Isvonaldo sou Protestante

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segunda-feira, 23 de maio de 2011

O genuíno culto pentecostal – 4

por Caramuru Afonso Francisco

A crença na atualidade do batismo com o Espírito Santo e dos dons espirituais jamais pode gerar a banalização da adoração a Deus.

INTRODUÇÃO

- Prosseguindo o estudo das doutrinas da fé pentecostal, analisaremos o culto pentecostal, ou seja, a “reverência respeitosa a Deus“, conforme nos indica o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, inclusive nos utilizado de anotações do nosso saudoso irmão Sérgio Paulo Gomes de Abreu, fundador do Portal Escola Dominical.

- O culto é um ato de adoração, ou seja, ato pelo qual o homem reconhece que Deus é o Senhor de todas as coisas, inclusive do adorador.

- A adoração, embora envolva o culto formal a Deus numa igreja, não se confunde com esta prática, pois é algo que deve estar presente em todas as ações do ser humano, tanto que Jesus nos ensinou que os verdadeiros adoradores adoram a Deus em espírito e em verdade (Jo.4:23), ou seja, em todo o tempo, independentemente de local ou ocasião.

- Os estudiosos identificam os pentecostais por sua liturgia informal e participativa, mas jamais podemos confundir informalidade e participação com ausência de reverência, como, infelizmente, tem ocorrido entre muitos que pentecostais se dizem ser.

I – O QUE É CULTO

- Como já vimos supra, culto é “reverência respeitosa a Deus”, palavra que tem origem no latim “colo”, cujo significado é “cultivar; habitar, morar em; cuidar de, tratar de, preparar; honrar, venerar, respeitar”.

- Vemos, portanto, em primeiro lugar, que culto é o ato de cultivar, ou seja, o ato de cuidar, de criar algo para alguém. A “cultura”, o “cultivo” é uma atividade feita pelo ser humano, uma modificação que pratica no mundo que está à sua volta a fim de satisfazer alguma necessidade. Daí vem a ideia de “cultura”, o “conjunto de padrões de comportamento, crenças, conhecimentos, costumes etc. que distinguem um grupo social”. Deus, ao criar o homem, determinou que ele “cultivasse” o jardim que havia formado para ele no Éden (Gn.2:15), demonstrando assim que havia dotado o homem da capacidade de alterar e modificar o que havia sido criado na natureza, ante a sua condição de “mordomo” de Deus sobre a criação terrena (Gn.1:26).

- Percebemos, pois, logo de início, que o “culto” é um ato que deve partir do homem, de sua capacidade, do poder que Deus lhe conferiu, sendo, portanto, algo que tem necessariamente origem no homem e que tem de visar a Deus, já que foi Ele quem deu ao homem tal aptidão.

- “Culto” também significa “habitação”, “moradia”, pelo seu significado etimológico (ou seja, de acordo com a origem da palavra). Quando Deus determinou que o homem lavrasse a terra, cultivasse, mandou fazê-lo no lugar que havia preparado para ele, o jardim que plantou no Éden (Gn.2:8,15), de modo que temos que o culto é, antes de mais nada, a prática de uma atividade no lugar estabelecido por Deus para que o homem esteja. É uma demonstração de amor a Deus e de reconhecimento da Sua soberania no lugar estabelecido para o encontro entre Deus e o homem.

- Isto é importante porque vemos que o culto é uma atitude que exige, antes de mais nada, que o homem esteja no lugar determinado pelo Senhor. Não há como se cultuar a Deus senão estivermos no local indicado por Deus. Por isso, o culto a Deus, no tempo da lei, deveria ser feito exclusivamente no lugar escolhido por Deus (Dt.12:1-14). “Cultuar” é se pôr no seu devido “posto” (Ne.8:7), reconhecer qual é o seu lugar e qual é o lugar de Deus.

- É interessante notar que, na nossa atual dispensação, como Deus está em nós(Jo.14:17,23), não há um lugar exterior determinado para o culto, mas nós mesmos, sendo templo do Espírito Santo (I Co.6:19), devemos cultuar a Deus a todo instante, em espírito e em verdade (Jo.4:21-24).

- “Culto”, por fim, significa “preparo, honra, veneração e respeito”. Não se pode falar em culto se não houver um reconhecimento da superioridade de quem é cultuado em relação a quem cultua. O culto é uma demonstração do reconhecimento da nossa inferioridade diante de Deus, de que Ele é o Senhor e digno de toda a adoração, de todo o louvor (Ap.5:12-14). Através do culto, externamos aquilo que já está em nosso coração, ou seja, a convicção, a certeza e o reconhecimento de que Deus é digno, de que Deus merece toda a honra, toda a veneração, todo o respeito.

- A palavra “culto” aparece, pela vez primeira, na Versão Almeida Revista e Corrigida em Ex.12:25, traduzindo a palavra hebraica ” ‘abodah” (????), cujo significado é “serviço”, “trabalho”, “obra”, precisamente o mesmo sentido que tem a palavra inglesa correspondente (”service”). Esta palavra é repetida em Ex.12:26 e 13:5, sempre se referindo à celebração da Páscoa, bem como em II Cr.34:33, referindo-se aqui não somente à celebração da Páscoa, mas à observância de toda a lei.

OBS: Em II Rs.17:26, a palavra “culto” é tradução de “mishpat” (????), que tem o sentido de “modo”, “maneira, daí porque agiu bem a Versão Almeida Revista e Atualizada ao substituir a palavra “culto” por “maneira de servir”.

- Em o Novo Testamento, a palavra “culto” aparece, na Versão Almeida Revista e Corrigida, em Rm.9:4, Rm.12:1 e Hb.9:1, como tradução de “latreia” (???????), que tem o significado de “serviço prestado a Deus”, de “prática de atos sagrados”. Com exceção de Rm.12:1, as outras passagens também se referem às cerimônias instituídas na lei mosaica. Em Rm.12:1, o apóstolo nos adverte que, na graça, temos de render a Deus um “culto racional”, algo mais sublime que parte do interior do homem, homem este que agora adora a Deus em espírito e em verdade.

OBS: Em Cl.2:18, a palavra “culto” é tradução de “threskeia” (????????), cujo significado é “adoração”, de modo que andou bem a Nova Tradução na Linguagem de Hoje ao traduzir a palavra por “adoração”.

- Tem-se, pois, que o “culto” apresenta três dimensões fundamentais, a saber:

a) a dimensão externa – o culto é sempre um ato que é visível a todas as pessoas, um ato que significa a exteriorização de sentimentos que estão no interior do homem. O culto envolve, assim, um “cerimonial”, um “rito”, um “conjunto de atitudes e ritos pelos quais se adora a Deus”. Diante do respeito e da veneração devidos a Deus, o culto apresenta uma série de atos e de gestos externos, que demonstram a seriedade e a solenidade de se reconhecer o senhorio de Deus. A primeira vez que a palavra “culto” surge na Versão Almeida Revista e Corrigida é, precisamente, para indicar o conjunto de gestos que Moisés havia determinado para a celebração da Páscoa (Ex.12:25).

