Isvonaldo sou Protestante

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sábado, 26 de fevereiro de 2011

Edir Macedo: o único líder evangélico (evangélico?) que apoia abertamente o aborto

A Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) existe desde 1859. É uma denominação protestante, calvinista e reformada. Como pentecostal e assembleiano, é evidente que não estou de acordo com algumas das suas doutrinas. Mas concordo plenamente com a sua posição em relação a certas denominações neopentecostais. Para a liderança da IPB, por exemplo, a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) é uma seita.

Muitos poderão considerar o posicionamento da IPB exagerado e afirmarem que ela não tem o direito de considerar a tal denominação pretensamente evangélica uma seita. Mas eu estou de acordo com os líderes da aludida denominação histórica e considero a sua posição exemplar, nesse caso.

Além da falaciosa Teologia da Prosperidade, acompanhada de outras heresias e modismos injustificáveis, de uns tempos para cá a Record (emissora da IURD) e o seu líder, Edir Macedo, passaram a defender abertamente o aborto, contrariando a Palavra de Deus. Até a crítica secular tem se manifestado quanto a isso. Reinaldo Azevedo, colunista da Veja on-line, é um dos críticos que questionam a incoerente posição de Macedo.

Quais são os argumentos de Edir Macedo em prol do aborto? Segundo ele, muitas mulheres têm perdido a vida em clínicas de fundo de quintal. Se o aborto fosse legalizado, elas não correriam mais o risco de perder a vida. Ele pergunta: “O que é menos doloroso: o aborto ou ter crianças vivendo como camundongos nos lixões de nossas cidades, sem infância, sem saúde, sem escola, sem alimentação e sem qualquer perspectiva de um futuro melhor? E o que dizer das comissionadas pelos traficantes de drogas?”

Macedo, usando ao final de cada argumento a sua tradicional pergunta “não é verdade?”, afirma que não interessa a ninguém uma multidão de crianças sem pais, sem amor e sem ninguém. E ataca: “O que os que são contra o aborto têm feito pelas crianças abandonadas?”

Assemelhando-se a Hitler, Edir Macedo defende o aborto para fazer uma “limpeza” na sociedade. Ele tem perguntado, em suas palestras: “Por que a resistência ao planejamento familiar? O aborto diminuiria, e muito, a violência no Brasil”. Para saber mais sobre o posicionamento de Macedo, leia o blog de Reinaldo Azevedo, em http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo.

Você conhece alguma personalidade evangélica influente favorável ao aborto? Pergunte aos seguintes líderes e expoentes, considerados evangélicos — de diferentes denominações e ministérios, citados aleatoriamente —, o que eles pensam a respeito do aborto: Hernandes Dias Lopes, Billy Graham, Antonio Gilberto, José Wellington Bezerra da Costa, Rick Warren, Samuel Câmara, Silas Malafaia, David Young Cho, Caio Fábio, James Dobson, David Wilkerson, Márcio Valadão, R.R. Soares, John Piper, Jaime Kemp, Philip Yancey, etc. Por serem de denominações e/ou ministérios diferentes, eles podem divergir sobre vários assuntos. Mas todos eles se mostrarão contrários ao aborto.

Segue-se que Edir Macedo é o único líder evangélico (evangélico?) influente que defende o aborto de modo veemente e peremptório. É possível que haja outros líderes “evangélicos” influentes que, intimamente, sejam favoráveis ao aborto. Mas eu não conheço nenhum que faça campanha aberta ao aborto.

As argumentações de Edir Macedo são falaciosas, totalmente inconsistentes e, como eu já disse, hitleristas, em certo sentido. Quem somos nós para considerar que um inocente deva ser morto antes de vir ao mundo, sob a suspeição de que o tal viverá sem saúde, sem escola, sem alimentação e sem qualquer perspectiva de um futuro melhor, podendo ser comissionado por traficantes de drogas?

Há dois tipos de aborto: o voluntário (homicídio, em regra geral) e o involuntário. O aborto voluntário, salvo exceção, é contrário aos princípios e mandamentos bíblicos, pois Deus é contra todas as formas de homicídio (Êx 20.13; Mt 15.19,20; Ap 21.8). O aborto voluntário consiste na destruição da vida intra-uterina em qualquer estágio do período de gestação. E é exatamente isso que Macedo defende, por mais que esteja, segundo aparenta, cheio de boas intenções.

