Dani Marques
Dani Marques é colaboradora do Genizah
Meu Deus! Como as pessoas estão perdidas no que diz respeito a "ser igreja"! Cristãos que não têm noção alguma do que é ter um dom, vocação, ministério ou 'fazer a obra'. Muitos são inocentes, eu sei, por isso não os culpo. São apenas vítimas do sistema religioso e dos mercadores da fé. Novos ou antigos convertidos que receberam uma chuva de orientações anti-bíblicas mascaradas de bíblicas. São verdadeiras ovelhas sem pastor, que rumam em direção ao precipício. Meu coração se entristece profundamente por essas vidas. Não só pelo ensinamento distorcido que receberam, mas também pela mente que foi sendo aos poucos cauterizada, a ponto de não entenderem a simplicidade do evangelho. Como disse Jesus, a seara é grande, mas os trabalhadores são poucos (Lc 10.20). Quer dizer, até temos muita 'mão de obra", mas é mão-de-obra enganosa e auto-suficiente! E esse tipo de trabalhador Deus não quer nem pintado de ouro, cravado com diplomas e adornado de 'alabaxuriandares'!
Há um tempo atrás recebi um e-mail de um casal. Duas ovelhas sem rumo. Em pouquíssimo tempo de convertidos foram 'ungidos' pastores e logo estavam liderando uma igreja sozinhos. Aliás, em três anos passaram por quatro igrejas. Decepção atrás de decepção. Um desastre total! O esposo desabafou:
"Nós estamos sem ministério... Estamos muito mal, porque sabemos que fomos ungidos e temos compromisso com Deus. No entanto, eu quero saber se eu ficar em um banco de congregação, como membro apenas, Deus irá se agradar? Deus não irá me cobrar essa postura? Querida Dani, estamos tentando nos levantar. E quanto à nossa unção pastoral, sei que ninguém a reconhecerá. Se quisermos atuar como Pastores, creio que devemos montar nosso próprio ministério, o que eu não acho correto. Pior ainda é a gente congregar em uma Igreja sendo membros, o que não somos mais (não que ser Pastor seja maior, mais somos pastores, entendeu?). Minha esposa está mal Dani! Ela achou "refúgio" dentro de uma Assembléia de Deus Ministério do Belém, só que eles não reconhecem nosso ministério, desta forma, estou 'encostado' no último banco. Entraram dois presbíteros depois de mim, foram reconhecidos e ficam no altar, e eu, encostado no último banco. Mas Deus fará o que for melhor e da vontade Dele, creio nisso. Estamos com muita opressão do maligno, estamos orando, mais está difícil dessa tempestade passar. Mas eu creio em Nome de Jesus que tudo está nas mãos do Senhor..."
Ler este e-mail me doeu na alma! E na tentativa de ajudar, resolvi responder. E é com essa resposta que encerro o texto:
"Queridos, boa noite! Li todos o e-mail, duas vezes. Nossa, como viveram uma vida conturbada em tão pouco tempo de convertidos! Precisam agradecer a Deus por não terem perdido a fé por conta de todos esses acontecimentos. Olha só, tudo fica mais leve e simples quando entendemos o que é ser Igreja realmente. Igreja não é isso que vemos por aí. Não é religião, não é denominação, não é instituição, não é um clube, não é um prédio, não é uma reunião semanal ou um conjunto de programações. Ou seja, não é nada disso que vocês viram até hoje. A Igreja de Jesus Cristo está espalhada por toda terra! Somos nós, os que cremos na mensagem da cruz. Se estiverem dois ou três reunidos em nome de Jesus, ali Ele estará, e ali seremos Igreja (Mt 18.20). E isso pode acontecer numa padaria, em casa, na praça, no parque... Jesus não nos mandou 'montar' igrejas, mas sim fazer discípulos! E isso é uma ordem para todos os que creram, e não somente para os que foram 'ungidos' pastores. Ser pastor é um dom como outro qualquer, que deve ser usado em benefício do reino, para a edificação do corpo.
Outra coisa, uma posição de liderança, seja ela qual for, deve ser antes de tudo reconhecida pela comunidade. Os próprios membros entendem que aquela pessoa possui um dom, sabedoria (de Deus) e experiência suficiente, e em oração reconhecem que ela está apta a exercer um cargo de liderança. Deve ser um processo muito natural. Por isso não me entra na cabeça o esquema de algumas instituições religiosas, que nomeiam teólogos recém-formados para comunidades que mal o conhecem. Isso é anti-bíblico e tem causado um estrago sem tamanho! Outra coisa, ninguém deveria se auto intitular líder de uma comunidade. Comecem apenas como irmãos, sem almejar cargo de liderança. E se um dia as coisas caminharem pra isso, que aconteça naturalmente, dentro da vontade de Deus.
