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Quem assistiu o filme “Advogado do Diabo” provavelmente se lembra do pecado predileto do príncipe dos demônios: a vaidade. O autor de Eclesiastes sabia muito bem dos perigos que a vaidade trás consigo, e não à toa sua fórmula “tudo é vaidade”, repetida diversas vezes ao longo do livro, tornou-se célebre até os dias atuais. Afinal de contas, quem está imune ao envaidecimento? O próprio Jesus foi tentado por Satanás nesta área, e não por acaso. Satanás conhece muito bem o tendão de aquiles do ser humano. Mas Jesus não caiu na mesma tentação na qual tantos de nós caímos.
A vaidade está muito além da preocupação com a aparência física. Quando ela se instala em nossos corações, torna-se um pecado que cresce dentro de nós sorrateiramente, aproveitando-se de nossas conquistas e sucessos para nos fazer imergir na ilusão de que somos ou temos alguma coisa proveniente de nós mesmos. Não demora muito para que outros pecados como o orgulho e a soberba nos sobrevenham, afastando-nos mais e mais da dependência da graça de Deus e empurrando-nos para um sentimento de autossuficiência diabólico.
Conta-se que certa vez, ao ser elogiado por um sermão pregado, Spurgeon teria respondido que o Diabo o elogiara da mesma maneira instantes antes. Certamente o príncipe dos pregadores sabia do risco que corria. Dentro do ser humano decaído passou a habitar a semente do auto-engradecimento, que se regada apenas um pouco tende a crescer com muita facilidade.
A prova dessa conclusão está patente nos tantos exemplos de homens e mulheres proeminentes no meio evangélico que passaram por uma nítida transformação em seus posicionamentos e postura, especialmente ao criticar outros irmãos ou denominações. A humildade e mansidão deram lugar à altivez e agressividade em muitos púlpitos e palcos. Nós, que estamos “aqui embaixo”, ficamos a nos perguntar como um cristão pode mudar tanto, mas temos de reconhecer que a maioria de nós agiria exatamente da mesma maneira se estivéssemos no lugar deles.
Por vezes dentro das igrejas prevalece a luta pelo poder, e se você, leitor, já se envolveu com liderança alguma vez, sabe muito bem o que estou dizendo. A motivação para ocupar cargos eclesiásticos, para muitos crentes, não é servir, mas ser servido, visto e respeitado. Lamentavelmente, estes estão mais preocupados com sua imagem diante dos demais membros do que em cumprir efetivamente o papel que lhes cabe. E, assim, muitos líderes acabam por centralizar tudo em torno de si, a ponto de boicotar irmãos que possam, de alguma forma, ameaçar sua reputação. Tentam matar seus liderados veladamente, fazendo-nos lembrar da perseguição que Saul empreendeu contra Davi motivado unicamente por ciúme e inveja, pecados também atrelados ao da vaidade.
Não é fácil ser humilde e reconhecer-se como dependente da graça de Deus quando somos bem sucedidos. O envaidecimento nos vem discretamente, e cresce a cada elogio que recebemos. Por isso, devemos ser cuidadosos sempre que as conquistas e vitórias vierem, pois o sucesso, bem mais que o fracasso, pode trazer risco à nossa espiritualidade, fazendo-nos pensar que somos alguma coisa, “porque, se alguém cuida ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo” (Gl 6:3). O Diabo até pode ser ardiloso e sagaz, mas não precisa de muitos recursos além de nossa natureza já inclinada ao pecado para nos fazer enveredar por um caminho de autodestruição, porque “o dia do Senhor dos Exércitos será contra todo o soberbo e altivo, e contra todo o que se exalta, para que seja abatido” (Is 2:12).
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Sobre o autor: Renato César é cristão reformado, formado em administração de empresas e teologia, membro da IPB - Fortaleza/CE. Contatos: renatocesarmg@ hotmail.com
Divulgação: Bereianos
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Sobre o autor: Renato César é cristão reformado, formado em administração de empresas e teologia, membro da IPB - Fortaleza/CE. Contatos: renatocesarmg@
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