Isvonaldo sou Protestante

Isvonaldo sou Protestante

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

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Por Rev. Hélio de Oliveira Silva


O redator-chefe, Gerard Biard, defendeu a publicação da nova edição do Charlie Hebdo no domingo 18/01 afirmando que “cada vez que desenhamos a caricatura de Maomé, de profetas, de Deus, defendemos a liberdade de religião”, disse. “Deus não deve ser uma figura política ou pública, mas sim privada.” (veja aqui, acesso em 21/01/2015). Esse comentário publicado pela Folha diz respeito à destruição de duas igrejas presbiterianas brasileiras na capital do Niger no sábado, dia 17/01, como represália muçulmana à nova edição do jornal.

Há duas incoerências contraditórias nessa dupla afirmação. Primeiramente, como a sátira irônica e ácida travestida de humor pode servir na defesa do que quer que seja, especialmente a religião? O único objetivo desse tipo de humor negro é denegrir o caricaturado! Em segundo, quando foi que Deus franqueou à humanidade o direito de lhe dizer como ele deve ser conhecido e adorado? O Deus absconditus (secreto, que vê em secreto) das Escrituras não é o deus “agnósticus” (que não pode ser conhecido) do secularismo.

Deus se deu a conhecer por meio da revelação que faz de si mesmo de forma geral na criação, pois os céus proclamam a sua glória e as suas obras (Salmo 19.1) como também de forma especial e específica nas Escrituras (2 Pe 1.20,21; 2 Tm 3.14-16) e plenamente em Jesus Cristo, que é a expressão exata de seu ser (Cl 1.15,19; Hb 1.3). Nunca pertenceu ao homem a prerrogativa de escolher como e quando conhecer a Deus, Ele simplesmente veio e vem a nós para revelar-se. Só pode conhecer o Pai aquele que o Pai deixar conhecê-lo e aquele a quem o Filho o quiser revelar (Mt 11.27; Lc 10.22).

Não cabe aos cristãos defender um conhecimento privativo de Deus e nem aceitar o conceito secularizado de uma religião privada, particular e sem expressão pública. Deus se revelou para que fosse conhecido e adorado por todas as nações que precisam conhecê-lo (Sl 100.1). A adoração ao seu nome é tanto particular quanto pública, aberta ao conhecimento de todos que precisam de sua graça e receber o seu convite para nos libertar de todos os tipos de escravidão, inclusive a escravidão de nossas consciências; seja por meio da intimidação das armas ou da ridicularização impressa de nossas crenças!

Com amor, Pr. Hélio.

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Sobre o autor: Rev. Hélio de Oliveira Silva é Bacharel em Teologia (BTh-SPBC-1990). Mestre em Teologia Histórica (STM-CPPGAJ/2004). Bacharel em Teologia (Convalidação - FAIFA/2011). Pastor em Uruaçu-GO (1991-94); Rubiataba-GO (1995-96); Goianésia-GO (1997-98); Aparecida de Goiânia-GO (1999-2001); Pastor auxiliar na Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia (2002-14 - C.P.Balneário Meia Ponte [2002-2007] e C.P.Jd. Goiás [2008-2010]). Pastor auxiliar na I.P.Jd. Goiás (2015...). Professor no SPBC desde 1999 onde leciona atualmente Homilética, Prática de Pregação, História do Pensamento Cristão, História da IPB, História das Missões. Membro da Assembléia da Agência Presbiteriana de Missões Transculturais (APMT/IPB - quadriênio 2010-2014) e Associação de Professores de Missões do Brasil (APMB) desde 2008. Co-autor do livro Interpretação e Pregação (Ed. Logos - 2005) e Números - O Juízo e a Graça de Deus na Peregrinação de Seu Povo (Ed. Primícias - 2012). Casado com Ednéia. Pai de Lívia Sally e Joice.

Fonte: Anunciando Todo o Desígnio de Deus
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Por Denis Monteiro


Esse dito popular é sempre usado em resposta a algo que exige comprovação ou recordação do passado. É a mesma coisa que dizer “quem vive do passado é museu”. Será? O passado nos serve de aprendizado, para que tenhamos o mesmo ímpeto de alguém ou para que não façamos algo que nós ou alguém já fez. 

E é justamente isso o que o autor de Hebreus no capitulo 10.32-39 vai fazer para incentivar os crentes a perseverarem na fé. 

Um passado como exemplo – 32.34

O autor de Hebreus lembra aos seus leitores de quando eles foram iluminados. Provavelmente estes eram judeus convertidos, passaram por perseguições por causa da fé em Cristo, como o texto mostra, eles foram por causa de Cristo expostos como em espetáculos, em opróbio (extrema humilhação publica), tribulações (v.33). E, no inicio desta fé, eles entenderam qual era o chamado de Cristo, provavelmente o primeiro amor. Pois, passando por tais aflições sentiram alegria em perder seus bens, sabendo que o tesouro que estás no céu é incorruptível (Mt 5.10-11), ou como diz o texto, superior e durável (v. 34). 

E essa recordação da sua fé, esperança e amor em dias passados se torna a base para o seguinte apelo: Não abandoneis, portanto, a vossa confiança; ela tem grande galardão” (v. 35). 

Um presente perseverante – 36-39 

É bem sabido que a obra da salvação não depende da ação humana, pois é uma obra totalmente de Deus. Mas, enquanto a salvação final na consumação for uma promessa, temos a necessidade de perseverança na fé, a fim de fazermos a vontade de Deus e recebermos a promessa de Deus. E qual promessa é essa? 

Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” - João 3.16

A promessa que nós temos é a vida eterna. A nossa vida não se finda aqui, ela continuará em louvor a Deus no outro lado, na eternidade. E além da promessa que receberemos, outra razão para perseverarmos é o fato de que Cristo virá: 

Porque ainda um pouquinho de tempo, E o que há de vir virá, e não tardará. Mas o justo viverá pela fé; E, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele” (vs. 37,38). 

A vinda de Cristo é o ápice da consumação de todas as coisas, pois todo o mal que passamos aqui, tanto físico como moral terá um fim, porque Cristo destruirá Satanás com o sopro de sua boca (2Ts 2.8) e vingará o sangue daqueles que estão debaixo do trono de Deus (Ap 6.10). 

E assim, aquele que vive pela fé, vive porque sabe do que acontecerá no fim e da promessa que nos está guardada. Mas aquele que retrocede Deus não tem prazer. E nós não somos dos que retrocedem, somos, entretanto, da fé para a conservação da alma (v.39). 

