que Jesus morreu para tornar possível a salvação do mundo inteiro e outra que Jesus morreu para tornar certa a salvação dos eleitos somente. O texto acima geralmente é apresentado contra esta última posição, com a suposição de que todos significa todas as pessoas do mundo, sem exceção.

Consideremos, primeiro, quem está falando. O início do verso 30, Então, explicou Jesus, deixa claro que o eu e a mim mesmo do versículo se referem a Jesus. Os pronomeseu e mim são enfáticos, uma vez que a forma verbal indica o sujeito e torna dispensável o uso de pronomes. Certamente a intenção de Jesus é fazer um forte contraste entre a Sua pessoa e o príncipe deste mundo mencionado no verso anterior, e que seria expulso pela Sua morte.

Para saber com quem Jesus estava falando, precisamos recorrer ao contexto. Voltando para o versículo 20 lemos que “entre os que subiram para adorar durante a festa, havia alguns gregos; estes, pois, se dirigiram a Filipe, que era de Betsaida da Galileia, e lhe rogaram: Senhor, queremos ver Jesus” (Jo 12.20–21, RA). É importante destacar que esses gregos eram gentios e não judeus helenistas, nascidos na Diáspora. E foi no momento que estes estrangeiros foram apresentados a Jesus por André e Filipe que Jesus se referiu à Sua morte e aos resultados dela. É fundamental ter em mente que o discurso de Jesus foi provocado pela presença dos gregos e dirigido a um auditório misto, composto por judeus e gentios.

Estando claro quem diz e para quem o faz, podemos nos concentrar no que é dito. Jesus faz duas afirmações envolvendo Sua pessoa e vamos considera-las separadamente. Primeiramente Ele diz “e Eu, quando for levantado da terra”. Ser “levantado” é uma referência à sua morte, como o narrador interpreta as palavras de Jesus: “Isto dizia, significando de que gênero de morte estava para morrer” (João 12.33, RA). A mesma linguagem é utilizada em Jo 3:14. É interessante que a voz do verbo levantar é passiva, o que indica que neste caso Jesus não realiza, mas sofre a ação descrita. Convém observar, também, que a palavra “quando” é um advérbio condicional, que indica que a ação seguinte depende do evento ou ação descritos, e por isso o sentido é de “e se, no caso de”.

A declaração de Jesus que está no centro da controvérsia é “atrairei todos a mim mesmo”. O verbo atrair está na voz ativa, significando que é Jesus quem toma a iniciativa e realiza a ação e no modo indicativo, que é utilizado quando quem fala descreve uma ação como sendo real, em oposição a algo que é apenas possível, contingente ou intencional. Compare com a declaração do verso anterior, em que Jesus diz “...agora o seu príncipe será expulso” (João 12.31, RA). O mesmo modo verbal é utilizado, logo dizer que Jesus apenas tentará atrair as pessoas para Si, sem a certeza de que isto ocorrerá de fato, implica reconhecer que Ele apenas tentará expulsar a Satanás, uma vez que as duas coisas, a expulsão de um e a atração de outros são expressas da mesma maneira, e como resultados da mesma ação: a morte de Jesus.

Além disso, quando considerado teologicamente, o termo atrair implica mais que meramente exercer influência moral. Não é como se o Senhor se tornasse atraente na cruz, o pecador olhando-O ali fosse até Ele. Jesus já havia dito que “ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia” (João 6.44, RA), e a palavra traduzida por trazer e atrair é a mesma nos dois casos. O termo aponta tanto para o fato de que é Deus quem atrai como para a realidade de que o homem por si mesmo não pode ir a Cristo. Mais, indica que o homem resiste a esta atração divina, contudo o Senhor vence esta resistência em seus escolhidos. Em vários lugares encontramos indicações de que esta atração não é passiva, pelo contrário, é ativa e poderosa. Os autores bíblicos utilizam-se dela para descrever o puxar redes cheia de grandes peixes (João 21:6,11), o arrastar pessoas ao tribunal (Atos 16:19; Tg 2:6) e o sacar uma espada da bainha (João 18:10).

Mas se considerarmos que essa atração é tanto iniciativa de Deus quanto invencível, como evitar a conclusão de que todas as pessoas serão salvas, uma vez que Jesus diz que atrairá a todos? Chegamos ao cerne do problema. A saída fácil é ignorar o que foi dito até agora e fazer do Crucificado apenas atraente e não Aquele que por Sua morte efetivamente atrai aqueles por quem deu a vida e salva de fato. Nem sempre o caminho fácil e agradável é o correto a seguir.

Examinemos com atenção a expressão todos. Notemos, inicialmente, que “pessoas” ou “homens” não constam do original, como aparece em algumas traduções, e inclusive há quem sugira que o termo se refira a todas as coisas, tudo. Portanto, se a palavra todos for tomada em sentido absoluto, forçosamente teremos que incluir os anjos caídos e os seres inferiores como objetos da atração de Cristo. Ou seja, algum tipo de limitação não expressa é admitida mesmo por universalistas.

O Novo Testamento apresenta diversos lugares em que a palavra todos não pode significar todos os indivíduos sem exceção.  Por exemplo, quando se diz que “ia ter com ele Jerusalém, e toda a Judéia, e toda a província adjacente ao Jordão” (Mt 3:5, RA) e “toda aquela cidade saiu ao encontro de Jesus” (Mt 8:34, RA), obviamente as cidades citadas não ficaram abandonadas enquanto cada homem, mulher e criança iam ver João Batista e Jesus. O mesmo quando lemos que “toda a cidade se ajuntou à porta” (Mc 1:33, RA). E quando Jesus diz que “todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores (Jo 10:8, RA) não pode significar, por exemplo, que Abraão, Jó e Daniel eram assaltantes. Por falar em Abraão, quando seu servo partiu “levando consigo de todos os bens dele” (Gn 24:10, RA), é claro que não deixou Abraão na miséria e a promessa de Joel, “derramarei o meu Espírito sobre toda a carne” (Jl 2:28, RA), não implica que cada indivíduo sobre a terra é batizado com o Espírito. Quando lemos que Jesus percorria a Judéia “curando todas as enfermidades” (Mt 4:23, RA) devemos lembrar que houve lugar em que “não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles” (Mateus 13.58, RA). Assim também, quando lemos que os discípulos “tendo partido, pregaram em toda parte” (Mc 16:20, RA), não devemos pensar que pregaram em todos os lugares do mundo, mas em toda parte a que foram. Em cada caso, o contexto nos esclarece quando todos significa todos sem exceção, a maior parte, todos os tipos e classes, etc.

