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Notas:
Jesus em sua oração dominical faz uma petição intrigante: "não nos induzas à tentação; mas livra-nos do mal;" (Mateus 6:13).
O fato é, por que Jesus orou assim? Por que Jesus disse para Deus não nos induzir a tentação? Será que Deus induz alguém para ser tentado? Se sim. Por qual motivo Deus induz alguém a ser tentado?
As confissões reformadas, Heidelberg, Catecismo Maior e o Breve Catecismo explicam da seguinte maneira:
Catecismo de Heidelberg, domingo 52.
Pergunta 127. Qual é a sexta petição?
Quer dizer: Somos tão fracos que, por nós mesmos, não podemos subsistir por um só momento. Além disso, nossos inimigos declarados - o diabo, o mundo e nossa própria carne - nos tentam continuamente. Por isso, pedimos-te: sustenta-nos e fortalece-nos pelo o poder de teu Espírito Santo, a fim de que, neste combate espiritual, não sejamos derrotados, mas possamos fortemente resistir, até que finalmente alcancemos a vitória total.
Catecismo Maior.
Pergunta 195. O que pedimos na sexta petição?
... reconhecendo que o mui sábio, justo e gracioso Deus, por diversos fins, santos e justos, pode dispor as coisas de maneira que sejamos perturbados, frustrados e feitos por algum tempo cativos pelas tentações; que Satanás, o mundo e a carne estão prontos e são poderosos para nos desviar e enlaçar...
Breve Catecismo.
Pergunta 106. Pelo que oramos na sexta petição?
Na sexta petição, que é: "E não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal", pedimos que Deus nos guarde de sermos tentados a pecar, ou nos preserve e nos livre quando formos tentados.
Observe que no Breve Catecismo e na Confissão de Heidelberg os dois estão no mesmo foco na sexta petição. Os dois dão a ênfase as petições de livramentos e proteções das tentações para que não venhamos a pecar contra Deus. E não que está errado em pedir ao Soberano Deus livramento das tentações que nos rodeiam, como faz o salmista "Livra a minha alma da espada, e a minha predileta da força do cão." Salmos 22.20.
Mas o mais interessante é que o Catecismo Maior, dá uma ênfase à permissão de Deus para que sejamos tentados, e que esta tentação permitida por Deus, conforme diz o Catecismo Maior é para que "nos desperte à vigilância no seu uso[...] o quando cairmos, sejamos levantados novamente, recuperados da queda e que tiremos dela uso e proveito santo[...].(CM 195).
Creio que estão corretas as três explicações acima. Mas concordo mais ainda com o que diz o Catecismo Maior pergunta 195, que diz que isso é para um bom proveito, a tentação. Se analisarmos a frase, "não nos induza à tentação" no grego, veremos que a tentação é para um fim proveitoso. Quando Jesus ora "não nos deixe cair em tentação" o texto grego diz assim: não introduz/conduza-nos a tentação. A petição de Jesus é formada por um verbo (eisphero), que tem o sentido de "levar", "trazer", "conduzir", "introduzir". E formado por um substantivo (peirasmos), que tem o sentido de colocar à prova, uma experiência para o bem e/ou disciplina, com um propósito benevolente. Os sentidos básicos desta palavra, tentação, são:
1) Intentar ou ensaiar fazer qualquer coisa: Dt 4.34.
2) Experimentar ou provar uma coisa: 1Sm 17.39.
3) Provar uma pessoa: Este é o sentido predominante (termo hebraico de nisãh para se referir à "tentação" e "provação". Outro palavra empregada é bãhan, que tem o sentido básico de "provar" e "testar" como se fosse um "teste de fogo para provar sua genuinidade" (Gn 22.1; Êx 17.2,7; Sl 78.18, 41, 56; 95.9.1).
Deus nos prova enquanto vivemos aqui neste mundo. Deus permite que passamos por situações complicadas para mostrar que estamos guardados pelo o poder de Deus mesmo sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações (1 Pe 1.5,6).