b) a dimensão interna – embora seja caracterizado por uma série de ritos, de atos e de gestos, o culto não tem valor algum se toda esta aparência exterior não estiver representando a realidade do coração de quem cultua. O culto deve se iniciar no coração do homem, deve ser fruto de um sincero sentimento de reconhecimento da soberania divina, deve ser fruto de um entendimento totalmente envolvido pela certeza e firmeza de que Deus é o Senhor e deve ser adorado e exaltado. O coração deve estar contrito, ou seja, o homem deve reconhecer que nada é, que depende exclusivamente de Deus e que o Senhor merece o culto, bem como deve haver um compromisso de servir a Deus, de ser-Lhe fiel. Este compromisso interno, requisito indispensável para que haja um verdadeiro culto, é o que Moisés chamou de “circuncisão do coração” (Dt.10:16). Deus será o louvor e o Senhor somente daqueles que resolvam servi-l’O, temê-l’O e obedecer-Lhe (Dt.10:12-21). Não é por outro motivo que Deus abominou toda a exterioridade ritual desacompanhada desta circuncisão de coração (Is.1:11-17, v.g.).

c) a dimensão vertical – o culto é o relacionamento que se estabelece entre o homem e Deus, ou seja, o homem Se apresenta aos pés do Senhor, reconhecendo-Lhe a soberania, a supremacia, elevando-Se da sua pequenez até à grandeza de Deus. Eis o motivo pelo qual o texto sagrado denomina de “elevação” ou “levantamento” ao ato do culto a Deus (Sl.25:1; 86:4; 143:8), como também denomina de “exaltação” ao reconhecimento de Seu senhorio (Sl.99:5,9). O homem Se volta para o patamar de Deus, que lhe é superior, e reconhece esta superioridade. Esta dimensão vertical, a um só tempo, mostra a altura de Deus, ou seja, como Ele Se encontra acima de tudo e de todos, a ponto de ser chamado “Altíssimo” (Sl.7:17; 9:2; 18:13; 78:35), como também a Sua profundidade, o ilimitado conhecimento de que é possuidor e que o homem não pode alcançar (Rm.11:33).

- Por isso, o culto a Deus é algo “sublime”, ou seja, algo “que apresenta inexcedível perfeição material, moral ou intelectual; elevado, augusto”, porque nos leva até o máximo que há no universo, que é a majestade e o senhorio do nosso Deus, a cuja presença somos levados, a Ele que Se encontra em Seu “alto e sublime trono” (Is.6:1), o “trono da graça”, onde podemos nos chegar com confiança em virtude do sacrifício de Jesus por nós (Hb.4:16).
II – A ADORAÇÃO A DEUS

- Vemos, pois, que o culto nada mais é que a expressão de “adoração”. Cultuar é servir, é reconhecer a soberania de Deus, é dar-Lhe a dignidade que só Ele a possui.

- A primeira vez que a palavra “adorar” aparece na Bíblia é em Gn.22:5, quando Abraão avisa seus servos que iria ao monte Moriá, juntamente com Isaque, para adorar e, depois, voltaria, com o seu filho, até o pé do monte, onde os servos deveriam esperar. Entretanto, não é esta a primeira vez que vemos um homem adorando a Deus nas Escrituras, ainda que a palavra não estivesse registrada antes no texto sagrado. Com efeito, o primeiro casal tinha um momento peculiar com Deus na viração do dia (Gn.3:8), um instante em que se dirigiam a Deus e a Ele prestavam contas por tudo que tinham feito durante o dia. Era um momento em que se reconhecia a soberania divina e em que o homem se dedicava a um encontro mais íntimo com o seu Senhor.

- Após a queda do homem, apesar da impossibilidade de uma comunhão com Deus, pois o pecado fez uma divisão entre Deus e o homem (Is.59:2; Ef.2:14), o primeiro casal ensinou a seus filhos que havia a necessidade de se render a Deus um tributo, um louvor, de reconhecer que Deus é o Senhor de todas as coisas e que, portanto, devemos dar a Ele satisfação e Lhe render graças. Por isso, vemos Caim e Abel apresentando ofertas a Deus, numa atitude nítida de adoração a Deus (Gn.4:3,4). Podemos observar nesta passagem algumas características da adoração, no limiar da história humana, a saber:

  1. A adoração é uma prática que acompanha a própria existência do homem – Como vimos, o primeiro casal tinha um instante diário de adoração e, diante desta prática, havia ensinado seus filhos a procederem da mesma maneira. O homem, portanto, foi feito para adorar a Deus.
  2. A adoração é necessária, mas espontânea – A adoração é uma atividade que era considerada necessária por parte da primeira família, tanto que Caim, mesmo não estando interiormente disposto a fazê-lo, não ousou negar-se a oferecer algo a Deus, pois tinha consciência da necessidade deste gesto. Embora necessária, a adoração é espontânea, tem de partir do homem. Não confundamos a adoração com a sujeição, que é o ato pelo qual Deus, por Sua soberania, imporá, num tempo por Ele determinado, Seu senhorio sobre todos os seres, através de Cristo Jesus (I Co.15:27,28; Ef.1:22; Hb.2:8). Isto é sujeição, não adoração.
  3. A adoração consiste de atos externos – A adoração é demonstrada através de gestos concretos, visíveis por todos os demais homens. Caim trouxe uma oferta de vegetais, enquanto Abel sacrificou animais.
  4. A adoração também se faz no interior do homem – Embora se manifeste por atos exteriores, a adoração começa no homem interior, é uma atitude que tem seu nascimento no espírito, que é a parte do homem que mantém o canal com Deus. Por isso, a oferta de Abel foi aceita, mas não a de Caim.
  5. A adoração é acompanhada e observada por Deus – A disposição para a adoração partiu do homem, mas foi atentamente observada pelo Senhor. Quando nos dispomos a adorar a Deus, jamais nos esqueçamos de que o Senhor a tudo está observando e conhece quais são nossas intenções e os nossos atos, tanto que aceitou a oferta de Abel, mas rejeitou a de Caim.
  6. A adoração permite uma comunicação entre Deus e o homem – Mediante a adoração, Deus aceita, ou não, o gesto do homem, mas é através dela que Deus Se manifesta ao homem, mesmo àquele que não teve aceita a sua oferta, de modo que se estabelece o necessário relacionamento entre Deus e o homem. Através da adoração, o homem tem condições de entender que o pecado é o responsável pela ruptura da comunhão entre o ser humano e o seu Criador
  7. A adoração, para que seja aceita por Deus, exige um ato de fé e uma prévia justificação dos pecados – A Bíblia afirma-nos que Abel era uma pessoa dotada de fé, de de justiça (Mt.23:35; Hb.11:4), enquanto que Caim era do maligno (I Jo.3:12). Reside, então, aí a razão por que a adoração de Abel foi aceita e não a de Caim. Para que possamos adorar a Deus, devemos ter fé, pois sem ela é impossível agradar-Lhe (Hb.11:6). Tendo fé, poderemos ser justificados diante de Deus, passando a ter paz com ele (Rm.5:1) e, deste modo, livres do pecado, poderemos ser aceitáveis diante do Senhor. Como diz conhecido cântico, “em altar quebrado, não se oferece sacrifício a Deus”. (cfr. I Rs.18:30).

- A palavra ” adoração” vem do latim “ad orare”, que significa “para ser feito com a boca”, ou seja, “beijar”. Esta expressão deve ser entendida na cultura da Antiguidade, ainda hoje seguida em alguns segmentos sociais (como a Igreja Romana, por exemplo), em que o beijo é um gesto de reconhecimento da autoridade de alguém. Assim, “adorar” é reconhecer a autoridade de uma pessoa e se inclinar diante dela, curvar-se a seu senhorio e a sua superioridade. Adoraremos a Deus, portanto, quando reconhecermos a Sua autoridade, a Sua supremacia, quando agirmos de forma a mostrarmos às pessoas que é Deus quem manda em nossas vidas. Quando o diabo pediu a Jesus para ser adorado (Mt.4:9), estava, precisamente, pedindo que Jesus reconhecesse uma superioridade do diabo sobre Sua vida, o que, como bem mostrou nosso Senhor, era um rotundo absurdo (Mt.4:10).

