Isvonaldo sou Protestante

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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

“Ressuscita-me”: mais uma fórmula do sucesso gospel


Por Antognoni Misael
A indústria da música trabalha dentro de um padrão. Isso ocorreu em seu formato moderno quando nos Estados Unidos essa indústria conseguiu se apropriar da cultura folclórica e adaptá-la a produtos de caráter lúdico através dos show’s business. O jazz, vertente híbrida de canções de trabalho, blues, gospel, foi talvez o primeiro segmento da música norte-americana a experimentar as exigências seriais desse mercado.
Mas foi quando a própria música pop se auto-formulou que se tornaram pré-requisitos: o tempo da canção, as partes A,B (e/ou C), quantidades de compasso, interlúdio, etc. Isso dura até hoje. Grosso modo, para um veículo midiático “aprovar” o que chamamos de música comercial é necessário que esses elementos estejam bem definidos, equilibrados e se possível com uma forte dose etílica sonora, ou seja, que iluda, impregne, encharque – música boa seria então aquela que você escuta a primeira vez e já sai cantando (#mantra).
Não sou contra os padrões pop, até porque considero uma arte o compositor saber se moldar de forma bela a uma fôrma sonora – isso é para poucos*! Tenho vários CD’s de música pop, admiro largamente vários artistas e grupos desse gênero, mas… venhamos e convenhamos, não suporto abusos nem gato-com-lebre! Outra coisa: aos fãs, ou ouvintes feitos de vidro, que se quebram com qualquer grão de areia: me poupem! Aqui não estou avaliando a sinceridade ou significado pessoal da canção quanto ao receptor – quem ouve entende como quer, consome ao seu gosto, ressignifica dentro das suas subjetividades.
Lembro-me quando o cantor André Valadão lançou no mercado gospel sua canção Milagre. Um hit que unia uma melodia circular + subjetivismo teológico + milagre imediatista: “Hoje o meu milagre vai chegar. Eu vou crer, não vou duvidar. O preço que foi pago ali na cruz me dá vitória nesta hora” – Não se sabe afinal se ele quer tratar do milagre da salvação; na verdade ele diz que vive “as promessas dos milagres”, logo são coisas, fatos, presentes, continuidades. Entendo como uma canção bem antropocêntrica que está pronta para que o receptor peça, e meio que, como uma confissão positiva, diga: Hoje o meu milagre vai chegar! Este hit foi um sucesso!
Em seguida, outro mais forte que esse se espalhou pelo Brasil, que tocou milhares de vezes em igrejas e até em pagodes e show’s de forró foi: “Faz um milagre em mim” (Regis Danese). Essa canção que estourou nas paradas do sucesso e na minha paciência também, foi uma $acada incrível do compositor (e dono da música). Regis conseguiu misturar uma melodia “peguenta” + confusão teológica + ideia de milagre – foi a primeira interpretação que ouvi alguém dizer que Zaqueu conseguiu chamar a atenção de Deus… Enfim,este som realmente deu certo!
Contudo quando agente pensa que o ciclo de milagres musicais tem se findado, somos surpreendidos! A criatividade dos caras é boa e a indústria consegue fazer mutações espantosas ao oferecer o mesmo produto, só que com nova maquiagem e roupagem, e novamente e$tourar nas paradas do sucesso!!
Dessa vez, a mesma fonte dos tais milagre se reinventou em Ressuscita-me (Aline Barros) – a mesma mistura de melodia “peguenta” + confusão teológica + ideia de milagre funcionou: “Mestre eu preciso de um milagre…”. A ressalva é que diferentemente, nesta canção, a mídia bombardeou teleguiados potentes por todos os cantos do Brasil (a Som Livre se apropriou dos “talentos” gospel, e ao que parece notou que Je$u$ é bom). Gente, perdoe-me a ignorância, eu não aguento mais escutar essa música! (saudades de “Faz chover” (risos))
Sinceramente algumas coisas nela eu não entendi, se possível me esclareçam. A música é para uma pessoa que nasceu de novo? Se for, acho totalmente inviável pedir que Deus ressuscite “os meus Sonhos” – prefiro aceitar que as coisas velhas não me interessam, pois tudo se fez novo. Outra coisa. Fazer analogia com Lázaro e sonhos mortos é algo bem sugêneris, pois quando canto “remove a minha pedra”, tenho por inferência a certeza de que defunto não tem querer, não pede, não clama. Agora se a música é para alguém que não nasceu de novo, a situação fica difícil, visto que não sou arminiano.
A parte mais legal disso tudo é notar que aqueles que cantaram e ‘adoraram’ com “Hoje o meu milagre vai chegar”, continuaram a pedir “Faz um Milagre em mim” e certamente devem estar dizendo “Ressuscita-me agora”.
Fonte:
Misael Antognoni é editor do blog Arte de Chocar, e colaborador no Pulpito Cristão

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