Por Denis Monteiro
A Bíblia está cheia de passagens que indicam algum tipo de milagre, sinal e/ou obra. Milagres são acontecimentos extraordinários vindos da parte de Deus, por intermédio de seus santos para algum fim especifico que não são explicados por foças naturais.
Infelizmente, algumas pessoas tem uma concepção muito errônea do que é um milagre. Confundimos providência com milagre. Não que os milagres não sejam providencia de Deus, mas que nem todas as providências sejam milagres. Providência é quando Deus envia aquilo que mais necessitamos quando não temos mais esperança, quando Deus abre uma oportunidade onde não achamos que tenhamos oportunidade. Isso é providência.[1]
Então, o que é um milagre e qual seu proposito?
Milagre
Milagres, segundo John Frame, são: “acontecimentos causados de modo incomum pelo poder de Deus, acontecimentos tão extraordinários que em geral os consideramos impossíveis.” [2] Deus, em sua infinita misericórdia, age como Ele quer segundo a Sua vontade. Não contra a sua lei natural, mas “são reafirmações da normatividade da boa criação, da permanente fidelidade de Deus às promessas de seu pacto. Os milagres são sinais e maravilhas doshalom que Deus quer para nós, por enquanto destruído, mas restaurado em Cristo.” [3]
O seu propósito
John McArthur diz: “A maioria dos milagres registrados na Bíblia ocorreu em três períodos relativamente curtos: nos dias de Moisés e Josué, durante os ministérios de Elias e Eliseu e no tempo de Jesus e seus apóstolos. Nenhum desses períodos estendeu-se por mais de cem anos.” [4]
Na Lei
No decálogo não vemos milagres sendo feito por outra pessoa, a não ser por Moises – e depois Josué que fora seu substituto (cf. Js 3.16). Segundo Calvino, os milagres feitos por Moisés foram feitos para testifica-los como um mensageiro Divino e libertador.[5] Todos os sinais que Moisés fizera foram, também, para mostrar ao teu servo [Moisés] a tua grandeza e a tua poderosa mão (Dt 3.24). Podemos resumir que o propósito dos milagres por intermédio destes dois homens foram para autenticar a mensagem que traziam - a Lei – e chamar a atenção para as novas revelações.
Nos profetas
Podemos ver no caso de Elias e Eliseu onde, aproximadamente, se somam 39 milagres [6], entre eles: Deu vida ao filho da viúva (I Reis 17: 21-23); 102 homens são consumidos pelo fogo (II Reis 1:10, 12); Curou Naamã da lepra (II Reis 5:14); Depois de morto ressuscitou um defunto (II Reis 13:21). Todos estes milagres foram para provar a autenticidade profética, onde que, também, não falaram de si mesmos, mas da parte de Deus olhando sempre para a Lei e chamar a atenção para as novas revelações.
Cristo e os Apóstolos
Como podemos ver acima, os milagres sempre foram feitos com um propósito específico – mostrar a autoridade, controle e presença. No caso de Cristo não é diferente. Cristo fez diversos milagres que Moisés não realizou; Elias e Eliseu e os apóstolos não fizeram. Cristo fez milagres sobre a natureza, sobre os doentes, sobre os leprosos (que envolvia pecado), ressurreição de mortos, restauração de visão, coxos andando. Todos estes sinais estavam inseridos num contexto que apontava para a Sua divindade. Como mostra Simon Kistemaker: “Depois de curar os leprosos, Jesus mandava-os para os sacerdotes como testemunho de que ele era realmente o enviado de Deus”. [7] Então, podemos concluir que os milagres que estão relatados sobre Cristo, são para: revelar a glória de Deus – há dois textos que deixa isso em evidência (Jo 9.1-41; 11.2-44) - em grande força e poder, provar que Ele era e é Deus e para mostrar que Ele era o Messias prometido.