- Esta ideia contida na palavra latina, que deu origem a nossa palavra na língua portuguesa, é, precisamente, o mesmo sentido que possui os termos originais hebraico e grego nas Escrituras. Sempre há a ideia de homenagem, de reconhecimento de soberania e supremacia de Deus sobre a vida daquele que está a adorar a Deus. É este, aliás, o sentido que vemos no Sl.2:12, quando o salmista fala “beijai o Filho”.

- Em seguida, vemos que uma das características que temos da descendência piedosa de Sete, estava, precisamente, no fato de que era esta linha de descendentes que adorava a Deus. A Bíblia informa-nos que, após o nascimento de Enos, o filho primogênito de Sete, passou-se a invocar o nome do Senhor (Gn.4:26), ou seja, Deus passou a ser buscado, a ser procurado, a ser reverenciado. O fato de esta linha de descendentes adorar a Deus, buscar reconhecer a sua autoridade, era o grande diferencial entre eles e os descendentes de Caim, a ponto de a Bíblia a eles se referir como sendo os “filhos de Deus” (Gn.6:2). Deus sempre irá manter um relacionamento de pai para filho com aqueles que O adorarem !

- Esta invocação ao nome do Senhor será uma constante na vida dos grandes homens de Deus, dos homens que eram agradáveis a Deus. Noé, Abraão, Isaque e Jacó são exemplos de pessoas que, sendo agradáveis a Deus, têm, em suas vidas, o registro de construção de altares a Deus. Ora, a construção de um altar para que nele se fizessem sacrifícios a Deus, é uma demonstração de que estes homens eram adoradores do Senhor, tanto que a palavra “adorar”, como vimos, é registrada, pela primeira vez nas Escrituras, mencionada pelo próprio Abraão.

- Quando libertou o Seu povo do Egito, Deus instituiu, através da lei, uma série de ritos e cerimônias que deveriam materializar, tornar visível a adoração de Israel a Deus. Entretanto, é bom que deixemos claro, a adoração não se circunscrevia a aspectos meramente externos ou formais. Havia toda uma série de regras e normas para que se trazer ofertas e sacrifícios a Deus, para a realização de festividades ao Senhor, mas Deus sempre tinha um vívido interesse de que o Seu povo não O adorasse apenas formalmente, de modo exterior e superficial, mas, bem ao contrário, que a adoração fosse nascida no espírito de cada israelita. Tanto assim é que, ao contrário do que se costuma dizer (principalmente entre os romanistas), o primeiro mandamento não é adorar a Deus sobre todas as coisas, mas, sim, a amar a Deus sobre todas as coisas (Mt.22:37), pois, para que haja uma verdadeira adoração, como nos mostrou o episódio de Caim e de Abel, é preciso, antes de mais nada, amar a Deus, pois só quando O amamos, fazemos o que Ele nos manda (Jo.15:14). Tanto assim é que Deus exige de Seu povo a obediência (Dt.32:46; Is.58:5,6), não realização de cerimônias ou rituais. O nosso Deus é o mesmo e muitos têm se iludido achando que Deus Se agrada se cumprirmos tão somente os deveres litúrgicos, ou seja, se rendermos a Deus um culto formal em alguma igreja. Deus quer de nós, fundamentalmente, sinceridade e obediência à Sua Palavra, pois o obedecer é melhor do que o sacrificar (I Sm.15:22).

- Na nossa dispensação, não é diferente. Agora que Deus atua livremente, através do Espírito Santo, no interior de cada crente, temos uma adoração independente de locais ou rituais, uma adoração em espírito e em verdade, uma adoração de verdadeiros adoradores (Jo.4:24), que adoram a Deus a todo instante e mediante a sua própria vida, pois é uma adoração que vem do íntimo do ser humano, mediante uma convicção de que, em Cristo, somos filhos de Deus e coerdeiros de Cristo (Rm.8:1,9,14-17).

III – MOTIVOS PARA ADORAR A DEUS

- Como temos visto, a adoração a Deus é algo que faz parte da própria natureza do ser humano, é uma característica que acompanha o homem desde a sua feitura. O homem deve adorar a Deus, porque Deus o fez e Ele tudo deve a este Deus. A adoração estabelece os parâmetros corretos do relacionamento entre Deus e o homem, exatamente porque é através da adoração que Deus é reconhecido como Senhor e o homem, como Seu servo.

- O primeiro motivo, portanto, para adorarmos a Deus está no fato de que Deus, o Senhor de todas as coisas, é o Criador de tudo, inclusive do próprio homem. Quando adoramos a Deus, reconhecemos que Ele é o nosso Criador e manifestamos tal reconhecimento através da adoração. Todo homem é apresentado a Deus como sendo Sua criatura (Rm.1:20,21) e, através desta apresentação, deve o ser humano adorar a seu Criador. Quando não o faz, desprezando a Deus, a Bíblia ensina-nos que são tais pessoas abandonadas pelo Senhor à sua própria sorte, gerando um sem-número de males e problemas para a humanidade rebelde, que se recusa a adorar o seu Criador (Rm.1:24-32).

- O segundo motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que Ele nos ama, de, apesar de ser o Criador, jamais desampara o homem, mas, muito pelo contrário, o ama e tem prazer em estar na companhia do ser humano. Por amar o homem, Deus enviou Seu Filho para morrer por nós, quando ainda éramos pecadores (Rm.5:8). Jesus é a prova suprema deste amor, pois morreu por nós na cruz do Calvário (Jo.15:13). Deus nos amou primeiro (I Jo.4:19) e, em gratidão a este tão grande amor, reconhecemos Sua supremacia e procuramos render-Lhe culto, bem como fazemos o que Ele nos manda.

- O terceiro motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que Ele nos salvou. Deus não somente amou o homem, mas providenciou a sua salvação através da pessoa de Jesus Cristo. Em Cristo, temos novamente acesso a Deus, pois os nossos pecados são perdoados e não há mais separação entre nós e Deus (Rm.5:1; Ef.2:13,14). Assim, tendo em vista a salvação de nossas almas, temos um caminho que nos introduz à presença de Deus, o que torna possível a adoração direta e individual, o que, antes, não era possível ao homem pecador (Hb.10:19-22). Podemos adorar a Deus, sem obstáculo, tendo como único mediador a Cristo Jesus (I Tm.2:5). Graças a salvação, temos uma comunhão eterna com o Senhor, como antes do pecado dos nossos primeiros pais, comunhão esta que perdurará para sempre na nova Jerusalém (Ap.21:2-4).

- O quarto motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que Ele precisa ser conhecido dos homens que ainda não O conhecem como Senhor e Salvador de suas vidas. A missão principal dos servos de Deus neste mundo é anunciar a toda criatura o evangelho (Mc.16:15), ou seja, a boa notícia de que o reino de Deus é chegado e que os homens devem nele entrar através do arrependimento de seus pecados (Mc.1:14,15). Deus somente será conhecido dos homens se nós O revelarmos através de nossas vidas e isto só será possível mediante a visibilidade da adoração. Pela adoração, os homens poderão ver Deus em nós (Mt.5:16; At.6:15; II Co.3:18). Como diz conhecido cântico, devemos adorar o Senhor de modo que o “mundo possa ver a glória do Senhor em nossos rostos brilhar.”

