Isvonaldo sou Protestante

Isvonaldo sou Protestante

sábado, 22 de novembro de 2014

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Por Rev. Thiago Rodrigues Rocha

(Gn 1.27; 2.15-17; 3.1-6,23,24; Sl 51.5)

A doutrina da soberania de Deus é a base da nossa fé reformada e nela se assentam todas as demais doutrinas. Senão crermos na doutrina da soberania de Deus, não cremos em mais nada. Se tirarmos a base, todo o edifício desmorona. Deus é o único ser que pode fazer tudo o que quer e só faz o que quer. Sua vontade é soberana. Por sua soberana vontade, Deus criou os céus e a terra. E criou o homem à Sua imagem e semelhança, dotando-o de atributos, tais como os de justiça, santidade, livre-arbítrio e imortalidade. Nessas condições, o homem foi criado justo, santo, livre e imortal, qualidades que, teologicamente, podemos conceituar assim: 


               JUSTO – aquele a quem Deus não atribui pecado.                
               SANTO – aquele que se dedica inteiramente a Deus                
               LIVRE – aquele capacitado para escolher entre o bem e o mal
               IMORTAL – aquele que vive para sempre com Deus.

Teologicamente, livre-arbítrio é a capacidade de escolha entre o bem e o mal. Isto é, escolher entre obedecer ou desobedecer à vontade de Deus. O bem é a obediência à vontade de Deus, e o mal, a desobediência. 


Foi da soberana vontade de Deus testar o homem quanto ao uso do seu livre-arbítrio, porque este só teria valor se provado – Gn 2.15-17. O homem, usando esse atributo, poderia escolher entre obedecer ou não obedecer, isto é, pecar ou não pecar. Essa escolha seria única e irreversível. Ele tinha diante de si dois caminhos paralelos: o do bem, cuja escolha o confirmaria em justiça, santidade e imortalidade; e o do mal, que o levaria à perda desses atributos. Resumindo, obedecendo, o homem gozaria da eterna presença de Deus; desobedecendo, ficaria afastado eternamente dessa presença (o que se costuma chamar de céu e inferno). 


Mas, o homem escolheu o mal, desobedecendo à ordem de Deus. Consequentemente, deixou de ser justo, santo, livre e imortal, tornando-se escravo do pecado. Com isso, ele perdeu os atributos de justiça, santidade, livre-arbítrio e imortalidade. E como escolheu o mal, sua tendência passou a ser sempre para o mal, já que essa escolha era irreversível. 


Antes da queda, o homem podia pecar ou não pecar. Depois da queda não poderia mais não pecar. A essa inclinação permanente para o mal chamamos, teologicamente, de depravação total ou inabilidade total. 


Como Adão era o nosso representante, o que acontecesse com ele passaria a todos nós. Quando a fonte é poluída, toda corrente fica também poluída. Todos nós herdamos essa inclinação, humanamente irreversível, para o mal (Sl 51.5). E a consequência dessa escolha é a separação eterna da presença de Deus, figurada no ato da expulsão do paraíso. O homem todo (individualmente) está corrompido e todo homem (universalmente) está corrompido (Rm 7.15-21). Eu estou corrompido e a humanidade toda também. Essa é a constatação de Deus, antes do dilúvio: “Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração” – Gn 6.5. E Paulo confirma essa tendência universal: “como está escrito: Não “há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer...pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3.10-12,23). E ainda, em Romanos 5.12: “Portanto, assim como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens porque todos pecaram”. 


A essa realidade dá-se o nome de depravação total. E esse é o tema deste estudo: DEPRAVAÇÃO TOTAL: HERANÇA MALDITA. 


A doutrina da depravação total nos leva a concluir que todos somos pecadores. O pecado atingiu, entre outras, três áreas constitutivas da personalidade humana: 


1. A mente – Gn 3.1-5. A tentação começou na mente da mulher. Satanás usou falsos argumentos para levá-la a pecar. Ela até conseguiu contra-argumentar, mas acabou cedendo à palavra do tentador. Seu mal foi não ter resistido à tentação. Ser tentado não é pecado. Pecado é ceder à tentação. Por ter aceitado a palavra do tentador contra a palavra de Deus, sua mente passou a se inclinar para o mal. E essa tendência passou a todos nós. 


E a luta contra essa tendência será constante em toda a nossa vida. Só experimenta essa luta a pessoa realmente convertida, pois nela há dois princípios conflitantes: o velho homem (inclinado para o mal) e o novo homem, regenerado pelo Espírito Santo (inclinado para Deus). Em Rm 7.22-25, Paulo descreve bem essa luta. Como a inclinação do não convertido é sempre para o mal, ele não passa por essa luta, porque, já estando vencido, não tem com quem lutar. Convém notar que na mente do não convertido pode haver alguns pensamentos bons, segundo os padrões humanos, mas não segundo os padrões divinos. 


Como essa batalha será constante durante toda a nossa vida, convém seguir alguns conselhos bíblicos: 


JESUS – “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26.41). 


PAULO – “Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade do Pai. (...) Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que á amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento” (Rm 12.2; Fp 4.8). 


TIAGO – “Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tg 4.7). 


Para evitar as danosas consequências da inclinação para o mal, em nossa mente, só uma vida de permanente comunhão com Deus. E a nossa parte é ficarmos sempre atentos, seguindo o conselho atribuído a Lutero: “Não posso evitar que um passarinho pouse na minha cabeça; mas posso evitar que faça ninho nela”. 


