Milhares de pessoas por toda a parte estão sendo despertadas para esse fato solene e bendito, e ainda que os "escarnecedores" dos últimos tempos estejam perguntando: "Onde está a promessa da Sua vinda?" (2 Pe 3:4) e o mau servo diga no seu coração: "O meu Senhor tarde virá" (Mt 24:48), mesmo assim "O que há de vir virá, e não tardará" (Hb 10:37), " O Filho do homem há de vir à hora em que não penseis" (Mt 24:44). No espírito do povo de Deus, por todo o mundo, há uma convicção crescente e certíssima - convicção baseada nas verdades da Palavra divina - de que a história da Igreja na terra está prestes a findar; e que o Senhor Jesus está para vir para levar a Sua noiva para a casa do Pai. Leitor, estás já compenetrado da realidade deste solene assunto, e do que ele significa? Se não estás ainda, que o Espírito Santo se sirva destas linhas para despertar a tua preciosa alma: "Para que o Senhor não venha de improviso e não te ache dormindo" (Mc 13:36). Há quatro coisas em relação a esse assunto que desejamos apresentar em poucas palavras: 1 - A promessa da Sua vinda; 2 - A Pessoa que está para vir; 3 - O propósito da Sua vinda; 4 - A preparação para a Sua vinda. A Promessa da Sua vinda Houve um tempo em que a Sua vinda como humilde sofredor era ainda uma profecia por cumprir. Muitas gerações tinham vindo e desaparecido; impérios se tinham levantado e caído; Israel e Judá tinham sido "espalhados", levados para o cativeiro; e um resto do povo tinha sido novamente restaurado à sua terra; mas o prometido Messias não tinha aparecido. A maior parte dos que tinham voltado do cativeiro de Babilônia achavam-se, sem dúvida, estabelecidos com todo o conforto, e quase esquecidos d'Aquele cuja vinda lhes tinha sido prometida, quando, eis que, uma manhã, houve em Jerusalém um grande movimento. Chegaram visitantes de fora com a extraordinária notícia de que tinha nascido o Rei há muito prometido. Desde o palácio de Herodes até aos sacerdotes do templo, a notícia espalhou-se rapidamente. Mas qual foi o resultado desta notícia? Foi porventura que os filhos de Sião gritaram unânimes louvores a Deus por ter, finalmente, cumprido a Sua palavra e mandado o Messias? Porventura a alegria brilhou em todos os rostos, foram consolados os corações? Infelizmente não. Pelo contrário. A tristeza invadiu a cidade. "O rei Herodes... pertubou-se, e toda a Jerusalém com ele" (Mt 2:3). Mas por que razão? Foi porque, se pelas Escrituras eles conheciam um pouco o assunto, deviam saber que Isaías tinha predito que "Reinará um Rei em justiça" (Is 32.1). Ora, apesar de em Jerusalém haver nesse tempo muitos que se glorificavam da sua própria justiça e religião, havia sem dúvida na consciência da maior parte um íntimo sentimento de que não estavam preparados para a presença daquele Justo, e portanto a notícia que devia encher de gratidão e júbilo todos os peitos em Jerusalém, apenas produziu o efeito contrário. Mas quer estivessem preparados para O receber, quer não, Ele tinha vindo; tinha vindo para revelar o Pai, tinha vindo não só como o Messias de Israel, mas também como o "Salvador do Mundo". A solene conseqüência é bem sabida por todos. O "Amado de Deus" foi odiado e rejeitado, e o Seu caminho neste mundo findou no Calvário crucificado e morto pelas mãos dos injustos (At 2:23). Deus tinha assim cumprido completamente a promessa feita aos pais de mandar Jesus; eles cumpriram os escritos proféticos condenando-O (At 13:27,32-33). Antes da Sua morte, contudo, Aquele que tinha sido prometido tornou-se em um que prometia. Tinha reunido à roda de Si os seus amados discípulos. O traidor Judas tinha acabado de se retirar daquele pequeno grupo. A negra sombra da cruz estava a poucos passos à frente, e Ele lhes falou, insinuando a esse respeito. Que momento solene foi aquele! Pensemos naqueles rostos tristes e transtornados ao escutarem ansiosamente aquela comunicação de despedida! "Não se turbe o vosso coração", diz Ele, "credes em Deus, crede também em Mim" (Jo 14:1). Como se tivesse dito: Vós confiastes em Deus sem O ver, e agora que Eu me vou apartar de vós, ponde a mesma confiança em Mim. Deus vos fez uma promessa por meio dos profetas, e cumpriu fielmente esta promessa pela minha vinda. Eu, também, vou fazer-vos uma promessa, e vós deveis igualmente confiar que Eu hei de cumpri-la. Mas qual era esta nova promessa? Vamos ler João 14:2 e 3 e veremos: "Na casa de meu Pai há muitas moradas: vou preparar-vos lugar. E se Eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para Mim mesmo, para que onde Eu estiver estejais vós também." Não se podia cair em maior erro do que pensar que esta segunda "vinda" se refere à morte do crente. Vejamos a diferença que há entre uma coisa e outra. Suponhamos que um pai muito afetuoso leva pela primeira vez o seu filho para uma escola distante, como interno. Ao apartarse dele bem vê a luta que se está travando no coração da pobre criança, que tenta por todos os modos reprimir as lágrimas. Assim, para o animar, o pai diz: - Então, meu filho, não estejas triste. Eu agora tenho que te deixar aqui e voltar para casa, mas, quando começarem as férias, eu mesmo hei de vir para buscar-te e levar-te comigo para casa. Ora, ninguém vai se enganar quanto ao sentido que o pai queria fazer perceber ao seu atribulado filho por estas palavras. E assim também a linguagem do bendito Jesus para os Seus tristes discípulos, na crítica ocasião já aludida, não foi menos clara e livre de enganos. Não disse: "Eu vou para o céu, mas vós haveis de morrer e ir ali ter comigo", mas sim: "Se Eu for, e vos preparar um lugar, virei outra vez e vos levarei para Mim mesmo" . Se os crentes morrem, as Escrituras falam deles como tendo "deixado o corpo e habitado com o Senhor" (2 Co 5:8). Enquanto que, quando a vinda do Senhor tiver lugar, em vez de estarem ausentes do corpo, ou, como exprime o versículo 4, estarem "despidos", os seus corpos serão conformados ao Seu corpo glorioso (Fp 3:21; 1 Co 15:52). "Num momento, num abrir e fechar de olhos", os "mortos em Cristo" ressuscitarão e os vivos serão "transformados". De modo que, em lugar da vinda do Senhor se referir à morte dos crentes, pelo contrário, desfará tudo que a morte tem feito nos corpos do povo de Deus durante perto de seis mil anos. Que dia de vitória tanto para Ele como para aqueles que O conhecem! Mas consideremos agora a segunda parte do nosso assunto, isto é: A Pessoa que está para Vir Muitos dos que conhecem alguma coisa da doutrina da vinda do Senhor, parecem preocupar-se mais com os "acontecimentos" que julgam terem sido ou estarem sendo cumpridos, do que com a própria bendita Pessoa que háde vir. Uma viúva, por exemplo, está no cais duma cidade marítima, olhando fixamente para o lado do mar. Ouviu dizer que estão para chegar em breve navios de transporte que trazem as tropas de volta duma guerra no estrangeiro, e ela espera ardentemente que num deles venha o seu muito amado filho. Estão a fazer-se grandes preparativos para uma grandiosa recepção após o desembarque dos bravos soldados. Mas tudo isso tem poucos atrativos para ela. As bandas militares, as bandeiras tremulando e os arcos triunfais podem agradar a um simples observador; mas é pelo seu querido filho que ela espera. De dia e de noite desde que ele partiu, ela tem desejado e orado pelo seu regresso, e, na verdade, o que é que lhe daria alegria igual a vê-lo de volta são e salvo? Não é que ela não goste de vê-l0 honrado nos festejos; na verdade, ela o considera digno de todas as honras que lhe possam dar; no entanto, isso ocorrerá depois de seu desembarque. Agora, a maior preocupação do seu coração é esta: "ele está para vir". Ora, leitor amigo, podem estar a dar-se certos acontecimentos, hoje, que pareçam indicar que não pode estar longe o tempo em que o "Sol da justiça" há de levantar-se, trazendo nas Suas asas a cura para o restante do povo de Israel que teme o Seu nome, e o julgamento para os maus. Mas a esperança imediata do cristão é a volta do próprio Cristo, como sendo a "Resplandecente Estrela da Manhã", como Ele próprio diz em Apocalipse 22: 16. Usando do Seu próprio precioso nome pessoal, Ele diz: "Eu, Jesus, enviei o Meu anjo para vos testificar estas coisas nas igrejas; Eu sou a raiz e a geração de Davi, a resplandecente estrela da manhã". Ora, a estrela da manhã aparece no firmamento antes do sol. É entre o tempo em que Ele vem como "Estrela da manhã", e o tempo em que Ele apareceu novamente como "Sol de justiça" que o terrível julgamento de que se fala no Apocalipse há de se desencadear sobre a terra. Então entrará em cena aquela terrível consumação de maldade e insubordinação, aquele "homem do pecado", o anticristo. (2 Ts 2); então também há de vir o "tempo de angústia para Jacó" (Jr 30:7), e "grande aflição" (Mt 24:21-22), mas haverá uma porção do remanescente fiel daqueles dias que será poupado no meio de tudo isto, tal como os três filhos hebraicos no forno ardente (Dn 3). A cristandade professa, aqueles que somente levam o nome de cristãos mas que não receberam "o amor da verdade para se salvarem", será deixada na terra após o arrebatamento, e o próprio Deus os abandonará a uma "operação do erro, para que creiam a mentira; para que sejam condenados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniqüidade" (2 Ts 2). Haverá, então, inúmeros sinais - sinais do mais medonho caráter, muitas tristezas esmagadoras, espetáculos e sons que hão de fazer tremer os corações mais fortes - de modo que os homens "desejarão morrer e a morte fugirá deles" (Ap 9:6). Mas lembremo-nos de que tudo isso se deve esperar depois da "Estrela da Manhã" ter raiado, e não antes; isso é, depois que a Igreja, a noiva celestial de Cristo, tenha sido arrebatada da terra para ir ao Seu encontro nos ares. Oh, não esqueçamos nunca que é Ele próprio que está para vir brevemente para recolher os Seus remidos! A preocupação com "acontecimentos", em lugar do coração estar ocupado com a Sua pessoa, rouba ao coração muito daquele bem estar e conforto que deve resultar desta esperança celestial. Infelizmente, o inimigo tem conseguido fazer com que no espírito de muitos esta linda promessa da vinda do Senhor se pareça com uma ameaça judicial; enquanto, como vemos em João 14, foi o melhor tônico escolhido pelo Grande Médico para reanimar os corações desfalecidos e receosos dos Seus amados discípulos. E quando o inspirado apóstolo, anos mais tarde, escreve a sua primeira carta aos enlutados e perseguidos jovens convertidos de Tessalônica, ele conclui as suas observações sobre a vinda do Senhor com esta pequena, mas significativa frase: "Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras". Leiamos agora 1 Tessalonicenses 4: 16 e examinemos cuidadosamente estas palavras de conforto: "O mesmo Senhor descerá do céu, com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles, nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor". Notemos que aqui se trata de um verdadeiro Homem, vivo, o "mesmo Senhor", que ia descer do céu. Era o próprio Senhor que iriam encontrar nos ares. Quando se converteram, os tessalonicenses aprenderam que o "mesmo Jesus", que pela Sua morte e ressurreição os tinha livrado da "ira futura", estava para vir outra vez; e eles "dos ídolos se converteram a Deus, para servir o Deus vivo e verdadeiro, e para esperar dos Céus a Seu Filho" (1 Ts 1:9-10). Paulo também diz, quando escreve dos Filipenses, que: "A nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo" (3:20); isto é, eles estavam à espera de uma Pessoa, e essa Pessoa era o conhecido e amado Filho de Deus, em Quem tinham aprendido a confiar. Mas, onde esse bendito Salvador não é conhecido, onde não se confia na Sua obra consumada, nem a Sua autoridade é reconhecida e obedecida, não é para admirar que as novas da Sua próxima vinda encham as consciências de terror e receio, como na antiga Jerusalém. Mas, querido leitor cristão, isso não se deve dar contigo. Devemos, sem dúvida, velar para que o nosso procedimento seja digno d'Aquele que está para vir; e se tomarmos a sério em nossos corações a promessa da Sua breve volta, decerto cuidaremos nisso. "Qualquer que n'Ele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também Ele é puro" (1 Jo 3:3). Nunca devíamos esquecer, além disso, que todos havemos de ser manifestados perante o Seu tribunal, onde toda a nossa obra será passada em revista, e onde "cada um receberá o seu galardão, segundo o seu trabalho" (1 Co 3:8). Isso, contudo, como o "dia da grande revista" do exemplo que apontamos, será um acontecimento posterior. E, além disso, assim como, numa revista militar, todos os soldados aparecem com o seu uniforme de gala, assim nós havemos de aparecer perante o Seu tribunal com vestidos gloriosos como os d'Ele - pois seremos ressuscitados em glória (1 Co 15:43). Mas primeiro Ele virá nos buscar, como um noivo afetuoso vem buscar a sua noiva para a levar para casa; e, repetimo-lo mais uma vez: o verdadeiro crente nada tem a temer com relação a esse tribunal, embora haja muito para humilhar e exercitar os espíritos até dos mais dedicados entre nós. Há alguns anos, encontrei na cidade de Manchester um rapazito de uns seis anos de idade que ia caminhando vagarosamente pela rua. Quando me aproximei, notei que estava cantando uma canção, evidentemente, de sua composição. Bem pequena, composta de apenas três palavras: "Às dez horas! Às dez horas! Às dez horas!" O pequeno parecia tão absorvido com isto, e o repetia tantas vezes, que tive a curiosidade de perguntar o que queria dizer. Depois de lhe dirigir algumas palavras carinhosas, a criança começou a falar comigo. Parece que a mãe tinha estado ausente de casa durante algum tempo, mas que o pai tinha recebido uma carta em que dizia que haveria de voltar para casa nesse dia "às dez horas". A pequena canção matutina não carecia de mais explicações. A notícia do regresso da mãe tinha-o enchido até transbordar. Sem dúvida ele tinha sentido muito a falta dela, a sua ausência, e desejava ardentemente que ela voltasse. Mas agora ela estava para vir - "às dez horas". Admira nos que esta notícia o enchesse de alegria? Ora, porque então não se passa o mesmo conosco, cristãos, quando as novas da vinda de nosso Senhor chegam aos nossos ouvidos? Não temos nós provado a doçura do Seu amor? Não sofreu Ele e morreu por nós? Não nos tem Ele sempre guardado desde que O conhecemos, aliviando-nos de muitos pesos, socorrendo-nos e compadecendo-Se de nós em muitas tristezas, restaurando-nos depois de muitas quedas? As palavras não podem exprimir quão queridos nós Lhe somos. Ah, caro irmão ou irmã, é quando pensamos n'Ele que os nossos corações ardem com desejos de O ver! Não faz muito tempo que uma senhora cristã me disse: "às vezes, quando penso na vinda do Senhor, o meu coração pula de alegria dentro de mim." Outra mocinha, que já conheço há anos - ela tinha onze anos na ocasião - disse o seguinte, após ter saído na noite escura para passar um recado: "Mamãe, quando eu vinha subindo, as nuvens estavam se movendo tão depressa no céu... então eu fiquei quieta e olhei para cima, porque pensei que o Senhor Jesus estava voltando... e então eu seria a primeira a vê-Lo" Ora, qual era o segredo desta paz e alegria no peito daquela criança, que estava completamente só naquele caminho de campo, ao crepúsculo, e desejando ardentemente ver o bendito rosto do Senhor? Era justamente por isto: Ela conhecia e confiava na Pessoa que estava para vir: "Ao qual, não havendo visto, amais" (1 Pe 1:8). Ela sabia que, por Ele ter morrido por ela, todos os seus pecados estavam não só gratuitamente perdoados, mas eternamente esquecidos. Mas talvez alguém possa dizer: "Eu não estaria tão sossegado se pensasse que Ele pode vir imediatamente, embora o meu coração confie no Seu precioso sangue". Ah, então é porque se esquece quem é que está para vir! É o "mesmo Jesus", o qual uma vez "cansado do caminho", pediu de beber à mulher samaritana (Jo 4); o mesmo que parou o cortejo fúnebre à saída da cidade de Naim e restituiu o único filho à pobre viúva (Lc 7); que permitiu à pecadora em casa de Simão que manifestasse o seu amor por meio de lágrimas e beijos aos Seus benditos pés (Lc 7); ainda mais: é o mesmo Jesus que dirigiu as maravilhosas palavras de misericórdia e graça ao ladrão moribundo no Calvário (Lc 23). É Ele, é Ele próprio que está para vir! Leitor, você quer uma prova disso? Leia no livro de Atos, capítulo 1, o que aqueles dois anjos disseram aos discípulos no Monte das Oliveiras. O seu Senhor tinha acabado de deixá-los, foi para o céu, mas não sem primeiro ter um cuidado especial de lhes demonstrar que não era um Espírito, mas um Homem vivo com carne e ossos, e que, se duvidassem, podiam eles próprios verificar, apalpando-O (Lc 24:39). "Varões galileus, porque estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir" (At 1: 11). Perto de dois mil anos na glória não O mudaram, em nada! É a mesma Pessoa que Marta foi esperar depois da morte de seu irmão, e é por Ele que nós esperamos. Se, porventura, "adormecermos", isto é, morrermos antes que Ele volte, então Jesus, "a ressurreição e a vida", Aquele que disse: "Lázaro, o nosso amigo dorme, mas vou despertá-lo do sono", sim, quando Ele voltar, há de nos despertar também para que, assim como Lázaro, nós possamos sentar-nos com todos os Seus santos nos moradas celestes (Jo 11,12 e 14). Por que, então, temeríamos, se um Amigo tão bendito está para vir do céu para nos encontrar? "Certamente cedo venho" é a promessa animadora; nossos corações não deveriam corresponder a um tal amigo, e dizer "Amém; ora vem, Senhor Jesus"? (Ap 22:20). O Propósito da Sua Vinda Notemos agora este ponto, com a máxima atenção. É importante ver que, depois da nação judaica ter rejeitado o seu Messias, Deus revelou ao apóstolo o que as Escrituras chamam "o mistério". Este mistério, segundo lemos, esteve oculto desde os tempos eternos (Rm 16:25), esteve oculto em Deus (Ef 3:9). Isto é, havia, acima e além de tudo que é revelado no Velho Testamento, um propósito secreto no coração de Deus de ter uma noiva para o Filho amado, e esta noiva seria formada pela união dos judeus e gentios salvos em um corpo (a Igreja), e unidos pelo Espírito Santo à cabeça no céu (Veja-se Cl1:18; Ef 1:22-23; 3:6 e 5:30,32). O Espírito Santo começou esta obra no dia de Pentecostes, batizando para este corpo uno os próprios discípulos aos quais tinha sido feita aquela promessa a que já nos referimos. Mas para a boa compreensão do assunto é igualmente importante ver que a rejeição de Cristo pelos judeus deixou ainda por cumprir muitas das mais importantes promessas do Velho Testamento quanto à bênção terrestre da nação de Israel. Por exemplo, leiamos o que diz do reinado do verdadeiro Filho de Jessé em Isaías 11, quando ele tiver ajuntado os desterrados de Israel e congregados os dispersos de Judá desde os quatro confins da terra (v. 12). "Morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará, e o bezerro, e o filho de leão e o animal cevado andarão juntos, e um menino pequeno os guiará. A vaca e a ursa pastarão juntas, seus filhos juntos se deitarão e o leão comerá palha como o boi. E brincará a criança de peito sobre a toca de áspide, e o já desmamado meterá a sua mão na cova do basilisco. Não se fará mal nem dano algum em nenhuma parte em todo o monte da Minha santidade, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar". (v. 6-9). Leiamos também Isaías 65:25, 31:5; Amós 9: 12-15; Miquéias 4:3; Habacuque 2: 14, onde se diz que "o deserto se alegrará, e florescerá como a rosa" etc., e que se "converterão as suas espadas em enxadas. e as suas lanças em foices... nem aprenderão mais a guerra". E também quanto à restauração da nação à sua própria terra, leiam-se os textos, tais como Isaías 35: 10; Jeremias 23:5 e Ezequiel 34:24; 31: 10. Por uma cuidadosa leitura desses textos e de outros, veremos que estas bênçãos prometidas não são o resultado da conversão do mundo, por meio da pregação do Evangelho; mas, pelo contrário, que elas serão precedidas e introduzidas pelos mais terríveis julgamentos sobre os maus. Queremos agora acentuar aqui que há dois grandes assuntos que formam o tema de testemunho profético no Velho Testamento, e estes são os sofrimentos de Cristo e o reinado de Cristo; ou, conforme diz Pedro: "Os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir" ( 1 Pe 1:11). Ora, os judeus dos tempos antigos esbarraram num dos lados deste testemunho, enquanto que aceitaram plenamente o outro. Não tinham dificuldade alguma em crer no que os profetas tinham dito a respeito de um Messias que havia de reinar, mas tinham problemas em considerar que ele haveria de sofrer. Por outro lado, enquanto que todo o verdadeiro cristão aceita inteiramente o testemunho profético de que o Messias havia de sofrer, quantos não rejeitam ou procuram dar um sentido puramente espiritual à verdade do Seu próximo reinado! Mas, lembremo-nos de que nem um jota, nem um só til destas Escrituras, deixará de ser cumprido. Quando o Senhor voltou ao céu, ele legou duas categorias de promessas a serem cumpridas - as que dizem respeito à Igreja, e as que se referem a Israel, cada uma delas particularmente distinta da outra. Quando