Por Rev. Paulo Ribeiro Pontes
Tenho observado com alegria a participação de cristãos no debate político ora em curso no país. Muito embora a participação de alguns esteja limitada tão somente à militância partidária e ideológica, alegra-me o fato de que alguém queira trazer a perspectiva cristã para o debate. Afinal de contas o sonho de um país melhor, sem violência e sem corrupção; o sonho de uma sociedade mais justa e fraterna é um sonho de todos: cristãos e não cristãos.
Mas sendo ano eleitoral, a tensão está alta e a tendência, a meu ver, é que o tom do debate suba ainda mais depois da Copa. E o meu receio é o de que nós, os cristãos, saíamos do debate piores do que entramos e que a nossa contribuição para a expansão do Reino seja pífia. Como o debate já está se polarizando de maneira maniqueísta entre direita e esquerda, isto pode nos levar a uma participação cristã no debate ancorada apenas numa esperança intramundana e não numa esperança que penetra além do véu (Hebreus 6.19).
Todos querem a cura para os nossos males. Todavia há quem ancore a sua esperança de cura numa sigla partidária, numa ideologia ou num programa de governo. Outros são mais específicos e acham que a cura virá por meio da educação, da tecnologia ou de uma descoberta científica qualquer. Eu me lembro de como o mundo assistiu pela televisão, no dia 20 julho de 1969, o primeiro homem pisando na lua. Foi um feito tão incrível que muitos tiveram dificuldades de acreditar que o homem tivesse mesmo pisado na lua. E muitos se encheram de esperança. Como afirmou Neil Armstrong ao dar os primeiros passos sobre a superfície lunar: "Este é um pequeno passo para um homem, mas um grande salto para a humanidade". O homem pisar na lua foi, sem dúvidas, um acontecimento impressionante e que encheu de esperança a muitos. Entretanto, a esperança que move o cristão está num fato muitíssimo mais impressionante: o Criador do universo, pisou na terra.
Devemos nos lembrar de que estamos encapsulados dentro de uma realidade que ficou totalmente comprometida pelo pecado. Toda criação está sujeita a vaidade (Romanos 8.20) E tudo dentro da realidade criada traz em si a marca do pecado. Portanto qualquer esperança que seja apenas intramundana estará fadada à frustração. Parafraseando o Eclesiástes, dentro da capsula tudo é vaidade e correr atrás do vento. Toda solução que procede somente de dentro da realidade criada será fútil. Toda e qualquer esperança nascida dentro da capsula resultará em frustração. Podemos até experimentar melhoras aqui e acolá. Mas a solução definitiva não será derivada de dentro da capsula. Ele terá que vir de fora. E esta é a peculiaridade da esperança cristã que está ancorada além do véu.
A esperança do cristão está no fato de que Deus mesmo, o Criador do universo, invadiu pessoalmente a história humana. Há mais de dois mil anos nasceu um menino em Belém da Judéia. Seu nascimento foi diferente de todos os outros antes ou depois do dele. Sua mãe era uma virgem que, pelo poder de Deus, engravidou sem que tivesse tido relações sexuais. Portanto, Jesus Cristo veio a este mundo por meio de um milagre biológico. Este fato aponta para o paralelo existente entre Adão e Jesus Cristo (Romanos 5.12 – 21, 1 Coríntios 15.45). Todas as pessoas nascidas no mundo nascem de maneira ordinária, do concurso de um pai e de uma mãe. As duas exceções são Adão e Jesus Cristo. Ambos entraram na história de maneira extraordinária. Ao criar Adão, de maneira extraordinária, Deus deu início à história humana, que posteriormente foi corrompida pelo pecado. E todos que nasceram a partir de Adão nasceram para o pecado e para a morte, porque o pecado e a morte passaram a reinar dentro da esfera criada. Mas lá em Belém, por meio do nascimento extraordinário de Jesus Cristo, Deus começou um projeto “novo” que a Bíblia chama de nova aliança, por meio da qual uma nova criação está vindo à existência.
O cristão espera por novos céus e nova terra, nos quais habita a justiça (2 Pedro 3.13). Ele anseia pelo tempo em que coisas tais como direita e esquerda, PT e PSDB não existirão mais. Para o cristão todos os reinos deste mundo tem prazo de validade. Ele está empenhado na defesa e na expansão do Reino Eterno do Cordeiro. Embora a esperança do cristão possa parecer alienação, é nela que reside o diferencial da participação do cristão no debate político. Pois considerando que tal esperança está ancorada além do véu, e não numa sigla partidária, numa ideologia ou em qualquer ponto do espectro político, o cristão tem liberdade para reconhecer de maneira desapaixonada a virtude e o erro onde eles estiverem. Ele será livre, por exemplo, para apreciar ao mesmo tempo a livre iniciativa tão valorizada pela direita e a promoção de justiça social tão valorizada pela esquerda. Ele será livre para denunciar e combater coisas tais como o totalitarismo, o autoritarismo, a corrupção, a violência, a desonestidade onde quer que tais coisas possam ser encontradas no espectro político.
Com o que foi dito acima não estou advogando neutralidade. O próprio Jesus Cristo disse que tal neutralidade inexiste (Marcos 9.40; Lucas 9.50). Em nossa participação no debate e no processo político, como em tudo mais, estaremos nos sujeitando ao Senhor e ao seu Ungido ou nos rebelando contra Ele (Salmo 2). Aqueles que, por exemplo, se relacionam comigo, ainda que por meio das redes sociais da internet, já perceberam que eu entendo que a reeleição da Presidente Dilma não será boa para o Brasil. A tendência totalitária e autoritária do projeto de país defendido por seu governo muito me preocupa. Tal tendência ficou clara, a meu ver, por meio do 3º Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) instituído, em 2009, por meio do Decreto presidencial nº 7.037. E agora, mais uma vez, por meio do Decreto 8.243 o atual governo brasileiro mostra a sua face totalitária. A tendência totalitária a que me refiro fica exposta também por meio da simpatia que o nosso atual governo demonstra para com governos totalitários de outros países como Venezuela, Cuba e Irã. Eu estou convencido de que nunca na história deste país as liberdades de expressão e de culto estiveram tão ameaçadas.
Como é que Deus escreverá a história política do nosso país nós não sabemos. Não sabemos quem será eleito. Não sabemos o que o futuro nos reserva. Entretanto, se a nossa esperança estiver ancorada além do véu continuaremos a defender os valores que sempre defendemos e denunciando os erros que sempre denunciamos independentemente do resultado das eleições.
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Sobre o autor: Paulo Ribeiro Fontes é pastor titular da Igreja Presbiteriana Ebenézer desde 2000. Foi pastor auxiliar na 1ª Igreja Presbiteriana de Governador Valadares, e pastor efetivo nas seguintes igrejas: Primeira Igreja Presbiteriana de Barra de São Francisco-ES, Igreja Presbiteriana de Bom Jardim (Ipatinga-MG) e Igreja Presbiteriana Filadélfia (Governador Valadares-MG). Foi diretor do Seminário JMC no período de 2003 a 2006. É graduado em Teologia, mestre em Teologia Sistemática pelo CPAJ (Centro de Pós-graduação Andrew Jumper - Universidade Mackenzie - 2001) e Doutorando em Ministério pelo CPAJ.
Fonte: Igreja Presbiteriana Ebenezer
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