Isvonaldo sou Protestante

Isvonaldo sou Protestante

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014


 

por R.C. Sproul


Um dos momentos mais dramáticos em minha vida, na formação de minha teologia, ocorreu em uma sala de aula de um seminário. Um de meus professores foi ao quadro negro e escreveu estas palavras em letras garrafais:

A regeneração precede a fé

Aquelas palavras foram um choque para o meu sistema. Eu tinha entrado no seminário crendo que a obra principal do homem para efetivar o novo nascimento era a fé. Eu pensava que nós tínhamos que primeiro crer em Cristo, para então nascermos de novo. Eu uso as palavras "para então" aqui por uma razão. Eu estava pensando em termos de passos que deviam ocorrer em uma certa seqüência. Eu colocava a fé no princípio. A ordem parecia algo mais ou menos assim:

"Fé - novo nascimento - justificação."

Eu não tinha pensado sobre esse assunto com muito cuidado. Nem tinha atentado cuidadosamente às palavras de Jesus a Nicodemus. Eu presumia que mesmo sendo um pecador, uma pessoa nascida da carne e vivendo na carne, eu ainda tinha uma pequena ilha de justiça, um pequeno depósito de poder espiritual remanescente em minha alma para me capacitar a responder ao Evangelho sozinho. Possivelmente eu tinha sido confundido pelo ensino da Igreja Católica Romana. Roma, e muitos outros ramos do Cristianismo, tem ensinado que a regeneração é graciosa; ela não pode acontecer aparte da ajuda de Deus.

Nenhum homem tem o poder para ressuscitar a si mesmo da morte espiritual. A divina assistência é necessária. Esta graça, de acordo com Roma, vem na forma do que é chamado graça preveniente. "Preveniente" significa que ela vem antes de outra coisa. Roma adiciona a esta graça preveniente o requerimento de que devemos "cooperar com ela e assentir diante dela", antes que ela possa atuar em nossos corações.

Esta concepção de cooperação é na melhor das hipóteses uma meia verdade. Sim, a fé que exercemos é nossa fé. Deus não crê por nós. Quando eu respondo a Cristo, é a minha resposta, minha fé, minha confiança que está sendo exercida. O assunto, contudo, se aprofunda. A questão ainda permanece: "Eu coopero com a graça de Deus antes de eu nascer de novo, ou a cooperação ocorre depois?" Outro modo de fazer esta pergunta é questionar se a regeneração é monergista ou sinergista. Ela é operativa ou cooperativa? É eficaz ou dependente? Algumas destas palavras são termos teológicos que requerer maior explanação.

Monergismo e Sinergismo

Uma obra monergística é uma obra produzida por uma única pessoa. O prefixo mono significa um. A palavra erg refere-se a uma unidade de trabalho. Palavras como energia são construídas com base nessa raiz. Uma obra sinergística é uma que envolve cooperação entre duas ou mais pessoas ou coisas. O prefixo sun significa "juntamente com".

Eu faço esta distinção por uma razão. O debate entre Roma e Lutero foi travado sobre este simples ponto. A questão era esta: A regeneração é uma obra monergística de Deus ou uma obra sinergística que requer cooperação entre homem e Deus? Quando meu professor escreveu "A regeneração precede a fé" no quadro negro, ele estava claramente tomando o lado da resposta monergística. Depois de uma pessoa ser regenerada, esta pessoa coopera pelo exercício de sua fé e confiança. Mas o primeiro passo é a obra de Deus e de Deus tão-somente.

A razão pela qual não cooperamos com a graça regeneradora antes dela agir sobre nós e em nós é que nós não podemos. Não podemos porque estamos mortos espiritualmente. Não podemos assistir o Espírito Santo na vivificação de nossas almas para a vida espiritual, da mesma forma que Lázaro não podia ajudar Jesus a ressuscitá-lo dos mortos.

Quando comecei a lutar com o argumento do Professor, fiquei surpreso ao descobrir que o estranho som de seu ensino não era novidade. Agostinho, Martinho Lutero, João Calvino, Jonathan Edwards, George Whitefield - até o grande teólogo medieval Tomás de Aquino ensinaram esta doutrina. Tomás de Aquino é o Doctor Angelicus da Igreja Católica Romana. Por séculos seu ensino teológico era aceito como dogma oficial pela maioria dos Católicos. Então, ele era a última pessoa que eu esperava sustentar tal visão da regeneração. Todavia Aquino insistiu que a graça regeneradora é uma graça operante, e não uma graça cooperativa. Aquino falou da graça preveniente, mas ele falou de uma graça que vem antes da fé, que é a regeneração.

Estes gigantes da história Cristã derivaram a visão deles das Sagradas Escrituras. A frase chave na Carta de Paulo aos Efésios é esta: "estando nós ainda mortos em nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)" (Efésios 2:5). Aqui Paulo localiza o tempo em que a regeneração ocorre. Ela ocorreu "quando estávamos ainda mortos". Com um único raio de revelação apostólica foram esmagadas, total e completamente, todas as tentativas e entregar a iniciativa na regeneração aos homens. Novamente, homens mortos não cooperam com a graça. A menos que a regeneração ocorra primeiro, não há possibilidade de fé.

Isso não diz nada de diferente do que Jesus disse a Nicodemus. A menos que um homem nasça de novo primeiro, ele não pode ver ou entrar no reino de Deus. Se nós cremos que a fé precede a regeneração, então nós colocamos nossos pensamentos, e, portanto, nós mesmos, em direta oposição não só aos gigantes da história Cristã, mas também ao ensino de Paulo e do nosso próprio Senhor Jesus Cristo.

(do livro, O Mistério do Espírito Santo, Tyndale House, 1990)

Meu Comentário:

Outras passagens na Bíblia que claramente ensinam que a regeneração precede a fé:

1 João 5:1 - "Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, é o nascido de Deus; e todo aquele que ama ao que o gerou, ama também ao que dele é nascido.", João 1:13, Rom 9:16

João 6:63,65 "O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida. E continuou: Por isso vos disse que ninguém pode vir a mim, se pelo Pai lhe não for concedido".

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Fonte: Monergism
Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 18 de Março de 2003.
Via: Monergismo

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

 

por John Hendryx


Tendo Deus ressuscitado o seu Servo, enviou-o primeiramente a vocês, para abençoá-los, convertendo cada um de vocês das suas maldades” (Atos 3:26).

Uma pessoa só pode receber o que lhe é dado dos céus” (João 3:27) .