estas se cumprirem, Ele irá Se apresentar como fez outrora Isaque, na ocasião em que, segundo Gênesis 24, saiu ao encontro de Rebeca, não como um reto juiz, ou um rei guerreiro, mas com a tema dedicação de um noivo afetuoso. Enquanto que, ao cumprir estas, há de Se apresentar como Davi, o poderoso conquistador; virá para assumir uma posição de grande poder e reinar. Por outras palavras, Ele é o Noivo da Igreja; Ele é o Rei de Israel. Há, portanto, duas fases distintas da segunda vinda do Senhor, mencionadas na palavra de Deus - duas etapas, por assim dizer, na mesma jornada. Primeiro Ele descerá aos ares para arrebatar os Seus santos para o céu; depois, em seguida a um curto período, há de voltar para reinar, e então os Seus santos celestes desfrutarão com Ele as glórias do Seu reinado. Exemplifiquemos esta parte do nosso assunto. Suponhamos que, ao caminharmos pela estrada numa manhã, notamos uma pequena poça de água. Afastando-nos dela, seguimos o nosso caminho e nem mais pensamos nisso. Alguns dias depois acontece passarmos lá outra vez; mas os vestígios de água que ali vimos na primeira vez desapareceram. O que aconteceu com todas aquelas gotas de água? Foi o sol brilhante que, pelo seu poder, as evaporou e atraiu para si. Ninguém as viu partir, mas elas certamente partiram. Algumas semanas mais tarde pode-se ver as mesmas gotas de água. Mas quão mudadas desde a última vez que as vimos e nos afastamos delas, na poça lamacenta! Agora são lindas, brancos flocos de neve, e são a admiração de todos! Assim também acontecerá em breve, caro leitor. O próprio Senhor descerá do céu, e no "abrir e fechar de um olho" ressuscitará do pó os corpos de todos os Seus santos adormecidos, e transformará os corpos dos vivos, arrebatando-os todos juntos para irem ao Seu encontro nos ares. As Escrituras não nos dão nenhum motivo para supor que os incrédulos verão este acontecimento. Provavelmente a solene descoberta da falta de cada um deles em seu lugar costumeiro será o primeiro anúncio público do que se passou. Enoque "não foi achado, porque Deus o transladara" (Hb 11 :5). Ora, tendo sido, com mais ou menos segredo, arrebatado para a glória, a igreja aparecerá em seguida na mais completa publicidade com Ele, quando, como está escrito, "todo o olho O verá" (Ap 1:7). Mas o próprio bendito Senhor apresenta em um capítulo, em Mateus 25, a mais clara descrição destas duas fases da Sua vinda. A primeira etapa da vinda é apresentada na parábola das "dez virgens", a outra na parábola dos "bodes e ovelhas". Na primeira vêem-se as virgens prudentes entrando com o esposo para as bodas; na outra vê-se o rei saindo para julgar. Notemos bem este notável contraste. Na primeira parábola os salvos são levados para o céu, e os incrédulos são deixados na terra para o julgamento que há de vir. Na outra, são os maus que são levados para julgamento, enquanto que os justos são deixados na terra para partilharem as bênçãos do reino do Messias. Num dos casos os santos entram, e as portas se fecham; no outro, o céu se abre, e os santos saem, juntamente com o Filho do Homem. Ora, no Apocalipse, capítulos 4, 5 e 19, lemos o que realmente tem lugar no céu depois de a Igreja ter sido arrebatada e ter entrado ali. No capítulo 4, versículo 4, os santos como anciãos estão sentados sobre os tronos, vestidos de branco, com coroas de ouro sobre as suas cabeças; e nos versículos 10 e 11 são vistos adorando, prostrados diante d'Aquele que estava sentado sobre o trono, lançando as suas coroas aos Seus pés e dizendo: "Digno és, Senhor" (Veja também o capo 5:9). Então, no capítulo 19: 7, após um poderoso coro de "Aleluias", lemos "Regozijemo-nos e alegremo-nos e demos-Lhe glória, porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a sua esposa se aprontou". Em seguida vem "a ceia das bodas" (versículo 9). Vimos, pois, que Mateus 25 nos apresenta o grito aflitivo das "loucas" do lado de fora, e no Apocalipse vemos a alegria festiva dos salvos do lado de dentro. Querido leitor, com qual destas companhias acharás o teu lugar? Seguindo adiante, em Apocalipse 19: 11-16 vemos o Rei dos reis, o Senhor dos senhores, acompanhado pelos Seus exércitos saindo dos céus para julgar e pelejar. Mas vejamos novamente o que se lê em Mateus 25. Há uma idéia comum - mas totalmente errônea - a respeito da última parte deste capítulo. Considera-se que esta parte é uma figura do julgamento geral, como é chamado. E desta aceitação resultam perguntas como "Não estaremos todos perante Ele para sermos julgados, não receberemos o nosso lugar entre as ovelhas à Sua mão direita, ou entre os bodes à Sua esquerda? A isso pronto podemos responder: Não. O que temos aqui é o julgamento daquelas nações presentes na terra na ocasião em que o verdadeiro Rei vier para reinar. Ora, de Israel está escrito que "Entre as gentes não será contado" (Nm 23:9), quanto menos o devem ser os santos que compõem a Igreja (Veja-se Cl3:11; At 15:14)! Alguém poderia perguntar: - Se nem Israel nem a Igreja fazem parte das nações aqui julgadas, qual é a parte que lhes toca nesta cena solene? Eis aqui a resposta: 1 - A parte dos santos desta dispensacão da graça: "Quando Cristo, que é a nossa vida, Se manifestar, então também vós vos manifestareis, com Ele em glória" (Cl3:4). "Eis que é vindo o Senhor, com milhares de Seus santos, para fazer juízo" (Jd 14,15). "Virá o Senhor meu Deus, e todos os santos contigo e o Senhor será o rei sobre toda a terra" (Zc 14:5,9; veja-se também Ap 3:21). Haveria alguma indicação mais clara quanto ao lugar onde os co-herdeiros hão de estar quando Aquele, que tem sido constituído o Herdeiro de todas as coisas, tomar a herança? 2 - A parte de Israel: Lembremo-nos em primeiro lugar de que esta nação é da "semente de Abraão", segundo a carne. Notemos também que, conforme Mateus 1:1, Jesus Cristo é o filho de Davi, o filho de Abraão. Assim, pois, enquanto que como Filho de Davi Ele é o Rei deles, como Filho de Abraão Ele pode falar deles como Seus irmãos; e, em cumprimento da profecia do filho de Abraão (lsaque), Ele abençoa todos os que favoreceram os filhos de Jacó e amaldiçoa todos os que o não fizeram. "Malditos sejam os que te amaldiçoarem, e benditos sejam os que te abençoarem" (Compare-se Gênesis 27:29 com Mateus 25:34,41). Vemos, pois, que além dos santos celestiais que, segundo outras Escrituras, hão de aparecer com Ele em glória, o Senhor menciona aqui, ao fim de Mateus 25, três companhias distintas, a saber: ovelhas, bodes e irmãos. Já temos visto que os irmãos de que se fala aqui são os da Sua própria nação, segundo a carne. Agora surge a pergunta: Quem são então as ovelhas e os bodes? Ora, bem, outros textos nos mostram que depois da Igreja ter sido arrebatada para a glória, há de haver um especial testemunho, apresentado por missionários judaicos, "em testemunho a todas as gentes", ao qual o próprio Senhor chama, em Mateus 24: 14, de o "evangelho do reino" e cuja nota dominante será, sem dúvida, a vinda iminente do verdadeiro Rei. Algumas destas nações receberão o testemunho e portanto farão tudo que puderem para beneficiar aqueles que o apresentem, enquanto que outros, pelo contrário, não só rejeitarão a mensagem, mas também negarão toda a simpatia e socorro aos mensageiros desprezados e mal tratados. Notemos aqui com cuidado que é somente neste terreno, isto é, quanto ao modo pelo que elas têm tratado os Seus irmãos, que as nações serão separadas pelo Rei quando Ele aparecer em glória, e por fim abençoadas por Ele. As "ovelhas" representam uma classe; os "bodes", a outra. A primeira será recompensada sendo-lhe permitido participar das bênçãos do reinado milenar do Messias sobre a terra, enquanto que a outra será destruída pelo julgamento. Não há nada nesta parábola sobre a ressurreição dos mortos ou o fim do mundo, nem mesmo no Apocalipse 19, que fala da mesma cena. A ressurreição dos salvos já terá ocorrido antes, como vimos em 1 Tessalonicenses 14: 16 e 1 Coríntios 15:51; enquanto que a ressurreição dos ímpios que jazem na morte só terá lugar depois dos mil anos do reinado do Messias. No Apocalipse 20:4-6, depois de falar de várias classes de salvos que hão de 'viver e reinar com Cristo durante mil anos', lemos: "Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabaram. Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição: sobre este não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com Ele mil anos" . Não é porventura, claro, que haverá duas ressurreições? A primeira inclui todos os que reinarão com Ele durante mil anos, e que, portanto, deve necessariamente ter lugar antes dos mil anos. Os demais mortos não serão ressuscitados até que os mil anos se acabem, quando o céu e a terra fugirão, e os mortos, pequenos e grandes, terão que se apresentar para julgamento perante o grande trono branco, sendo em seguida lançados para sempre no lago de fogo. Após narrar esses fatos, João, o escritor do Apocalipse, acrescenta: "Vi um novo céu e uma nova terra... e já não havia mar". Bendito seja Deus por nos revelar tão maravilhosas realidades e por nos dar também o meio para compreendê-las pelo Seu Espírito. "Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus!" (Rm 11:33). Consideremos agora rapidamente a última parte do assunto de que estamos tratando, isto é: A Preparação para a sua vinda Há dois aspectos segundo os quais podemos dizer que estamos preparados. Estes estão representados nas seguintes Escrituras: 1) "As que estavam preparadas entraram com Ele para as bodas, e fechou-se a porta" (Mt 25: 10). 