Por que o aborto é contrário à Palavra de Deus? Porque só o Senhor tem o direito de tirar a vida, pois é Ele quem a forma ainda no ventre materno (Jó 10.9; 31.13-15; Sl 94.9; Is 44.2,24; 49.5). Deus conhece o ser humano quando ainda é apenas um plasma, uma substância informe (Jr 1.5; Sl 139.13-16). Um ovo informe de quatro semanas (Jesus) foi chamado de “Senhor”, e um feto de 24 semanas (João Batista) ficou cheio do Espírito Santo (Lc 1.39-44).

Não têm as mulheres o direito de abortar, por quê? Primeiro, porque a vida é um dom de Deus, e o fruto do ventre, galardão dEle (Gn 2.7; Jó 33.4; Sl 127.3). Desta premissa decorre outra: a mãe é apenas o meio pelo qual uma criança vem ao mundo, e não a dona dela.

O chamado aborto honroso — provocado nos casos de gravidez resultante de estupro — e o aplicado em caso de crianças que poderão nascer defeituosas ou até sem cérebro não são exceções, pois não cabe ao ser humano tirar a vida do próximo (Dt 32.39; Êx 23.7).

Há alguma exceção? Penso que, numa intervenção médica, para salvar a vida da mãe, o aborto não se constitua um assassinato. Por quê? Porque, nesse caso, se a criança não for tirada, ela e a mãe morrerão. Não há outra alternativa, a não ser salvar a mãe, em detrimento da vida da criança.

Edir Macedo defende o aborto para evitar problemas futuros para mulheres jovens... Quer dizer, então, que, para evitarmos problemas, devemos matar uma pessoa indefesa? E, se ela fosse adulta e estivesse nos incomodando, deveríamos matá-la também? Ora, se não devemos matar um ser humano adulto para ter paz e tranquilidade, por que tiraríamos a vida de um ser humano inocente e indefeso?

Portanto, meus amados irmãos, ou a Palavra de Deus está desatualizada (e é claro que não está!), ou o senhor Edir Macedo não tem nenhum compromisso com o Deus da Palavra. Parabéns, Igreja Presbiteriana do Brasil e todos os líderes e expoentes que já tomaram uma posição exemplar em relação ao referido líder pretensamente evangélico. Os verdadeiros seguidores do Senhor Jesus jamais apoiarão a tese hitlerista pró-aborto do senhor Macedo.

Ciro Sanches Zibordi

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Lutero – O Significado do Livre-arbítrio – R. C. Sproul


Depois de responder aos argumentos de Erasmo tendo como base os apelos aos escritores antigos na afirmação de que a Bíblia não é clara nesses assuntos, Lutero voltou-se para o corpo principal da obra de Erasmo. Lutero lida primeiramente com a definição de livre-arbítrio de Erasmo: "um poder da vontade humana pelo qual um homem pode se dedicar às coisas que o conduzem à salvação eterna, ou afastar-se das mesmas".

Lutero então apresenta o seu próprio entendimento do que Erasmo queria dizer com livre-arbítrio:

Suponho, então, que este "poder da vontade humana" significa um poder ou faculdade ou disposição ou atitude para desejar ou para não desejar, para escolher ou rejeitar, para aprovar ou desaprovar e para realizar todas as outras ações da vontade. Agora, o que significa para esse mesmo poder "se dedicar" ou "afastar-se" eu não entendo, a não ser que isso refira-se ao real desejar ou não desejar, escolher ou rejeitar, aprovar ou desaprovar - isto é, a exata ação da própria vontade. Assim, devemos supor que esse poder é algo que acontece entre a vontade e sua ação, algo pelo qual a própria vontade produz o ato de desejar ou não desejar e por meio do qual a ação de desejar ou não desejar é produzida. Nada mais é imaginável ou concebível.

Lutero vê na concepção de Erasmo uma reversão ao ponto de vista de Pelágio, embora com menor sofisticação. Ele condena o entendimento de Erasmo sobre as discussões filosóficas anteriores sobre essa questão. Ele, então, discute as três visões distintas de Erasmo do livre-arbítrio: "De uma visão sobre o 'livre-arbítrio' você desenvolve três! A primeira, aquela dos que negam que o homem pode desejar o bem sem a graça especial, não começa, não progride e não termina, etc. parece a você 'severa mas suficientemente provável'... A segunda, aquela dos que afirmam que o 'livre-arbítrio' não é útil para nada exceto o pecado, e que só a graça trabalha o bem em nós, etc, parece a você 'mais severa'; e a terceira, a visão daqueles que dizem que o 'livre-arbítrio' é um termo vazio e que Deus trabalha em nós tanto o bem quanto o mal, e que tudo o que acontece, acontece por mera necessidade, parece a você 'a mais severa'. É contra essas duas últimas que você declara estar escrevendo".