- O quinto motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que o necessário crescimento espiritual do crente depende da sua vida de adoração. A vida espiritual é uma vida dinâmica, uma vida de contínuo desenvolvimento, pois não é possível haver uma vida estacionária, parada no campo espiritual. Se não avançamos espiritualmente, estaremos, necessariamente, regredindo. Por isso, o escritor da epístola aos Hebreus diz que devemos correr com paciência a carreira que nos está proposta (Hb.12:1) e o apóstolo Paulo afirma, somente ao final de sua vida, que tinha encerrado a sua carreira (II Tm.4:7). Sendo uma vida espiritual algo dinâmico, precisamos estar em contínuo relacionamento com Deus, precisamos orar em todo o tempo, mantermos uma vigilância sem qualquer trégua ou interrupção, o que somente é possível se adorarmos a Deus a todo instante, a todo momento. São estes os adoradores que Deus está buscando (Jo.4:23).

- O sexto motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que nós temos fé em Deus, porque confiamos n’Ele. Fé, como afirmou de modo muito feliz o pastor Ricardo Gondim (Assembleia de Deus Betesda) é o elo que nos une a Deus, a um Deus que nós não vemos, é uma certeza sem provas, é uma convicção sem provas, sem garantias (Aprenda a ter uma grande fé – pregação radiofônica difundida em 25.11.2003). Sem fé é impossível agradar a Deus (Hb.11:6) e, portanto, para que possamos adorar a Deus, render-Lhe culto e louvor, é indispensável que creiamos que Ele existe e é galardoador dos que O buscam. Nunca nos esqueçamos que Jesus, em muitas oportunidades, ao se dirigir às pessoas que O ouviam, fazia alguma observação a respeito da fé que elas possuíam.

- O sétimo motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que nós amamos a Deus. Somente se amarmos a Deus poderemos adorá-l’O. Quando amamos alguém, queremos estar sempre ao seu lado, queremos estar, constantemente, na sua companhia. Ora, se amamos a Deus, desejamos estar sempre ao Seu lado, estar sempre em Sua companhia e não há outra forma de o fazermos senão através de uma contínua adoração a Ele. A igreja anseia pela contínua companhia de seu Noivo, de seu amado: “o meu amado é meu e eu sou dele” (Ct.2:16a).

