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Por Luiz Augusto Corrêa Bueno
O próximo passo nesta Teologia Bíblica de Discipulado é a vida do apóstolo Paulo. Antes, porém, necessitamos reconhecer que a vida de Barnabé foi eminentemente uma vida de um discipulador que influenciou a Paulo profundamente. O próprio apóstolo Paulo foi amparado por ele. A pessoa de Barnabé, no início da vida ministerial de Paulo foi um braço onde este pôde se segurar, não somente pela confiança que Paulo depositou em Barnabé, mas também pela determinação deste para o encontrar e levá-lo até Jerusalém a procura dos outros a apóstolos. (At 9.27). Atos 11.22-25, nos relata que Barnabé era um apaixonado pelo reino de Deus. O versículo 23 afirma que, ele vendo a graça de Deus prosperar em Antioquia, alegrava-se e exortava a que todos permanecessem firmes na fé. Contudo, Barnabé não poderia fazer o serviço de Discipulado em Antioquia sozinho. Então, toma a decisão de ir a Tarso, buscar a Paulo, para que juntos, durante todo um ano estivessem discipulando toda aquela gente.
O exemplo do Apóstolo Paulo é, sobretudo, uma das bases que a Igreja deveria usar para, freqüentemente estimular-se ao Discipulado como estilo de vida para a Missão da Igreja. Não somente pela sua vida, como nos conta Lucas em Atos dos Apóstolos, mas também pela sua maneira de entender este princípio. Poderíamos analisar vários textos em nosso trabalho, mas iremos estudar um deles que está em Colossenses 1.28. “...o qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo”. O texto identifica claramente a visão e a missão global de Paulo, quando o mesmo usa três vezes a palavra “todo”, declarando seu compromisso com um evangelismo integral ou holístico. A idéia de todo homem também denota a abrangência de seu chamado missionário. Não apenas aos judeus, mas também aos gentios. Esta abrangência em tratar com todo homem também identifica as bases de seu trabalho.
A primeira base é o anúncio. “Anunciamos”, é a apresentação do evangelho de forma clara, mas pessoal. Katangellomen (Kataggelomen), é a proclamação de uma mensagem oficial. O primeiro fator do Discipulado é a apresentação das boas novas, mensagem esta que tem a ver com uma proclamação histórica acerca de Jesus e ao mesmo tempo um chamado a conversão através da fé e arrependimento.
Contudo, além do anunciar Paulo usa a palavra “admoestando”, (nouqetountes). Esta palavra traz a conotação de um trabalhar de mente, mais semelhante ao aconselhamento, a admoestação da mente, a um forjar de caráter. É um trabalho mais pessoal e direto, levando o discipulando ao renovar de sua mente como nos enfatiza o próprio Paulo em Romanos 12.2. Pelo que entendemos, admoestar segundo o texto, é o caminhar com seu discípulo mesmo no deserto, não “vendendo seus mapas” para que este encontre o caminho para a saída deste deserto, mas sendo um guia, que caminhando com ele até o fim de sua jornada, chegarão juntos e se dessedentarão no oásis da vida.
O Discipulado de Paulo também tem uma terceira etapa. É o Ensinar. A palavra “ensinando” (didaskontes) denota que as pessoas que aceitavam o novo estilo de vida cristã eram conduzidos através de um processo de instrução, doutrinamento e treinamento. Na verdade isto tem a ver com o ensino doutrinário e prático. A doutrina conduzindo o discípulo à prática em sua vida pessoal.
Priscila e Aquila são outro exemplo de Discipulado. Embora sendo um casal extremamente envolvido com a evangelização, o tempo que dedicaram a Apolo tornaram-no um pregador muito mais aperfeiçoado do que antes de se conhecerem. A Escritura afirma que Apolo era homem eloquente, poderoso e instruído. Todavia somente conhecia o evangelho de João. Seu Discipulado era de fato parcial, mas Priscila e Aquila como diz a Palavra, “expuseram-lhe com mais exatidão o caminho de Deus” (Atos 18.24-28). Isto significa que Discipulado é antes de tudo também uma exposição sistemática da Palavra toda.