2. O coração, como sede dos desejos, sentimentos e emoções – Gn 3.6: “desejável para dar entendimento”. 


Infelizmente, todo o nosso ser foi contagiado com a tendência para o mal, inclusive e notadamente o coração. Há certo prazer no coração do homem pelo mal. Basta notar a tendência dos jornais escritos, falados e televisivos por notícias sobre desastres, acidentes, tragédias, violência, assaltos, estupros, pedofilia e muitas outras informações sobre o que de mal aconteceu ou poderá acontecer. Por que essa tendência? Porque vende mais e dá mais ibope. E por que vende mais? Porque a inclinação natural do homem é sempre para o mal. 


Foi por causa dessa tendência do coração humano que Deus resolveu enviar o dilúvio – “Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração...” (Gn 6.5). E o maior cardiologista que conheço fez uma análise perfeita dessa cardiopatia humana, quando disse, em Marcos 7.21-23: “Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora, todos estes vêm de dentro e contaminam o homem”. 


Como o nosso coração foi contagiado pelo mal? Sabemos que uma gota de veneno de cobra pode levar à morte. De onde vem esse veneno? Da própria cobra. Satanás foi ardiloso ao se apresentar na forma de serpente. Ele inoculou na mente da mulher o próprio veneno, a soberba. E esse veneno chegou ao coração do homem, levando-o a cometer o pecado letal. 


A soberba é a mãe de todos os pecados. Ela é que os gera. O nosso maior pecado é a soberba, cujo descendente mais importante é o egoísmo. No dia em que o homem aninhou no seu coração a palavra de satanás exclui dele, definitivamente, a palavra de Deus e a própria presença de Deus. 


Só existe um antídoto contra o veneno do mal, conforme revelado por Tiago 4.7 – “Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, ele fugirá de vós”. A submissão a Deus quebranta a soberba, destrona o egoísmo, que são sequelas da soberbalite que atingiu o nosso coração. A solução definitiva para essa cardiopatia é o transplante de um novo coração, realmente sensível à vontade de Deus, feita pelo Médico divino, conforme Sua promessa, em Ezequiel 36.26: “Eu lhes darei um coração novo e porei em vocês um espírito novo. Tirarei de vocês o coração de pedra, desobediente, e lhes darei um coração bondoso, obediente” (NTLH). 


3. As mãos – “tomou-lhe do fruto e comeu” – Gn 3.6.

O pecado entrou pela mente e se fixou no coração, alcançando as mãos. A nossa inclinação para o mal afeta o nosso comportamento, as nossas atitudes e os nossos atos. Figurada e simbolicamente, as mãos da mulher e, consequentemente, as do homem, ficaram sujas quando tomaram do fruto para comer. 


É dura, mas é a realidade a declaração de Paulo quanto à condição do homem pecador, registrada em Romanos 3.9-12,18: “Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois, já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado; como está escrito: não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer”. 


Esse é o homem nascido de Adão, isto é, o homem natural, que ainda não conhece Deus. E essa é também a tendência do velho homem, a que Paulo chama de carne. Todos os seus atos estão impregnados da tendência para o mal. E a prova dessa tendência foi a atitude malévola do primeiro filho de Adão, que se tornou um fratricida. Nosso primeiro irmão foi homicida. 


Veja a triste confissão de Paulo quanto à sua luta contra essa tendência, registrada em Romanos 7.15,18,19: “Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro e sim o que detesto...Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço”. Diante dessa angústia, ele chega a clamar: “Desventurado homem que sou!” (7.24). E que diríamos nós?! 

Eu me expressaria assim: 


               Eu sei que sou um grande pecador.

               E a minha inclinação é para o mal.
               O que eu quero não faço, grande dor!
               E o que faço me pode ser fatal.
               Herança do primeiro genitor,
               também mereço a punição real.
               A culpa levarei por onde eu for.
               E bem triste parece o meu final.
               Vejo, ao final do túnel, uma luz.
               Por ela uma esperança me conduz,
               para mudar pra sempre a minha história.
               Eu me ajoelho aos pés do Rei da glória,
               peço perdão pelos pecados meus.
               E me deixo ficar nas mãos de Deus! 


Observações finais: 


1. Temos total inabilidade para fazer o bem que agrade a Deus e de, por nós mesmos, nos recuperarmos desse terrível mal. 


2. É bom que tenhamos consciência da gravidade do nosso mal para mostrarmos maior gratidão por Aquele que nos curou. 


3. Nossa situação é muito grave, mas há solução para o nosso problema. O que Adão estragou em nossa vida, Deus consertou. 


Mas onde abundou o pecado superabundou a graça” (Rm 5.20). 



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Sobre o autor: Rev. Thiago Rodrigues Rocha fez seu curso de Teologia no Seminário Presbiteriano do Sul, pelo qual se bacharelou em 1950. Foi licenciado pregador do evangelho pelo Presbitério do Rio de Janeiro e ordenado ministro do evangelho, em 25.11.1951, pelo Presbitério de Guanabara. Foi o primeiro ministro a ser ordenado por esse Concílio. Foi Pastor Efetivo da Igreja Presbiteriana do Riachuelo, por 25 anos, e da Igreja Presbiteriana do Grajaú, por mais de 21 anos. Atualmente é Pastor Emérito de ambas as igrejas.

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