O que devemos fazer?

Devemos lembrar da obra que Cristo fez na cruz em favor de nós, nos transportando das trevas para a sua maravilhosa luz. O qual, também, fez cair as escamas de nossos olhos, revelando a impiedade em que nós vivíamos e nos livrando do juízo eterno. 

Como devemos fazer?

Assim como no passado, no inicio de nossa fé, no fervor de tudo, suportávamos os afrontamentos e confiávamos em Cristo mediante as dificuldades, também no presente devemos confiar mais em Deus. Pois, quanto mais conhecemos a Cristo sabemos quem é Deus, e se sabemos quem é Deus mais nós confiamos em Deus como nosso auxilio bem presente no dia da angústia. 

Mas, aqueles que retrocedem Deus não tem prazer neles, pois estão negando a Cristo e expondo-o ao desprezo, querendo crucificar de novo o filho de Deus.

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Fonte: Bereianos

sábado, 24 de janeiro de 2015

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Por Phillip R. Johnson


Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?” (Romanos 9:21).

Este artigo considera quatro dos principais modos de ordenação dos elementos soteriológicos do decreto eterno de Deus — com um foco particular sobre as diferenças entre o supralapsarianismo e o infralapsarianismo. Eu resumi as diferenças no quadro comparativo abaixo. As notas explanatórias seguem logo abaixo do mesmo.

     Sumário das Visões

     Supralapsarianismo:

     1 - Eleger alguns, reprovar o restante
     2 - Criar
     3 - Permitir a queda
     4 - Providenciar salvação para os eleitos
     5 - Chamado do eleito à salvação

     Infralapsarianismo:

     1 - Criar
     2 - Permitir a queda
     3 - Eleger alguns, ignorar o restante
     4 - Providenciar salvação para os eleitos
     5 - Chamado do eleito à salvação

     Amyraldismo:

     1 - Criar
     2 - Permitir a queda
     3 - Providenciar salvação suficiente para todos
     4 - Eleger alguns, ignorar o restante
     5 - Chamado do eleito à salvação

     Arminianismo:

     1 - Criar
     2 - Permitir a queda
     3 - Providenciar salvação para todos
     4 - Chamado de todos à salvação
     5 - Eleger aqueles que creem


A distinção entre o infralapsarianismo e o supralapsarianismo tem a ver com a ordem lógica dos decretos eternos de Deus, não com o momento da eleição. Nenhum deles sugere que os eleitos foram escolhidos após Adão pecar. Deus fez Sua escolha antes da fundação do mundo (Efésios 1:4) — bem antes de Adão pecar. Tantos os infra como os supra (e até mesmo muitos arminianos) concordam sobre isto.

SUPRALAPSARIANISMO é a visão de que Deus, contemplando o homem ainda não-caído, escolheu alguns para receber a vida eterna e rejeitou todos os outros. Assim, um supralapsariano diria que o reprovado (não-eleito) — vaso de ira preparado para destruição (Romanos 9:22) — foram primeiramente ordenados para este fim, e então o meio pelo qual eles cairiam em pecado foi ordenado. Em outras palavras, o supralapsarianismo sugere que o decreto de eleição de Deus logicamente precede Seu decreto de permitir a queda de Adão — de forma que sua condenação é, antes de tudo, um ato de soberania divida, e somente secundariamente um ato de justiça divina.

O supralapsarianismo é algumas vezes, de forma errônea, considerado o mesmo que “dupla predestinação”. O próprio termo “dupla predestinação” é freqüentemente usado duma forma equivocada e ambígua. Alguns usam-no querendo dizer nada mais do que a visão de que o destino eterno, tanto do eleito como do reprovado, é determinado pelo decreto eterno de Deus. Neste sentido do termo, todo calvinista genuíno sustenta a “dupla predestinação” — e, o fato de que o destino do reprovado está eternamente determinado, é uma doutrina claramente bíblica (cf. 1 Pedro 2:8; Romanos 9:22; Judas 4). Mas mais freqüente ainda, a expressão “dupla predestinação” é empregada como um termo pejorativo para descrever a visão daqueles que sugerem que Deus é tão ativo em manter o réprobo fora do céu como Ele é em colocar os eleitos dentro dele (Há uma forma ainda mais sinistra de “dupla predestinação”, que sugere que Deus é tão ativo em manter o réprobo mau como Ele o é em manter o eleito santo).

Esta visão (de que Deus é tão ativo na reprovação do não-eleito como Ele o é na redenção do eleito) é mais propriamente chamada de “igualdade última” (cf. R.C. Sproul, Chosen by God [Eleitos de Deus], 142). Ela é realmente uma forma de hiper-calvinismo e não tem nada a ver com o verdadeiro e histórico calvinismo. Embora todos os que sustentem tal visão também sustentem o esquema supralapsariano, a visão em si mesma não é necessariamente uma ramificação do supralapsarianismo.

O supralapsarianismo é também algumas vezes, erroneamente, considerado o mesmo que hiper-calvinismo. Todos os hiper-calvinistas são supralapsarianos, embora nem todos os supralapsarianos sejam hiper-calvinistas. O supralapsarianismo é algumas vezes chamado de “high” calvinismo, e seus aderentes mais extremos tendem a rejeitar a noção de que Deus tenha algum grau de sincera boa-vontade ou significante compaixão para com os não-eleitos. Historicamente, uma minoria de calvinistas têm sustentado esta visão.

Mas, o comentário de Boettner de que “não mais que um calvinista dentre cem sustenta a visão supralapsariana”, é, sem dúvida, um exagero. E, na década passada ou aproximadamente, a visão supralapsariana parece ter ganhado popularidade.

INFRALAPSARIANISMO (também conhecido como “sub-lapsarianismo”) sugere que o decreto de Deus permitir a queda precede logicamente Seu decreto de eleição. Assim, quando Deus escolheu o eleito e ignorou o não-eleito, Ele estava contemplando todos eles como criaturas caídas.

Estas são as duas principais visões calvinistas. No esquema supralapsariano, Deus primeiro rejeitou os réprobos, como resultado de Seu soberano beneplácito; então Ele ordenou os meios de sua condenação através da queda. Na ordem infralapsariana, os não-eleitos foi primeiramente visto como indivíduos caídos, e eles foram condenados somente por causa do seu próprio pecado. Os infralapsarianos tendem a enfatizar o fato de Deus “ignorar” os não-eleitos (preterição) em Seu decreto de eleição.

Robert Reymond, ele mesmo um supralapsariano, propõe a seguinte redefinição da visão supralapsariana:

     O Supralapsarianismo Modificado de Reymond:

     1 - Eleger alguns homens pecadores, reprovar o restante
     2 - Aplicar os benefícios redentores aos eleitos
     3 - Providenciar salvação para os eleitos
     4 - Permitir a queda
     5 - Criar

Note que, em acréscimo à re-ordenação dos decretos, a visão de Reymond deliberadamente enfatiza que no decreto de eleição e reprovação, Deus estava contemplando os homens como pecadores. Reymond escreve, “Neste esquema, diferentemente do anterior (a ordem supralapsariana clássica), Deus é representado como discriminando entre homens vistos como pecadores, e não entre homens vistos simplesmente como homens (Veja Robert Reymond, Systematic Theology of the Christian Faith [Teologia Sistemática da Fé Cristã], 489). O refinamento de Reymond evita o criticismo comumente levantado contra o supralapsarianismo — que o supralapsariano tem Deus condenado os homens à perdição antes dEle nem mesmo contemplá-los como pecadores. Mas a visão de Reymond também deixa a questão não-respondida de como e porque Deus deveria considerar todos os homens como pecadores, antes que fosse determinado que a raça humana cairia (Alguns podem até mesmo argumentar que os refinamentos de Reymond resultam numa posição que, até onde diz respeito à distinção chave, é implicitamente infralapsariana).

Todos os principais Credos Reformados, ou são explicitamente infralapsarianos, ou evitam cuidadosamente uma linguagem que favorece uma ou outra visão. Nenhum credo importante toma a posição supralapsariana (Todo este assunto foi veementemente debatido durante toda a Assembléia de Westminster. William Twisse, um ardoroso supralapsariano e presidente da Assembléia, defendeu habilmente sua visão. Mas, a Assembléia optou pela linguagem que claramente favorece a posição infralapsariana, embora sem condenar o supralapsarianismo).

“Bavinck assinalou que a apresentação supralapsariana 'não foi incorporada a nenhuma Confissão Reformada', mas que a posição infralapsariana recebeu um lugar oficial nas Confissões das igrejas” (Berkouwer, Divine Election, 259).

A discussão de Louis Berkhof das suas visões (em sua Teologia Sistemática) é útil, embora ele pareça favorecer o supralapsarianismo. Eu tomo a visão infralpasariana, como Turretin, a maioria dos teólogos de Princeton, e a maioria dos líderes do Seminário de Westminster (por exemplo, John Murray). Estes assuntos foram o cerne da controvérsia da “graça comum” na primeira metade do século XX. Herman Hoeksema e aqueles que seguiram-no tomaram uma posição supralapsariana tão rígida que eles, no final das contas, negaram o próprio conceito de graça comum.

Finalmente, veja o quadro abaixo, que compara estas visões com o Amyraldianismo (um tipo de calvinismo de quatro-pontos) e o Arminianismo. Minhas notas em cada visão (abaixo), identifica alguns dos maiores defensores de cada visão.


NOTAS SOBRE A ORDEM DOS DECRETOS
© 1994, 1997, 2000 by Phillip R. Johnson

Supralapsarianismo

† Beza sustentava esta visão. Embora freqüentemente seja dito ser ele o responsável por formular a posição supralapsariana, ele não o fez.

† Outros proponentes históricos incluem: Gomarus, Twisse, Perkins, Voetus, Witsius, and Comrie.

† Louis Berkhof parece valorizar ambas visões, mas parece tender levemente para o supralapsarianismo (Teologia Sistemática, 120-25).

† Karl Barth sentia que o supralapsarianismo estava mais próximo do certo do que o infralpasarianismo.

† A Teologia Sistemática da Fé Cristã de Robert Reymond toma a visão supralapsariana e inclui uma defesa prolongada do supralapsarianismo.

† Turretin diz que o supralapsarianismo é “mais duro e menos apropriado” do que o infralapsarianismo. Ele crê que ele “não parece concordar suficientemente com a bondade inefável [de Deus]” (Elenctic Theology, vol. 1, 418).

† Herman Hoeksema e toda a liderança das Igrejas Protestantes Reformadas (incluindo Homer Hoeksema, Herman Hanko e David Engelsma) são supralapsarianos determinados — freqüentemente argumentando, tanto implicitamente como explicitamente, que o supralapsarianismo é o único esquema logicamente consistente. Esta presunção claramente contribui para a rejeição da graça comum pelas Igrejas Protestantes Reformadas.

† De fato, os mesmos argumentos usados em favor do supralapsarianismo têm sido empregados contra a graça comum. Assim, o supralapsarianismo tem nele uma tendência que é hostil à idéia de graça comum (É um fato que, virtualmente, todos que negam “a graça comum” são supralapsarianos).

† Supralapsarianismo é a posição de todos que sustentam o tipo mais rígido de “dupla predestinação”.

† É difícil encontrar expoentes do supralapsarianismo entre os principais teólogos sistemáticos. Mas, a tendência entre alguns dos autores mais modernos pode ser para a visão supralapsariana. Berkhof era simpatizante com esta visão; Reymond a defende expressamente.

† R. A. Webb diz que o supralapsarianismo é “abominável à metafísica, à ética e às Escrituras. Ele não é exposto em nenhum credo calvinista e pode ser defendido somente por alguns extremistas” (Salvação Cristã, 16). Embora seja simpatizante das convicções infralapsarianas de Webb, penso que ele exagera grosseiramente o julgamento contra o supralapsarianismo [Webb foi um presbiteriano do século XIX].

Infralapsarianismo

† Esta visão é também chamada “sub-lapsarianismo”.

† John Calvino disse algumas coisas que parecem indicar que tinha simpatia com esta visão, embora o debate não tenha ocorrido nos seus dias de vida (veja Calvinismo de Calvino, traduzido para o inglês por Henry Cole, 89ss; também William Cunningham, Os Reformadores e a Teologia da Reforma, 364ss).

† W. G. T. Shedd, Charles Hodge, L. Boettner, e Anthony Hoekema sustentavam esta visão.

† Tanto R. L. Dabney como William Cunningham apoiaram-se decididamente a esta visão, mas resistiram argumentar sobre o assunto. Eles criam que todo o debate ia além das Escrituras e, portanto, era desnecessário. Dabney, por exemplo, diz “Esta é uma questão que nunca deve ser levantada” (Teologia Sistemática, 233). Twisse, o supralapsariano, virtualmente concordava com isto. Ele chamava a diferença de “mera apex logicus, um ponto de lógica. E, não é mera loucura fazer uma brecha de unidade ou caridade na igreja, meramente por causa de um ponto de lógica?” (citado em Cunningham, Os Reformadores, 363). G.C. Berkouwer também concorda: “Somos confrontados aqui com uma controvérsia que deve sua existência à infração dos limites colocados pela revelação”. Berkouwer pergunta em voz alta se estamos “obedecendo o ensino da Escritura se recusamos fazer uma escolha aqui” (Eleição Divina, 254-55).

