Isvonaldo sou Protestante

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segunda-feira, 23 de maio de 2011

O genuíno culto pentecostal – 3


por Altair Germano

O culto é uma das mais belas e antigas formas do homem expressar sua devoção, gratidão e adoração a Deus.

A Bíblia é o maior manual litúrgico em circulação. É nela que encontramos a principal fundamentação para a prática do culto cristão.A falta de conhecimento desta fundamentação, aliada ao descaso ou desinteresse quanto ao desenvolvimento histórico do culto, tem conduzido cristãos e igrejas, a se privarem de todas as bênçãos e privilégios deste tão solene ato, como também, ao desvio da simplicidade, verdade e espiritualidade, que sempre marcaram esta prática cristã. Em muitos lugares, a formalidade, a desordem e a irreverência, têm transformado o culto num mero encontro de pessoas, quando deveria, antes, ser um encontro de pessoas com Deus.

O CONCEITO DE CULTO CRISTÃO

Conceituar “culto cristão” será o primeiro passo em direção ao presente estudo. Vários pesquisadores, estudiosos e teólogos já propuseram as suas definições. Observemos algumas delas: “[...] é o encontro da comunidade com Deus” (KIRT, 1993, p. 12 apud FREDERICO, 2005, p. 20)

A definição acima implica que Deus é quem convida o seu povo a se reunir em dia, horário e local determinado. Dessa forma, Frederico (idem) declara que “se é Ele quem convida, temos certeza de que Ele não faltará a este encontro: ‘onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estarei (Mt 18.20)’”.

Por conseguinte, ainda segundo a autora, o culto não é:

- Uma reunião qualquer, como a de uma associação de moradores de um bairro, em que as pessoas interessadas discutem os problemas comuns ou planejam diversas atividades para o bem do grupo ou da organização;

- Um show, como se vê na televisão, com atrações variadas, apresentações pessoais e coletivas, com um apresentador famoso tentando ganhar pontos no Ibope através de seu desempenho, diante de seus espectadores passivos e satisfeitos com a programação;

- Um momento para se prestar homenagens a personalidades, nem para comemorar e celebrar qualquer data comemorativa do calendário secular;

- Uma obrigação semanal, onde a ausência no mesmo pudesse implicar em algum tipo de punição ou cobrança;

- Uma reunião secreta, repleta de mistérios, envolta em ritos não-compreensíveis, embora possa haver cerimônias que não sejam entendidas por aqueles que não frequentam com regularidade a comunidade cristã local.

Outras definições de culto podem ser encontradas em White (2005, p. 14-24). Em sua intenção de examinar as várias maneiras como os pensadores cristãos falam sobre culto, em seu estudo comparativo, entendeu que a melhor maneira de se entender o significado de um termo é observando-o em seu uso cotidiano. Dessa forma, foram observados os posicionamentos de pensadores protestantes, ortodoxos e católicos. Para White, as variações do uso do termo não se excluem, antes, ao se sobreporem, cada uso acaba acrescentando novas percepções e dimensões, se complementando.

Escrevendo a partir da tradição metodista, o professor Paul W. Hoon contribuiu de maneira bastante significativa através de seu livro The Integrity of Worship, publicado em 1971, afirmando que o culto cristão se relaciona diretamente com os eventos da história da salvação. Cada evento nesse culto está ligado ao tempo e a história enquanto cria pontes para eles e os traz para o nosso atual contexto. O culto seria um lugar onde Deus age para dar sua vida ao ser humano e para conduzir o ser humano a participar dessa vida. Haveria certa interação entre Deus e o homem, onde o primeiro comunicaria seu próprio ser ao ser humano, tendo por parte do segundo uma atitude responsiva. Entre o homem e Deus estaria Jesus Cristo, a auto-revelação do Pai e aquele por quem o Pai recebe nossas emoções, palavras e ações.

Peter Brunner (apud WHITE, p.15-17), teólogo luterano, em sua obra Worship in the Name of Jesus, usa o termo alemão Gottesdient, que tem conotação com o serviço de Deus aos seres humanos, e com o serviço dos seres humanos a Deus. Brunner cita Lutero, que acerca do culto disse: “que nele nenhuma outra coisa aconteça exceto que nosso amado Senhor ele próprio fale a nós por meio de sua santa palavra e que nós, por outro lado, falemos com ele por meio de oração e canto de louvor”. Para Brunner há uma dualidade no culto encoberta por um foco único, que é a ação divina em se nos doar quanto em instigar nossa resposta às suas dádivas graciosas.

