Isvonaldo sou Protestante

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quarta-feira, 18 de maio de 2011

O genuíno culto pentecostal – 2

Comentário

(I. Introdução)

Hoje, veremos sobre a liturgia do culto a Deus. Este termo não é muito usual no meio pentecostal, significando o conjunto dos elementos que compões o culto cristão conforme relatam os textos de At 2.42-47; 1Co 14.26-40, e Cl 3.16. Embora possamos encontrar liturgia sem culto, não é possível haver culto sem liturgia (Is 1.11-17; 29.13; Mt 15. 7-9, e 1Co 11.17-22). Como sugere o título da lição, veremos qual é o verdadeiro alvo do culto genuinamente pentecostal – a Trindade Divina – Pai, Filho e Espírito Santo. O culto a Deus deve se constituir num estado de espírito permanente na vida daqueles que reconhecem a sua soberania, desde o despertar até o adormecer, buscando a comunhão com ele. O nosso culto pode ter caráter individual ou coletivo, sendo este último caracterizado quando nos reunimos como igreja de Cristo para, em tempo e local pré-determinados, cultuarmos a Deus em conjunto. O pastor Isaltino Gomes Coelho, em seu artigo “A Principal Missão da Igreja“, publicado em O Jornal Batista, edição de 27/7/97 e 2/11/97, no suplemento Notas em Pauta, da AMBB (Associação dos Músicos Batistas do Brasil), declara que o culto à Trindade Divina é a principal finalidade da existência da Igreja Cristã. Desse artigo extraí a seguinte declaração do autor: “A principal missão da Igreja, para mim, não é a evangelização, mas a adoração. Se a evangelização fosse a razão de ser da Igreja, fosse sua missão primeira, no céu não haveria Igreja, pois que lá não há perdidos para evangelizar. Mas no céu há e haverá Igreja porque lá há e haverá Deus. Ela existe em função dele e não dos perdidos. (…) Verdade é que Jesus nos deixou um “Ide”, mas antes deste houve um “vinde”. Os discípulos foram chamados a ele.” (Mt 10.1). Boa aula!

(II. Desenvolvimento)

I. ADORAÇÃO E CULTO

1. O verdadeiro significado do culto. Leitourgia é encontrado em 2Co 9.12 (administração); Fp 2.17; 2.30 (serviço). Latreuõ, ´é o serviço a Deus, significa: ‘adorar’; ‘servir’ [1]. O termo culto tanto no AT (abad) quanto no NT (latreuo), encerra o sentido de ‘servir’, ‘serviço’, referindo-se ao ‘serviço sagrado oferecido a uma divindade’ (Êx 20.5; Mt 3.10). No sentido etimológico, a palavra “liturgia” significa “uma ação do povo”, pois é a junção dos vocábulos leitos e ergon, formando leitourgia. O sentido natural de liturgia é ministério ou serviço do povo. Do ponto de vista do apóstolo Paulo, a tradução correta de leitourgia seria “serviço de adoração” (Gl 5.19-22). Outros termos derivados ajudam a elucidar o vocábulo liturgia: Leitourgós, que significa “servo, servidores”; Leitourgikós, que significa “ministradores” (Hb 1.14). O culto de adoração a Deus é a mais sacra reunião da Igreja, em gratidão ao Senhor por todas as bênçãos salvíficas (Sl 116.12,13). A pessoa principal do culto não é o pregador, o cantor, os conjuntos, os obreiros, mas o Senhor Jesus Cristo. O culto bíblico é a devida resposta das criaturas racionais à auto-revelação do seu Criador. O culto honra e glorifica a Deus, ofertando a Ele agradecidamente todas as suas boas dádivas e todo o seu conhecimento de sua grandeza e graça que Ele tem concedido. Devemos louvá-Lo por aquilo que Ele é, agradece por aquilo que Ele tem feito, desejar que Ele aumente a sua glória por meio de contínuos atos de misericórdia, juízo e poder. Muitos estão participando do culto sem entender o seu significado, esperam ser ‘abençoados’ ou ‘ouvir Deus falar consigo’, esquecendo que o culto é um serviço de adoração à Deus, é para servir e não para ser servido. Søren Asbye Kierkegaard (1813-1855), filósofo e teólogo luterano dinamarquês, em seu livro Purity of Heart is to Will One Thing, traça um paralelo entre o culto cristão e a dramatização teatral. Sua visão é de que, comparativamente, o culto se assemelha a uma dramatização. No culto, o corpo de atores é constituído pela congregação (a igreja), sendo os ministros, o coro, os solistas, os instrumentistas, os declamadores e outros, os “pontos” (de apoio) fora do palco para dar “deixas” para o exercício da adoração coletiva; Deus é o auditório, a platéia, aquele que recebe a performance da adoração [2]. Em seu livro, anteriormente citado, Kierkegaard faz a seguinte declaração: “No sentido mais enfático, Deus é o crítico freqüentador de teatro, que observa para ver como o texto é declamado, e como ele é ouvido… O orador, portanto, é o ponto, e o ouvinte encontra-se abertamente diante de Deus. O ouvinte, se posso assim dize-lo, é o ator, que verdadeiramente atua diante de Deus. [3].

