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Como nossas escolhas são determinadas
Desde que nós escolhemos a opção que nós encontramos preferência, então, é claro que nossas escolhas são determinadas – elas são determinadas por nossas preferências. Mas, desde que esta é uma determinação para escolher a opção que nós queremos mais, isso não destrói de forma alguma nossa ação moral.
Tendo entendido isso, não é difícil ver como Deus pode controlar todas as coisas sem violar nossa ação moral. Ele simplesmente arranja a situação de forma que a opinião que nós encontramos maior apelo é a escolha que ele havia ordenado para fazermos. Em outras palavras, se Deus quer que escolhamos a opção A ao invés da opção B, ele trabalha as coisas para que a opção A seja aquela que nós encontramos preferência. Assim, Deus está no soberano controle, ainda que escolhamos o que nós queremos mais e estamos, então, fazendo escolhas reais e genuínas.
Mas, algumas pessoas objetam nesse ponto: “Espere um minuto. Desde que nós não somos a causa última que determina nossas preferências, como podemos sustentar responsabilidade por escolhas que necessariamente vêm dessas preferências?”.
Essa é uma boa questão, pois nos permite clarear um importante ponto: não importa que nós não determinemos nossas preferências. Tudo que importa é que nós estamos escolhendo as coisas que nós mais queremos. Em outras palavras, responsabilidade moral não depende se nossas escolhas são determinadas (causadas), mas como nossas escolhas são determinadas. Este é um ponto muito importante, então deixe-me repetir em palavras um pouco diferentes: autodeterminação não é necessária para nós sermos justamente responsáveis por nossas más escolhas e não é necessária para fazer de nossas boas escolhas genuínas. O que essas coisas levantam é que nós escolhemos as coisas que queremos.
Este fato é o que vemos nas Escrituras acima. De acordo com as Escrituras, Deus é a causa última de todas as nossas escolhas, e ainda sustenta nossa responsabilidade por nossas escolhas. Desta forma, determinismo não destrói responsabilidade moral. Um não necessita do poder de autodeterminação necessariamente para ser moralmente responsável por suas ações. Além disso, as Escrituras parecem ensinar compatibilismo, que argumenta que nossas escolhas são genuínas simplesmente porque nós estamos fazendo o que é concordável para nós.
Não apenas é o compatibilismo assumido e ensinado nas Escrituras, como também consistente com o senso comum. Nosso próprio senso comum mostra que tão logo nós estamos escolhendo de acordo com nossas preferências, nossa ação moral não é destruída em nenhum grau. Quem poderia honestamente dizer: “minha escolha de dar dinheiro ao pobre não foi genuína porque eu estava fazendo a opção que minha preferência indicava”?! Iria um juiz perdoar o criminoso que disse: “você não pode me responsabilizar por meu crime porque eu queria fazer isso! Na verdade, eu queria tanto fazer que eu não poderia ter feito de outra forma”? Claro que não! O criminoso poderia realmente compor sua culpa pelo fato que ele queria muito fazer isso, não eximir-se disso.
Então, é perfeitamente aceitável ao senso comum, mesmo apesar de todas as nossas escolhas serem pré-determinadas, que elas são genuínas e nós podemos arcar com a responsabilidade por elas, porque elas são as escolhas que nós consideramos mais razoáveis a serem feitas. É importante reconhecer, porém, que Deus não faz uma escolha pecaminosa ser razoável da mesma forma que ele faz com as boas escolhas serem razoáveis. Deus causa as boas escolhas por uma ação positiva, mas está por trás do mal por meios de causa negativa. Qual a diferença?
O sol causa o dia na terra pela produção de luz. Isso é o quero dizer por causa positiva. Deus causa o bem por produzir o bem. Deus causa o bem pela produção da bondade no coração de alguém, e, assim, isso é sua causa positiva. Mas, exatamente como a escuridão da noite não é algo que é produzido pelos raios solares – mas, ao invés disso, é causado por sua ausência – de igual modo, Deus direciona os desejos maus no coração de uma pessoa retendo sua graça em restringir até o nível que eles desejam pra fazer o que Deus havia ordenado. Nós devemos afirmar com veemência que Deus não tenta a ninguém (Tiago 1.13) porque ele não produz os desejos pecaminosos no coração de uma pessoa, mas determina e os controla por meio das circunstâncias e o grau ao qual ele segura sua graça sobre o coração da pessoa. Além do mais, humanos nascem em pecado. Então, a causa negativa que Deus pratica é simplesmente fazer com que nós ajamos de acordo com nossa própria natureza. Desse modo, Deus não pode ser culpado por pecar porque ele controla o mau por meios de causa negativa – ele direciona isso pela ausência da boa preferência, não pela produção do mal.
John Piper dá uma conclusão para o caminho que Deus traz as preferências (motivação) para causar as ações das pessoas: “sempre tenha em mente que tudo que Deus faz ao homem – seu comando, seu chamado, seu aviso, sua promessa, seu lamento sobre Jerusalém – tudo é sua forma de criar situações que funcionarão como motivos para aliciar os atos de desejo que Deus havia ordenado para virem acontecer. Dessa forma, ele é a causa última que determina todos os atos e volições (apesar de nem todos serem da mesma forma) e ainda responsabiliza o homem apenas por aqueles atos que eles querem mais fazer”.