Freqüentemente me pego debatendo com cristãos que acreditam que homem e Deus têm papéis iguais na regeneração (sinergistas) e que nossa escolha é o sine qua non do novo nascimento. Eles argumentam que Deus dá a todos a graça preveniente, mas o homem pode exercer seu livre-arbítrio autônomo para fazer a graça eficaz. Estes cristãos ensinam que o homem escolhe a Cristo apesar de seus desejos e isso é o que faz sua vontade livre. Escolher algo diferente de seus desejos constitui verdadeira liberdade para eles, já que a liberdade está acima e é independente de todas as outras influências. Mas é isto o que a Bíblia ensina? 

O primeiro alvo deste texto é provar pelas Escrituras que nós sempre escolhemos o que nós queremos (desejamos) mais e que isso é baseado em nossa natureza. Nós escolhemos alguma coisa porque nós a desejamos. Em outras palavras, nós acreditamos em Jesus porque nosso desejo por Cristo se torna maior que nosso desejo pelo pecado. O segundo alvo é explorar de onde esse desejo vem. Ele vem de nossa natureza degenerada (como os sinergistas crêem) ou ele é um dom incondicional de Deus? Meus amigos sinergistas dizem que, utilizando a graça de Deus, apesar de nossos desejos, nossa vontade autônoma definitivamente determinará nosso destino final. Eu argumentarei porque essa posição é fatal para seu sistema teológico inteiro. 

Nós Escolhemos O Que Nós Desejamos Mais 

Vamos começar com alguns textos bíblicos que ensinam que nossa natureza determina nossos desejos e nossos desejos determinam nossas escolhas. Cristo diz:

O homem bom tira coisas boas do bom tesouro que está em seu coração, e o homem mau tira coisas más do mal que está em seu coração, porque a sua boca fala do que está cheio o coração” (Lucas 6:45).

O que Jesus diz aqui é claro – a água não corre contra a correnteza. Nossa decisão de dizer algo bom ou ruim é somente determinada pela condição de nosso coração. Há uma grande evidência para o mesmo conceito em Mateus 7:18. 

A árvore boa não pode dar frutos ruins, nem a árvore ruim pode dar frutos bons”.

Aqui, Jesus está ensinando que é a natureza da árvore que determina o que virá dela. Somente aquele que tem uma boa natureza é capaz de criar um pensamento correto, gerar uma afeição correta, ou originar uma volição correta. Jesus martela novamente o mesmo conceito nos judeus incrédulos, quando discute se eles são ou não descendentes de Abraão: 

Por que a minha linguagem não é clara para vocês? Porque são incapazes de ouvir o que eu digo. Vocês pertencem ao pai de vocês, o Diabo, e querem realizar o desejo dele. Ele foi homicida desde o princípio e não se apegou à verdade, pois não há verdade nele. Quando mente, fala a sua própria língua, pois é mentiroso e pai da mentira (...) Aquele que pertence a Deus ouve o que Deus diz. Vocês não o ouvem porque não pertencem a Deus”. (João 8:43,44,47)

Na passagem acima, os judeus não puderam ouvir a palavra de Deus porque eles pertenciam ao diabo (suas naturezas) e isso aumentou suas vontades de fazer o que desejavam. Suas naturezas os tornaram moralmente impotentes para ouvir as palavras de Jesus. Mais tarde, Jesus ensina que antes de alguém ouvir as palavras de Deus, ele deve ser de Deus. Em outras palavras, uma pessoa não entenderá o evangelho enquanto permanecer em seu estado não-regenerado e decaído.

Deus Exige Perfeição 

Na história do jovem rico, Jesus o ensina que se ele obedecer todos os mandamentos, ele terá a vida eterna. Todos nós sabemos que esta história foi contada para expôr nossa inabilidade de cumprir tudo isso. Mas o jovem (equivocadamente) confiava que ele guardou tudo desde sua juventude. Jesus, conhecendo seu coração e onde ele vacilaria, ordena que o rapaz venda todas suas posses, dê aos pobres e o siga. Em outras palavras, Jesus lhe disse que o arrependimento de sua ganância e a fé em Cristo eram onde ele ainda falhava. Mas ele se afastou entristecido. Jesus então diz a seus discípulos que é mais difícil que um homem rico entre no Paraíso que um camelo passar por um buraco de agulha. “Quem então poderá ser salvo?”, os discípulos perguntam, sabendo que Jesus está dizendo que o caminho para o céu está fechado a todos os homens – um padrão santo que ninguém poderia alcançar. A resposta que Jesus dá é “Para o homem é impossível [arrependimento e fé], mas para Deus todas as coisas são possíveis”. A natureza do jovem não poderia se colocar acima de seus desejos e Jesus diz que isso é impossível para todos os homens. Apenas Deus tem a capacidade de fazer isto. A Bíblia é recheada com exemplos assim. É realmente um mito que o homem em seu estado natural está genuinamente buscando a Deus. Homens podem procurar um deus, mas eles não procuram o verdadeiro Deus, revelado nas Escrituras. Exceto pelo novo nascimento, ninguém vem à luz do verdadeiro Deus, mas suprimi a verdade pela injustiça. 

A Bíblia, por esta razão, ensina além de qualquer dúvida que nós agimos ou escolhemos de acordo com nosso maior desejo, que é baseado é nossa natureza. Jesus, como notamos acima, ensina que é impossível ser de outra forma. Mais ainda, como uma conseqüência da morte física de Adão e seus descendentes (Gn 2:17) existem muitos outros problemas com a natureza do homem em seu estado decaído, incluindo sua incapacidade de entender Deus (Salmos 50:21; Jó 11:7,8; Rm 3:11); ver coisas espirituais (Jo 3:3); conhecer seu próprio coração (Jr 17:9); direcionar os próprios passos no caminho da vida (Jr 10:23; Pv 14:12); libertar a si mesmo da maldição da Lei (Gl 3:10); receber o Espírito Santo (Jo 14:17); nascer por si só na família de Deus (Jo 1:13; Rm 9:15,16); produzir arrependimento e fé em Jesus Cristo (Ef 2:8,9; Jo 6:64.65; 2 Ts 3:2; Fp 1:29; 2 Tm 2:25); ir a Cristo (Jo 10:26; Jo 6:44); e agradar a Deus (Rm 8:5,8,9). Estas conseqüências da desobediência de Adão em seus descendentes são o que os teólogos freqüentemente se referem como a total depravação do homem. Sem uma mudança de disposição, o amor de Deus e Sua lei não é a mais profunda motivação e princípio do homem natural. 

O Que Tudo Isso Tem a Ver com João 3:16?