2. A essência do culto a Deus é a adoração. A palavra hebraica que mas se usa para “adoração” no velho testamento significa “inclinar-se”, por exemplo, em Gn 18.2. A palavra grega que geralmente se utiliza no Novo Testamento é “proskuneo”, e significa “prestar honra”, tanto a Deus como aos homens. É dever de toda criatura adorar a Deus (Ne 9.6). Os homens são chamados a dar glória a Deus e a adorá-Lo (Ap 14.7), e em breve, toda a terra O adorará (Sf 2.11; Zc 14.16; Sl 86.9). A verdadeira adoração é prestada a Deus somente por aqueles que nasceram do Espírito de Deus. “Aquele que é nascido da carne, é carne”, disse Jesus, e, portanto, toda assim chamada adoração feita por pecadores não regenerados é carnal. Somente um coração regenerado pode cantar a nova canção (Sl 40.3). Encontramos nas Sagradas Escrituras a revelação do Deus a Quem devemos adorar e como devemos adorá-Lo: “com reverência e santo temor”. A Bíblia produz a atmosfera e fornece os temas, as orações, os louvores e a pregação. Dessa forma, possuímos um padrão para conhecer o que é certo e o que é errado em tudo o que é falado e cantado. Desfrutamos, também, uma maravilhosa liberdade de todas as tradições e artefatos que são introduzidos pelos modismos na tentativa de ‘avivar’ a adoração. A verdadeira adoração é essencialmente simples.

3. Adoração completa e incondicional. A verdadeira adoração surge a partir de um contínuo andar com Deus. Um homem que dificilmente pensa em Deus durante os seus dias, não está apto a adorá-lo corretamente. Quando um crente não produz uma vida contínua de adoração, ela não será completa nem incondicional. “Nós não vamos à igreja para adorar, porque a adoração deveria ser a atividade e atitude constantes do cristão dedicado. Nós vamos à igreja para adorar pública e corporativamente”. (John Armstrong). “Adoração é a submissão de todo nosso ser a Deus. É tomar consciência de sua santidade; é o sustento da mente com sua verdade; é a purificação da imaginação por sua beleza; é a abertura do coração a seu amor; é a rendição da vontade a seus propósitos” (William Temple). A adoração deve ser a atividade principal, tanto particular como comunitária, na vida de cada crente (E, quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai. Cl 3.17).

Sinópse do Tópico

O culto, assim como todas as nossas ações, deve ser um ato de adoração a Deus onde reconhecemos a sua grandeza e magnitude.

