Isvonaldo sou Protestante

Isvonaldo sou Protestante

quarta-feira, 30 de abril de 2014


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Por Morgana Mendonça dos Santos


"Amados, enquanto me empenhava para vos escrever acerca da salvação que nos é comum, senti a necessidade de vos escrever exortando-vos a batalhar pela fé entregue aos santos de uma vez por todas" - Judas 1.3

Orígenes, um pai da igreja, acerca do livro de Judas disse: "é um livro pequeno, mas cheio de um vigoroso vocabulário". Um livro muito esquecido pela maioria, vinte e cinco versículos, recheados de ensinamentos com um potente vigor apologético. Judas motiva seus leitores a pelejar, lutar pela fé, nos trazendo a memória que antigamente e que também hoje precisamos defender a fé, que foi recomendada entre o povo do Senhor. Não podemos afirmar a data da carta, nem ao menos o público para qual foi escrito, existe uma certa semelhança com a carta de 2 Pedro (capítulo 2), porém podemos afirmar com toda a convicção que foi escrita para cristãos, para a igreja, o povo do Senhor. Percebemos, de forma categórica que Judas escrevendo para uma igreja ou para várias, tendo a intenção de ajudá-las a defender-se de um ataque específico ao evangelho: Falsos ensinos, um ataque que acontecia dentro da igreja. Notamos que na época de Judas as heresias, falsas doutrinas, ensinamentos errôneos tomavam um proporção no meio dos cristãos. A igreja estava sendo atacada!

Percebemos no texto que a intenção de Judas (irmão de Tiago) ao escrever essa epístola, era encorajá-los à compartilhar a unidade que eles tinham em Cristo, no entanto, uma situação sobreveio, e como um alerta moveu-se a falar sobre a defesa da fé. Podemos afirmar que essa pequena carta nos motiva e nos encoraja com relação a apologética. É interessante notar também que alguém poderia dizer ou pensar que a apologética destina-se somente aos que estão do lado de fora da igreja de Jesus Cristo, em certo sentido sim, entre a igreja e o mundo. No entanto no verso 4 observamos Judas dizer: "se introduziram com dissimulação", estavam com o intuito de trazer dúvidas a fé santíssima (1.20), causando divisões, trazendo uma influência anticristã (1.19). Como Judas os descreve? Ele diz que: "Ai deles! porque entraram pelo caminho de Caim, e foram levados pelo engano do prêmio de Balaão, e pereceram na contradição de Corá" (1.11). Ilustrações tiradas do Antigo Testamento, que ocorreram no contexto do povo do Senhor, mostram que seus leitores conheciam bem as Escrituras, inclusive os apócrifos (9,14).

O propósito de Judas seria lembrar aos seus leitores que existem falsos cristãos dentro das congregações. Esses homens entraram no caminho de Caim, que motivado por uma ira no seu coração, matou seu próprio irmão. O nome de Balaão é mencionado, levado pela ganância (Nm 31.16). A referência a Corá é chocante, um sacerdote, porém rebelando-se contra a ordem e a estrutura divina firmada em Israel. Sua oposição contra a autoridade da Igreja no Antigo Testamento (Nm 16; 26). Porém, qual o propósito de Judas com esses exemplos?

Para os leitores dessa carta, era necessário entender que esses falsos mestres não somente distorciam o verdadeiro ensino como também sorrateiramente manipulavam em prol das suas causas. Como Caim, esses invasores desejavam, de acordo com Judas, inverter a direção da igreja, assassinar o ensino a partir de dentro da casa do Senhor. Como Balaão, esses falsos mestres estão preocupados somente com o seu ganho, interesses pessoais (1.12). A citação do nome Corá, vem para provar que esses pseudocristãos estão arraigados na mesma revolta, (oposição), disputas rebeldes que os falsos mestres também estavam envolvidos.

"O problema é que a igreja tem sido infiltrada por aqueles que se opõe ao evangelho. Eles vieram para dentro da igreja e vivem entre os cristãos" disse Scott Oliphint¹. A pergunta de Oliphint, será a nossa nesse texto: Como, então, deveriam os cristãos responder a essa situação nos dias atuais?

Judas no verso três nos garante a resposta pratica para tal situação, ele diz que devemos "batalhar pela fé". A palavra traduzida por batalhar não é usada em nenhum outro lugar do NT. Os cristãos precisavam se ver em um campo de guerra, precisavam entender o que significa batalhar pela fé. São como soldados, recrutados dentro de um exército, para glória do seu Comandante Supremo. Deveriam estar prontos, preparados para tudo que tinha relação com a Fé dada aos santos. Assim como vemos o apóstolo Pedro orientando os cristãos:

"Antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós" - 1Pedro 3.15

Vejamos mais atentamente as palavras inspiradas que Judas escreve no verso três:

"A batalhar pela fé (1) entregue aos santos de uma vez por todas (2)" (v.3)

Na visão de Judas, quando batalhamos por nossa fé não estamos travando combate por algo que temos e que poderíamos perder. Não é a fé dada a nós por Deus, essa na maioria das vezes é a referência ao dom de Deus (Ef 2.8). O cerne da questão em Judas é a fé como verdade das Escrituras, verdades que compõem o Evangelho. Batalhamos pelo Evangelho! Não faço menção de algo sobre o exercício pessoal de fé, a audiência de Judas deveria batalhar sobre o conteúdo da verdade da nossa crença, nossa declaração de fé.

"O credo cristão mais antigo de que temos ciência consistia da afirmação "Jesus é Senhor" (1Co 12.3). Não temos nenhum modo de saber no que, exatamente, consistia "a fé" quando Judas escreveu sua epístola. Mas não devemos subestimar a capacidade dos cristãos no primeiro século de articular sua fé". ²

Judas menciona essa fé fazendo o complemento de que foi "uma vez por todas entregue aos santos". O que ele quer dizer com "uma vez por todas"? Significa completude, foi recebido de forma completa, não é mais necessário nenhuma outra revelação além da que Deus lhes dera. Nada poderia ser acrescentado ou subtraído da revelação que receberam da parte do Senhor (Dt 4.2; Ap 22.18-19). Além de ser uma vez por todas, foi "entregue". Isso nos traz a memória à fonte da fé que defendemos. É uma fé revelada e dada pelo próprio Deus. Ao defender o cristianismo, precisamos entender que a nossa defesa está baseada na revelação divina, nós a recebemos pela graça de Deus.

Fazendo uma rápida análise e comparação de 1Pe 3.15 e Judas 1.3, notamos que Pedro usa a palavra "santificar" e a palavra que Judas usa é "santos" derivada da mesma semântica. Poderíamos então pensar que essa fé é entregue a todos aqueles que são separados, santificados. Judas escrevendo diz: que Deus concedeu essa fé, de uma vez por todas, ao corpo santificado de Cristo, àqueles que são separados como santos. Segundo Scott Oliphint: "Estar em Cristo é ser "declarado santo". Ser declarado santo é ter à fé. Ter fé traz consigo a responsabilidade de defesa e recomendação dela. A apologética é para todos os santos". ³

Vivemos nos dias atuais um tempo difícil. Podemos pensar na igreja que recebeu a carta de Judas: poderia ser essa a nossa condição hoje? Como, então deveríamos responder a essa situação nos dias atuais? A principal forma de batalhar pela fé seria explicar e expor a realidade e verdade das Escrituras Sagradas. No tempo de Judas, os falsos mestres (v.12,13) estavam pervertendo a graça de Deus (v.4), os cristãos precisavam lutar e argumentar que essa graça que leva a imoralidade é oposta à fé, mostrando que a graça genuína é resultado de uma gratidão obediente, santidade e fidelidade a esse Evangelho. Somos de fato chamados por Judas a defender esse evangelho (fé), dentro e fora das nossas igrejas, porém isso precede conhecer as Escrituras. Essa fé que culminou em Jesus Cristo, uma fé que entende que a revelação de Deus está completa em Cristo.

Judas finaliza sua carta orientando os cristãos: "Mas vós, amados, edificando-vos a vós mesmos sobre a vossa santíssima fé, orando no Espírito Santo, Conservai-vos a vós mesmos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna." (v.20,21). Termino, com um trecho da canção do grupo Logos: “Glória, glória ao Autor da minha fé”!

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Notas:
1- Scott Oliphint, A Batalha pertence ao Senhor, pág 68.
2- Ibid, pág 75.
3- Ibid, pág 83.

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Sobre a autora: Morgana Mendonça dos Santos, Recifense, Cristã Reformada, Missionaria, pecadora remida pela Graça.

Divulgação: Bereianos

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Por Josemar Bessa


- Paulo mostra uma característica essencial dos Eleitos -

Se pensarmos na frequência com que um termo é usado como referência a maneira que Deus deve ser honrado a gratidão está no topo da lista: “Não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças...” (Romanos 1.21). A Bíblia nos apresenta muitos como alegria ao servir a Deus... mas não existe um conceito mencionado mais do que a gratidão.