Sinergistas freqüentemente me dizem: “Predestinacionistas acreditam em um Deus que requer mais do que Ele capacita ou permite os homens alcançarem. Este é o tipo de Deus em quem eles acreditam”. Nisto eles estão parcialmente corretos, mas a falha está no homem, não em Deus... porque a natureza de Deus nunca mudou, mas a nossa muda. A Lei de Deus é perfeita porque Ele é perfeito. Ele não pode diminuir Seus padrões por nós ou Ele não mais seria Deus. Por esta razão, Deus teve um propósito específico em exigir perfeição moral em nós e isso inclui o mandamento de crer em Cristo. 

Declarações bíblicas como “se tu o buscares” e “todo aquele que nele crer” como em João 3:16 estão num modo hipotético. Um gramático explicaria que há uma declaração condicional, que não expressa nada de forma indicativa. Nesta passagem o que nós “deveríamos” fazer não implica necessariamente que nós “podemos” fazer. Os dez mandamentos, da mesma forma, falam do que nós deveríamos fazer mas eles não implicam que nós temos a habilidade moral de cumprí-los. Os mandamentos de Deus nunca serviram para nos fortalecer, mas para arrancar nossa confiança em nossas próprias capacidades de tal forma que seria o fim de nós mesmos. Com uma clareza pungente, Paulo ensina que este é o intento da legislação divina (Rm 3:20, 5:20; Gl 3:19,24). Se alguém está tentado a argumentar que essa crença é meramente um convite, e não um mandamento, leia 1 João 3:23: “E este é o seu mandamento: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo...”. Então, eu creio que aqueles que sustentam a idéia de que Deus ordena aos homens decaídos e não-regenerados a fazerem algo que já são capazes de fazê-lo estão impondo uma teoria antibíblica no texto. Um mandamento ou convite com uma afirmação abertamente hipotética, como João 3:16 faz não implica na capacidade de cumpri-lo. Isto é especialmente verdadeiro à luz de textos como Jo 1:13, Rm 9:16, Jo 6:37, 44, 63-65, Mt 5:16-16, 1 Co 2:14 e muitos outros que mostram a incapacidade moral do homem no estado decaído em crer no Evangelho. Em nossa natureza não-regenerada nós não podemos fazer nada a não ser amar as trevas e nunca nos aproximarmos da luz.

Na Cruz Deus Nos Dá o que Ele Exige de Nós

Como isso pode ser boa-nova se os homens nunca se encontrarão naturalmente desejando se submeter em fé aos humilhantes termos do Evangelho de Cristo? (Rm 3:11; Jo 6:64,65; 2 Ts 3:2). Porque Deus nos deu graciosamente o que Ele exige de nós. No evangelho, Deus nos revela a mesma justiça e fé que Ele exige de nós. O que nós deveríamos ter, mas não poderíamos criar ou alcançar ou cumprir, Deus nos garante livremente, como é chamada, a justiça de Deus (2 Co 5:21) e a fé de Cristo. Ele revela, como um dom em Cristo Jesus, a fé e a justiça que antes era somente uma exigência. Fé não é algo com que o pecador contribui para pagar o preço de Sua salvação. Jesus já pagou todo o preço por nós. Fé é nosso primeiro fôlego na respiração de nosso novo nascimento, antes de falar. É uma testemunha da obra da graça de Deus que tomou seu lugar dentro de nós (Ef 2:5,8; 2 Tm 2:25).

Romanos 3:11,12 diz “não há ninguém que busque a Deus, ninguém” e 1 Co 2:14 diz que o homem natural não consegue entender as coisas do Espírito, que são loucura para ele e não é possível que sejam aceitas porque devem ser discernidas espiritualmente. Mesmo Pedro teve de ser revelado pelo Pai que Jesus era o Cristo. Os arminianos e nós concordamos que “todo aquele que crer” tem a vida eterna, mas a questão vai além disso – o que leva alguém a crer?

C.H. Spurgeon, em seu sermão Incapacidade Humana expõe isso com grande clareza:

"Oh", diz o Arminiano, "os homens podem serem salvos se quiserem." Nós replicamos: "Meu querido senhor, todos nós cremos nisto; mas é precisamente no se eles quiserem onde está a dificuldade. Afirmamos que ninguém quer vir a Cristo, a menos que ele seja trazido; pelo contrário, nós não afirmamos isto, mas o próprio Cristo o declara: "Mas não quereis vir a mim para terdes vida"; e enquanto este "não quereis" permanecer registrado na Santa Escritura, não seremos inclinados a crer em qualquer doutrina da liberdade da vontade humana. É estranho como as pessoas, quando falam sobre o livre-arbítrio, discutem de coisas que eles não tem nenhum entendimento. "Ora", diz alguém, "eu creio que os homens podem ser salvos se eles quiserem." Meu querido senhor, de modo algum é esta a questão. A questão é: os homens alguma vez são encontrados naturalmente dispostos a submeterem-se aos termos humilhantes do evangelho de Cristo? Declaramos, sob a autoridade das Escrituras, que o homem está tão desesperadamente em ruína, tão depravado, e tão inclinado a tudo o que é mal, e tão oposto a tudo o que é bom, que sem a poderosa, sobrenatural e irresistível influência do Espírito Santo, nenhum ser humano quererá jamais ser constrangido para Cristo. Você replica, que os homens algumas vezes estão desejosos, sem a ajuda do Espírito Santo. Eu respondo: Você encontrou alguma vez alguma pessoa que estivesse?

Eu argumentaria que este é o porquê de Jesus enfatizar o novo nascimento durante toda a passagem de João 3. Nicodemos não podia entender a linguagem de Jesus: “O que nasce da carne é carne, mas o que nasce do Espírito é espírito”. Assim como somos passivos em nosso nascimento físico, também no nascimento espiritual o somos. Nós não participamos ativamente de qualquer nascimento com nossos esforços. O Espírito é semelhante ao vento nesta passagem, que não se sabe se está indo ou vindo – assim é todo aquele nascido em espírito. O trabalho do Espírito é soberano e sobrenatural. Assim como um cego não enxergará se você lançar uma luz nos seus olhos, ordenando a ele tudo que você quiser. Não é de luz que ele precisa, mas de um novo par de olhos. É assim que o novo nascimento parece. Antes da regeneração, Satanás nos tornou cativos de sua vontade. Ele nos cegou para a verdade. Nós devemos ser libertos de nossos próprios desejos e o cativo somente é completamente livre pelo dedo de Deus através do trabalho final de Cristo.