IV. Discipulado e Plantação de Igrejas
O propósito do Ministério Paulino era sempre o de plantar novas igrejas. O princípio fundamental para a fundação de igrejas era o Discipulado. David Hesselgrave em seu livro “Plantar Igrejas, um guia para missões nacionais e transculturais”, usa o chamado Ciclo Paulino para identificar a plantação de igrejas como princípio inarredável na Escritura. Uma das partes deste ciclo é o denominado de “Discípulos Confirmados”, objetivando que o Discipulado é parte integrante e essencial para a plantação de novas comunidades. É o que podemos ver em Atos 14.21-23. Neste texto, Lucas narra que Paulo e Barnabé tendo feito muitos discípulos retornam para a região de Listra para confirmá-los e fortalecê-los. O Plantio de igrejas está estreitamente ligado com o Discipulado.
No texto de II Timóteo 2.2, Paulo assevera que há necessidade de se escolher pessoas fiéis e idôneas para tal serviço. E idoneidade significa capacidade e habilidade para tal. Portanto, necessita-se treinar e gastar tempo com o chamado “leigo”. O recurso negligenciado pela Igreja é o seu membro. O crente que tenha recebido cuidadosa e conveniente instrução bíblica e treinamento garantem sua integração plena na vida da Igreja. Aqui está o segredo de uma igreja crescente. Dentro da plantação de igrejas, um dos aspectos mais esquecidos, é o aspecto pessoal da Integração onde atualmente deveria ser o ponto mais forte da Igreja e centro de toda a atenção.
O grande problema das igrejas é o que podemos chamar de orfandade espiritual. Os recém-convertidos são simplesmente deixados de lado e os que permanecessem na igreja tornam-se órfãos espirituais. Waylon Moore diz: “Na maioria das igrejas os convertidos são simplesmente adicionados ao rol de membros e abandonados a cuidarem espiritualmente de si mesmos. É doloroso afirmar, mas o fato é de que existem muitos órfãos e poucos pais espirituais em nossas igrejas”.
A resposta para isto é a realidade do ministério Paulino. O apóstolo Paulo se considerava como Pai de todos os discípulos de Cristo. (I Co 4.15; Gl 4.19; I Ts 2.11). O Discipulado chama a igreja a se responsabilizar pelo seu membro. Não apenas fazê-lo um bom conhecedor de doutrinas, mas na convivência do Discipulado, torná-lo alguém extremamente comprometido com a sua comunidade.
Este compromisso da igreja passa por três importantes etapas:
1. A necessidade do Aconselhamento. É a condição básica para gerar um “filho”. Discipular sem aconselhamento, pode gerar vidas desequilibradas e desajustadas espiritualmente. É o que vemos acontecer atualmente nas comunidades. Ou o crente será um fundamentalista ou um liberal tanto teológico como ético.
2. A necessidade de Alimentação. O Discipulado sugere uma alimentação sistemática (I Pe. 2.2). A carnalidade e imaturidade espiritual dos Coríntios era gerada pela ausência de alimento (I Co 3.2). Para um Discipulado, efetivo uma alimentação progressiva é essencial. Os hebreus estavam também passando por este mal. Pelo tempo decorrido já deveriam ser mestres, mas importante seria que o escritor voltasse aos rudimentos e às bases elementares da fé cristã. (Hb 5.11-14).
3. A necessidade de Proteção. O Discipulado visa também o cuidado com a sua vida pessoal . Jesus já afirmava isto aos discípulos quando falava dos falsos profetas (Mt 7.15-20). Paulo enquanto está finalizando seu sermão aos presbíteros de Éfeso também tem o cuidado de alertá-los (Atos 20.29,30). Um dos deveres do discipulador é ensinar ao convertido como enfrentar as tentações com a Palavra. Os que não recebem o devido cuidado podem tornar-se crentes delinquentes. Estes naturalmente causarão tropeço a muitos. (I Cor 10.32 / 2 Cor 6.3).
A prova de que houve ensino em seu Discipulado é a estabilidade do crente sob pressão. Paulo afirma que a eficácia de seu trabalho era medida pela capacidade de eles vencerem a tentação (I Ts 3.5). Outra prova é o testemunho e a frutificação. Deste modo vemos o Discipulado como algo extremamente prático e questão inegociável para a plantação de igrejas (Fl 2.15-16).