Nos Salmos nós vemos, por exemplo, gratidão na oração, no louvor, nos cânticos, em culto público, em nossos momentos de solitude... O que isso nos ensina? O que Deus está enfatizando como característica essencial do viver que o glorifica? Que a característica da gratidão deve ser algo proeminente, deve ser óbvia em nossas vidas para todos os homens contemplarem, deve ser exibida abundantemente.

Por que isso é fundamental? Por causa do que a verdadeira gratidão forçosamente mostra estar acontecendo no interior do ser humano. Quando de fato somos gratos, estamos reconhecendo uma dívida. Quando falamos “obrigado” no dia a dia, por gentilezas e apoio por coisas mínimas ou grandes, sendo uma expressão sincera de agradecimento, é um reconhecimento de que estamos em dívida com alguém – Nós abreviamos a frase para um breve “obrigado” – mas a frase original queria dizer: “Me sinto em dívida ( obrigado ) com você” – Me sinto obrigado a retribuir... Se é benéfico expressar gratidão uns com os outros, imagine quão infinitamente benéfico é ter uma verdadeira gratidão para com Deus.

Ao darmos graças a Deus, reconhecemos numa escala inimaginável, nossa dívida para com Ele por tudo que temos e somos – cada esperança que sustenta nossas vidas, cada promessa que dependemos, cada pedaço de pão, a lista simplesmente não tem fim, ela pode ser expandida ao infinito... “Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração” (Atos 17.28).

Paulo nos coloca diante de uma lista de características dos eleitos de Deus: “E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos. A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração. E, quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai”. Colossenses 3:15-17

Nos três versos o tema fala da atitude que adotamos – nos três versos acima o tema comum é a gratidão. Cada verso mostra uma perspectiva ligeiramente diferente sobre a gratidão.

No verso 15 Paulo fala sobre submetermos nosso coração, mostrando que a paz de Deus então dominará nossos corações – e então “sejamos agradecidos”.

No verso 16, Paulo diz que a Palavra de Cristo deve habitar em nós, e particularmente aqui, através do nosso louvor, música... E ele então conclui “cantando ao Senhor com gratidão”.

Já no verso 17, Paulo nos dá um princípio que domina todo nosso viver – Tudo o que fazemos, o que falamos... deve ser feito em nome de Cristo, nosso Senhor – ou seja, de uma maneira que tenhamos certeza de que Cristo esteja sendo Honrado. E então Paulo conclui – “Dando por Ele graças ao Pai”.

Vamos olhar hoje apenas a primeira, que a “Que a paz de Cristo seja o juiz em seus corações, visto que vocês foram chamados a viver em paz, como membros de um só corpo. E sejam agradecidos”. Colossenses 3:15

Essa é a grande característica do reinado do Messias – Paz! Ele, como diz Isaías 9.6, é o “Príncipe da Paz!” – Quantas vezes em seu ministério terreno nós vemos sair dos lábios de Cristo: “Vá em paz!” – Ou quando falando aos seus discípulos temerosos disse: “Deixo-lhes a paz; a minha paz lhes dou. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbem os seus corações, nem tenham medo”. João 14:27

Paulo em todas as suas cartas inclui a saudação – “Paz” – Aqui ele está dizendo que eles deixem a paz de Cristo ser o juiz em seus corações. Ou seja, ela vai estar dirigindo, vai ser a base de meus pensamentos e opiniões, dos planos e das ações – O que é essa paz de Cristo? Um outro texto de Paulo nos dá uma boa resposta: “Tendo sido justificados pela fé, temos paz com Deus por meio de Jesus Cristo” (Romanos 5.1).

Na alienação da criatura com seu Criador, rompendo completamente a comunhão entre eles, os colocou em inimizade, na qual a paz é impossível. Já nascemos no mundo debaixo da ira, em estado de condenação, é só por meio da graça podemos ser libertos, e Deus só faz isso através de Cristo. Fora de Cristo todo homem só conhece Deus como seu inimigo. Nele toda violação a santidade de Deus é curada, todo preço é pago, toda justiça é satisfeita, todo medo desaparece, e podemos comparecer diante dEle não só sabendo que a ira se foi, mas que agora em Cristo somos amados por Ele. E sabemos mais, que esse amor é eterno.

Sabemos que Ele triunfou da morte em nosso lugar e agora vivemos em seu Reino. Que essa paz com Deus, diz Paulo, governe em tudo os seus corações num viver santo que em tudo o honre agora. Essa paz nos guia e nos faz viver de modo completamente diferente de todo o mundo. Não vivemos mais na expectativa deste mundo, mas de outro. Essa paz muda completamente a forma como pensamos, agimos, planejamos... como reagimos a adversidade, como trabalhamos, criamos filhos... TUDO! Não somos mais inimigos de Deus.

Que essa paz seja o árbitro, diz Paulo (brabeou) – Ou seja, ela está em você para corrigir, controlar, dirigir... Essa paz, que nos colocou de novo em comunhão com Deus, deve ser o fator determinante em nossos corações. Sendo assim, nossas vidas vão ser vividas de modo que essa comunhão em Santa obediência nos dominará em tudo.

A maneira que vamos reagir a todas as circunstâncias, a esperança, o que tende a nos amedrontar, as preocupações... todas essas coisas vão estar subjugadas a verdade maravilhosa de que nós temos paz com Deus em Cristo, e como resultado veremos que não há nada que possa vir contra nós que possa nos tirar da presença amorosa e dos braços eternos do Pai. Um coração governado por essa paz, jamais vai ser um coração dado ao desespero, ação precipitada...

O governo dessa paz faz dos eleitos homens e mulheres estáveis, úteis e que em tudo honram a Deus. Todas as situações que causam destruição em outros, os construirá e edificará. Essa paz necessariamente tira o foco de sobre nós mesmos e coloca ele em Deus. “Que a paz de Cristo seja o juiz em seus corações, visto que vocês foram chamados a viver em paz, como membros de um só corpo. E sejam agradecidos”. Colossenses 3:15

Gratidão flui abundantemente do coração em que essa paz reina e é o árbitro de todas as coisas. Um coração ingrato revela não ter entendido o básico dessa grande salvação.

O que está governando sua vida? A Palavra que Paulo usou significa “Dirigir, controlar”!

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Fonte: Josemar Bessa



Por Thomas Watson


Provamos por meio “da verdade de Deus”. Deus tanto declarou quanto prometeu.

a. A verdade de Deus

i. Em sua Palavra Deus declarou: “o que permanece nele (no regenerado) é a divina semente” (lJo 3.9), “a unção que dele recebestes permanece em vós” (1Jo 2.27).

ii. Em sua Palavra Deus prometeu. A verdade de Deus, a pérola mais ao oriente de sua coroa, é penhorada na promessa. “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão” (Jo 10.28), “Farei com eles aliança eterna, segundo a qual não deixarei de lhes fazer o bem; e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim” (Jr 32.40). Deus ama tanto seu povo que não o abandonará, eles o temerão tanto que não o abandonarão. Se um crente não perseverar, Deus quebrará sua promessa. “Desposar-te-ei comigo para sempre; desposar-te-ei comigo em justiça, e em juízo, e em benignidade, e em misericórdias” (Os 2.19). Deus não desposa seu povo e depois se divorcia dele, ele odeia o repúdio (Ml 2.16). O amor de Deus aperta o laço de união conjugal tão fortemente que nem a morte nem o inferno podem rompê-lo.

b. O poder de Deus

O segundo argumento é o poder de Deus. O texto diz: “Sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação” (1 Pe 1.5). Cada pessoa da Trindade tem uma participação em fazer o crente perseverar. Deus, o Pai, estabelece (2Co 1.21), Deus, o Filho, confirma (1 Co 1.8), Deus, o Espírito Santo, sela (Ef 1.13). Assim, esse é o poder de Deus que nos guarda. Não somos guardados pelo nosso próprio poder.