2) A mim já agora me ofereço... "Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a Sua vinda" (2 Tm 4:6-8). No primeiro texto todos os que são de Cristo (1 Co 15:23) estão preparados. Creram n'Ele, foram pUrificados dos seus pecados por Ele, n'Ele foram feitos aceitáveis (Ef 1:6). Seu Santo Espírito habita neles (Rm 8:9), e tudo isto sem haver da parte deles algum merecimento. "Dando graças ao Pai que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz" (Cl1:12). Mas, no segundo, Paulo estava pronto, não só porque estava salvo - ele sabia isso há anos - mas também porque o seu serviço e testemunho tinham sido tais, que ele tinha a certeza de que naquele dia de glória o seu Senhor lhe diria "bem está, servo bom e fiel". Simplifiquemos isso por outro exemplo. Suponhamos que alguém envie algum filho a uma cidade distante para negócio. Dá-lhe todas as instruções necessárias sobre o lugar onde há de ir e o que tem a fazer, aconselhando-o, enfim, a empregar toda a diligência para se sair bem do seu encargo, especialmente porque tem pouco tempo para ali se demorar. Quando o filho chega à cidade, parece a princípio muito enérgico e desejoso de bem desempenhar o seu trabalho; mas depois de fazer uma pequena parte daquilo de que foi encarregado, encontra alguns antigos companheiros, esquece-se dos bons conselhos do seu pai para ser diligente, anda por um lado e por outro com os companheiros, até que, por fim, fica espantado quando ouve o relógio de uma torre que lhe indica que infelizmente não tem mais um minuto a perder se quiser apanhar o último trem. Corre para a estação e apenas tem tempo de tomar o seu assento. A porta se fecha, ouve-se o sinal de partida, e logo a seguir ele está a caminho de sua casa. Ora, ele estava pronto para esta jornada? Podem ser dadas duas respostas: Estava e não estava. Sob o aspecto da empresa que opera a linha do trem, ele estava, visto que portava o bilhete de passagem (graças, não a ele, mas ao pai que lho tinha comprado). Nenhum fiscal da linha ousaria contestar o seu direito de viajar no trem. Mas, que diremos a respeito do negócio de que ele ia tratar e dos desejos de seu pai? Ah! Será que ele perdeu o direito ao sorriso de aprovação do seu pai por isso? Sim. O pai não lhe pôde dizer "bem está, servo fiel" pelo serviço que lhe foi confiado; mas, ainda assim, nessa mesma noite ocupará lugar na família, como um filho, à própria mesa do seu pai. Ora, todo o crente tem, no Salvador que outrora foi crucificado e que agora está glorificado, à destra de Deus, o que corresponde ao "bilhete", isso é, uma prova inegável de que foi pago o preço por inteiro. Mas ainda que "é justificado todo aquele que crê" (At 13:39), e que "aos que justificou a estes também glorificou" (Rm 8:30), apesar disso, nem todos os crentes receberão naquele dia a mesma recompensa. "Cada um receberá o seu galardão, segundo o seu trabalho" (1 Co 3:8). O Senhor há de considerar tanto a quantidade como a qualidade do nosso trabalho - o que cada um ganhou negociando (Lc 19: 15) - qual seja a obra de cada um (1 Co 3: 13). Deus permita, caro leitor cristão, que a nossa sorte não seja apenas termos o direito de ir "com Ele para as bodas" sentarmo-nos ali com Ele na Sua casa - mas que possamos ser encontrados vigiando, esperando e trabalhando para Ele aqui, consultando os Seus desejos e cuidando dos seus interesses, no poder dominante do Seu inalterável amor, até que Ele venha. Tenhamos sempre na nossa mente que, se desejarmos tomar a nossa cruz e segui-Lo com terna dedicação, devemos fazê-lo já! É um dia difícil - os tempos são perigosos, os homens maus e sedutores se tornam cada vez piores, enganando e sendo enganados (2 Tm 3: 13). (Que solene contradição ao engano vulgar de que todo o mundo terá que se converter antes que Ele venha!) É um dia de muita profissão mas de pouca prática, um dia caracterizado por um espírito desregrado, dia em que o desleixo de princípios e falta de lealdade a Cristo abundam na Igreja. Mas, apesar de tudo isso, havemos de ter "Deus e a Palavra da Sua graça" até ao fim - a Sua palavra para dirigir os passos ao caminho direito, e a Sua graça para nos sustentar neste caminho depois que o tenhamos encontrado. Não nos deixemos enganar por "aparências" neste dia de vanglória, nem desanimemos se não encontramos no caminho da obediência aquilo que, aos olhos do mundo, parece bom êxito. "Obedecer é melhor do que sacrificar". Que a exortação do nosso bendito Mestre entre bem nos nossos corações: "Estejam cingidos os vossos lombos, e acesas as vossas candeias; e sede vós semelhantes aos homens que esperam o seu senhor, quando houver de voltar das bodas, para que, quando vier e bater, logo possam abrir-lhe. Bemaventurados aqueles servos, os quais, quando o Senhor vier, achar vigiando! Em verdade vos digo que se cingirá, e os fará assentar à mesa, e, chegando-se, os servirá" (Lc 12:35-37). Caro leitor, se ainda não estás salvo, deixa-nos dirigir-te agora uma palavra. Queremos fazer-te considerar que a Sua vinda será repentina, e da certeza de seres deixado cá quando Ele vier arrebatar os Seus, se porventura te encontrar sem "azeite na tua lâmpada". Considere, por um momento, o futuro. Pense na ligeireza com que as asas do tempo te estão levando para a eternidade! E que será esta eternidade para ti? Ficarás na terra para descobrir que os salvos (talvez muitos amigos e parentes) têm sido arrebatados para o céu sem ti? Para te dar conta de que não fizeste caso do último aviso que o Espírito te deu; que ouviste em descrença a última pregação do Evangelho e recusaste a última chamada de misericórdia? Isso, certamente, seria por demais solene e triste. Mas não menos triste há de ser para o teu corpo ficar debaixo da terra, na tua fria e negra sepultura, enquanto os mil anos de bênção milenar forem transcorrendo, e depois dos quais toda a terra será cheia da Sua glória (Sl 72: 19) e o Príncipe da Paz há de ter "o Seu domínio... de um mar até outro mar e desde o rio às extremidades da terra (Zc 9:10). Oh, sim, perder tudo isso seria para ti uma perda atroz! Mas lembrate-te de que depois disso tens que enfrentar a eternidade! Serás ressuscitado dos mortos pela voz do Filho de Deus (Jo 5:28-29). O solene julgamento perante o grande trono branco seguirá então. De toda a palavra vã, da história de cada dia, terás de dar conta; e, como Deus é verdadeiro, a tua sentença será certamente uma eternidade no lago de fogo! Não penses nisso com leviandade. A porta ainda está aberta. Jesus ainda te convida. O Seu povo aqui está. Mas solenemente te avisamos do perigo que corres, e sinceramente te rogamos que fujas para o refúgio enquanto ainda há lugar. O Senhor Jesus pode vir até mesmo antes de acabares de ler este artigo! Sê, pois, sincero. Prostra-te aos Seus pés e confessa perante Ele a tua pecaminosa condição. Ele te receberá, abençoará e salvará agora mesmo. Bendito Salvador! "Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores" (1 Tm 1:15). Mas, uma vez que o Mestre se tiver levantado e "fechado a porta", a tua sentença será lavrada para sempre. Graças a Deus "ainda há lugar". (publicado por Depósito de Literatura Cristã) Autor: George Cutting
INFORMAÇÕES, NOTICIAS E ESTUDOS E PRINCIPALMENTE APOLOGÉTICO EM DEFESA DA AUTENTICA FÉ CRISTÃ (as mensagem são dos blogs que eu sigo)
Isvonaldo sou Protestante
domingo, 30 de setembro de 2012
Alicerces da fé cristã
O que me torna um cristão?
Numa época de confusão e erro, é importante que sejamos afirmativos e claros quanto aos elementos distintivos de nossa fé. Precisamos de uma base sólida para determinar se o que cremos é mesmo a fé cristã bíblica, apostólica e histórica. Isto é, devemos compreender o que define o cristianismo, quais seus elementos mais fundamentais. Assim poderemos reconhecer a fé genuinamente cristã.
Nos dias 1 a 5 de outubro de 2012, Paul Washer, Joel Beeke, Hernandes Dias Lopes, Steven Lawson e Sillas Campos considerarão os "Alicerces da Fé Cristã" durante a 28ª Conferência Fiel para Pastores e Líderes.
Contaremos também com dois workshops. Solano Portela abordará o tema da educação cristã e Jáder Borges falará sobre a formação espiritual e intelectual dos pré-adolescentes.
Nosso desejo é que esta Conferência seja umaoportunidade de comunhão, oração, adoração e estudo profundo das sagradas escrituras.
Esperamos tê-lo conosco em outubro de 2012.
Em Cristo,
James Richard Denham III
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Programação |
Posted: 30 Sep 2012 11:31 AM PDT
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Na próxima semana (de 1 a 5 de outubro) vai acontecer a 28º Conferência Fiel para Pastores e Líderes - Alicerces da Fé Cristã, em Águas de Lindoia/SP. Os preletores são: Paul Washer, Joel Beeke, Hernandes Dias Lopes, Steven Lawson, Sillas Campos, Solano Portela, Jáder Borges e Martha Peace.
Você que não poderá estar presente, a Editora Fiel disponibilizará transmissão ao vivo de todas as pregações via internet.
Confira aqui: http://www.editorafiel.com.br/
Confira a agenda das pregações:
http://www.editorafiel.com.br/
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Por Vicent Cheung
Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra. (2 Timóteo 3.16-17, NVI) [...]
… problemas ocorrem quando cristãos negam que a Bíblia é suficiente para fornecer instrução e orientação abrangente. Alguns deles se queixam que a Bíblia carece da informação específica que eles precisam para fazer decisões pessoais. Contudo, à luz das palavras de Paulo — isto é, visto que Deus afirma por meio do seu apóstolo que a Bíblia é suficiente — a deficiência deve estar nesses indivíduos, e não na Bíblia.
Eles carecem da informação que precisam por causa de sua imaturidade e ignorância. A Bíblia é de fato suficiente para guiá-los, mas eles negligenciam estudá-la. Alguns deles também exibem forte rebelião, de forma que embora a Bíblia aborde claramente suas situações, eles recusam obedecer aos seus mandamentos e instruções. Ou, antes de tudo, eles recusam aceitar os próprios métodos de receber orientação a partir da Escritura, mas insistem que Deus deve guiá-los, pelo menos ocasionalmente, por meio de visões, sonhos e profecias, embora ele já tenha deixado registrado o que eles precisam saber na Bíblia.
Quando Deus não concede a demanda deles por orientação extrabíblica, alguns deles até mesmo decidem buscar informação por meio de métodos proibidos, tais como astrologia, adivinhação e outras práticas ocultas. A rebelião deles é tal que se Deus não fornece a informação desejada da forma que eles preferem, ou se ele não concorda com os desejos deles, então eles estão determinados a conseguir o que desejam do diabo.
O conhecimento da vontade de Deus vem de um entendimento intelectual e aplicação da Escritura.[1] Paulo escreve:
Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. (Romanos 12.2-3)
A teologia cristã deve afirmar a suficiência da Escritura, que ela é uma fonte abrangente de informação, instrução e orientação. A Bíblia contém toda a vontade de Deus, incluindo a informação que uma pessoa precisa para salvação, desenvolvimento espiritual e orientação pessoal. Ela contém informação suficiente de forma que, se alguém fosse obedecê-la completamente, cumpriria a vontade de Deus em cada detalhe da vida, e pecaria na extensão em que a desobedecesse. Embora não atingiremos obediência perfeita nesta vida, permanece o fato que a Bíblia contém toda a informação necessária para vivermos uma vida cristã perfeita. [2]
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Notas:
[1] Veja Vincent Cheung, Piedade com Contentamento, “Orientação bíblica e tomada de decisão” (Editora Monergismo).