Em João 3:19-20, no mesmo contexto de 3:16 (três versos depois), Jesus qualifica Seu “todo aquele que crê” com a seguinte afirmação: “Este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram as trevas, e não a luz, porque as suas obras eram más. Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, temendo que as suas obras sejam manifestas”. (Isto é para todos nós anterior à regeneração)

Mas todos nós sabemos que alguns virão para a luz. Leia o que João 3:20-21 diz sobre eles. “Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que seja manifesto que as suas obras são feitas em Deus”. Então, veja que existe aqueles que vêm para a luz; e suas obras são o trabalho de Deus. “Feitas em Deus” significa trabalhado em e por Deus. A não ser pelo gracioso trabalho divino de regeneração, todos os homens odeiam a luz de Deus e não irão até ela.

Ao invés de balançar nossas cabeças para o versículo que se encaixa em nosso sistema particular de teologia, nós devemos interpretar escritura com escritura, especialmente no contexto da passagem. Agora que nós vimos João 3 por completo, o verdadeiro significado do texto se torna claro. João 1:10-12 é também um dos favoritos dos sinergistas quando anunciam o evangelho:

Ele estava no mundo, e o embora mundo tenha sido feito por intermédio dele, o mundo não o reconheceu. Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus”.

Grande passagem, eu também adoro usar estes versos, mas nós não podemos parar aqui. Nós precisamos reconhecer que devemos adicionar a qualidade do verso 13:

os quais não nasceram por descendência natural, nem pela vontade da carne nem pela vontade de algum homem, mas nasceram de Deus” (João 1:13).

Eu acho estranho muitos deixarem esse versículo de fora de sua evangelização: todos os versículos caminham juntos. Isso repete um tema constante nas Escrituras: que nós somos ordenados a nos arrepender e crer no evangelho, mas adicionalmente, que nós somos moralmente incapazes de fazer tanto sem o eficaz trabalho do Espírito Santo. A oferta de “todo aquele que nele crer” é para todos os homens e verdadeiramente oferecida a todos os homens, mas nenhum homem natural deseja a Deus. TODOS rejeitam este dom, mas o que nós não podemos fazer por nós mesmos, Deus faz por nós. Aqueles que vêm a Deus dão glórias a Ele porque Ele tem preparado seu coração, dando-lhes um desejo por Cristo que é maior que o desejo de permanecer no pecado. Isto é o que Ele fez por Lídia através da pregação de Paulo, no livro de Atos: “O Senhor abriu seu coração para atender à mensagem de Paulo”. O que aconteceu a Lídia é o que acontece a todo aquele que vem para a fé em Cristo. Se o Senhor abrir nosso coração, nós desejaremos crer, e nenhuma resistência existe, porque nós não desejaremos resistir. Nossas novas naturezas vivificadas pelo Espírito Santo têm novos desejos e disposições, que não poderíamos produzir por nós mesmos. Se o Senhor abriu o coração de Lídia para ela atender à mensagem e ela resistisse, isto seria uma afirmação contraditória. Note que Deus abriu seu coração para “atender à mensagem”. Se Deus desarmou a hostilidade de Lídia de forma que ela creria, então não deveria haver mais debates de como Ele faz com todos aqueles que têm fé. Apesar do fato de nós termos uma crença real em nós mesmos, pelo esquema sinergista, no entanto, o homem volta sua afeição e fé para Deus enquanto ainda está em sua caída e degenerada condição de coração petrificado. Mas o homem deve primeiro ter uma nova natureza para crer – ou seja, a Escritura ensina que o homem sem o Espírito não deseja, entende, tampouco é capaz de obedecer ou se voltar a Deus (1 Co 2:14, Rm 8:7, Rm 3:11). Se nós iremos acreditar, Deus deve primeiramente transformar nosso coração de pedra em um coração de carne:

Darei a vocês um coração novo e porei um espírito novo em vocês; tirarei de vocês o coração de pedra e lhes darei um coração de carne. Porei o meu Espírito em vocês e os levarei a agirem segundo os meus decretos e a obedecerem fielmente às minhas leis” (Ezequiel 36:26,27).

Os sinergistas acreditam que o grande desejo por fé, pelo qual nós creremos no Deus que justifica pecadores, pertence a nós por natureza e não por um dom da graça, que está, pela inspiração do Espírito Santo, aumentando nossa vontade e tirando ela da descrença para fé e da falta de Deus para Deus. Mas o Apóstolo Paulo diz: “Estou convencido de que aquele que começou boa obra em vocês, vai completá-la até o dia de Cristo Jesus” (Fl 1:6). E novamente, “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus” (Ef 2:8). Pior ainda, os sinergistas ensinam que Deus tem misericórdia de nós quando, a partir da graça regeneradora, nós acreditamos, queremos e desejamos, mas não confessam que é através do trabalho e inspiração do Espírito Santo em nós que teremos a fé, a vontade ou força para fazer todas estas coisas. Se eles fazem a ajuda da graça depender de nossa humildade ou obediência, mas não concordam que é um dom da própria graça que nós sejamos obedientes e humildes, eles contradizem a Bíblia, que diz “O que você tem que não tenha recebido?” (1 Co 4:7) e “Mas, pela graça de Deus, sou o que sou” (1 Co 15:10).

Então vamos perguntar a nossos amigos sinergistas porque um homem crê e outro não?

Pelo esquema arminiano, Deus dá ao homem graça suficiente para colocá-lo numa posição de decidir por si mesmo se irá ou não crer. Então um homem será mais inteligente, mais sábio e mais humilde? Se este fosse o caso, Deus nos salvaria com base na personalidade gerada por nós mesmos e não pela graça. Pergunte a eles como seus olhos se voltaram a Deus. Um homem usa a graça dada a ele e outro não. O que no homem determina sua escolha e por quê? Isso nos deixa com salvação pelo mérito, desde que um homem que tem pensamentos e afeições por Deus O escolhe enquanto o outro não. Não já provamos que as Escrituras ensinam que fazemos nossas escolhas baseados no que mais desejamos? Onde o homem conseguiu sabedoria e inclinação a Deus, enquanto o outro permaneceu endurecido? Como um homem criou um pensamento reto, afeição reta, ou originou volição reta? Se não veio de seus desejos, então veio de onde? As escolhas são baseadas no que nós somos. Um homem natural nunca escolheria a Deus por si mesmo sem a graça regeneradora. Então Deus sobrenaturalmente enxerta a obra regeneradora do espírito ao despertar a fé de Seus eleitos.

Então, porque alguns homens rejeitam a Deus?  

