Por Thomas Magnum
O que são os símbolos de fé?
O vocábulo símbolo vem do grego, súmbolon, que significa basicamente “lançar junto” dando a entender um sinal, marca que caracteriza alguma coisa. Essa palavra é usada com o sentido de acordo ou sinal. Quando nos referimos aos símbolos de fé estamos falando de um “sinal” da sã doutrina. Podemos entender também os símbolos de fé como resumos sistemáticos das verdades fundamentais do Cristianismo. São declarações formais da fé cristã. [1]
Há quatro tipos principais de símbolos de fé: credos, confissões de fé, catecismos e cânones.
Os credos são declarações de fé resumidas, a igreja antiga produziu os mais conhecidos antes da divisão da igreja cristã em ocidental e oriental. Exemplo: o Credo Apostólico, Credo Niceno, Credo de Atanásio.
A diferença do credo para a confissão de fé é basicamente seu detalhamento, extensão e o período histórico que foram produzidas. Enquanto os credos foram feitos na igreja antiga, as confissões são produto da reforma ou de igrejas herdeiras da reforma. Podemos citar a Confissão Escocesa, Confissão de fé Belga e de Westminster.
Os catecismos tem uma finalidade pedagógica no ensino da igreja, é estruturado em perguntas e respostas. Os Catecismos podem ser maiores ou breves. Temos o Catecismo de Lutero, Catecismo de Heidelberg e os Catecismos de Westminster.
Os Cânones são decisões oficiais da igreja em concílios quanto a doutrinas especificas, a exemplo temos os Cânones de Dort com a questão dos Remonstrantes.
Qual a importância dos Símbolos de fé
Podemos designar a utilidade dos símbolos frisando alguns propósitos.
Propósito Doutrinário
Desde a morte dos Apóstolos a igreja tem confessado o Evangelho pregado por Cristo e seus discípulos; como já vimos através dos credos. Com isso podemos apontar a preservação da doutrina bíblica como o primeiro fator. Dr. Paulo Anglada nos diz:
Nos quatro primeiros Séculos, foram definidas especialmente questões teológicas propriamente ditas (sobre a Trindade) e cristológicas (sobre a pessoa de Cristo). Posteriormente, no quinto século, as doutrinas antropológicas do pecado e da graça de Deus foram discutidas (especialmente por Agostinho e Pelágio). A soteriologia só foi devidamente discernida e definida durante a Reforma Protestante do século XVI. A eclesiologia foi mais debatida nos séculos XVII e XVIII.
Dentro desse desenvolvimento histórico e doutrinário, é importante pontuarmos também a questão apologética, essa afirmação doutrinaria leva automaticamente a uma ênfase de defesa da fé, a igreja defendendo os valores teológicos ensinados na Palavra de Deus.
Propósito didático
Não só as confissões e credos têm sido usados no ensino religioso, mas, principalmente os catecismos que tem sido de grande utilidade na educação de crianças. Pelo fato da praticidade e organização pedagógica, os catecismos tem servido como uma grande ferramenta para a instrução do povo de Deus. Tanto o aprendizado cristão como a orientação eclesiástica para liturgia e sacramentos da igreja tem sido de grande valor. Por isso é importante que cada denominação tenha sua confissão doutrinária, para que haja uma unidade no ensino, no ministério, na comunhão.
A Base Bíblica
No antigo testamento vemos a orientação de Deus ao seu povo em relação ao ensino dos pequeninos:
“E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as ensinarás a teus filhos e delas falarás sentado em casa e andando pelo caminho, ao deitar-te e ao levantar-te. Também as amarrarás como sinal na mão e como faixa na testa; e as escreverás nos batentes da tua casa e nas tuas portas.” Dt 6. 6-8
No Novo testamento temos uma ênfase na confissão da nossa fé, como declaração das verdades da Palavra, isso significa que não é somente a afirmação da religião, mas, a manifestação confessional da doutrina de Cristo.