II. COMPOSIÇÃO DO CULTO PENTECOSTAL

1. Liturgia do culto pentecostal. O culto dos crentes primitivos que, nos primeiros dias da Igreja em Jerusalém não diferia muito da liturgia judaica (At 3.1), passou a ser dinâmico, espontaneo e com manifestações periódicas dos dons concedidos pelo Espírito Santo (Rm 12.6-8; 1Co 12.4-11, 28-31). O termo grego leitourgia é também utilizado para designar a forma de oração recitada em sinagogas judaicas. Para os protestantes, o termo descreve uma forma de culto, em contraste com a espontaneidade que ocorria, por exemplo, na Igreja de Corinto. Como povo de Deus, devemos adorá-lo. Isso implicaleitourgia – “Obra pública ou dever público”. Em outras palavras, ao tratar de liturgia cristã, devemos fazê-lo sob a perspectiva da doutrina da adoração cristã. Paulo declarou que a verdadeira adoração é aquela que se oferece a Deus pelo Espírito, não confiando na carne, mas gloriando-se em Jesus (Fp 3.3). O culto pentecostal caracteriza-se por manifestações emocionais, sonoras, visíveis, os quais representam a atitude do adorador, sem dogmatizar formas externas de cultuar por entender que elas podem engessar a liberdade de espírito de manifestação; isto implica numa responsabilidade maior ao Ministro: um culto genuinamente pentecostal, o ministro da Igreja deve ter o cuidado de ensinar acerca do equilíbrio entre emoção e espiritualidade, sem bloquear a ação do Espírito Santo. No dizer do Pr Elienai Cabral, “Como vamos averiguar se determinada prática é correta ou incorreta? Pela Palavra de Deus. O que deve prevalecer? É o que diz e ensina a Bíblia, nossa regra de fé e conduta. “Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação; porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo”, 2Pd 1.20-21[4].

2. Elemento do genuíno culto pentecostal. Elementos que compões a liturgia pentecostal:

a). Leitura da Palavra:- A leitura, a meditação, o estudo e a pregação da Palavra de Deus devem ser considerados e jamais negligenciados na liturgia. É fundamental que todo culto, todo estudo bíblico e toda pregação tenha apoio escriturístico. A mensagem na igreja tem que ser Cristocêntrica. Se Jesus Cristo não for o centro, alguma coisa está fora de lugar e acaba por não produzir os resultados esperados. Cremos que a Palavra de Deus é a que traz equilíbrio ao homem e o previne para não desequilibrar-se; ela produz pureza segundo a declaração do salmista: “Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti.” (Sl 119.11). Igualmente, ela ilumina o caminho do crente: “Lâmpada para os meus pés é tua palavra e luz, para o meu caminho”( Sl 119.105). Praticamente todo o Salmo 119 é uma apologia do poder, do valor e da excelência da Palavra de Deus. Precisamos reaprender a dar à Palavra o espaço que lhe é por direito na liturgia. O estudo da mesma é fundamental para o crescimento do novo convertido e dos crentes em geral. Jesus disse aos judeus: “Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus” (Mt 22.29). Os grandes discursos apologéticos de Pedro, de Estêvão e de Paulo continham em si mesmo uma grande dose de Palavra. A argumentação destes homens não foi de meras interpretações pessoais ou de ideias preconcebidas, mas, sim, foi com base na Palavra do Antigo Testamento. A pregação da Palavra é fundamental. Por ela vem a revelação de Deus à vida do homem, e por ela a fé é aumentada [5].

b). Cânticos na adoração:- Adoração: Dicionário Brasileiro Globo - Culto a Deus; (fig.) amor profundo; veneração; Minidicionário Luft - Ato de render culto a (divindade). 2. Amar ao extremo. A adoração só é devida a Deus, uma vez que adorar é venerar, render culto, o que implica em uma relação direta entre o adorador e a divindade. Estamos acostumados a ouvir o termo ‘louvor’ ao referir-se sobre música na igreja, em detrimento do termo ‘adoração’. Louvor:- Dicionário Brasileiro Luft – Ato de louvar; elogio; glorificação; apologia; Minidicionário Luft – 1. Elogio; encômio; aplauso. 2. Exaltação; glorificação. Disso concluímos: O que é louvor? Exaltar, glorificar, bendizer a nosso Deus. 1 Cr. 29.20 e Cl.3.16; O que é adoração? veneração elevada que se presta a Deus, reconhecendo-lhe a soberania sobre o universo, o governo moral e a força dos seus decretos é a manifestação da gratidão por suas bênçãos e proteção. O louvor e a adoração é uma das partes constitutivas do culto coletivo. Sem verdadeira adoração e louvor a Deus, não há verdadeiro culto. (Sl 98.1; 104.4; 150).Todo culto verdadeiro oferece louvor a Deus. O homem é peça fundamental na realização do culto, no entanto, é Deus o centro das atenções, o alvo do culto, e a maior parte dos louvores entoados em nossos cultos não são cristocêntricos. Onde estão os hinos cristocêntricos? Procure nos hinários antigos! Devemos rejeitar todos os hinos da atualidade? É claro que não. Mas devemos estudar as letras antes de entoá-los para evitar erros teológicos e heresias. Pregadores, cantores famosos, devem procurar algum programa de televisão para se apresentarem, porque o único digno de toda honra, glória e poder é Cristo Jesus nosso Senhor. (Ap 15.12-14).

