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Nos últimos anos, com o crescente aumento das megaigrejas, cujos líderes passaram a povoar programas televisivos com objetivos supostamente evangelísticos, cresceu também a rejeição de muitos adeptos de outras religiões, dos que se denominam ateus e até mesmo dos próprios evangélicos aos persistentes apelos financeiros desses líderes religiosos.
Na contramão do discurso de “promessas de bênçãos divinas para os dizimistas fiéis” surgiram grupos de evangélicos, muitos dos quais decepcionados com as instituições religiosas e seus líderes, apregoando o ensinamento de que o dízimo não é para os cristãos, mas uma prática restrita ao povo judeu do Antigo Testamento. Esse novo grupo de cristãos tem ganhado cada vez mais espaço, especialmente entre os “sem igreja”, e atraído mais e mais crentes.
A despeito da validade ou não dos argumentos, o fato é que essa nova ala de evangélicos não-dizimistas está evoluindo em seus argumentos, caminhando exatamente na contramão do discurso tradicional do templo sagrado como local onde o povo de Deus deve se congregar, bem como tem combatido ardorosamente a atual estrutura em que está envolto o ambiente eclesiástico, especialmente no que diz respeito à remuneração de pastores.
Não tenho a intenção de discutir aqui a fundamentação bíblica do dízimo para os cristãos, e nem se pastores devem ou não ser remunerados. Esse embate esconde um viés ainda mais preocupante. Refiro-me ao extremo ao qual alguns cristãos tem chegado ao se posicionarem contra qualquer tipo de institucionalização da igreja, contrapondo-se à histórica prática cristã de reunião em templos. Os mais radicais condenam qualquer forma de ajuntamento que implique organização, ou seja a existência de um líder e de uma estrutura administrativa. Uma igreja não organizada formalmente não teria despesas administrativas, incluindo pastores, e logo poderia ter todos os seus recursos destinados a causas mais nobres que manutenção dela mesma, argumentam.
Muitas das críticas feitas à forma como as igrejas se tem portado são pertinentes, e eu mesmo estou entre aqueles que reprovam a maneira pouco eficaz e, muitas vezes, nada honesta como o dinheiro tem sido gerido pelas igrejas institucionalizadas. Mas seria a solução jogar para o ar todo tipo de estrutura administrativa montada em torno da pregação do evangelho? Organizações eclesiásticas trazem realmente mais malefícios que benefícios ao Reino de Deus na Terra?
Quando um grupo de cristãos está reunido, Deus está presente entre eles como está em qualquer outro lugar. Se essas pessoas são apenas um grupo, então elas irão se reunir com objetivos próprios e voltar para suas casas. Alguns poderão alcançar seus objetivos, outros não, mas isso não deverá interferir na estabilidade do grupo. Contudo, se esse ajuntamento não for só um grupo, mas uma equipe, isso significa que as pessoas têm objetivos em comum, que irão direcionar todo o grupo para um objetivo que é de todos. Isso tornará necessário a existência de um líder, e também de uma organização mínima do recursos que permita haver uma combinação de esforços mútuos num mesmo sentido. Agora pense: qual desses dois se parece mais com o corpo de Cristo?
O corpo de Cristo é sua igreja, que tem muitos membros exercendo diferentes dons, que se complementam a fim de que o corpo seja perfeito. Como bem ensinou o apóstolo Paulo em 1Co 12, o corpo de Cristo possui muitos membros, cada um com seu papel, de modo que são todos importantes. Isso é uma equipe! Pessoas com tarefas específicas (dons) trabalhando em torno de um objetivo (proclamação do evangelho) sob a autoridade de um líder (Cristo).
Dessa forma, se servimos a Deus com tudo que temos, devemos servir também com nossos recursos financeiros. Mas se cada um usa seu dinheiro como bem entende, de modo que uns escolhem doar para organizações de caridade, outros para projetos missionários específicos, e ainda outros para a igreja, temos que não há neste caso organização, nem muito menos uma equipe, mas tão somente um grupo de pessoas que se reúnem, e isso não representa o que realmente é o corpo de Cristo.
É claro que ninguém está impedido de contribuir de forma particular e com fins diferenciados, mas deve haver um mínimo de sincronismo entre aqueles que se reúnem num mesmo ajuntamento, no sentido de reunir recursos humanos e financeiros para a consecução de um objetivo comum a todos, pois isso não somente é mais coerente com a ideia de corpo, como também mais eficiente. Dois separados são apenas dois, mas juntos eles podem ser mais. Isso se chama sinergia.
Não à toa existem redes de supermercados ou ocorrem fusões de grandes empresas. Quase todos sabem que unidos podem fazer mais que sozinhos. Falta aos cristãos "modernos" saberem disso também, e tentarem encontrar um meio termo entre suas indignações e a missão da igreja, que poderá ser mais eficazmente realizada se nos concentrarmos em trabalhar juntos, apesar de nossas diferenças e pecados.
Sobre
o autor: Renato César é cristão reformado, formado em administração de
empresas e teologia, membro da IPB - Fortaleza/CE. Contatos: renatocesarmg@hotmail.com
Divulgação: Bereianos
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