E segundo o apóstolo Pedro o chamado do cristão é coisa agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, sofra agravos, padecendo injustamente: "Porque, que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas se, fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus. Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas." (1 Pedro 2:19-21).
Vejas esses seguintes exemplos:
“Depois dessas coisas pôs Deus Abraão à prova(...)” Gn 22.1
“Pela fé Abraão, quando posto à prova, ofereceu Isaque;” Hb 11.17
“Contudo quando os embaixadores dos príncipes de Babilônia lhe foram enviados para se informarem do prodígio que se dera naquela terra, Deus o desamparou, para prová-los e fazê-lo conhecer tudo o que lhe estava no coração.” 2Cr 32.31.
Como diz o reverendo Herminsten Maia Pereira da Costa:
“Em todos esses textos está a ideia de testar a fé dos seus, a fim de que tenham uma consciência mais apurada de sua dependência de Deus e, também, possam manifestar de forma evidente a firmeza da sua fé e, se tropeçarem, possam se erguer mais maduros.” [1]
Deus por intermédio da provação/tentação, Ele purifica seu povo: “Pois tu, ó Deus, nos provaste; acrisolaste-nos como se acrisola a prata” Salmos 66.10
“Farei passar a terceira parte (das ovelhas) pelo fogo, e a purificarei, como se purifica a prata, e a provarei, como se prova o ouro; ela invocará meu nome, e eu a ouvirei; direi: É meu povo, e ela dirá: O Senhor é meu Deus” Zc 13.9
Deus aperfeiçoa espiritualmente: “Antes de ser afligido andava errado, mas agora guardo a tua palavra (...). Foi-me bom ter passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos” Salmos 119.67,71
“Alegra-nos por tantos dias quantos nos tem afligido por tanto anos quantos suportamos a adversidade” Salmos 90.15.
Deus aprova seu povo - somente o seu povo, por intermédio de um mal didático. Ele nos ensina, aperfeiçoa, confirma e purifica (Jó 23.10; Sl 66.10; Zc 13.9; 1Pe 1.6,7). Agostinho disse: “Sem tentação nenhum homem pode ficar aprovado” [2].
É na provação que Deus nos conduz a confiar nEle, depositamos nossa fé somente em Deus e confiarmos em sua Palavra.
Deus nos chama para o seu santo Evangelho para o servir, mesmo sendo perseguido devemos o servir mais e mais. E mediante esta perseguição que Deus nos conduz é o mesmo Deus que passa conosco pelo vale da sombra e da morte. E é por isso que Cristo nos ensina a orar, pois não sabemos como nos portar mediante as tentações. E como nos ensina o Catecismo de Heidelberg, Domingo 52, pergunta 127:
"Somos tão fracos que, por nós mesmos, não podemos subsistir por um só momento. Além disso, nossos inimigos declarados - o diabo, o mundo e nossa própria carne - nos tentam continuamente. Por isso, pedimos-te: sustenta-nos e fortalece-nos pelo o poder de teu Espírito Santo, a fim de que, neste combate espiritual, não sejamos derrotados, mas possamos fortemente resistir, até que finalmente alcancemos a vitória total."
Mesmo sabendo que devemos passar por perseguições, mesmo sabendo que essas perseguições são do teu agrado, ó Senhor. Peço-te que nos guarde mediante tentação para que não neguemos o Teu santo nome e nem blasfemamos contra Ti, pois sei que sou pecador e miserável. Não peço somente o livramento, mas sim, capacitação para vencê-las.
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Notas:
1. Maia Pereira da Costa, Hermisten. O Pai Nosso. Temas teológicos analisados a partir da oração ensinada pro Jesus. Ed. Cultura Cristã; 2001, São Paulo. p. 63.
2. ibid. p.64, 65
3. Agostinho, O sermão da montanha, II 9. p. 128.
Fonte: Teologia & Apologética
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