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Por Rev. Heber Carlos de Campos
Compatibilismo defendido
Não podemos entender exatamente as relações entre as duas grandes verdades até aqui ensinadas. Não conhecemos bem a Deus, porque a sua essência escapa ao nosso entendimento, pois ele é supremamente transcendente, indo além das limitações do espaço e do tempo, que são eminentemente categorias da criação. Todavia, quando ensinamos o compatibilismo nós reduzimos em muito a dificuldade de tentar explicar o inexplicável em Deus, porque não podemos compreender Deus. Não sabemos explicar como um Deus bom usa as suas criaturas, ou causas secundárias, para fazer as coisas moralmente más. Não cabe a nós explicar essas coisas no seu sentido mais profundo, mas cabe-nos afirmar a necessidade do compatibilismo, pois ele está evidente nas Escrituras. Ele nos ajuda a conciliar verdades que são irreconciliáveis porque não podemos compreender a natureza divina.
Todavia, o compatibilismo é negado em vários círculos de pensamento. Freqüentemente são sinergistas os que negam o compatibilismo porque este tenta juntar duas coisas que por si mesmas, na conta dos sinergistas, não podem ser juntadas.
Os que crêem no chamado “livre arbítrio” não vêem possibilidade de compatibilismo, justamente por causa do seu conceito de liberdade, que implica necessariamente na possibilidade que todos os homens ainda possuem de escolha contrária, não importando a natureza que possuem. A soberania divina ensinada pelos reformados, segundo eles, torna os seres humanos marionetes, eliminando o livre-arbítrio que tem a ver com o poder de escolha contrária, isto é, com a capacidade de fazer algo que é contrário à natureza do homem. Quem crê no livre arbítrio se opõe ao compatibilismo, porque o conceito de liberdade ensinado pelos sinergistas impõe limitação à soberania divina do modo como a entendemos.
Os que crêem no chamado “livre arbítrio” não aceitam o compatibilismo por causa do seu conceito de presciência. A presciência, segundo eles, é a capacidade que Deus tem de antever os atos futuros que os seres humanos farão e, com base nesse conhecimento antecipado, faz as suas determinações. Portanto, a escolha divina está baseada no conhecimento que ele tem das cousas futuras que os seres humanos farão livremente. Eles tomam o texto de Romanos 8.29 e fazem com que Deus seja conhecedor de antemão dos atos dos homens, quando o texto diz que Deus conhece de antemão pessoas, não coisas que elas haveriam de fazer, como fé ou arrependimento. Esse tipo presciência tira de Deus a absoluta soberania dele, porque ele fica dependendo dos atos futuros dos homens para selar o destino deles. Uma soberania condicionada à vontade futura do homem. Neste caso, o compatibilismo cai por terra porque afirma a liberdade que o homem tem de escolher livremente no futuro, mas nega a determinação soberana dos atos divinos.
O compatibilismo deve ser defendido por todos os genuínos cristãos porque ele está contido nas Escrituras nos muitos exemplos que ainda vamos estudar. Carson afirma de maneira firme que devemos ver “não somente que o compatibilismo em si mesmo é ensinado na Bíblia, mas que ele está ligado intimamente à natureza de Deus; por outro lado, sou direcionado a ver que minha ignorância a respeito de muitos aspectos da natureza de Deus é precisamente a mesma ignorância que me instrui a não seguir os caprichos de muitos filósofos contemporâneos que negam que o compatibilismo seja possível.”
Compatibilismo exemplificado
O aspecto mais notável dos textos que vamos analisar abaixo, é que eles mostram evidentemente que em nenhum ponto o agente humano é descartado de sua responsabilidade pelo fato de Deus estar por detrás de cada ato do homem. Não há como fugir de um compatibilismo sadio, que faz justiça aos textos da Escritura.
Há uma tremenda base bíblica para o compatibilismo que estuda a ação cooperativa de Deus com os homens, em todos os atos, obedecendo a seguinte ordem:
Atos bons dos homens bons
Atos bons dos homens maus
Atos maus dos homens bons
Atos maus dos homens maus
Fonte: O Ser de Deus e as suas obras: A Providência e a sua realização histórica. Heber Carlos de Campos. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, págs. 205-206.
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