Isvonaldo sou Protestante

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sexta-feira, 20 de março de 2015




A Igreja Católica alega que o papapo é uma instituição que remete ao primeiro século, sendo Pedro (suposto bispo de Roma) o primeiro papa da história. Ainda de acordo com Roma, Pedro foi papa por 25 anos, de 32 AD – 67 AD. 


A vasta maioria das Escrituras neotestametárias foi produzida neste período de tempo. É de se esperar, portanto, que tal ofício (que supostamente remete à Igreja primitiva) tenha algum destaque ou seja pelo menos mencionada no Novo Testamento. Não obstante, ao analisarmos as Escrituras com atenção, notaremos que:

1) A Escritura nos dá a entender que a autoridade de Pedro não era maior ou menor do que a de outros apóstolos. E em Gl 2:1-14, Paulo deixa claro que sua autoridade não é inferior a dos outros apóstolos. 



Atos 15:1-23 narra o evento que que alguns chamam de “primeiro concílio da Igreja”, ou “Concílio de Jerusalém”. Tais eventos ocorreram por volta de 48 AD, portanto durante o suposto papado de Pedro. 


Pedro participou desta reunião, mas em nenhum momento o texto destaca o apóstolo como presidente do concílio, ou cabeça da Igreja. A decisão quanto à aceitação dos gentios foi buscada e tomada em conjunto por um colegiado apostólico e não recai sobre os ombros de um único indivíduo que se pronuncia “ex cathedra”, exercendo o papel de cabeça visível da Igreja. 


Se de fato alguém, por providência divina, se destacou neste evento como “primer inter pares” (primeiro entre iguais), este alguém parece ser Tiago e não Pedro. Em Gl 2:9, Paulo disse que Pedro, João e Tiago “eram reputados colunas”. Em nenhum momento diz que Pedro é primaz sobre os demais, mas que era somente uma das três colunas.

2) Paulo, escreveu sua epístola aos romanos em 56 AD (durante o suposto papado de Pedro) e no capítulo 16 envia saudações aos santos de Roma. Curiosamente, no entanto, Pedro sequer é mencionado. Seis anos mais tarde, Paulo foi pessoalmente a Roma (62 AD), quando foi visitado por vários irmãos (At 28:30-31). 



Tampouco neste período vemos alguma menção a Pedro ou a algum papa. O apóstolo escreveu nada menos que quatro epístolas enquanto estava em Roma: Efésios, Colossenses e Filemon em 62 AD e Filipenses entre 67-68 AD. Em nenhuma destas epístolas há menção de Pedro e de sua suposta cadeira em Roma.

3) Em nenhuma de suas cartas Pedro se apresenta como papa ou nem mesmo bispo de Roma. Muito menos faz menção a uma linha de sucessores em Roma que governaria a Igreja. Muito pelo contrário, Pedro interage com os presbíteros locais como mais um deles e diz que o Supremo Pastor é Jesus (1 Pe 5:1-5). Pedro fala profeticamente dos tempos em que muitos falsos mestres apareceriam e fariam comércio das ovelhas (2 Pe 2-3). 



Em nenhum momento, encomenda seus leitores aos cuidados da Santa Sé em Roma e seu sucessor na cadeira papal após seu martírio. Antes roga-lhes “para que vos recordeis das palavras que, anteriormente, foram ditas pelos santos profetas, bem como do mandamento do Senhor e Salvador, ensinado pelos vossos apóstolos” (2 Pedro 3:2). 

Portanto, Pedro aqui selou de forma definitiva as tradições e as doutrinas da Igreja, amarrando-as àquilo que foi ensinado no primeiro século (à exemplo de Paulo em Gl 1:8 ). Pedro em nenhum momento passa o bastão a nenhum sucessor que governaria após ele como o cabeça visível da Igreja, antes deposita a autoridade da Igreja nas Escrituras, onde a doutrina apostólica está registrada.

4) Tampouco Paulo, ao profetizar sobre os tempos de apostasia, entregou a Igreja aos cuidados do suposto papa Pedro e sua suposta linha de sucessores. Antes, encomendou a Igreja ao Senhor Jesus e à Palavra de sua Graça (Atos 20:28-32). Se Pedro de fato foi papa, Paulo uma vez mais perdeu uma boa oportunidade de mencionar o papado e a Sé de Roma. À exemplo de Pedro, Paulo depositou a autoridade da Igreja sobre as Escrituras.

5) Marcos era auxiliar de Pedro, a quem o apóstolo chama de filho (1 Pe 5:13). A história registra que Marcos foi intérprete de Pedro e anotou aquilo que ouviu do próprio apóstolo, escrevendo assim o Evangelho que leva seu nome. Interessante notar que Marcos, sendo tão próximo de Pedro, não registra o episódio de Mt 16:17-19 que os defensores do papado usam como a espinha dorsal de seu dogma. 



Pedro em nenhum momento se refere a si mesmo como a Rocha sobre a qual está edificada a Igreja, caso contrário Marcos teria confirmado de modo enfático. Se o dogma católico da superioridade de Pedro é verdadeiro e de tamanha importância, não seria inconcebível que os registros de Marcos e de Lucas nada mencionem a respeito?

Concluímos, portanto, que as Escrituras não nos dão nenhum indício deste ofício e que o papado foi uma instituição que gradativamente tomou forma ao longo da história, sendo um corpo estranho às Escrituras e à Igreja dos primeiros séculos. 



A única referência bíblica usada pelos defensores da primazia de Pedro é Mateus 16:17-18, passagem analisada no próximo artigo desta série sobre o papado, intitulado Quem é a Pedra?

Pão & Vinho

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