Evelyn Underhill, anglo-católica, em seu clássico estudo Worship em 1936, afirmou que “o culto, em todos os seus graus e tipos, é a resposta da criatura ao Eterno.” Outras características do culto cristão seriam o seu condicionamento pela crença cristã, pela crença sobre a natureza e a ação de Deus resumidas no dogma da trindade e da encarnação e em seu caráter social e orgânico, o que faz do culto um empreendimento coletivo, e nunca solitário.

O professor ortodoxo Georg Florvsky, enfatizou que “O culto cristão é a resposta dos seres humanos ao chamado divino, aos prodígios de Deus, culminando no ato redentor de Cristo”. Para ele, como cristão precisamos da comunidade, visto que a existência cristã é essencialmente comunitária. O culto seria uma das manifestações da vida cristã comunitária, onde em resposta à obra de Deus passada e presente, manifestações de louvor e adoração sinalizam um grato reconhecimento pelo grande amor e pela bondade redentora de Deus.

As idéias de Florvsky foram reforçadas por um outro teólogo ortodoxo, Nikos A. Nissiotis, através da declaração de que “O culto não é primordialmente iniciativa do ser humano, mas ato redentor de Deus em Cristo por meio do seu Espírito”.

O “culto cristão”, sob uma perspectiva pentecostal, poderia ser definido como: O ajuntamento solene da Igreja, com fins de adorar a Deus mediante a liturgia, associada aos elementos comuns de cada cultura popular ou denominacional, aberto a livre manifestação da ação e dos dons do Espírito com decência e ordem (1 Co 14.26, 40).

OS TERMOS UTILIZADOS PARA DEFINIR “CULTO”

Na Bíblia encontramos alguns termos usados para definir “culto”. São eles:

- ‘abida – Termo hebraico que originalmente significava trabalho, ritual, adoração. Os usos dessa palavra em Esdras se referem ao trabalho feito na reconstrução do templo em Jerusalém (Ed 4.24; 5.8; 6.7),bem como as atividades em geral de sacerdotes e levitas, as quais, em associação com o ritual e a adoração espiritual (Ed 6.18), constituem serviço a Deus (Ex 3.12; Dt 6.13; 11.13; Sl 100.2).

- Latreia – Substantivo grego, usado nas diversas situações de um trabalho ou serviço assalariado. Posteriormente foi incorporado à prática cristã de cultuar, ou seja, prestar um serviço a Deus, adorá-lo (Mt 4.10; Rm 12.1).

- Proskunein – Termo grego que no AT significava “curvar-se”, tanto para homenagear homens importantes e autoridades (Gn 27.29; 37.7-10; I Sm 25.23), como para adorar a Deus (Gn 24.52; 2 Cr 7.3; Sl 95.6). No NT denota exclusivamente a adoração que se dirige a Deus (At 10.15-26; Ap 19.10; 22.8-9).

- Leitourgia – A palavra é originária do grego. Literalmente, significa serviço público (leitos=público, Ergon=trabalho). Conforme Andrade (Manual da Harpa Cristã, p. 19)

Na Antiga Grécia, o termo era usado para designar uma função administrativa num órgão governamental. Desde sua origem, por conseguinte, a liturgia tem uma forte conotação com o serviço que os súditos devem prestar ao rei. O termo passou, com o tempo, a designar o culto público e oficial da Igreja Cristã. Hoje, é definido como a forma pela qual um ato de adoração é conduzido.

Esses termos nos ajudam a perceber a natureza e o caráter do culto cristão.

FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA DO CULTO NO ANTIGO TESTAMENTO

É no Antigo Testamento que encontramos as primeiras referências ao culto:

- O Culto na Família (Gn 4.1-5; 26; 8.18-21; 13.1-4; Ex 12.1-21; Dt 6.4-9; 11.18-21). As primeiras narrativas bíblicas que envolvem o culto se dão na família. Em Gênesis 4.3-5 lemos sobre o culto na dimensão pessoal, onde o que cultua, aquele que é cultuado e o elemento oferta estão presentes. Este primeiro episódio nos ensina um princípio que vai nortear todo o culto no Antigo Testamento, e que servirá de base para o culto no Novo Testamento: A aceitação do culto depende primeiramente daquilo que o Senhor percebe na vida (interior e exterior) daqueles que prestam o culto (Is 1.10-17). Da vida pessoal, o culto no Antigo Testamento avança para a vida familiar (Ex 12.1-21), comunitária e nacional. A rigidez cerimonial é marcante a partir deste período.
- O Culto no Tabernáculo (Ex 25-40). Com a construção do tabernáculo, em pleno deserto, Deus começa a preparar o povo para um culto no nível comunitário, com elementos e uma liturgia marcada por muitos elementos simbólicos. Além dos cultuadores, do cultuado e das ofertas, temos agora presente um espaço litúrgico definido, e os ministros/sacerdotes com uma função mediadora. No Pentateuco vamos encontrar também o estabelecimento de várias festas cerimoniais, que possuem um papel comemorativo e pedagógico, visto que lembram eventos passados e que servem de base para a exortação das novas gerações (Lv 23).

- O Culto no Templo (2Sm 7.1-17; I Rs 6-8). Já estabelecidos na terra prometida, é sobre o reinado de Davi que a construção do templo é idealizada (1 Cr 22.6-19). Com o templo, um sistema de organização é estabelecido para que em nada o culto seja prejudicado. Neste sistema estão presentes os levitas (1 Cr 23), os sacerdotes (1 Cr 24), os cantores (1 Cr 25), os porteiros (1 Cr 26) e os tesoureiros (1 Cr 26.20-28).

- O Culto na Sinagoga. Não encontramos menção no Antigo Testamento sobre o culto na sinagoga. Conforme Packer, Tenney e White Jr. (1988, p. 82): “O mais provável é que os judeus exilados criaram a sinagoga quando se reuniam para orar, cantar, e discutir a Tora enquanto viviam em terras estranhas. Depois que voltaram do Exílio, fizeram da sinagoga uma instituição formal”.

Observamos desta forma, que o sistema cúltico no Antigo Testamento se tornou ao longo dos séculos bastante organizado, complexo e formal. Percebe-se ao longo da narrativa bíblica, que quanto mais o povo se afastava de Deus, menos significativo ficava o culto. Esse descaso do povo para com Deus, sua Palavra e o culto culminou com a destruição do próprio templo (2 Rs 25.8-18).

FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA DO CULTO NO NOVO TESTAMENTO

O culto no Novo Testamento recebeu forte influência da sinagoga, assimilando muitos de seus elementos, para posteriormente estabelecer uma característica própria. Não encontramos no Novo Testamento nenhum manual litúrgico ou tratado sistemático sobre o culto cristão. Apesar disso, Harpprecht (1998, p. 120-121) nos aponta três relevantes passagens a seu respeito:

- Mt 8.20: “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles”. Nesse texto se destacam a acessibilidade livre e generosa do Senhor Jesus, que se permite ser encontrado pela comunidade cristã onde e quando quiser, além da comunidade reunida em seu nome ser p sinal por excelência da presença de Deus entre nós.

- 1 Co 11.24 e 25: “e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim”. Reproduzindo as palavras de instituição da Ceia, Paulo nos escreve oferecendo mais um aspecto da fundamentação bíblica para o culto cristão: Deus quer que sua comunidade se encontre com ele. Para possibilitar tal desejo, um rito foi instaurado.

- At 2.42-47: Esse texto descreve sucintamente a vida da igreja em Jerusalém, onde se pode observar o destaque dado ao ajuntamento dos crentes e ao partir do pão, indicando que a celebração da Ceia era um ato cúltico bastante frequente: “Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singileza de coração [...]” (v. 46).

As condições iniciais da formação da Igreja, associada à falta do espaço litúrgico cristão, fizeram que com as reuniões fossem celebradas nas casas (At 2.46b; 16.40; 20.20; Rm 16.5; I Co 16.19; Cl 4.15, etc.), nos pátios do templo judaico (At 2.46b), às margens de rios (At 16.12-15) e em prisões (At 16.25).

DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DO CULTO CRISTÃO

O desenvolvimento histórico do culto cristão é descrito por Gonzalez (1980, vol. 1, p. 151 a 154), que nos informa do fato de que é através de uma série de documentos antigos preservados até hoje, que temos a possibilidade de saber como os antigos cristãos celebravam a comunhão. Algumas características comuns formaram parte de todas as reuniões de comunhão.