Resposta muito simples: Porque eles são malignos. “Ele fará uso de todas as formas de engano da injustiça para os que estão perecendo, porquanto rejeitaram o amor à verdade que os poderia salvar” (2 Ts 2:10). Eles odeiam a Deus e não O querem, como toda pessoa sem o Espírito. Cristo diz “vocês não crêem, porque não são minhas ovelhas”. Jesus claramente mostra que a natureza da pessoa determina as escolhas que faz. Ele não diz “vocês não crêem, por isso não são minhas ovelhas” . Não, Ele diz “vocês não são minhas ovelhas, (POR ISSO) vocês não crêem”. A Bíblia afirma claramente porque alguns crêem e outros não. Nossa natureza determina nossas escolhas. Descrença é conseqüência da maldade, segundo as Escrituras. Crer é conseqüência da misericordiosa mudança na disposição do coração (em direção a Deus) através da rápida ação do Espírito Santo. O esquema sinergista deixa cada pessoa decidir por elas mesmas enquanto ainda estão em sua natureza decaída. O homem em seu estado não-regenerado decide baseado em um princípio dentro dele. Nossa vontade por si só não é autônoma, mas controlada por quem somos naturalmente. Nós nunca escolhemos o que nós não queremos ou odiamos. Em nosso estado não-regenerado nós ainda somos hostis para com Deus, amamos as trevas e somos cegos pelo diabo, tomados cativos para fazer a vontade dele, e não desejamos ou queremos coisas espirituais.

Se a graça preveniente dos arminianos somente faz o coração neutro, como eles admitem, então o homem não é motivado nem desmotivado para crer ou descrer – conseqüentemente a única opção é pelo acaso que alguém creia ou não. Eles irão argumentar ardentemente contra isso mas não encontrarão outra alternativa bíblica. Nossa escolha, qual seja, é baseada em nosso caráter interior, não pelo acaso. Um homem escolhe e o outro não, porque um foi renovado pelo gracioso trabalho de Deus. Apenas isso dá toda glória a Deus pela salvação.

O Espírito dá vida; a carne não produz nada que se aproveite. As palavras que eu lhes disse são espírito e vida. Contudo, há alguns de vocês que não crêem” (...) E prosseguiu: "É por isso que eu lhes disse que ninguém pode vir a mim, a não ser que isto lhe seja dado pelo Pai” (João 6:63-65).

Concluindo, minha oração é que a igreja do século XXI finalmente aprenda a doutrina “somente pela graça” corretamente. Oh! Que nós entendamos a pobreza da condição do homem perdido e a glória da misericórdia e graça divinas, e que não nos preocupemos em proclamá-las. Acredito que percorreremos um longo caminho parar criarmos uma postura de adoração que dê completa honra a Deus, em que Seu povo terá pensamentos corretos sobre Ele e alcançará um estágio de verdadeiro reavivamento. Esta tem sido uma longa batalha desenhada através da História da igreja (Agostinho/Pelágio, Lutero/Erasmo, Calvino/Armínio, Wesley/Whitefield) mas eu permaneço muito otimista quanto ao futuro crescimento do reino de Deus.

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Tradução livre: Josaías Cardoso Ribeiro Jr.
Fonte: Monergismo
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sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

 

Por Renato César


Quem nunca presenciou dentro de ônibus, praças e até em avenidas de grande movimentação homens e mulheres pregando o evangelho em alta voz, enquanto os que por ali passavam faziam de conta que não ouviam? E quantas vezes nós, mesmo sendo cristãos, já nos sentimos incomodados?

Muitos crentes tentam forçosamente transportar os eventos que marcaram o início da Igreja para nosso contexto, na esperança de que talvez multidões, ou pelo menos uma pessoa, se converta com esse evangelismo compulsório, empurrando as boas novas orelha adentro de quem está próximo.

É claro que não se deve subestimar jamais os efeitos que a Palavra de Deus podem causar no coração daqueles que a ouvem, e é bem possível que pessoas deem atenção ao que estes evangelistas urbanos dizem e, por que não, venham a arrepender-se e crer em Cristo. Mas não é este o ponto do qual parte esta crítica.

Alguns objetam que os críticos dessa metodologia de evangelismo, por despeito ou na tentativa de justificar sua inércia, acabam por desqualificar essa prática e os que tentam obedecer ao “ide” de Jesus. Mas sabemos que a Bíblia é um todo e, assim como uma lei de nossos dias, não pode ser obedecida de forma fragmentada. Dessa forma, ao mesmo tempo que ela nos manda evangelizar, também nos adverte a não atirar pérolas aos porcos (Mt 7:6).

O evangelho é a mais valiosa mensagem que existe, e ofertá-lo insistentemente a quem o despreza é rebaixá-lo a um nível incompatível com seu valor. Como bem orientou Jesus a seus discípulos: “E, se ninguém vos receber, nem escutar as vossas palavras, saindo daquela casa ou cidade, sacudi o pó dos vossos pés” (Mt 10:14).

Mas o barateamento do evangelho não se restringe aos pregadores de rua. Ele invadiu muitos púlpitos de igrejas, mediante extensos apelos à conversão dos incrédulos ao fim dos sermões. A palavra apelo é mesmo adequada, pois o que se vê, em alguns casos, é uma verdadeira apelação, com uso de música de fundo para comover as almas perdidas e uma exaustiva repetição de convites ao arrependimento.

“Essa é a última chamada para conversão. Repetindo, última chamada. Jesus poderá vir amanhã, e você vai ficar. Aceite a Jesus antes que seja tarde demais. Pelo amor de Deus, alguém aí quer aceitar a Jesus?”. É isto que escuto nas linhas e entrelinhas quando me deparo com longos e apelativos convites à conversão.

Devemos reconhecer que por detrás dos apelos prolongados existe, não raro, a pressão para que pastores ou evangelistas angariem mais fiéis, pois o número de conversos é entendido como sucesso na pregação e resposta divina à fidelidade do pregador, além de servir de fundamento para a avaliação de ministérios pastorais e missionários.

Entretanto, nem a falta de conhecimento nem a pressão externa servem de justificativa para a desvalorização que se faz do evangelho, ofertando-o a quem não o quer receber, como se fôssemos nós mesmos capazes de persuadir alguém a crer ou mesmo os responsáveis por sua salvação/condenação.

