Isvonaldo sou Protestante

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quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Na Confissão Positiva, nada é por acaso.




Thiago Lima Barros


Caso não se arrependam, ou não tenham se arrependido em vida, os grandes corruptores da fé cristã (Essek Kenyon, Kenneth Hagin, Benny Hinn e Cia. ltda.) ouvirão de Cristo o já conhecido “apartai-vos de mim”. Quando isso acontecer, eles verão que de Deus, realmente, não se zomba, pois se há uma coisa pela qual Ele preza é pela sua soberania sobre tudo e todos, conforme registrado em Sua Palavra.

O “quadrado tenebroso” da teologia da mágica gospel – Confissão Positiva, Teologia da Prosperidade, Batalha Espiritual e Quebra de Maldições – no afã de elevar o ser humano ao controle de todas as situações possíveis e imagináveis, faz de tudo para negar o senhorio divino, reduzindo o Criador, em suas alucinações, éclaro, a um reles fantoche em suas mãos pecadoras, obediente a comandos risíveis (ordeno, determino, profetizo, tá amarrado, tomo posse...) e “atos patéticos”.

A sensação que me fica é de nada disso surgiu meramente de uma leitura equivocada das escrituras ou, no caso de Hagin, de alegados “revelamentos” hauridos de idas e voltas habituais ao Céu e ao Inferno. Parece mesmo a criação deliberada de uma doutrina para-cristã, pois a leitura cuidadosa de algumas das bases doutrinárias desses heresiarcas, mesmo não guardando semelhanças perceptíveis, aponta para essa emasculação do poder da Trindade. Aliás, esse foi um dos pontos que favoreceu a adesão maciça à magia branca cóspel, pois eles não têm uma estrutura eclesiástica centralizada, e muito menos uma construção doutrinária sistêmica, valendo-se de livretos superficiais, de fácil leitura e sem embasamento bíblico, a maioria escrita por Hagin e Hinn, para propagarem seus ensinos mentirosos.

Hagin na capa da famosa "palavra da fé"
O exemplo que cito neste artigo é dos mais batidos: a grossa e deslavada mentira que dá conta de uma suposta descida de Jesus ao Inferno, entre a Crucificação e a Ressureição, para ser torturado por Satanás e suas hostes, a fim de supostamente pagar a pena imposta pelos nossos pecados, e que inclui uma triunfal reviravolta, com Jesus virando o jogo e tomando supostas chaves das mãos do Diabo, com o propósito de libertar a humanidade da sentença de morte que havia sobre ela. Tão fundamental é esse ensino para os falsos profetas da Confissão Positiva, que uma das mais conhecidas discípulas de Hagin em nosso país, a cantora mineira Ana Paula Valadão (cujo irmão, André, estudou no Rhema Bible Training Center, fundado por Hagin em Tulsa, Oklahoma, EUA), compôs uma música que o expressa de maneira patente, denominada, ironicamente, A Vitória da Cruz (confira a letra anti-bíblica de Valadão).

Ora, pensaria o heresiarca, se um mal deve ser cortado pela raiz, então o “mal” da soberania de Deus deve ser abatido no nascedouro, e assim as pessoas acreditarão mais no seu próprio poder! E fazer isso negando ou mitigando a eficácia do sacrifício de Jesus terá um efeito devastador sobre Deus (é ou não é para rir de uma patacoada dessas?). Sim, pois a majestade de Cristo, mesmo exaurido de suas forças e dilacerado pelos ungulae e lanças romanos, se revela quando ele proclama: “Está consumado”! Omitir esse dado da exegese do texto, pensaram, teria o efeito de tornar o Filho do Homem um mero joguete nas mãos de Satanás, e deixar a estrada livre para o primado da fé na fé, e não em seu Autor e Consumador.

Mas a mentira cai por terra quando se lê a Palavra de Deus. Glosando Renato Vargens (ele põe essa frase em 11 de cada 10 posts de seu blog, risos), “como costumava dizer o reformador João Calvino, o verdadeiro conhecimento de Deus está na Bíblia, e ela é o escudo que nos protege do erro”. Lucas 16:19-31 nos mostra que havia uma proximidade física entre os destinos dos que morriam com ou sem Deus: os primeiros iam para o Seio de Abraão, ou Paraíso; os segundos, para o Inferno (gr.: hades; hb.: sheol). E havia um grande abismo separando esses locais (v. 26), apesar de a comunicação verbal ser possível.
Confira na imagem acima a inspiração da logomarca de Valadão
Lúcifer jamais esteve em nenhum desses dois compartimentos. Segundo o texto sagrado, ele é o príncipe das potestades do ar (Ef. 2:2), o que sugere que ele habita ao redor da nossa atmosfera, sondando oportunidades para agir em desfavor dos homens (Jó 1:7). Como, então, ele e suas legiões estariam no mundo dos mortos para torturar o Filho de Deus?

O relato feito por Pedro em sua primeira epístola (3:19-20) fecha o cerco. Jesus, como homem, cumpriu as ordenanças que Ele mesmo, como Deus, havia determinado. Se Ele mesmo profetizara que desceria por três dias e três noites ao seio da terra (Mt. 12:40), assim ele o fez, mas não para ser torturado. Ele foi para lá para anunciar que a salvação, pela qual os fiéis que criam em seu advento esperavam, fora finalmente consumada! Sim, pois se a nossa alma e espírito ficam em estado consciente após a morte, quanto mais os do Príncipe da Paz? Afora isso, o Senhor também se dirigiu especificamente aos que foram descrentes nos dias de Noé e do dilúvio. Um ser torturado, “apegando o verminoso”, nas palavras blasfemas de Kenneth Copeland, teria tamanha autoridade? É evidente que não.

Tancredo Neves, mineiríssimo como o pão de queijo e a família Valadão, dizia que, quando a esperteza é muita, fica grande e come o dono. E é o que ocorre com os tupiniquins seguidores das doutrinas espúrias de Hagin e assemelhados. Pensavam que todos engoliriam suas esparrelas com aparência de piedade – até porque, convenhamos, o final da historinha a que nos referimos é um climax perfeito para os triunfalistas. É óbvio que milhões de pessoas no globo, principalmente na África e América Latina, aderiram a esse concílio de morte. Porém, a fé da verdadeira Igreja é uma só: Jesus não veio para se sujeitar Diabo, mas sim para destruir as obras dele (I Jo. 3:8), o que, convenhamos, é muito mais glorioso.

E pouco nos importam os milhões que estão com Macedo, R.R. Soares, Valdemiro, Valadões e assemelhados: minoria com Deus é maioria. No recente entrevero envolvendo o capo da Universal e a prima donna da Lagoinha, assistimos a uma briga do sujo com o mal-lavado, em que os fâs dos dois contendores se atracaram, sem saberem que, na verdade, essa era uma guerra dentro da mesma facção (Hagin deve estar se revirando no túmulo!). O Nosso Deus, por sua vez, vê no imbróglio uma oportunidade para mostrar, mais uma vez, a diferença entre o justo e o ímpio, entre o que serve a Ele e o que não serve (Ml. 3:18).

Pra terminar, se eu fosse analisar os scripts elaborados por Deus e por Hagin, eu não vacilaria um instante em escolher o primeiro: é muito mais épico e glorioso. O roteiro do heresiarca ianque cheira a canastrice do começo ao fim!

Portanto, joguemos no lixo as doutrinas espúrias das estrelinhas góspeis e fiquemos com a boa e nova Palavra de Deus.



Thiago Lima Barros, diácono, funcionário público, concurseiro, dublê de teólogo e de crítico de cinema, é colaborador do Genizah

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