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Por Steve C. Halbrook
Deus é o soberano governante de todas as coisas: “O SENHOR tem estabelecido o seu trono nos céus, e o seu reino domina sobre tudo” (Sl 103.19). A reivindicação de um governo universal por Deus deve-se ao fato de ele existir antes de todas as coisas (Jo 1.1,2), ser o Criador (Jo 1.3), Ordenador (Is 46.10) e Sustentador de tudo (Cl 1.17), e ser a única fonte de justiça (Sl 89.14) e bondade (Lc 18.19). Todas as coisas, portanto, são em todos os aspectos propriedade de Deus (Sl 24.1, 2; cf. Rm 9.20-23; Is 10.15). O governo soberano de Deus sobre todas as coisas é o ponto de partida para a teocracia bíblica.
O significado básico de teocracia é “governo de Deus”. O termo é derivado das palavras gregas theos, significando Deus, e kratos, significando poder, força ou governo. No primeiro século, Josefo, o famoso historiador judeu, cunhou a palavra “teocracia” e definiu-a como “colocar toda soberania e autoridade nas mãos de Deus” (Against Apion, 2.164-165). [1] Embora a palavra teocracia não esteja na Bíblia, de capa a capa o seu significado é ensinado de maneira clara: Deus governa sobre tudo.
“Teocracia” pode ser entendida em contextos diferentes. Ela pode descrever a realidade do governo de Deus sobre todas as coisas (Dn 4.17; Mt 28.18). Pode também descrever o reconhecimento por parte do homem desse governo divino sobre todas as coisas (Pv 3.6; Sl 2.11-12).
Com respeito ao último sentido, que teocracia requer o reconhecimento do governo total de Deus, a teocracia bíblica começa com o indivíduo, i.e., a conversão do coração a Cristo (Ez 36.27). A teocracia de um cristão então começa na esfera do autogoverno. Visto que do coração “procedem as fontes da vida” (Pv 4.23, KJV), a partir do autogoverno, a teocracia de um cristão naturalmente flui para outras esferas de governo sob o governo de Cristo, incluindo a família, igreja e Estado.
Visto que Cristo é a cabeça de todas as esferas de governo, nenhuma esfera pode exercer monopólio de poder sobre outra; elas são restringidas pelo poder e autoridade de Cristo. Dessa forma, embora os poderes delas se sobreponham em alguns aspectos, nem a família nem a igreja têm a permissão de ter um controle autoritário sobre a outra. Deus é soberano sobre ambas. O mesmo conceito se aplica à Igreja e ao Estado: cada um responde a Deus como sua autoridade suprema, e não um ao outro.
É nesses dois pontos — a natureza ascendente (de baixo para cima) da teocracia e a separação da Igreja e Estado — que muitos se confundem. Com respeito ao primeiro, uma razão pela qual os humanistas temem a teocracia é por causa da mentalidade totalitária deles: eles pensam que a visão deles de que a sociedade muda somente via condicionamentos que partem do Estado, de cima para baixo, é partilhada pelos cristãos, os quais são vistos como competidores que apresentam uma forma rival de imposicionalismo.
Para o secularista, a ameaça vinda da teocracia é simbolizada pela entronização dos Dez Mandamentos num tribunal, escola ou lugar público. É por isso que eles veem a remoção do monumento do Juiz Roy Moore como uma vitória para o movimento de resistência à teocracia. Contudo, a teocracia é antes de tudo a entronização da lei de Deus no coração do crente, visto que todos os mediadores humanos, quer na Igreja ou no Estado, são removidos e o governo direto de Deus é colocado sobre o homem que se governa. A teocracia não é vindoura. Ela já está aqui! Em minha casa, relacionamentos e trabalho, eu não funciono em termos de democracia, oligarquia, monarquia, socialismo ou comunismo. Em todas as áreas da vida devo ser governado pelo governo direto de Deus (theos-kratos), através de Sua lei escrita em meu coração e mente. [2]
O humanismo, sendo uma cosmovisão que começa com o homem caído e pecador, não entende a transformação de baixo para cima, pois não entende o autogoverno (Rm 8.7; Gn 6.5). Embora a lei de Deus prescreva de cima para baixo, a sociedade deve abraçar esta lei de baixo para cima via regeneração pelo Espírito Santo. Quando isso acontece, uma teocracia nacional naturalmente se desenvolve onde a “lei revelada de Deus é suprema sobre todas as leis humanas, e é a fonte de todas as leis”. [3]
Ao rejeitar o controle soberano de Deus sobre a sociedade — incluindo o seu controle sobre o coração dos homens regenerados — o humanismo tenta preencher o vazio da soberania tentando o controle soberano do coração e ação dos membros da sociedade por meio da espada do Estado. Assim, de maneira não surpreendente, quando alguém menciona o governo na sociedade humanista de hoje, já se pensa instintivamente no Estado. Tal pensamento, por desconsiderar outras formas de governo, é “implicitamente totalitário”. [4]
Não devemos pensar no Estado como a única forma de governo, mas é isso o que a nossa sociedade faz; ela espera que o Estado governe as outras esferas de governo (família, igreja e indivíduo). [6]
Por contraste, uma teocracia bíblica irá naturalmente promulgar leis a partir da Bíblia, mas contrário aos temores humanísticos, tal sociedade é a única que não seria tirânica, visto que é a única sociedade possível que prioriza a regeneração, não a coerção. [5]
E assim, enquanto o humanismo impõe os seus ideias de cima para baixo, com espada e por meio de um Estado totalitário, a teocracia bíblica impõe os seus ideais primariamente de baixo para cima, isto é, por meio de corações em submissão direta a Cristo.
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Notas:
[1] Gary Demar, America’s Christian History: The Untold Story (Powder Springs, GA: American Vision Inc., 2007), 207, 208.
[2] Christopher J. Ortiz, “Theocracy Now!” Faith for all of Life, May/June 2007, 9.
[3] Joe Morecraft III, With Liberty & Justice For All: Christian Politics Made Simple (Sevierville, TN: Onward Press, 1991), 68.
[4] R.J. Rushdoony, God’s Law and Society: Foundations in Christian Reconstruction, Jay Rogers, ed. (Melbourne, FL: J.C. Rogers Production, 2006), 35. Acessado em 5 de maio de 2008,fromhttp://forerunner.com/law/ glsbook.pdf.
[5] Os humanistas liberais são mais consistentes em ver o Estado como “o governo”, já que defendem que tudo é um produto do meio, e, portanto, é o trabalho do Estado produzir o meio ideal, coagindo com a espada (i.e., governando o comportamento de) a família, igreja e o indivíduo (i.e., as outras esferas de governo). O governo de baixo para cima é impossível nessa visão, visto que o meio é externo ao indivíduo.
[6] Rushdoony descreve as alternativas humanista/cristã como “revolução ou regeneração”, respectivamente. Rousas John Rushdoony, The Roots of Reconstruction (Vallecito, CA: Ross House Books, 1991), 426.
Fonte: God is Just: A Defense of the Old Testament Civil Laws, p. 13-16.
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto – janeiro/2012
Fonte: Monergismo
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