† Thornwell não concorda que o assunto seja controvertido. Ele diz que o assunto “envolve algo mais do que uma questão de método lógico. Ele é realmente uma questão da mais alta significância moral...Condenação e enforcamento são partes do mesmo processo, mas ela é algo mais do que uma questão de disposição, se um homem deve ser enforcado antes de ser condenado” (Escritos Selecionados, 2:20). Thornwell é veementemente infralapsariano.

† O infralapsarianismo foi afirmado pelo sínodo de Dort, mas somente de maneira implícita nos símbolos de Westminster. Twisse, um supralapsariano, foi o primeiro presidente da Assembléia de Westminster, que evidentemente decidiu que a conduta mais sábia era ignonar a controvérsia totalmente (embora as tendências de Westminster fossem, argumentavelmente, infralapsarianas). A Confissão de Westminster, portanto, juntamente com a maioria dos Credos Reformados, implicitamente afirmou o que o Sínodo de Utrecht (1905) mais tarde declarou explicitamente: “Que nossas confissões, certamente com respeito à doutrina da eleição, seguem a apresentação infralapsariana, [mas] isto não implica de forma alguma, uma exclusão ou condenação da apresentação supralapsariana”.

Amyraldism

† Amyraldismo (é a ortografia preferida, e não AmyraldIANismo).

† Amyraldismo é a doutrina formulada por Moisés Amyraut, um teólogo francês da escola Saumur (Esta mesma escola gerou outro desvio agravante da ortodoxia reformada: a visão de Placaeus envolvendo a imputação mediata da culpa de Adão).

† Por fazer o decreto para expiar o pecado logicamente antecedente ao decreto de eleição, Amyraut podia ver a expiação como hipoteticamente universal, mas eficaz para os eleitos somente. Portanto, a visão é algumas vezes chamada de “universalismo hipotético”.

† O puritano Richard Baxter abraçou esta visão, ou algo próxima à ela. Ele parece ter sido o único líder puritano importante que não era um calvinista “completo”. Alguns discutiriam se Baxter era um verdadeiro Amyraldiano (ver, por exemplo, George Smeaton, A Doutrina Apostólica da Expiação [Edinburgh: Banner of Truth, 1991 reprint], Appendix, 542.) Mas o próprio Baxter parecia se considera um Amyraldiano.

† Esta é uma forma sofisticada de formular o “calvinismo de quatro-pontos”, enquanto ainda se considera um decreto eterno de eleição.

† Mas, o Amyraldismo provavelmente não deveria ser igualado totalmente com o assim chamado “calvinismo de quatro-pontos”. Em minha própria experiência, muitos pretensos “quatro-pontos” são incapazes de articular qualquer explicação coerentes de como a expiação pode ser universal, mas a eleição incondicional. Assim, eu não desejo glorificar a posição deles, denominando-a de Amyraldismo (Quem dera eles fossem tão comprometidos com a doutrina da soberania divina como Moisés Amyraut era! A maioria dos que se chamam “quatro-pontos” são realmente cripto-arminianos).

† A. H.Strong sustentava esta visão (Teologia Sistemática, 778). Ele a chamou (incorretamente) de “sub-lapsarianismo”.

† Henry Thiessen, evidentemente seguindo Strong, também rotulou indevidamente esta visão de “sub-lapsarianismo” (e contrastando-o com o “infralapsarianismo”) na edição original de suas Lições em Teologia Sistemática (343). Sua discussão nesta edição é muito confusa e patentemente errônea em alguns pontos. Nas edições posteriores de seu livro, esta seção foi completamente reescrita.

Arminianism

† Henry Thiessen argumento esta visão na edição original de sua Teologia Sistemática. A edição revista não mais defende explicitamente esta ordem dos decretos, mas o arminianismo fundamental de Thiessen ainda é claramente evidente.

† A maioria dos teólogos arminianos recusa tratar do decreto eterno de Deus, e arminianos extremos até negam o próprio conceito de um decreto eterno. Aqueles que reconhecem o decreto divino, contudo, devem parar de fazer a eleição contingente à resposta do crente ao chamado do evangelho. Deveras, esta é toda a essência do arminianismo.

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Fonte: Spurgeon.org
Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto. Cuiabá-MT, 28 de Dezembro de 2004.
Via: monergismo

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

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Por André R. Fonseca


Todo escritor precisa organizar um enredo para escrever. Esse enredo pode ser apenas mental, ou pode ser escrito. O importante é manter os temas e subtemas, os questionamentos e as respostas em uma ordem lógica que leve o leitor a entender exatamente o que se deseja mostrar através da produção escrita. 

Quando João escreveu seu evangelho, ele certamente tinha um enredo. Seu enredo organizava os eventos que envolviam Jesus de forma que o leitor pudesse chegar à conclusão que Ele era o Cristo. João mesmo deixou esse propósito bem claro: “Jesus, na verdade, operou na presença de seus discípulos ainda muitos outros sinais que não estão escritos neste livro; estes, porém, estão escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.”[1]

Os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas são conhecidos como os evangelhos sinópticos. Esses evangelhos recebem esse nome pela grande quantidade de histórias em comum, relatadas na mesma sequência e, algumas vezes, utilizando exatamente a mesma estrutura de palavras para contar a mesma história. 

Lucas não foi testemunha ocular de nenhuma das histórias que escreveu em seu evangelho. Seu objetivo era relatar a Teófilo tudo quanto ouviu a respeito de Jesus, e seu trabalho assemelha-se a de um historiador. “Visto que muitos têm empreendido fazer uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram, segundo no-los transmitiram os que desde o princípio foram testemunhas oculares e ministros da palavra, também a mim, depois de haver investido tudo cuidadosamente desde o começo, pareceu-me bem, ó excelentíssimo Teófilo, escrever-te uma narração em ordem. Para que conheças plenamente a verdade das coisas em que foste instruído.”[2]

Lucas deixa bem claro que seu objetivo era fazer um relato em ordem cronológica dos eventos, assim como muitos já haviam feito. Não acredito que João tivesse a mesma intenção ao escrever seu evangelho, e a narrativa única de seu evangelho pode ser mais uma evidência de que João não construiu seu enredo com base na ordem cronológica dos eventos, mas numa ordem teológica de argumentos. 

