Isvonaldo sou Protestante

Isvonaldo sou Protestante

domingo, 5 de janeiro de 2014

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Por John Hendryx


O termo “graça preveniente” — uma doutrina distintamente arminiana — se refere a uma graça universal que precede e possibilita as primeiras agitações de uma boa vontade ou inclinação em direção a Deus e ela explica a extensão ou grau para o qual o espírito santo influencia uma pessoa anterior a sua vinda à fé em Cristo. O arminiano, junto com o calvinista, afirma a inabilidade moral humana e o total desamparo do homem natural em questões espirituais e a absoluta necessidade pela sobrenatural graça preveniente se houver qualquer resposta certa ao evangelho. Como os calvinistas, os arminianos concordam que, à parte de um ato da graça da parte de Deus, ninguém voluntariamente viria a Cristo. Este ponto é importante distinguir de modo a não confundir o arminianismo clássico com fineyismo ou semi-pelagianismo, que ambos rejeitam a necessidade da graça preveniente. Então a redenção de Cristo é universal num sentido provisório, mas condicional quanto à sua aplicação a qualquer indivíduo, isto é, aqueles que não resistem à graça oferecida a eles através da cruz e do evangelho. A graça preveniente, de acordo com os arminianos, chama (exteriormente), ilumina e capacita antes da conversão e faz a conversão e a fé possíveis. Enquanto os calvinistas creem que o chamado interior ao eleito é irrevogável e efetivamente traz os pecadores a fé em Cristo, o arminiano, por outro lado entende a graça de Deus como finalmente resistível. Em resumo, eles afirmam que a graça preveniente, que é dada a todos os homens em algum ponto em suas vidas, temporariamente traz o pecador para fora da sua condição de depravação total e o coloca em um estado neutro de livre-arbítrio em que o homem natural pode aceitar ou rejeitar a Cristo.

A graça preveniente definida como se segue pela “ordem de salvação de Wesley”:

“Os seres humanos são totalmente incapazes de responder a Deus sem Deus primeiro capacitá-los a ter fé. Esta capacitação é conhecida como graça preveniente. A graça preveniente não nos salva, mas, em vez disso, vem antes de qualquer coisa que nós fazemos, nos atraindo para Deus, nos fazendo QUERER ir a Deus, e nos capacitando a ter fé em Deus. A graça preveniente é universal, tanto quantos todos os homens a recebem, independente deles terem ouvido falar de Jesus. Ela é manifestada no desejo estável da maioria dos humanos conhecer a Deus.”

Portanto, em resposta a afirmação ortodoxa de que a geração de fé dos pecadores por si mesma implica mérito, o arminiano frequentemente responderá afirmando que a vontade humana, socorrida pela graça preveniente, é livre, mesmo em aceitar a graça do perdão; embora esta aceitação não seja mais meritória do que a aceitação de um mendigo de uma fortuna oferecida, ainda é aceita livremente, e com o poder de rejeição, nenhuma é menos graça por isso. Em outras palavras, cada pecador determina por si mesmo, se será salvo ou não, e assim determina sua própria eleição baseado em se ele responde ou não positivamente ao evangelho oferecido a ele por Deus enquanto sob à influência da graça preveniente. O arminiano argumenta que qualquer outra coisa seria injustiça de Deus.

Resposta:

Enquanto o exemplo do mendigo pode soar razoável à primeira vista, eu proponho olhar mais atentamente nestes conceitos. Quais são as semelhanças e diferenças da teologia arminiana com a ortodoxia sobre o conceito de graça salvadora?

Similaridades arminianas com a teologia reformada:

(1) Todos os homens precisam ser salvos da ira de Deus através da obra expiatória de Cristo.

(2) Ambos reformados e arminianos creem que, sem a graça de Deus o homem é totalmente incapaz de responder ao evangelho. Ambas as posições estão em total acordo.

As diferenças arminianas com a teologia reformada está em seu entendimento do significado da graça:

Vamos observar pelo menos três formas nas quais a graça preveniente difere agudamente do ponto de vista monergista:

(1) A doutrina arminiana da graça preveniente é exaustivamente universal; significando que ela é estendida a todas as pessoas independente de se elas ouviram o evangelho ou não. Isto parece estar em contradição direta com a Bíblia, por exemplo, a pergunta do apóstolo: “e como crerão naquele de quem não ouviram falar?” e “... a fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Rm 10.14,17). Esta visão, então, afirma (ou pelo menos abre espaço) a ideia de que o evangelho não é cognitivamente necessário para alguém ser salvo. Apesar do caso esmagador feito por Paulo contra os gentios em Romanos 1-3, alguns arminianos acreditam que se uma pessoa é temente a Deus, isto é, responde crendo à gradação de salvação feita a eles, então Deus aceitará aquela fé e a imputará a eles como justiça, se tiverem ou não ouvido o evangelho. Isto é puramente especulativo e não derivado da revelação.