Agora podemos voltar a falar do contexto em que a declaração de Jesus está inserida. Lembramos que o Seu discurso foi feito na presença e motivado pelos não judeus que queriam vê-lo. Portanto, o todos significa que não apenas judeus, mas também gentios seriam atraídos, ou seja, todos sem distinção e não todos sem exceção. Vemos isso de forma recorrente no quarto evangelho. A salvação não depende de laços familiares ou de raça (1:13; 8:31-59), Jesus é o Salvador não apenas dos judeus, mas também dos samaritanos e em consequência, do mundo (4:42), Ele tem outras ovelhas que não são do redil dos judeus, mas do mundo gentio (10:16), morrerá não só pela nação, mas para reunir num só os filhos de Deus que estão dispersos (11:51). Entendemos, então, que por todos o Senhor estava dizendo “não apenas os judeus, mas também os gentios”.

É o que também entende a maioria dos comentaristas e eruditos. Robertson diz que todos “não significa cada homem individual, pois alguns, como Simeão disse (Lc 2:34) são repelidos por Cristo”. Bartley diz que a expressão é uma “referência ao alcance universal do evangelho, que inclui os gentios”. Wiersbie afirma que Cristo menciona os gentios quando fala em ser 'levantado' na cruz. Em Mateus 10:5 e 15:24, Cristo ensinou seus discípulos a evitarem os gentios; todavia, agora ele diz que os gentios também serão salvos pela cruz. (...) Cristo tinha que ser levantado para que 'todos' (v. 32, judeus e gentios) fossem atraídos a Ele. Isso não significa todas as pessoas, sem exceção, mas todas as pessoas, independente da raça. Para Hernandez, todos significa “tanto gregos (ali presentes, v. 20) como judeus, como pessoas de todo povo e nação. Isto enfatiza a composição multinacional e racial do povo de Deus”. Lembrando que “um momento antes os gregos pediram para ver Jesus”, Hendriksen, diz que “Jesus promete atrair a todos os homens a si mesmo. Este todos os homens, neste contexto que coloca gregos junto aos judeus, deve significa homens de toda nação”, acrescentando que “estes gregos representam as nações – os eleitos de todas as nações – que chegariam a aceitar a Cristo com fé viva, através da graça soberana de Deus”. Matthew Henry também diz que “o grande desígnio do Senhor Jesus é atrair a si todos os homens, não só os judeus, mas também os gentios de toda raça, língua, nação e povo”. Luiz Palau também entende que “a cruz é como um ímã ao qual tanto judeus como gentios são atraídos”. Walvoord, interpretando o ser atraído como ser salvo, afirma que “aqueles que serão salvos não virão apenas dos judeus, mas também de toda tribo, língua, linhagem e nação (Ap 5:9)”. Cabal é firme ao declarar que “isto não é universalismo (salvar a todos), mas o evangelho é oferecido a todos sem distinção – atraindo pessoas de todos os tipos para Si mesmo”. Finalmente, para Dockery, todos significa “todas as pessoas sem distinção de sexo, raça, posição social ou nacionalidade”.

Concluindo, a interpretação de que Cristo atrai redentivamente todos os homens a si mesmo, a menos que se advogue o universalismo, impõe que a atração referida por Cristo seja meramente potencial, e não real. Longe de glorificar a Deus e exaltar a obra de Seu Filho na cruz, tal tentativa acaba por anular a eficácia intrínseca de Seu sacrifício, fazendo-a depender, ao final, da vontade do homem e não da intenção divina. 

Soli Deo Gloria
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Fonte: Cinco Solas
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Por Rev. Felipe Camargo


5. Pregação no Antigo Testamento: É Mesmo Necessária?

Mauro F. Meister

D. Martyn Lloyd-Jones afirma em seu livro Pregação e Pregadores que "a mais urgente necessidade da Igreja hoje é de verdadeira pregação; e como é a maior e a mais urgente necessidade da igreja, é também, obviamente, a maior necessidade do mundo".[94] Essa necessidade certamente não mudou de figura desde a primeira publicação de Pregações e Pregadores em 1971.[95] O que mudou, no entanto, foi o interesse na pregação nos últimos vinte anos. Percebeu-se, no mundo cristão,[96] que não há substituto para a pregação. Antigas escolas liberais e tradicionais, que defendiam o uso de outras formas de ensino como substituto para a pregação, perceberam que esta antiga prática, de fato "não inventada pelo homem mas graciosamente criada por Deus",[97] ainda é, e sempre será, o mais efetivo meio de proclamar as Boas Novas. [98]

Creio que o declínio na prática da pregação surgiu como fruto de vários fatores[99]: (a) descrença na autoridade das Escrituras; (b) valorização exagerada da arte de falar (retórica); (c) confusão entre pregação e exposição filosófica de uma verdade ("helenização" do evangelho)[100]; (d) massificação do evangelho (cultura "pop" e entretenimento). O despertamento para a pregação nos últimos vinte anos deu-se em reação a várias destas causas, porém nem sempre pelas razões corretas e de formas corretas. Por exemplo, o interesse de vários teólogos e pregadores modernos na pregação é uma reação à helenização do evangelho, porém, sem retorno à crença na autoridade das Escrituras.[101] O fato é que existe um "movimento" de pregação na igreja ao redor do mundo e também na igreja evangélica brasileira.