IV – ASPECTOS DO CULTO CRISTÃO PENTECOSTAL

  • Como temos visto, a adoração é uma característica que acompanha o ser humano desde o início da sua existência. O homem foi feito para adorar a Deus. Entretanto, com a entrada do pecado no mundo através do primeiro casal, esta característica do homem ficou obscurecida, sensivelmente abalada, a ponto de, já na primeira geração da humanidade após a expulsão do Éden, contemplarmos alguém que não adorou perfeitamente ao Senhor, a saber, Caim.
  • Também já vimos que, quando Deus Se revelou plenamente ao homem, na pessoa de Jesus Cristo (Hb.1:1-3), pudemos contemplar a própria glória de Deus (Jo.1:14) e, a partir de então, a adoração a Deus atingiu uma dimensão nunca antes vista, pois Deus passou a habitar no próprio homem, através do Espírito Santo (Jo.14:17), tornando a cada homem que aceite a salvação na pessoa de Cristo Jesus um templo do Espírito Santo (I Co.6:19). Desta maneira, como Jesus disse à mulher samaritana, passamos a ser templos ambulantes, a ser adoradores do Pai em espírito e em verdade, não dependendo mais de locais pré-determinados para adoração, mas sendo pedras vivas do edifício de Deus (I Pe.2:5).
  • A vida de um crente, portanto, a partir da consumação de obra de Cristo, passou a ser um altar, uma vida de adoração. A adoração está presente em todos os atos da vida do crente, tanto que, por verem as obras de um cristão, os homens acabam por glorificar o nome de Deus, algo que, no passado, na antiga aliança, somente ocorria quando o povo se dirigia até o templo de Jerusalém. Devemos ter esta consciência de que a nossa vida é a base de toda a nossa adoração. Adorar a Deus significa servi-l’O a todo instante, a todo momento. Conhecida música popular brasileira afirma que ” qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa” e isto é uma grande realidade. Há pessoas que, dizendo-se cristãs, preocupam-se em ter uma vida de adoração apenas nas quatro paredes do templo de sua igreja local, esquecendo-se totalmente de que devem ser templos do Espírito Santo. A adoração a Deus envolve estes momentos de culto a Deus, de devoção coletiva, como também os instantes de devoção individual, na nossa oração diária, na leitura da Palavra de Deus, mas a devoção é apenas um dos aspectos da adoração cristã, que vai muito além de tudo isto. Seremos verdadeiros adoradores de Deus se pudermos exclamar como Paulo: não sou mais eu quem vivo, mas é Cristo que vive em mim (Gl.2:20).
  • O primeiro aspecto da adoração cristã, portanto, é a nossa vida prática, são as nossas ações, os nossos gestos no dia-a-dia, no cotidiano. Como temos vivido? Temos realizado boas obras, de modo que as pessoas, ao verem o nosso porte, glorifiquem a Deus que está nos céus, como nos determina Jesus em Mt.5:46? Nossas ações são movidas por amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão e temperança, que é o fruto do Espírito Santo (Gl.5:22)? Jesus disse que conheceríamos as pessoas pelos seus frutos, não pelas suas palavras ou aparências (Mt.7:16,20). O servo de Deus é reconhecido não pelo que fala, mas pelo que vive (Mt.7:22-27). Mantemos uma vida de integridade diante de Deus, tendo, em todo o tempo, uma vida de santificação contínua na presença do Senhor? Temos nossas vestes limpas e óleo sobre a nossa cabeça? (Ec.9:8)
  • O segundo aspecto da adoração cristã envolve a devoção a Deus. Qual é a nossa vida devocional? Temos um relacionamento espiritual com o Senhor? Dedicamos parte do nosso dia para termos um contacto mais intenso e profundo com Deus? Oramos sem cessar?(I Ts.5:17) Jejuamos ?(Mt.6:16-18) Meditamos na Palavra de Deus de dia e de noite?(Sl.1:2).
  • É importante observar que a devoção a Deus é, em primeiro lugar, uma atividade individual. O salmista diz que é bem-aventurado o homem que meditar na Palavra do Senhor. Jesus afirma que a vida de oração deve ser individual, devemos entrar no nosso aposento e, em segredo, clamarmos a Deus. Ele próprio nos deu este exemplo em mais de uma oportunidade (Mt.14:23; Lc.22:41). Com relação ao jejum, é também, em primeiro lugar, uma ação individual, imperceptível aos olhos dos demais.
  • Depois de uma atividade individual, a devoção deve ser algo existente no seio da família, o grupo social mais íntimo do homem. Abraão, pelo que podemos observar, era um homem que fazia com que todos os seus servos adorassem ao seu Deus, tendo os mesmos propósitos e os mesmos ideais (Gn.14:14; 22:5). Josué podia dizer que servia com sua casa a Deus, porque tinha uma vida devocional familiar (Js.24:15). A vida ministerial de Timóteo só foi possível graças ao lastro que lhe proporcionou a vida devocional que teve em sua família, ainda que seu pai não fosse judeu (II Tm.3:14,15). Um lar onde não haja um momento devocional, o chamado “culto doméstico”, é, sem dúvida alguma, um alvo fácil e predileto do inimigo de nossas almas. Uma família que adora a Deus é o cordão de três dobras, que não pode ser facilmente desfeito (Ec.4:12). Esta terceira dobra é, precisamente, o relacionamento existente entre os fundadores do lar (o casal) e o Senhor Deus, algo que é construído pela existência de uma adoração a Deus no seio familiar.
  • Após as dimensões individual e familiar, temos a devoção na igreja local. A igreja, como o próprio nome diz, é a “reunião daqueles que foram tirados para fora”, ou seja, a reunião daqueles que saíram do mundo e do domínio do pecado, que foram resgatados do lamaçal do pecado por Jesus e cujos pés foram colocados na rocha eterna (Sl.40:2). Não é possível uma vida devocional sem que haja a reunião na igreja local. A igreja local, a reunião dos crentes em Cristo, é algo necessário e indispensável para que tenhamos uma vida espiritual completa e de acordo com os padrões bíblicos. A igreja local não é uma criação humana, mas uma determinação divina. Desde o momento que Jesus subiu aos céus, determinou que Seus discípulos ficassem reunidos num mesmo lugar, para que pudessem desfrutar de uma maior intimidade com o Senhor (Lc.24:49; At.2:1). Percebamos que o revestimento do poder, o batismo com o Espírito Santo somente foi recebido por aqueles que se mantiveram reunidos no mesmo lugar, debaixo do governo instituído por Deus, na época, do governo dos apóstolos (At.1:15,26). Foram mais de quinhentos crentes os que ouviram do Senhor a promessa do Espírito (I Co.15:16), mas apenas quase cento e vinte alcançaram a sua realização (At.1:15), porque só estes se mantiveram reunidos em adoração a Deus. O crescimento espiritual do crente depende do convívio na igreja local, da devoção coletiva. Embora seja importante que sejam mantidos grupos de oração, grupos de estudo, nada substitui o modelo bíblico da igreja local. As “células”, tão em voga nos nossos dias, não podem substituir as igrejas locais, pois.
  • Na devoção coletiva, o povo de Deus, reunido, tem condições de se aperfeiçoar, pois é nesta reunião que os dons espirituais se manifestam (I Co.14:12,19), bem como é na igreja local que se exercem os dons ministeriais (Ef.4:11-16). Também, nas reuniões da igreja local, temos a presença de nosso Senhor, que assim nos prometeu (Mt.18:20). Por isso, é fundamental que estejamos sempre presentes nas reuniões da igreja local, para que desfrutemos da presença do Senhor e possamos completar a nossa adoração ao Senhor.
  • Na dispensação da graça, como vimos, a adoração é feita em espírito e em verdade, de tal maneira que, com exceção do batismo nas águas e da Ceia do Senhor, não há atos fixos e cerimoniais rígidos na vida devocional coletiva da igreja. Em assim sendo, devemos aceitar uma certa liberdade no modo de adoração ao Senhor, vez que não há padrões rígidos e fixos após a vinda do Senhor a este mundo. Daí porque as Escrituras dizerem que onde há o Espírito de Deus, aí há liberdade (II Co.3:17).
  • Contudo, a liberdade na adoração a Deus não significa, em absoluto, que não haja quaisquer regras ou parâmetros na devoção coletiva, na liturgia, que é o nome que os teólogos dão a esta ordem de culto a Deus na igreja local. Liberdade, biblicamente falando, é algo que é feito debaixo da submissão da autoridade divina, algo que tem responsabilidade, não uma autonomia diante de Deus, muito menos uma libertinagem. Nosso Deus é um Deus de ordem e de decência e, como tal, a devoção coletiva deve observar estes parâmetros de nosso Senhor ((I Co.14:40).
  • A Bíblia afirma que, quando a igreja se reúne, deve haver, na devoção coletiva, salmo, doutrina, revelação, língua e interpretação, tudo com o propósito de edificação (I Co.14:20). Vejamos, pois, cada um destes momentos que deve haver na devoção coletiva a Deus.
  • O primeiro ponto que deve existir numa vida devocional coletiva é o salmo, ou seja, o louvor. Quando Paulo se refere a salmo, está se referindo ao louvor, pois o salmo era a forma pela qual os judeus louvavam ao Senhor, já que os Salmos eram o hinário oficial de Israel. Desde os tempos do Antigo Testamento, nas cerimônias e celebrações coletivas de adoração a Deus, estava presente um momento de louvor e de cântico. As Escrituras ensinam-nos, em diversas partes, que tudo quanto tem fôlego deve louvar ao Senhor (Sl.150:6). O ministério do louvor é o único ministério que perdurará após a glorificação dos salvos, pois os anjos não cessam de louvar a Deus e estaremos com o Senhor para sempre, louvando-o. Deste modo, é indispensável que a liturgia incorpore momentos de louvor na vida devocional coletiva.
  • Entretanto, o louvor, como bem demonstra a Bíblia, é um sacrifício pacífico que se faz ao Senhor nesta dispensação (Hb.13:15). Sendo assim, há critérios que devem ser observados quanto ao louvor que deve ser entoado pela igreja ou na igreja por ocasião de nossas reuniões devocionais. O louvor deve ser o fruto dos lábios que confessam o nome do Senhor (Hb.13:15), ou seja, o louvor é o resultado de uma vida de confissão a Deus, de uma vida de arrependimento dos pecados, de uma vida diferente daquela que é vivida pelos homens que não têm a salvação.
  • Sendo assim, o louvor não pode ser igual nem tampouco semelhante à música que é seguida e observada pelo mundo sem Deus e sem salvação. O louvor a ser entoado deve ter respaldo bíblico, não só com relação à letra, mas, e principalmente, com respeito à melodia e harmonia. Devemos fazer distinção entre o santo e o profano (Ez.22:26;44:23), pois este é um dever de todo sacerdote (e cada um de nós é um sacerdote diante de Deus – I Pe.2:9). O louvor é fruto daqueles que demonstram não estar conformados com o mundo (Rm.12:2). Como, então, poderemos demonstrar que estamos adorando a Deus, usando o fermento velho? (I Co.5:7,8). É lamentável que estejamos numa época em que a música profana tem invadido completamente as nossas igrejas e ocupado o lugar dos nossos hinos sacros. A Bíblia fala que o verdadeiro culto devocional coletivo a Deus se faz com salmos, ou seja, com hinos inspirados, santos e distintos das demais músicas, das músicas mundanas e profanas.
  • É interessante, também, observar que, embora o salmo seja uma parte importante e indispensável da devoção coletiva, não é a que deve ocupar a maior parte do tempo da reunião. A Bíblia mostra-nos que Jesus dedicou apenas uma pequena parte do culto de instituição da ceia para o louvor (Mt.26:30), hino, aliás, que, entendem muitos estudiosos da Bíblia Sagrada, seja o salmo 116 (ou seja, Jesus cantou um cântico selecionado, um cântico sacro, um cântico do hinário oficial de Israel). O louvor é importante, mas é apenas um instante de preparação para o momento principal da reunião, que é a exposição da Palavra de Deus. Hoje em dia, infelizmente, devido ao grande número de grupos musicais na igreja, sem se falar naqueles que preferem cantar individualmente, não raras vezes, três quartos do tempo da reunião são dedicados ao louvor, o que tem causado grande prejuízo espiritual ao povo de Deus. O alimento do homem é a Palavra de Deus e o excesso de louvores tem contribuído para o raquitismo espiritual da igreja nos nossos dias. Precisamos voltar aos tempos passados, onde se ouviam até três mensagens numa reunião.
  • O segundo ponto que deve estar presente numa reunião é a oraçãoque, no texto mencionado por Paulo, é denominada de revelação, de língua e de interpretação. É indispensável que a igreja, reunida, busque a Deus em oração, para que tenhamos uma verdadeira adoração e a presença de Deus se faça sentir no meio dos crentes. Cada crente deve, assim que chegar à igreja, buscar a face do Senhor, orar para que o nome do Senhor seja glorificado na reunião. Nos dias antigos (e, atualmente, em outras denominações, que são tão criticadas por pontos secundários, mas que, neste aspecto, são muito mais reverentes e superiores a nós), o povo de Deus, ao chegar à casa do Senhor, dobrava seus joelhos e, numa atitude de reverência, seguindo o que determina a Bíblia Sagrada (Ec.5:1), orava ao Senhor até o início da reunião. Hoje em dia, estarrecidos, observamos que os crentes aproveitam este período para falar da vida alheia, rever os amigos, marcar encontros, entabular negócios e tantas outras coisas, menos para buscar a Deus. Acham que o culto começa no momento da oração inicial, quando, na verdade, não vimos à igreja para assistir a um culto, mas para prestarmos o nosso culto a Deus, juntamente com os demais cristãos, naquele local. O culto na igreja começa quando ali chegamos e devemos aproveitar o nosso tempo para orar e buscar a presença de Deus. As reuniões não têm sido mais proveitosas espiritualmente para os crentes exatamente porque não há este propósito de orarmos ao Senhor desde o instante de nossa chegada à igreja local, comportamento que é fundamental para aqueles que dizem crer na realidade atual do poder de Deus por meios sobrenaturais, como são os cristãos pentecostais.
  • Além deste momento de oração antes do início da devoção coletiva, deve haver alguns momentos de oração durante a reunião, onde são publicadas as necessidades dos santos à igreja local, para um intercessão, bem assim comunicados os agradecimentos pelas bênçãos recebidas. Também este é o momento adequado para que se proceda a eventuais unções com óleo, que devem ser feitas exclusivamente sobre membros da igreja enfermos, que é a hipótese bíblica para unção na nova aliança (Tg.5:14). Também, neste momento, deve-se abrir oportunidade aos irmãos que queiram testemunhar das maravilhas que o Senhor tem feito em suas vidas. Ultimamente, os testemunhos têm sido substituídos por comunicados de agradecimento, prática que não é salutar, pois o testemunho edifica a igreja e é importante ouvirmos o seu relato por parte daquele que foi alvo da misericórdia divina e não um simples relato frio transmitido por alguém num escrito.
  • A parte mais importante da devoção coletiva, entretanto, é a que diz respeito à exposição da Palavra de Deus. A explanação da Palavra é uma necessidade imensa do povo de Deus e um dos principais motivos para a sua reunião coletiva. Se existe a igreja local, se existe este grupo com o devido governo constituído pelo Senhor, é, precisamente, para que haja o ensino da Palavra de Deus, tarefa primordial do ministério na casa do Senhor (cfr. At.6:2,4). Esta é a parte referente à doutrina mencionada por Paulo em I Co.14:26, o que deve ser gotejado incessantemente sobre a igreja (Dt.32:2). Doutrina é a exposição da Palavra do Senhor, do evangelho, dos ensinos de Deus para o homem, não se confundindo com usos e costumes. Eis a razão por que é requisito indispensável para a separação de alguém para o ministério a sua capacidade de ensinar as Escrituras (I Tm.3:2). Nossas reuniões devocionais devem dar prioridade à exposição da Palavra do Senhor, reservando-se um tempo suficiente para sua exposição, no mínimo quarenta minutos. Antes do término da reunião, deve haver uma mensagem final de convite aos pecadores para que aceitem a Cristo como Salvador, o nosso conhecido “apelo”, que nunca deve faltar numa reunião devocional coletiva da igreja local, pois nosso objetivo primordial é ganhar almas para Jesus. Infelizmente, muitos, por incrível que pareça, têm eliminado esta parte do culto, fazendo com que tenhamos sérias dúvidas de que tenham, ainda, consciência de que uma reunião devocional não é um mero ajuntamento social.
  • Também faz parte da devoção coletiva a parte referente à contribuição financeira para o sustento da obra do Senhor. As ofertas e os dízimos são parte de nossa devoção a Deus, de nosso compromisso com a pregação do Evangelho são parte integrante e indissociável da nossa adoração. Não obstante, temos aqui apenas uma parte do culto devocional, que deve ser conduzida com moderação e devida explicação de seus objetivos aos ouvintes da Palavra de Deus, buscando-se, diante do mercantilismo reinante no mundo religioso dos nossos dias, haver um devido esclarecimento e, inclusive, relevando-se que se trata de uma obrigação dos crentes, não extensiva àqueles que estejam visitando a comunidade.
  • A devoção coletiva, seguindo esta ordem, será, certamente, agradável ao Senhor, que Se fará presente e proporcionará não somente o aperfeiçoamento espiritual dos crentes reunidos, mas também ocasionará a salvação de vidas preciosas para o reino de Deus.

