“Por isso deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo; porque somos membros uns dos outros” (Ef 4:25)
Argumentos Tendenciosos do Dave Hunt Comentados Olhando em um grupo no Facebook, vi um tópico onde um arminiano cola este artigo do conhecido líder batista fundamentalista Dave Hunt, intitulado ‘O lado ‘B’ do Calvinismo em Genebra’. Resolvi aqui dar minhas considerações sobre tal artigo: "Como um bom cidadão desfrutando a benção do Imperador e crendo na igreja estatal que Constantino estabeleceu, Agostinho perseguiu e até mesmo sancionou a morte dos Donatistas e outros cismáticos, como nós já vimos. Gibbon nos fala que a medida severa contra os Donatistas “recebeu a aprovação fervorosa de Santo Agostinho [e assim] grande parte foram reconciliados [forçados a voltar] a Igreja Católica”.[13] De Agostinho foi dito que “a própria grandeza de seu nome tem sido o meio de perpetuar os erros mais grosseiros que ele mesmo propagou. Mais do que ninguém, Agostinho encorajou a doutrina perniciosa da salvação pelos sacramentos de uma igreja terrena organizada, que trouxe consigo rituais sacerdotais com todo o mal e misérias que implicaram no decorrer dos séculos" Resposta: (a) Não sei se estas acusações contra Agostinho são verdadeiras. Mas ainda que Agostinho tivesse realmente concordado com a perseguição e a morte dos donatistas, em que isso condenaria ou provaria que sua soteriologia era errada? Faria isso que se jogasse na lata do lixo todas as suas doutrinas? Neste caso, ao matar Urias (2 Sm 12:9), deveria Davi ter os seus salmos rejeitados? Mais uma vez o 'argumentun ad hominem', como a única refutação e arma dos arminianos.
Aproveitando o gancho do Dave Hunt, um dos grupos que defendia a mesma coisa que os donatistas, foram os anabatistas do século XVI, que também eram tão intolerantes quanto os que esposavam as crenças dos reformadores. Entre os anabatistas haviam aqueles que não só ensinavam, mas defendiam e praticavam extermínio contra seus oponentes. Por exemplo, o teólogo batista Timothy George menciona que os anabatistas "saquearam igrejas e mataram inocentes" (Teologia dos Reformadores, p.256). Ainda segundo Timothy George, para estes anabatistas, todos aqueles que recusavam o rebatismo "deviam ser mortos" (Ibidem, p.256). Um eminente líder anabatista, Balthasar Hubmaeir (1480-1528), de acordo com o historiador Justo Anderson, defendia "a necessidade da espada" (Historia de Los Bautistas, Tomo II, p.41). Outro líder anabatista, Melchior Hoffman (1495-1543), de acordo com o historiador arminiano Justo Gonzales, afirmava que "seria necessário os filhos de Deus pegarem armas contra os filhos das trevas" (A Era dos Reformadores, p.102). E isso, sem contar que, falando sobre os batistas ingleses do século XVII, de acordo com o historiador batista Justo Anderson, "a maioria dos batistas ingleses rejeitaram o pacifismo"(Historia de Los Bautistas, Tomo II, p.95).
(b) Bem, se o fato de Agostinho ter ensinado a regeneração batismal serve para se rejeitar o agostinianismo ou o calvinismo, então o mesmo fato de que a Igreja Romana, os mórmons, os testemunhas de jeová, a IURD ensinarem simultaneamente a regeneração batismal a soteriologia arminiana também serve para se rejeitar o arminianismo? (c) O teólogo arminiano Claudionor Correa de Andrade, diz que Agostinho foi "o maior teólogo da igreja primitiva" (Dicionário Teológico [edição de 2001], p.297). E os historiadores arminianos A. Knight e A. Anglin, falando de Agostingo, dizem: "Mas Deus que vê o fim desde o princípio, já tinha preparado um homem para combater esse povo inimigo (os pelagianos). Este homem foi Agostinho, bispo de Hipo; ele foi uma das luzes mais resplandecentes que jamais brilharam na igreja... Depois de sua conversão, Agostinho esteve retirado pelo espaço de três anos, e durante este tempo estudou as Sagradas Escrituras com muito aproveitamento. Quando tornou a aparecer em público foi ordenado presbítero e foi um pregador célebre em Fippo Rígio, onde alguns anos mais tarde foi elevado a bispo. Por todo o resto de sua vida, continuou a ser um fiel ministro da verdade, e distinguiu-se principalmente pela habilidade e energia com quer combatia as doutrinas de um herege, Mani, e as de Pelágio... este bispo fiel morreu em Hipo, no ano 430..." (História do Cristianismo, [CPAD], pp.66-68). Outro escritor, Michael Palmer, se refere a Agostinho como "o indivíduo mais importante da Igreja depois do período apostólico" (Panorama do Pensamento Cristão, [CPAD], p.118). E a revista "Defesa da Fé" (de maioria arminiana), diz dele: "Ficou conhecido como o filósofo e teólogo de Hipona. Polemista capaz, pregador de talento, administrador episcopal competente, e teólogo notável, criou uma filosofia cristã que continua válida até hoje em sua essência" (Ano 7; nº 51 - Dezembro de 2002, p.21). "De Agostinho a Calvino. Não há dúvida de que João Calvino ainda via a igreja de Cristo pelos olhos do Catolicismo Romano. Ele viu a igreja (como Constantino a moldou e Agostinho a cimentou) como uma parceira do estado, que o estado aplicada a ortodoxia (como a igreja estado a definia) sobre todos os seus cidadãos. Calvino aplicou sua formação jurídica e seu zelo para o desenvolvimento de um sistema de Cristianismo baseado sobre uma visão extrema da soberania de Deus, que pela força absoluta de sua lógica, obrigaria reis e toda a humanidade a conformar todos os assuntos à justiça. Em parceria com a igreja, reis e outros governantes imporiam o Cristianismo Calvinista. Daqueles que creram em um reino milenar de Cristo na Terra, Calvino disse “a ficção é tão pueril para necessitar ou merecer refutação”.[15] Até Calvino estava preocupado que o reino de Cristo se iniciou com o seu advento sobre a terra e está em processo desde então. Rejeitando o reino futuro e literal de Cristo na terra por meio de sua segunda vinda, para estabelecer um reino terreno na terra sobre o trono de Davi em Jerusalém, Calvino aparentemente se sentiu obrigado a estabelecer o reino por seus próprios esforços na ausência de Cristo."