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Sobre o autor: Renato César é cristão reformado, formado em administração de empresas e teologia, membro da IPB - Fortaleza/CE. Contatos: renatocesarmg@hotmail.com

Divulgação: Bereianos

DEUS AINDA CURA HOJE?

a-cura-do-cegoPor Renato Vargens
Eu creio que o Deus Eterno continua curando. O Deus revelado pelas Escrituras cura quem ele quer mediante o seu Eterno Poder. Eu creio num Deus poderoso! Eu acredito piamente naquele que sustenta o universo mediante a sua Palavra. Eu creio num Deus de milagres, aliás, eu creio em milagres.
Os Puritanos costumavam dizer que que o Senhor possui duas formas distintas de curar o doente, a primeira é intervindo sobrenaturalmente extirpando a enfermidade do moribundo, e a segunda é através da medicina e dos médicos.
Caro leitor, as Escrituras afirmam que o Senhor Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e o será sempre. (Hebreus 13:08) Além disso, a Palavra de Deus nos mostra que o Eterno é imutável. (Êxodo 3:14; Tiago 1:17; Malaquias 3:06)
Creio com todas as minhas forças que o Senhor cura hoje em resposta às orações de seu povo. Ora, na minha caminhada ministerial posso testemunhar inúmeras experiências onde depois da oração, Deus respondeu curando os enfermos. Eu mesmo já orei por pessoas doentes que ficaram boas, entretanto, sou obrigado a confessar que houveram situações de irmãos queridos que mesmo depois de intensa oração não foram curados de suas enfermidades.
Para ilustrar essas afirmações relato dois episódios distintos:
O primeiro aconteceu há aproximadamente dois anos quando fui convidado a orar por uma adolescente que em virtude de um câncer no intestino encontrava-se à beira da morte. Lembro que os médicos a haviam desenganado, afirmando que ela não teria mais de uma semana de vida. Recordo-me que depois de expor o evangelho àquela família, bem como anunciar Cristo a jovem, oramos a Deus pedindo que ele a curasse de seu mal. Para nossa alegria, alguns meses depois recebi a noticia que a menina, tinha levantado da cama, engordado 30 quilos e estava completamente curada de sua enfermidade. Aleluia! Coube a Deus pela sua misericórdia salvar aquela moça.
Doutra feita, fui convidado a orar por um querido amigo que se encontrava a beira da morte em virtude de um câncer no esôfago. Lembro que juntamente com a Igreja nos humilhamos perante o Senhor rogando que Ele o curasse de sua doença, todavia, coube ao Eterno não responder as nossas orações, levando o meu amigo para a Eternidade.
As Escrituras estão repletas de histórias de pessoas que pela graça e bondade de Deus foram curadas de suas enfermidades, como também de outras tantas que não tiveram as suas orações atendidas.
Diante disso talvez você esteja dizendo consigo mesmo: o que fazer diante da enfermidade? Devo orar clamando a Deus que cure o enfermo, ou devo me calar, entregando o destino do doente nas mãos do Senhor?
Veja bem, o poder de curar não está em nossas mãos, muito pelo contrário, o poder da cura está nas mãos do Poderoso Deus. Isto posto, julgo que o nosso papel é clamar a Deus para que Ele cure os enfermos, que opere milagres e faça com que o sobrenatural se manifeste na vida do moribundo, no entanto, vale a pena ressaltar que o fato de orarmos, não significa dizer que Deus seja obrigado a curar todos aqueles que tem sido alvos da nossa intercessão.
As Escrituras nos ensinam que Deus é Soberano e que independente da cura ou não de uma enfermidade Ele continua sendo Deus e portanto deve ser glorificado.
Isto posto, oremos com fé, clamemos com intrepidez, mais nos resignemos a vontade de Deus que sempre será boa, perfeita e agradável.
Naquele que tem todo poder,
Renato Vargens.
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Renato é colunista do Púlpito Cristão e escreve em seu blog pessoal. Divulgação: Púlpito Cristão.

 

Por Thomas Magnun


"O cão voltou ao seu próprio vômito, e a porca lavada ao espojadouro de lama." 2 Pedro 2:22

Ao observarmos todo desenvolvimento histórico da igreja cristã, é impossível não nos maravilharmos com o labor de homens e mulheres que dedicaram suas vidas ao Senhor da glória, e a ofereceram como sacrifício vivo ao Senhor. Quando nos debruçamos sobre a história dos mártires da fé e vibramos com o momento da reforma no século XVI, somos constrangidos a defendermos a fé que por herança nos foi dada. Mas, a situação do evangelicalismo moderno é completamente oposta.

No capitulo 2 da Segunda Epístola de Pedro observamos como o Apóstolo abordou o problema da heresia e dos falsos profetas na igreja primitiva. "E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição. E muitos seguirão as suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da verdade" (2 Pedro 2:1-2). O trecho que chama atenção principalmente por conta do nosso tempo é: "Introduzirão encobertamente heresias de perdição". O cristianismo moderno vive a mais absurda paganização já registrada na história, esse capítulo da segunda Epístola de Pedro nos leva a termos uma profunda certeza da palavra de Salomão: "O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol" (Eclesiastes 1:9).

Um evangelho misturado com budismo como o de David Yonggi Cho, ou com o induísmo de Benny Hinn, ou com as religiões afro de Edir Macedo, ou um evangelho psicologizado como o de Joyce Meyer ou o evangelho triunfalista de R.R Soares com suas bases em Kenneth Hagin, que esboçam tudo menos o evangelho da Escritura Sagrada. Claro que ouvimos muito por aí, mas, o Deus é um só, isso é o que importa, no entanto o Apóstolo Paulo não concorda com isso quando diz "Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema" (Gálatas 1:8-9). Ele simplesmente está dizendo que qualquer mensagem supostamente vinda de Deus que não é o evangelho da escritura, é amaldiçoado, isso mesmo, amaldiçoado!

Interessante notar que as igrejas evangélicas desprezaram não só a doutrina, mas a história e passaram a deleitarem-se em seus enganos, 2 Pedro 2:13. A riqueza desse mundo e suas cobiças são o alvo, a saúde, a prosperidade financeira, os milagres, as línguas, os dons. A igreja tem buscado tudo isso e soterrado o verdadeiro evangelho "Pois o que primeiramente lhes transmiti foi o que recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras" (1 Coríntios 15:3-4). Pedro continua a nos exortar "Os quais, deixando o caminho direito, erraram seguindo o caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o prêmio da injustiça" (2 Pedro 2:15). A cobiça de Balaão que recebia dinheiro para profetizar contra o povo de Deus, tem sido o retrato dos falsos profetas em toda a história. Trazendo uma mensagem de autoajuda, ou triunfo financeiro, dizendo que viver com Deus é ser rico, ou não sofrer, ou não adoecer, ou não passar por tragédias, no entanto a Bíblia diz "Estes são fontes sem água, nuvens levadas pela força do vento, para os quais a escuridão das trevas eternamente se reserva. Porque, falando coisas mui arrogantes de vaidades, engodam com as concupiscências da carne, e com dissoluções, aqueles que se estavam afastando dos que andam em erro, Prometendo-lhes liberdade, sendo eles mesmos servos da corrupção. Porque de quem alguém é vencido, do tal faz-se também servo" (2 Pedro 2:17-19).