V – A INVERSÃO DE VALORES QUE AFETA O CULTO CRISTÃO PENTECOSTAL NA ATUALIDADE

- Temos visto qual é o culto que agrada a Deus, qual o culto que é prescrito pelo Senhor na Sua Palavra e que o homem, como ser inferior e que reconhece a supremacia de Deus, deve agir neste reconhecimento da dignidade divina.

- No entanto, na atualidade, temos visto uma “inversão de valores”, uma indevida alteração que se tem estabelecido no culto cristão pentecostal que, por isso mesmo, deixa de ser “cristão pentecostal”, para ser um culto completamente divorciado da Palavra, um “culto estranho” que é abominado por Deus.

- Ao analisarmos o contido nas Escrituras a respeito do culto, como visto supra, percebemos que há uma inversão total de valores trazida pelo inimigo de nossas almas, o diabo, a antiga serpente, que tem enganado a muitos, assim como fez a Eva, apartando-os da simplicidade que há em Cristo Jesus (II Co.11:3).
- A primeira inversão é o uso da emoção como instrumento para nos chegarmos a Deus. Quando nos chegamos a Deus, somos convencidos de nossos pecados pelo Espírito Santo (Jo.16:8) e, então, nossa vida e emoções são afetadas: choramos, rimos etc. O culto a Deus não pode ser baseado na emoção, mas a emoção deve ser resultado do verdadeiro culto ao Senhor. Por isso, muitos crentes que choram e se emocionam aos domingos, não passam pelo “teste da segunda-feira”, quando voltam ao “normal” de suas vidas de pecado e fracasso.

OBS: “…É claro que as emoções estarão presentes no ato do culto, pois, afinal, o ser todo e todo o ser que respira deve louvar a Deus. Mas transformar o culto numa catarse é extrapolar o seu real significado. Se a pessoa precisa de atenção especial na busca de soluções para sua vida, deve buscar um aconselhamento, não o culto….” (ENSINAMENTOS CRISTÃOS: Culto ou entretenimento? Disponível em:http://estudoscristaos.com/2008/07/ensinamentos-cristos-culto-ou.htmlAcesso em 05 br. 2011)

- Muitos confundem este emocionalismo com pentecostalismo. Os crentes pentecostais creem na atuação direta do Espírito Santo, mas isto não significa em absoluto que sejamos emocionais. O Espírito Santo trata de coisas “espirituais” (I Co.2:13) e o “espiritual”, embora traga emoções, não se limita a elas. Por isso, o apóstolo Paulo nos mostra que o verdadeiro e genuíno culto é “racional” (Rm.12:1). Provocar emoções no povo, levá-lo a um “êxtase” puramente psicológico, usando-se de estratégias aprendidas na neurolinguística ou nas artes cênicas são mecanismos abomináveis ao Senhor, são “fraudes espirituais”, que devem ser evitadas e abandonadas num culto verdadeiramente pentecostal.

OBS: Apesar de o escritor ser adventista do sétimo dia, suas afirmações, por demais oportunas e bíblicas, merecem aqui ser registradas: “…temos nos esquecido de que a forma de adorar a Deus tem que ver com o entendimento que temos de Sua pessoa. Uma adoração emocional não reflete a santidade do Deus da Bíblia. Não quero dizer que a adoração tenha que ser ‘fria’, apenas racional; mas tem de haver respeito à Pessoa Divina. Sairmos emocionados de um show não implica em um encontro real com Deus. Nossas emoções nunca foram base segura para medir nossa comunhão com Deus (Jeremias 17:3, I João 3:20)….” (REIS, Douglas. Shows cristãos:culto, entretenimento ou mundanismo? Disponível em:http://www.musicaeadoracao.com.br/artigos/meio/shows_cristaos.htmAcesso em 05 abr. 2011).

- A segunda inversão é a troca do avivamento pelo movimento. Muitos acham que, para terem um milagre em suas vidas, devem correr atrás de movimentos. Entretanto, na Bíblia está escrito que os sinais seguiam aos que criam e não que estes se tornavam crentes para ter os milagres (Mc.16:17). Antes de mais nada, criam em Jesus, que Este é o Filho de Deus e a única saída para terem seus pecados perdoados (At.4:12). É coisa muito diferente ser convencido intelectualmente de ser convencido pelo Espírito. O convencimento intelectual é “fogo de palha”, que logo se apaga e que tem de ser sempre reacendido pelas pregações motivacionais, ditas equivocadamente “avivalistas”. Vemos isto em todas estas estratégias criadas pelos homens e que estão a infestar as igrejas na atualidade, estratégias estas, porém, que, como todo fermento(I Co.5:7,8), leveda a massa mas logo murcha, pois o motivacional da estratégia humana logo se esvai.

- O convencimento pelo Espírito Santo, porém, arde no coração, na alma, tornando-nos perdidos pecadores que precisam de arrependimento, afetando inexoravelmente e sem retorno o nosso centro de decisões, transformando nossas atitudes em uma busca de novidade de vida e que nos impulsiona a propagarmos o nosso testemunho ao mundo, incendiando-o. É o que o oleiro faz, enfia a mão no meio do barro e o molda de dentro para fora. Esta aparentemente pequena, mas muito sutil diferença está sendo usada pelo inimigo e é a responsável pela difusão das heresias e pela troca das coisas de cima pelas coisas desta vida, em total oposição ao que nos ensina a Bíblia Sagrada (Mt.6:33; Cl.3:1-3).

- A terceira inversão de valor é a mudança de comportamento frente ao mundo. Em vez de querermos mudar o mundo, e o nosso culto a Deus deve ser a mais eloquente manifestação de diferença em relação ao mundo, passamos a querer nos parecer com ele para “ganhá-lo”. Para o ímpio, não há regras, pois ele nada investiga (Sl.10:4). Para ele, que não obedece a Deus, que se rebelou contra o Senhor, “vale tudo”.

- Muitos, inadvertidamente, têm transformado seus cultos em repetições de atitudes praticadas pelos ímpios, por pessoas que não têm qualquer compromisso com o Senhor. Como podemos oferecer a Deus coisas imundas? Como podemos nos apresentar ao Senhor com atos, gestos e atitudes que foram criados e instituídos por pessoas que se rebelaram contra Deus? Será que posso oferecer a Deus uma música, uma canção que não foi criada para o Seu louvor? Deus é obrigado a aceitar tudo aquilo que Lhe ofereço como sacrifício?

- Sempre houve regras para os sacrifícios e, como vimos supra, Deus não aceita sacrifícios que não forem feitos segundo as Suas exigências (Gn.4:5). Por que, então, haveria de receber este culto mundano que muitos Lhe têm apresentado? Se o culto é o reconhecimento da soberania de Deus, como prestar um culto a Deus não reconhecendo a Sua autoridade para determinar como se deve cultuar?

- Culto é a “prática de atos sagrados”. Como, então, seria possível cultuar a Deus sem se separar o sagrado do que não é sagrado, ou seja, do que é profano? Sagrado é o que é santo, separado, consagrado, dedicado, pertencente ao Templo. Profano, por sua vez, é o que não é sagrado, o que é secular, mundano. Profanar é tirar do Templo aquilo que é santo para outro uso que não ao culto ou, então, levar para o Templo o que não é santo, oferecer o mundano a Deus. Profanação é não fazer diferença entre o santo e o profano! Deus não aceita nada impuro!

- O Senhor diz que é dever do sacerdote distinguir o santo do profano (Lv.10:10; Ez.42:20; 44:23) e repreende todos aqueles que não diferem entre o que é santo e o que é profano (Ez.22:26; Hb.10:29; 12:16). Ora, os cristãos são sacerdotes (Ap.1:6) e seus corpos, templo do Espírito Santo (I Co.6:19), como, pois, poderiam fazer um culto ao Senhor com coisas profanas?

OBS: “…E se a parceria entre músicos seculares não evidencia a figura de Jesus, quanto menos a execução de músicas seculares por grupos religiosos. Não se poderia esperar uma joia espiritual de um concerto religioso no qual se executa músicas de grupos dedicados ao entretenimento vazio e corrompido da música secular. Como separar o sagrado do profano se intencionalmente se misturam esses elementos explosivos?…(REIS, Douglas. Shows cristãos: culto, entretenimento ou mundanismo? Disponível em:http://www.musicaeadoracao.com.br/artigos/meio/shows_cristaos.htmAcesso em 05 abr. 2011).

- O culto que se exige de cada cristão é um sacrifício santo, vivo e agradável a Deus (Rm.12:1). Como oferecer sacrifício santo com coisas profanas? Como oferecer um sacrifício vivo com coisas advindas de um mundo que está morto em seus pecados (Ef.2:1)? Como oferecer sacrifício agradável a Deus não atendendo à Sua vontade?

- Deus não só recusa culto que não seja feito conforme a Sua vontade, que não atente para a santidade, como também, mesmo após aceitar o culto, faz passá-lo pelo “teste do fogo”, como nos adverte o apóstolo Paulo (I Co.3:10-15). Como estamos construindo nossa casa espiritual, lembrando que “culto” é, entre outras coisas, “habitação”, “moradia”?
- O resultado destas inversões de valores é catastrófico, porquanto Deus deixa de ser o alvo destas reuniões, sendo trocado pelo homem. Efetivamente, quando a emoção passa a ser o instrumento usado para se tentar chegar a Deus, não se chega a Deus, mas, sim, tão somente à carne. A reunião perde toda a sua espiritualidade, passa a ser um mero extravasar da carne e o culto a Deus é substituído pelos folguedos. Reedita-se, assim, a triste história do bezerro de ouro (Ex.32:1-6).

- No episódio do bezerro de ouro, o povo, sentindo solidão e desamparo, procurou um entretenimento, uma forma emocional para superar esta sua “crise”. Substituiu Deus por um bezerro, animal que evocava o deus-touro dos egípcios (Ex.32:4). Feita a substituição, foi convocada uma festa, onde não faltaram ingredientes para satisfazer a carne (Ex.32:6).

- Como um abismo chama outro abismo (Sl.42:7), a busca da emoção, que traz a carnalidade, também gera a troca do avivamento pelo movimento. Em vez de um homem interior que tem prazer na lei de Deus (Rm.7:22), passa-se a ter um homem insaciável, que busca tão somente o prazer carnal (II Pe.2:13). Há uma total separação de Deus, o que significa morte, visto que se passa a andar segundo a carne e não segundo o Espírito (Rm.8:5-8).