Ora, se a prática da pregação que efetuamos não é apenas uma opção apresentada nas páginas do Novo Testamento, mas sobretudo uma ordem direta nos Evangelhos (Mc 3.14; 16.15), nos ensinos apostólicos (2 Tm 4.2), e uma prática clara em ambos (Mc 1.38; At 5.42), o que devemos pregar e como devemos pregar, isto é, o conteúdo e a forma da pregação, são assuntos de fundamental importância para a vida do pregador e, conseqüentemente, para a vida da igreja. Presumo que os leitores interessados neste artigo crêem na pregação e na autoridade das Escrituras. Este artigo tem a ver com o que devemos pregar, ou seja, o conteúdo da pregação.

É realmente necessário pregar em passagens do Antigo Testamento? A pergunta pareceria desnecessária. Porém, é fato que pregações no Antigo Testamento são a exceção e não a regra nos púlpitos de nossas igrejas (as exceções servem para comprovar a regra). Se é verdade que os mestres da igreja, os pregadores da Palavra, devem anunciar "todo o desígnio de Deus", como Paulo havia feito durante seu ministério em Éfeso (At 20.27), então creio que a exposição das Escrituras do Antigo Testamento está faltando nos púlpitos de nossas igrejas. Duas questões pertinentes devem ser levantadas: (a) Por que devemos pregar em passagens do Antigo Testamento? (b) Por que não se prega tão freqüentemente textos do Antigo Testamento quanto se esperaria?

Por que devemos pregar em textos do Antigo Testamento? 

Gostaria de levantar apenas três aspectos sobre a necessidade de se pregar em textos do Antigo Testamento.[102]

(1) Em primeiro lugar, deve-se considerar que, para uma exposição clara a respeito de Jesus e de todos os seus atributos como a Segunda Pessoa da Trindade e filho de Deus encarnado, é necessário entender o Antigo Testamento. Ambos, o Antigo e o Novo Testamentos, são incompletos na ausência um do outro. Jesus não é uma figura obscura vinda do nada para salvar a humanidade. Jesus é o Messias prometido a Israel por Deus Pai para salvar o seu povo. O caráter de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, é revelado nas páginas do Antigo Testamento de maneira grandiosa e gloriosa. No entanto, nos púlpitos e nas congregações ao redor do mundo, existe uma tremenda ignorância a respeito do Antigo Testamento e do seu conteúdo. Facilmente percebe-se neles um conhecimento do conteúdo do Novo Testamento, ao mesmo tempo em que demonstram uma falta de conhecimento do Antigo Testamento. O conhecimento do Novo Testamento que não é correspondido pelo conhecimento do Antigo, é uma contradição e uma impossibilidade. As Escrituras do Novo Testamento começam com uma referência ao Antigo Testamento e centenas de outras referências são feitas no seu corpo. A falta de entendimento do conteúdo do Antigo Testamento implica em uma falta de entendimento claro do texto do Novo Testamento. O próprio Senhor Jesus, quando pregava, começava "por Moisés, discorrendo por todos os profetas" e assim, "expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras" (Lc 24.27).

(2) Para se entender corretamente o papel da Igreja como Corpo de Jesus Cristo é necessário entender o propósito de Deus na criação de Israel. O ensino do Novo Testamento a respeito de Israel só pode ser entendido à luz de toda a revelação de Deus, e não em compartimentos estanques. Não é sem motivo que se encontram tremendas divergências teológicas na área de eclesiologia, visto que o papel de Israel no Antigo Testamento é extremamente mal entendido. Um dos grandes perigos para a Igreja moderna é o de repetir os mesmos pecados da Igreja no Antigo Testamento, mesmo tendo à sua frente o exemplo de como não se deve agir. O mesmo problema se desdobra na área de escatologia, onde o Antigo Testamento, quando citado, na maioria das vezes é usado de maneira inadequada, senão absurda. É necessário que se compreenda que Jesus é o descendente de Abraão, pai de Israel, e sucessor de Davi, rei de Israel. Uma tentativa de se entender o papel da Igreja à parte destes fatos, levará a uma interpretação incorreta do seu papel. A verdadeira igreja de Jesus Cristo é edificada "sobre o fundamento dos apóstolos e profetas" (Ef 2.20). Grandes estudiosos do Novo Testamento são de fato aqueles que têm grande conhecimento do Antigo Testamento.

(3) O povo de Deus não pode, de forma relevante, entender, participar e cumprir seu papel como filhos de Deus no mundo, sem uma compreensão adequada das Escrituras do Antigo Testamento. É óbvia, para pregadores e pastores com formação acadêmica, a necessidade de se compreender a criação e a queda da humanidade para se pregar, de forma coerente, pelo menos, a respeito de qualquer tema nas Escrituras. No ato da criação, Deus deu ao homem três mandatos: espiritual, social e cultural.[103] A possibilidade do cumprimento apropriado destes mandatos é proporcional ao que o povo de Deus conhece deles. Infelizmente, o conhecimento dessas ordens divinas é muitas vezes negado ao povo de Deus por seus pregadores. O Antigo Testamento é rico em ensinamentos sobre família, sociedade, culto e serviço, áreas em que o povo de Deus necessita grandemente de instrução. Em suma, para um ensino equilibrado e qualificado sobre vida cristã, é essencial que o povo de Deus conheça as Escrituras do Antigo Testamento.

Por que não se prega tão freqüentemente no Antigo Testamento quanto se deve?

Muitos aspectos da resposta a esta pergunta estão incluídos nas respostas à pergunta anterior. Entretanto, um outro é abordado aqui: Teologia Bíblica.

