Isvonaldo sou Protestante

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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Nem eu nem o “Nem” somos bons


Por Guilherme Tartaruga
A prisão do traficante “Nem” da Rocinha ocupou todos os noticiários e capas de jornal. Parecia que a polícia tinha acabado com o tráfico de drogas de uma vez por todas. Nem (não o traficante…rs) parecia que no dia seguinte já haveria alguém para comandar o tráfico no lugar do “Nem” e que drogas continuarão sendo vendidas mesmo após a instalação de uma UPP da comunidade.
Mas em meio a tanto reboliço, duas coisas chamaram a minha atenção: a louvação aos policiais que recusaram a generosa propina oferecida em troca da liberação do traficante e os comentários a respeito de “Nem” ter ligado para sua mãe ao ser preso.
É lamentável que tenhamos chegado num ponto tal de corrupção, onde aqueles que fazem apenas o que deveriam fazer são louvados como se estivessem fazendo algo excepcional. Longas reportagens são feitas. Todos os programas de TV querem entrevistá-los. E tudo isso para dizer-lhes o quanto eles são bons!
Esta atitude diz muito a nosso respeito. Fica evidente que já consideramos a corrupção como algo normal e que é isso que devemos esperar, não só dos policiais, mas de qualquer um! Eu pude ouvir até comentários que chamavam estes policiais de otários, pois deveriam ter aceitado a propina. A corrupção deveria nos chocar, mas o que nos choca não é nem o fato das pessoas irem além do que deveriam, mas de fazerem APENAS o que deveriam. E quando as pessoas fazem APENAS o que deveriam são elevadas por nós ao status de Baluartes da Virtude.
E quanto ao traficante “Nem” ter chorado, ligado para a mãe e ter pedido para os filhos não faltarem à escola, a nossa reação a isto também revela algumas coisas a nosso respeito.
Temos a tendência a achar que qualquer criminoso é a encarnação do mal. Talvez isso derive dos personagens de folhetins televisivos, onde há um maniqueísmo premeditado, e o vilão é tão mal que não é capaz de amar ninguém, nem mesmo filhos ou pais. E o mocinho é a virtude em pessoa, que ama a todos, até mesmo o vilão.
Isso ficou bem claro quando, em um desses folhetins, o autor optou por não apresentar a mocinha e a vilã num primeiro momento. Sabia-se que, entre as duas personagens principais, uma seria boa e a outra má, mas enquanto isso não foi revelado, foi nos dado a conhecer atitudes boas e más das duas. Eram duas pessoas normais, com atitudes aprováveis e reprováveis. A partir do momento em que foi revelado o papel de cada uma na trama, a humanidade da vilã foi retirada. Ela não era capaz de manter nenhum tipo de relacionamento sadio. Não era capaz de ter nenhuma boa intenção. Já a mocinha era só virtude e sofrimento. Pagava o preço por ser boazinha e chorava o tempo todo com as maldades que sofria.
Diante dessa maneira maniqueísta de ver o mundo, não conseguimos compreender como um traficante, que amedrontava a comunidade da Rocinha, que vivia no ambiente violento do narcotráfico carioca, que provavelmente já matou ou mandou matar diversas pessoas, era também capaz de chorar ao falar com sua mãe e de se preocupar com o fato de seus filhos continuarem a estudar. Mas a verdade é que, por pior que o criminoso possa ser, não podemos presumir que ele não ame ninguém, não se preocupe com ninguém.
E como continuidade deste raciocínio, acabamos achando que, por não sermos traficantes, assassinos ou pedófilos, nós somos bons. Eles são o mal e nós somos o bem. Eles merecem punição e sofrimento, e nós merecemos “tudo de bom nesta vida”. Deus, se for justo, tem que castigá-los e nos recompensar.
Então, o resumo do pensamento até agora é: os policiais que não aceitaram propina e prenderam o “Nem” são bons e merecem ser homenageados e recompensados porque fizeram aquilo de deveriam fazer. E nós somos bons e merecemos o reconhecimento de Deus porque não somos nenhum “Nem”.
Mas quem somos nós diante de Deus? E o que podemos fazer para merecer o seu favor? E quem receberá o seu castigo?
A resposta a estas perguntas estão na Palavra de Deus.
Quem somos nós diante de Deus?
como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua, urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios, a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura; são os seus pés velozes para derramar sangue, nos seus caminhos, há destruição e miséria; desconheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos. (Romanos 3:10-18)
Você pode estar pensando: mas este texto não está falando sobre o “Nem”? A resposta é NÃO! Estes somos nós! É assim que somos descritos na Palavra de Deus. Não há nenhuma vantagem nossa em relação aos “Nens” do mundo.
Você ainda pode argumentar: Mas e os policiais que não aceitaram propina? Mais uma vez a resposta vem da Palavra de Deus:
Qual de vós, tendo um servo ocupado na lavoura ou em guardar o gado, lhe dirá quando ele voltar do campo: Vem já e põe-te à mesa? E que, antes, não lhe diga: Prepara-me a ceia, cinge-te e serve-me, enquanto eu como e bebo; depois, comerás tu e beberás? Porventura, terá de agradecer ao servo porque este fez o que lhe havia ordenado? Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer. (Lucas 17:7-10)
Fazermos o que Deus manda não nos redime dos nossos pecados e da nossa maldade. É a nossa obrigação diante de um Deus Santo e Perfeito. Toda vez que pecamos ficamos em débito. E quando fazemos algo certo fazemos apenas o que nos foi ordenado, então não pagamos nenhum débito. Por isso é impossível sermos aceitos diante de Deus pelas nossas boas obras. Sempre estaremos em débito!
Então, o que podemos fazer para merecer o seu favor? E quem receberá o seu castigo?
Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem nele crê não é julgado o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. (João 3:16-18)
Aquele que crê no Senhor Jesus não será julgado. Aquele que não crê já está julgado.
Jesus é o único diferencial. Ele é a ruína e o levantamento de muitos (Lucas 2:34). São as obras dele que obtém o favor de Deus. É a justiça dele que é aceitável diante de Deus.
Sem Jesus, eu, você, os policiais que prenderam o “Nem” e o próprio “Nem” estamos todos condenados diante de Deus, porque somos igualmente, isso mesmo, IGUALMENTE pecadores.
De igual modo, eu, você, os policiais que prenderam o “Nem” e o próprio “Nem”, se reconhecermos que somos maus e crermos no Senhor Jesus e na obra realizada por ele na cruz, teremos os nossos pecados perdoados e seremos reconciliados com Deus.

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