Resposta: (a) Que calúnia e que absurdo ditos pelo Dave Hunt, ao dizer que Calvino via a Igreja pela ótica romanista. O teólogo arminiano Severino Pedro da Silva, refuta isso, afirmando:
"João Calvino, o maior teólogo do cristianismo depois de Agostinho, bispo de Hipona... Na casa dele, Calvino discursava sobre o evangelho de Cristo com extraordinário fervor, para um grupo de crentes. Abandonando seus estudos, consagrou a plenitude de suas forças a propagar a Fé em Cristo, segundo se revela nas Escrituras Sagradas... o vemos completamente desvinculado da igreja romana e sendo o principal cérebro da reforma na França. Sua luz não pode ser escondida... por fim, Calvino foi se refugiar em Basileia, na Suíça, onde aos 25 anos de idade, deu ao mundo o seu famoso livro 'As Institutas da Religião Cristã', isto é, Instrução Básica na Religião Cristã', escrito em latim, e no qual deixou as grandes doutrinas cristãs fundamentais. Era um sistema completo de teologia, lógico e contundente, e exerceu uma profunda influência no pensamento da humanidade" (A Doutrina da Predestinação, [CPAD], pp.16-18).
Na visão de Severino Pedro, Calvino estava completamente desvinculado de qualquer forma de romanismo.
(b) Com relação a rejeição a crença no milênio literal de Cristo aqui na Terra, faltou ao Dave Hunt também fazer um artigo insultando Lutero e os primitivos luteranos, por haverem também ensinado a mesma doutrina de Calvino, com referência ao milênio, negando a sua literalidade. A Confissão de Augsburgo (1530), diz:
"Aqui se rejeitam, outrossim, algumas doutrinas judaicas que também ao presente se manifestam e segundo as quais antes da ressurreição dos mortos um grupo constituído integralmente de santos e piedosos terá um reino terrestre e aniquilará todos os ímpios" (XVII).
"Em 10 de Novembro de 1536, a Confissão de Fé, que toda a burguesia e moradores de Genebra e súditos em seus territórios deveriam jurar aderir e que Farel tinha redigido consultando Calvino, foi apresentado a cidade oficialmente. Era um longo documento com regras detalhadas cobrindo todas as coisas da membresia da igreja, frequência, pregação, obediência do rebanho e a expulsão dos ofensores. As autoridades de Genebra aprovaram o documento em 16 de Janeiro de 1537. “Em março, os Anabatistas foram banidos. Em Abril, sob a instigação de Calvino [uma inspeção casa a casa foi lançada] para garantir que os moradores de Genebra abraçaram a Confissão de Fé… Em 30 de Outubro houve uma tentativa de arrancar uma profissão de fé de todos os hesitantes. Finalmente, em 12 de Novembro, um edito foi emitido declarando que todos os recalcitrantes ‘[que] não desejavam jurar à Reforma foram ordenados deixar a cidade’…”.[16] “A Reforma”? Houvera variações e diferenças entre várias facções quando a Reforma brotava, de Lutero a Zwinglio. Mas em Genebra, somente o calvinismo seria conhecido como “A Reforma” e “Teologia Reformada”. Essa reivindicação presunçosa ainda é defendida pelos calvinistas de hoje em todo mundo. A primeira tentativa de Calvino falhou. Boettner reconhece, “devido a tentativa de Calvino e Farel de forçar um sistema tão severo de disciplina em Genebra, tornou necessário para eles deixarem a cidade temporariamente”. [17]"
Resposta: Os historiadores arminianos A. Knight e W. Anglin falando sobre a primeira influência de Calvino sobre Genebra, diz:
"...firmou-se em Genebra. Foi nomeado professor de teologia e começou um árduo ministério de vinte e oito anos, como pastor de uma das mais importantes igrejas da cidade; e aqui estendeu logo a sua influência a todos os países da Europa... foi ele considerado o inimigo mais perigoso e implacável de Roma do que Lutero... Mas o povo de Genebra não podia desde logo habituar-se às medidas de Reforma que Calvino introduziu. Toda a cidade havia caído no vício e no papismo, e os seus novecentos padres governavam a consciência do povo, que não gostava das restrições que Calvino punha aos seus cantos, às suas danças, e a outros divertimentos mundanos nem tampouco tolerava as suas censuras severas aos pecados menos públicos e que muitos não eram estranhos; e quando por fim os proibiu de virem ao altar e os mandou embora com palavras de censura, o povo levantou-se em massa e expulsou-o da cidade" (História do Cristianismo, p.253).
A grande questão da aversão do povo de Genebra a disciplina de Calvino é o fato deste povo estar acostumado a viver na licenciosidade do pecado e não querer abandonar tal prática.
"O Retorno Triunfante de Calvino. Três anos depois, no entanto, frente à oposição Católica de dentro e a ameaça de intervenção armada pelos Católicos Romanos de fora, o conselho da cidade de Genebra decidiu que eles precisavam das fortes medidas de Calvino e o convidaram a voltar. Ele entrou na cidade em 13 de Setembro de 1541. Dessa vez ele acabaria por conseguir impor sua versão da Reforma sobre os cidadãos de Genebra com uma mão de ferro. Seu primeiro ato foi o de entregar ao conselho da cidade suas Ecclesiastical Ordinances, que foram adotadas em 20 de Novembro de 1541. Stefan Zweig nos diz: Uma das mais memoráveis experiências de todos os tempos iniciou quando esse homem magro e severo entrou no portão Cornavian [de Genebra]. Um estado [a cidade-estado murada de Genebra] seria convertida em um mecanismo rígido. Almas inumeráveis, pessoas com incontáveis sentimentos e pensamentos, foram compactados em um sistema único e todo-abrangente. Essa foi a primeira tentativa [protestante] de fazer uma imposição na Europa…uma imposição uniforme sobre uma população inteira. Com uma sistemática meticulosa, Calvino começou a trabalhar para a realização de seu plano de converter Genebra no primeiro Reino de Deus na terra. Era para ser uma comunidade sem corrupção, desordem, vícios ou pecados; devia ser a Nova Jerusalém, um centro de onde a salvação do mundo radiaria…toda a sua vida foi devotada a serviço dessa única ideia.[18] A intenção de Calvino de estabelecer um governo eclesiástico ocuparia a maior parte do resto de sua vida. Embora reconhecendo a influência e o poder de Calvino, o Pequeno Conselho dos Sessenta e o Grande Conselho dos Duzentos, responsáveis pelas questões civis, resistiram ser assumidas por uma autoridade religiosa (Consistório) sobre o qual Calvino ascendeu. A luta pelo poder continuou por anos, os conselhos até mesmo buscando reter o controle sobre algumas disciplinas na igreja tais como as excomunhões, com Calvino se recusando a ceder desafiadoramente. Finalmente, em Fevereiro de 1555, os partidários de Calvino ganharam a maioria absoluta no Conselho. Em 16 de Maio houve uma tentativa de rebelião contra a atitude de Calvino de expulsar certos oficiais libertários civis da Ceia do Senhor.[19] Os líderes do motim que fugiram de Genebra para Bern foram sentenciados a morte à revelia. Quatro deles que não conseguiram escapar foram decaptados e esquartejados e partes de seus corpos foram pendurados em locais estratégicos como advertência.[20] Evocando a frase “capangas de Satã” que ele usou anos antes contra os Anabatistas, Calvino justificou essa barbaridade: “Aqueles que não corrigem o mal quando podem fazer e seus ofícios requerem, são culpados”.[21]
Resposta: Os historiadores arminianos A. Knight e W. Anglin revelam que depois do povo expulsar Calvino, e vê-se totalmente imerso na iniquidade e heresia, a ponto de clamar publicamente pela volta de Calvino:
"Mas em breve quiseram que ele voltasse outra vez. A cidade estava em desordem, devido aos encolerizados bandos de papistas, e libertinos, e a sua presença era ali muito necessária. Os próprios que o tinham expulsado começaram a clamar em altos brados pela sua volta. 'Chamemos de novo o homem que queria reformar a nossa fé, a nossa moral e as nossas liberdades', diziam eles. E assim no ano de 1540, foi resolvido pelo Conselho dos Duzentos que, co o fim de promover a glória de Deus, se procurassem todos os meios para que o mestre Calvino voltasse como pregador" (História do Cristianismo, p.254).
Outra autoridade arminiana, o Pr, Abraão de Almeida, pormenoriza o resultado da ação espiritual de Calvino sobre Genebra:
"Instado por Farel, João Calvino aceitou liderar a Reforma naquela cidade e pôs a mão à obra... Vai para Estrasburgo, mas em 1541 retorna a Genebra e leva avante a tarefa de fazer daquela cidade turbulenta e dissoluta um modelo de um centro protestante para a difusão da Palavra de Deus.
Trabalhando diuturnamente durante o seu longo ministério de vinte e quatro anos, Calvino praticamente conseguiu o seu intento. A Igreja, bem organizada, possuía um presbitério que vigiava a conduta do povo e dos ministros; um serviço de assistência social, a cargo de diáconos, e uma academia onde se ensinava teologia e preparavam-se para a evangelização de outros povos. Enfim, Genebra tornou-se uma cidade notável, pela ordem, pela cultura e pelo cristianismo bíblico que era ali ardorosamente vivido...
Por sua obra em Genebra, Calvino alcançou três benefícios para o protestantismo em geral. A vida moral da cidade foi exemplo do que a fé reformada podia realizar, e daí o poder de sua propaganda. Genebra foi a cidadela de refúgio para os perseguidos por causa da Reforma. Para esta cidade livre, veio gente da França, Holanda, Alemanha, Escócia e Inglaterra. Os refugiados nela encontraram um lar apropriado e foi também um lugar de preparo para os líderes do Protestantismo. Em sua academia e no ambiente da cidade, foram preparados ministros devotados, instruídos e destemidos, que se espalharam como missionários da reforma, pelos países onde esta ainda não havia entrado" (A Reforma Protestante [CPAD], pp.107,108).
Por fim, a revista "Defesa da Fé" (Ano 7;nº 51 - Dezembro de 2002), falando de Calvino, diz:
"Converteu-se ao protestantismo em 1557... Foi grandemente influenciado pelos sermões de Lutero. Sem encontrar possibilidades de uma reforma religiosa em Paris, mudou-se para Suíça, onde escreve sua obra mais famosa: 'A Instituição da Releição Cristã'. Talvez nenhum livro sagrado publicado no século XVI tenha produzido efeitos tão abrangentes. De Paris, mudou-se para Genebra, na Suíça. Nesse período, devido à sua presença em Genebra, a Europa religiosa voltou seus olhos para lá e, de fato, Calvino contribuiu para que a cidade alcançasse uma feição cosmopolita. O ensino calvinista floresçeu na sua universidade e na Academia por ele fundada em 1559. A literatura impressa em Genebra inundou a Europa por meio do mercado livre, sendo vendida clandestinamente; os livros e os folhetos..."
"Como seus antecessores, Calvino fazia distinção entre Igreja Visível e a Invisível... foi considerado o maior teólogo da cristandade... João Calvino envia (em 1556) ao Brasil um grupo de pastores reformados, que se fixam na 'França Antártica', uma das ilhas da baía da Guanabara no Rio de Janeiro. Em 1557, os evangélicos franceses realizaram o primeiro culto protestante no Brasil, possivelmente, do Novo Mundo. também foram os autores da bela 'Confissão de Fé da Guanabara'" (pp.34,42-43).