O evangelho é muito simples, mas a "igreja" teima em colocar em cima dos fiéis uma carga que eles jamais deveriam carregar. Muita mentira, muita distorção da Palavra, muita soberba, manipulação e desejo pelo poder. Tudo isso está bem longe do que Jesus nos ensinou. O que fizeram com vocês foi apresentar um evangelho mentiroso, e pior, os jogaram dentro desse evangelho e pediram que caminhassem sozinhos. Mas enfim, esse tempo que estão vivendo é um tempo de deserto, de vale da sombra da morte. Mas Deus prometeu que estaria ao nosso lado nesses momentos. Como disse Paulo, a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança. E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu (Rm 5:3-5).
A única obrigação de vocês agora é a de usar o dom que receberam para cumprir os dois maiores mandamentos que Jesus nos deixou: ‘Amar o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todas as suas forças e de todo o seu entendimento’ e ‘Amar o seu próximo como a si mesmo’". (Lc 10.27). Através desses dois mandamento cumprimos TODA A LEI, conforme Romanos 13.10. E anunciem as Boas Novas de Cristo Jesus por onde passarem, principalmente através do testemunho de vida. Pronto, simples assim! Sem títulos, sem cargos, sem rituais... Iniciem um estudo Bíblico em casa mesmo, com crianças, adolescentes ou adultos. Tudo muito simples, sem rituais ou doutrinas. E nunca pense em transformar isso em "igreja", porque vocês já são Igreja, entende? Façam tudo em amor, para a edificação das vidas. Alimentem-se da Palavra, em especial dos Evangelhos. Orem diariamente pedindo sabedoria e direção do Espírito.
Conforme Efésios 4, entendo que o chamado pastoral é um dom dado por Deus. Se Ele realmente deu esse dom à vocês, poderão exercê-lo independente de ministério, diploma, cargo, instituição e etc. Quem reconhece esse dom são as ovelhas que vocês pastoreiam. Eles é quem devem dizer: 'Esse homem é realmente meu pastor. Ele cuida de mim, caminha comigo, me aconselha, direciona, orienta, alimenta...' E isso pode acontecer em qualquer lugar e com qualquer pessoa: vizinhos, familiares ou amigos. Você não precisa de uma igreja nos moldes que conhecemos para pastorear vidas.
Se o desejo de vocês é frequentar uma congregação, ou seja, uma igreja num formato mais tradicional, terão que começar como membros sim, lavando os pés e servindo aos irmãos. E não se preocupem! Se vocês realmente possuem o chamado pastoral, as pessoas vão percebendo aos poucos. Pastor não é aquele que prega todos os domingos, lidera uma igreja ou está numa posição de destaque. Ele pode até fazer isso, mas sua função principal é a de cuidar e direcionar as ovelhas, estando elas fora ou dentro de uma igreja, entende? Além disso, pastor, apóstolo, mestre ou evangelista são dons dados por Deus para a edificação do corpo, assim como o dom da profecia, da fé, do ensino, da exortação, do repartir, do cuidar, do exercer misericórdia e etc. Cada um de nós é uma parte do corpo, e ninguém é maior ou melhor que ninguém. E o único cabeça desse corpo é Cristo, conforme Romanos 12.
Outra coisa, imposição de mãos, revelação ou profecia não significa que vocês realmente receberam um dom. Isso não é regra. Quando alguém recebe de Deus o dom de mestre, pastor, apóstolo ou evangelista, por exemplo, ele deve ser reconhecido pelo 'corpo' no decorrer da caminhada, como eu disse anteriormente. Um curso também não tem o poder de dar um dom, muito menos um diploma, cerimônia ou faculdade. O único detentor deste poder é Deus! O restante serve apenas como instrumento para aperfeiçoar uma vocação que já existe (as vezes apenas para estragar). Quem não tem o dom de pastor, pode fazer a melhor faculdade de teologia da face da terra, receber uma credencial de teólogo, mas nunca será pastor. E importante: um pastor pode até ser excluído de uma denominação ou colocado no 'banco', mas ninguém tem a capacidade de extirpar o seu dom! O cuidado que ele tem com as ovelhas fluirá naturalmente, dentro e fora da 'igreja', pois não estamos falando de um cargo, mas sim de uma vocação.
Também defendo a ideia de que líderes religiosos não deveriam colocar o descritivo do seu dom na frente do nome: "Pastor Anderson", por exemplo. Como não se trata de um título, mas de um dom, não existe essa necessidade. Me corrijam se estiver errada, mas em nenhum momento das Escrituras vejo os discípulos escrevendo em suas cartas 'Apóstolo Paulo' ou 'Apóstolo Pedro', por exemplo." Muito pelo contrário! O que vejo é: 'Paulo, o apóstolo' ou 'Pedro, servo de Cristo'. Percebe a diferença? Pensa comigo, se seguirmos esta lógica, teríamos que sair por aí chamando os irmãos da igreja de: Profeta Maria, Misericordioso Paulo, Exortador Antônio, Cuidadora Menezes, Limpador Luiz, Cozinheira Paula... Por que só alguns dons tem o 'privilégio' de ter a identificação da sua vocação na frente do nome? Pior ainda são aqueles que se auto-intitulam 'apóstolos', 'paipóstolos', 'bispos', 'pastores', 'missionários'... Confesso que tenho vergonha de tudo isso. Mais do que vergonha, ânsia de vômito!
Dani Marques é colaboradora do Genizah
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