Isvonaldo sou Protestante

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quarta-feira, 28 de maio de 2014

ISRAEL o supersinal do Final dos Tempos

Israel, o Supersinal do Final dos Tempos

Quando um repórter de um jornal secular liga e pede razões pelas quais “estudiosos da Bíblia chamam Israel de supersinal do final dos tempos” – você sabe que devemos estar chegando bem perto do prometido retorno de nosso Senhor. Felizmente, eu havia acabado de ler o livro Prophecies for the Era of Muslim Terror [Profecias para a Era do Terror Muçulmano], do rabino Menachem Kohen, no qual ele apresenta uma visão da qual eu nunca havia ouvido falar. Não sendo um cristão evangélico, ele dá as respostas exclusivamente a partir do Antigo Testamento, usando o cumprimento moderno das profecias antigas, as quais, de acordo com Isaías 46.9-11, são a prova inequívoca de que Deus existe. Já dissemos em outras oportunidades que mais da metade das mais de mil profecias do Antigo Testamento já foram cumpridas – independentemente do que dizem os evangelistas do ateísmo. Apenas Deus pode predizer o futuro e fazer com que ele venha a acontecer realmente.
O chamado para o retorno de Israel para a Terra Santa, o lugar exato para onde Deus prometeu trazê-lo nos últimos dias, tem acontecido durante nosso tempo de vida. Ninguém nega que os judeus, depois de estarem espalhados por quase todos os países do mundo, agora formam uma população de quase quinze milhões de pessoas no mundo – o que, em si, já é um milagre. Nenhum outro grupo étnico foi capaz de sobreviver tendo sido arrancado de sua terra natal e permanecido fora dela por mais de trezentos anos ou, no máximo, quinhentos anos, exceto os judeus. Eles foram banidos pelo governo romano depois do levante de Bar Kokhba (cerca de 132-135 anos d.C.), quando tornou-se legal que qualquer um que capturasse um judeu naquela Terra Prometida o matasse imediatamente. É, de fato, um milagre em nossos dias que, depois de 1.700 anos, existam ainda judeus que sobraram para voltar a Israel! Mesmo depois que o nazista louco da Alemanha, possesso de demônio, exterminou 6 milhões de judeus, ainda há uma estimativa de 15 milhões de judeus vivos. Além disso, estima-se que pelo menos um terço deles esteja nos Estados Unidos, outro terço ainda se encontra na Europa ou espalhado em outros 200 países pelo mundo, e o outro terço já migrou para sua Terra Prometida, principalmente durante os últimos 150 anos. Isto é, em si, um milagre inacreditável, mas não é tudo.
É, de fato, um milagre em nossos dias que, depois de 1.700 anos, existam ainda judeus que sobraram para voltar a Israel!
O fato de que tantos ainda existam é apenas parte do milagre! De acordo com o rabino Kohen, isto é apenas parte do milagre sobrenatural. Pois ele aponta que, em proporção direta da migração dos judeus de volta para sua terra, a própria terra tem sido transformada de uma área desértica sem proveito em uma terra que “mana leite e mel”. Na verdade, ela agora é chamada “o cesto de pão” da Europa. Muitos se referem a ela como “Palestina”, um nome que lhe foi dado pelos romanos para insultar os judeus, e que vem da terra dos filisteus, que eram tão imorais e pagãos que tiveram que ser removidos da “Terra Santa”, o que aquele território realmente será um dia. Eu prefiro chamá-la Terra Santa agora!
Como evidência da terra desolada que ela foi durante 18 séculos, o rabino Kohen citou a seguinte descrição, feita pelo famoso escritor americano Mark Twain, durante sua visita à Terra Santa nos anos 1860.
O solo é suficientemente rico, mas é totalmente tomado pelas ervas daninhas. Existe uma desolação aqui que nem mesmo a imaginação pode agraciar com a pompa de vida e ação. (...) Nunca vimos um ser humano em todo o nosso roteiro. Fomos adiante em direção a Jerusalém. Quanto mais prosseguíamos, mais quente ficava o sol e mais rochosa e nua, repulsiva e deprimente, ficava a paisagem. (...) Quase não havia árvores ou arbustos por ali. Mesmo a oliveira e o cacto, aqueles amigos de um solo sem valor, tinham praticamente desertado do país. (...) Jerusalém é sem vida. Eu não desejaria morar lá. É uma terra sem esperança, sombria e desconsolada. (...) A Palestina está assentada sobre saco e cinza. Sobre ela avulta o feitiço de uma maldição que tem feito definhar seus campos e limitado suas energias. (...) A Palestina é desolada e sem encantos. Poderia a maldição da Deidade embelezar uma terra? A Palestina não é mais deste mundo de labuta diária.[1]
