Isvonaldo sou Protestante

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sábado, 12 de julho de 2014



Por Priscila Dâmaso

TEXTO BASE: Gálatas 5:16-26

Introdução

Nesta parte da carta que Paulo escreve aos cristãos da igreja da Galácia, ele mostra o grande contraste que existe entre quem vive na carne e quem vive no espirito. Sabemos que aquele que se diz “cristão” é nascido do espirito, como o próprio Senhor Jesus relata a Nicodemos no texto de João 3:5-6:

Em verdade, em verdade vos digo: quem não nascer da água e do espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; o que é nascido do Espírito é espírito.

Desse modo, como identificamos se somos nascidos do Espirito?

Através do fruto descrito nesse texto que vamos analisar podemos identificar se somos nascidos de novo. Uma coisa é clara nesse texto – aqui o fruto do espirito é único. Muitos acham que as atitudes descritas sobre este fruto são individuais, que se você tem um ou outro você é nascido de novo. Não, irmão! Não se iluda! Todos os elementos compõem um único fruto. Leia atentamente e você perceberá que a palavra fruto está escrito no singular, e não no plural. Vemos descrito o fruto do espirito, e não os frutos do espirito.

Explanação

Sendo assim, vejamos, então, cada uma das partes deste fruto contidas em Gálatas 5.22 e, com isso, façamos uma introspecção para entendermos a nossa posição diante de Deus.

1. Amor (Afeição profunda; afeição à pessoa ou objetos; paixão; entusiasmo)

A palavra grega “ágape”, traduzida por amor, inclui o amor a Deus e ao próximo. Paulo o coloca como o primeiro fruto por causa de sua força e importância, pois se refere aos dois principais mandamentos que o Senhor nos deixou: Amarás ao senhor teu Deus e ao próximo como a ti mesmo.

O amor gera em nós todos os outros elementos incluídos no fruto. Claro que, nos dias de hoje, o amor não tem mais a sua honra e o seu devido valor. O amor de hoje é impuro, egoísta e interesseiro, mas, para os filhos de Deus, o amor não pode perder o seu significado real, e a prática desse amor tem que ser de uma forma santa.

O amor relatado aqui pelo apóstolo Paulo, como o primeiro fruto, é um contraste notório com o amor carnal. No versículo 19 vemos que o primeiro fruto da carne é a prostituição. O amor do ímpio é assim – prostituído, sem valor e sem decência, inundado pelo pecado. O amor do cristão tem que ser diferente, pois essa é uma forte evidência de que este alguém é amado por Deus e é nascido de novo.

Quem ama a Deus crê em seu filho como único salvador e mediador, segue sua verdade e a prática. Este tem prazer de ir à casa do Senhor para adorá-lo, ama a comunhão, tem intimidade com Deus, busca a verdade e foge de heresias. Quem ama seu próximo oferece ajuda quando este precisa, perdoa, se compadece e é amigo, independente do que o outro possa lhe oferecer. Chora com ele e também se alegra, anda mais uma milha, levanta quando este cai e sempre tem uma palavra de consolo para oferecer ao abatido. Quem possui amor pratica tudo o que está escrito em 1 coríntios 13.

O amor do mundo é imoral, obsceno, impuro e sensual; trata com injustiça e violência; é um amor covarde e traiçoeiro que não pensa no outro, mas, sim, em satisfazer a si mesmo. É o contrário de tudo que é bom.

2. Alegria (Contentamento, júbilo; regozijo)

Como o próprio significado da palavra deixa claro, a alegria, aqui mencionada, é um contentamento em Deus. Quem ama a Deus demonstra regozijo pela sua verdade.

A palavra grega para alegria é “chara”, que é fundamentada em um consistente relacionamento com Deus. Esta alegria de forma alguma está relacionada a um triunfalismo pregado em muitas “igrejas ditas evangélicas” que vemos por ai, principalmente em “igrejas” neopentecostais, que infunde na mente dos membros que, para se ter alegria em Deus, você precisa alcançar bens materiais, como casa, carro, dinheiro etc.; ou então, para você ser feliz em Deus, você tem que ser uma pessoa saudável e cheia de vida. Irmão e irmã, isso é uma mentira de satanás para tornar os homens miseráveis, pois aquele que espera Cristo somente nessa vida é o mais miseráveis de todos os homens (1Cor 15.19).