c). As orações e as ofertas:- O ofertório e a coleta de dízimos também é um devocional (Lc 21.1-4; 2Co 9.1-15; 1Co 16.1-4; Rm 15.26 e Hb 7). Devemos lembrar-nos que tudo quanto possuímos pertence a Deus, de modo que aquilo que temos não é nosso: é algo que nos confiou aos cuidados. Não temos nenhum domínio sobre as nossas posses. Devemos decidir, pois, de todo o coração, servir a Deus, e não ao dinheiro (Mt 6.19-24; 2Co 8.5). Adoramos ao Senhor ofertando voluntária e generosamente, pois assim é ensinado tanto no Antigo Testamento (Ex 25.1,2; 2Cr 24.8-11) quanto no Novo Testamento (ver 2Co 8.1-5,11,12). Não devemos hesitar em contribuir de modo sacrificial (2Co 8:3), pois foi com tal espírito que o Senhor Jesus entregou-se por nós (ver 2Co 8.9 nota). Para Deus, o sacrifício envolvido é muito mais importante do que o valor monetário da dádiva (ver Lc 21.1-4).

Sinópse do Tópico

O culto ao Senhor deve ter ordem e decência. A leitura da Palavra, cânticos de adoração ao Senhor, orações e as ofertas voluntárias são elementos indispensáveis para a realização do culto racional a Deus.

III. MODISMOS LITURGICOS

1. Adoção de movimentos estranhos ao cristianismo do Novo Testamento. Estamos numa época de muitas inovações na liturgia e inserções de práticas estranhas ao pentecostalismo tradicional – as mais diversas unções (do riso, do leão, da lagartixa, etc), cair no poder, danças espirituais, entre outros. Estes modismos muitas vezes, são trazidos por pessoas que dizem ter uma nova unção do Espírito. Como bem escreve o Pr Ciro Sanches Zibordi em seu artigo ‘Modismos no Culto Pentecostal’: “Esta, porém, não existe, visto que a unção do Espírito de Deus é uma só, como ensina o apóstolo João: “E vós tendes a unção do Santo, e sabeis tudo”, 1Jo 2.20. Nesse caso, interessar-se por manifestações estranhas, diferentes das apresentadas no NT, é se opor à legítima operação do Espírito Santo[6]. Em 1Co 14, Paulo ensina, no versículo 40: “Mas, faça-se tudo decentemente e com ordem”. Sejamos pentecostais, mas não nos esqueçamos da ordem, da decência e do equilíbrio. E jamais deixemos os verdadeiros elementos de um culto pentecostal: “Cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para a edificação”, (1Co 14.26).

2. Cultos exóticos.Muitos de nossos erros nas áreas onde estão envolvidos os dons espirituais surgem quando queremos que o extraordinário e o excepcional sejam transformados no freqüente e no habitual. Que todos que desenvolvem desejo excessivo pelas “mensagens” transmitidas por meio dos dons possam aprender com os enormes desastres das gerações passadas com nossos contemporâneos [...] As Sagradas Escrituras é que são lâmpada que ilumina nossos passos e a luz que clareia nosso caminho.” Donald Gee, pastor assembleiano em 1963 [7]. Transcrevo a seguir, uma entrevista com o Dr Paulo Romeroà Revista Fiel:

RF – Quais foram os principais modismos teológicos dos últimos tempos que causaram maiores estragos ao povo de Deus no Brasil?

