Isvonaldo sou Protestante

Isvonaldo sou Protestante

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

UMA CRÍTICA AO FILME BÍBLICO EXODUS: GODS AND KINGS


Por Gutierres Fernandes Siqueira

O filme Exodus: Gods and Kings (EUA, Reino Unido, Espanha; 2014) do aclamado diretor Ridley Scott é um pouco decepcionante. Atenção: eu não esperava um filme bíblico, logo porque Scott não nos prometeu isso. E, não é de hoje, eu não espero exegese e hermenêutica de Hollywood e acho uma bobagem essa gritaria de muitos cristãos-evangélicos- ponto final. O diretor há dias já vinha falando que a produção seria um filme de ação. E como ação é um bom filme de efeitos especiais. Então você pode perguntar: por que a decepção? Ora, o roteiro e adaptação são fracos. É claro que a licença poética para complementar e até adaptar a história bíblica poderia ser bem melhor. É nesse ponto que Scott estraga a história.

A narrativa sobre a vida de Moisés é uma das mais completas e ricas do Antigo Testamento. Sendo assim a produção tinha o desafio de montar um roteiro que fosse mais interessante do que a já complexa história do profeta. E isso não aconteceu. Ridley Scott é um grande diretor e, na minha visão,Gladiador (EUA, Reino Unido; 2000) é um glorioso exemplo. Agora, alguns de seus filmes como Exodus e Robin Hood (EUA, Reino Unido; 2010) deixam - ou deixaram- essa sensação de “poderia ter sido bem melhor”.

Ridley Scott é ateu. O filme é uma homenagem ao irmão e também diretor Tony Scott (1944- 2012) que cometeu suicídio ao pular da Ponte Vincent Thomas em Los Angeles, Estados Unidos. Tony era religioso e Ridley queria prestar uma homenagem. Bom, se eu fosse o irmão religioso dele não ficaria tão feliz com a descrição de Deus, que mais parece o demiurgo, feita pelo diretor não-religioso. E é bom lembrar: o mesmo já tinha sido feito no filmeKingdom of Heaven (EUA , Reino Unido , Espanha , Alemanha; 2005) do Ridley Scott.  
Há dois filmes de ação inteligentes do falecido Tony Scott que gosto muito:Enemy of the State (EUA, 1998) e Spy Game (EUA, Reino Unido; 2001), mas aí é outro assunto... 

Voltando ao Exodus vejamos os pontos positivos e negativos desse longa. E se você ainda não assistiu ao filme, cuidado, o meu comentário está cheio despoilers.

Pontos fracos

a) O retrato de Deus. Marcião ficaria feliz com esse filme,  pois seria a prova cabal de sua tese: o deus do Antigo Testamento é mau e nada tem com Cristo Jesus. No longa Deus parece mais um ídolo pagão: sempre intempestivo, inconsequente e caprichoso. Usar uma criança para retratar tamanha falta de graça e misericórdia parece ser um recurso proposital para chocar. Aliás, essa criança lembra um dos nomes do Demiurgo: Yaldabaoth,que é "a criança do caos". Não esqueço o comentário da minha irmã ao final do filme: aquele deus-garoto parecia mais com os demônios que atormentavam a Judas Iscariotes no filme The Passion of The Christ (EUA, 2004). No ateísmo de Scott Deus sempre é um sujeito amargo e isso já estava claro no filme Kingdom of Heaven, como dito acima.

b) O duelo de egos.  Resumir a libertação do Egito a um duelo de egos entre o irmão adotivo competente e o irmão legítimo fraco?! Bom, é um Shakespeare com Freud meio água com açúcar. Esse ponto talvez seja o pior do filme.

c) A gritaria contra esse “Deus, o matador de crianças”. Essa cena é simplesmente ridícula. Na hora pensei que os egípcios de 4 mil anos atrás já tinham passado pela modernidade. Seriam leitores de Jean-Jacques Rousseau? Ora, ora, nenhum povo naquele período xingaria uma divindade como “matadora de crianças”, logo porque esse tipo de sensibilidade não fazia parte do discurso religioso e político da época. Aliás, esses povos nem conheciam o conceito de criança como nós conhecemos hoje. Só na Idade Moderna é que a criança ganhou o status de um ser social. Antes era apenas um adulto em miniatura.

Pontos fortes

a) A lei é dada como uma instituição para base do povo israelita. A frase de Deus dizendo que “daria a lei porque líderes vacilam enquanto as pedras permanecem” é simplesmente fantástica. Scott captou muito bem a essência do Decálogo nessa simples cena.

b) A cena do luto noturno no Egito com a morte dos primogênitos. É uma cena forte e ao mesmo tempo que retrata bem o que o texto bíblico quis dizer: “E houve grande pranto no Egito, pois não havia casa que não houvesse um morto” [Êxodo 12.30].

c) A cena onde Faraó exalta sua grandeza entre cadáveres do seu exército. É uma cena bonita, forte e com a velha e boa advertência contra a vacuidade.

É isso. No geral é um filme que merece nota 6. É medíocre não porque não seja bíblico, mas porque substituiu uma história forte por um roteiro mais fraco e até clichê.

Fonte: Blog Teologia Pentecostal

Nenhum comentário: