Este artigo fala sobre os 50 japoneses que decidiram se arriscar a radiação nas usinas nucleares de Fukushima, para tentar resfrirar os reatores que estão comprometidos evitando assim uma grande tragédia, o texto foi escrito por Peter Moon reporter da revista Época, leia e confira o texto é comovente.
Umas 800 pessoas trabalhavam nas usinas nucleares de Fukushima, 250 quilômetros ao norte de Tóquio, antes do terrível terremoto de 8.9 graus na escala Richter seguido de um tsunami com ondas de 13 metros que arrasou a costa noroeste do Japão, na sexta-feira, 11 de março. Desde então, o mundo acompanha a luta desesperada dos 50 engenheiros e técnicos que se entrincheiraram na central de controle em Fukushima (750 pessoas foram retiradas do local), na tentativa heróica de resfriar os reatores das usinas 1, 2, 3 e 4, impedindo o seu derretimento e o vazamento de material radiativo. A hipótese ainda não está descartada. Apesar de ter conseguido recolocar em funcionamento os sistemas de refrigeração dos reatores 1, 3 e 4, a equipe registrou em 28 de março o vazamento de plutônio no solo abaixo do reator 2, o que seria um sinal do derretimento parcial do reator. Caso o vazamento de plutônio seja confirmado, o acidente de Fukushima será equiparado ao pior acidente nuclear da história, a explosão da usina de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986. O que acontecerá depois disto? O único precedente é Chernobyl.
Entre os operários e os bombeiros que apagaram o incêndio que se seguiu à explosão do reator de Chernobyl, assim como entre os membros das equipes de resgate, 237 pessoas foram diagnosticadas com doença radiativa aguda. Destas, 31 morreram até três meses após o acidente. Um quarto de século após o maior acidente nuclear da história, uma área de 4.500 km² em torno de Chernobyl continua interditada e assim permanecerá até radiação que impregnou o solo voltar a níveis normais – o que pode levar milhares de anos. A culpa é do plutônio, um subproduto da fissão nuclear do urânio nos reatores e o elemento químico radiativo mais perigoso à vida. A meia-vida do plutônio é de 24 mil anos, ou seja, a quantidade de plutônio (e seus níveis de radiação) no solo de Chernobyl reduzirá À METADE só daqui 24 milênios. Fontes não-oficiais indicam que a região de Chernobyl só voltará a ser segura aos humanos daqui 40 mil anos, no século 421.Três semanas após o maior terremoto da história do Japão, há 11 mil mortes confirmadas, 16 mil pessoas continuam desaparecidas e o governo japonês precisou remover 200 mil pessoas que viviam e trabalhavam num raio de 30 quilômetros em torno das usinas de Fukushima. Nas próximas semanas e meses começarão a ser contabilizados os mortos entre os 50 homens que decidiram permanecer na usina para resfriar os reatores. Duas dúzias de operários foram hospitalizadas desde o início da crise, a maioria com queimaduras devido às explosões dos prédios dos quatro reatores (há três desaparecidos). E, no dia 23, três operários foram hospitalizados com sinais de envenenamento radiativo. Eles tiveram contato direto com água vazada do reator 3.
“Estes homens são heróis”, me disse o físico brasileiro José Goldemberg, referindo-se aos 50 homens confinados em Fukushima. “São 50 kamikazes”, ouço falar o tempo todo, como se aqueles 50 heróis fossem 50 suicidas. Todos são voluntários. Eles escolheram permanecer na usina para tentar prevenir uma catástrofe ambiental apesar dos enormes riscos a que estão expostos. Eles sabem que muitos irão morrer, sabem que a morte por radiação não é uma coisa bonita de ver – e nem puderam se despedir pessoalmente de suas famílias. São 50 voluntários para enfrentar a morte. São 50 samurais.
São estes ensinamentos, transmitidos de geração em geração por mais de mil anos no seio das famílias samurais, que acredito estarem por trás da decisão dos 50 homens de permanecer na usina de Fukushima. Historicamente, a classe samurai somava 9% dos japoneses (a imensa maioria eram camponeses). Em 1868, com o final do shogunato, a família Tokugawa perde o poder, restituído ao imperador do Japão. Naquele ano o imperador Meiji abole oficialmente a classe samurai. Eles são proibidos de portar espadas e suas escolas de artes marciais são abolidas.
A maioria dos estilos de artes marciais dos samurais (havia mais de 700) se perdeu. Uns poucos foram preservados em segredo para florescer novamente em nossos dias. Quem preservou as técnicas antigas foram as famílias samurais. Os samurais foram extintos enquanto casta. Suas famílias, não. Elas preservaram seu legado. Seus membros sabem que seus antepassados foram guerreiros. Cerca de 10% dos 127 milhões de japoneses pertencem a famílias samurais. É quase certo que, entre os 50 homens na sala de controle da usina de Fukushima, há filhos de famílias samurais. Eles têm um passado a honrar. Tal qual seus antepassados guerreiros, os homens de Fukushima estavam preparados para abrir mão da própria vida em nome de um bem maior, a segurança de seu país. É isto o que, acredito, eles estão fazendo. Muitos morrerão. São heróis.
Autor: Peter Moon
O repórter especial de ÉPOCA.Recebido por e-mail da
Site Teresina Gospel
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