[2] Para mais sobre a suficiência da Escritura, veja Vincent Cheung, O Ministério da Palavra (Editora Monergismo).
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto – setembro/2012
Fonte: Systematic Theology
Via: Monergismo
[2] Para mais sobre a suficiência da Escritura, veja Vincent Cheung, O Ministério da Palavra (Editora Monergismo).
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto – setembro/2012
Fonte: Systematic Theology
Via: Monergismo
sábado, 29 de setembro de 2012
A Assembleia de Deus está se neopentecostalizando?
Em muitas Assembleias de Deus:
- O tempo da exposição da Palavra de Deus foi suprimido ou reduzido por causa de shows de coreografia ou peças teatrais.
- Pregações sobre a obra expiatória do Senhor Jesus e as ministrações do Espírito Santo cederam espaço para a falaciosa Teologia da Prosperidade e o famigerado "reteté".
- A exposição das Escrituras sob a unção do Espirito não é mais suficiente. É preciso animar auditório e recorrer a práticas bizarras, como derramar jarras de azeite sobre a cabeça.
- O culto não é mais para Deus e faz-se de tudo um pouco para agradar as pessoas e massagear seus egos. Capoeira, gospel funk, street dance, Festa Jesuína e outras formas de entreter o povo têm sido adotadas como estratégias de "evangelização".
Está a Assembleia de Deus se neopentecostalizando? A bem da verdade, o Deus da Assembleia tem as suas reservas na terra. Há pastores e expoentes das Escrituras que têm cuidado de si mesmo e da doutrina (1 Tm 4.16) e não se deixaram influenciar pelo místico neopentecostalismo. Mas muitos líderes que se dizem assembleianos já se neopentecostalizaram, a fim de agradarem a uma multidão de interesseiros.
Quanto a mim, continuo, por graça do Senhor, andando pelo caminho estreito (Mt 7.13,14).
Ciro Sanches Zibordi
- O tempo da exposição da Palavra de Deus foi suprimido ou reduzido por causa de shows de coreografia ou peças teatrais.
- Pregações sobre a obra expiatória do Senhor Jesus e as ministrações do Espírito Santo cederam espaço para a falaciosa Teologia da Prosperidade e o famigerado "reteté".
- A exposição das Escrituras sob a unção do Espirito não é mais suficiente. É preciso animar auditório e recorrer a práticas bizarras, como derramar jarras de azeite sobre a cabeça.
- O culto não é mais para Deus e faz-se de tudo um pouco para agradar as pessoas e massagear seus egos. Capoeira, gospel funk, street dance, Festa Jesuína e outras formas de entreter o povo têm sido adotadas como estratégias de "evangelização".
Está a Assembleia de Deus se neopentecostalizando? A bem da verdade, o Deus da Assembleia tem as suas reservas na terra. Há pastores e expoentes das Escrituras que têm cuidado de si mesmo e da doutrina (1 Tm 4.16) e não se deixaram influenciar pelo místico neopentecostalismo. Mas muitos líderes que se dizem assembleianos já se neopentecostalizaram, a fim de agradarem a uma multidão de interesseiros.
Quanto a mim, continuo, por graça do Senhor, andando pelo caminho estreito (Mt 7.13,14).
Ciro Sanches Zibordi
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De humanista a reformador João Calvino nasceu em 10 de julho de 1509, em Noyon, na Província de Picardia (França), na fronteira dos Países Baixos. Seu pai era um advogado que trabalhou para o cônego desta cidade, e sua mãe, uma mulher muito piedosa. Foi enviado para estudar filosofia em Paris, no Collège de Montaigu, mas em 1528, após se desentender com os líderes da igreja, seu pai o enviou para estudar direito em Orléans e grego em Bourges. Em 1531, com a morte do pai, retornou a Paris para dedicar-se ao seu interesse predileto, a literatura clássica.
Em 1533, converteu-se à fé evangélica e a respeito deste fato disse:
Em 1536, ao passar por Genebra, foi coagido por Guillaume Farel a iniciar um trabalho ali. Calvino ficou chocado com a idéia, pois se sentiu despreparado para a tarefa. Ele poderia fazer mais pela igreja através de seus estudos e de seus escritos.
Nesse momento, Farel trovejou a ira de Deus sobre Calvino com palavras que este jamais esqueceria – Deus amaldiçoaria o seu lazer e os seus estudos se, em tão grave emergência, ele se retirasse, recusando-se a ajudar. A primeira estadia de Calvino em Genebra durou menos de dois anos. O seu primeiro catecismo e confissão de fé foram adotados, mas ele e Farel entraram em conflito com as autoridades civis acerca de questões eclesiásticas: disciplina, adesão à confissão de fé e práticas litúrgicas.
De 1538 a 1541, mudou-se para Estrasburgo, onde pastoreou a igreja de refugiados franceses. Um refugiado que visitou a igreja de Calvino fez a seguinte descrição do culto:
"Todos cantam, homens e mulheres; e é um belo espetáculo. Cada um tem um livro de cânticos nas mãos... Olhando para esse pequeno grupo de exilados, chorei, não de tristeza, mas de alegria, por ouvi-los todos cantando tão sinceramente, enquanto agradeciam a Deus por tê-los levado a um lugar onde seu nome é glorificado". Lá se casou com Idelette de Bure e travou contato com Martin Bucer, que influenciou profundamente sua teologia, principalmente acerca da doutrina do Espírito Santo e da disciplina clesiástica.
O erudito de Genebra
Em 1541, os genebrinos suplicaram que Calvino retornasse à sua igreja. Ele retornou a Genebra no dia 13 de setembro, viu-se nomeado pregador da antiga igreja de St. Pierre e foi "contemplado com um salário razoável, uma casa ampla e porções anuais de 12 medidas de trigo e 250 galões de vinho". Em 1548, Idelette faleceu, e Calvino nunca mais tornou a casar-se. O único filho que tiveram morreu ainda na infância. No entanto, Calvino não ficou inteiramente só. Tinha muitos amigos, inclusive em outras regiões da Europa, com os quais trocava intensa correspondência. Depois de grandes lutas, conseguiu implementar seu programa de reformas, mudando completamente toda a Genebra, tornando-a um exemplo para toda a cristandade, "a mais perfeita escola de Cristo desde os dias dos apóstolos", como o reformador escocês John Knox disse.
Em 6 de fevereiro de 1564, Calvino, muito enfermo, foi transportado para a igreja numa cadeira, pregando então com dificuldade o seu último sermão. No dia de Páscoa, 2 de abril, foi levado pela última vez à igreja. Participou da ceia e, com a voz trêmula, cantou junto com a congregação. Em 28 de abril de 1564, um mês antes de morrer, convocou os ministros de Genebra à sua casa. Tendo-os à sua volta, despediu-se: "A respeito de minha doutrina, ensinei fielmente, e Deus me deu a graça de escrever. Fiz isso do modo mais fiel possível e nunca corrompi uma só passagem das Escrituras, nem conscientemente as distorci. Quando fui tentado a requintes, resisti à tentação e sempre estudei a simplicidade. Nunca escrevi nada com ódio de alguém, mas sempre coloquei fielmente diante de mim o que julguei ser a glória de Deus". Ele faleceu em 27 de maio de 1564. Calvino foi enterrado em um cemitério comum. Devido a seu próprio pedido, não se ergueu lápide alguma sobre o lugar de sua sepultura.
A pregação como Vox Dei
Calvino definiu assim a comunidade cristã: "Onde quer que vejamos a Palavra de Deus ser sinceramente pregada e ouvida, onde vemos serem os sacramentos administrados segundo a instituição de Cristo, não se pode contestar, de modo nenhum, que ali há uma igreja de Deus".
Como o Rev. Paulo Anglada demonstra, o reformador francês elaborou detalhadamente o tema da natureza da pregação como "a voz de Deus". Em seu comentário de Isaías, ele afirma que na pregação "a palavra sai da boca de Deus de tal maneira que ela sai, de igual modo, da boca de homens; pois Deus não fala abertamente do céu, mas emprega homens como seus instrumentos, a fim de que, pela agência deles, possa fazer conhecida a sua vontade".
Comentando a Epístola aos Gálatas, Calvino enfatiza a eficácia do ministério da Palavra, afirmando: visto que Deus "emprega os ministros e a pregação como seus instrumentos para este propósito, apraz-lhe atribuir a eles a obra que ele mesmo realiza, pelo poder do seu Espírito, em cooperação com os labores do homem". Para Calvino, a leitura e a meditação privadas das Escrituras não substituem o culto público, pois, "entre os muitos nobres dons com os quais Deus adornou a raça humana, um dos mais notáveis é que ele condescende em consagrar bocas e línguas de homens para o seu serviço, fazendo com que a sua própria voz seja ouvida neles". Por essa razão, argumenta Calvino, quem despreza a pregação despreza a Deus, porque ele não fala por novas revelações do céu, mas pela voz de seus ministros, a quem confiou a pregação da sua Palavra. Ao falar Deus aos homens, por meio da pregação, Calvino identifica dois benefícios: "Por um lado, ele [Deus], por meio de um teste admirável, prova a nossa obediência, quando ouvimos seus ministros exatamente como ouviríamos a ele mesmo; enquanto, por outro, ele leva em consideração a nossa fraqueza, ao dirigir-se a nós de maneira humana, por meio de intérpretes, a fim de que possa atrair-nos a si mesmo, em vez de afastar-nos por seu trovão".
A importância dada ao sermão se percebe no lugar que ele ocupa na liturgia reformada – o lugar central.
Isso não significa que Calvino tenha dado importância exagerada ao pregador; significa apenas que, para ele, o sermão tem de ser a fiel interpretação da verdade revelada nas Escrituras, dirigida aos problemas do momento. Assim como Calvino cria na presença espiritual de Cristo na administração dos sacramentos, também cria na presença espiritual de Cristo na pregação, salvando os eleitos, edificando e governando sua igreja. Essa concepção sacramental da pregação é afirmada diversas vezes por Calvino nas Institutas. Por exemplo, ao combater o emprego de símbolos visíveis para representar a presença de Cristo no culto, ele afirma que é "pela verdadeira pregação do evangelho", e não por cruzes, que "Cristo é retratado como crucificado diante de nós" (I.11.7).
Citando Agostinho (IV.14.26), que se referia às palavras como sinais, Calvino entendia que na pregação "o Espírito Santo usa as palavras do pregador como ocasião para a presença de Deus em graça e em misericórdia. Neste sentido, as palavras do sermão são comparáveis aos elementos nos sacramentos" (IV.1.6; 4.14.9-19). Por isso, ele escreveu: "A igreja de Deus será educada pela pregação autêntica de sua Palavra, e não pelas invenções dos homens [as quais são madeira, feno e palha]".