A despeito da pressuposição básica com respeito à revelação proposicional e à infalibilidade das Escrituras na teologia de nossa igreja,[104] existem fatores que não permitem uma visão global do ensino das Escrituras. Entre estes, estão a dicotomização teológica entre Antigo e Novo Testamentos e a compartimentalização teológica dentro dos testamentos. É comum encontrar-se nos nossos currículos de seminário e literatura teológica a dicotomia Teologia Bíblica do Antigo Testamento vs. Teologia Bíblica do Novo Testamento. Essas divisões não são apenas reflexo de uma necessidade prática, porém, de um pressuposto teológico nem sempre muito claro: o de que existe mais de uma Teologia Bíblica. A prova mais evidente desse fato são nossos púlpitos, onde, via de regra, o Novo Testamento é destacado em prejuízo do Antigo Testamento. Em geral, Antigo e Novo Testamentos são colocados tão à parte um do outro que é necessária uma explicação complexa dos elos que os unem. Também dentro dos próprios testamentos a divisão é evidenciada quando se fala de teologia joanina, paulina, sinaítica, etc.[105] É natural que existam barreiras em termos históricos devido à distância temporal e cultural entre os Testamentos e a apropriação destes no cânon da Igreja. Essa barreira é também evidenciada pelo fato da revelação ter um caráter progressivo. Porém, o valor teológico de ambos os testamentos não é para ser comparado. Creio que este conceito está implícito nas Escrituras (Hb 1.1-4), assim como está explicitamente descrito no capítulo I da Confissão de Fé de Westminster. Deus se revelou progressivamente e é extremamente importante que as Escrituras sejam lidas e entendidas nesta perspectiva. Nas palavras de E. Clowney, "Essa revelação não foi dada em um só tempo nem na forma de um dicionário teológico".[106] 

Também um só Deus se revelou e isto nos mostra a unidade das Escrituras como revelação lógica e coerente.[107] Apesar deste conceito ser estudado freqüentemente sob o título de Teologia Dogmática (Sistemática), ele é parte do conceito central da Teologia Bíblica. Gerhardus Vos define Teologia Bíblica como "o ramo da teologia exegética que lida com o processo da auto-revelação de Deus depositada[108] na Bíblia".[109] Para uma exposição fiel da verdade das Escrituras é necessário que haja entendimento da Teologia Bíblica como um todo e equilíbrio na exposição dessa teologia. Para isto é necessário que haja equilíbrio na exposição entre Antigo e Novo Testamentos. Creio que uma Teologia Bíblica sem o devido equilíbrio é um dos principais motivos porque não há pregação mais consistente e sistemática das Escrituras do Antigo Testamento.

Um pressuposto que leva ao desequilíbrio na Teologia Bíblica é o de que a familiaridade com a Teologia Sistemática é suficiente para promover um conhecimento abrangente das Escrituras. Teologia Sistemática e Teologia Bíblica são disciplinas distintas, porém interdependentes. A Teologia Sistemática séria não é apenas um amontoado de "textos-prova" descontextualizados. Quando elaborada com seriedade, ela leva em consideração a contribuição da Teologia Bíblica como matéria exegética. A Teologia Bíblica, quando também elaborada com seriedade, considera sempre a perspectiva abrangente da Teologia Sistemática. Assim, ambas as disciplinas são mantidas em uma tensão constante e renovada, conduzindo ao desenvolvimento de uma teologia sadia e relevante que, por sua vez, deve ser ministrada ao povo de Deus do púlpito de nossas igrejas, através da exposição equilibrada do Antigo e do Novo Testamentos.[110] 

O que devemos fazer? 

Penso que diante dos fatos devemos rever algumas de nossas tradições. Tradições podem ser benéficas ou maléficas, dependendo de como são passadas e recebidas por novas gerações. Em muitos casos, boas tradições sofrem distorção e acabam sendo praticadas sem objetivo, ou até mesmo hipocritamente. Basta ler as páginas do Novo Testamento e as críticas feitas por Jesus quanto às várias tradições dos israelitas da época. Se sabemos porque devemos pregar o Antigo Testamento e qual é a maior dificuldade de aproximação às Escrituras do Antigo Testamento, devemos também rever a nossa tradição quanto à pregação do mesmo. Essa revisão precisa acontecer em dois níveis: individual e coletivo.

O nível individual concerne aos padrões que se adota quanto à pregação do Antigo Testamento. Temos mesmo o desejo de ensinar, como pregadores da Palavra, "todo conselho de Deus", e a convicção de que devemos fazê-lo? De que modo a congregação que nos escuta constantemente como pregadores da Palavra percebe as riquezas dos ensinamentos do Antigo Testamento? Como algo obscuro, sem sentido e até mesmo terrível de se ouvir e ler, e que só serve para algumas partes do exercício litúrgico? Uma parte das Escrituras que deve ser relegada a segundo plano? Se a resposta a estas questões é positiva, então a pregação das Escrituras no Novo Testamento também precisa ser revista.

O nível coletivo concerne aos que estão a nossa volta e ministram a outros que são ou serão os pregadores da Palavra. Qual o papel e a importância da Teologia Bíblica? Como ela é ensinada nas instituições de sua igreja? Quais os frutos da mesma na proclamação do Evangelho? Qual a ênfase dada ao ensino de uma Teologia Bíblica que reflete a unidade das Escrituras? As respostas a estas questões devem nos ajudar a perceber quais as tradições que precisam de revisão.