Lutero afirma que as três diferentes visões enumeradas por Erasmo fazem distinções que não há diferenças. Todas as três referem-se à mesma coisa mas com palavras diferentes. Lutero pergunta como Erasmo pode chamar a primeira de "suficientemente provável" quando é claramente divergente da sua própria definição?"Você disse", escreve Lutero, "que o 'livre-arbítrio' é um poder da vontade humana pelo qual um homem pode se dedicar ao bem; mas aqui você diz, e aprova que isso seja dito, que o homem sem a graça não pode desejar o bem".

Lutero diz: "A definição afirma o que a declaração paralela nega! Assim, no seu 'livre-arbítrio' há, ao mesmo tempo, um sim e um não, e no mesmo fôlego você diz que somos tanto certos quanto errados e que você mesmo é tanto certo quanto errado, sobre uma e a mesma doutrina e artigo! Você pensa que se dedicar ao que produz salvação eterna (como sua definição diz que o 'livre-arbítrio' faz) não é bom? Se houvesse bem suficiente no livre-arbítrio para que ele se dedicasse ao bem, não haveria necessidade da graça! Assim o 'livre-arbítrio' que você define é uma coisa, e o livre-arbítrio que você defende é outra".

A essa altura, Lutero indica que a definição de Erasmo do livre-arbítrio não requer a graça para se virar para o bem ou para Deus. Se a graça não é requerida, mas meramente assiste o homem, então a definição de Erasmo do livre-arbítrio não é essencialmente diferente da de Pelágio. Mas Lutero observou que o livre-arbítrio que Erasmo definiu não era o livre-arbítrio que ele estava defendendo. Erasmo não se dispôs a defender uma visão pelagiana pura do livre-arbítrio. Em outro lugar do The Diatribe, ele declarou que "a vontade humana, depois do pecado, é tão depravada que perdeu a sua liberdade e é forçada a servir o pecado, e não pode retornar para um estado melhor".

Se essa é a visão que Erasmo está defendendo, Lutero argumenta, então Erasmo está realmente admitindo algo da própria visão de Lutero: "Se, agora, o 'livre-arbítrio' sem a graça perdeu a sua liberdade, é forçado a servir o pecado e não pode desejar o bem, eu gostaria de saber qual é o legado de todo aquele esforço e diligência da primeira visão, a 'provável'. Não pode ser um bom esforço e diligência, porque o 'livre-arbítrio' não pode desejar o bem, como a concepção declara e você concorda".

Esse é o clássico argumento reductio ad absurdum. Lutero argumenta "para o homem", assumindo as próprias premissas do seu opositor e as conduzindo para a conclusão lógica. Ele chama a visão de Erasmo de um tipo estranho de paradoxo pelo qual Erasmo afirma final e exatamente o que ele se propôs a negar ou nega o que se propôs a afirmar. Lutero diz que todo o Diatribe é "nada além de um ato nobre do 'livre-arbítrio' se condenando em sua própria defesa, e se defendendo na sua própria condenação".

Lutero, então, compara essa visão com as duas outras que Erasmo delineou:
...A segunda é "mais severa", aquela que defende que o "livre-arbítrio" não serve para nada além do pecado. Esta, certamente, é a opinião de Agostinho, a qual ele expressa em muitos lugares." A terceira visão é "a mais severa", a de Wycliffe e Lutero: que o livre-arbítrio é um termo vazio...

...Eu chamo Deus [como minha] testemunha de que pelas palavras das duas últimas visões, eu nada quis dizer e desejei que fosse entendido além do que é declarado na primeira visão. Também não penso que Agostinho pretendia qualquer coisa além disso, nem deduzo qualquer outro significado das suas palavras além do que a primeira visão afirma. Assim... as três visões pormenorizadas no Diatribe são, na minha mente, nada além da visão que defendo. Por essa vez é admitido e estabelecido que o "livre-arbítrio" perdeu a sua liberdade e está obrigado a servir ao pecado e não pode desejar o bem. Nada posso entender dessas palavras a não ser que o livre-arbítrio é um termo vazio cuja realidade está perdida. Uma liberdade perdida, no meu modo de falar, não é liberdade de forma alguma, e dar o nome de liberdade a algo que não tem liberdade é aplicar a ela um termo cujo significado é vazio...