A alegria mencionada por Paulo é um gozo em Deus. É um prazer único em Deus e em sua verdade. Nos momentos de tristeza e lutas, a alegria do Senhor é a nossa força (Ne 8: 10d). Isaias 12:3 mostra que das fontes da salvação tiraremos agua com alegria. Como diz o rei Davi: Então, irei ao altar de Deus, que é minha grande alegria (Salmo 43:4).

2. Paz (Tranquilidade, sossego, descanso)   

A palavra paz, no grego “eirene”, refere-se fundamentalmente a uma paz com Deus. Essa paz foi conquistada por Cristo na cruz. É uma paz que o mundo não pode nos dar. Quem possui essa paz descansa em Deus em meio às tribulações da vida; confia que o Senhor está na direção e que sabe o que é melhor. Possui a tranquilidade de que um dia habitara num reino governado por um Rei justo e que, nem a morte, nem a vida, nem anjos e principados e nem potestades, nem o antes nem o porvir... nada pode nos separar do Amor de Deus que está em Cristo Jesus (Rm 8: 38-39).

Estes três primeiros elementos que compõem o fruto do espirito estão diretamente ligados a Deus e a nossa relação com Ele. O três a seguir: Longanimidade, benignidade e bondade estão ligadas ao nosso relacionamento com o próximo.

3. Longanimidade (Firmeza de ânimo; coragem)

A palavra grega “makrothumia significa longanimidade; refere-se a alguém que tem ânimo espichado, ou, como dizem na linguagem popular – alguém com pavio longo. Uma pessoa longânime é tardia em irar-se. Não pensa em vingança mesmo se houverem possibilidades. Não se abala com as investidas do diabo. Não se derrete com as tribulações da vida, pelo contrário, se mantêm firme e constante, pois possui sua vida fundamentada em Cristo.     

Quando alguém lhe faz o mal, a pessoa longânime não paga na mesma moeda, pois ela tem facilidade em perdoar, haja vista que possui um espírito reto. Por amar a verdade de Deus, a defende, e por ser assim, é um ótimo (a) apologista.

4. Benignidade (Bondade; brandura)

Uma pessoa benigna é considerada uma pessoa branda, suave. Suas palavras são temperadas pelo espirito de Deus. Não usa um linguajar obsceno e nem torpe. Suas atitudes revelam sua doçura e seu caráter revela o amor de Deus.

No grego, a palavra “crestotes”, que traduzida significa benignidade, revela um tipo de pessoa gentil e bondosa com os outros. Uma pessoa benigna sempre age de forma misericordiosa. O benigno não age com bondade só com os seres-humanos; a sua compaixão e amor se estende sobre toda a criação de Deus – animais, plantas, terra e todo ser vivo. Paulo, em sua carta aos Efésios, diz: Antes, sedes uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo Jesus, vos perdoou (Ef 4:32).

5. Bondade (Qualidade do que é bom; boa índole)

A pessoa considerada bondosa age de forma honesta, é verdadeira, pura e justa. Suporta algumas injúrias com paciência e mansidão. Mesmo sendo pecador consegue agir de forma correta e não dá mau testemunho. Uma pessoa benigna também corrige, disciplina e exorta por amor ao próximo.

A palavra bondade, no grego “agathosyne”, possui um princípio energizante. Trench diz que Jesus usou essa palavra quando purificou o templo expulsando os que estavam transformando o Templo de Deus em um mercado. Porém, mais tarde, usou “crestotes” (benigno) com a mulher que ungiu seus pés, pois manifestou com esta uma atitude amável.1 A pessoa que manifesta bondade em suas atitudes não faz somente a outras pessoas, mais faz bem a si mesmo como está escrito em provérbios 11:17.

6. Fidelidade (Lealdade)

É tão bom conhecer alguém fiel. O fiel é alguém que podemos confiar sempre. Alguém que é amigo e confidente, que te apoia nos seus objetivos quando estes são para o seu bem e te repreende quando está errado. O fiel é benigno, bondoso, amoroso, longânime, transmite paz, é manso, possui domínio sobre seu sentimentos e emoções e é alegre.  

Alguém assim não é fiel somente ao seu próximo; antes, é fiel primeiramente a Deus e a sua palavra. Pode o mundo desabar que ele continua com a sua fé inabalável. Pode ser comparado ao servo João que seguiu ao Senhor Jesus até ao seu calvário. A própria palavra grega “pistis”, traduzida por fidelidade, significa fé, que é o nosso firme fundamento que nos mantêm no caminho em direção a Deus. A fidelidade depende da fé, não age de forma individual.