(2) A graça preveniente não é eficaz, mas em vez disso torna o pecador “neutro”— capaz de decidir por si mesmo se ele aceitará ou rejeitará a Cristo. Primeiro, desde que nós devemos sempre ir às Escrituras como nossa autoridade em questões de fé (especialmente questões desta magnitude) nós devemos seriamente inquirir se há alguma evidência bíblica qualquer que seja a fundamentar o dogma arminiano de que há um estado de ser que Deus coloca pecadores em que nem é regenerado nem não-regenerado, um estado intermediário que nem é corrupto nem bom. É imperativo que este “estado” seja fundamentado biblicamente, não meramente por especulação sozinha ou necessidade lógica. Onde a Bíblia diz que quando Deus dá graça às pessoas elas se tornam parcialmente regeneradas, mas não totalmente regeneradas?

Assumindo por causa do argumento que tal estado foi mostrado que existe, mais questões rapidamente surgem. Se, como resultado da graça preveniente, nossos desejos são repentinamente “neutros”, o que, então, causa um homem escolher um caminho ou outro? Aos olhos de Jesus, as decisões e atos de uma pessoa são inevitavelmente determinados por sua condição interior, “uma árvore boa dá bons frutos, uma árvore má dá maus frutos,” pensar o contrário é impossível. O que então de uma árvore que nem é boa nem má, o que determina seu fruto? Você simplesmente não pode ter uma vontade que é indisposta e simplesmente crê ou rejeita a Cristo por acaso. Argumentar isto implicaria que Deus elege seu povo com base na escolha casual destas pessoas. Pelo contrário, as pessoas creem em Cristo porque elas veem o terrível estado do pecado delas, da grande necessidade de um salvador e a beleza, verdade e excelência do evangelho de Cristo. Apenas os homens espirituais regenerados podem entender e ver a bondade no evangelho (1 Co 2.14), uma suposição impossível para alguém com um coração não renovado. Um homem cego não pode ver a menos que seus olhos sejam abertos. Do mesmo modo, aqueles cegos espiritualmente só podem ver se eles forem curados, e quando eles são curados, eles veem. É bíblico e evidente por si mesmo que nós sempre escolhemos algo baseado no que nós somos por natureza— uma macieira nunca produzirá uvas.

Além disso, nós deveríamos observar que Jesus nos conta muitas vezes na escritura por que alguns não creem. “Vocês não creem porque não são das minhas ovelhas” (João 10). A ordem aqui é de grande importância. Jesus não diz: “Vocês não são minha ovelhas porque não creem”, fazendo desse modo a fé uma condição de se tornar uma ovelha. Antes, ele diz o contrário, “Vocês não creem porque não são das minhas ovelhas.” Crer, portanto, longe de ser uma condição, é o sinal (ou fruto) de que alguém é já uma ovelha. Assim também, Jesus falando para alguns dos judeus disse, “Quem é de Deus ouve as palavras de Deus. A razão pela qual vocês não as ouvem é que vocês não são de Deus.” A natureza da pessoa determina a escolha que ele faz. E quem exatamente é de Deus? Jesus responde claramente em sua oração ao pai em João 17.9 quando ele diz “Eu rogo por eles. Eu não rogo pelo mundo, mas por aqueles a quem tu me deste, pois são teus.” O pai separou certas pessoas para ele mesmo e, em sua oração aqui, Jesus é visto apenas por orar por eles, enquanto simultaneamente excluindo outros que não foram “dados” a ele.