Os pelagianos defendiam que uma pessoa, pelo próprio poder, venceria a tentação e perseveraria. Agostinho se opõe a eles, dizendo: “O homem ora a Deus para perseverar, o que seria absurdo se tivesse poder para perseverar por si próprio. E, se todo o poder fosse depositado no ser de um homem, então, por que um não perseveraria tão bem quanto outro? Por que Judas não perseverou como Pedro?” Logo, não é por nenhum poder que somos guardados, a não ser o poder de Deus. O Senhor guardou Israel para que não perecesse no deserto, até que os conduzisse a Canaã. O mesmo cuidado ele tomará - se não de uma maneira miraculosa, então de uma maneira espiritual ou invisível - para preservar seu povo num estado de graça, até os levar à Canaã celestial. Os pagãos representavam o titã Atlas¹ sustentando os céus para que não caísse. Podemos comparar o poder de Deus a esse Atlas, pois o poder de Deus sustenta os santos para que não caiam. Há uma discussão em tomo da possibilidade de um santo cair da graça como aconteceu com Adão. Mas defendo que a graça, pelo poder de Deus, não pode perecer.

c. O amor eletivo de Deus

O terceiro argumento é tomado do amor eletivo de Deus. Aqueles que Deus elegeu desde toda a eternidade para a glória não podem cair. Todo crente verdadeiro é eleito para a glória, portanto não pode cair da graça. O que pode frustrar a eleição ou fazer o decreto de Deus nulo? Esse argumento é firme como o Monte Sião, que não se abala. Alguns dos papistas defendem que aqueles que têm eleição absoluta não podem cair. “O firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O Senhor conhece os que lhe pertencem” (2Tm 2.19). O fundamento de Deus não é nada mais do que o decreto de Deus na eleição, e isso permanece firme. Deus não o alterará e outros não podem fazê-lo.

d. A união do crente com Cristo

O quarto argumento é tomado da união dos crentes com Cristo. Eles estão conectados a Cristo como os membros à cabeça pelos nervos e ligamentos da fé, de maneira que não podem ser separados (Ef 5.23). O que uma vez foi dito do corpo natural de Cristo é também verdade quanto a seu corpo místico: “Nenhum dos seus ossos será quebrado” (Jo 19.36). Assim como não é possível separar o fermento e a massa quando estão misturados e unidos, também é impossível para Cristo e os crentes serem separados, uma vez que foram unidos. Cristo e seus membros formam um corpo. Mas, é possível qualquer parte de Cristo perecer? Como pode Cristo perder qualquer membro de seu corpo místico e ainda continuar perfeito? Em resumo, se um crente for separado de Cristo, então, pela mesma regra, por que outros não? Por que não todos? Então, Cristo seria uma cabeça sem corpo.

e. O valor do resgate do eleito

O quinto argumento é tomado da natureza da compra. Um homem não dará dinheiro por uma compra que será perdida. Cristo morreu para que pudesse comprar seu povo para sempre: “Tendo obtido eterna redenção” (Hb 9.12). Você acha que Cristo teria derramado seu sangue para que pudéssemos crer nele por um período e então cair? Você acha que Cristo perderia sua compra?

f. A vitória do crente sobre o mundo

O sexto argumento é a vitória do crente sobre o mundo. O argumento fica assim: aquele que vence o mundo persevera na graça, um crente vence o mundo, portanto persevera na graça. “Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1 Jo 5.4). Uma pessoa pode perder uma única batalha no campo, contudo vencer no final. Um filho de Deus pode perder uma única batalha contra a tentação, como aconteceu com Pedro, mas ao final ser vitorioso. Para um santo ser coroado vencedor e para o mundo ser conquistado por ele, deve perseverar.

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Nota:
1 - Atlas: Também chamados de Atlante - foi um dos titãs gregos, condenados por Zeus a suster o céu para sempre. Atlas foi o primeiro rei da mítica Atlântica.

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Fonte: WATSON, Thomas. A fé cristã, estudos no Breve Catecismo de Westminster. São Paulo: Cultua Cristã, 2009. p. 323-325

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Por Thomas Magnum


Essa pergunta já me foi feita muitas vezes em ocasiões muito diferentes. Devido a uma característica da teologia do medo implantada desde épocas medievais, que tem se arrastado pelo colonialismo e chegado até a era digital. Podemos ler esse temor na vida de muitos crentes que absorveram tal afirmação de que o demônio pode "pega-lo" se ele não for fiel.

Devido a catolicidade de uma teologia embebida de crenças macumbadas esse tipo de afirmação obteve algum sucesso em igrejas brasileiras. Principalmente com o crescimento e influência da IURD* na prática e crença de igrejas no Brasil. A teologia do medo implantada, que visa claramente uma fidelização a instituição que liberta o fiel, é um fator decisivo, basta assistir por cinco minutos os testemunhos de programas de Tv de igrejas neopentecostais "Quando cheguei aqui não tinha nada, o diabo tomou tudo de mim, era possuído pelo Exu caveira, mas fui liberto", e por aí vai.

Devido a grande facilidade de superstições serem abraçadas pela religiosidade brasileira temos esse crescimento cancerígeno dentro dos arraiais evangélicos. Uma outra característica de igrejas neopentecostais é o posicionamento papal de seus missionários, bispos, apóstolos e pastores. O sacerdócio de cada crente e a importância de cada membro ter contato direto com a Palavra de Deus não é influenciado, o que o líder diz não deve ser examinado ou questionado, apenas aceito e praticado. A Palavra de Deus nos adverte "E logo os irmãos enviaram de noite Paulo e Silas a Beréia; e eles, chegando lá, foram à sinagoga dos judeus. Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim" (Atos 17:10-11). Claro que essa prática é desencorajada em tais igrejas, como o era no período anterior a reforma.

No entanto a Bíblia nos garante que somos guardados por Deus, "Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não está no pecado; aquele que nasceu de Deus o protege, e o Maligno não o atinge" (1 João 5:18). Nos diz também "Não ficarei mais no mundo, mas eles ainda estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, protege-os em teu nome, o nome que me deste, para que sejam um, assim como somos um. Enquanto estava com eles, eu os protegi e os guardei pelo nome que me deste. Nenhum deles se perdeu, a não ser aquele que estava destinado à perdição, para que se cumprisse a Escritura" (João 17:11-12).

Não temos em nenhuma parte da Escritura relatos de crentes endemoniados, e a Palavra nos diz que o mal já está vencido por Jesus, e, tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz, Colossenses 2:15. É fato que a atuação de demônios não é fantasiosa nem utópica, mas real, contudo a doutrina bíblica da justificação nos mostra que os eleitos são propriedade de Deus, são seus filhos - "porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus" (Romanos 8:14).

Não devemos cair em uma crença dualista, que existem poderes opostos com mesmo grau de força, que guerreiam entre si, não, Deus é soberano - "Pois esse é o propósito do Senhor dos Exércitos; quem pode impedi-lo? Sua mão está estendida; quem pode fazê-la recuar?" (Isaías 14:27). Até a atuação do diabo está debaixo da vontade de Deus, Satanás é um anjo caído, submisso ao seu criador "Jesus lhe disse: Retire-se, Satanás! Pois está escrito: Adore o Senhor, o seu Deus e só a ele preste culto" (Mateus 4:10). "Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o diabo, Satanás, e o acorrentou por mil anos; lançou-o no abismo, fechou-o e pôs um selo sobre ele, para assim impedi-lo de enganar as nações até que terminassem os mil anos. Depois disso, é necessário que ele seja solto por um pouco de tempo." (Apocalipse 20:2-3). Note que em cada texto bíblico Deus é o Soberano, ainda: "Vi o céu aberto e diante de mim um cavalo branco, cujo cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro. Ele julga e guerreia com justiça. Seus olhos são como chamas de fogo, e em sua cabeça há muitas coroas e um nome que só ele conhece, e ninguém mais. Está vestido com um manto tingido de sangue, e o seu nome é Palavra de Deus. Os exércitos do céu o seguiam, vestidos de linho fino, branco e puro, e montados em cavalos brancos. De sua boca sai uma espada afiada, com a qual ferirá as nações. Ele as governará com cetro de ferro. Ele pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus todo-poderoso. Em seu manto e em sua coxa está escrito este nome: REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES" (Apocalipse 19:11-16).

Devemos ter cuidado, examine as escrituras, leia bons livros, frequente uma igreja sadia doutrinariamente, isso fará bem para sua saúde espiritual e emocional.

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Divulgação: Bereianos

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Por Rev. Alan Rennê Alexandrino Lima


Introdução

É ponto pacífico, e até mesmo algo óbvio, o fato de que a expiação realizada por Jesus Cristo na cruz do Calvário significou a obtenção de bênçãos destinadas aos eleitos, como expressão da graça de Deus. Tais bênçãos são de natureza salvífica e estão alicerçadas sobre o sangue derramado na cruz. A expiação trouxe consigo a remoção da culpa e da ira de Deus, o perdão dos pecados e garantiu a aplicação da salvação por parte do Espírito Santo: chamado eficaz, regeneração, arrependimento, fé, justificação, santificação e a glorificação. Além disso, a obra salvífica realizada por Jesus Cristo conquistou dons excelentes para os eleitos, como atesta o apóstolo Paulo, ecoando o Salmo 68.18: “Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens” (Efésios 4.8). Não obstante, objeto de grande controvérsia é o assunto a respeito das benesses desfrutadas pelos preteridos e ímpios na presente vida. Essas benesses, ou bênçãos, possuem alguma relação com a obra expiatória de Jesus? Mais especificamente, existem, de fato, os chamados efeitos colaterais da cruz de Cristo? Deus faz uso da obra de Jesus na cruz para abençoar os ímpios, ainda que indiretamente, a fim de que o seu povo, em última análise, possa viver melhor?