V. Implicações práticas para a Missão da igreja
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V. Implicações práticas para a Missão da igreja
Uma das grandes chaves para o desenvolvimento da visão do Discipulado é a compreensão das comunidades locais com respeito a função do chamado “leigo”. Talvez a grande crise que a igreja cristã em seu todo atravessa, é devido a um equívoco histórico interpretativo da palavra laikos. Até porque, atualmente a atividade do pastor é da mais alta importância, no sentido de que ele se esmere em realizar o maior número de tarefas, enquanto que os leigos permanecem como bons ouvintes de seus sermões. Quando muito, se dedicam temporariamente a algum evento religioso.
Podemos questionar saudavelmente, o tipo de Discipulado usado hoje em dia nas igrejas locais. Pois quando há, o encontramos na forma de um evento ou programa que não atinge a todos os crentes. A idéia de Discipulado que hoje absorvemos, brota da necessidade de fazer a comunidade crescer e não pelo fato de que este é um estilo de vida esperado por todo seguidor de Jesus. Mais sério ainda, é a visão de esta tarefa é atribuída ao pastor e aos seus obreiros, mas nunca aos crentes. Isto nos prova que ainda estamos ligados ao famoso “clericalismo”, que visivelmente os reformadores se posicionaram contrariamente, mas que hoje, mantém-se não somente na forma e nos métodos, mas também em princípios e conceitos dentro das comunidades locais.
Para tanto, ousamos lembrar de um dos capítulos da apostila da disciplina de Estratégias e Metodologias Missionárias do Rev. Antônio José do Nascimento Filho quando bem expõe sobre o assunto. Na verdade, a distinção entre laicato e clero procede da tradição da Igreja Católica Romana. Esta idéia correlaciona-se com a visão de igreja e mundo para os romanistas. O clero com o direito de administrar os sacramentos e o laicato que deve receber o ensino e a condução dos mesmos. Tanto Lutero como Calvino rejeitaram a estrutura clerical dando importância a todos os membros da igreja, onde todos eram considerados laikos. O Discipulado como princípio e ordem é para todo laicato. Todos são discípulos e então todos discipularão. Se a ordem foi dada como Comissão à igreja, toda a igreja está empenhada a realizar, não como evento, mas sim como estilo de vida pessoal.
Larry Richards explica a questão do Discipulado ser um fato significativo no Novo Testamento é devido ser este um empreendimento mútuo demonstrando que a visão do laicato deve ser de manifestar a reciprocidade do Discipulado. Em sermos Laos de Deus, temos o papel de crentes-sacerdotes, isto é, somos chamados para discipular uns aos outros. Isto nos leva a entender Discipulado num contexto de relacionamento pessoal íntimo e cheio de amor. Sobretudo, sendo reconhecido como um princípio para todo cristão e não apenas para aqueles que foram ordenados para o ministério sagrado.
Após 32 anos da ressurreição de Jesus, os primeiros cristãos já haviam atingido todo o mundo pagão de seu tempo com a mensagem do evangelho sem rádio, sem imprensa, ou outro dos meios modernos de comunicação, usados em nossos dias na pregação. O segredo era a visão de que todos os crentes eram, na verdade, discipuladores em potencial.
Embora fundamentando nosso estudo de que o Discipulado é um envolver de todo o laicato da igreja, acreditamos que o Discipulado como principio orientador da vida da igreja. Isto tem sua conseqüência na descoberta e no treinamento de líderes discipuladores. Se olharmos novamente para a experiência de Jesus no Discipulado dos doze, o Mestre usava todas as experiências vivenciais para o adestramento dos seus discípulos que viriam a se tornar apóstolos de Sua Igreja. Jesus usava a pregação, a cura, e a discussão para estimular, despertar e causar impacto na vida dos discípulos. Ferramentas que usava para treinar o grupo de homens que se encarregaria de transmitir depois a mensagem de sua vida, da sua morte e da sua ressurreição.