Técnicas de marketing, técnicas de comunicação institucional, indução psicológica, legalismo, libertinagem, juntamente com uma boa análise ambiental, levam a tais falsários do evangelho a terem todo um cronograma de alcance do público alvo, estudando as estratégias, as metas e objetivos a serem alcançados com o estilo de reunião, e apontamentos das principais necessidades dos seus clientes. Ao fazermos um rápido estudo das escolas de comunicação de massa, identificaremos tais manipulações, o uso das mídias digitais, os testemunhos de sucesso financeiro e familiar, as reuniões com fins puramente empresariais e muitas outras coisas que identificamos com um rápido olhar. O paganismo moderno está nas igrejas evangélicas, com suas superstições. Campanhas com rosas, sal grosso, óleo ungido, culto da unção, a judaização de muitas denominações evangélicas históricas, são características desse mar de heresias.

"Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro. Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado; Deste modo sobreveio-lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz: O cão voltou ao seu próprio vômito, e a porca lavada ao espojadouro de lama." 2 Pedro 2:20-22.

Ao desprezar os princípios da reforma, ao blasfemarem do Santo Evangelho de Cristo, blasfemam do que não entendem e perecem na sua corrupção. Ao estarem presos nas redes do pós-modernismo com sua relativização e pluralização levam muitos ao erro. A Santa Escritura nos adverte "E clamou fortemente com grande voz, dizendo: Caiu, caiu a grande Babilônia, e se tornou morada de demônios, e coito de todo espírito imundo, e coito de toda ave imunda e odiável. Porque todas as nações beberam do vinho da ira da sua fornicação, e os reis da terra fornicaram com ela; e os mercadores da terra se enriqueceram com a abundância de suas delícias. E ouvi outra voz do céu, que dizia: Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas. Porque já os seus pecados se acumularam até ao céu, e Deus se lembrou das iniquidades dela" (Apocalipse 18:2-5). A Babilônia simboliza a falsa religião e tudo que ela acarreta, destruição. Há alguns anos quando evangelizávamos alguém podíamos dizer procure uma igreja perto da sua casa, hoje isso não ocorre mais. Esteja em uma igreja saudável, com uma teologia reformada, que preze pela suficiência da Escritura.

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- Sobre o autor: Thomas Magnum é Batista reformado (calvinista), Amante da escritura sagrada, leitor apaixonado da literatura reformada calvinista, graduando em jornalismo, mora em Recife e é casado com Kelly Gleyssy.

Divulgação: Bereianos
 

Por Felipe Cruz e Yago Martins


Debates teológicos se tornaram comuns com o advento da World Wide Web, tão comuns que se tornou inevitável muitos de nós estarmos envolvidos em algum debate com temas controversos. Por isso, decidimos catalogar seis maneiras de debater teologia para a glória de Deus. Nem de longe somos perfeitos nestas dicas, mas são nortes que tentamos alcançar sempre que estamos em uma nova conversa sobre a Palavra de Deus.

1. DEBATA PARA ENSINAR. A mensagem da Grande Comissão não acaba em fazei discípulos (Mt 28:19), mas continua com ensinar a obedecer tudo o que Cristo ordenou (Mt 28:20). Assim sendo, parte da Missão é ensinar a respeito das coisas que Cristo falou, o que inclui vários trechos sobre o modo como a salvação se dá. Todo debate que decorre do ensino da sã doutrina de Cristo faz parte da obediência à Grande Comissão, uma vez que estamos definindo e entendendo a respeito do que Jesus ordenou. Opor o debate teológico à prática missional é tentar separar o que nosso Deus sempre uniu. Ademais, perceber que um irmão está enganado por um erro teológico em um aspecto fundamental à fé Cristã e não fazer absolutamente nada é um ato de pecado (Tg 4:17). Muitos dizem ainda que teologia é desimportante porque a conversão é mais importante que ela, mas isso é o equivalente a dizer que crianças podem morrer de fome, uma vez que o parto é o que há de mais fundamental para elas. Tal afirmação é uma falsa dicotomia. Jesus, na Grande Comissão, ordena ambos e negar um dos dois é desonroso. Debater sem ter como expectativa edificar ao outro (Ef 4:29), não é debate, é bate-boca.

2. DEBATA PARA APRENDER. Todo debate é um ato recíproco e dialético. Se você debate sem nenhuma perspectiva de aprendizado, você está debatendo pelos princípios errados. Paulo recomendou que o ensino e o aconselhamento entre os irmãos acontecesse de forma mútua (Cl 3:16), o que significa que todos nós podemos aprender um pouco com aquele a quem estamos debatendo, por mais errado que ele pareça. Alguém disse certa vez que sempre podemos aprender algo novo com alguém, nem que seja colocando ao contrário tudo o que ele diz.

3. DEBATA PARA EVANGELIZAR. Um dos argumentos mais utilizados contra os debates é de que “ninguém vem a Deus por argumentos”. Esta afirmação é, no mínimo, prepotente em relação ao agir do Espírito Santo, uma vez que a apresentação do Evangelho possui argumentos. Além disto, é ignorante quanto a função de debates éticos e teológicos com aqueles que não conhecem a Cristo. Vários homens de Deus hoje foram salvos porque alguém se propôs a tirar suas dúvidas e arrazoar sobre questões difíceis da fé cristã. Em um ambiente universitário, por exemplo, este tipo de debate é útil para que o evangelho encontre um espaço propício para sua apresentação. Se considerarmos que Jesus constantemente estava pregando e lidando com as dúvidas das pessoas a respeito de vários temas (Reino de Deus, vida eterna, inferno, Lei, Sábado etc), ele estava debatendo enquanto buscava o perdido e debatendo com os que arrazoavam contra ele. Ao mesmo passo que Jesus pregava para as multidões Ele também debatia com os seus opositores, numa nítida demonstração de que uma coisa não exclui a outra, antes, se complementam. Ao debater de forma sincera não estamos fazendo outra coisa senão respondendo a todo aquele que nos pergunta qual a razão da nossa esperança (1Pe 3:15).