Ironicamente, o arminiano acredita no compatibilismo anterior à graça preveniente... Significando que o homem faz escolhas morais necessárias baseadas na sua natureza. Ainda que, após a graça preveniente, ele creia que o homem é libertado da natureza (sem ser dada uma nova), contudo nenhuma evidência bíblica é dada para mostrar a fonte desta doutrina. Em outras palavras, antes da graça de Deus, o arminiano vê assim como o calvinista a impotência da vontade humana, mas quando a graça vem ele muda de repente por especular que o homem agora não escolhe de acordo com a natureza (como antes) mas agora é concedido um livre-arbítrio libertariano, isto é, aquele homem pode escolher o contrário independente de quem ele é por natureza. Intrigante, desde que a Bíblia nenhuma vez dá um fragmento de evidência, de que é dado às pessoas um livre-arbítrio libertariano temporário. Em vez disso, retornando novamente às palavras de Jesus, nós ouvimos, “Ou fazei a árvore boa, e o seu fruto bom; ou fazei a árvore má, e o seu fruto mau” (Mt 12.33). A doutrina arminiana da graça preveniente, portanto parece ter sua origem na ideia de que Deus deve ser “justo”. Os arminianos logicamente concluem que desde que Deus é bom, ele deve tratar aqueles opostos a/e em rebelião contra ele com absoluta equidade. A fim de preservar esta definição de “justiça”, o arminiano declara que Deus deve dar a todas as pessoas uma oportunidade igual. Porém, Deus não é obrigado a dar aos filhos do diabo (Jo 8.44) nenhuma oportunidade se ele não quiser. Deus teria sido perfeitamente justo em fazer ao homem o que ele fez aos anjos caídos, por quem ele não morreu. E se Deus poderia justamente deixar toda humanidade ir para o inferno (todos nós concordamos) então por que seria injustiça da parte de Deus perdoar as dívidas de alguns, rejeitando os outros? Jesus não conta a parábola do proprietário que termina dizendo “Não tenho eu o direito de fazer o que eu quiser com o meu próprio dinheiro? Ou vocês são invejosos porque eu sou generoso?(Mt 20.15).

E apesar de tudo, se este é o caso, então por que Deus ficaria contente com uma escolha de uma pessoa que é indiferente acerca da escolha, alguém que não ama o objeto de sua escolha? Se o motivo para crer que o evangelho é indiferente, então é o ato... Se nós não desejamos Deus, a escolha ou é impossível ou é por mero acaso.

Novamente, a Bíblia nunca ensina de uma maneira clara e aberta o conceito de graça preveniente. A resposta acima é, portanto, para apresentar o absurdo dessa insustentável crença. Os arminianos desajeitadamente forçam isto na escritura a fim de sustentar seu sistema. Só isso deveria nos levar a rejeitá-lo. A razão pura nunca deveria ser a base de nossas concepções teológicas, especialmente uma de tamanha importância.

(3) Os arminianos sustentam que enquanto não regenerados, alguns podem e melhorarão naquela graça. Em outras palavras, a graça preveniente de Deus toma parte de nós do caminho para a salvação (nos faz parcialmente regenerados), mas a vontade do homem (ou natureza) faz o resto (ou completa). Dado fosse esse o caso, se todos os seres humanos tem esta graça preveniente em algum ponto em suas vidas, considere, se duas pessoas ouvem o mesmo evangelho, por que um homem crê e não o outro? O que faz que eles difiram? Obviamente foi algo na natureza que fez a diferença, não a graça. Disto nós suspeitamos que não foi a graça preveniente que fez estas duas pessoas diferirem um do outro, mas, algo no homem que fez uso da graça preveniente que os fez divergir. Simplificando, se nós desejamos crer em Cristo, de onde veio este bom desejo? Da graça ou da natureza? O arminiano pode dizer “graça”. Se for assim, por que alguém que o rejeitou também tem essa grande graça? Desde que graça não é em última análise o que separa os dois homens, deve ser algo mais. Em outras palavras, um homem de alguma maneira teve a habilidade natural ou inata para criar um pensamento correto, gerar um afeto correto, ou originar uma volição correta em direção a Cristo. E se estes pensamentos foram por si mesmos autônomos e independentes desta graça prevenienteque levaram a sua salvação, brotando do coração do homem natural, então esta é uma doutrina bastante incômoda. Isto nos leva a perguntar, por que alguns homens fazem uso da graça preveniente e outros não? O arminiano, portanto, ainda vê a graça de Deus como apenas uma penúltima causa da salvação enquanto a fé dos pecadores é que é a final, a sine qua non de sua salvação. Isto pode, portanto, ser demonstrado que a graça preveniente arminiana não ensina a salvação pela graça apenas, mas a salvação pela graça mais a natureza. Então se Deus estende ou não a graça preveniente você ainda tem o mesmo resultado: um homem da sua vontade não-regenerada gerá fé, outro homem da sua vontade não-regenerada não gera fé e rejeita a Cristo. Um tem uma submissão natural faltando no outro? Não é a submissão por si mesma um dom da graça? O apóstolo diz, “E que tens tu que não tenhas recebido?” (1 Co 4.7) e, “Mas pela graça de Deus sou o que sou” (1 Co 15.10). No caso de crer no evangelho, uma pessoa está fazendo uma escolha moralmente boa e o outro uma escolha moralmente má. Na verdade, qualquer forma de olhar a graça preveniente resume-se ao princípio interno do mérito de uma pessoa que no final das contas o faz diferir dos outros. Isto então leva a se gabarem de que são diferentes dos outros que não têm fé. Mas novamente, ainda mais importante, a graça preveniente não tem suporte bíblico e isto é o que faz a posição insustentável. Os arminianos estão fazendo a assistência da graça depender da humildade ou obediência dos homens e não concordam que é pelo dom eficaz da graça por si mesmo que nós somos obedientes e humildes. Eu suponho que os arminianos acreditam que alguns mendigos são mais iguais que os outros.