"Se Desejares..."

Em seguida, Lutero responde à outra objeção que Erasmo havia levantado, baseando-se em textos bíblicos que parecem indicar que o homem pode realizar qualquer coisa que Deus ordena. Essa questão é similar àquela que provocou a reação inicial de Pelágio contra a oração de Agostinho, na qual ele pedia a Deus que concedesse o que ele ordenava. No The Diatribe, Erasmo apela aos livros apócrifos: "Eclesiástico, ao dizer 'se desejares manter', indica que há uma vontade no homem de manter ou não manter; caso contrário, qual é o sentido de dizer a alguém que não tem desejo, 'se desejares'? Não é ridículo dizer a um cego: 'se desejares ver, encontrarás um tesouro'? ou a um surdo: 'se desejares ouvir, eu lhe contarei uma boa história'? Isso seria ridicularizar a sua miséria".

Esse tema levanta a questão sobre a própria integridade de Deus. Se ele ordena que algo seja feito e, na realidade, esse algo não pode ser feito, então essa ordem parece ser cruel e injusta. Isso, como Erasmo diz, iria ridicularizar a miséria humana. Ele infere que o mandamento divino indica uma capacidade para obedecer. Caso contrário, a criatura não poderia ser considerada moralmente responsável pela ação. A própria palavra responsabilidade indica a capacidade de responder.

Lutero responde reprovando a razão humana por tirar conclusões insensatas. O que ele, em outro lugar, chama de "uso evangélico da lei", Lutero aqui descreve como uma estratégia divina para mostrar às suas criaturas moralmente impotentes, a própria impotência das mesmas.

Agora, se Deus, como Pai, trata conosco como seus filhos, visando nos mostrar a impotência que ignoramos; ou como um médico fiel, visando nos contar sobre a nossa doença; ou se para ridicularizar seu inimigos que resistem orgulhosamente ao seu conselho e às leis que estabeleceu (pelas quais alcança esse objetivo e da maneira mais efetiva), ele diria: "faça", "ouça", "guarde", ou "se ouvires", "se desejares","se guardares"; pode-se concluir corretamente disso que, por essa razão, podemos fazer livremente essas coisas ou Deus está nos ridicularizando? Por que, de preferência, não deveria seguir esta conclusão: por essa razão, Deus está nos testando para que, pela sua Lei, ele possa fazer com que a nossa impotência seja conhecida...

Aqui Lutero demonstra a diferença entre uma inferência possível e uma inferência necessária. Quando Deus faz algo cujo propósito não conhecemos, somos deixados para especular a respeito desse propósito. Erasmo deduz que se o homem é impotente para fazer o que Deus ordena, então a razão de Deus para a ordem é ridicularizar a miséria humana. Essa é uma inferência possível, mas desaparece rapidamente quando levamos em consideração o caráter de Deus. Mais importante, Erasmo infere, a partir do comando, que somos capazes de obedecer. Essa também, de acordo com Lutero, é uma inferência possível, não uma inferência necessária. Para chegar a esse ponto, Lutero usa um argumento semelhante ao do apóstolo Paulo quando este diz quea lei é uma mestra que nos conduz a Cristo. Somos ordenados a obedecer toda a lei, a ser perfeitos. Isso não significa (a não ser que adotemos o pelagianismo puro) que somos moralmente capazes de alcançar a perfeição.

De acordo com as leis da inferência imediata, uma pessoa nada pode inferir a partir da declaração "Se desejares..." sobre quem tem o poder de assim desejar. Essa é uma frase condicional, indicada pela presença da palavra se. E como a fórmula, se A, então B. Se a condição for satisfeita (A), então a conclusão se seguirá(B). Essa fórmula indica meramente uma conexão entre A e B.

Um texto freqüentemente mencionado a esse respeito é João 3.16, que promete que todo aquele que crer não perecerá. O texto ensina explicitamente que se alguém faz A (crê), então não terá B (perecerá) e terá C (vida eterna). O texto nada diz sobre quem irá crer ou quem pode crer. Ele pode indicar que alguns podem ou irão crer, mas uma indicação não pode anular uma declaração explícita.

Esse é o ponto de onde a discussão prosseguirá. Lutero esforça-se para mostrar que as Escrituras negam explicitamente a capacidade moral do homem para fazer o que Deus ordena. Ele aplicará o princípio da interpretação de que o implícito deve ser interpretado à luz do explícito, não o contrário.