Inegavelmente, a experiência cotidiana atesta que os descrentes e ímpios desfrutam de bênçãos terrenas e até mesmo de favores espirituais. Além disso, as Sagradas Escrituras são claras nas suas afirmações no sentido de que, Deus “faz com que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos” (Mateus 5.45), que “todos esperam de ti que lhes dês o seu sustento em ocasião oportuna” (Salmo 104.27), e que Deus “é benigno até para com os ingratos e maus” (Lucas 6.35). É inegável, então, que os ímpios e réprobos gozam de coisas boas nesta vida. Eles são prósperos, ricos, saudáveis e inteligentes. De onde vem isso? Qual a fonte das suas realizações positivas e das bênçãos usufruídas por eles? Será que elas se originam da expiação? Ou estão diretamente relacionadas com Deus como Criador e Sustentador da sua criação?

Como já foi afirmado, isso tem sido objeto de grande controvérsia no meio reformado. O ensinamento majoritário, todavia, tem sido o de que tais manifestações nada mais são do que expressões da graça comum operada nos réprobos pelo Espírito Santo.[1] Não obstante, um grupo de estudiosos reformados tem contestado a doutrina da graça comum, bem como a ideia de que as benesses usufruídas pelos réprobos e ímpios sejam expressões do amor de Deus e efeitos colaterais da cruz de Cristo. Para eles, mesmo as bênçãos desfrutadas pelos ímpios nada mais são do que laços colocados diante deles pelo Senhor.[2] 

O propósito do presente trabalho é contribuir com esse debate, apresentando uma resposta ao questionamento: Há alguma bênção oriunda da expiação de caráter não-salvífico, endereçada aos não-eleitos para o bem dos filhos de Deus? Para que esse objetivo seja alcançado, a doutrina da graça comum será discutida em primeiro lugar, considerando-se tanto o ensinamento reformado clássico quanto a sua contraparte reformada radical. Logo em seguida, discutir-se-á o fundamento da graça comum: criação ou expiação? Em terceiro lugar, duas passagens das Sagradas Escrituras, que mencionam benesses recebidas pelos inimigos da cruz de Cristo serão consideradas. Em quarto e último lugar, inquirir-se-á sobre o propósito de Deus na concessão de benefícios àqueles que não fazem parte do seu povo amado.

1 A Doutrina Reformada da Graça Comum

1.1. Origem do termo

A doutrina da graça comum procura responder a um importante questionamento que tem sido levantado ao longo dos séculos, conforme expresso por Henry Meeter: “Como nós podemos solucionar o problema do mal relacionado pela Bíblia com o homem não regenerado e as ‘excelentes proezas’ feitas por estes mesmos homens não regenerados e pagãos?”[3]  A resposta conhecida como “graça comum” atribui ao Espírito Santo, “não somente o papel de refrear aquilo de negativo que existe no ser humano e no meio em que vive, mas também de produzir em seu coração algumas possibilidades de realizações positivas, como o desenvolvimento cultural saudável, as artes de maneira geral e, porque não dizer também, até a magistratura”.[4] 

O termo “graça comum” foi cunhado já no século XX. Existe dúvida quanto a quem o cunhou. Alguns acreditam que o teólogo holandês Herman Bavinck (1854-1921) tenha sido o responsável [5], ao passo que outros o atribuem ao também holandês Abraham Kuyper (1837-1920).[6] Não resta dúvida, porém, de que Kuyper foi o principal difusor tanto do conceito quanto da doutrina da graça comum.

Várias tentativas de definição de graça comum têm sido feitas ao longo dos anos por teólogos representativos da tradição reformada. D. Martyn Lloyd-Jones, por exemplo, afirma que graça comum
É o termo aplicado àquelas bênçãos gerais que Deus comunica a todos os homens e mulheres, indiscriminadamente, como Lhe apraz, não só a Seu próprio povo, mas a todos os homens e mulheres, segundo o Seu beneplácito. Ou, de outra forma, graça comum significa aquelas operações gerais do Espírito Santo nas quais, sem renovar o coração, Ele exerce influência moral por meio da qual o pecado é restringido, a ordem é preservada na vida social e a justiça civil é promovida.[7]

Archibald Alexander Hodge, filho do ilustre teólogo princetoniano Charles Hodge, define a graça comum da seguinte maneira:
A graça comum é a influência restritiva e persuasiva do Espírito Santo, operando somente por meio das verdades reveladas no evangelho, ou por meio da luz natural da razão e da consciência, aumentando o natural efeito moral dessas verdades sobre o coração, a inteligência e o a consciência. Não envolve mudança do coração, e, sim, unicamente um aumento do poder natural da verdade, uma ação restritiva das más paixões e um aumento das emoções naturais em face do pecado, do dever e do interesse próprio.[8] 

Hodge entende que a ação do Espírito Santo denominada de “graça comum” se dá também por meio das verdades reveladas do evangelho. Dessa forma, ele parece entender que existem algumas dádivas recebidas pelos ímpios que têm a sua origem na obra expiatória de Jesus Cristo.

1.2. A contraparte radical reformada

No ano de 1924 a Christian Reformed Church, em sua Assembleia Geral, adotou uma posição que ratificava a doutrina da graça comum. Sua posição foi a afirmação de que Deus é favoravelmente disposto a todos os homens, tanto aos eleitos quanto aos réprobos. Isso levou os teólogos Herman Hoeksema, George Ophoff e Henry Danhof a romperem com a Christian Reformed Church e a fundar a Protestante Reformed Church. De acordo com Hoeksema, a única coisa que Deus manifestava ao não-eleito era a sua ira. Não há, segundo ele, nenhuma medida de graça oferecida ao réprobo nem nenhuma oferta séria do evangelho ao não-eleito.[9] 

David J. Engelsma, professor de Teologia Sistemática e Antigo Testamento na Theological School of the Protestant Reformed Churches, em Grandville, e duro oponente da doutrina da graça comum a define como:
Um favor não-salvífico de Deus a todos os humanos; uma operação do Espírito Santo dentro dos réprobos pela qual, sem regenerá-los, restringe o pecado neles, de maneira que se tornam depravados apenas parcialmente; e a habilidade dos incrédulos, por virtude dessa graça do Espírito Santo, para praticarem boas obras, especialmente no lugar de uma cultura que é verdadeiramente, mas não definitivamente, boa.[10] 

Não se sabe de um só teólogo reformado que afirme que, por meio da ação do Espírito Santo na graça comum os incrédulos deixem de ser totalmente depravados. A afirmação de Engelsma, de que a crença na graça comum implica a crença numa depravação apenas parcial se mostra desprovida de fundamentação teórica e documental. Todos os teólogos reformados que acreditam na existência da graça comum afirmam conjuntamente a total corrupção do ser humano.

O grande problema com David Engelsma e os outros oponentes da doutrina da graça comum é que eles acabam fazendo uma confusão entre depravação total e depravação absoluta. James Daane faz um comentário interessante sobre isso:
Partidários da visão tradicional da graça comum que conhecem algo da história do pensamento reformado não serão convencidos facilmente de que a graça comum mina as doutrinas da depravação total e da antítese.[11] Eles sabem muito bem que aqueles que forjaram a doutrina da graça comum também criam na depravação total. Antes de aceitar a crítica que diz que a graça comum enfraquece essas doutrinas, eles levantam a questão se aqueles que se opõem a essa visão ainda estão lidando com a concepção reformada da depravação total e da antítese, ou se talvez eles não tenham transformado a depravação total em depravação absoluta e a antítese em uma antítese absoluta.[12] 

Mark Driscoll e Gerry Breshears seguem na mesma linha ao afirmarem que “enquanto as pessoas não são absolutamente depravadas e tão más quanto elas poderiam ser, todas as pessoas são totalmente depravadas em que todos os seus motivos, palavras, atos e pensamentos são afetados, manchados e corrompidos pelo pecado”.[13] Daane prossegue afirmando que, “é simplesmente uma questão de registro histórico que todos os teólogos reformados que foram mais ativos na formulação da graça comum foram justamente aqueles que de todo coração também aceitaram a doutrina da depravação total”.[14] Nesse sentido, Richard J. Mouw cita especificamente o reformador João Calvino como alguém que defendeu a depravação total e a antítese e ao mesmo tempo reconhecia a capacidade dos incrédulos de produzirem boas coisas. Ele diz:
A ideia de antítese estava presente no pensamento calvinista desde o início. O próprio João Calvino usou o termo de um modo que antecipou o sentido mais técnico desenvolvido no calvinismo holandês do século dezenove. Quando uma pessoa é convertida, Calvino argumenta, Deus graciosamente transforma “uma má vontade em uma boa vontade”. Então, “a nova criação... varre para longe tudo da nossa natureza [deprava] comum”. Essa ação transformadora é exigida, Calvino observou na sua exposição da linha de raciocínio de Paulo em Efésios 2, por causa de “uma antítese entre Adão e Cristo”.[15] 