A prioridade da pregação expositiva
Calvino escreveu: "A majestade das Escrituras merece que seus expositores façam-na evidente, que tratem-na com modéstia e reverência".
Durante quase 25 anos de ministério na igreja de St. Pierre, em Genebra, seu modelo de pregação foi o mesmo, do começo ao fim, pregando através da Escritura, livro após livro, versículo após versículo.
Uma das mais claras ilustrações de que a pregação seqüencial havia sido uma escolha consciente da parte de Calvino foi este fato: no dia da Páscoa, em 1538, depois de pregar, ele deixou o púlpito da igreja de St. Pierre, banido pelo conselho da cidade; quando retornou, em setembro de 1541, mais de três anos depois, ele continuou a exposição no versículo seguinte.
Como John Piper demonstra, no auge de seu ministério em Genebra, Calvino pregava num livro do Novo Testamento nos domingos pela manhã e à tarde (embora pregasse nos Salmos em algumas tardes) e num livro do Antigo Testamento, nas manhãs, durante a semana. Desse modo, ele expôs a maior parte das Escrituras. Ele começou sua série de pregações expositivas no livro de Atos, em 25 de agosto de 1549 e terminou-a em março de 1554, num total de 89 sermões. Depois, ele prosseguiu para 1 e 2 Tessalonicenses (46 sermões), 1 e 2 Coríntios (186 sermões) e Efésios (48 sermões), até maio de 1558, quando passou um tempo adoentado. Na primavera de 1559, começou a Harmonia dos Evangelhos, série inacabada por conta de sua morte em maio de 1564 (65 sermões). Durante a semana, naquele período, pregou 174 sermões em Ezequiel (1552-1554), 159 sermões em Jó (1554-1555), 200 sermões em Deuteronômio (1555-1556), 353 sermões em Isaías (1556-1559), 123 sermões em Gênesis (1559-1561), 107 sermões em 1 Samuel e 87 sermões em 2 Samuel (1561-1563), e assim por diante. Os livros que ele pregou do primeiro ao último capítulo foram: Gênesis, Deuteronômio, Jó, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, Profetas Maiores e Menores, Evangelhos Sinóticos, Atos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito e Hebreus. Por que este compromisso com a centralidade da pregação expositiva seqüencial? Piper sugere as seguintes espostas:
1. Calvino acreditava que a Escritura era a lâmpada que havia sido tirada das igrejas: "Tua Palavra, que deveria ter brilhado sobre todas as pessoas como uma lâmpada, foi retirada ou, pelo menos, suprimida de nós... E agora, ó Senhor, o que resta a um miserável como eu a não ser... suplicar-te sinceramente que não me julgues de acordo com [meus] desertos, aquele terrível abandono da tua Palavra em que vivi e do qual, na tua maravilhosa bondade, me livraste". Calvino considerou que essa contínua exposição de livros da Bíblia era a melhor maneira de superar o "terrível abandono da Palavra [de Deus]".
2. Calvino tinha aversão a quem pregava suas próprias idéias no púlpito: "Quando adentramos o púlpito, não podemos levar conosco nossos próprios sonhos e fantasias". Acreditava que, expondo as Escrituras por completo, seria forçado a lidar com o que Deus queria dizer, não somente com o que ele talvez gostaria de dizer.
3. Ele acreditava que a Palavra de Deus era, de fato, a Palavra de Deus e que toda ela era inspirada, proveitosa e fulgurante como a luz da glória de Deus: "Que os pastores ousem corajosamente todas as coisas pela Palavra de Deus... Que contenham e comandem todo poder, glória e excelência do mundo, que dêem lugar e obedeçam à divina majestade dessa Palavra. Que encarreguem o mundo todo de fazer isso, desde o maior até ao menor. Que edifiquem o corpo de Cristo. Que devastem o reino de Satanás. Que cuidem das ovelhas, matem os lobos, instruam e exortem os rebeldes. Que amarrem e libertem trovões e raios, se necessário, mas que façam tudo isso de acordo com a Palavra de Deus".
Como Piper destaca, a ênfase aqui é "a divina majestade dessa Palavra". Este sempre foi o assunto fundamental para Calvino. Como poderia expor, da melhor maneira possível, a majestade de Deus? Sua resposta foi dada com uma vida de pregação expositiva contínua. Não havia maneira melhor para manifestar a completa extensão da glória e da majestade de Deus do que difundir toda a Palavra de Deus no contexto do ministério pastoral.
A estrutura do sermão
James Boyce escreveu: "Calvino era antes de tudo um pregador e, como pregador, via-se a si mesmo como um professor da Bíblia... Ele considerava a pregação o seu trabalho mais importante". Cerca de dois mil dos sermões de Calvino foram preservados. Expondo parágrafos e versículos, ele seguia através de um profeta, de um salmo, de um evangelho ou de uma epístola. Como Boyce descreveu: "Ele começava no primeiro versículo do livro e tratava de seções contínuas, de quatro ou cinco versículos, até que chegava ao fim e, neste ponto, dava início a outro livro". Não havia uma palavra de discordância com as Escrituras, nem uma inferência depreciativa, nem uma fuga das dificuldades, embora ele evitasse as especulações infundadas: "Visto que revelar a mente do autor é a única tarefa do intérprete, ele erra o alvo ou, pelo menos, desvia-se de seus limites quando afasta seus leitores do propósito do autor... É... presunção e quase blasfêmia distorcer o significado das Escrituras, agindo sem o devido cuidado, como se isso fosse um jogo que estivéssemos jogando". Por isso, ele enfatizou: "O verdadeiro significado das Escrituras é aquele que é natural e óbvio". Ele renunciou tudo que pudesse trazer-lhe notoriedade, colocando toda sua formação a serviço da fé cristã.
Não é possível descobrir nos sermões de Calvino o arranjo homilético segundo as normas atuais de pregação. Em muitos casos, Calvino tomava o texto, analisava-o e aplicava-o sucessivamente durante cerca de uma hora, o que conferia à mensagem um tom livre e informal.
Como Steven Lawson nota, a introdução do sermão era curta, sucinta e direta, consistindo de um breve comentário que lembrava a congregação o que a passagem anterior dizia, colocava os próximos versículos no contexto ou mostrava o argumento central da passagem pregada, relacionando-a ao contexto da estrutura do livro que estava sendo exposto.
Por isso, pode-se perceber que há uma ordem e um arranjo lógico e um desenvolvimento progressivo nas suas mensagens. Seus sermões não são exemplos de beleza e estilo por duas razões: ele pregava sem esboço, pois tinha de pregar quase diariamente; e tinha um profundo respeito para com a Palavra de Deus, a ponto de pensar que um estilo excessivamente elaborado poderia prejudicar a clareza da mensagem.
Neste caso, a pregação sem anotações era uma reação ao costume daquela época, quando os sermões eram lidos e se tornavam frios, sem entusiasmo e sem energia. Por outro lado, de acordo com Lawson, ainda que pregasse sem anotações, seus sermões testemunham um uso impressionante de frases curtas compostas de sujeito, verbo e predicado e fáceis de assimilar, palavras simples e expressões coloquiais, figuras de linguagem, perguntas retóricas, paráfrases e repetições, ironia mordaz e linguagem instigante.
Carl G. Kromminga afirmou que Calvino viveu e trabalhou como se estivesse na presença de Deus. Por isso, o empenho de Calvino era trazer os homens à presença de Deus.
Isto é ainda mais evidente em seus sermões, que eram sempre cruciais e decisivos. T. H. L. Parker escreveu: "A pregação expositiva consiste na explanação e aplicação de uma passagem das Escrituras. Sem explanação, ela não é expositiva; sem aplicação, ela não é pregação". Por isso, Calvino escreveu que os ouvintes do sermão deveriam cultivar um "desejo de obedecer a Deus de forma completa e incondicional". E acrescentou: "Não assistimos à pregação meramente para ouvir o que não sabemos, mas para sermos encorajados a fazer nossa obrigação".
Por isso, seus sermões partiam das Escrituras para a situação concreta e presente em Genebra, incluindo exortação pastoral, exame pessoal, repreensão amorosa, confrontação, usando muitas vezes pronomes na primeira pessoa do plural.
Nem sempre Calvino usou ilustrações, e, quando as usava, elas eram raramente de fora da Escritura. No entanto, ele estabelecia comparações com o quadro da vida diária para tornar bem accessível ao seu ouvinte a mensagem da Palavra de Deus. Kromminga aponta as metáforas, as exclamações e outros recursos da oratória que contribuíram para tornar efetiva a sua mensagem.
E, na conclusão de cada sermão, ele fazia primeiramente um resumo da verdade que explicara num parágrafo curto; depois, instava de forma direta seus ouvintes a que se submetessem ao Senhor, em arrependimento, obediência e humildade.
Finalmente, ele concluía com uma oração, confiando seu rebanho a Deus.
Precisa ser ressaltado que Calvino acreditava que Paulo havia providenciado um modelo para o ministério da Palavra, quando falou sobre como ele, Paulo, não cessava de admoestar tanto "publicamente" quanto de "casa em casa". Por ter uma verdadeira preocupação pastoral por aqueles para quem estava pregando, Calvino procurou visitá-los em seus lares. "O que quer que os outros pensem", Calvino escreveu, "não julgaremos o nosso ofício como algo que possui limites tão estreitos, que, terminado o sermão, possamos descansar achando que concluímos a nossa tarefa. Aqueles cujo sangue será requerido de nós, se os perdermos por causa de nossa preguiça, devem receber cuidado mais íntimo e mais vigilante". Portanto, a pregação requer ser suplementada com uma entrevista pastoral. "Não é suficiente que, do púlpito, um pastor ensine todas as pessoas conjuntamente, pois ele não acrescenta instrução particular de acordo com a necessidade e as circunstâncias específicas de cada caso". Calvino insistiu que o pastor precisa ser um pai para cada membro da congregação.
O papel do pregador
O centro da atenção de Calvino era a vontade de Deus, era a revelação da face de Deus e o empenho em trazer o ouvinte à presença do Senhor. Ou na pregação da mais profunda doutrina, ou em algum tema ligado à vida prática, Calvino chamava continuamente os seus ouvintes à face de Deus. Em 1537, aos 29 anos, num de seus primeiros livros, Breve Instrução Cristã, ele escreveu:
Em 1533, converteu-se à fé evangélica e a respeito deste fato disse:
"Minha mente, que, a despeito de minha juventude, estivera por demais empedernida em tais assuntos, agora estava preparada para uma atenção séria. Por uma súbita conversão, Deus transformou-a e trouxe-a à docilidade".No final desse ano, teve de fugir de Paris sob acusação de ser coautor de um discurso simpático aos protestantes, proferido por Nicholas Cop, o novo reitor da Universidade de Paris. Refugiou-se na casa de um amigo em Angoulême, onde começou a escrever a sua principal obra teológica. Em março de 1535, foi publicada em Basiléia a primeira edição das Institutas da Religião Cristã, que seria "uma chave para abrir o caminho para todos os filhos de Deus num entendimento bom e correto das Escrituras Sagradas".