Erasmo continua recorrendo a textos que impõem obrigações ao pecador, argumentando que tais obrigações necessitam de capacidade moral: "Se não está no poder de cada homem manter o que é ordenado, todas as exortações nas Escrituras e todas as promessas, ameaças, repreensões, censuras, súplicas, bênçãos, maldições e multidão de preceitos são, necessariamente, inúteis".

Lutero vê essa conclusão como injustificável, envolvendo um salto quântico da lógica. Novamente ainferência possível é elevada ao nível da inferência necessária. Sem a capacidade plena para realizar o que é ordenado, os comandos seriam necessariamente inúteis. Lutero responde:

O Diatribe continuamente se esquece da questão em debate e trata de assuntos estranhos ao seu propósito; e não vê que todas essas coisas criam [um caso] mais forte contra si mesmo do que contra nós. A partir de todas essas passagens, ele prova a liberdade e capacidade para cumprir todas as coisas, como declaram as próprias palavras da conclusão que tirou; ao passo que sua intenção era estabelecer que "tal 'livre-arbítrio' não pode desejar o bem sem a graça e um esforço que não pode ser atribuído à própria força"....

...e agora, que o próprio Diatribe desminta suas próprias palavras nas quais é dito que o "livre-arbítrio" não pode desejar o bem sem a graça! Deixe-o dizer agora que o "livre-arbítrio" tem tal poder, que não somente deseja o bem mas mantém os maiores mandamentos, sim, todos os mandamentos, com facilidade!
Aqui, Lutero está levando Erasmo para onde Erasmo não quer ir, direto aos braços de Pelágio. Se o argumento de Erasmo for sadio, então ele prova demais, a saber, a plena capacidade sem a assistência da graça. Lutero conclui: "Assim, nada é menos provado pelo todo dessa discussão repetitiva, discursiva e trabalhada do que o que havia sido provado, isto é, a 'visão provável' que descreve o 'livre-arbítrio' como 'tão impotente que não pode desejar qualquer bem sem a graça, mas é forçado ao serviço do pecado, embora tenha se esforçado; isso, porém, não pode ser atribuído ao seu próprio poder'. Uma verdadeira fantasia! - ele nada pode fazer em sua própria força, porém tem-se esforçado dentro da sua própria força; sua constituição envolve uma contradição muito óbvia".

"... deu-lhes o poder..."

Em seguida, Erasmo cita as palavras de João 1 "deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus" (Jo 1.12), dizendo, "Como o poder é dado [a] eles para se tornarem filhos de Deus se não há liberdade da nossa vontade?"

Lutero responde: "Essa passagem também é um martelo contra o iivre-arbítrio', como é quase todo o Evangelho de João; apesar disso, é tão citada a favor do 'livre-arbítrio'! Olhemos para ela, por favor! João não está falando de qualquer obra de homem, grande ou pequena, mas da renovação real e da transformação do velho homem, filho de Satanás, para um novo homem, filho de Deus. Nisso, o homem é simplesmente passivo (como o termo é usado); ele nada faz, mas o seu todo se torna algo. João está falando dessa transformação: Ele diz que nos tornamos filhos de Deus por meio de um poder divinamente dado a nós - não por qualquer poder do 'livre-arbítrio' inerente a nós!"

Mais tarde, Lutero discute o papel de Deus ao endurecer o coração de Faraó. Lutero explica esse difícil conceito do Antigo Testamento dizendo: "Assim Deus endurece Faraó: Ele apresenta à vontade perversa e má de Faraó a sua própria palavra e obra, as quais a vontade de Faraó odeia por causa da própria falha e corrupção naturais. Deus não altera interiormente aquela vontade pelo seu Espírito, mas prossegue apresentando e causando uma pressão a ser tolerada; e Faraó, tendo em mente a sua própria força, riqueza e poder, confia neles mediante essa mesma falha da sua natureza...Tão logo Deus externamente apresenta a ela algo que naturalmente a irrita e ofende, Faraó não pode escapar de ser endurecido..."

O coração de Faraó é necessariamente endurecido, mas não porque Deus tenha criado um mal recente dentro dele ou porque Deus coagiu Faraó ao pecado. Antes, o endurecimento foi o resultado natural da corrupção interior de Faraó quando deparou com a vontade e o comando persistentes de Deus.

A necessidade do resultado (o endurecimento do coração de Faraó) significa que a compulsão estava envolvida? Se Deus desejava que o coração de Faraó fosse endurecido, então esse endurecimento necessariamente teria de acontecer. Se aconteceu por necessidade, como isso pode ter acontecido sem compulsão? The Diatribe admite tanto a necessidade quanto o livre-arbítrio. "Nem toda necessidade exclui o 'livre-arbítrio'", disse Erasmo.