Os Evangelhos (Mt 10.8; Mc 3.15; 6.7), nos relata que em relação aos discípulos, antes de descer o Espirito Santo sobre eles em Atos 2, é dito que eles curaram e expulsaram demônios. E, que, depois só tivemos relatos disso em Atos 2 – 19. Contudo que, estes sinais também não eram para demostrar a fé de quem recebia ou fazia, no entanto foi pra testificar a autenticidade da Igreja na terra, assim como, os 4 derramamentos do Espírito Santo que Atos nos relata (Atos 2; 8; 10 e 19). Pois, após Atos 19 não vemos nenhum relato de derramamento do Espírito e/ou curas (sinais) miraculosos. Não que o poder tenha cessado, mas que o propósito de Deus era outro, isso podemos ver nas cartas de Paulo, Pedro, João, Tiago e Hebreus que não é citado em nenhum lugar os feitos dos apóstolos como sinal de continuidade [8]. Até porque, Paulo pede para que Timóteo tome um pouco de vinho por causa de sua enfermidade no estomago e fica triste com a doença de morte de seu companheiro Epafras (Fp 2.27; 1Tm 5.23). Por que Paulo não os curou? Mas isso é outra história.
Conclusão
Para finalizar, quero mostrar uma má aplicação dos milagres e o que não devemos fazer. Existe uma música gospel que tocam e cantam em quase todo lugar: “Pra tocar no manto tem que estar prostrado para tocar no manto...” Esta música é baseada em uma situação em que esteve o nosso Senhor Jesus quando estava indo curar a filha de Jairo, chefe da sinagoga (Mt 9.20,22; Mc 5.24b-34; Lc 8.42b-48). O propósito da música é fazer com que o ouvinte faça a mesma coisa que a mulher, prostre-se e toque no manto. Primeiro, a música em si tira todo o foco da passagem e o seu sentido. Quando nós lemos esse relato nos três Evangelhos vemos que cada um deu uma ênfase diferente. No entanto, o mais interessante é um detalhe que Lucas – doutor Lucas (cf. Cl 4.14) – nos oferece. Por exemplo, Mateus faz um breve relato da ocasião diferente de Marcos que é mais extenso do que Mateus. Só que Lucas diz que “ninguém tinha podido curar”. Ou seja, que todos os médicos (cf. Mc 5.26) que ela havia passado não podiam curá-la, mostrando que a natureza humana não pode dar conta do corpo humano, somente Deus. Portanto, o propósito do milagre que está relatado nos Evangelhos é para certificar com autoridade que Jesus é Deus de fato. E segundo, o texto não diz que ela, a mulher, estava prostrada aos pés de Cristo e foi curada. Mas que a mulher se prostra diante de Cristo para explicar o que havia ocorrido com ela (Cf. Mc 5.33; Lc 8.47).
Então, os milagres feitos por Moisés e Josué, Elias e Eliseu, e Jesus e os apóstolos eram para dar uma introdução às novas revelações, sinal de autenticidade dos mensageiros e, assim, os milagres chamavam a atenção para as novas revelações. E não para imitarmos os milagres e nem para fazerem músicas que distorcem o sentido e proposito do milagre. O salmista, algumas vezes, quando se lembra dos feitos do Senhor, ele sempre lembrava como consolo para sua aflição (Sl 77.11-20) e de forma didática (Sl 78) E João nos diz que: Jesus realizou na presença dos seus discípulos muitos outros sinais miraculosos, que não estão registrados neste livro. Mas estes foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e, crendo, tenham vida em seu nome. João 20.30,31 (acréscimos meu).
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[2] JOHN, Frame M. A doutrina de Deus. São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 197
[3] SPYKMAN, Gordon J. Teologia Reformacional. Um novo paradigma de se fazer teologia: Milagres. Disponível aqui. Acesso: 14/04/14.
[4] MCARTHUR, John. O Caos Carismático. São José dos Campos, São Paulo: Editora Fiel, p. 145
[5] Cf.: CALVINO, João As Institutas – 2ª Ed. – São Paulo: Cultura Cristã, 2006. Livro I, VIII, V
[6] Cf.: Os milagres e profecias de Eliseu e Elias, acessado dia 13/04/2014 as 12:45pm
[7] KISTEMAKER, Simon J. Os Milagres de Jesus. São Paulo: Cultura Cristã, 2008. p. 8
[8] Alguém pode fazer tal objeção: “Mas 1º Coríntios, não nos é falado sobre o dom de milagre?” Entende-se que o milagre é poder, pois a palavra é dunamis. Os dons eram para os apóstolos, já em Coríntios não diz que eram para todos os crentes, todos os dons.
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Fonte: Bereianos
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