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Notas:
[94] D. Martyn Lloyd-Jones, Preaching and Preachers (London: Hodder and Stoughton, 1981) 9. Traduzido para o Português como Pregação e Pregadores (São Paulo: Editora Fiel, 1984). As citações são da obra original em inglês, traduzidas pelo próprio autor.
[95] O livro é a transcrição de uma série de palestras feitas por Lloyd-Jones no Westminster Theological Seminary, na Filadélfia, USA, em 1969.
[96] Uso o termo "cristão" aqui da forma mais genérica possível.
[97] R. Mohler, A Theology of Preaching, em Handbook of Contemporary Preaching, ed. Michael Duduit (Nashville, TN: Broadman Press, 1992) 13.
[98] M. Duduit comenta: "Durante a década de 60 muitos `especialistas' proclamaram a morte do púlpito; proclamavam que a pregação havia deixado de ser relevante às necessidades da população média americana. Ironicamente, as últimas duas décadas presenciaram uma explosão de interesse na pregação dentro da igreja americana" (M. Duduit, ed., Handbook of Contemporary Preaching, 47). J. Holbert afirma: "O sermão, considerado às portas da morte como uma forma de comunicação fora de moda, está de volta" (Preaching the Old Testament: Proclamation and Narrative in the Hebrew Bible [Nashville: Abingdon Press, 1991] 9).
[99] M. Lloyd-Jones expõe vários destes fatores de forma clara e mais extensa no capítulo 1 de Pregação e Pregadores, entitulado "A Primazia da Pregação." O capítulo introdutório da obra de John R. W. Stott, Between Two Worlds (Grand Rapids: Eerdmans, 1981) é também rico em demonstrar os motivos do declínio da pregação depois da segunda metade do século XX.
[100] Chamo de "helenização do evangelho" a crença de que a forma de pregação deve se submeter a princípios de exposição comuns nos tempos do Novo Testamento e próprios da cultura greco-romana. Se estes princípios devem ser tomados por normativos, não há pregação no Antigo Testamento onde o ensino do povo de Deus era principalmente feito através de narração de eventos e da explicação dos atos de Deus na história.
[101] Um exemplo representativo desta escola é J. Holbert, Preaching the Old Testament: Proclamation and Narrative in the Hebrew Bible. A lista de livros sobre pregação desta escola de pensamento é enorme, principalmente na área de Antigo Testamento.
[102] Para um ponto de vista diverso a respeito de pregação no Antigo Testamento ver E. Achtemeier, Preaching from the Old Testament (Louisville: Westminster / John Knox Press,1989) 21-26.
[103] Para um desenvolvimento mais completo destas idéias ver G. Van Groningen, Revelação Messiânica no Velho Testamento (Campinas, SP: Luz Para o Caminho, 1995).
[104] Falo como ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil, denominação confessional, e parte da chamada "linha evangélica" no Brasil. Definições, descrições e estereótipos variam em diferentes países.
[105] Observe que esta dicotomização e compartimentalização é natural na teologia liberal onde o conceito de revelação proposicional e de unidade das Escrituras é totalmente desacreditado.
[106] E. Clowney, Preaching and Biblical Theology (London: Tyndale, 1962) 15.
[107] Para uma ampla discussão do conceito de unidade das Escrituras na área de Teologia Bíblica, verificar a descrição em Gerard Hasel, Teologia do Antigo Testamento: Questões Fundamentais no Debate Atual (Rio de Janeiro, RJ: JUERP, 1975) e Brevard S. Childs, Biblical Theology In Crisis (Philadelphia: Westminster, 1970). Para uma perspectiva mais evangélica, ver Van Groningen, Revelação Messiânica.
[108] O termo empregado por Vos "deposited" é certamente infeliz no debate teológico contemporâneo. Porém, isto não implica em que Vos não cria que toda a Escritura do Antigo e Novo Testamentos fosse a Palavra de Deus.
[109] G. Vos, Biblical Theology: Old and New Testaments (Grand Rapids: Eerdmans, 1948) 13.
[110] Clowney (Preaching and Biblical Theology, 9-19) discute com bastante clareza estes argumentos no primeiro capítulo de seu livro.

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Bibliografia:
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Divulgação: Bereianos

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sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

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Por Fernando Lima


Muitas pessoas desfrutam do Natal e o entendem como uma data em que se deve tratar a todos com amor, ser pacificadores, restaurar relacionamentos, distribuir perdão, fazer uma auto-análise de como foi ano, dos acontecimentos, o que deve ser repensado, modificado, melhorado, etc.

Estes atributos estão relacionados ao Natal por ele ser a data comemorativa cristã do nascimento de Jesus Cristo, e estes atributos estão ligados a Ele. Boa parte das pessoas transmitem estas características, às vezes até as desligando da pessoa a quem se refere, por ter na cabeça a imagem de um cristianismo que se parece mais com uma caricatura de filantropia do que algo a ser vivido e conhecido profundamente, distorcendo o sentido real da ligação dos "atributos natalinos" com Jesus Cristo.

Há um pano de fundo real onde estes atributos só fazem sentido quando são aplicados e relacionados a Cristo e ao propósito de sua vinda.

Falamos em amor no Natal, porque a vinda de Cristo foi uma manifestação do amor de Deus: 

"Foi assim que Deus manifestou o seu amor entre nós: enviou o seu Filho Unigênito ao mundo, para que pudéssemos viver por meio dele." - 1 João 4:9

E este amor foi manifestado para sanar uma realidade: a do pecado, e para pagar por eles morrendo no nosso lugar.

"Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados." - 1 João 4:10 

Aí sim chegamos ao ponto do verdadeiro sentido do amor que deve ser compartilhado entre nós, não só no Natal:

"Amados, visto que Deus assim nos amou, nós também devemos amar-nos uns aos outros." - 1 João 4:11 

No Natal também falamos em paz, reconciliação, analisamos nossa vida e tentamos tirar lições boas do que passou por um motivo: Cristo nos dá paz com Deus, reconciliando nosso relacionamento com Ele, e nos dá lições nas nossas caminhadas onde aprendemos tanto com as coisas ruins, quanto com as boas que acontecem.

"Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo" - Romanos 5:1

Os "atributos natalinos" paz e amor, nada mais são do que reflexos, não de caricaturas, mas de verdades, que quando conhecidas, nos possibilitam comemorar muito mais o Natal, sabendo verdadeiramente que grande amor nos atingiu, e a grande reconciliação que obtivemos pela vinda, vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo.

Feliz Natal!

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Fonte: Reflitam
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Por Rev. Felipe Camargo


4. As quatro condições da humanidade

Como já foi tratado anteriormente, a pregação deve levar o cristão à Cristo e isso é feito principalmente na aplicação. Este princípio evitará que o pregador faça aplicações legalistas. Como afirma Ellsworth, “a pregação tem como seu objetivo último a penetração redentiva”.[72] É necessário reforçar que embora seja outro caminho, não quer dizer que deve ser trabalhado separadamente. Como será apresentado, os dois caminhos podem andar em conjunto. 

