Graça e paz!
Nos tempos de Cristo havia uma teologia vigente. E ela era verdadeira, afinal fora dada pelo grande líder hebreu Moisés. A teologia do povo judeu, entre outras coisas, contava da sua história, de suas derrotas, vitórias e superações. Era uma boa teologia, aliás, ótima! Na teologia dos tempos de Jesus percebemos a atenção especial em relação à família, vemos a identidade de um povo em forma de nação.
Mas a teologia dos tempos de Jesus começou a cair em um precipício chamado desconexão. Começou-se a valorizar a teologia pela teologia. Quando isso acontece, a vida humana perde o valor, afinal deve-se proteger a teologia.
Quando o bem maior de um povo deixa de ser as pessoas e passa a ser a teologia, a desconexão se instala.
Quando a cura de um cego num sábado é condenável, unicamente pelo dia em que foi realizada, há de se repensar a teologia. Quando os maiores exemplos de fé de um povo vêm de fora dele, há de se repensar a teologia, pois a desconexão já se instalou.
E esta é a pior doença que uma teologia pode sofrer: a desconexão. Desconexão com a vida. Desconexão com as pessoas e realidade que a cerca. Quando isso acontece há de se repensar os conceitos teológicos, ou, no mínimo, sua aplicação.
A teologia deve ser ao mesmo tempo um guia e um mordomo. Deve direcionar o homem em um ideal e também servi-lo em suas perguntas, angústias e incertezas. Mas a teologia nos tempos de Jesus, como em nosso sistema solar, tornou-se uma estrela anã, onde todos passaram a orbitá-la.
A teologia dos tempos de Jesus dava respostas a perguntas que ninguém mais fazia. Perguntava coisas que ninguém mais queria responder. A leitura da Lei e Profetas aos sábados, que era uma grande riqueza do povo, tornou-se padrão ritualístico. Quando isso acontece, a desconexão se instala.
Jesus não veio propor uma nova teologia, mas mostrar que a vida humana, para Deus, tem valor inestimável. Jesus não veio propor uma nova teologia, com doutrinas, normas morais ou conceitos avançados. Antes, veio ensinar a ser gente, como gente realmente deve ser.
Gosto muito do que disse o Pr. Ed René Kivitz sobre a teologia “não estar pronta”. Concordo. Quando lidamos com teologia, precisamos entender que nosso escopo não está, e nem nunca estará fechado. Estamos lidando com um assunto infinito.
A desconexão da teologia com as pessoas, e consequentemente de Deus, fica muito clara no episódio da mulher pega em adultério. Os religiosos levaram aquela mulher à presença de Jesus, não para decidir o destino de sua vida, mas para saber a posição teológica de um Rabi tão controverso. O importante era saber se Jesus compartilhava de sua obsessão pela teologia e seu cumprimento a qualquer custo. Mas Jesus escolheu a vida humana. Ele sempre escolhe a vida humana.
Temo que a teologia de hoje esteja sofrendo da mesma doença: a desconexão. Às vezes ouço certas coisas e me pergunto qual a conexão disso com a vida das pessoas?
Em meio a chavões, clichês e repostas prontas, vidas estão perdendo a visão do Mestre de sandálias andando à beira da religiosidade para resgatar a dignidade humana. A teologia de hoje dá respostas para perguntas inexistentes. Faz afirmações que não acham morada nos corações. E, quando a defesa de uma teologia passa a ser o centro de uma reunião de pessoas, Jesus se afasta e a desconexão se instala.
Não defendo aqui, a liberalidade teológica, até porque a história da igreja, com mais de dois milênios não pode ser ignorada. No entanto, urge que a teologia, ou melhor, os teólogos, lidem com questões de nossos tempos, que estão deixadas de lado por religiosos que sentem vergonha por não saber o que dizer. Questões como homossexualismo, abandono de recém-nascidos, violência doméstica, sexo, drogas devem fazer parte da pauta da teologia moderna.
Se isso não acontecer, a desconexão já se instalou.
Que Deus nos livre de desconectarmos nossa teologia da vida das pessoas, pois se não amarmos nossos irmãos os quais vemos, também não poderemos amar a Deus, que não podemos ver.
Deus te abençoe!
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