A seguir, o rabino Kohen atrai nossa atenção para um fato pouco conhecido que destaca a miraculosa falta de chuva na “Terra Prometida” por causa do julgamento de Deus sobre os judeus devido à sua continuada rebelião contra Ele.
Sabemos que em algumas áreas do mundo a fome ocorre ocasionalmente por causa da escassez das chuvas. Infelizmente, isto acontece, mas na maior parte das vezes, essas ocasiões de fome duram pouco tempo porque os países do mundo são providos de quantidade suficiente de água para manter a vida. Esta condição tem sido verdadeira para todos os países, exceto um. Israel é essa exceção. Este é um país que já foi incrivelmente fértil e que subseqüentemente foi privado das chuvas pela maior parte de 1.800 anos – começando no ano 70 d.C. e continuando até o início do século XX, por quase todos esses 660.000 dias. Virtualmente não houve nenhuma chuva e nenhum alimento durante 1.800 anos – este é um fenômeno totalmente inexplicável e totalmente incrível. Não ter precipitação de chuvas adequadamente por quase dois milênios está além do âmbito das probabilidades estatísticas em qualquer região do mundo – mas em especial onde antes as chuvas haviam produzido uma fertilidade tal que aquela terra era repetidamente descrita como “a terra que mana leite e mel”. Em tempos passados, essa terra fértil ostentava florestas e copiosas colheitas. Até os animais eram semelhantemente afetados. A terra era simplesmente bela em todos os aspectos. Que uma terra assim fértil fosse subitamente privada de água e depois que uma terra assim fértil fosse transformada em um deserto – evoluindo da fertilidade à esterilidade tão rapidamente e tão dramaticamente, parece ilógico. Além disso, esta transformação incomum para uma terra desolada persistiu durante 660.000 dias, algo totalmente sem paralelos nos anais da história mundial.[2]
Uma terra vazia foi transformada na “terra que mana leite e mel”, como acontecia no Antigo Testamento.
Embora a dispersão dos judeus tenha ocorrido por causa de sua rebelião contra Deus ao se recusarem a obedecer ao primeiro mandamento: “Não terás outros deuses diante de mim (Êx 20.3), ela também serviu para livrar a terra, para os judeus, de muitos futuros invasores. Até mesmo muitos dos islâmicos árabes militantes, que, após o século VII surgiram por meio do pagão Maomé, acharam que a terra era inóspita demais para construírem civilizações duradouras naquele lugar.
O que eu acho fascinante neste fato histórico dos 660.000 dias sem chuva, visto que apenas Deus pode enviar e retê-la, é que ela foi retida da Terra Santa por 1808 anos! Mark Twain deve ter chegado para ver o estado lamentável do país justo antes que começasse a chover. Aquele foi praticamente o momento em que os judeus começaram a retornar para sua terra. E, de acordo com meu amigo Joe Farrah, que é proprietário do site jornalístico WorldNetDaily, não apenas começou a chover na metade dos anos 1.800, mas Israel tem continuado a ser uma terra próspera até o dia de hoje. Uma terra vazia foi transformada na “terra que mana leite e mel”, como acontecia no Antigo Testamento. Além do mais, tem sido descoberto gás suficiente ali para fazer Israel não apenas auto-suficiente em combustível, mas também um exportador desse produto para o qual há tanta demanda, que chega a inflamar o ódio dos árabes contra os judeus. E não seria surpresa ver Israel descobrir petróleo. Posso imaginar o que isso faria para aquecer a situação do Oriente Médio.
Israel é “o supersinal” do “final dos tempos” e este é apenas um dos vários sinais. Estamos chegando muito perto do ressoar dos céus (1Ts 4.13-18), que chamará os seguidores do Senhor de volta para casa! (Tim LaHaye - Pre-Trib Perspectives - http://www.beth-shalom.com.br)