Para uma aplicação redentiva, e até mesmo cristocêntrica, o pregador deve compreender o quadro que a Bíblia apresenta de “criação, queda, redenção, nova criação”. Dan Doriani trabalha com estes conceitos ao falar de doutrina. E de fato, em toda a Escritura pode-se encontrar doutrinas. O próprio Doriani trabalha as profecias, algumas vezes, como se a “fonte de aplicação” destes textos fossem “doutrina”. [73] 

a. Criação:

Quando é tratado do tema da criação, o pregador encontrará o ideal de todas as áreas da vida. Na Criação todos os mandatos funcionavam perfeitamente. O mandato cultural foi estabelecido antes da queda, apontando para a responsabilidade de cuidar daquilo que Deus criou. Isso demonstra que o trabalho em si é bom.[74] O fato do homem ter sido criado à imagem de Deus significa que sua responsabilidade não é somente de cuidar, mas desenvolver habilidades culturais.[75] O mandato social é estabelecido no sexto dia da criação. Este mandato é recebido juntamente com a bênção dando capacitação ao homem de estabelecer uma família e desenvolver todos os laços sociais (Gn 1.26-28). Neste ponto Plantinga afirma que agir amorosamente com o próximo é refletir a imagem de Deus.[76] O mandato espiritual também é encontrado na criação quando Deus estabelece ordens para não se comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal e até na ordem da guarda do sábado.

Um ensino que o pregador não pode esquecer é que a criação não foi feita para a glória do homem e sim para Deus. Toda a criação foi criada boa para que Deus fosse glorificado nesta criação. A Bíblia afirma que a criação foi criada em Cristo e para Cristo (Cl 1.16). “Todas as suas obras são simplesmente o transbordar da sua infinita exuberância, para sua própria grandeza”. [77]

Isso não muda quando se fala da criação do homem. O objetivo de Deus ter criado o homem por meio de Cristo é para que por meio dele Deus fosse glorificado. Neste sentido, o pregador deve sempre lembrar que o objetivo principal do homem é “glorificar a Deus e gozá-lo para sempre”.[78] John Piper afirma que:
“A felicidade de Deus em Deus é a base da nossa felicidade em Deus. Se Deus não exaltasse e manifestasse alegremente sua glória, seríamos privados da base da nossa alegria. Os fatos de Deus procurar nosso louvor e de nele buscarmos prazer estão em perfeita harmonia. Porque Deus é mais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos nele”. [79] 

Portanto, a felicidade do cristão repousa sobre o Deus soberano. Textos como de Amós 5 onde há o alerta de “buscar ao Senhor e viver”, não deve ser aplicado como se fosse apenas uma ameaça, embora o texto trate de um alerta condicional. O pregador deve lembrar os cristãos que o dever de buscar ao Senhor não é uma obrigação simplesmente, mas que ele foi criado para isso. A alegria do cristão deve ser glorificar a Deus pelo que ele é. [80]

Na pregação dos profetas o tema da criação deve ser bem compreendido. Este tema é explorado nos profetas como argumentação para sua mensagem. Os princípios da criação ainda continuam. Não há como, por exemplo, tentar explicar e até aplicar Isaías 40 sem uma compreensão correta do tema da criação. A maneira como Isaías transmite a mensagem de consolo ao povo vem principalmente do ensino que Deus é criador.

b. Queda:

Na queda, é possível encontrar todos os mandatos sendo quebrados e prejudicados. O mandato cultural é afetado pela maldição lançada sobre a terra, fazendo com que ela produza cardos e abrolhos. O trabalho, não é mais algo agradável, mas o sustento é obtido pelo suor do rosto (Gn 3.17-19). No mandato social se encontra uma alteração não somente no casamento, mas há uma inimizade entre duas descendências (descendência da mulher e da serpente). O desentendimento entre o casal passa a ser algo dificultoso e com intrigas (Gn 3.16), os filhos trariam dores físicas (Gn 3.16) e emocionais (Gn 4.25). Se até mesmo entre irmãos há intrigas e morte (Gn 4.8), não é de se admirar que a sociedade se torne violente e má (Gn 4.23; 6.5). A comunhão do homem com Deus também já não é a mesma. A comunhão que havia no paraíso é anulada transformando-se em medo e vergonha (Gn 3.10). Poucos são os que reconhecem ao Senhor como o único Deus (Rm 3.9-18). Estes poucos lutam constantemente em viver uma vida digna diante de Deus (Rm 7.19).

Com a queda, a imagem de Deus no homem foi corrompida. Embora não esteja apagada, ela está prejudicada e ofuscada. O referencial do ser humano foi quebrado. O alvo do homem deixou de ser adorar a Deus e ter prazer nele. O homem deixou de adorar a Deus e passou adorar a criatura. Paulo trabalha com este ponto no seu primeiro capítulo de Romanos.

Como mostrado anteriormente, os profetas demonstram como o povo de Deus desobedeciam aos mandatos. Por isso, uma visão correta da queda auxilia o pregador a contextualizar os pecados cometidos pelo povo de Deus no Antigo Testamento, mostrando como os mesmos pecados são repetidos.

