Por Thiago Oliveira
Se pegarmos um dicionário e irmos para a palavra “Louvor” encontraremos o seguinte significado para ela: “Ato de enaltecer alguém ou alguma coisa; elogio, apologia”. Pois bem, quando falamos em louvar a Deus, isso implica em enaltecermos ao Senhor, e essa prática pode ser individual ou congregacional. Hoje o louvor tornou-se sinônimo de música para a igreja contemporânea, todavia, louvar não se resume a cantar. Obviamente, os hinos ou cânticos espirituais podem ser usados com essa finalidade. Encontramos na Bíblia referências a música como parte integrante da liturgia. Paulo aos Efésios dá a seguinte instrução:
Efésios 5:19 - “Falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração.”
Só que os velhos hinos e os salmos vêm perdendo espaço para as músicas da indústria fonográfica gospel. A invasão de letras e melodias compostas por artistas desse segmento mercadológico começou timidamente nos anos 90, quando tais canções tinham um espaço no culto dividido com os louvores dos clássicos hinários. Aos poucos, o hinário foi ficando obsoleto e em muitas congregações só existem as músicas do gospel. Bem, não irei aqui fazer apologia a Harpa, ao Cantor Cristão e nem nada desse tipo, até porque alguns dos hinos antigos também apresentam equívocos teológicos e estão obsoletos em seus vocabulários e arranjos sonoros.
O grande problema é que o Gospel é um tipo de música feito com o intuito de vender. Enaltecer a Deus não é a primazia. Daí você me diz: “Estás julgando”. Ao que eu respondo: “Sim, estou”. O julgamento é uma análise e para um bom discernimento é preciso estudar os frutos. Vamos lá. Reparem nas músicas cantadas no próximo culto e vejam quantas delas tem Deus como sendo o cerne das letras e quantas tem o homem no centro. Gostaria de listar alguns exemplos.
Uma das canções mais antropocêntricas que já ouvi (e o clipe ajuda bastante) é “Cheio do Espírito Santo”, gravada por Thalles. Eis um trecho:
Vou dizer, quem sou eu/Ahhhh/Cheio de graça/Cheio da bênção/Cheio do fogo/Cheio do manto/Fica a vontade, chega mais perto/Chega buscando/Chega dando glória, e dá lugar irmão.
É perceptivo que o “eu” é o objeto de louvor. Outra música que vai na mesma direção é “Nada pode calar um adorador” cantada por Eyshila. Observem o refrão:
Adorar é o que sei/Adorar é o que sou/Nada pode calar um adorador/Não existem prisões/Que contenham a voz de quem te adora, oh Senhor.
Não estou fazendo uma refutação teológica dessas canções. Apenas atento para o fato de que elas não são litúrgicas. Até aceito alguém dizer que é um adorador e que ninguém cala um adorador, mas tal afirmação não coaduna com o louvor a Deus. Para não dizer que sou um crítico desonesto, usarei um exemplo positivo de uma música gospel (uma rara exceção) que glorifica ao Senhor e pode ser usada como adoração congregacional. Trata-se de Senhor e Rei, do grupo Toque no Altar:
Acima de Todos /acima de tudo/Está o Senhor entronizado/Os anjos e os homens/os céus e a terra/Montanhas e mares declaram quem tu és/Tu és Senhor e Rei/Governas sobre o universo/Justo e fiel/vestido de glória e poder/Coroado estás/Pra sempre reinarás.
Nosso louvor deve ser para enaltecer a Deus tanto pelo que Ele faz, mas sobretudo pelo que Ele é. Não são apenas os atos do SENHOR que devem ser louvados, os Seus atributos também. É isso que vemos fazer Moisés (Êxodo 15) e Maria (Lucas 1) com seus cânticos. Da mesma forma os diversos Salmos, dentre eles os compostos pelos coraítas (por exemplo o Salmo 48). Não poderíamos aqui esquecer de um cântico da igreja primitiva que o apóstolo Paulo registra em sua epístola aos irmãos de Roma:
Romanos 11:36 - “Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.”
Agora vejam o contraste entre o versículo acima e a letra “Conquistando o Impossível” gravada e cantada por Jamily:
Campeão, vencedor/Deus dá asas, faz teu voo/Campeão, vencedor/Essa fé que te faz imbatível/Te mostra o teu valor/Tantos recordes/Você pode quebrar/As barreiras/Você pode ultrapassar/E vencer.
É uma canção extremamente humanista com um apelo motivacional que enfatiza tanto os atributos do ser humano que diz que a fé (não necessariamente salvífica) mostra o valor da pessoa e não o valor do Deus que “dá as asas” para que o homem possa “voar”.
A grande falha nos “louvores” atuais é tirar o foco da majestade e da grandeza do nosso Deus para dissertarem acerca dos dilemas humanos, das tribulações da vida ou até mesmo a exaltação do cristão como se ele por si só fosse o responsável por perseverar em meio as lutas e tentações. Por isso, quando você estiver no culto, quando começar o período de louvor faça a seguinte pergunta a si mesmo: Eu estou realmente louvando a Deus?
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Divulgação: Bereianos
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