“Tirania em Genebra. Talvez Calvino pensasse que ele era o instrumento de Deus para forçar a Graça Irresistível (uma doutrina chave no calvinismo) sobre os cidadãos de Genebra, na Suíça –mesmo sobre aqueles que provaram sua indignidade, resistindo à morte. Ele fez o seu melhor para impor a “justiça” irresistivelmente, mas o que ele impôs e a maneira com que ele impôs estavam longe da graça e dos ensinos e exemplos de Cristo. Alguns daqueles que professam a fé “reformada” hoje, especialmente aqueles conhecidos como Reconstrucionistas, tais como os recentes Rousas J. Rushdoony, Gary North, Jay Grimstead e outros (incluindo organizações como Coalizão do Reavivamento), tomam a Genebra de Calvino como modelo para eles e assim esperam Cristianizar os Estados Unidos e então o Mundo. Muitos ativistas Cristãos de um apego menor a esperança de Calvino, de sua própria maneira, por meio de passeatas de protesto e organização de grandes blocos de votação, suficiente para forçar uma cidadania americana ímpia a uma vida piedosa. Ninguém trabalhou tanto e por tanto tempo tentando fazer isso do que Calvino. Durant relata: Para regular a conduta leiga, um sistema de visitas domiciliares foi estabelecida… E os ocupantes foram questionados sobre todas as fases das suas vidas… a quantidade e as cores das roupas permitidas, o número de pratos permitidos em uma refeição foram especificados por lei. Jóias e rendas foram desaprovadas. Uma mulher foi presa por arranjar seu cabelo de uma maneira imoral… Censura de imprensa foi usada e ampliada sobre os Católicos e precedentes seculares: livros… com tendências imorais foram banidos… falar desrespeitosamente de Calvino ou do clero era crime. A primeira violação dessas ordens era punida com uma advertência, violações posteriores com multas, persistir na violação com prisão ou banimento da cidade. Fornicação era punida com o exílio ou afogamento; adultério, blasfêmia ou idolatria com a morte…uma criança foi decapitada por agredir seus pais. Nos anos de 1558-1559 houve 414 processos por ofensas morais; entre 1542 e 1564 houve 76 banimentos e 58 execuções; a população de Genebra era na época de 20.000 pessoas.[24] A opressão de Genebra não teria vindo sob a direção do Espírito Santo (“…onde o Espírito do Senhor está, há liberdade” [2 Coríntios 3.17]), mas sim da poderosa personalidade de Calvino e uma visão extrema da Soberania de Deus que negou o livre-arbítrio ao homem. Assim a “graça” tinha que ser imposta irresistivelmente em uma tentativa não-bíblica de infligir uma “santidade” sobre os cidadãos de Genebra. Em contraste à humildade, misericórdia, amor, compaixão, e longanimidade de Cristo, a quem ele amou e tentou servir, Calvino exerceu autoridade como o papado que ele desprezou. Além disso, ele criticou outros líderes protestantes por não fazer o mesmo: Visto que os defensores do Papado são tão amargos, ousados na representação de suas superstições, que na sua fúria atroz eles derramam sangue de inocentes, isso deveria envergonhar os magistrados cristãos que na proteção da verdade autêntica, eles estão inteiramente destituídos do espírito.[25] Os defensores de Calvino negam os fatos e tentam inocentá-lo do que ele fez, responsabilizando as autoridades civis. Boettner até mesmo insiste que “Calvino foi o primeiro dos Reformadores a exigir uma separação completa entre a Igreja e o Estado”.[26] De fato, Calvino não somente estabeleceu a lei eclesiástica, mas ele codificou a legislação civil.[27] Ele manteve as autoridades civis para “promover e manter o culto externo a Deus, defender a sã doutrina e a condição da igreja”[28] e ver que “nenhuma idolatria, nem blasfêmia contra o nome de Deus, nem calúnias contra a sua verdade, nem outras ofensas à religião surgisse e fosse disseminada entre o povo…[mas] impedir a verdadeira religião…de ser violada impunemente e abertamente e poluída pela blasfêmia pública”.[29] Calvino utilizou a força civil para impor suas doutrinas particulares sobre os cidadãos de Genebra e os forçar. Zweig, que se debruçou sobre os relatos oficiais do Conselho da Cidade para o dia de Calvino, nos diz, “dificilmente haverá um dia, nos relatos das definições do Conselho da Cidade, em que nós não encontramos o comentário ‘é melhor consultar o Mestre Calvino sobre isso’”.[30] Pike nos relembra que foi dada a Calvino uma “Cadeira do Consultor” em todos os encontros das autoridades da cidade e “quando ele estava doente as autoridades viriam a sua casa para as suas seções”.[31] Ao invés de diminuir com o tempo, o poder de Calvino somente cresceu. John McNeil, um calvinista, admite que “nos últimos anos de Calvino e sob sua influência, as leis de Genebra tornaram-se mais detalhadas e mais rigorosas”.[32]
Resposta: É impressionante o uso repetitivo do ‘argumentum ad hominem’, sempre para atacar a crença ou a doutrina de Calvino. Mas, uma vez que já demonstramos lá bem acima que os anabatistas e até os batistas eram intolerantes, não vemos inteligência por parte do Dave Hunt em usar em esse tipo de argumento velho e requentado. No 3º Volume de “As Grandes Religiões” (1973, São Paulo), lê-se que “durante o ano de 1528, em Esslingen (na Suiça) um grupo de anabatistas preparavam-se para instaurar o Reino de Deus através da força” (p.507). Ainda no mesmo 3º Volume da obra citada, o perfil de intolerância e ódio de um dos grandes expoentes do movimento anabatista (‘Thomas Mkunzer’), aliado com sua ideia pré-milienista é registrado:
“Em 1525, os camponeses de Muhlausen desejavam autonomia. Nesse contexto, Munzer publicou um vigoroso manifesto revolucionário endereçado aos mineiros. Evocando o exemplo de Gideão e considerando-se seu herdeiro espiritual, organizou uma batalhão de trezentos homens: ocupavam uma posição de vanguarda na marcha de milhares de camponeses mal armados e mal preparados para a luta. As forças governamentais, desproporcionalmente maiores, estavam equipadas para uma verdadeira batalha. É provável que os príncipes se tivessem compadecido da multidão transtornada pelo profeta de Zwickau. E quisessem mesmos poupar-lhes a vida quando enviaram emissários com propostas de rendição e entrega do líder. Mas a decisão de Munzer de lutar contra os príncipes, aliada à esperança escatológica de que o Cristo seria entronizado numa era de felicidade, impossibilitou qualquer negociação. Melanchthon, ao escrever uma biografia de Thomas Munzer, reconstituiu os discursos que o líder revolucionário teria proferido a seu exército. São palavras que demonstram o ânimo de Munzer e o clima emocional em que se encontravam seus seguidores: ‘Ataquemos fortemente os inimigos. Não temais o fogo de suas armas, pois deveis constatar que vos defenderei de todas as balas que vos lançarem’. Aproximadamente 8000 camponeses preparavam-se para a luta, orando e cantando hinos que invocavam a presença do Espírito Santo. É ainda Melanchthon quem conta: ‘Quando ele (Munzer) chegou diante dos príncipes, estes lhe perguntaram porque reunira aqueles pobres camponeses, levando-os a miséria. Respondeu, ainda arrogante, que agira bem e que sua intenção era castigar os príncipes porque se opunham ao evangelho’” (pp.502,503).