Mas, há ainda um ponto sobre a queda que amplia ainda mais o campo de aplicação, pois dá ao pregador, uma compreensão correta do mundo. Responde à perguntas do tipo “por que os ímpios prosperam?”, “Por que existem povos maus?”, “Por que o povo de Deus continua a se rebelar?”, “Porque existe tanta miséria, fome, morte, etc”. Conforme Platinga, durante anos os homens procuram uma solução para os problemas da humanidade, bem como sua cura. Portanto,
“Ser cristão é participar desse empreendimento humano comum de diagnosticar, de elaborar uma receita e de oferecer um prognóstico – mas fazer isto partindo de uma visão cristã do mundo; uma visão elaborada a partir das Escrituras, centralizada em Jesus Cristo, o Salvador”. [81]

Com isso em mente, o pregador deve tomar cuidado para não apresentar apenas o problema da queda, mas deve apontar para a solução, ou seja, para a redenção em Cristo.

c. Redenção:

Os profetas, por vezes, anunciavam as promessas de Deus que são chamadas de incondicionais. Essas promessas estão relacionadas à salvação e a aliança de Abraão até o Novo Testamento.[82] As profecias não eram apenas condenatórias, mas tinha um propósito de restauração do povo. Os alertas dos profetas ao povo por causa do pecado geralmente vinha acompanhada de uma mensagem de esperança para a pequena parte fiel. Algumas vezes esta redenção apontava para o final do castigo, outras para a vinda de Cristo e a nova aliança. Este é o meio mais fácil para uma aplicação cristocêntrica. Mas, ainda assim, o pregador deve ficar alerta para a intenção inicial do profeta. Para isso, o pregador deve ter em mente que o Senhor tornava conhecido para os profetas e através deles que os seus propósitos e objetivos escatológicos que foram revelados desde de Gênesis 3 “estavam sendo mantidos, colocados em prática e seriam plenamente alcançados e realizados.’’ [83]

Neste ponto, o pregador pode observar as mudanças que o cristão tem em Cristo. Em Cristo os mandatos podem ser restaurados, pelo menos em parte. Doriani, usando o exemplo do trabalho, afirma que na redenção, apesar de permanecer o pecado e a frustração, “o trabalho mais uma vez tem propósito”.[84] Paulo demonstra essa restauração em Efésios 5.18-9.9. Cunha, comentando este texto, mostra como os mandatos são aplicados através da plenitude do Espírito Santo. Ele apresenta o uso destes mandatos da seguinte forma:
• Efésios 5.18-20: O mandato espiritual: a. Falando uns com os outros salmos, hinos e cânticos espirituais; b. Falando entre vós com salmos, e hinos, e cânticos espirituais; c. Louvando e cantando de coração ao Senhor; d. Dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo.
 Efésios 5.21-6.4: O mandato social: a. sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo (v.21); b. O relacionamento esposo/esposa; c. A submissão da mulher ao marido; d. O relacionamento pais/filhos.
• Efésios 6.5-9: O mandato cultural: a. O relacionamento servos/senhores: 1. com temor e tremor, na sinceridade do vosso coração, como a Cristo (v. 5); 2. não servindo à vista, para agradar a homens (v. 6); 3. como servos de Cristo, fazendo a vontade de Deus (v. 6); 4. de coração, como ao Senhor (v. 7).[85] 

Neste sentido, o pregador pode apresentar, no sermão, uma forma de restauração destes mandatos mostrando o que pode ser mudado e como fazer isto. Um caminho que pode ajudar é fazer ligações com o Novo Testamento. Greidanus ressalta que uma interpretação teológica lembra o pregador da preocupação central dos profetas: “a preocupação de revelar Deus atuando na História com o propósito de restabelecer seu reino sobre a terra.[86] 

A redenção em Cristo não deve trazer ao cristão um peso sobre seus ombros, pois Cristo oferece um jugo suave (Mt 11.30). É verdade que os cristãos precisam de punição e bons conselhos, “mas também precisam de abraços, alegria, presentes e festas”.[87] O pregador, portanto, deve trazer palavras de redenção.

d. Nova Criação: 

Algumas das promessas incondicionais, tratadas anteriormente, são a restauração dos novos céus e nova terra e a restauração do povo de Deus.[88] Portanto, neste ponto, a aplicação gira em torno do que o crente pode e deve esperar. Quando se fala de nova criação a aplicação deve falar acerca da vida futura e para onde todas as coisas caminham. A criação desde a queda espera ansiosa pela redenção do pecado (Rm 8.20-22) e o mesmo acontece com o crente (Rm 8.23-25). A mensagem dos profetas incluía a esperança de um novo reino estabelecido sobre a terra, contudo, “uma terra transformada pelo poder de Deus”.[89] Neste sentido, pode-se afirmar que o mandato cultural será totalmente redimido. O trabalho, por exemplo, continuará sem o pecado e frustrações.[90] O mesmo acontece com o mandato social, ou seja, o relacionamento do homem com seu próximo. Pois, sem pecado, não haverá inimizades, já que isso é consequência do desejo pecaminoso do coração (Tg 1.1-4). Por conseqüência, o relacionamento com Deus, o mandato espiritual, sem o pecado será pleno e perfeito (1ª Co 15.28).

A esperança de um reino futuro e a restauração de todas as coisas eram temas recorrentes nas mensagens dos profetas, e por isso, essa esperança deve ser levado em conta na aplicação. Eles pregavam sobre a esperança de um reino vindouro de plena alegria. Nesta nova era Deus se regozijaria novamente com sua criação. “Este entrelaçamento de Deus, da humanidade e de toda a sua criação em justiça, complementação e regozijo, é o que os profetas hebraicos chamam de Shalom”.[91] 

É verdade que nem todos os textos falam sobre a nova criação e por isso, o pregador deve ficar atento para isso. Deve-se evitar aplicar este tema se o texto não trata sobre esta esperança. Mas, ao mesmo tempo, não se deve esquecer o contexto da mensagem dos profetas. Os profetas tinham um entendimento do mal porque também tinham uma compreensão do bem.[92] 

Como Olyott ressalta, não basta apenas dizer o que fazer e como fazer, mas é necessário mostrar o porque fazer, ou seja, qual esperança motiva o cristão a fazer o que Deus manda.[93] 

Resumindo, com uma correta compreensão destas quatro condições da humanidade, o pregador encontrará algumas formas de aplicar o seu sermão. Na criação, o pregador mostra o ideal de todas as coisas. No pecado, o pregador apresenta um esclarecimento sobre a realidade e aponta para o que está errado. Na redenção, o pregador aplica a obra de Cristo na vida do cristão mostrando como e o que deve ser mudado. Na nova criação, o pregador pode mostrar o que o cristão pode esperar.

Continua nos próximos dias...