Uma vez que o objetivo de João era levar as pessoas a crerem em Cristo através dos relatos de sinais que identificavam Jesus como o Filho de Deus, é bem provável que seu enredo ordenasse propositadamente tais eventos. É por esse motivo que o evangelho de João é tão diferente, não só na ordem cronológica, como também na própria seleção das histórias e como elas são interligadas. 

Tendo dito isso, abordarei como a ordenação dos eventos no evangelho de João pode trazer luz à compreensão do versículo favorito da maioria dos ministros de música: “Deus procura adoradores que o adorem em espírito e em verdade”.[3]

João trabalha alguns temas recorrentes em seu evangelho e nas epístolas. Há fortes advertências contra os ensinos heréticos do gnosticismo e docetismo, origem dos maiores ataques contra a doutrina das igrejas em sua época. Ele relata com detalhes todos os diálogos e milagres de Cristo que mostram a sua divindade além de sua natureza humana. E ele também dá muita ênfase às mudanças que uma pessoa sofre depois da conversão. Leia sua primeira epístola e observe que esses assuntos são recorrentes; resumidamente nas epístolas, mas extensamente trabalhados em seu evangelho. 

Quanto às mudanças sofridas pelas pessoas que se convertem, João sequencia duas conversas de Jesus de mesmo tema. A primeira é a conversa de Jesus com Nicodemos; a segunda, sua conversa com a mulher samaritana. 

Inquestionavelmente a conversa de Jesus com Nicodemos tem ênfase na nova natureza que os filhos de Deus recebem pós-conversão, assunto que ele vem introduzindo desde a abertura de seu evangelho: “Mas, a todos quantos o receberam, aos que creem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus”.[4] Ele passa também pelos símbolos de novo nascimento no batismo e na transformação de água em vinho até, finalmente, narrar a conversa de Jesus com Nicodemos no capítulo 3. 

A parte chave da conversa com Nicodemos que nos interessa é: “Jesus respondeu: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.”[5]

Acredito que a última sentença, destacada acima em negrito, pode explicar como é possível alguém adorar a Deus em espírito. 

Se João realmente estava elaborando o seu enredo privilegiando os elementos que conduzem a um pensamento ou entendimento teológico a respeito de Cristo e da nova natureza do convertido, a sequência das histórias de Nicodemos e da história da mulher samaritana é proposital. Precisamos considerar cada uma delas como parte de um todo, do entendimento que se pode ter dessas duas histórias em conjunto. 

Quando a mulher samaritana questiona Jesus sobre qual seria o local correto para adorar a Deus, ele responde: “Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos; porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem”.[6]

Em outras palavras, o que Jesus poderia estar dizendo era que não importa o lugar onde se deve adorar, o que realmente interessa é nascer de novo, pois só quem nasce de novo não é mais carne, mas espírito; somente quem nasceu de novo nasceu do espírito e poderá adorar o Pai em espírito em qualquer lugar. 

Perceba a similaridade entre essas duas declarações de Jesus: 1) “O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito”; 2) “Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” 

Portanto, adoramos a Deus em espírito após recebermos a nova natureza espiritual na conversão e adoramos em verdade quando adoramos com sinceridade e de todo o coração. 

Eu vejo a ligação entre as declarações de Jesus nas histórias de Nicodemos e da mulher samaritana como um paralelismo muito profundo e intencional da parte de João. Há uma teologia muito complexa entre essas histórias, e o que está exposto neste texto é apenas um vislumbre.

Espero que você também possa ver a importância da sua conversão, do nascer de novo, de sua nova natureza espiritual, e como ela faz toda a diferença na sua adoração a Deus!

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Notas:
[1] João 20:30-31 
[2] Lucas 1:1-4 
[3] João 4:24 
[4] João 1:12. 
[5] João 3:6. 
[6] João 4:22-23. 
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Fonte: Teologia et cetera

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

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Por Denis Monteiro


Todas as vezes que olhamos para um espelho vemos coisas que não gostaríamos de ver, como por exemplo, que a velhice se aproxima, que estamos um pouco mais gordo, magro demais ou que estamos cheios de espinhas. Ou seja, na maioria das vezes o espelho revela quem somos realmente. Mas há espelhos que refletem mentiras. Existem aquelas casas de espelhos, as quais existiam em parques de diversões que, quando entravamos nessas casas nós não nos víamos de forma verdadeira, mostrando-nos mais altos ou mais baixos do que somos, mais gordos ou mais magros do que somos, ou seja, sempre mentindo. Sendo assim, o estado que o homem vive dentro dessa casa é de engano. 

O domingo -  Dia do Senhor, no Catecismo de Heidelberg, nos mostra que há uma coisa que reflete quem somos verdadeiramente: A Lei de Deus. 

O 2º Dia do Senhor nos mostra:
P.3. Como é que você sabe dos seus pecados e miséria?
R. Pela lei de Deus.
P.4. O que a lei de Deus exige de nós?
R. É isso o que Cristo nos ensina resumidamente em Mateus 22.37-40: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas”. 
P.5. Você consegue guardar tudo isso perfeitamente?
R. Não. Sou, por natureza, inclinado a odiar a Deus e ao meu próximo.

Da mesma forma que nos aproximamos de um espelho para nos ver a cada dia, também deve ser a nossa aproximação diante da Lei de Deus para nos analisar todos os dias. O problema é que o espelho não consegue arrumar aquilo que ele revela. Assim também é a Lei, ela mostra o diagnóstico, mas ela, por si mesma, não consegue expiar a nossa culpa. 

É interessante que quando falamos da Lei de Deus, algumas pessoas  falam do amor. Temos que pensar mais no amor e amar mais as pessoas, mas será que nós conseguimos? Veja o que Jesus disse:

Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” (Mt 22.37-41)

E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás.” (Lc 10.26-27). 

Quando a Bíblia mostra que devemos amar a Deus e ao nosso próximo como a nós mesmos, isso nos mostra que somos derrotados e miseráveis e que não amamos a nós mesmos. Pois, quem aqui ama a Deus sobre todas as coisas? Quem nunca disse para alguém, em um tom de exclusividade humanística “você é o amor da minha vida”; “você era aquilo que me faltava”; “você completou o vazio que havia dentro de mim”? Se estas palavras não forem uma declaração sincera para Deus, mas para uma pessoa, de forma que alguém venha a tomar o lugar de adoração exclusiva” dentro do nosso coração, isso é idolatria e já quebramos os primeiros quatro mandamentos. E, consequentemente, não conseguiremos cumprir todo o resto, porque se tropeçarmos em um só ponto, nos tornaremos culpados de todos (Tg 2.10). 