- Por fim, como não há mais vida, quando não se cultua mais a Deus e sim aos próprios desejos pecaminosos, não há como se fugir à terceira inversão: há uma equiparação com o mundo, passa-se a parecer com ele e, então, ante esta inevitabilidade, cria-se a “justificativa” de “se parecer com o mundo para ganhá-lo”, quando, na verdade, já estão todos perdidos junto com o mundo. Afinal de contas, querer parecer com o mundo é amá-lo e quem ama o mundo, o amor do Pai não está nele (I Jo.2:15).

- Quando Moisés voltou até o arraial, encontrou uma verdadeira festa pagã, que nada tinha a dever dos festivais de cantos e danças dos povos idólatras (Ex.32:18,19,23). É o que lamentavelmente se tem visto, com cada vez maior frequência, nos “cultos” de muitos lugares, que são cada vez mais “shows”, “baladas” e outras espécies de reuniões típicas dos que não servem a Deus.

OBS: Recentemente uma determinada igreja passou a exibir, em seu canal de televisão, um culto ao vivo, dizendo não saber se se trata de um culto ou de um programa de televisão. A que ponto chegamos!

- A propósito, a palavra “show” já é utilizada para designar algumas reuniões de crentes, os chamados “shows gospel”. Efetivamente, estas reuniões realmente não são cultos, são “shows” mesmo, pois ali se tem como objetivo a exibição de “artistas” e não a “reverência respeitosa a Deus”. Muitos cultos, a propósito, não passam hoje apenas de meras “exibições” dos “artistas de Jesus”. Por isso, muitos que não são chamados para se “exibir” nas igrejas locais, notadamente nos domingos, saem bravos, irritados, achando que “perderam tempo”, porque não vieram para cultuar a Deus, mas tão somente para se exibir. Que não sejamos dos tais!

OBS: Como afirma querido irmão que conosco participar dos estudos de professores e amigos da EBD na igreja em que servimos, saem das reuniões “fazendo beiçinho”, mas só querem aparecer, não cultuar a Deus.

- A propósito destas exibições, reproduzimos aqui um correto pensamento do pastor adventista Douglas Reis: “…O maior perigo, no entanto, é que o show se centralize na pessoa do artista, ou em algum traço de sua pessoa, como carisma, técnica vocal, etc. Isto significa que o louvor está sendo dado a homens, e Deus vem a ser roubado de Sua glória. O Senhor não divide o palco com ninguém – ou Lhe damos todo o louvor ou Ele fica sem louvor nenhum!…” (REIS, Douglas. Shows cristãos: culto, entretenimento ou mundanismo? Disponível em:http://www.musicaeadoracao.com.br/artigos/meio/shows_cristaos.htmAcesso em 05 abr. 2011).

- Em artigo publicado no jornal “O Mensageiro da Paz”, de agosto de 2006, o pastor Martim Alves da Silva, das Assembleias de Deus de Mossoró/RN, bem distinguiu entre culto e “show”, “in verbis”: “…No culto, a pessoa mais importante é Deus; no show, é o artista. No culto a Deus ninguém paga, no show a entrada é mediante pagamento. No culto, Deus está presente; no show, Deus Se faz ausente, pois Sua glória não dá a outrem. No culto, o ministro de Deus soleniza as celebrações; no show, o apresentador é condescendente à desenfreada desordem. No culto, o povo glorifica a Deus; no show, só gritos e assobios para o artista. No culto, o povo reverencia a Deus em adoração; no show, só há bagunça incontrolável….” (Show não é culto apud ZIBORDI, Ciro Sanches. Há diferença entre culto e show? Estou confuso… Disponível em:http://macfly.multiply.com/journal/item/149Acesso em 05 abr. 2011).

- Por isso, inclusive, hoje há muito mais “entretenimento” do que “culto” em muitos lugares. “Entretenimento”, diz o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, é o “ato de distrair, divertir”. Muitos hoje transformaram o culto em um momento de descontração, de distração, de divertimento. Ora, como já dizia o príncipe dos pregadores britânicos, Charles Haddon Spurgeon (1834-1892), quem deseja entretenimento é “bode”, não a “ovelha” (Apascentando ovelhas ou entretendo bodes. Trad. de Walter Andrade Campelo. Disponível em:http://www.luz.eti.br/spurgeon_feeding_pt.htmlAcesso em 05 abr. 2011). Como afirma o pregador batista Tiago Santos, “…Mark Dever [pastor batista da Igreja Batista do Capitólio em Washington, capital dos EUA - observação nossa] diz que se atrairmos alguém pelo entretenimento, é para o entretenimento que a atraímos. Essa pessoa não estará interessada no evangelho verdadeiro. Por outro lado se atrairmos alguém pela verdadeira mensagem do evangelho, é para o evangelho que estamos ganhando essa pessoa….” (FELIX, Nicolas. O que é Igreja? Culto ou entretenimento. Disponível em:http://batistadagraca.net/jovens/2011/03/14/o-que-e-igreja-culto-ou-entretenimento/Acesso em 05 abr. 2011).

- O apóstolo Paulo, quando nos falou de culto, disse que o seu ofertante não pode se conformar com o mundo, mas que deveria ser transformado com a renovação do seu entendimento para que possa experimentar a vontade de Deus (Rm.12:2). Como, então, falarmos de genuíno culto a Deus com a mesma forma do mundo, adotando a mesma maneira de ser e de viver de quem não é salvo?

- A quarta inversão é a consideração do culto não como uma oferta a Deus, como nos mostra o apóstolo Paulo em Rm.12:1, mas, sim, como uma oportunidade de “recepção de bênçãos”.Muitos são os que, hoje em dia, vão aos cultos para “receber bênçãos”. Aliás, não são poucos os “pregadores” que insistem nesta mentalidade, quando, aos gritos, conclamam o povo a “receber bênçãos de Deus”, com seus famosos “Receba, receba, receba”.

- No entanto, as Escrituras mostram-nos que o culto é uma oferta a Deus, uma apresentação dos nossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (Rm.12:1), chamado de “culto racional”. Quando Pedro e João iam para o culto de oração no alpendre de Salomão, a caminho do templo, na porta Formosa, encontram o coxo e disseram que “tinham algo” para oferecer ao coxo: a cura divina em nome de Jesus (At.3:1-6). Os crentes hodiernos não poderiam realizar este milagre, pois, antes do culto, nada têm, precisam “receber” no culto…

- O apóstolo Paulo é claro, também, ao dizer que, quando vamos ao culto, já temos de ter conosco salmo, doutrina, revelação, língua e interpretação (I Co.14:26). Temos de ir ao culto tendo algo a oferecer a Deus, não para recebermos de Deus. É evidente que o Senhor quer nos abençoar e que somos abençoados no culto, mas a bênção divina é uma consequência de termos, antes, apresentado o devido culto a Deus, de Lhe termos apresentado um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus.

- Noé foi abençoado por Deus e, através dele toda a humanidade, depois que seu sacrifício chegou diante do Senhor como cheiro suave (Gn.8:21-9:1). Não podemos inverter esta ordem, pois nós é que servimos a Deus e não Ele a nós.

- Que valores temos cultivado? Qual tem sido o nosso culto? A quem estamos a cultuar? Pensemos nisso.

Caramuru Afonso Francisco e Sérgio Paulo Gomes de Abreu (in memoriam)

Fonte: PortalEBD

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