PR – A Teologia da Prosperidade é um, depois outras doutrinas que foram aparecendo como a Quebra de Maldição Hereditária, o G-12 e as distorções na área de batalha espiritual, porque a ênfase passa a ser nos demônios, em espíritos territoriais. São várias as distorções na área de batalha espiritual. Vimos também os abusos na área dos milagres. E como combater isso? Só existe um meio: com a Bíblia. É preciso voltar aos fundamentos, ao básico, à Palavra de Deus.

RF – Recentemente entrevistamos o professor James Packer, que nos disse que a Teologia da Prosperidade já não tem força nos EUA como antes. O senhor acredita que a Teologia da Prosperidade ainda terá muito fôlego no Brasil e na América Latina?

PR – Ela terá por causa da tirania do mercado. Ela precisa de dinheiro para sobreviver e as igrejas que pregam a Teologia da Prosperidade conseguem arregimentar a multidão. Essa doutrina prega o que as pessoas querem ouvir. Ela oferece uma ajuda imediata para problemas imediatos. “Você, que não consegue casar, vem aqui e vou lhe arranjar um parceiro”. Ou “Você, que não consegue prosperar, faz a corrente aqui e vai prosperar”.

RF – Quem é o culpado pela ênfase nas soluções imediatas para os problemas?

PR – Esse é o grande problema. Muitas igrejas não pregam mais a Salvação. Elas pregam a solução de problemas. Mudaram o foco. Elas não têm, por exemplo, um trabalho a médio e longo prazo com os seus membros, porque aí precisam falar de vida eterna. Você já viu, por exemplo, essas igrejas falarem sobre Céu, Santificação e Volta de Cristo? Tem pregador que nem quer que Jesus volte, porque ele está tão bem na vida hoje que a Volta de Cristo irá estragar os planos dele.

RF – O senhor tem falado ultimamente que tem aumentado no Brasil o número de crentes desiludidos e frustrados com a fé cristã por terem acreditado na Teologia da Prosperidade. Como tratar os crentes nessa situação?

PR – Os pesquisadores e sociólogos chamam isso de “trânsito religioso”. Há uma igreja em trânsito hoje. São milhares e milhares de crentes, talvez milhões, que não conseguem mais parar em igreja nenhuma. Eles transitam. Qual a igreja que oferece a melhor proposta ou o melhor entretenimento? Qual a igreja que vai oferecer o melhor show daquele fim de semana?

Converti-me ao Evangelho em 1971 e, naquela época, nunca esperava que um dia algumas denominações chamassem um culto evangélico de show. Agora tudo é show. Há igrejas que só funcionam como shows. É a forma de prender a multidão. “Olha, hoje à noite tem fulano de tal, amanhã tem beltrano e depois aquele outro”, e não pára. Porque, se parar, o povo vai embora.

RF – E como tratar um crente assim?

PR – É preciso ensino da Palavra, porque as pessoas que saem dessas igrejas chegam cheias de ensinos distorcidos. Elas chegam falando, por exemplo: “Fulano foi ungido pastor”. Mas na Bíblia não existe unção para pastor. Na Bíblia as pessoas eram ordenadas ao ministério por imposição de mãos, e não ungidas, e a unção não é privilégio de um grupo. Eles vêm cheios desses cacoetes “Eu declaro”, “Eu reivindico”, “Eu não aceito”, “Eu determino”, “Eu decreto”, chegam com distorções doutrinárias.

Aí você tem que ensinar à pessoa que o fato de ela estar em crise não quer dizer que é amaldiçoada. Nunca vi isso. Essa coisa de determinar tudo é falta de ensino. Terão também que repensar a questão do sofrimento, que faz parte da Teologia. Muitos pensam que não existe sofrimento para o crente. O crente não pode adoecer, sofrer, ter dívidas etc. Às vezes fico pensando: até que ponto a pessoa pode acreditar na aguinha em cima do rádio, na cruz pregada na parede, nos sabonetes ungidos…batismo no Espírito Santo com pó de ouro! Há ainda o tapete ungido, a campanha para os adeptos ganharem na loteria etc. O ser humano tem a habilidade de crer em qualquer coisa.