Por isso, como diz o Catecismo, baseado na Palavra de Deus, nós não conseguimos cumprir a Lei de Deus perfeitamente. Então, se queremos desfrutar desse conforto, como diz oprimeiro Dia do Senhor, em saber que não pertencemos a nós mesmos, como diz o próprio Catecismo, devemos conhecer como são grandes os nossos pecados (DS 1, PR 2). Mas, da mesma forma que a Lei aponta o nosso pecado, ela aponta para Cristo e nos leva até Ele, porque Ele conseguiu cumprir toda a Lei perfeitamente. 

Que nós possamos a cada dia nos aproximar mais de Cristo e depositar a nossa confiança nele, entendendo que é pela graça de Deus que estamos aqui, e por isso adoremos a Deus. Amém. 

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Fonte: Bereianos

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

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Por John A. Kohler, III


Há muitos versos na Bíblia que, à primeira vista, parecem ensinar a doutrina de uma expiação geral, universal e ilimitada, e 2 Pedro 2:1 é um destes versos. Aqui estão vários comentários que foram feitos sobre este verso por escritos arminianos e amyraldianistas:
“A Escritura é clara: Cristo resgatou e santificou os apóstatas e falsos profetas, incluindo os calvinistas que blasfemam a Deus e impugnam o sangue de Cristo” (Laurence Vance, The Other Side of Calvinism, p. 258).
“O apóstolo Pedro afirmou que estes falsos profetas negam o ‘Senhor que os resgatou, e trazem sobre si mesmos repentina destruição'. Se o Senhor os resgatou, então Ele morreu por eles” (J. R. Alexander, The Tulip Doctrine, p. 61). 
“2 Pedro 2:1 indica que Cristo morreu pelos falsos mestres que estão ‘negando o Mestre que os resgatou'. O contexto indica que estes heréticos são condenados à destruição, todavia, é dito deles que ‘o Mestre os resgatou'. Isto milita contra a visão da expiação limitada” (Paul Enns, The Moody Handbook of Theology, p. 327). 
“Pedro está falando aqui sobre apóstatas, e se você conhece algo sobre apóstatas, você sabe que eles estão à caminho do inferno. Eles negam o Senhor....Eles foram resgatados com o sangue precioso do Senhor Jesus Cristo. Todavia, eles são hereges, trazendo heresias condenáveis, e indo para o inferno, mas resgatados com o sangue precioso do Senhor Jesus Cristo. Como uma pessoa pode, portanto, crer numa expiação limitada?” (Adrian Rogers, Why I Am Not A Five-Point Calvinist, uma discurso pregado em 10 de Novembro de 1997). 
“2 Pedro 2:1 parece apontar mais claramente que o povo por quem Cristo morreu pode perecer...2 Pedro 2:1...afirma que alguns por quem Cristo morreu perecem” (Millard Erickson, Christian Theology, pp. 831, 834).
“Embora estes falsos mestres não-salvos ‘neguem'-LO, é declarado claramente que o ‘Senhor' ‘OS RESGATOU'....O tempo e lugar óbvio onde esta ‘redenção' ou ‘resgate' aconteceu, foi quando o Senhor Jesus Cristo morreu na Cruz do Calvário...Jesus Cristo, o Senhor deles, ‘os resgatou' no sentido de que Ele morreu no lugar deles, por seus pecados, e levou os seus pecados em Seu corpo impecável, na Cruz. Isto é verdadeiramente uma ‘REDENÇÃO ILIMITADA' e mostra de uma vez por todas a mentira de todo falso ensino, seja de João Calvino e/ou de seus seguidores (passados ou presentes), que fala de uma ‘REDENÇÃO LIMITADA', no qual (eles dizem) Cristo morreu SOMENTE pelos ‘eleitos' ou ‘crentes' em Cristo” (D. A. Waite, Calvin's Error of Limited Atonement, p. 10). 
“2 Pedro 2:1 fala dos falsos mestres que negam o Senhor ‘que os resgatou'. Ele ‘pegou o preço' mesmo por aqueles falsos mestres que estavam definitivamente perdidos e destinados ao inferno (vv. 20-23).” (Charles Smith, Did Christ Die Only For The Elect?, p. 7).
“Expiação limitada é uma blasfêmia antiga. Em 2 Pedro 2:1 somos informados que Cristo derramou Seu sangue pelos falsos mestres e falsos profetas não-salvos. Ensinar, portanto, que Cristo derramou Seu sangue somente pelos eleitos, é fazer de Deus um mentiroso e é insultar o Espírito Santo, que escreveu a Palavra de Deus. 2 Pedro 2:1 diz que o sangue de Cristo resgatou os falsos mestres e os falsos profetas não-salvos –– dificilmente eleitos. ‘Expiação limitada', portanto, é o que Charles Wesley a chamou: ‘Oh, horrível decreto, digno do lugar de onde veio. Perdoe a blasfêmia infernal que lançam sobre o Cordeiro'” (Peter Ruckman, Hyper-Calvinism, p. 15).

1. O Significado e Uso da Palavra “Senhor”

a) A palavra grega que é traduzida como Senhor em 2 Pedro 2:1 é despotes, que significa “déspota, governador absoluto ou mestre soberano”.

b) Esta palavra é usada para se referir a Deus o Pai em Lucas 2:29; Atos 4:24; e Apocalipse 6:10.

c) Esta palavra é usada para se referir tanto a Deus o Pai como a Deus o Filho em Judas 4.

d) Não pode ser claramente provado que esta palavra se refira ao Senhor Jesus Cristo em 2 Pedro 2:1, e seu uso em outros lugares sugere fortemente que ela se refira a Deus o Pai.

2. O Significado e Uso da Palavra “Resgatou”

a) A palavra grega que é traduzida como resgatou em 2 Pedro 2:1 é agorazo, que significa “frequentar o mercado, fazer negócio, comprar ou vender”. (Veja Mt 14:15).

b) Quando esta palavra se refere à obra de Cristo de redenção, um preço da compra é usualmente mencionado juntamente com ela (At 20:28; 1Cor 6:20; 7:23; Ef 1:7; 1Pe 1:18-19; Ap 1:5; 5:9).

c) Em 2 Pedro 2:1, nenhum preço da compra é mencionado, e não pode ser claramente provado que esta palavra se refere à obra redentora de Cristo sobre a cruz.

