Isvonaldo sou Protestante

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terça-feira, 23 de setembro de 2014

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Por John Frame


A maioria dos cristãos que conheço fala de providência quando algo bom e incomum lhes acontece. Alguém parece arrumar seu pneu, e você chega em seu encontro exatamente no horário marcado. Quando você teme que perderá o pagamento do seu aluguel, um cheque (com precisamente a quantia que você necessita) chega via correio. Você ora pela cura de alguém amado e um pouco depois você encontra um tratamento médico que tem sucesso, quando tudo o mais falhou. Estas coisas acontecem, e nestas ocasiões frequentemente a palavra “providência” aparece em nossas línguas.
  
Assim, providência se torna a alternativa cristã para “sorte”. Quando alguém diz “boa sorte”, alguns cristãos advertirão que não cremos em sorte, mas somente na providência de Deus. Sorte é algo impessoal, um tipo de destino ou acaso. A providência está nas mãos do nosso Deus amoroso.
  
Usar a palavra “providência” para descrever bênçãos divinas especiais e coincidentes é perfeitamente correto. Nós experimentamos tais bênçãos, e providência é tão boa quanto qualquer outra palavra para descrevê-las. Mas deveríamos estar cientes de que a definição teológica de providência é muito mais ampla do que isto. A definição de providência é, certamente, teológica. A palavra é raramente, se é que alguma vez, encontrada nas traduções portuguesas da Bíblia, de forma que o conceito de providência é, até certo ponto, a tarefa de teólogos. Estes teólogos agruparam várias idéias bíblicas sob o nome de providência, e será útil para nós olharmos para tais idéias.
  
Catecismo Menor de Westminster define providência na resposta à pergunta 11: “As obras da providência de Deus são a sua maneira muito santa, sábia e ponderosa de preservar e governar todas as suas criaturas, e todas as ações delas”. Primeiro, note que a providência de Deus é universal. Ela se estende a todas as criaturas de Deus e a todas as ações delas. Assim, Efésios 1:11 fala do Deus que “faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade”. É correto vermos a mão de Deus nas bênçãos especiais da vida. Mas é importante vermos a mão de Deus em nossas provas, dores e sofrimentos; até mesmo em nossas próprias decisões. A mão amorosa de Deus opera em tudo que acontece comigo e em tudo que faço. Assim, Paulo nos chama a sermos gratos em tudo (1 Tessalonicenses 5:18).
  
Frequentemente ouvimos que deveríamos ser gratos pela misericórdia de Deus em meio aos problemas. Mas é duro ver a mão de Deus em nossas decisões pecaminosas e ignorantes. Reconheçamos, contudo, que a mão de Deus na providência está nestas decisões também. Lembra-se que os irmãos de José o venderam como escravo? Mais tarde ele lhes disse: “Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos irriteis contra vós mesmos por me haverdes vendido para aqui; porque, para conservação da vida, Deus me enviou adiante de vós” (Gênesis 45:5) e “vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem” (Gênesis 50:20). Os irmãos fizeram uma decisão pecaminosa. Mas aquela decisão pecaminosa era parte da providência de Deus, para manter a família de Jacó viva. O relacionamento entre a providência de Deus e o pecado humano é de fato misterioso. Mas é sempre verdade que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Romanos 8:28). Não deveríamos agradecer a Deus pelo pecado, mas deveríamos agradecê-lo de todo coração por usar o pecado para promover seus bons propósitos.
  
O Catecismo também nos diz que na providência Deus “preserva” e “governa”. Governar aqui não é tanto uma metáfora política quanto é a ideia de um piloto dirigindo um navio a bombordo. Quando Hebreus 1:3 diz que Jesus “sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder”, o retrato não é tanto aquele de Atlas sustentando o mundo sobre os seus ombros, mas de um corredor de revezamento levando um bastão até a linha de chegada. O governo de Deus é um conceito dinâmico, um que dá direção à natureza e história. O progresso do mundo está se dirigindo para um objetivo, para o cumprimento de todos os propósitos de Deus no retorno de Cristo. A história não é apenas uma coisa após a outra. Ela é uma narrativa maravilhosa, que levará a uma conclusão plenamente satisfatória (algumas vezes surpreendente).

“Preservação” é outro aspecto da providência mencionada no Catecismo. Ela significa várias coisas:
  
(1) Deus preserva a existência do mundo. Sem sua permissão (e especificamente aquela de Jesus Cristo), o mundo feneceria (Colossenses 1:17).
  
(2) Deus também preserva o mundo postergando o julgamento final até seus propósitos serem completados. Assim, ele prometeu a Noé que não destruiria o mundo através de outro dilúvio (Gênesis 8:21-22). Até então, os dias e estações sucederam um após o outro de uma maneira regular. Um dia, certamente, haverá outro desastre – desta vez com fogo (2Pedro 3:7) – como nos dias de Noé, quando Deus virá no julgamento final. Entre o dilúvio e o julgamento, contudo, Deus se detém. Por que? Para dar tempo à igreja, para que esta pregue o Evangelho a todo o mundo, e dê a oportunidade para pessoas se arrependerem de seus pecados e se voltarem para Cristo (2Pedro 3:9).
  
(3) Preservação também se refere ao modo como Deus nos protege do perigo durante todas as nossas vidas. Como Deus usou o pecado dos irmãos de José para providenciar alimento para eles no Egito, assim Deus regularmente “preserva o fiel” (Salmos 31:23). Outro Salmo diz “que [ele] preserva com vida a nossa alma e não permite que nos resvalem os pés” (Salmos 66:9). Isto é o que usualmente pensamos quando usamos o termo “providência”. Ela inclui todas as coincidências preciosas às quais me referi no começo deste artigo. Deus frequentemente intervém e nos resgata, quando mais precisamos de sua ajuda. Certamente, este tipo de providência tem um limite. A menos que vivamos até o retorno de Cristo, nós todos morreremos. Mas, certamente, até mesmo então a mão de Deus nos sustenta. Se você pertence a Cristo, nem mesmo a morte pode te arrebatar da mão de Deus (João 10:29). O Senhor cumpre sua promessa de vida longa (Efésios 6:3), ultimamente, na vida eterna. E esta vida eterna começa na vida presente. Todo mundo que confia em Cristo já possui a vida eterna (João 5:24).

Assim, a providência envolve muito mais do que algumas vezes pensamos. Sim, Deus nos dá pequenas surpresas durante a vida, e é uma bênção maravilhosa saber isso. Mas a providência também se estende a tudo o que acontece. Ela abarca todo o tempo e espaço. Ela nos conduz desde a criação até a eternidade futura. Tal providência merece nosso louvor extasiado: “Aleluia! Rendei graças ao SENHOR, porque ele é bom; porque a sua misericórdia dura para sempre” (Salmos 106:1).

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Fonte: Monergismo
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto

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