O discipulado é também muito importante. Esses crentes passam a viver uma crise de conversão. As igrejas por onde passaram são fortes na sua ação evangelizadora, atraem o povo, mas são fracas na sua ação discipuladora. Elas não conseguem mais discipular. Porque, para discipular, gasta-se tempo, envolvimento, e isso não existe mais.

Além disso, muitos pregadores de hoje vivem no avião, falam com as pessoas da tevê, não têm mais relacionamentos, a não ser com empresários. Precisamos ajudar as pessoas a crescerem para que possam ajudar outras depois. Uma coisa muito importante ainda é o acolhimento. É preciso acolher essas pessoas, não olhá-las com suspeitas, porque, na verdade, elas já se decepcionaram onde estiveram.

RF – O Movimento Pentecostal foi, sem dúvida, um dos últimos avivamentos que a igreja experimentou nos últimos séculos, afetando o crescimento e a História da Igreja no mundo. No final do século 20, uma versão diferente desse movimento surgiu, com modismos sem base bíblica. Deixando de lado esses desvios, quais os benefícios do Movimento Pentecostal para a Igreja, especialmente no Brasil?

PR – A grande contribuição do Movimento Pentecostal foi a evangelização. Ele é o maior movimento evangélico do mundo. Não tem maior. Mas não foi só a AD, outras igrejas também enfatizavam a evangelização. Hoje, porém, infelizmente, muitas igrejas estão substituindo a evangelização pela competição, pelo proselitismo. Tem muito mais crente mudando de igreja do que pecador aceitando a Cristo. Há igrejas que crescem hoje por competição e não pela evangelização, e com isso aí o Reino de Deus não cresce. Só se muda o peixe do aquário.

RF – O que é preciso para se fazer apologética cristã saudável?

PR – Principalmente equilíbrio. Há pessoas que são apologistas, mas exageradas, sensacionalistas. É preciso amor. Vejo muitos apologistas hostis, atacando as pessoas. Não gosto nem mais de usar o termo seita ou heresia. Acho muito pejorativo. Hoje falo de fenômeno religioso ou movimentos religiosos.

A apologética precisa aprender a construir pontes e não levantar muros. Se ela já chega atirando, o pessoal corre. Os apologistas precisam aprender a dialogar. Não precisa ser hostil. A Bíblia diz: “Falai a verdade com amor”. Além disso, a informação a ser transmitida deve ser apurada [8].

Sinópse do Tópico

Os modismos e cultos exóticos não podem produzir nada mais que movimentação, pois o avivamento só acontece quando a Igreja se volta à Palavra de Deus.

(III. Conclusão)

A Bíblia recomenda que todos, pelo Espírito Santo, falem em línguas e profetizem (1Co 14.5), mas que também exerçam os dons espirituais com sabedoria, ordem e decencia (1Co 14.26-33, 37-40), a fim de que o nome do Senhor seja glorificado (1 Co 14.25), o incrédulo seja convertido (1Co 14.22-25) e a Igreja edificada (1Co 14.26).

Aplicação Pessoal

Temos consciencia de que o culto genuinamente pentecostal deve ser orientado pelo Espírito Santo, e que Ele usa aqueles que se colocam à sua disposição. É maravilhoso notar que somos instrumentos do Espírito Santo e é do agrado do Senhor que seus servos estejam devidamente informados sobre qualquer procedimento nas atividades que a cada crente têm sido conferidas. A direção do Culto cabe ao Espírito mas a participação do crente é indispensável. A disposição correta, o sentimento de ação de graças e o desejo de ofertar um culto racional (Rm 12.1). O reino de Deus é um reino de decência e ordem. Não há espaço para improvisos de última hora. A construção da arca e do tabernáculo comprovam a mensagem de organização que Deus quer nos ensinar. Até na salvação haverá ordem (1Co 15.23).

N’Ele, que me garante: “Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Ef 2.8),

Francisco A Barbosa

auxilioaomestre@bol.com.br

Fonte: http://www.ensinodominical.com.br/o-genuino-culto-pentecostal-2/


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