Ainda falando dos anabatistas, diz a mesma obra:
“Ao tomarem de assalto a prefeitura e a praça do mercado, os adeptos da nova corrente religiosa conseguiram a liberdade de pregação. Muitos luteranos e católicos ricos. Temendo a situação que se anunciava, fugiram de Munster levando seus bens. Os anabatistas convidaram famílias inteiras das cidades vizinhas para se juntarem a eles na espera do fim glorioso dos tempos. Anunciavam que, exceto Munster, a Terra inteira seria destruída antes da Páscoa. Munster seria a Nova Jeruzalém. Movidos por intenso ardor religioso, expulsaram todos os luteranos e católicos remanescentes, confiscando-lhes os bens”(As Grandes Religiões, Volume III, p.,508).
O teólogo batista Timothy George revela que a atmosfera de ódio religioso estava impregnando todos os grupos religiosos da época, inclusive os anabatistas:
“Kasper Schwenckfield, um dos reformadores espirituais, observou que com base na Bíblia, ‘os papistas amaldiçoam os luteranos, o s luteranos amaldiçoam os zuinglianos, os zuinglianos amaldiçoam os anabatistas e os anabatistas amaldiçoam todos os outros’” (Teologia dos Reformadores, p.166).
“O Desespero da “Piedade” Imposta. Lamentavelmente, a despeito das ameaças e torturas, a Genebra de Calvino não era uma cidade santa, como as histórias otimistas selecionadas parecem indicar. Os relatos que sobreviveram do Conselho de Genebra desvendam uma cidade mais parecida ao resto do mundo do que os admiradores de Calvino gostam de admitir. Esses documentos revelam “um alto percentual de filhos ilegítimos, crianças abandonadas, casamentos forçados e sentenças de morte”.[55] A enteada e o Genro de Calvino estavam entre os muitos condenados por adultério.[56] Calvino fez o seu melhor, mas falhou. Ele não foi capaz de produzir entre os pecadores a sociedade ideal – a Cidade de Deus de Agostinho – que ele vislumbrara quando ele escreveu suas Institutas. Os calvinistas ensinam que o não salvo, totalmente depravado pode responder a Deus somente em descrença, rebelião e oposição. White explica: “O homem não regenerado que é inimigo de Deus, deve, indubitavelmente, responder a Deus: de uma maneira universalmente negativa”.[57] Esse sendo o caso, por sua própria teoria, os esforços de Calvino em Genebra estavam fadados ao fracasso antes de se iniciarem! Falando pela maioria dos calvinistas, R. C. Sproul explica que segundo a “Visão reformada da predestinação, antes da pessoa poder escolher a Cristo, ela deve nascer de novo”[58] Por um ato soberano de Deus. Como Calvino poderia estar certo que Deus fez esse trabalho no coração de todos em Genebra? Se Deus não predestinou cada cidadão de Genebra a salvação, então Calvino estava errado em tentar os forçar aos moldes cristãos. Ainda, a coerção até mesmo pela força era uma parte integral do sistema praticado por Calvino e seus sucessores imediatos. Se os calvinistas de hoje não aprovam tais condutas, não pode o calvinismo que produziu tal tirania também estar errado em outros aspectos? Quantos dos “eleitos” estavam lá em Genebra? Como Jay Adams destaca, ninguém, nem mesmo Calvino saberia. O calvinismo não tem nenhuma explicação de como o eleito poderia ter sido identificado com certeza entre os hipócritas que agiram como se estivessem entre os eleitos pelo comportamento, mas fez apenas por medo das conseqüências temporais. Não importa o quanto Calvino tentou, se Deus (segundo a doutrina de Calvino) não elegeu todos os cidadãos de Genebra a salvação (e Ele aparentemente não elegeu), então o mal ainda persistiria – embora não como ostensivamente em outras cidades desses dias. Considerando os relatos aterradores das falhas de Calvino, uma pergunta aos reconstrucionistas de hoje, que abraçam o mesmo dogma, apesar disso eles crêem que serão capazes de impor vida piedosa sobre nações inteiras. Ou porque os evangélicos continuam a elogiar Calvino, o opressor de Genebra?”
Resposta: E que tipo de piedade tinham os anabatistas do século XVI? Roubando, matando, confiscando bens, tomando prefeitura a força? Vamos só relembrar:
"Entre os anabatistas haviam aqueles que não só ensinavam, mas defendiam e praticavam extermínio contra seus oponentes. Por exemplo, o teólogo batista Timothy George menciona que os anabatistas "saquearam igrejas e mataram inocentes" (Teologia dos Reformadores, p.256). Ainda segundo Timothy George, para estes anabatistas, todos aqueles que recusavam o rebatismo "deviam ser mortos" (Ibidem, p.256). Um eminente líder anabatista, Balthasar Hubmaeir (1480-1528), de acordo com o historiador Justo Anderson, defendia "a necessidade da espada" (Historia de Los Bautistas, Tomo II, p.41). Outro líder anabatista, Melchior Hoffman (1495-1543), de acordo com o historiador arminiano Justo Gonzales, afirmava que "seria necessário pegar os filhos de Deus pegarem em armas contra os filhos das trevas" (A Era dos Reformadores, p.102). E isso, sem contar que, falando sobre os batistas ingleses do século XVII, de acordo com o historiador batista Justo Anderson, "a maioria dos batistas ingleses rejeitaram o pacifismo" (Historia de Los Bautistas, Tomo II, p.95).