A comunhão era uma celebração. O gozo e a gratidão era uma característica presentes nos cultos. A comunhão era celebrada em meio de uma refeição, onde cada um trazia o que podia. Após compartilharem os alimentos, oravam pelo pão e pelo vinho. No princípio do século segundo, possivelmente em razão das perseguições e das calúnias que circulavam acerca das “festas de amor” dos cristãos, a comunhão passou a ser celebrada sem a refeição em comum. Tal fato não fez cessar o espírito de celebração das primeiras reuniões.

É ainda por esse tempo, que o culto de comunhão constava de duas partes. Na primeira liam-se e comentavam-se as Escrituras (culto homilético), faziam-se orações e cantavam-se hinos. A segunda parte do culto começava geralmente com o ósculo (beijo de cumprimento) santos da paz. O pão e o vinho eram trazidos para frente e eram apresentados a quem presidia. Em seguida, era pronunciada pelo presidente uma oração sobre o pão e o vinho, na qual se recordavam os atos salvíficos de Deus e se invocava a ação do Espírito Santo sobre o pão o vinho. Depois se partia o pão, os presentes comungavam, e se despediam com a benção. A esses elementos comuns, em diversos lugares e circunstância, acrescentavam-se outros.

Nesta época, só podia participar do culto quem tivesse sido batizado. Os que vinham de outras congregações podiam participar livremente, sempre e quando estivessem batizados. Aos convertidos que ainda não tinha recebido o batismo, era concedido assistir à primeira parte do culto, que consistia das pregações e orações. Após esse momento, se retiravam antes da celebração da comunhão propriamente dita.

Desde muito cedo surgiu também o costume de celebrar a comunhão nos lugares onde estavam sepultados os fiéis já falecidos. Esta era a função das catacumbas. As catacumbas eram cemitérios e sua existência era conhecida pelas autoridades, pois não eram apenas os cristãos que tinham tais cemitérios subterrâneos. Mesmo que em algumas ocasiões os cristãos tinham utilizados algumas das catacumbas para se esconder dos perseguidores, a principal razão pela qual se reuniam nelas era que ali estavam enterrados os heróis da fé. Acreditava-se que a comunhão unia, não apenas os crentes vivos e mortos entre si, mas também ao Senhor Jesus Cristo, e aos seus antepassados na fé. No caso dos mártires, existia o costume de se reunir junto a suas tumbas no aniversário de sua morte para celebrar a comunhão. Esta seria a origem da celebração das festas dos santos, que em geral se referiam, não aos seus natalícios, mas sim às datas de seus martírios.

A Igreja, como já observamos, se reunia principalmente nas casas. Com o crescimento das congregações, algumas casas foram dedicadas exclusivamente ao culto cristão. Assim, por exemplo, um dos mais antigos templos cristãos que se conserva, o de Dura-Europo, construído antes do ano 256, parece ter sido uma casa particular convertida em igreja.

A história da igreja teve como um dos seus grandes marcos a conversão de Constantino. No que se refere ao seu impacto sobre o culto cristão, continuaremos a citar Gonzalez (idem, vol. 2, p. 37 a 39), que nos informa que até a época de Constantino o culto cristão tinha sido relativamente simples. No princípio os cristãos se reuniam para adorar em casas particulares. Depois começaram a se reunir em cemitérios, como as catacumbas romanas. No século terceiro já havia lugares dedicados especificamente para o culto.

Após a conversão de Constantino o culto cristão começou a sentir a influência do protocolo imperial. Foi introduzido o incenso, utilizado até então no culto ao imperador. Os ministros que oficiavam no culto começaram a usar vestimentas litúrgicas ricamente ornamentadas durante o mesmo, em sinal de respeito pelo que estava tendo lugar.Surge também o costume de iniciar-se o culto com uma procissão.