3. O Contexto de 2 Pedro 2:1

a) Pedro era o apóstolo aos judeus (Gl 2:8).

b) 2 Pedro é crido ter sido endereçada aos cristãos judeus que estavam dispersos por toda a Ásia Menor (1 Pe 1:1; Jo 7:35; Tg 1:1).

c) Os falsos mestres que ele menciona em 2 Pedro 2:1 são cridos ser os falsos mestres judeus (At 26:17,23).

d) Há uma íntima similaridade entre 2 Pedro 2:1 e Êxodo 15:16; Deuteronômio 32:6.

e) Há também paralelos íntimos entre Deuteronômio 31:27-29; 32:5 e 2 Pedro 2:12,13.

f) Estes falsos mestres negam o Deus de Israel do mesmo modo como os seus antepassados judeus negaram-NO (At 7:51-53; Mt 23:29-36) e são comparados com os falsos profetas judeus do Antigo Testamento.

g) Estes falsos mestres negam o Deus de Israel ao negar o Senhor Jesus Cristo (1Jo 2:23), mas a ênfase em 2 Pedro 2:1 é sobre a negação do Deus dos judeus, que resgatou Israel do cativeiro no Egito.

John Gill corrobora que se fosse permitido que aqueles que Cristo resgatou com o Seu sangue O negassem, a ponto de trazerem sobre si mesmos eterna destruição, a aquisição de Cristo seria em vão, e o preço pago seria pago por nada; o que não pode ser verdade.

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Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
Fonte: Monergismo
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Por Thomas Magnum


Ao ensinar sobre as doutrinas da graça, comumente sou questionado com algumas perguntas que são motivo de confusão na mente daqueles que não tem um devido conhecimento do que chamamos de Calvinismo. Ao usar aqui o termo Calvinismo preciso esclarecer de imediato que, por ser aderente dessa linha teológica - que para mim é a que melhor se coaduna com as Escrituras Sagradas - não sou por isso obrigado a concordar com a totalidade da teologia de Calvino ou Calvinista, embora o reformador genebrino seja para mim um dos maiores nomes da história da teologia e o maior nome da reforma protestante, sendo o seu legado para posteridade de valor inestimável. No entanto, a teologia de Calvino não é a Escritura Sagrada, por isso me denomino calvinista no que se coaduna com as Escrituras. Bem, feitos esses esclarecimentos, prossigamos.

Dentre muitas questões levantadas para um correto entendimento do Calvinismo uma delas é: Se o Calvinismo está correto em seus cinco pontos, então, para que evangelizar? Por que a igreja deve se esforçar na obra missionária se Deus tem seus eleitos, se a expiação é particular, se a graça é eficaz? Ora, se o Calvinismo está certo não precisamos evangelizar!? Errado! Neste artigo procuraremos trazer alguns dados históricos sobre o trabalho da igreja reformada e seu empenho em evangelizar as tribos, povos e nações. Procurarei traçar uma linha histórica desde a reforma até o presente ponto histórico e os esforços da igreja para levar as boas novas de salvação a todos os homens.

De forma alguma o objetivo deste texto é atacar os irmãos arminianos, mas, esclarecer que a reforma também foi um movimento histórico voltado para missões no que se refere a seus desdobramentos, embora inicialmente tenha sido um movimento voltado para a eclesiologia e não para a missiologia. Esclarecer esses fatos é importante para uma mais larga compreensão das contribuições do Calvinismo nos vários movimentos missionais ocorridos na história da igreja. Ao fim deste texto listarei alguns livros que ajudarão numa pesquisa complementar para aqueles que desejarem se aprofundar no assunto. É importante dizer também que houve movimentos importantes relacionados as missões cristãs que partiram da influencia de Moody e Wesley.

A Reforma e Missões

A historiadora de missões Ruth Turker nos diz acerca de Calvino:
"Calvino por si mesmo, entrementes, fora pelo menos exteriormente o espírito mais missionário de todos os reformadores. Ele não só enviou dezenas de evangelistas de volta à sua terra natal, a França, mas também comissionou quatro missionários, juntamente com um bom número de huguenotes franceses, para estabelecer uma colônia e evangelizar os índios no Brasil." [1]

Calvino acreditava que os missionários tinham que ser preparados para ler a Bíblia nas línguas originais e ser cuidadosamente preparados para o campo e profundamente habilitados em teologia. Michael Horton, falando da preocupação de Calvino com a preparação de obreiros para o campo, diz: "O campo missionário não merecia menos do que qualidade de ministros esperados em sua terra de origem".

Em seu comentário de 1 Timóteo 2.3-5 Calvino fala:
"Assim podemos ver o significado que São Paulo pretende quando diz: Deus deu a conhecer a todo mundo, e seu evangelho pregado a todas as criaturas. Portanto, devemos procurar, tanto quanto possível, convencer aqueles que são estranhos à fé, e parecem estar totalmente privados da bondade de Deus, a aceitar a salvação. Jesus Cristo não é apenas um Salvador de poucos, mas ele se oferece a todos."

Calvino ainda diz em um outro sermão sobre 1 Timóteo 2.3-5 : "Temos de trabalhar, tanto quanto possível para levar a salvação aqueles parecem estar distantes."

Michael Horton ainda nos diz em seu livro A favor do Calvinismo, p. 208:
"Calvino não era indiferente em seu zelo missionário. O Catecismo de Heidelberg (1564), por si mesmo era uma ferramenta evangelística, foi traduzido para o holandês, saxão, húngaro, inglês, grego, francês, polonês, lituano e italiano. No período de vinte e cinco anos de sua publicação inicial."

Vale ainda frisarmos aqui que o catecismo na era pós-reforma foi traduzido em malaio, javanês, português, espanhol, cingalês, tâmil, chinês e japonês. Algum tempo depois em navajo, zuni, tiv e hausa. Essa preocupação demonstra a intensificação da atividade missionária do calvinismo na era da reforma e pós-reforma. Essa preocupação está fundamentada no ensino de Jesus e dos apóstolos sobre a evangelização das nações e, como lemos correntemente no livro do Apocalipse, que adorarão ao Cordeiro gente de toda tribo, povo, raça e nação. O fato de o Calvinismo pregar a eleição dos santos e a expiação limitada não empobrece o ímpeto missionário provindo do ensino teológico de expoentes do pensamento reformado. A exemplo disso podemos citar o avivamento de Princeton com as preleções de Charles Hodge, que futuramente foi responsável por impelir jovens a vários lugares do mundo como veremos mais adiante.  