“Servetus: O Arqui Herético. Nascido Miguel Serveto em Villanova em 1511, o homem conhecido pelo mundo como Michael Servetus “descobriu a circulação pulmonar do sangue – a passagem do sangue da câmara direita do coração pela artéria pulmonar por meio dos pulmões, sua purificação lá pelo arejamento e seu retorno pela a via pulmonar, a veia da câmara esquerda do coração”. Ele era de alguma maneira “um pouco mais insano do que a média de seu tempo”, anunciando o fim do mundo em que “O Arcanjo Miguel lideraria uma guerra santa contra ambosanticristos, o Papal e o Genebrino”.[59] Inquestionavelmente, ele estava na classificação de um herege, cujos delírios a respeito de Cristo refletiam uma combinação de Islamismo e Judaísmo, que o intrigavam. No entanto, ele estava certo sobre algumas coisas: que Deus não predestina almas ao inferno e que Deus é amor. Suas outras idéias ultrajantes poderiam ter passado despercebidas se ele não as publicasse e não tentasse forçá-las sobre Calvino e seus companheiros, ministros em Genebra, com trilhos agressivos, desdenhosos e blásfemos. Esse Servetus intitulou uma de suas obras publicadas de The Restitutionof Christianity[As Restitutas] que só poderia ser tomada como uma afronta pessoale intencional ao autor das Institutas da Religião Cristã. Servetus escreveu pelo menos trinta cartas indesejáveis a Calvino, que deve ter irritado grandemente o último. Em 13 de Fevereiro de 1546, Calvino escreveu a Farel, “Servetus me enviou um longo volume de seus delírios. Se eu consentir ele virá aqui, mas eu não darei a minha palavra, se ele vier e a minha autoridade tiver peso, eu não o deixarei sair vivo”.[60]Servetus cometeu o erro de passar por Genebra sete anos depois em sua ida a Nápoles e foi reconhecido quando ele foi a igreja (possivelmente por medo de ser preso por não ir) por alguém que o viu apesar de seu disfarce e relatou a Calvino, que por sua vez ordenou sua prisão. A Tortura e a Queima de Servetus No inicio do julgamento, que durou dois meses, Calvino escreveu a Farel, “Espero que a sentença seja a pena de morte”[61]Obviamente, se o Deus que se acredita crer que predestina bilhões ao inferno ardente (todos que Ele poderia salvar), então, queimar na estaca um herético totalmente depravado pareceria completamente ameno e facilmente justificável. No entanto, essa lógica, de certa maneira, parece escapar de muitos cristãos evangélicos de hoje que admiram o homem e chamam a si mesmos de calvinistas. A acusação trazida por Calvino, o advogado, continha trinta e oito acusações amparadas por citações dos escritos de Servetus. Calvino apareceu pessoalmente na corte como o acusador e como “testemunha chefe para a acusação”.[62]Os relatos pessoais de Calvino do julgamento acompanhados da relação de tais epítetos de Servetus a ele como “o cão sujo limpou o focinho…o pérfido patife suja cada página com ímpios delírios”, etc.[63] O Conselho de Genebra consultou as outras igrejas da Suíça Protestante e seis semanas depois a resposta deles foi recebida: Servetus seria condenado, mas não executado. Contudo, sob a liderança de Calvino, ele foi sentenciado à morte sob duas acusações de heresia: Unitarismo (rejeição da Trindade) e rejeição do batismo infantil. Durant nos dá os detalhes horripilantes: Ele pediu para ser decapitado ao invés de queimado; Calvino estava inclinado a apoiar este apelo, mas o ancião Farel…o reprovou por tal tolerância; e o Conselho votou que Servetus seria queimado vivo. A sentença foi realizada na manhã seguinte, em 17 de Outubro de 1553… no caminho [à queima] Farel importunou Servetus a receber o favor divino confessando os seus crimes por heresia; segundo Farel, o homem condenado respondeu, “Eu não sou culpado, eu não mereci a morte”; e ele rogou a Deus o perdão de seus acusadores. Ele estava preso a estaca com correntes de ferro, e seu último livro foi preso ao seu lado. Quando as chamas alcançaram a sua face ele gritou com agonia. Após meia hora queimando ele morreu.[64] Calvino acusou Servetus de “argumento enganoso” contra o batismo infantil. Mas as últimas principais objeções (a despeito de suas outras faltas) foram na verdade muito barulho. A resposta irrisória de Calvino, que ele seria purificado desse anticristão “tom mordaz ridículo e zombador que nunca o deixaria”[65] é condensada como segue: Servetus [argumenta] que nenhum homem se torna nosso irmão a não ser pelo Espírito de adoção…somente conferido pelo ouvir da fé…Que presumirá… que [Deus] não pode enxertar as crianças em Cristo por algum outro método secreto….? Novamente ele objeta que as crianças não podem ser…nascidas pela palavra. Mas o que eu tenho dito de novo e de novo e agora repito…Deus toma seus próprios métodos de regenerar…consagrar crianças a si mesmo e iniciá-las por um símbolo sagrado…a Circuncisão era comum as crianças antes delas receberem o entendimento…Sem dúvida o projeto de Satã em atacar o pedobatismo [batismo infantil] com todas as suas forças é para…apagar essa atestação da graça divina….que desde o nascimento deles tem sido…reconhecido por Ele como seus filhos…[66] Apesar de suas outras falsas visões, Servetus estava correto em suas objeções ao batismo infantil e foi, portanto, nesse respeito, queimado na estaca por uma crença bíblica que se opôs a heresia de Calvino da regeneração batismal de crianças, praticadas em muitas igrejas calvinistas nos dias de hoje.”
Respostas: O historiador Will Durant, afirma que todos os reformadores tinham a mentalidade de que a heresia deveria ser punida com a morte:
"Melanchton em uma carta a Calvino e a Bullinger, deu 'Graças ao Filho de Deus' pela punição daquele homem blasfemo, declarando que aquela morte na fogueira era 'um piedoso e memorável exemplo para toda a posteridade'. Bucer declarou de púlpito, Estrasburgo, que Serveto tinha merecido ser destripado e estraçalhado. Bullinger mais humano, concordou com os magistrados civis deviam punir a blasfêmia com a morte" (A Reforma, p.405).
Interessante que o Dave Hunt só sabe acusar Calvino, mas não faz nada com os demais reformadores (que defendiam a pena de morte para Serveto), o que mostra o quão tendencioso é. Não dá pra acharmos coerência em arminianos, mesmo que os mesmos sejam teólogos.
“O Fracasso das Tentativas de Absolvições. Muitas tentativas foram feitas por seus seguidores modernos de absolver Calvino pela morte cruel e inescrupulosa de Michael Servetus. É dito que Calvino o visitou na prisão e pediu pra ele se retratar. Ao mesmo tempo a disposição para que Servetus fosse decapitado ao invés de queimado na estaca, não foi necessariamente motivada por benevolência, mas uma tentativa de transferir a responsabilidade à autoridade civil. Decapitação era a pena para crimes civis; queimar na estaca era por heresia. As acusações, no entanto, claramente foram teológicas, não civis, e foram trazidas pelo próprio Calvino. A autoridade civil só agia sob o comando da igreja. Segundo as leis de Genebra, Servetus, como um viajante de passagem, deveria ter sido expulso da cidade, não executado. Foi somente sua heresia que o condenou – e somente porque Calvino pressionou as acusações. Calvino fez exatamente o que sua visão de Deus requeria, mantendo o que ele escreveu a Farel sete anos antes. Aqui novamente, sobre os ombros de Calvino, nós vemos a longa sombra de Agostinho. Para justificar as suas ações, Calvino tomou emprestada a mesma interpretação pervertida de Lucas 14.23 que Agostinho usou. Frend disse, “raramente às palavras dos evangelhos são dadas um significado tão inesperado”.[67]Farrar escreve: Para ele [Agostinho] é devido…sobre toda a amargura do espírito, da perseguição e do ódio teológico. Seus escritos se tornaram a Bíblia da Inquisição. Seu nome foi aduzido – e poderia haver um inimigo a mais sobre os seus erros? – para justificar a morte de Servetus.[68] Houve grande aclamação dos Católicos e Protestantes juntos pela queima de Servetus. A Inquisição em Viena queimou a sua Efígie. Melanchton escreveu uma carta a Calvino em que ele chamou a queima de “um piedoso e memorável exemplo para toda a posteridade” e deu “graças ao Filho de Deus” pela justa “punição desse homem blasfemo”. No entanto, outros discordaram e Calvino se tornou alvo de críticas. Muitos que viviam nos tempos de Calvino reconheceram a perversidade de usar a força para promover o “Cristianismo”. A total aprovação foi deficiente, até mesmo aos amigos íntimos de Calvino.[69]Repreendendo Calvino pela queima de Servetus, o Chanceler, Nicholas Zurkinden, um magistrado, disse que a espada era inapropriada para forçar a fé.[70]Apesar de muitas repreensões, Calvino insistiu que a espada civil deve manter a fé pura. Sua conduta estava alinhada a sua rejeição do amor de Deus por todos e sua negação da escolha humana para crer no evangelho..”
Resposta: Nenhum reformado autêntico vai justificar o ato de Calvino, em pedir a morte de Servet. O teólogo presbiteriano Robert Hasting Nichols, diz:
“A parte de Calvino na execução de Servet por motivo de heresia, tem contribuído para que muitas pessoas deixem de fazer justiça à grande obra desse reformador. Por negar a doutrina da Trindade, Servet foi condenado a fogueira... trairíamos a nossa consciência cristã se deixássemos de condenar com todas as forças o ato de Calvino nesse caso. Todavia, devemos nos lembrar de que naquele tempo sua atitude foi geralmente aprovada em Genebra e pelos protestantes de quase toda a parte. A liberdade de consciência foi, em grande parte, resultado do espírito e do movimento reformador. De entre os grandes líderes religiosos protestantes do século de Calvino somente um, Guilherme de Orange, cria plenamente na liberdade de religião” (História da Igreja Cristã.. p.183,184).
E Thea B. Van Halsema, diz:, “Hoje existe uma pedra no lugar onde Servet morreu. Foi colocada ali muitos anos depois pelos seguidores de Calvino. Há uma inscrição francesa na pedra: ‘Como filhos reverentes e agradecidos de Calvino, nosso grande reformador, repudiando seu erro, que foi o erro de sua época, e, de acordo com os verdadeiros princípios da Reforma e do Evangelho, apegando-nos à liberdade de consciência, erigimos este monumento de reconciliação neste 27 de outubro de 1903” (João Calvino Era Assim, p.189). “Auto Justificativas de Calvino. Alguns críticos argumentaram que a queima de Servetus somente encorajaria os Católicos Romanos da França a fazer o mesmo aos Huguenotes (70.000 foram abatidos em uma noite em 1572). Atingido por tal oposição, em Fevereiro de 1554, Calvino publicou um pesado ataque destinado aos seus críticos: Defensio orthodoxa e fidei de sacra Trinitate contra prodigiosos errores Michaelis Serveti. Ele argumentou que todos aqueles que se opõem a verdade de Deus são piores do que os assassinos, porque assassinar mata meramente o corpo, enquanto a heresia condena a alma por toda a eternidade (isso era pior do que a predestinação de Deus a condenação eterna?), e que Deus instruiu explicitamente os Cristãos a matar os heréticos e até mesmo ferir com a espada qualquer cidade que abandonou a verdadeira fé: Quem manter que é errado o que é feito aos heréticos e blasfemadores em puni-los [com a morte] torna-se cúmplice de seus crimes…É Deus quem fala e está claro que lei Ele teria mantido na Igreja até o fim do mundo…de modo que não poupamos nem parentes de sangue de ninguém, e esquecer toda a humanidade quando o assunto é combater para a Sua glória.[71] O Historiador R. Tudor Jones declara que esse tratado que Calvino escreveu em defesa da queima de Servetus, “é Calvino no seu mais frio…assustador em sua maneiracomo no trato de Lutero contra os camponeses rebelados”.[72]Oito anos depois, Calvino ainda estava se defendendo contra as críticas e ainda estava defendendo a queima de Hereges. Em uma carta de 1561 ao Marquês de Poet, alto Mordomo do Reino de Navarro, Calvino aconselha severamente: Não falhe em livrar o país desses canalhas zelosos que agitam o povo a se revoltar contra nós. Tais monstros deveriam ser exterminados, como eu exterminei Michael Servetus o Espanhol.[73] Os calvinistas de hoje ainda persistem em oferecer uma desculpa após outra para inocentar seu herói. Contudo, até mesmo um calvinista fiel como William Cunningham escreve: Não existe nenhuma dúvida que Calvino antes, na época e após o evento, aprovou explicitamente e defendeu colocar ele [Servetus] a morte, e assumiu a responsabilidade pelo negócio.[75]”
Resposta: O erudito presbiteriano Philippe Landes, fazendo alusão a questão da intolerância religiosa, diz:
“Na Alemanha, na Suíça e em outros partes da Europa os anabatistas foram combatidos pelos reformadores e o sangue de alguns deles foi derramado pelo poder civil, especialmente na guerra dos camponeses e por ocasião do célebre desastre de Munster. Havia nesse tempo muita intolerância por parte de todas as correntes religiosas. Quando um partido qualquer galgava o poder, procurava eliminar os adversários. As lutas eram de vida e morte. Os chefes do estado tinham o poder legal de impor a sua religião. E quando os anabatistas subiam ao poder, temporariamente como aconteceu na guerra dos camponeses e no caso de Munster, também eram violentos e sanguinários” (Estudos Bíblicos Sobre o Batismo de Crianças, p.111).