Em razão das comemorações dos aniversários da morte dos mártires celebrando a ceia no lugar onde ele estava enterrado, posteriormente foram construídas igrejas em muitos desses lugares. Sem demora as pessoas passaram a pensar que o culto teria significado especial se celebrado em uma dessas igrejas, por causa da presença das relíquias do mártir, ou seja, de parte do seu corpo ou objeto que lhe pertenceu. Os mártires começaram a ser desenterrados para colocar seu corpo – ou parte dele – sob o altar de várias das muitas igrejas que estavam sendo construídas. Simultaneamente, algumas pessoas começaram a afirmar que tinham recebido revelações de mártires, além de lhes atribuir poderes miraculosos. A veneração e a adoração aos santos nascem destas práticas.
As igrejas construídas no tempo de Constantino e dos seus sucessores, nada tinham em comum com a simplicidade dos primeiros espaços litúrgico. Constantino mandou construir em Constantinopla a igreja de Santa Irene, em honra à paz. Helena, sua mãe construiu na Terra Santa a igreja da Natividade e a do Monte das Oliveiras. Muitas outras foram construídas nas principais cidades do Império. Essa política foi seqüenciada pelos sucessores de Constantino. Seguindo a prática dos imperadores romanos, quase todos eles tentaram perpetuar sua memória construindo grandes obras, no caso aqui, igrejas suntuosas. Praticamente todas as igrejas construídas por Constantino e seus sucessores mais imediatos desapareceram. Documentos por escrito e restos arqueológicos nos restaram para formarmos uma idéia da planta comum destes templos. E como padrão estabelecido no século IV perdurou por muito tempo, outras igrejas posteriores, que existem até os dias de hoje, ilustram o estilo arquitetônico da época.
A forma típica das igrejas de então, porém, é chamada “basílica”, e já era usado para designar os grandes edifícios públicos e privados – que consistiam principalmente de um grande salão com duas ou mais filas de colunas. Uma vez que tais edifícios serviram de referência e modelo para a construção das igrejas nos séculos quarto e seguintes, estas receberam o nome de “basílicas”.

CORRESPONDENTES DO CULTO CRISTÃO NA TRADIÇÃO CATÓLICA

Conforme já observado, as mudanças acontecidas nos primeiros séculos da história da igreja influenciaram não somente a estrutura dos templos, como também a liturgia do culto. É exatamente neste período que se desenvolve a missa com todo o seu ritual e elementos litúrgicos, que enfatizaram a estética e a pompa dos cultos, não sendo suficientemente capazes de manterem a verdadeira espiritualidade da adoração à Deus.
Segundo Champlin (1991, vol. 4, p. 303), o termo missa vem do latim. Comumente aplicado à eucaristia [termo derivado do grego eucharistia, “agradecimento”, passou posteriormente a significar a cerimônia da ceia, por parte do catolicismo ocidental. A origem do nome é incerta, mas os eruditos supões que vem das palavras latinas, Ite, missa est, “Ide, estais despedidos”, que o diácono pronuncia no fim da cerimônia [...].

O fundamento teológico católico para a missa, resume-se nas palavras do Concílio Vaticano II:

Por ocasião da última Ceia, na noite em que foi traído, nosso Salvador instituiu o sacrifício eucarístico de seu corpo e de seu sangue. Ele fez isso para perpetuar o sacrifício da cruz através dos séculos, até que ele volte, tendo confiado à sua amada Esposa, a Igreja, um memorial de sua morte e ressurreição, um sacramento de amor, um sinal de unidade, um vínculo de amor, um banquete pascal no qual Cristo é consumado, a mente é cheia de graça e nos é dada uma garantia de glória futura (Concílio Vaticano II apud CHAMPLIN, idem).

O CULTO CRISTÃO E A HERANÇA REFORMADA

A Reformar Protestante pode ser caracterizada por uma mudança na doutrina, na vida e no culto. Lutero proclamava a rejeição da missa romana, dentre outras razões, pelo fato de contradizer a sã doutrina e enaltecer a mera formalidade do culto, desassociando-o do seu verdadeiro propósito.

A missa no papado deve ser considerada a maior e mais horrível abominação, porque ela entra em conflito direto e violento com o artigo fundamental [de Cristo e fé]. Contudo, acima e além de todas as outras, ela tem sido a suprema e mais preciosa das idolatrias papais [...] Visto que tais abusos múltiplos e indescritíveis tenham surgido em toda parte pela compra e venda de Missas, seria prudente passar sem a Missa, mesmo que não fosse por outro motivo senão o de cortar tais abusos (LUTERO, 1647, cap. XV.iii apud GOFREY, 1999, p. 156).

Assim como Lutero, João Calvino censurou veementemente a prática da missa romana:

Quando Deus levantou Lutero e outros, que ergueram uma tocha para nos iluminar a entrada ao caminho da salvação, e que, por seu ministério, fundaram e ergueram nossas igrejas, estavam em parte obsoletos aqueles cabeçalhos doutrinários nos quais está a verdade da nossa religião, aqueles nos quais a salvação dos homens está inclusa. Mantemos que o uso dos sacramentos estava de várias maneiras viciado e poluído. E mantemos que o governo da Igreja estava convertido numa espécie de tirania infame e insuportável (CALVINO, 1960, p. 167 apud GOFREY, 1999, p. 157).