Para resumir, nossa responsabilidade moral não depende do se nossas escolhas são determinadas, mas depende de como elas são determinadas. Tão logo nossas escolhas são causadas pelos nossos desejos e motivos razoáveis, elas são atos responsabilizáveis. Desde que Deus controla nossas escolhas pelo controle de nossas preferências, sua soberania não viola nossa ação moral. Além do que, enquanto Deus é a causa última das coisas, ele está por trás do bem e do mal de formas diferentes. Deus controla as circunstâncias e o grau de sua graça para trazer à tona as preferências que irão aliciar as escolhas que ele havia ordenado. A falácia do Arminianismo é em pensar que não se pode responsabilizar por algo, a menos que isso seja um ato inteiramente livre e não determinado.
Considerando algumas objeções
Nós escolhemos nossas preferências? Talvez um Arminiano irá admitir que nós escolhemos de acordo com nossas preferências, mas, então, objetaria que aquelas preferências são, por si mesmas, resultados de nossas escolhas. Essa objeção, porém, é ilógica. Preferências devem, em última instância, serem dadas e não escolhidas. Por que? Porque se nós podemos escolher nossas preferências, nós teremos de perguntar: “Como nós escolhemos aquelas preferências em particular e não as outras?”. Se foi por um ato de escolha, isso apenas leva a um passo adiante: não deveria aquela escolha por si mesma ter sido baseada sobre uma preferência também? Então, não deveriam aquelas preferências também serem escolhidas baseadas sobre outras preferências? Como você pode ver, isso iria resultar num ciclo vicioso, sem jamais encontrar a primeira causa.
Por outro lado, se nós não obtemos nossos desejos por atos de escolha, então, essas preferências não tinham causa (o que nós já vimos ser impossível), ou ainda, eles seriam, então, um resultado último da predestinação do plano de Deus – o que nos traria de volta para a visão calvinista.
Além disso, é importante entender que nós não fazemos algo preferível a nós. Nós não escolhemos nossas preferências. Particularmente, elas são, em última instância, trazidas à tona por Deus por meio das circunstâncias, nosso caráter, e outras coisas. Por exemplo, eu estudo para o teste umas poucas semanas atrás porque isso era mais razoável para mim que não estudar. Agora, eu não fiz "estudar" ser a coisa mais razoável. Particularmente, eu considerei a situação e reconheci que estudar era a coisa mais apelativa para mim. Como um resultado, eu escolhi estudar. Claramente essa era uma escolha genuína. Todavia, isso era também causa determinada (e assim não poderia ter sido de outra forma) por que eu necessariamente escolho a opção que eu encontro mais razões. Então, tanto o determinismo quanto à responsabilidade moral são compatíveis.
Qual função nosso caráter e as circunstâncias têm em nossas escolhas? Como vimos anteriormente na citação de John Piper, a resposta parece ser que Deus usa a eles para trazer a tona nossas preferências. Assim, num nível secundário, nossas preferências são um resultado de nosso caráter e da presente circunstância. Em outras palavras, o tipo de coisas que preferimos depende do tipo de pessoas que somos. Porque nossas preferências estão de acordo com quem nós somos, elas são genuinamente nossas preferências.
Nós escolhemos nosso caráter? Se alguém objeta que nós escolhemos nosso caráter (e então, em última instância, nossos desejos), eu respondo que enquanto nós podemos e realmente afetamos nosso caráter pela escolha, isso é completamente contraditório pensar de nossas vontades como a causa última de nosso caráter. Nosso caráter não é algo que existe independentemente de nós, ele é nós. Além disso, na ordem de escolher nosso próprio caráter, nós precisaríamos existir, na verdade, antes de nós existirmos.
Isso nos traz a outra importante verdade. Por criar você, Deus determinou seu caráter. Desde que nosso caráter num grande nível determina as preferências que temos, Deus num grande nível determina as coisas que nós escolheríamos porque ele, em última instância, planejou nosso caráter. Alguém poderia dizer que Deus nos trás à existência, mas de tal forma que ele não determina nosso caráter. Mas “como Deus pode trazer X à existência sem através disso definir X, que irá ser determinante de como isso irá funcionar? Se Deus não o definiu controlando sua natureza, em que sentido Deus trouxe X à existência (particularmente, então, não-X)?”.
A possibilidade que Deus freqüentemente direciona nossos desejos direcionando nosso caráter deve também nos ajudar mais tarde, a ver a consistência entre a soberania divina e a responsabilidade humana. Como vimos anteriormente, seu caráter não é algo que existe separado de você. Isso não é uma rede que jogam sobre você. Antes, isso é você. Obviamente, você não pode ser livre de você mesmo. Suas preferências (deste modo, escolhas) são verdadeiramente suas e são genuínas porque elas estão de acordo com quem você é. A soberania de Deus no mínimo não muda isso, mas, particularmente, parece trabalhar através disso e, então, preserva a responsabilidade moral. O único caminho para escapar da soberania de Deus seria escapar de ser uma criatura. Deus, o criador, é sempre soberano sobre o que ele cria porque, na criação, ele determina o plano e forma disto trabalhar.
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Continua nos próximos dias...
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Fonte: The Consistency of Divine Sovereignty and Human Accountability
Tradução: Rev. Ricardo Moura Lopes Coelho
Revisão: Ruy Marinho
Revisão: Ruy Marinho
Divulgação: Bereianos
Leia também:
A Consistência da Soberania Divina e da Responsabilidade Humana 1/3
A Consistência da Soberania Divina e da Responsabilidade Humana 3/3 (em breve)
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