Devemos seguir a fidelidade de Jó, que mesmo diante de tanta dor, em momento algum, blasfemou contra seu Senhor. Ele era fiel no muito e também no pouco. Existem vários exemplos na palavra de Deus em que podemos nos apoiar para nos tornamos fiéis, como: Moisés (Nm 12: 17); Davi (1Sm 22:14); Hananias (Ne 7:2); Daniel (Dn 6:4) dentre outros.

7. Mansidão (Qualidade de manso; índole pacifica)

A palavra grega “prautes”, que traduzida significa mansidão, nos passa um ar de uma dócil submissão. Uma pessoa mansa, por mais que ela tenha inteligência, poder ou status, se mantêm humilde e nunca abusa das qualidades que possui. É como se fossemos cães ferozes domesticados pelo Espírito. O manso de espírito têm facilidade de se submeter. Mesmo quando tem razão tenta de forma pacifica mostrar seu ponto de vista, e mesmo que o outro não concorde, não age de forma arrogante ou obstinada. Este tipo de mansidão nos leva a se submeter a vontade de Deus. Segundo Donald Guthrie, esta qualidade não é natural e precisa ser cultivado pelo Espírito Santo. O desenvolvimento da mesma nos leva a harmonia e não a discórdia.2 John Stott nos diz que esta mansidão é aquela atitude de humildade que Cristo tem (Mt 11:29; 2Co 10:1).3

8. Domínio Próprio (Autocontrole)

A palavra grega “egkrateia” significa autocontrole, domínios dos próprios desejos. Uma coisa que pega o Cristão são o desejos sexuais. Talvez esta seja uma das coisas mais difíceis de conseguirmos controlar. Ter domínio sobre seus desejos e ações requer a intervenção do Espirito, pois, sem isso, digo que impossível dominar a fera que somos. É muito difícil domar nossos instintos. Se alguém fala algo que não nos agrada, logo já queremos partir para agressão.

Quando estamos solteiros e passa uma mulher ou um homem atraente, logo olhamos com cobiça e daí vem os pensamentos pecaminosos. E quando os hormônios do nosso corpo começam a gritar e nos levam a assistir sites pornográficos para acalmar a agitação dentro de nós? Quando passamos por momentos de tribulação, nossa mente já nos induz a trair nosso cônjuge. Quando passamos por dificuldades, já pensamos em encher a cara nos embriagando.

Irmão e irmã, se não tivermos domínio sobre nossa mente e corpo, pecaremos contra Deus de todos os modos. Talvez este seja o elemento do fruto mais difícil de alcançarmos, mais não é impossível. O Próprio Senhor Jesus, em sua natureza humana, foi tentado de todas as formas e não caiu em nenhuma delas. Que possamos usá-lo como nossa fonte de motivação.

Conclusão

Depois da analise a respeito do Fruto do Espirito, percebemos o porquê devemos nascer de novo. Se somos filhos de Deus, temos o seu “DNA”. E qual seria, então, o seu “DNA”? O fruto do Espirito!

Todos os elementos que formam o fruto mencionado em Gálatas fazem parte do caráter de Deus. Ele é perfeito em todos eles, e por sermos filhos de seu amor através de cristo precisamos ter o caráter semelhante ao de nosso Pai.

Nós somos a bíblia do ímpio. Muitas vezes, o mundo observa nossas atitudes diante de diversas situações. Ele vê a diferença ao praticar as coisas que, para este mundo caído, não são normais. Amar quem nos persegue, bendizer quem nos maldiz, perdoar uma traição, praticar atos de justiça, dar a outra face, submissão são loucuras para aqueles que não conhecem a Deus.

Sabe por que não conseguimos todas as partes do fruto? Porque o nosso amor é imperfeito! Se ao ler esse texto você percebe que falta uma dessas coisas mencionadas, não se apavore! Busque em Deus aquilo que te falta. O Fruto do Espirito é completo, e todos os seus pedaços estão perfeitamente enraizados. Um depende do outro. Busque aperfeiçoar aquelas qualidades que você tem mais dificuldade e se esforce em praticá-las. Assim, o mundo vai ver que você é um amado de Deus.

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Notas:

Hernandes Dias Lopes. Gálatas, pág 250.
Donald Guthrie. Gálatas, pág 180.
John Stott. A mensagem de Gálatas, pág 135.
  
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Fonte: Bereianos

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