Fica claro, então, que é característico da teologia reformada o ensino da graça comum. Ademais, é necessário que fique claro, que sustentar a graça comum em nada implica a desconstrução das doutrinas da depravação total e da antítese. Prova-se isso a partir da constatação de que a doutrina da graça comum não surgiu dos sistemas teológicos que não acreditam da depravação total, como por exemplo, o semi-pelagianismo católico romano e o arminanismo.[16] 

Através da graça comum Deus revela a sua bondade para com todas as pessoas, mas não de uma forma salvífica. “A graça comum de Deus inclui a água que bebemos, a comida que comemos, o sol que nos alegra, e a chuva de que necessitamos, pois Deus é bom para com os pecadores e com os santos igualmente”.[17] Sobre os efeitos dessa graça comum, Mark Driscoll e Gerry Breshears afirmam que, “a graça comum de Deus faz com que aqueles que O desprezam a aprender e crescer em áreas como ciência, filosofia, tecnologia, educação e medicina. A graça comum de Deus faz com que sociedades floresçam, famílias existam, cidades surjam e nações prosperem”.[18]

Fica patente que os benefícios desfrutados pelos réprobos e ímpios possuem estreita relação com a graça comum de Deus. A questão agora é determinar se essas bênçãos manifestadas através da graça comum fluem da obra expiatória de Jesus Cristo ou simplesmente da bondade de Deus enquanto Criador e Sustentador de todas as coisas.

Continua nos próximos dias...

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Notas:
[1] Fernando de Almeida. “O Ensino da Graça Comum na Tradição Reformada”, In: Franklin Ferreira (Ed.). A Glória da Graça de Deus: Ensaios em Honra a J. Richard Denham Jr. Sobre História, Teologia, Igreja e Sociedade. São José dos Campos: Fiel, 2010. p. 619.
[2] Cf. Angus Stewart. Graça Comum. p. 1. Acessado em 18/08/2011.
[3] H. Henry Meeter. The Basics Ideas of Calvinism. Grand Rapids, MI: Baker Books, 1990. p. 51.
[4] Fernando de Almeida. “O Ensino da Graça Comum na Tradição Reformada”, In: Franklin Ferreira (Ed.). A Glória da Graça de Deus. p. 619.
[5] Ibid. p. 620.
[6] Franklin Ferreira. Teologia Cristã: Uma Introdução à Sistematização das Doutrinas. São Paulo: Vida Nova, 2011. p. 154. David J. Engelsma. Common Grace Revisited: A Response to Richard J. Mouw’s He Shines in All That’s Fair. Grandville, MI: Reformed Free Publishing Association, 2003. p. 2.
[7] D. Martyn Lloyd-Jones. Deus o Espírito Santo. São Paulo: PES, 1998. p. 36.
[8] D. Martyn Lloyd-Jones. Deus o Espírito Santo. São Paulo: PES, 1998. p. 36.
[9] Morton H. Smith. Systematic Theology. Vol. 1. Greenville, SC: Greenville Seminary Press, 1994. p. 214.
[10] David J. Engelsma. Common Grace Revisited. p. 2. Ênfase acrescentada.
[11] Os teólogos calvinistas discutem a graça comum em conexão com a ideia de antítese. Abraham Kuyper frequentemente se referia à antítese, que significa “a radical oposição que caracteriza, nas palavras de Stob, a ‘real e inflexível , embora irregular, luta existente entre Deus e Satanás, entre Cristo e o anticristo, entre a semente da mulher e a semente da serpente, entre a igreja e o mundo’”. Cf. Richard J. Mouw. He Shines In All That’s Fair: Culture and Common Grace. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2001. p. 15.
[12] James Daane. A Theology of Grace: Na Inquiry Into and Evaluation of Dr. C. Van Til’s Doctrine of Common Grace. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1954. p. 32.
[13] Mark Driscoll e Gerry Breshears. Doctrine: What Christians Should Believe. Wheaton, IL: Crossway, 2010. p. 157.
[14] Ibid.
[15] Richard J. Mouw. He Shines In All That’s Fair. p. 15.
[16] James Daane. A Theology of Grace. p. 33.
[17] Mark Driscoll e Gerry Breshears. Doctrine. p. 39.
[18] Ibid. 
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Fonte: Os efeitos colaterais da obra expiatória de Jesus Cristo, por Alan Rennê Alexandrino Lima, São Paulo 2011. Trabalho apresentado ao Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, em cumprimento dos requisitos do módulo A Obra do Redentor, ministrado pelo professor Dr. Heber Carlos de Campos.

Artigo gentilmente cedido pelo autor ao blog Bereianos.

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Por Thiago Oliveira


A Igreja Batista da Lagoinha ficou famosa em todo o Brasil devido ao grupo Diante do Trono, ministério de louvor da igreja liderado por Ana Paula Valadão, filha do então Pastor Márcio Valadão. A igreja tem a sua linha assumidamente pentecostal desde os anos de 1960. O pastor José Rego, o primeiro pastor da Lagoinha, pregava que o batismo com o Espírito Santo era uma experiência distinta da conversão e era adepto da glossolalia. Em 1964, a Convenção Batista excluiu a Igreja da Lagoinha do seu rol.

O pastor Márcio Valadão, que hoje se denomina apóstolo, chegou ao pastoreio em 1972 e foi o responsável pelo projeto expansionista da Lagoinha. Chegou a abrir diversas congregações. Uma de suas “filhas” é a Igreja Batista Getsêmani, liderada pelo pastor Jorge Linhares, autor de um livro herético intitulado “Benção e Maldição”.

No entanto, fica evidente que o “boom” da Igreja da Lagoinha está estritamente ligado ao grupo Diante do Trono. Este ministério de louvor que gravou seu primeiro CD em 1998, logo se tornaria uma potência da crescente indústria gospel com os álbuns seguintes “Águas Purificadoras” (2000) e “Preciso de Ti” (2001). O projeto inicial era gerar receita para investir no combate à prostituição infantil na Índia. Porém, o sucesso foi tão rápido que logo fez do ministério um dos expoentes da música cristã contemporânea. Hoje é o maior grupo de louvor da América Latina, com milhões e milhões de discos vendidos, além de vários prêmios musicais.

Não demorou para que as músicas do Diante do Trono tivessem espaço nos cultos de diversas denominações. Suas canções eram carregadas de emoção, falavam sobre a dependência do homem e incentivavam a busca por Deus. Todavia, pessoas mais atentas já haviam notado alguns equívocos teológicos em suas letras. Temos o exemplo de “Vitória na Cruz” que tem no mínimo dois erros: 1. Diz que o Diabo e o Inferno festejaram a morte na cruz. 2. Diz que Jesus tomou as chaves do Inferno da mão do Diabo. Bem, o Inimigo não comemorou a morte na cruz, pelo contrário, ele tentou Jesus para não ir até ela, pois sabia bem que o Filho de Deus triunfaria no madeiro. E a outra coisa é: Satanás nunca teve as chaves de coisa alguma, ele nunca foi dono de nada. Não existe respaldo bíblico para tais afirmações.

Com a consolidação do Diante do Trono no cenário nacional, houve um forte investimento midiático, hoje a Igreja da Lagoinha tem o seu próprio canal de televisão, a Rede Super, e lá vincula seus cultos e também os diversos congressos realizados pelo Centro de Treinamento Ministerial Diante do Trono. Foi justamente com esse espaço midiático que as heresias desse ministério começaram a repercutir. Coisas muito estranhas como o episódio em que a Ana Paula engatinhou como um leão, dizendo que estava recebendo uma nova unção. Vale ressaltar que o uso do termo unção no Novo Testamento está vinculado ao fato de termos recebido a Cristo no ato da conversão e seu Espírito se faz presente em nós (1 Jo 2: 20 e 27). 

Talvez o maior agravante tenha sido o ocorrido nesse último feriado de Páscoa. Ana Paula Valadão protagonizou um tal de ato profético que só vendo para crer:




Meu Deus! O que foi isso? O que são aquelas danças? O “aviãozinho” da Ana Paula muito se assemelha aos movimentos dos terreiros de umbanda. Tais atos proféticos não tem base neotestamentária. O que acontecia no Antigo Testamento, com o movimento profético era puramente didático (não tinha poderes místicos) e geralmente apontava ou para Cristo ou para o juízo de Deus sobre Israel. Ademais, hoje Deus não nos fala por meio dos profetas, mas sim através da revelação de seu Filho:

Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo.” (Hebreus 1:1-2)

Engraçado é ver no vídeo que “apóstolos” estão transferindo o poder para a outra geração. Mas acontece que  apostolado cessou no século primeiro. Indo para a Bíblia vemos que para exercer o ofício apostólico existiam duas condições: 1. O apóstolo tinha que ser testemunha ocular da ressurreição de Cristo (Atos 1:2-3, 1:21-22, 4:33 e 9:1-6; 1Co 9:1 e 15:7-9). 2. O apóstolo tinha que ter sido comissionado diretamente por Jesus (Mt 10:1-7, Mc. 3:14, Lc 6:13-16, At 1:21-26, Gl 1:1 e  1:11-12 ). Não existe nenhuma condição bíblica para crer que o ofício apostólico é válido em nossos dias, até porque, quem chamou os apóstolos contemporâneos? Quais os requisitos de seu apostolado? Quantos são os apóstolos nos dias atuais? Basta se auto-intitular? 