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Notas:
[72] ELLSWORTH. De fé em fé. p. 117.
[73] DORIANI. A verdade na prática. p. 240-243.
[74] Ibid. p. 243.
[75] PLANTINGA, Cornelius; Jr. O crente no mundo de Deus. São Paulo: CEP, 2008. p. 46.
[76] Ibid. p. 47.
[77] PIPER, John. Teologia da Alegria. São Paulo: Shedd, 2003. p. 32.
[78] WESTMINSTER, Assembléia de. O Breve Catecismo. São Paulo: CEP, 1988. Perg. 1. 
[79] PIPER. Teologia da Alegria. p. 37.
[80] PIPER, John. Plena Satisfação em Deus. São José dos Campos: Fiel, 2009. Piper, depois de explorar brevemente este tema, faz quatro aplicações deste tema no seu livro “Plena satisfação em Deus”. Este livro pode servir de exemplo de como este tema pode ser aplicado em diversas áreas na vida do cristão.
[81] PLANTINGA. O crente no mundo de Deus. p. 31.
[82] KAISER and SILVA. Introdução à hermenêutica bíblica. p. 144-145.
[83] GRONINGEN. Criação e Consumação. p. 17.
[84] DORIANI. A verdade na prática. p. 243.
[85] CUNHA, Wilson de Angelo. Breves Considerações sobre a Aliança da Criação e a Plenitude do Espírito em Efésios 5:18 - 6:9, http://www.monergismo.com/textos/teologia_pacto/alianca_plenitude.htm. 08 de Dezembro, 2010.
[86] GREIDANUS. O pregador contemporâneo e o texto antigo. p. 305.
[87] OLYOTT. Ministrando como o Mestre. p. 25.
[88] KAISER and SILVA. Introdução à hermenêutica bíblica. p. 144-145.
[89] GREIDANUS. O pregador contemporâneo e o texto antigo. p. 285.
[90] DORIANI. A verdade na prática. p. 243.
[91] PLANTINGA. O crente no mundo de Deus. p. 30-31.
[92] Ibid. p. 30.
[93] OLYOTT. Ministrando como o Mestre. p. 25.
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Divulgação: Bereianos

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Por Rev. Antônio dos Passos Pereira


É fácil identificar um carro de crente nas ruas, através dos jargões do evangeliquês atual e dos famosos “amuletos” cristãos colados no vidro traseiro. A mais nova moda é o “escudo da fé”. “Mas isso é um amuleto, pastor?” Bem, um amuleto é um objeto ou símbolo usado por um indivíduo junto ao corpo, geralmente pendurado no pescoço ou amarrado ao braço; ou ainda exposto em algum local de sua propriedade com o objetivo de trazer proteção e sorte. Será que se enquadra? É, como crente não acredita em sorte, essa parte fica de fora. Os amuletos cristãos só servem para trazer proteção mesmo.

A maioria das pessoas que colam o adesivo do “escudo da fé” nos seus carros realmente acreditam que seus carros serão protegidos por Deus, como resultado. Se você é um dos adeptos da nova onda, tenho uma triste notícia pra você: o “escudo da fé” não protege seu carro de nada. Atitudes como esta, de colar adesivos nos carros com símbolos e palavras de ordem do tipo: “este carro pertence ao Senhor”, “protegido por Deus”, “foi Deus quem me deu”, não tem qualquer efeito no “mundo espiritual”, como acredita a massa evangélica brasileira.

Comportamentos supersticiosos como este não resultam de uma fé verdadeira ou de uma compreensão correta da Escritura Sagrada. São fruto do imaginário popular, de resquícios da mentalidade espiritista e catimbozeira que importamos dos cultos afro-brasileiros e das tradições indígenas para o culto e crenças evangélicas. Não, o escudinho da fé não protege o seu carro, sem que você sequer tenha compreendido o que é ter fé em Deus. Ter fé significa colocar toda nossa confiança única e exclusivamente no Senhor Jesus, não em objetos e símbolos. 

O escudo da fé citado pelo apóstolo Paulo em Efésios 6.16 é resultado da preparação do evangelho da paz mencionado no versículo 15. Você só conseguirá vencer os dardos inflamados do maligno se estiver bem preparado pela Palavra, ricamente cheio da Palavra da verdade. Foi com esse escudo que Jesus venceu o maligno no deserto durante os 40 dias e 40 noites de tentação. Todas as Suas respostas a Satanás foram antecedidas por um “ESTÁ ESCRITO”, mostrando o quanto Ele tinha a Palavra de Deus por fiel e verdadeira, firmando-se nela, e não cedendo às tentações do maligno. 

A Bíblia é a base de nossa fé. Nossas batalhas são vencidas à medida que crescemos em nossa confiança no Deus revelado nas Escrituras. É Ele, e somente Ele, poderoso para nos guardar e também a tudo que temos. Salmo 7.10 é claro: “o meu escudo é Deus, que salva os retos de coração”. Veja o que mais a Escritura Sagrada diz: “Toda a Palavra de Deus é pura; escudo é para os que confiam nele” (Provérbios 30.5); “A nossa alma espera no SENHOR; ele é o nosso auxílio e o nosso escudo” (Salmo 33.20); “Tu és o meu refúgio e o meu escudo; espero na tua palavra” (Salmo 119.114); “O SENHOR é a minha força e o meu escudo; nele confiou o meu coração, e fui socorrido [...]” (Salmo 28.7).

O escudo da fé que funciona jamais foi ou será qualquer forma de símbolo ou adesivo colado nos vidros dos carros. Nossa confiança no Senhor é a única garantia de que seremos guardados de todo mal. Ele sim é nosso escudo, nossa defesa. Precisamos, definitivamente, vencer essa nossa necessidade de amuletos, de símbolos, e desapegar-nos das superstições que carregamos com a crença de que estas são bênçãos da graça de Deus para o Seu povo. Que o Senhor nos ajude a confiar em Sua Palavra, que é fiel; e em Seu caráter, que é imutável. Soli Deo Gloria.

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Fonte: Soli Deo Gloria