Aqueles que representavam a teologia arminiana na época do Século XVI – eram os anabatistas e os católicos (principalmente os jesuítas), ambos intolerantes. O erudito batista Timothy George, uma parte destes grupos como “os violentos anabatistas” (Teologia dos Reformadores, p.256) e de um “reino violento” (Ibidem, p.259). E quanto a outra parte (os jesuítas), os eruditos arminianos John McClintock e James Strong, afirmam que, soteriologicamente falando, “os jesuítas eram arminianos” (Cuyclopedia of Biblical, Theological, and Ecclesiastical Literature, Volume I, p.413). Quem não se lembra de que o jesuíta José de Anchieta assassinou os autores da Confissão de Fé da Guanabara, em 1558, em pleno solo brasileiro?
“A Vida Cristã Deve se Conformar com a Cultura? Os apoiadores de Calvino de hoje se queixam “Nenhum líder Cristão jamais tem sido, com tanta freqüência, condenado por tantos. E o fundamento usual para a condenação é a execução de Servetus e a doutrina da predestinação”.[76]De fato, Servetus foi apenas uma de muitas vitimas do calvinismo levado às suas conclusões lógicas. Os defensores geralmente pleiteiam que o que Calvino fez era uma prática comum e que ele deveria ser julgado conforme o padrão de ser tempo. Ser “Novas criaturas em Cristo” para não ir além do que as convenções de suas culturas e de seus momentos na história? Certamente não! A soberania de Deus em controlar e causar todas as coisas que ocorrem é o coração do calvinismo. O calvinista fiel C. Gregg Singer declara que “a grandiosidade secreta da teologia de Calvino está nas garras do ensino bíblico da soberania de Deus”.[77]Calvino verdadeiramente poderia ter acreditado que ele era o instrumento escolhido de Deus desde a eternidade passada para coagir, torturar e matar a fim de forçar os cidadãos de Genebra ao comportamento que Deus predestinou e causaria? Calvino tem sido aclamado como um exemplo piedoso que baseou seu exemplo e teologia unicamente na Escritura. Mas, muito do que ele fez não era bíblico e era extremo, embora consistente com sua teologia. Esse fato não é uma razão suficiente para examinar o calvinismo cuidadosamente a partir das Escrituras? Que o Papa e Lutero se juntaram em uma aliança profana com o governo civil para aprisionar, açoitar, torturar e matar dissidentes em nome de Cristo não justifica Calvino. Não é possível que algo da teologia de Calvino eraantibíblico como os princípios que guiaram sua conduta? William Jones declara: E com respeito a Calvino, é manifesto que …a mais odiosa característica em todo o multiforme caráter do papado aderiu nele por toda a vida – eu quero dizer o espírito de perseguição.[78] Não é somente Cristo o padrão de seus seguidores? E Ele não é sempre o mesmo, imutável pelo tempo ou cultura? Como os papas podem ser condenados (e certamente são) pelo mal que eles fizeram sob a bandeira da cruz, enquanto Calvino é dispensado por fazer o mesmo, embora em uma escala menor? As seguintes são somente duas passagens, entre muitas que condenam Calvino: • Mas a sabedoria que do alto vem é, primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia. (Tiago 3:17) • Aquele que diz que está nele, também deve andar como ele [Cristo] andou. (1 João 2:6) Eu me pergunto como tantos líderes Cristãos de hoje podem continuar a elogiar um homem cujo comportamento foi muitas vezes tão distante dos exemplos bíblicos refletidos acima.”
Respostas: (a) O motivo para a execução de Servet não foi a predestinação, mas a negação da doutrina da Trindade. (b) Com relação a questão cultural, até os arminianos se utilizam dela para negarem doutrinas bíblicas. Por exemplo, muitos deles afirmam que a proibição de Paulo com relação as mulheres exercerem função eclesiástica (1 Co 14:34,35; 1 Tm 2:11,12) era baseada em questões culturais de sua época ou em sua própria opinião. (c) Quando os anabatistas e os arminianos jesuítas perseguiram, confiscaram, amaldiçoaram, roubavam e assassinavam seus oponentes, suas práticas estavam ligadas diretamente à sua questão soteriológica e eclesiológica? Eu só queria que o Dave Hunt e os seus simpatizantes respondessem esta pergunta! (d) A despeito do desprezo de Dave Hunt e de seus simpatizantes a Calvino, o fato é que nem mesmo isso vai poder ofuscar o brilho da obra e da vida de Calvino na Europa e no mundo todo, conforme testemunho de outros arminianos. Por exemplo, o Pr. Claudionor Correa de Andrade (ministro das Assembleias de Deus):
"Conhecido como o grande sistematizador dos postulados cristãos, Calvino ostentava como texto-áureo de seu labor teológico esta oração latina 'Sola Scriptura'. Tendo em vista este princípio (Somente a Escritura), Calvino pode ser considerado um teólogo essencialmente bíblico" (Dicionário Teológico, edição de 1996, p.65).
Rev. David S Schaff (metodista arminiano):
"Os comentários de Calvino são um monumento de exposição crítica dos livros bíblicos" (Nossa Crença e de Nossos Pais, p.56).
Nelws Lawrence Olson (arminiano), diz de Calvino:
“Este grande reformador viveu entre os anos 1509 e 1564 e foi grandemente usado por Deus para trazer novamente a luz do evangelho ao mundo, após tantos séculos de obscurantismo. Suas opiniões teológicas são estudadas até hoje por todos que exercem liderança espiritual” (O Batismo Bíblico e a Trindade, [CPAD], p.71)
E até o próprio James Arminio (1560-1609), pai dos arminianos, dizia de Calvino:
"Depois da leitura das Escrituras..., e mais do que qualquer outra coisa,... eu recomendo a leitura dos Comentários de Calvino ... Pois afirmo que na interpretação das Escrituras Calvino é incomparável, e que seus comentários são mais valiosos do que qualquer coisa que nos tenha sido legada nos escritos dos pais — tanto assim que atribuo a ele um certo espírito de profecia no qual se encontra em uma posição distinta acima dos outros, acima da maioria, na verdade, acima de todos" (Carta escrita a Sebastian Egbertsz, publicada em P. van Limborch e C. Hartsoeker, Praestantium ac Eruditorum Virorum Epistolae Ecclesiasticae et Theologicae [Amsterdam, 1704], nº 101).
Fonte: Grupo Projetos Novos Reformadores, no facebook. Ainda sobre a questão entre Calvino e Serveto, sugerimos a leitura de um esclarecedor artigo, escrito pelo Rev. Augustus Nicodemus Lopes. Veja aqui. |
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Isvonaldo sou Protestante
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
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