FÉ DEMAIS NÃO CHEIRA BEM
Por Franklin Rosa
“Tudo sucede igualmente a todos; o mesmo sucede ao justo e ao ímpio: ao bom e ao puro, como ao impuro; assim ao que sacrifica como ao que não sacrifica: assim ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme o juramento” Eclesiastes cap. 9 vs. 2.
Já acreditei, mas há muito tempo abandonei a utopia da “Espiritualidade de Proveta” fabricada nos laboratórios do heroísmo gospel barato, da “Performance Plastificada” de uma fé intocável e intangível pelas contingências existenciais.
Espiritualidade essa que não resiste aos enfrentamentos trágicos, de uma vida que não tem agenda fixa pré-estabelecida, e que se apresenta como anfitriã tanto de gostos como de desgostos, sabores e dissabores, afetos e desafetos aos mais diversos tipos de protagonistas da eternidade.
E para aqueles que já estão se armando precipitadamente neste terceiro parágrafo, para me carimbarem com a pecha de liberal ou relacional, deixe-me logo esclarecer uma coisa: “Creio Absurdamente na Verdade que os ensinadores da teologia sistematizada denominaram como “SOBERANIA DIVINA”, e ponto e pronto”!
Minha argumentação trafega na contra-mão do convencional: É ter a ousadia e a falta de pudor, não importando-se com a “sagrada reputação”, descobrir o quanto é bom, sensato, libertador e sobre tudo honesto (eu encorajo aqueles que se deram a insensatez de dividir comigo a autoria dessa reflexão pela leitura da mesma), romper (de peito aberto e coração compungido pela sensibilidade que se tem de enxergar a si mesmo e encarar as realidades da vida sem ufanismos) com os falsos rótulos que fazem propaganda enganosa de uma imagem que é fraudulenta: “A FÉ NA FÉ QUE RÉ-MOVE MONTANHAS”, porque assim sendo: “Fé Demais Não Cheira Bem!“.
Se fizermos uma sincera (sem cera) e honesta análise, sem pré-conceitos ou pré-disposições mentais, da transitoriedade volúvel dessa encarnação terrena, com suas muitas alegrias e, na mesma proporção muitos dissabores, iremos constatar que nem tudo sai como o projetado nas pranchetas da ilusão juvenil.
Não! Não! Não!… Não me carimbe agora com a pecha de azedo, mal humorado, pessimista e incrédulo!
Simplesmente não me dei ao luxo e a infantilidade, de achar que a vida é um conto inglês do tipo: “Alice no País das Maravilhas”, prefiro encará-la com as lentes da realidade sabendo dos prós e dos contras que ela me proporciona.
Mas você não tem sonhos, talvez esteja intrigado e irritado se perguntando?!
Eu te respondo: Yes! I Have a Dream!
Faço coro com Martin Luther King e o saudoso conjunto ABBA, tendo sim um sonho e uma canção para entoar: Sonho e canto na esperança de dias melhores, mas agora me ponho a gritar em “DÓ MAIOR” junto com a dor do meu pai que perdeu um filho com 30 anos de idade através de um acidente automobilístico absurdo, sonho e canto com a dor de um querido irmão em Cristo que perdeu seu filho repentinamente de um mal súbito, e agora pede explicações para os doutores da teologia “pragamática” da prosperidade, sonho e canto com a dor dos excluídos da religião e que transformaram-se em mendigos pela intransigência eclesiástica, sonho e canto com a dor dos abandonados nordestinos que precisam apelar para “Luciano Huck / Celso Portiolli / Gugu Liberato entre outros, para terem um pouco da sua dignidade restituída, sonho e canto com a dor de pais que perderam seus filhos para as drogas, sonho e canto com a dor dos haitianos, iraquianos, indonésios, africanos marginalizados pelo capitalismo ocidental homicida, sonho e canto com os desabrigados e enlutados da região serrana do Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo e tantos outros lugares desse Brasil varonil que é fruto do descaso das autoridades políticas, sonho e canto com a dor do ser humano desumanizado pelo ser que se diz humano!
Sonho e canto com Gonzaguinha (… mas a vida, é bonita, é bonita e é bonita!), sonho e canto comMercedes Sosa (Eu só peço a Deus que a dor não me seja indiferente… Eu só peço a Deus que a injustiça não me seja indiferente… Eu só peço a Deus que a guerra não me seja indiferente), sonho e canto com a mesma esperança da comunidade romana “Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” Romanos cap. 8 vs. 38,39.
Sonho e canto optando por encarar minhas fragilidades e minhas realidades, não perdendo a sensibilidade de me alegrar no dia em que a felicidade quiser fazer festa e celebrar na pista do meu coração e de igualmente chorar no dia em que a tristeza assolar minhas emoções.
Quero me despojar da arrogância da auto-suficiência travestida dessa “espiritualidade narcotizante”, para ser possuído pela suficiência do Alto, me despindo dos super-poderes da fé na fé, pois só assim tenho a noção exata de quem sou: “Não sei ainda quem e o que sou!”
Prefiro encarar minhas fragilidades e realidades, pois quando não sei o que sou e quem sou, Deus sabe o que não sei e o que posso ser não sabendo nada, cantarolando bem baixinho em meu coração: “… A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza…”.
Encaro minhas fragilidades e realidades, identificando-me com todos aqueles que já não se sentem mais identificados, e que ousaram se despersonalizar do status de “Ungidos Intocáveis do Senhor”, dando-se a oportunidade de crescer na Vida, com a Vida e pela Vida, construindo assim sua própria história divorciada dos mitos da religião de tubo de ensaio…
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Franklin Rosa é alguém que cansou da religiosidade e agora só quer viver o cristianismo sem barganhas e crentices narcotizantes. Ele é colunista no Púlpito Cristão
Franklin Rosa é alguém que cansou da religiosidade e agora só quer viver o cristianismo sem barganhas e crentices narcotizantes. Ele é colunista no Púlpito Cristão
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