4. DEBATA PARA GERAR FRUTOS. Se os frutos representam o valor da árvore, os debates teológicos, como aqueles sobre “calvinismo e arminianismo”, são algumas das melhores árvores que já surgiram nos últimos anos em nossa nação. O número de vidas transformadas e avivadas em seus corações por ter começado a atentar à Palavra de Deus tendo como contato inicial um estudo mais profundo da Escritura neste tema, é incontável. Foi o que aconteceu conosco e com grande parte dos nossos familiares, amigos e conhecidos, além de um número tão grande de irmãos por todo o país que nem dá pra contar. De fato, muitos homens resolveram se dedicar às missões tendo como primeiro motivador desses debates. Estas discussões acabaram por salvar muitas almas, uma vez que levam muitos homens a estudar mais a Bíblia, logo a amar mais a Bíblia, logo amar mais levar a mensagem da Bíblia.

5. DEBATA PARA OBEDECER A BÍBLIA. A Bíblia está repleta de exemplos de homens que debateram: Jesus contra os fariseus, escribas e mestres da lei; Paulo contra os gentios e os judeus; Pedro contra os judeus que se opunham à mensagem da sã doutrina; Tiago, que escreve uma carta inteira para debater contra aqueles que estavam tentando judaizar a fé cristã, etc. Debater e declarar a verdade bíblica aos quatro ventos é condição sine qua non à pregação da sã doutrina. É inevitável que volta e meia o cristão se veja envolvido em algum debate, portanto, você não precisa se esquivar de todos eles. Apenas pratique-os de modo a glorificar o Cristo.

6. DEBATA PARA PROMOVER O AMOR. Ainda que a linguagem firme e as imprecações sejam até necessárias no trato com os piores hereges, nenhum debate deve ser motivo de maldições mútuas ou brigas entre irmãos em Cristo. Todo aquele que debate deve fazê-lo de acordo com o modo bíblico: com amor e longe de conversas inúteis, até mesmo quando refutam duramente as serpentes modernas. Se você vê que atualmente esse é um campo árido, seja você o primeiro a estar lá para colocar esse amor no devido lugar. Igrejas ruins ficarão piores se os bons membros saírem delas. A cultura de debate que está sendo construída na comunidade cristã brasileira só será cada vez mais desamorosa se os que vivem o amor bíblico se absterem das controvérsias. Para tanto: ame ao seu próximo como a si mesmo (Mt 22:39). Ainda que sejamos capazes de debater sobre todos os mistérios e sejamos dotados de todo o conhecimento, se não tivermos amor, nada seremos.

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Por Kevin L. DeYoung


Porventura não é a mensagem pregada em centenas de nossas igrejas simplesmente esta: Deus nos criou à sua imagem; por causa da queda somos por natureza filhos da ira; abandonados à nossa própria sorte não podemos comparecer diante de um Deus santo; merecemos ser punidos por ofender a esse Deus; porém, em amor, Deus enviou seu Filho para carregar os nossos pecados e enfrentar a pena que nós merecíamos; a ira de Deus foi derramada sobre Jesus e a justiça de Jesus foi imputada a nós pela fé - não é isso o evangelho? 

Posso encontrar inúmeras passagens nas Escrituras em que somos ensinados, explícita ou implicitamente, que a ira de Deus foi dirigida a Jesus na cruz. Podemos pensar na Páscoa em Êxodo 12. A substituição penal está no cerne da Páscoa - Deus derramou a sua ira sobre o cordeiro sacrificado no lugar de seu povo. Certamente, essa linha de pensamento está presente no Evangelho de João, quando João Batista confessa a respeito de Jesus: "Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!" (Jo 1.29). Também vejo a ira de Deus derramada sobre Jesus prefigurada no ritual do Dia da Expiação de Levítico 16. Além disso, Isaías 53 pungentemente fala do mesmo tema. Jesus, como o Servo Sofredor, foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades. Foi da vontade do Senhor esmaga-lo, derramando sua ira sobre seu servo. 

Do mesmo modo, Marcos 10.45 ensina que Jesus deu a sua vida em resgate por muitos. Esse resgate foi pago, não a Satanás, como alguns teólogos medievais erradamente ensinaram, mas a Deus Pai como um suave aroma e sacrifício a ele (Ef 5.2). Em Marcos 10.38 Jesus perguntou aos seus discípulos"Podeis vós beber o cálice que eu bebo?" E no Getsêmani, Jesus rogou ao seu Pai, "passa de mim este cálice" (Mc 14.36). Sem dúvida Jesus estava pensando em passagens como o Salmo 75.8; Isaías 51.17; Jeremias 25.15,16. Ezequiel 23.32-34; e Habacuque 2.16, todas as quais falam sobre beber o cálice da ira de Deus. João 3.14-18 ensina que Deus enviou seu Filho para ser levantado na cruz (como a serpente levantada no deserto, salvou o povo do julgamento de Deus) para que a ira de Deus não permanecesse sobre quem cresse. Romanos 3.21-26 ensina que Cristo foi apresentado como um sacrifício de expiação (literalmente "propiciação"; veja a obra clássica de Leon Morris The Apostolic Preaching of the Cross, que estabelece que hilasterion refere-se a propiciação, contrariando C. H. Dodd) desviando a ira de Deus pelo fato de sofrer em nosso lugar como nosso substituto. Romanos 5.8,9 argumenta que Cristo morreu por nós quando éramos inimigos de Deus, para que ser salvos por ele da ira de Deus. Gálatas 3.13 diz que Cristo se fez maldição por nós, suportando a pena que nós merecíamos como infratores da lei. Primeira João 4.10 ensina que Deus enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados (veja também 1Jo 2.2; Hb 2,17). E assim por diante. 

Não há nada mais importante na teologia cristã do que a nossa teologia da cruz. Devemos dizer claramente que o cerne do evangelho é a boa notícia da autossatisfação divina mediante a autossatisfação divina. Nunca abra mão da cruz. Nunca dilua a mensagem da cruz. E nunca pare de se gloriar na cruz onde Cristo aceitou as sanções que deveriam cair sobre nós, a fim de que possamos reivindicar as bênçãos que de outro modo pertenciam somente a ele. 

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Fonte: DEYOUNG, Kevin L. As Boa novas que quase esquecemos, pp 42-44,  São Paulo: Cultura Cristã, 2013.

Nota do Editor: O título referido não se encontra no livro. Tal titulo foi adaptado de uma frase, escrita por um pastor da igreja do Kevin, que apresenta uma descrença da ira de Deus sobre Jesus por causa de nossos pecados. Tal frase reza assim: "Na verdade eu não encontro lugar algum na própria Escritura que fala da ira de Deus sendo dirigida a Jesus na cruz."