No final, o problema com a graça preveniente arminiana é que ela é dirigida pela lógica humana sozinha e racionalidade em vez das Escrituras. As Escrituras testificam que os homens sem o espírito não podem entender as coisas de Deus (1 Co 2.14). Mesmo com a graça preveniente teoricamente colocando a humanidade em uma posição neutra, nós ainda careceríamos do espírito vivificante para nos dar o que nós precisamos. Como é então que o homem natural pode entender ou desejar Deus independente de tal graça vivificante e renovadora? Um homem cego pode ver antes de seus olhos serem abertos? Um homem com um coração de pedra ama e deseja Deus antes do seu coração ser feito carne? Como pode um boi desejar carne para comer... A água pode subir acima da sua fonte? Nós acreditamos que a salvação é do Senhor do início ao fim. Ele merece toda a glória. Enquanto nós éramos ainda perdidos Cristo morreu por nós e sua morte comprou tudo o que nós precisamos para ser salvos, incluindo nossa regeneração. Para um homem não regenerado, nunca desejaria as coisas de Deus. Se a graça de Deus não nos salva então o homem em última análise decide baseado em algum princípio interno, bom ou mau.

Finalmente, eu quero deixar claro que eu não estou aqui tentando mostrar que os arminianos não são salvos. Pelo contrário, eu escrevo isto na esperança de que isto sensibilizará da inconsistência entre os nossos irmãos arminianos. É verdade que Deus frequentemente nos salva apesar de nossa má ou inconsistente teologia, ou então a graça não seria graça. Na verdade, ele salvou todos nós apesar de nós mesmos e nossas visões incorretas. Se nós sabemos ou entendemos qualquer coisa é porque Deus escolheu revelá-la para nós (Mt 16.17). Mas nós devemos esclarecer que a teologia arminiana não é ortodoxa em suas visões da graça, desde que ela não tem suporte bíblico do qual falar. (Obviamente uma destas posições pode ser verdade, então uma ou outra é ortodoxa). Mas sua inconsistência é tal que eu acredito que a maioria são crentes sinceros. Por exemplo, aquilo que o arminiano afirma junto conosco, que eles justamente merecem a ira de Deus, salvo pela misericórdia de Jesus Cristo apenas, significa que talvez nós precisamos dar a eles algum amparo. Mas nós nunca deveríamos afrouxar ou se cansar de desafiá-los a verem o problema profundo em sua teologia da graça, desde que Deus tem esclarecido abundantemente que ele nos salva pela graça apenas. 

Considere: ao grau que nós pensamos pensamentos errados sobre Deus e como ele nos salva, àquele mesmo grau nós somos culpados da idolatria, e nisto Deus não se agrada. Então nós devemos declarar tal visão da graça ineficaz ser errada, mas ao mesmo tempo, vê-la como uma batalha acontecendo dentro do campo. É sério o suficiente justificar um debate feroz que pode continuar até o fim da era porque a ideia da graça preveniente é realmente apenas em menor grau o mesmo erro como o semi-pelagianismo (isto é, sinergista; que a fé é produzida por nossa natureza humana não-regenerada) e ainda dá ao homem tanta esperança nele mesmo e em suas próprias habilidades naturais. Do crente verdadeiro, Paulo diz que eles adoram em Espírito, glória em Cristo Jesus apenas e não tem confiança na carne (Fl 3:3).

Minha oração pela igreja universal é que todos nós estejamos em unidade da verdade como Deus tem revelado para nós e que a teologia que desonra a Deus, de onde quer que ela possa vir, seja pisoteada.

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Fonte: Monergism
Tradução: Francisco Alison Silva Aquino
Divulgação: Bereianos

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