Da mesma forma que Cristo se utilizou, podemos discernir e usar os mesmos padrões para treinar os líderes em nossas igrejas como visão do laikos. Uma vez que plantamos igrejas, somos responsáveis por ensinar de maneira correta o treinamento dos líderes. Devemos examinar as prioridades do ministério. Se o Discipulado é um princípio fundamental para a missão da igreja, precisamos concentrar os esforços em “pessoas” e não em “coisas”. Moore citando Samuel Schoemaker diz acertadamente que “a principal tarefa da igreja não é realizar muito trabalho, nem alistar grande número de membros, nem levantar muito dinheiro.
Sua principal missão é moldar vidas à imagem de Jesus Cristo. E as pessoas não podem ser talhadas da massa bruta por atacado, mas uma por uma. Além disso, o treinamento de líderes é uma vivência com o discípulo. Provérbios 27.17, afirma: “Afia-se o ferro com o ferro; assim o rosto do seu amigo”. Logo, o Discipulado fundamenta-se “no estar com”. Na vivência com os discípulos, Jesus em seu treinamento, se relacionava mais a caráter e personalidade do que a conhecimentos e métodos. “Muitos dos pastores andam tão ocupados com tantas diferentes coisas que a correria com que trabalham põe em risco seu ministério e sua vida espiritual, como também lhes torna impossível treinar pessoal e adequadamente os membros de sua igreja para o evangelismo integral. A próxima implicação para a igreja atual é a respeito da verdadeira evangelização e o crescimento da mesma. Estas questões nos levam a analisar o que significa crescimento de Igreja. Evangelização sem integração ou Discipulado sempre falhou e falhará no seu objetivo de ganhar o mundo. O máximo que se consegue é a adição de algumas pessoas à igreja”.
“Em pouco mais de dez anos Paulo estabeleceu a Igreja em quatro províncias do Império: Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia. Antes de 57 d.C. Paulo já podia falar do seu trabalho ali como tendo sido completado e podia planejar viagens extensivas para o extremo ocidente sem preocupação de que as igrejas que fundara pudessem na sua ausência pela falta de orientação e apoio”.
VI. Conclusão
Este trabalho nos estimulou a procurar biblicamente as causas do crescimento e missão da igreja e respondê-las através do Discipulado. O grande desafio da igreja é ainda hoje, o moldar vidas segundo o caráter de Jesus Cristo. O Discipulado Missionário, se assim podemos nomeá-lo, ainda não está satisfazendo biblicamente o Senhor da Seara. Ao analisarmos todos os pontos essenciais da vida de Cristo, somos inarredavelmente levados a procurar reavaliar a vida cristã e, sobretudo, através de uma autocrítica, desafiados a tornar nossas comunidades, igrejas de discipuladores. Carecemos de pessoas fiéis e idôneas, que possam transmitir a outras este caráter de Cristo, não apenas pela verbalização, mas também com a vida. A igreja necessita de um arrependimento verdadeiro e mudança de vida. Deve tornar a vida mais simples e menos rebuscada, mais cheia de frutos de vida e menos ativista, mais cristã e menos institucionalizada. Se acreditarmos no Discipulado, seremos os primeiros a mudar, e se isto acontecer de fato, cumpriremos cabalmente a Grande Comissão não como um programa a mais, mas como um estilo de vida, para a Glória e Honra de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Soli Deo Gloria
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VI. Bibliografia:
• Bíblia - Edição revista e Atualizada - 1998 - Sociedade Bíblica do Brasil
• Brown, Colin - O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento - 4 vols. São Paulo - Edições Vida Nova 1984
• Coleman, Robert - The Master Plan of Discipleship - 1987 - Zondervan
• D’áraujo Filho, Caio Fábio de - Seguir Jesus: O mais fascinante projeto de vida - Ed. Betânia - 1984.
• Hesselgrave, David - Plantar Igrejas - Um guia para Missões Nacionais e Transculturais, Vida Nova - 1985
• Kornfiel, David - Em: Ultrapassando Barreiras - Edições Vida Nova - Vol II - 1997
• Moore, Waylon B. - Integração segundo o Novo Testamento - Juerp - 1985
• Nascimento Filho, Antônio José - Estratégias e Metodologias Missionárias - 1999
• Richards, Lawrence - Teologia do Ministério Pessoal - Ediçòes Vida Nova - 1985
• Richards, Lawrence - Teologia da Educação Cristã - Edições Vida Nova - 1985
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