“Antes, reverenciai a Cristo como Senhor no coração. Estai sempre preparados para responder a todo o que vos pedir a razão da esperança que há em vós.” I Pe 3.15
“Porque, se com a tua boca confessares Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo; pois com o coração é que se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação.” Rm 10.9-10
“Trava o bom combate da fé. Apodera-te da vida eterna, para a qual foste chamado, tendo já feito boa confissão diante de muitas testemunhas.” I Tm 6.12
“Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que penetrou os céus, conservemos firmes a nossa confissão.” Hb 4.14
Podemos ver claramente nesses textos que a confissão da igreja já era de grande importância, mesmo não tendo os atuais documentos confessionais. Podemos ver isso na carta de Paulo aos Coríntios:
“Porque primeiro vos entreguei o que também recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; e foi sepultado; e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras; e apareceu a Cefas, e depois aos Doze. Depois apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, e a maior parte deles ainda vive, mas alguns já faleceram. Depois apareceu a Tiago, e a todos os apóstolos.” I Co 15. 3-7
O Conceito Bíblico de Confessionalidade
Ao tratarmos o assunto da confessionalidade, não podemos embargar num conceito puramente formal, ideológico ou epistemológico. Quando encaramos assim (e muitos encaram) reduzimos a confessionalidade Bíblica a redundância de meros documentos, essa não é a essência da confissão cristã. O confessar vai além da crença teológica, não é mera profissão, mas, algo com o modo de agir em relação a ela. Por outro lado o fato de verbalizar é decorrência da encarnação da mensagem do Evangelho na igreja. O Salmo 116.10 diz: Cri por isso falei. A boca fala do que o coração está cheio, essa materialização deve ser valorizada e estimulada.
O verbo grego homologeo, do qual deriva nosso verbo confessar, significa literalmente “falar a mesma linguagem”, “concordar com”, confessar. Uma confissão é uma declaração de concordância com o conteúdo do que é afirmado nas Escrituras. [2]
É interessante citar Calvino e o que ele diz acerca da confissão.
Primeiro, voltaremos à passagem de I Tm 6.12
“Trava o bom combate da fé. Apodera-te da vida eterna, para a qual foste chamado, tendo já feito boa confissão diante de muitas testemunhas.”
Entendo confissão, aqui, no sentido não de algo expresso verbalmente, mas, de algo realizado de forma concreta, e não numa única ocasião, mas ao longo de todo o seu ministério. Pois Cristo não fez sua confissão diante de Pilatos pronunciando um discurso, mas de forma concreta, sofrendo a morte em voluntária submissão. Pois ainda que Cristo tenha decidido manter silêncio diante de Pilatos, em vez de abrir a boca em sua própria defesa, já que chegara ali resignado a uma condenação predeterminada, no entanto havia em seu próprio silencio uma defesa de sua doutrina não menos magnificente que se houvera defendido sua causa pronunciando um discurso. Pois ele a ratificou com o próprio sangue e com o sacrifício de sua morte melhor do que com o uso de palavras. [3]
Devemos, portanto sublinhar esse conceito com a cor do pacto, a confissão primeiramente é fato interior que é sustentada pelo autor e consumador da fé. Posteriormente essa confissão é grafada com base nas Sagradas Escrituras.
Conclusão
Podemos finalizar com as palavras do Rev. José Alves dos Santos
1- A confessionalidade faz parte da natureza da fé e, por extensão, da igreja que professa a fé.
2- O conteúdo da fé tem sido demonstrado através de Credos, Confissões e declarações ao longo da história da igreja.
3- Esses Credos e confissões da vertente reformada se caracterizam não só pela aceitação das doutrinas que são comuns aos demais ramos protestantes, mas por outras especificas, geralmente conhecidas como as doutrinas da graça, devido a forte ênfase na soberania de Deus em todos os aspectos de seu trato com a criação e especialmente com o homem.
4- A confessionalidade tem seus limites. Ela nunca deve ser colocada em pé de igualdade com as Sagradas Escrituras, pelas quais deve ser julgada e aferida. [4]
Soli Deo Gloria
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Notas:
[1] Sola Scriptura, Paulo Anglada. Ed. Knox.
[2] A Glória da Graça de Deus, Org. Franklin Ferreira. Ed. Fiel
[3] As Pastorais, João Calvino. Ed. Fiel.
[4] A Glória da Graça de Deus, Org. Franklin Ferreira. Ed. Fiel
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Imagem: Assertion of Liberty of Conscience by the Independents of the Westminster Assembly of Divines, 1644, by John Rogers Herbert; adaptada para o blog Bereianos.
Divulgação: Bereianos
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