Infelizmente vi, nas redes sociais, diversas pessoas dizendo que não enxergaram nada demais no dito ato profético e que sentiram uma forte emoção durante a encenação. Pobre da igreja que coloca as emoções pessoais a frente das Escrituras. Lembrem-se de que a Bíblia é um livro que foi inspirado pelo Espírito Santo, sendo assim, ele nunca iria impelir alguém a encenar ou agir algo que não tem o respaldo da Palavra. Lembro de Jeremias 28, lá o falso profeta Ananias fez um grande estardalhaço, falando que o julgo da Babilônia seria quebrado em 2 anos e Judá estaria livre. Para isso ele arrancou o julgo de madeira do pescoço do profeta Jeremias (seria um ato profético?). Então Deus ordenou que Jeremias falasse a Ananias que ele quebrou um julgo de madeira, mas o Senhor iria por um de ferro e todos iam ter que se submeter a Nabucodonozor, rei babilônico. Também afirmou que o falso profeta morreria por ter feito o povo crer numa mentira. E tal como profetizou Jeremias, assim aconteceu.

Como se não bastasse as invencionices da líder do Diante do Trono, agora a Igreja da Lagoinha tem um outro expoente tão polêmico e equivocado como a Ana Paula Valadão tem se portado. É o tal do Pastor Lucinho Barreto, que ganhou fama após ter uma imagem sua “cheirando” a Bíblia exposta na internet. Ele se diz uma referência para a juventude evangélica brasileira e promove “loucuras por Jesus”. Sua teologia é infundada, todavia, suas pregações são muito visualizadas no YouTube. Realmente o Lucinho tem sido venerado.

A heresia da vez foi ter falado que Deus criou esposas para Caim e Abel assim como criou Eva para Adão (veja aqui). Sinceramente, esta é uma tremenda de uma sandice. Como alguém que se diz pastor defende algo que não é bíblico, como sendo uma verdade? Gênesis 5:4 diz que Adão gerou filhos e filhas e isso nos dá respaldo para dizer que Caim e Abel casaram com irmãs ou sobrinhas, e que naquele contexto o incesto não era pecado. Por mais bem intencionado que seja o Lucinho, isso não serve como desculpa para distorcer a Palavra de Deus como ele vem fazendo. Uzá foi fulminado por tocar na arca da aliança, algo proibido. Ele fez isso quando os bois tropeçaram (2 Samuel 6:6-7), talvez com a intenção de livrá-la de uma possível queda, mas Deus não o poupou. Por mais “irrelevante” que seja a doutrina, Lucinho peca por não fazer das Escrituras a sua fonte de revelação, embasando seus argumentos em mero achismo. 

Não há dúvidas de que a Igreja Batista da Lagoinha tem se tornado um verdadeiro celeiro de heresias e como isso é ruim. Gostaria muito de não ver o que vi e nem ouvir o que ouvi, todavia, diante do que ouço e do que enxergo, não me calarei e me posicionarei em defesa da Palavra. Cabe a mim clamar a Deus por misericórdia: Misericórdia Senhor, para que eu não venha a cometer os erros que hoje denuncio. E misericórdia para a liderança da Lagoinha, que eles possam se voltar a sã doutrina, abandonada faz tempo, trazendo-lhes condenação. Ajuda Senhor. Preciso (realmente) de ti!

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Divulgação: Bereianos

segunda-feira, 28 de abril de 2014

O QUE SÃO OS ATOS PROFÉTICOS?


Uma reflexão sobre o significado dos atos proféticos para os dias de hoje

Por Robson T. Fernandes

Antes de qualquer coisa é preciso dizer que a intenção deste artigo não é denegrir a imagem de ninguém e nem difamar quem quer que seja, especialmente porque acreditamos sempre que existe a possibilidade de arrependimento e mudança de atitude diante de uma postura errada, principalmente porque, como cristãos, devemos sempre esperar que aja o exercício do arrependimento, confissão e perdão (2Cr 7:14). 

Um dos problemas mais comuns e recorrentes na igreja evangélica brasileira diz respeito às falhas de interpretação bíblica, quando alguns textos são distorcidos, ora propositalmente ora por imperícia, imprudência ou negligência. De uma forma ou de outra, a utilização inadequada de um texto ou de uma passagem bíblica tem levado muitas pessoas ao engano e ao erro. É exatamente isso o que ocorre com as práticas dos atos proféticos, tão comuns entre aqueles que seguem o Movimento da Fé. 

Mas, afinal de contas, o que é um ato profético? 

René Terranova, que foi ungido apóstolo, depois “paipóstolo” e Patriarca, por Morris Cerrullo, tem se destacado como um dos principais líderes defensores do Ato Profético no Brasil. Ele diz: “A linguagem profética traz ao reino físico a existência do mundo espiritual. Na maioria dos seus discursos, Jesus falava de uma forma espiritual e o povo entendia na forma física, porque lhes faltava discernimento espiritual” (TERRANOVA, 2009) [1]. 

Ainda, o grupo Reavivamento Europa dá a seguinte definição para Ato Profético:
Como o nome já sugere são ações realizadas por homens, profetas de Deus com determinado sentido profético, com intuito de profetizar com ações e símbolos. São sinais que apontam para o reino espiritual e que tem conseqüências no reino físico. São ações expressas em atitudes e palavras [2]. 
Então, na visão dos seguidores do Movimento da Fé, o Ato Profético seria uma ação envolta em simbologia que supostamente traria ao mundo físico as realidades espirituais. Para isso, os defensores desse pensamento utilizam passagens bíblicas, especialmente do Antigo Testamento, em que Deus manda que os profetas utilizem símbolos para transmitir a Sua mensagem, a exemplo dos umbrais das portas com sangue na noite da décima praga do Egito (Ex 12), a pregação sem roupas de Isaías (Is 20:3-4), as sete voltas em torno de Jericó (Josué), a canga de Jeremias (Jr 27:2), o cinto de linho enterrado às margens do rio Eufrates (Jr 13:1-11), a botija de barro quebrada diante do povo (Jr 19:1-11) etc.

Em primeiro lugar, as ações praticadas pelos profetas bíblicos não traziam nada à existência, como afirmam os seguidores do Movimento da Fé. Antes, tinham um caráter didático de ensino, instrução e orientação para o povo de Deus, a exemplo do profeta Oséias que casou com uma prostituta. A ação de Oséias, ordenada por Deus, visava fazer o povo entender que havia se prostituído diante do Senhor, mas que Ele, o Senhor, continuava fiel ao Seu povo (Os 3) buscando tirá-lo da prostituição, assim como Oséias fez com aquela mulher. Essa passagem bíblica nos mostra que a situação de Gômer, a prostituta, era a mesma situação do povo de Israel. Esse meio didático utilizado por Deus só demonstra que o povo estava em prostituição. 

Essas ações proféticas encontradas na Bíblia não trazem à existência coisas espirituais. Elas tinham um caráter didático para corrigir o povo, ensinar o povo ou trazer juízo sobre um povo. Por isso diz-se que tais ações fazem parte dos atos salvadores de Deus na história. 

Por essa razão é que o escritor aos Hebreus declara:
Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas, tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome do que eles. (Hb 1:1-4)
Em segundo lugar, a interpretação bíblica é distorcida com os Atos Proféticos da atualidade. Isso ocorre porque tais pessoas confundem o que é relato histórico e o que é ordem direta.

