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Por Yago Martins
Estive em Goiânia semana passada. A história é longa demais para servir como introdução para esta postagem, mas posso citar que foi uma verdadeira aventura, se comparado com o fato de que a coisa mais emocionante que havia feito na vida até então fora passar a terceira marcha na autoescola. Lá, pude lançar as primeiras bases de alguns projetos e conhecer muita gente bacana, incluindo a jornalista Nilce Moretto, com quem pude ter boas conversas sobre o sentido da vida, do universo e tudo mais.
Enquanto, em meio a sua agitada rotina, ela já fazia o milionésimo favor, levando este cabeça-chata ao aeroporto (a família que estava me hospedando não possuía carro), ela levantou uma questão interessante, e nem me pergunte como chegamos neste assunto. ”Meu olho é azul, o da minha mãe é castanho. Será que ela vê as coisas como eu vejo?”, questionava a pequena Moretto quando criança. A pergunta dizia respeito à nossa compreensão da realidade. Será que todos nós vemos as mesmas coisas, ou vemos tudo de modo diferente?
Confessei, feliz por descobrir que eu não era uma criança anormal, que eu possuía uma pergunta parecida: “Como será ser outra pessoa?”, pensava eu. Minha elaboração já adulta do questionamento infantil era: se eu possuo medos, pontos de vista, preconceitos, considerações e modos de agir que são baseados na criação que tive, nas experiências que passei ou nas informações que coletei, se eu tivesse outra criação, outras experiências e outras informações, como seria minha análise das coisas que estão à minha volta?
Quando voltei para minha amada Fortaleza, fui contar para a noiva, como de costume, sobre como foi a viagem, e fiz questão de citar esta conversa, perguntando se alguma formulação parecida a incomodava quando criança. Resposta afirmativa: ”Será que as outras pessoas me veem como eu me vejo? Será que as outras pessoas se veem como eu as vejo?”, era seu questionamento infantil. Certa vez, ela chegou a perguntar para sua irmã mais nova se a imagem que aparecia no espelho era equivalente à aparência real.
Passamos um tempo falando, eu e minha noiva, sobre como todos precisamos viver por fé, até os ateus. Como sabemos se aquilo que vemos é real? Como temos certeza que o significante é equivalente ao significado? Como sabemos se a lógica é funcional, se o único modo de prová-la é com mais lógica, cometendo uma petição de princípio? Como sabemos que existe uma realidade? Como sabemos se tudo não é uma ilusão? Como saber se não somos cérebros em um tubo de ensaio possuindo meras induções elétricas ou se não fomos criados há cinco minutos, tendo o passado implantado em nossa mente, como brinca Lane Craig?
Se você me pede para provar que a Bíblia é verdade, e eu digo: “claro que é, olha aqui o que Paulo diz em segunda Timóteo…”, você me interromperia e me acusaria de cometer uma petição de princípio, uma razão circular. Porém, se eu te peço para provar que a lógica funciona como meio de perceber e racionalizar o mundo, você teria que usar a lógica para isso. Se eu te peço para provar a realidade, você precisará apelar para a realidade para conseguir fazer isto. No fim das contas, em ultima instância, todos precisamos de petição de princípio. No fim das contas, todos vivemos por fé. No fim das contas, todos possuímos pressupostos não provados que precisam ser assumidos como corretos para que o mundo faça sentido.
Se você discorda, é só me provar que a razão é confiável, mas sem usar nenhum argumento racional. Boa sorte.
Fonte: Blog do Yago Martins
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