Isvonaldo sou Protestante

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sexta-feira, 17 de janeiro de 2014


 

Por Kevin L. DeYoung


Porventura não é a mensagem pregada em centenas de nossas igrejas simplesmente esta: Deus nos criou à sua imagem; por causa da queda somos por natureza filhos da ira; abandonados à nossa própria sorte não podemos comparecer diante de um Deus santo; merecemos ser punidos por ofender a esse Deus; porém, em amor, Deus enviou seu Filho para carregar os nossos pecados e enfrentar a pena que nós merecíamos; a ira de Deus foi derramada sobre Jesus e a justiça de Jesus foi imputada a nós pela fé - não é isso o evangelho? 

Posso encontrar inúmeras passagens nas Escrituras em que somos ensinados, explícita ou implicitamente, que a ira de Deus foi dirigida a Jesus na cruz. Podemos pensar na Páscoa em Êxodo 12. A substituição penal está no cerne da Páscoa - Deus derramou a sua ira sobre o cordeiro sacrificado no lugar de seu povo. Certamente, essa linha de pensamento está presente no Evangelho de João, quando João Batista confessa a respeito de Jesus: "Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!" (Jo 1.29). Também vejo a ira de Deus derramada sobre Jesus prefigurada no ritual do Dia da Expiação de Levítico 16. Além disso, Isaías 53 pungentemente fala do mesmo tema. Jesus, como o Servo Sofredor, foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades. Foi da vontade do Senhor esmaga-lo, derramando sua ira sobre seu servo. 

Do mesmo modo, Marcos 10.45 ensina que Jesus deu a sua vida em resgate por muitos. Esse resgate foi pago, não a Satanás, como alguns teólogos medievais erradamente ensinaram, mas a Deus Pai como um suave aroma e sacrifício a ele (Ef 5.2). Em Marcos 10.38 Jesus perguntou aos seus discípulos"Podeis vós beber o cálice que eu bebo?" E no Getsêmani, Jesus rogou ao seu Pai, "passa de mim este cálice" (Mc 14.36). Sem dúvida Jesus estava pensando em passagens como o Salmo 75.8; Isaías 51.17; Jeremias 25.15,16. Ezequiel 23.32-34; e Habacuque 2.16, todas as quais falam sobre beber o cálice da ira de Deus. João 3.14-18 ensina que Deus enviou seu Filho para ser levantado na cruz (como a serpente levantada no deserto, salvou o povo do julgamento de Deus) para que a ira de Deus não permanecesse sobre quem cresse. Romanos 3.21-26 ensina que Cristo foi apresentado como um sacrifício de expiação (literalmente "propiciação"; veja a obra clássica de Leon Morris The Apostolic Preaching of the Cross, que estabelece que hilasterion refere-se a propiciação, contrariando C. H. Dodd) desviando a ira de Deus pelo fato de sofrer em nosso lugar como nosso substituto. Romanos 5.8,9 argumenta que Cristo morreu por nós quando éramos inimigos de Deus, para que ser salvos por ele da ira de Deus. Gálatas 3.13 diz que Cristo se fez maldição por nós, suportando a pena que nós merecíamos como infratores da lei. Primeira João 4.10 ensina que Deus enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados (veja também 1Jo 2.2; Hb 2,17). E assim por diante. 

Não há nada mais importante na teologia cristã do que a nossa teologia da cruz. Devemos dizer claramente que o cerne do evangelho é a boa notícia da autossatisfação divina mediante a autossatisfação divina. Nunca abra mão da cruz. Nunca dilua a mensagem da cruz. E nunca pare de se gloriar na cruz onde Cristo aceitou as sanções que deveriam cair sobre nós, a fim de que possamos reivindicar as bênçãos que de outro modo pertenciam somente a ele. 

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Fonte: DEYOUNG, Kevin L. As Boa novas que quase esquecemos, pp 42-44,  São Paulo: Cultura Cristã, 2013.

Nota do Editor: O título referido não se encontra no livro. Tal titulo foi adaptado de uma frase, escrita por um pastor da igreja do Kevin, que apresenta uma descrença da ira de Deus sobre Jesus por causa de nossos pecados. Tal frase reza assim: "Na verdade eu não encontro lugar algum na própria Escritura que fala da ira de Deus sendo dirigida a Jesus na cruz."

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