A partir da Reforma Protestante, com o advento do denominacionalismo, surgido em razão de divergências doutrinárias, o culto cristão passou a ter dentro de cada denominação evangélica, uma liturgia própria, influenciada por fatores culturais e doutrinários. Apesar desta diversificação litúrgica, o culto cristão geralmente contém os seguintes elementos; a oração, a música, a leitura da Bíblia, o ofertório, a explanação da palavra e a benção apostólica.

LITURGIA DO CULTO CRISTÃO NAS IGREJAS PENTECOSTAIS

Nas igrejas pentecostais o culto cristão, nas suas variadas formas, dependendo da finalidade do mesmo (oração, doutrina, ação de graças, Santa Ceia, Ordenação de Obreiros, etc), a principal característica é a livre manifestação dos dons espirituais e das expressões espontâneas da comunidade.

Basicamente, as reuniões acontecem da seguinte forma:

- Abertura com uma oração realizada pelo dirigente do culto, ou por alguém por ele delegado;
- Cântico de hinos do hinário oficial (Harpa Cristã);
- Cânticos de hinos por grupos, conjuntos musicais, corais e solistas;
- Leitura Bíblica, feita com a congregação em pé, seguida de oração;
- Recolhimento dos dízimos e das ofertas, geralmente acompanhado por um cântico;
- Pregação ou ensino da Palavra, costumeiramente seguido de apelo;
- Agradecimentos e avisos gerais;
- Oração final;
- Bênção apostólica;

Os elementos acima nem sempre seguem a sequência descrita, podendo ter diversas variações dependendo da denominação e da região onde o culto é celebrado. Não há uniformidade rígida na liturgia pentecostal.

MODISMOS LITÚRGICOS INTRODUZIDOS NO CULTO CRISTÃO PENTECOSTAL

A negligência para com o ensino teológico promoveu alguns males nas igrejas pentecostais, dentre as quais as Assembleias de Deus, onde a vulnerabilidade para modismos doutrinários, teológicos e litúrgicos é notória. Observemos uma breve lista que envolve algumas inovações (ou imitações do movimento neopentecostal):

- Cultos de “milagres” (inclusive nos círculos de oração) com nomes ou desafios específicos (As fogueiras santas, As voltas em Jericó, A travessia do Mar Vermelho, Os mergulhos no Rio Jordão,etc.);

- Os cultos semanais da vitória, da conquista, do milagre, da restituição, etc. (mera imitação do que acontece nas Igrejas Universais do Reino de Deus e outras semelhantes);

- As determinações e decretos nas orações públicas (teologia e liturgia triunfalista);

- O modismo do “eu profetizo” e do “eu determino” dos pregadores e das pregações;

- A vergonhosa barganha dos dízimos e ofertas, fundamentada na teologia de alguns televangelistas que difundem a distorcida teologia da prosperidade e da vitória financeira com as suas semeaduras descabidas, com o cínico propósito de manter status e impérios pessoais em nome da pregação do Evangelho.

CONCLUSÃO

Apenas uma fundamentação genuinamente bíblica, associada ao propósito de somente glorificar a Deus, pode estabelecer, promover e restaurar o verdadeiro culto critão, e no caso aqui, os praticados nas igrejas pentecostais, e de forma mais específica, nas Assembleias de Deus no Brasil.

BIBLIOGRAFIA

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CHAMPLIN, R.N. Enclicopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. São Paulo: Hagnos, 2001, v. 4

GONZÁLES, Justo L. E até aos confins da Terra: uma história ilustrada do Cristianismo. Tradução de Hans Udo Fuchs. São Paulo: Vida Nova, 1995. v. 1 e v. 2

SCHNEIDER-HARPPRECHT, Christoph (Org.). Teologia Prática no contexto da América Latina. São Leopoldo: Sinodal, ASTE, 1998.

HARRIS, R. Laird et al. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. Tradução Márcio Loureiro Redondo, Luiz Alberto T. Sayão, Carlos Osvaldo C. Pinto. São Paulo: Vida Nova, 1998.

PACKER, J. I.; TENNEY, Merril C.; WHITE JR., William. O mundo do Novo Testamento. Flórida, EUA: Editora Vida, 1988.

WHITE, James F. Introdução ao Culto Cristão. Tradução de Walter Schlupp. São Leopoldo: Sinodal, 1997.

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