"Assim, Deus, o Pai, necessariamente gera um Filho; porém ele o gera de bom grado e livremente, porque ele não é forçado a agir assim".

"Estamos agora discutindo compulsão e força?" Lutero responde. "Não registrei em muitos livros que estou falando sobre a necessidade da imutabilidade? Eu sei que o Pai gera de bom grado e que Judas traiu a Cristo de bom grado... Eu faço a distinção de duas necessidades: uma eu chamo de necessidade da força(necessitatem violentam), que se refere à ação; a outra eu chamo de necessidade da infalibilidade(necessitatem infallibilem), referindo-se ao tempo".

Depois de duelos sobre vários textos do Antigo Testamento, o debate se move para o Novo Testamento. Erasmo faz objeção ao apelo de Lutero à declaração de Jesus, "Sem mim, nada podeis fazer" (João 15.5).Lutero responde: "Ele se apodera desta pequena palavra nada, corta sua garganta com muita palavras e exemplos e, por meio de uma 'explicação conveniente', chega a isto: que nada pode significar o mesmo que'algo um pouco imperfeito"'.

Erasmo havia interpretado esse texto num estilo elíptico, de acordo com o qual ele significa que sem Cristo, o pecador nada pode fazer perfeitamente. Isso realmente exercita a ira de Lutero. Ele diz, "A não ser que você prove que 'nada' nessa passagem não apenas pode, mas deve ser entendido como 'algo um pouco', você nada fez com a sua vasta profusão de palavras e exemplos além de colocar fogo na palha seca!"Posteriormente ele adiciona, "É completamente desconhecido - da gramática e da lógica -dizer que nada é o mesmo que algo; para os lógicos, a idéia é uma impossibilidade porque os dois são contraditórios!"

Depois de responder aos textos-prova de Erasmo para essa posição, Lutero conclui seu livro apresentando um caso exegético para sua própria posição.

Fonte: [ Josemar Bessa ]
Via: [ Batistas Puritanos ]

Os apóstolos modernos e o mito da oração forte.


Por Renato Vargens

Volta e meia eu ouço algumas pessoas dizendo que precisam procurar o irmão X simplesmente pelo fato de que possui uma "oração forte". Há pouco, uma irmã me abordou ao final de um culto pedindo que clamasse a Deus intercedendo por seu marido, visto que na sua perspectiva a oração do pastor é mais forte do que a de outros irmãos.

Pois é, a afirmação de que existe orações fortes entoadas por homens especiais, não encontra subsídio e fundamento nas Sagradas Escrituras. Antes pelo contrário o ensino neo-testamentário, aponta categoricamente para o fato de que todos aqueles que foram salvos por Cristo e regenerados pelo Espírito Santo tornaram-se sacerdotes, e como tais, mediante o sangue do Cordeiro, possuem livre acesso ao Trono da Graça relacionando-se amorosamente com o Criador de todas as coisas de forma filial.

O problema é que existe uma corja de safados que logra para si um poder super especial o qual faz o crente acreditar que as orações do "profeta" são mais poderosas do que a de qualquer outro cristão. Esta bandidagem, que tomou para si o título de "apóstolo" tem nos últimos anos se locupletado discaramente da ignorância do rebanho, impondo sobre estes, doutrinas e ensinamentos absolutamente antagônicos aos das Sagradas Escrituras.

Lamentavelmente, boa parte das igrejas neopentecostais, defensoras da nefasta teologia da prosperidade, estão retomando a figura do “ungido de Deus”, ou seja, estão ressuscitando a figura vétero-testamentária do profeta e do sacerdote. Para estes, o "apóstolo" é o "escolhido" de Deus e quando imbuído de poder espiritual, ergue a voz em oração , o Senhor é obrigado a responder. Ora, Vamos combinar uma coisa? Esses caras são loucos! Aonde na Bíblia encontramos subsidio para esta satânica doutrina? No Novo Testamento, não encontramos a menor referência que justifique este ensimento. Jesus Cristo é o nosso único e suficiente mediador. Ele através de morte de cruz, nos fez sacerdotes. E por causa dEle podemos orar com ousadia na certeza de que se nossas orações estiverem de acordo com a sua Soberana vontade, seremos atendidoS.

A Ele toda honra, glória e louvor!

Fonte: [ Blog do autor ]
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