Portanto, ao nos depararmos com a questão que ronda a mente daqueles que não conhecem bem o calvinismo, nem sua história, vemos que as doutrinas da graça não invalidam a obra missionária, antes, a intensifica. Se Deus elegeu homens e mulheres de todas as tribos, povos e nações, e o soberano Deus decretou que essas pessoas seriam salvas ao ouvirem a pregação, esse é o maior incentivo para a igreja de Cristo, existem eleitos nesses povos e o Senhor quer que cheguemos lá com a mensagem do evangelho para que eles sejam salvos. O empenho missionário das igrejas reformadas é a demonstração do zelo do povo de Deus pela ordem que lhes foi dada, Ide, e não somente em um tempo histórico, mas, indo, indo por todas as nações e fazendo discípulos.

O Movimento Missionário Moderno

Ao chegarmos aos tempos modernos temos grandes nomes a citar nessa visão panorâmica que estamos estabelecendo aqui. Aconselho o leitor a ampliar a leitura sobre esses dados históricos.

Sociedade Missionária de Londres, que foi organizada em 1795, era um celeiro do movimento missionário e confessionalmente Calvinista. Na primeira reunião do grupo, George Burder discursou:
“... espírito apostólico revivido nos gloriosos reformadores seguindo a ‘longa e terrível noite’ da superstição e do declínio medieval. Lutero, Calvino, outras grandes luzes da Reforma recuperaram o evangelho em seus dias. ‘Mas, oh! Onde está o zelo primitivo? Onde estão os heróis da igreja – homens que voluntariamente entregaram e se dissiparam por Cristo, onde? Que a ambição não trilhe em uma linha já preparada por eles, mas que preguem a Cristo, onde, ainda ele não foi invocado.

Vale citar aqui também David Brainerd (1718-1747), ministro calvinista, notável por sua missão entre os índios no Oeste de Massachusetts, e Jhonatas Edwards (1749) que foi missionário entre os índios também. Edwards é conhecido pelo memorável sermão – Pecadores nas mãos de um Deus irado – teólogo, escritor, ainda um filosofo influente no pensamento americano.

Não podemos deixar de citar também William Carey, conhecido como o pai das missões modernas, tradutor da Bíblia, pregador do evangelho de Cristo na índia. Os esforços de Carey são um exemplo para a igreja. A morte de duas esposas e de um filho não foram impedimentos para Carey atender o chamado para levar o evangelho a Índia. Sapateiro, com pouco estudo, aprendeu sânscrito, hebraico e grego, Carey foi um dos grandes, se não o maior tradutor das Escrituras Sagradas. Carey foi muito influenciado pelos escritos de Jhonatas Edwards, também de confissão calvinista.  

Os calvinistas também olharam para a África, Robert Moffat (1795-1862) e David Livingstone (1813-1873) foram nomes chaves na evangelização da África. A escocesa Mary Stessor, missionária pioneira na África Ocidental em 1876 com apenas 27 de idade. Ela era vice-cônsul do império Britânico e abriu mão para ser missionária tomando a missão como superior, morreu aos sessenta e seis anos de idade na sua cabana de barro.

Jonathan Goforth, conhecido como o mais notável evangelista da China, foi um presbiteriano canadense. Chegando em tempos recentes, temos a chegada de Robert Reid Kalley ao Brasil em 1855. Kalley chegou ao Brasil e um tempo depois fundou a primeira congregação de nativos brasileiros, a Igreja Evangélica Fluminense. Depois de assistir uma palestra do Dr. Charles Hodge em Princeton, o jovem Ashbel Green Simonton também veio para o Brasil e, após sua chegada oito anos depois (1867), fundou o primeiro presbitério no Rio de Janeiro e o primeiro seminário presbiteriano. Claro que poderíamos citar muitos outros nomes e trazer mais provas históricas do empenho dos calvinistas para a evangelização do mundo, mas, concluiremos citando alguns nomes contemporâneos que tem se empenhado em esforços a evangelização de povos não alcançados, temos o conhecido pastor John Piper, que segundo Russel Shedd é um dos maiores evangelistas do nosso tempo, temos também Paul David Washer, que tem percorrido o mundo pregando o evangelho de Cristo. Não poderíamos deixar de citar dois nomes importantes, o Dr. Russel Shedd, fundador das edições Vida Nova, que tem se dedicado por décadas a evangelização do Brasil e preparação de líderes da nação brasileira. O último nome que gostaria de mencionar é do missionário Ronaldo Lidório, que também tem empreendido grandes esforços na evangelização de povos não alcançados, fundador do Instituto Antropos.

Dentro desse escopo que discorremos temos reformados das mais variadas denominações como Presbiterianos, Anglicanos, Congregacionais, Reformados, Episcopais, Batistas e muitas outras denominações que professam os princípios e ensinos da Reforma do século XVI. Portanto, é um erro afirmar que o Calvinismo não promove o zelo missionário nas igrejas. Historicamente vimos que é o oposto, Calvino enviou missionários ao Brasil e a evangelização posterior do Brasil também se deu pelo trabalho Calvinista. Os Estados Unidos são frutos de uma peregrinação e colonização cristã, e aí é valioso um estudo da vida e obra dos Puritanos. O zelo por missões está em nossas raízes e deve arder em nosso coração, como foi com nossos irmãos no passado. Que esse breve texto venha servir como uma simples introdução ao estudo missiológico. 

Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda judeia e Samaria, e até os confins da terra. NVI Atos 1.8

Esperemos grandes coisas de Deus, façamos grandes coisas para Deus. - William Carey

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Nota:
[1] – Missões até os confins da Terra – Ruth Tucker, ed. Vida Nova

Livros indicados:
• Missões até os confins da Terra – Ruth Tucker, ed. Vida Nova.
• A Favor do Calvinismo – Michael Horton, ed. Reflexão.
 A Igreja Missional na Bíblia – Michael Goheen, ed. Vida Nova.
 A Missão de Deus - Christopher J. H. Wright, ed. Vida Nova.
 A Missão do Povo de Deus - Christopher J. H. Wright, ed. Vida Nova.
 Evangelização – Fundamentos Bíblicos – Russel Shedd, ed. Vida Nova.
 Igreja Centrada – Timothy Keller, ed. Vida Nova.
 História e Teologia da Evangelização – Fabio Henrique Caetano, ed. Arte Editorial.
 História da Evangelização no Brasil, dos Jesuítas aos neopentecostais – Elben César, ed. Ultimato.
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Fonte: Electus