Um relato histórico é a descrição de algo que ocorreu no passado. Por exemplo, a Escritura relata que Judas traiu Jesus. E mais, a Bíblia revela que o próprio Jesus disse: “O que fazes, faze-o depressa” (Jo 13:27). Ainda, a Bíblia revela que Deus disse à Moisés: “tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa” (Ex 3:5). Ainda, a Bíblia revela que Jesus “cuspiu na terra e, tendo feito lodo com a saliva, aplicou-o aos olhos do cego” (Jo 9:6). Ainda, a Bíblia revela que quando os sacerdotes entrassem na tenda da congregação, ou quando fossem ministrar no altar, deveriam lavar as mãos e os pés com água para não morrerem, e “isto lhes será por estatuto perpétuo, a ele e à sua posteridade, através de suas gerações” (Ex 30:20,21). Ou seja, se um relato bíblico e histórico é entendido como uma ordem para o povo de Deus e deve ser visto em forma de Ato Profético, deveríamos, então, trair Jesus, pois Ele mesmo disse “O que fazes, faze-o depressa”; deveríamos tirar as sandálias toda vez que entrássemos na presença de Deus em oração, na igreja ou em uma reunião espiritual com irmãos (Ex 3:5); deveríamos cuspir na terra e fazer “lodo” para passar nos olhos dos cegos para os quais oramos (Jo 9:6); deveríamos lavar as mãos e os pés todas as vezes que fôssemos oferecer algum tipo de serviço ao Senhor, para não sermos mortos (Ex 30:20,21) etc. 

O fato é que esses atos, encontrados em sua grande maioria no Antigo Testamento, são direcionados à um povo, evento ou situação específica, e a Bíblia está apenas relatando o que houve. A Bíblia não está estabelecendo uma regra ou dizendo que deveríamos reproduzir o ato. Ainda, o leitor da Bíblia deve observar o que o texto está dizendo, para quem está dizendo e para quando está dizendo. Muitas vezes algumas pessoas erram porque se apropriam de promessas que dizem respeito ao povo de Israel no Antigo Testamento, como se isso dissesse respeito a nós hoje. Portanto, uma coisa é a Bíblia relatar um fato, e outra coisa completamente diferente é a Bíblia dar uma ordem direta e aplicável a nós hoje, como essa:
Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais. Pois com que direito haveria eu de julgar os de fora? Não julgais vós os de dentro? Os de fora, porém, Deus os julgará. Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor. (1Co 5:11-13)
Em terceiro lugar, erram por ignorar a suficiência das Escrituras.

A busca por Atos Proféticos é gerada pela sensação de que a Bíblia não é suficiente para nos falar, para nos corrigir e nem para nos orientar, e muito menos para suprir nossas reais necessidades. 

O apóstolo Paulo alerta seu discípulo Timóteo sobre isso:

Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério. (2Tm 4:1-5) Exatamente por essa razão, Jesus disse: “Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus” (Mt 22:29). 

O fato é que tais pessoas sentem a necessidade de algo mais, de uma nova experiência. Isso ocorre porque se afastaram dos princípios elementares da fé cristã e do Sola Scriptura. Para estes a Sagrada Escritura já não é suficiente, pois buscam algo mais. Contudo, esquecem que os atos dos profetas no Antigo Testamento, normalmente, estavam relacionados com o afastamento do povo dos princípios estabelecidos pelo Senhor, e como este povo estava negligenciando a Sagrada Escritura, Deus usa de outro meio para lhes falar ao coração. Por isso, ao buscar um suposto e hipotético Ato Profético estão apenas confessando publicamente o quão distante se encontram da Bíblia Sagrada. 

Em quarto lugar, erram na contextualização e na aplicação dos princípios bíblicos. 

Um exemplo que pode ser citado para ilustrar a questão é a armadura de Deus, em Efésios 6:10-20. Ali, naquele Texto, o apóstolo Paulo utiliza o artifício da ilustração para falar de verdades espirituais, e essas verdades são ilustradas através de uma realidade física. Ou seja, Paulo usa a armadura romana para falar da verdade da batalha espiritual, alicerçada no Evangelho da Paz (sandálias), Justiça (couraça), Salvação (capacete), Fé (escudo) e a Palavra de Deus (espada). Isso não quer dizer que o cristão tenha que usar uma armadura de verdade, ou que tenha que ter miniaturas de armaduras em sua casa como uma mandala, patuá ou amuleto, para estar protegido, pois isso seria superstição. Da mesma forma, os atos encontrados no Antigo Testamento, por exemplo, não precisam ser repetidos em nosso meio hoje, pois semelhantemente isso seria superstição, ou no mínimo seria o mesmo que achar que um método pode substituir ou provocar a ação do Espírito Santo, o que seria recair no erro do pragmatismo. Mas, é exatamente isso o que tem acontecido, quando essas “práticas” e “ações” são executadas com a finalidade de “bloquear”, “anular”, “derrubar” ou “vencer” fortalezas espirituais. Isso é o mesmo que os espíritas fazem ao usar sabonetes e sal grosso para tomar banhos de descarrego, ou usar alguns pós com supostos poderes especiais que acreditam poder livrar as pessoas de mal olhado, ou quando usam o pé de pinhão roxo para proteger suas casas e comércios, ou quando fazem um despacho para, supostamente, fechar o corpo contra maus espíritos. Tudo isso não passa de superstição, paganismo, feitiçaria e macumbaria. 

Além do mais, é preciso destacar que não encontramos nenhuma ordem bíblica para que façamos tais coisas. É preciso relembrarmos que uma coisa é a Bíblia relatar algo que ocorreu, e outra, completamente diferente, é a Bíblia ordenar que pratiquemos algo. 

Por isso, mais uma vez é preciso repetir o que o escritor aos Hebreus declara:
Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, NESTES ÚLTIMOS DIAS, NOS FALOU PELO FILHO, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas, tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome do que eles. (Hb 1:1-4)
Portanto, no passado Deus utilizou alguns meios didáticos para ensinar o povo e conduzi-los à verdade da chegada e da presença do Messias, Jesus Cristo. Mas, a partir de Jesus o meio que Deus tem utilizado é o próprio Jesus, mediante a ação do Espírito Santo, por meio da Sagrada Escritura. Se no passado Deus usou, por exemplo, o Urim e o Tumim (Ex 28:30), hoje Ele usa a Sua Sagrada Palavra, revelada aos Seus filhos.
Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar. (Hb 4:12-13) Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, e que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra. (2 Tm 3:14-17)
A TRANSFERÊNCIA DE GERAÇÃO COMO UM ATO PROFÉTICO

A ideia de “Transferência de Geração”, praticada pelo grupo Diante do Trono, é caracterizada simplesmente como uma distorção e afastamento das Escrituras, baseada em manipulações de datas. 

ASSISTA O VÍDEO DA TRANSFERÊNCIA DE GERAÇÃO NO 15º CONGRESSO DE ADORAÇÃO E INTERCESSÃO DIANTE DO TRONO 

O argumento utilizado para se defender a “Transferência de Geração” é de que existe uma promessa em Joel 1:3, em que são citadas cinco gerações, sabendo que uma geração dura em torno de 40 anos. Além disso, afirmam que um país só é considerado como tal após a sua independência, e como a independência do Brasil só ocorreu no dia 7 de setembro de 1822, a promessa de Deus é conduzida até meados dos anos 1980. Os defensores deste pensamento afirmam especificamente o ano de 1982. Então, essa geração de 1982 seria a responsável por promulgar um santo jejum, convocar uma assembleia solene, congregar todos os anciãos e todos os moradores da terra para a Casa do SENHOR e clamar à Ele (Joel 1:14). 

O primeiro problema com o argumento utilizado é para quem foi destinada a promessa de Joel 1:3. Para quem o Texto está falando? 

O contexto do livro de Joel diz respeito a devastação da terra por uma dupla praga, de locustas [3] e seca. Então, a promessa de Joel é de que se o povo de Israel voltar à adoração do Deus verdadeiro, a sua terra será restaurada, tanto da praga dos gafanhotos como da seca. Portanto, essa profecia diz respeito às pragas derramadas sobre o próprio povo de Deus por sua apostasia, na época de Joel. Dessa forma, se o fundamento para a transferência de Gerações, praticada pelo Diante do Trono, é o texto de Joel, então esse grupo está confessando publicamente a sua apostasia, assim como foi com o povo do profeta Joel. 

O profeta Joel alerta o povo de que essa praga não deveria ser esquecida, e, por isso, precisava ser relembrada às gerações futuras para que estas gerações entendessem que ela era a representação de um juízo ainda maior no porvir. Se esta praga foi terrível, o Dia do Senhor será muito mais (Jl 2:1-11). Portanto, o que deveria ser lembrado às gerações futuras era o derramamento do juízo de Deus, que não tem nenhuma relação com a suposta Transferência de Gerações. 

O segundo problema com o argumento utilizado é que não há nenhuma evidência bíblica de que uma geração dure 40 anos, como essas pessoas desejam. 

Orlando Boyer afirmou que a geração é a “duração média da vida de um homem” (1998, p.292) [4], e Werner Kaschel e Rudi Zimmer afirmaram que uma geração é a “sucessão de descendentes em linha reta: pais, filhos, netos, bisnetos, trinetos, tataranetos (Sl 112.2; Mt 1.17)” (1999, p.79) [5], ainda afirmaram que geração pode ser o “conjunto de pessoas vivas numa mesma época” (Idem). 

Então, o texto bíblico de Mateus 1:17 nos diz que de Abraão até Davi são 14 gerações, em que temos um tempo médio de mil anos. Portanto, cada geração dura em média 71 anos. Ainda, o Salmo 90:10 nos diz que “os dias da nossa vida chegam a setenta anos”, que é a duração média de uma vida. Portanto, aqui, uma geração dura em média 70 anos. 

Com isso, não há nada que faça pensar que uma geração dure 40 anos, como pretendem os defensores dos Atos Proféticos e da Transferência de Geração. 

O terceiro problema com o argumento utilizado é afirmar que um país só é considerado como tal após a sua independência. Mas a promessa de Joel não tem nenhuma relação com a formação de um país, especialmente porque o Israel étnico sempre existiu como nação, preservando a sua cultura e religiosidade, até mesmo quando não tinha um território, e mesmo durante os cativeiros. Ainda, este povo só passou a ser reconhecido como um país em 1948, quando foi fundado o Estado Moderno de Israel. 

O quarto problema com o argumento utilizado é tentar fazer uma correlação entre esta profecia e o Brasil. Não existe nada no texto, absolutamente nada, que dê chance para isso. Dessa forma, podemos ver claramente como esses grupos distorcem a Bíblia deliberadamente e como fazem isso contando sempre com a falta de conhecimento, falta de discernimento e falta de entendimento do povo. Esse é um claro exemplo de como a Bíblia tem sido tratada com desprezo e descaso por esses grupos. 

Para piorar a situação, ainda mais, utilizam os textos de 1Samuel 16:13 e 2Coríntios 3:4-6 para fundamentar a prática de Transferência de Geração. Vejamos os textos: 
Tomou Samuel o chifre do azeite e o ungiu no meio de seus irmãos; e, daquele dia em diante, o Espírito do SENHOR se apossou de Davi. Então, Samuel se levantou e foi para Ramá. (1Sm 16:13)
E é por intermédio de Cristo que temos tal confiança em Deus; não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica. (2Co 3:4-6)
O texto de 1Sm 16:13 relata o encontro entre Davi e Samuel, quando Davi foi ungido pela primeira vez. Esse texto fala da chamada de Davi ao trono de Israel, mas não pode ser visto como algo que se repete nos dias de hoje, especialmente porque o texto diz que nesse momento, com Davi, o Espírito do SENHOR se apossou dele. Contudo, na Nova Aliança o Espírito Santo se apossa do convertido no momento da conversão. Por isso que o apóstolo Paulo nos diz que “em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito” (1Co 12:13). E diz mais, pois “não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Rm 8:9). Portanto, não podemos afirmar que o fato de alguém ser ungido com azeite nos dias de hoje é o princípio para a chegada do Espírito Santo e nem para a Sua descida. Muito menos que é sinal da aprovação Divina.

O que vemos com isso, mais uma vez, é a apropriação indevida de um texto que está em outro contexto, dentro de outra Aliança e que é dirigido à outra pessoa. Um texto que é descritivo e que é manipulado para parecer uma ordem direta ou orientação Divina para sua repetição na atualidade. 

O texto de 2 Coríntios 3:4-6 é outro que tem sido muito distorcido e mal interpretado por muitas pessoas. Essa passagem diz respeito a Nova Aliança, em que todo membro é um sacerdote, diferente da antiga Aliança. Se na antiga Aliança havia um grupo exclusivo de sacerdotes, na Nova Aliança todo membro é um ministro e sacerdote, como pode ser visto aqui. Portanto, todo aquele que nasceu de novo é um ministro da Nova Aliança, e esta Aliança não é da letra, ou seja, não é igual àquela que foi gravada com letras em pedras (3:7), porque a letra mata (3:6). Mas que letra é essa? Como já foi dito, é a letra que foi gravada em pedras (3:7), isto é, a Lei que foi dada à Moisés. Esta letra que mata, portanto, não tem nenhuma relação com o estudo ou pesquisa, mas com a Lei do Antigo Testamento. 

Nesse sentido, Moisés fez algo que poderia ser visto como um ato profético, pois ele passou a usar um véu sobre a face. Porém, o apóstolo diz que “não somos como Moisés, que punha véu sobre a face, para que os filhos de Israel não atentassem na terminação do que se desvanecia” (3:13), e que para alguns, “até ao dia de hoje, quando fazem a leitura da antiga aliança, o mesmo véu permanece, não lhes sendo revelado que, em Cristo, é removido” (3:14). Por isso, não precisamos de certos artifícios, porque se essa letra em tábuas de pedra é vista como “ministério da condenação”, devemos entender que “em muito maior proporção será glorioso o ministério da justiça” (3:9), que é o que vivemos hoje na Nova Aliança. E este véu, usado por Moisés, foi apenas um artifício utilizado por ele para que o povo não percebesse que a glória de Deus estava desvanecendo. Portanto, o uso desse tipo de prática, nos dias de hoje, é apenas uma tentativa de ludibriar o povo, um artifício, para que este pense que a glória de Deus está presente ali, naquele “rosto”. 

Por isso, não precisamos de Atos Proféticos e nem de unções descabidas. 

Por isso, podemos ver com clareza como esses grupos distorcem a Sagrada Escritura, a exemplo da utilização de 2Coríntios 3:17: “Ora, o Senhor é o Espírito e, onde está o Espírito do Senhor, ali há liberdade”. 

Bem, a liberdade quando é do Senhor nem dá lugar à carne (Gl 5:13), nem deturpa a verdade do Evangelho (1Pe 2:16) e nem causa escândalo (2 Co 6:3). Já que esse não tem sido o caso desses grupos só podemos concluir, biblicamente, que essa liberdade que têm utilizado não provém de Deus e que mais uma vez o texto bíblico utilizado não fundamenta as suas práticas.

Por último, só para entender com mais clareza como a prática do Ato Profético é uma distorção e como tem sido utilizada para fins antibíblicos, vejamos o que René Terranova diz sobre a relação que existe entre Ato Profético, mapeamento de genealogia e maldição hereditária: 
A Bíblia relata que os judeus davam muita importância à genealogia, ao conhecimento de suas origens. Os judeus ortodoxos têm o costume de registrar a genealogia de suas famílias. Nós poderíamos ter essa cultura, mas nossa história é muito mal formada. Mal conhecemos a identidade de nossos pais, muito menos do nosso povo e nem sabemos como retratar nossa árvore genealógica.Um dos nomes de Jesus é Raiz de Davi, porque no contexto messiânico se Jesus não fosse a Raiz de Davi, não seria o Messias (Mt. 1). Em certas ocasiões, poderemos tentar uma conquista de território, mas nosso argumento genealógico poderá ser empecilho por não termos respaldo local ou não termos um nome de família honrado. Deus pode mudar esse quadro restaurando a nossa genealogia com um ato profético de quebra de maldições dos antepassados. Procure pelo menos descobrir quem foram seus familiares até a quarta geração que lhe antecedeu. Quando resgatamos a nossa história genealógica conhecendo nossas origens, fica mais fácil quebrar maldições hereditárias [6].
Contudo, Colin Brown Lothar demonstra que esse tipo de pensamento não passa de uma heresia, e que já era praticada por grupos anticristãos a exemplo do gnosticismo, ebionismo e pelos defensores dos misticismos judaicos:
Genealogia ocorre no NT somente em 1Tm 1:4 e Tt 3:9, e alude especificamente à prática de pesquisar a árvore genealógica a fim de estabelecer a descendência. Segundo qualquer exegese direta, aqueles que assim faziam somente podem ter sido judeus, que, a partir de genealogias do AT e de outras, estavam propagando todos os tipos de “mitos judaicos”, bem como, provavelmente, especulações gnósticas pré-cristãs. É também possível que os ebionitas empregassem argumentos semelhantes para atacarem a doutrina do nascimento milagroso de Jesus que circulava na igreja cristã [7]. Portanto, a única coisa que podemos perceber com tudo isso é que estamos simplesmente presenciando o surgimento de heresia em cima de heresia e que não há nada novo debaixo do sol (Ec 1:9).
Que Deus nos ajude.

NOTAS 

[1] Atos proféticos na Igreja - comandos do Espírito Santo. Disponível em: . Acesso em: 24 abr 2014. 
[2] O que é um ATO PROFÉTICO?. Disponível em: . Acesso em: 24 abr 2014.
[3] Locusta é uma espécie de gafanhoto.
[4] BOYER, Orlando. Pequena Enciclopédia Bíblica. São Paulo: Vida, 1998.
[5] KASCHEL, Werner; ZIMMER, Rudi. Dicionário da Bíblia de Almeida. Rio de Janeiro: CPAD, 1999.
[6] Atos proféticos na Igreja - comandos do Espírito Santo. Disponível em: . Acesso em: 24 abr 2014.
[7] LOTHAR, Colin Brown. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2000. p.855

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Fonte: Blog Calebe Robson. Divulgação: Púlpito Cristão.