Em 1536, ao passar por Genebra, foi coagido por Guillaume Farel a iniciar um trabalho ali. Calvino ficou chocado com a idéia, pois se sentiu despreparado para a tarefa. Ele poderia fazer mais pela igreja através de seus estudos e de seus escritos.
Nesse momento, Farel trovejou a ira de Deus sobre Calvino com palavras que este jamais esqueceria – Deus amaldiçoaria o seu lazer e os seus estudos se, em tão grave emergência, ele se retirasse, recusando-se a ajudar. A primeira estadia de Calvino em Genebra durou menos de dois anos. O seu primeiro catecismo e confissão de fé foram adotados, mas ele e Farel entraram em conflito com as autoridades civis acerca de questões eclesiásticas: disciplina, adesão à confissão de fé e práticas litúrgicas.
De 1538 a 1541, mudou-se para Estrasburgo, onde pastoreou a igreja de refugiados franceses. Um refugiado que visitou a igreja de Calvino fez a seguinte descrição do culto:
"Todos cantam, homens e mulheres; e é um belo espetáculo. Cada um tem um livro de cânticos nas mãos... Olhando para esse pequeno grupo de exilados, chorei, não de tristeza, mas de alegria, por ouvi-los todos cantando tão sinceramente, enquanto agradeciam a Deus por tê-los levado a um lugar onde seu nome é glorificado". Lá se casou com Idelette de Bure e travou contato com Martin Bucer, que influenciou profundamente sua teologia, principalmente acerca da doutrina do Espírito Santo e da disciplina clesiástica.
O erudito de Genebra
Em 1541, os genebrinos suplicaram que Calvino retornasse à sua igreja. Ele retornou a Genebra no dia 13 de setembro, viu-se nomeado pregador da antiga igreja de St. Pierre e foi "contemplado com um salário razoável, uma casa ampla e porções anuais de 12 medidas de trigo e 250 galões de vinho". Em 1548, Idelette faleceu, e Calvino nunca mais tornou a casar-se. O único filho que tiveram morreu ainda na infância. No entanto, Calvino não ficou inteiramente só. Tinha muitos amigos, inclusive em outras regiões da Europa, com os quais trocava intensa correspondência. Depois de grandes lutas, conseguiu implementar seu programa de reformas, mudando completamente toda a Genebra, tornando-a um exemplo para toda a cristandade, "a mais perfeita escola de Cristo desde os dias dos apóstolos", como o reformador escocês John Knox disse.
Em 6 de fevereiro de 1564, Calvino, muito enfermo, foi transportado para a igreja numa cadeira, pregando então com dificuldade o seu último sermão. No dia de Páscoa, 2 de abril, foi levado pela última vez à igreja. Participou da ceia e, com a voz trêmula, cantou junto com a congregação. Em 28 de abril de 1564, um mês antes de morrer, convocou os ministros de Genebra à sua casa. Tendo-os à sua volta, despediu-se: "A respeito de minha doutrina, ensinei fielmente, e Deus me deu a graça de escrever. Fiz isso do modo mais fiel possível e nunca corrompi uma só passagem das Escrituras, nem conscientemente as distorci. Quando fui tentado a requintes, resisti à tentação e sempre estudei a simplicidade. Nunca escrevi nada com ódio de alguém, mas sempre coloquei fielmente diante de mim o que julguei ser a glória de Deus". Ele faleceu em 27 de maio de 1564. Calvino foi enterrado em um cemitério comum. Devido a seu próprio pedido, não se ergueu lápide alguma sobre o lugar de sua sepultura.
A pregação como Vox Dei
Calvino definiu assim a comunidade cristã: "Onde quer que vejamos a Palavra de Deus ser sinceramente pregada e ouvida, onde vemos serem os sacramentos administrados segundo a instituição de Cristo, não se pode contestar, de modo nenhum, que ali há uma igreja de Deus".
Como o Rev. Paulo Anglada demonstra, o reformador francês elaborou detalhadamente o tema da natureza da pregação como "a voz de Deus". Em seu comentário de Isaías, ele afirma que na pregação "a palavra sai da boca de Deus de tal maneira que ela sai, de igual modo, da boca de homens; pois Deus não fala abertamente do céu, mas emprega homens como seus instrumentos, a fim de que, pela agência deles, possa fazer conhecida a sua vontade".
Comentando a Epístola aos Gálatas, Calvino enfatiza a eficácia do ministério da Palavra, afirmando: visto que Deus "emprega os ministros e a pregação como seus instrumentos para este propósito, apraz-lhe atribuir a eles a obra que ele mesmo realiza, pelo poder do seu Espírito, em cooperação com os labores do homem". Para Calvino, a leitura e a meditação privadas das Escrituras não substituem o culto público, pois, "entre os muitos nobres dons com os quais Deus adornou a raça humana, um dos mais notáveis é que ele condescende em consagrar bocas e línguas de homens para o seu serviço, fazendo com que a sua própria voz seja ouvida neles". Por essa razão, argumenta Calvino, quem despreza a pregação despreza a Deus, porque ele não fala por novas revelações do céu, mas pela voz de seus ministros, a quem confiou a pregação da sua Palavra. Ao falar Deus aos homens, por meio da pregação, Calvino identifica dois benefícios: "Por um lado, ele [Deus], por meio de um teste admirável, prova a nossa obediência, quando ouvimos seus ministros exatamente como ouviríamos a ele mesmo; enquanto, por outro, ele leva em consideração a nossa fraqueza, ao dirigir-se a nós de maneira humana, por meio de intérpretes, a fim de que possa atrair-nos a si mesmo, em vez de afastar-nos por seu trovão".
A importância dada ao sermão se percebe no lugar que ele ocupa na liturgia reformada – o lugar central.
Isso não significa que Calvino tenha dado importância exagerada ao pregador; significa apenas que, para ele, o sermão tem de ser a fiel interpretação da verdade revelada nas Escrituras, dirigida aos problemas do momento. Assim como Calvino cria na presença espiritual de Cristo na administração dos sacramentos, também cria na presença espiritual de Cristo na pregação, salvando os eleitos, edificando e governando sua igreja. Essa concepção sacramental da pregação é afirmada diversas vezes por Calvino nas Institutas. Por exemplo, ao combater o emprego de símbolos visíveis para representar a presença de Cristo no culto, ele afirma que é "pela verdadeira pregação do evangelho", e não por cruzes, que "Cristo é retratado como crucificado diante de nós" (I.11.7).
Citando Agostinho (IV.14.26), que se referia às palavras como sinais, Calvino entendia que na pregação "o Espírito Santo usa as palavras do pregador como ocasião para a presença de Deus em graça e em misericórdia. Neste sentido, as palavras do sermão são comparáveis aos elementos nos sacramentos" (IV.1.6; 4.14.9-19). Por isso, ele escreveu: "A igreja de Deus será educada pela pregação autêntica de sua Palavra, e não pelas invenções dos homens [as quais são madeira, feno e palha]".
A prioridade da pregação expositiva
Calvino escreveu: "A majestade das Escrituras merece que seus expositores façam-na evidente, que tratem-na com modéstia e reverência".
Durante quase 25 anos de ministério na igreja de St. Pierre, em Genebra, seu modelo de pregação foi o mesmo, do começo ao fim, pregando através da Escritura, livro após livro, versículo após versículo.
Uma das mais claras ilustrações de que a pregação seqüencial havia sido uma escolha consciente da parte de Calvino foi este fato: no dia da Páscoa, em 1538, depois de pregar, ele deixou o púlpito da igreja de St. Pierre, banido pelo conselho da cidade; quando retornou, em setembro de 1541, mais de três anos depois, ele continuou a exposição no versículo seguinte.
Como John Piper demonstra, no auge de seu ministério em Genebra, Calvino pregava num livro do Novo Testamento nos domingos pela manhã e à tarde (embora pregasse nos Salmos em algumas tardes) e num livro do Antigo Testamento, nas manhãs, durante a semana. Desse modo, ele expôs a maior parte das Escrituras. Ele começou sua série de pregações expositivas no livro de Atos, em 25 de agosto de 1549 e terminou-a em março de 1554, num total de 89 sermões. Depois, ele prosseguiu para 1 e 2 Tessalonicenses (46 sermões), 1 e 2 Coríntios (186 sermões) e Efésios (48 sermões), até maio de 1558, quando passou um tempo adoentado. Na primavera de 1559, começou a Harmonia dos Evangelhos, série inacabada por conta de sua morte em maio de 1564 (65 sermões). Durante a semana, naquele período, pregou 174 sermões em Ezequiel (1552-1554), 159 sermões em Jó (1554-1555), 200 sermões em Deuteronômio (1555-1556), 353 sermões em Isaías (1556-1559), 123 sermões em Gênesis (1559-1561), 107 sermões em 1 Samuel e 87 sermões em 2 Samuel (1561-1563), e assim por diante. Os livros que ele pregou do primeiro ao último capítulo foram: Gênesis, Deuteronômio, Jó, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, Profetas Maiores e Menores, Evangelhos Sinóticos, Atos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito e Hebreus. Por que este compromisso com a centralidade da pregação expositiva seqüencial? Piper sugere as seguintes espostas:
1. Calvino acreditava que a Escritura era a lâmpada que havia sido tirada das igrejas: "Tua Palavra, que deveria ter brilhado sobre todas as pessoas como uma lâmpada, foi retirada ou, pelo menos, suprimida de nós... E agora, ó Senhor, o que resta a um miserável como eu a não ser... suplicar-te sinceramente que não me julgues de acordo com [meus] desertos, aquele terrível abandono da tua Palavra em que vivi e do qual, na tua maravilhosa bondade, me livraste". Calvino considerou que essa contínua exposição de livros da Bíblia era a melhor maneira de superar o "terrível abandono da Palavra [de Deus]".
2. Calvino tinha aversão a quem pregava suas próprias idéias no púlpito: "Quando adentramos o púlpito, não podemos levar conosco nossos próprios sonhos e fantasias". Acreditava que, expondo as Escrituras por completo, seria forçado a lidar com o que Deus queria dizer, não somente com o que ele talvez gostaria de dizer.
3. Ele acreditava que a Palavra de Deus era, de fato, a Palavra de Deus e que toda ela era inspirada, proveitosa e fulgurante como a luz da glória de Deus: "Que os pastores ousem corajosamente todas as coisas pela Palavra de Deus... Que contenham e comandem todo poder, glória e excelência do mundo, que dêem lugar e obedeçam à divina majestade dessa Palavra. Que encarreguem o mundo todo de fazer isso, desde o maior até ao menor. Que edifiquem o corpo de Cristo. Que devastem o reino de Satanás. Que cuidem das ovelhas, matem os lobos, instruam e exortem os rebeldes. Que amarrem e libertem trovões e raios, se necessário, mas que façam tudo isso de acordo com a Palavra de Deus".
Como Piper destaca, a ênfase aqui é "a divina majestade dessa Palavra". Este sempre foi o assunto fundamental para Calvino. Como poderia expor, da melhor maneira possível, a majestade de Deus? Sua resposta foi dada com uma vida de pregação expositiva contínua. Não havia maneira melhor para manifestar a completa extensão da glória e da majestade de Deus do que difundir toda a Palavra de Deus no contexto do ministério pastoral.
A estrutura do sermão
James Boyce escreveu: "Calvino era antes de tudo um pregador e, como pregador, via-se a si mesmo como um professor da Bíblia... Ele considerava a pregação o seu trabalho mais importante". Cerca de dois mil dos sermões de Calvino foram preservados. Expondo parágrafos e versículos, ele seguia através de um profeta, de um salmo, de um evangelho ou de uma epístola. Como Boyce descreveu: "Ele começava no primeiro versículo do livro e tratava de seções contínuas, de quatro ou cinco versículos, até que chegava ao fim e, neste ponto, dava início a outro livro". Não havia uma palavra de discordância com as Escrituras, nem uma inferência depreciativa, nem uma fuga das dificuldades, embora ele evitasse as especulações infundadas: "Visto que revelar a mente do autor é a única tarefa do intérprete, ele erra o alvo ou, pelo menos, desvia-se de seus limites quando afasta seus leitores do propósito do autor... É... presunção e quase blasfêmia distorcer o significado das Escrituras, agindo sem o devido cuidado, como se isso fosse um jogo que estivéssemos jogando". Por isso, ele enfatizou: "O verdadeiro significado das Escrituras é aquele que é natural e óbvio". Ele renunciou tudo que pudesse trazer-lhe notoriedade, colocando toda sua formação a serviço da fé cristã.
Não é possível descobrir nos sermões de Calvino o arranjo homilético segundo as normas atuais de pregação. Em muitos casos, Calvino tomava o texto, analisava-o e aplicava-o sucessivamente durante cerca de uma hora, o que conferia à mensagem um tom livre e informal.
Como Steven Lawson nota, a introdução do sermão era curta, sucinta e direta, consistindo de um breve comentário que lembrava a congregação o que a passagem anterior dizia, colocava os próximos versículos no contexto ou mostrava o argumento central da passagem pregada, relacionando-a ao contexto da estrutura do livro que estava sendo exposto.
Por isso, pode-se perceber que há uma ordem e um arranjo lógico e um desenvolvimento progressivo nas suas mensagens. Seus sermões não são exemplos de beleza e estilo por duas razões: ele pregava sem esboço, pois tinha de pregar quase diariamente; e tinha um profundo respeito para com a Palavra de Deus, a ponto de pensar que um estilo excessivamente elaborado poderia prejudicar a clareza da mensagem.
Neste caso, a pregação sem anotações era uma reação ao costume daquela época, quando os sermões eram lidos e se tornavam frios, sem entusiasmo e sem energia. Por outro lado, de acordo com Lawson, ainda que pregasse sem anotações, seus sermões testemunham um uso impressionante de frases curtas compostas de sujeito, verbo e predicado e fáceis de assimilar, palavras simples e expressões coloquiais, figuras de linguagem, perguntas retóricas, paráfrases e repetições, ironia mordaz e linguagem instigante.
Carl G. Kromminga afirmou que Calvino viveu e trabalhou como se estivesse na presença de Deus. Por isso, o empenho de Calvino era trazer os homens à presença de Deus.
Isto é ainda mais evidente em seus sermões, que eram sempre cruciais e decisivos. T. H. L. Parker escreveu: "A pregação expositiva consiste na explanação e aplicação de uma passagem das Escrituras. Sem explanação, ela não é expositiva; sem aplicação, ela não é pregação". Por isso, Calvino escreveu que os ouvintes do sermão deveriam cultivar um "desejo de obedecer a Deus de forma completa e incondicional". E acrescentou: "Não assistimos à pregação meramente para ouvir o que não sabemos, mas para sermos encorajados a fazer nossa obrigação".
Por isso, seus sermões partiam das Escrituras para a situação concreta e presente em Genebra, incluindo exortação pastoral, exame pessoal, repreensão amorosa, confrontação, usando muitas vezes pronomes na primeira pessoa do plural.
Nem sempre Calvino usou ilustrações, e, quando as usava, elas eram raramente de fora da Escritura. No entanto, ele estabelecia comparações com o quadro da vida diária para tornar bem accessível ao seu ouvinte a mensagem da Palavra de Deus. Kromminga aponta as metáforas, as exclamações e outros recursos da oratória que contribuíram para tornar efetiva a sua mensagem.
E, na conclusão de cada sermão, ele fazia primeiramente um resumo da verdade que explicara num parágrafo curto; depois, instava de forma direta seus ouvintes a que se submetessem ao Senhor, em arrependimento, obediência e humildade.
Finalmente, ele concluía com uma oração, confiando seu rebanho a Deus.
Precisa ser ressaltado que Calvino acreditava que Paulo havia providenciado um modelo para o ministério da Palavra, quando falou sobre como ele, Paulo, não cessava de admoestar tanto "publicamente" quanto de "casa em casa". Por ter uma verdadeira preocupação pastoral por aqueles para quem estava pregando, Calvino procurou visitá-los em seus lares. "O que quer que os outros pensem", Calvino escreveu, "não julgaremos o nosso ofício como algo que possui limites tão estreitos, que, terminado o sermão, possamos descansar achando que concluímos a nossa tarefa. Aqueles cujo sangue será requerido de nós, se os perdermos por causa de nossa preguiça, devem receber cuidado mais íntimo e mais vigilante". Portanto, a pregação requer ser suplementada com uma entrevista pastoral. "Não é suficiente que, do púlpito, um pastor ensine todas as pessoas conjuntamente, pois ele não acrescenta instrução particular de acordo com a necessidade e as circunstâncias específicas de cada caso". Calvino insistiu que o pastor precisa ser um pai para cada membro da congregação.
O papel do pregador
O centro da atenção de Calvino era a vontade de Deus, era a revelação da face de Deus e o empenho em trazer o ouvinte à presença do Senhor. Ou na pregação da mais profunda doutrina, ou em algum tema ligado à vida prática, Calvino chamava continuamente os seus ouvintes à face de Deus. Em 1537, aos 29 anos, num de seus primeiros livros, Breve Instrução Cristã, ele escreveu:
Como o Senhor desejou que tanto a Sua Palavra como as Suas ordenanças fossem dispensadas ou administradas por meio do ministério de homens, é necessário que haja pastores ordenados nas igrejas, para ensinarem ao povo a sã doutrina, pública e privadamente; administrarem as ordenanças e darem a todos o bom exemplo de uma vida pura e santa... Lembremo-nos, contudo, que a autoridade que as Escrituras atribuem aos pastores está plenamente contida nos limites do ministério da Palavra, pois o fato é que Cristo não deu esta autoridade a homens, e sim à Palavra da qual Ele faz esses homens servos.
Portanto, que os ministros da Palavra se disponham a fazer todas as coisas por meio dessa Palavra que eles foram designados a apresentar.
Que eles façam com que todos os poderes, todas as celebridades e todas as pessoas de alta posição no mundo se humilhem, a fim de obedecerem à majestade dessa Palavra.
Por meio dessa Palavra, que eles dêem ordens a todo o mundo, do maior ao menor; que edifiquem a casa de Cristo, ponham abaixo o reino de Satanás, pastoreiem as ovelhas, matem os lobos, instruam e encorajem os que se deixam ensinar; acusem, repreendam e convençam os rebeldes dos seus pecados – mas tudo pela Palavra de Deus.
Se alguma vez eles se apartarem dessa Palavra, para seguirem as fantasias e invenções da sua própria cabeça, daí em diante não devem ser recebidos como pastores; ao contrário, são lobos perniciosos que devem ser postos fora! Pois Cristo estabeleceu que não devemos dar ouvidos a ninguém, exceto àqueles que nos ensinam o que extraíram de Sua Palavra.
Não será disso que necessitamos com urgência hoje? Porventura, será que não precisamos hoje de uma revitalização da mensagem ao estilo de Calvino, de modo a colocar a comunidade cristã face a face com Deus?
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- Sobre o autor: Franklin Ferreira é Bacharel em Teologia pela Escola Superior de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie e Mestre em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil. É diretor e professor de teologia sistemática e história da igreja no Seminário Martin Bucer, em São José dos Campos, São Paulo, e consultor acadêmico de Edições Vida Nova. Autor dos livros Teologia Cristã e Teologia Sistemática (este em coautoria com Alan Myatt), publicados por Edições Vida Nova, e Gigantes da Fé e Agostinho de A a Z.
sexta-feira, 28 de setembro de 2012
NEYMAR CRUCIFICADO GERA ESCÂNDALO NAS IGREJAS CRISTÃS. CNBB SE MANIFESTA PUBLICAMENTE.
A CNBB ( Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) manifestou nesta sexta-feira “profunda indignação” com a capa de outubro da revista Placar na qual o jogador Neymar aparece crucificado.
A entidade diz reconhecer o princípio da liberdade de expressão, mas que “há limites objetivos no seu exercício”.
“A ridicularização da fé e o desdém pelo sentimento religioso do povo por meio do uso desrespeitoso da imagem da pessoa de Jesus Cristo sugerem a manipulação e instrumentalização de um recurso editorial com mera finalidade comercial”, diz a nota.
“A publicação demonstrou-se, no mínimo, insensível ao recente quadro mundial de deplorável violência causado por uso inadequado de figuras religiosas, prestando, assim, um grave desserviço à consolidação da convivência respeitosa entre grupos de diferentes crenças”, prossegue.
Em entrevista ao UOL, antes da emissão da nota da CNBB, o diretor da Placar, Maurício Barros, havia dito que a intenção da revista com a imagem era questionar a posição de vilão em que Neymar foi colocado, frequentemente acusado de cai-cai, ou antiético.
- Barros havia declarado ainda que o objetivo não era comparar o jogador com Jesus Cristo.
“Acho que pode haver a comparação porque Jesus Cristo foi o crucificado mais famoso, mas a nossa analogia é com a execução, como a crucificação como elemento histórico de execução pública”, disse ele.
No entanto, o comunicado, que é assinado pelo cardeal Raymundo Damasceno Assis, arcebispo de Aparecida e presidente da CNBB e Leonardo Ulrich Steiner, bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da entidade, afirma que “a fotomontagem usa de forma explícita a imagem de Jesus Cristo crucificado, mesmo que o diretor da publicação tenha se pronunciado negando esse fato tão evidente”.
A nota termina dizendo que “isso se constitui numa clara falta de respeito que ofende o que existe de mais sagrado pelos cristãos e atualiza, de maneira perigosa, o já conhecido recurso de atrair a atenção por meio da provocação”.
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