Notas:

  1. Kohen, Rabbi Menachem, Prophecies for the Era of Muslim Terror, Brooklyn: Lambda Publishers, Inc., 2007. p. 26. (Kohen cita aqui The Innocents Abroad or The New Pilgrim’s Progress [Os Inocentes no Exterior ou O Progresso dos Novos Peregrinos], Harper & Row, NY, 1922, p. 216).
  2. Ibid., p. 22.
Tim LaHaye escreveu mais de 40 livros e é co-autor dos best-sellers da série Deixados Para Trás.Ele também é um dos editores da Bíblia de Estudo Profética e um dos fundadores do Pre-Trib Research Center (Centro de Estudos Pré-Tribulacionais).

domingo, 25 de maio de 2014

A essência do cristianismo




por John Frame
Essência é a qualidade pela qual algo é definido, essa qualidade que faz algo que se distinguir de outras coisas. Tri – lateralidade é uma característica essencial de um triângulo. Uma figura pode ser curta, longa, grande, pequena, mesmo em frente e verso ou lados irregulares, não importa, com ou sem qualquer uma dessas qualidades ainda será um triângulo. Mas tire suas tri-lateralidade, e de repente já não é um triângulo, tornou-se algo mais.

Agora, muitos têm procurado descobrir a “essência” do cristianismo, o que torna o cristianismo o que é, aquilo sem o qual seria outra coisa. Livros foram escritos (como por Feuerbach e Harnack), intitulados com: A essência do cristianismo. E muitos teólogos, embora escrevendo livros com outros nomes, têm procurado, com efeito, se não em tantas palavras, identificar a essência. A grande variedade das sugestões, no entanto, põe em dúvida ore o projeto. Qual é a essência? A moral (Kant)? O sentimento religioso (Schleiermacher)? Dialética filosófica (Hegel)? Realização de desejo (Feuerbach)? A paternidade de Deus (Harnack)? Palavra de Deus (Barth)? O encontro pessoal (Brunner, Buber)? Atos de Deus (Wright)? A auto-negação do ser (Tillich)? Auto-compreensão existencial (Bultmann)? Esperança (Moltmann)? Libertação (Gutierrez)? Encarnação (Ortodoxia Oriental)? Aliança (muitos calvinistas)? Cinco “fundamentos” (muitos conservadores americanos)? E o quanto a santidade, a justiça, a misericórdia, a fé, o amor, a graça, o louvor, o espírito, a paz, a alegria, a vida do corpo? O quanto ao evangelismo, adoração? Todos estes têm alguma reivindicação para serem chamadas de “coração do Evangelho” ou o “centro do cristianismo.” Ou por que não dizer simplesmente que “o Cristianismo é Cristo?”

Assim, somos inundados com “teologias da” isto e aquilo, cada um alegando que seu tema é o (até então negligenciado!) “O foco central” do cristianismo. Como é que vamos responder? Bem, esses projetos muitas vezes têm valor positivo. Eles podem ser esclarecedores para escolhermos um conceito bíblico ou de ensino e tentar ver o resto da Escritura à luz de tal ensinamento. Somos seres finitos e, portanto, não podemos ver toda a Bíblia de uma vez. É útil ter um “foco”, um ponto de partida, e muitos destes estudos proporcionam isso. Por outro lado, também existem perigos deste tipo de teologia: (1) Teologia organizada em torno de uma “doutrina central” muitas vezes ignoraram, falseiam ou mesmo atacam outras doutrinas bíblicas que julgam ser “periféricas”. (2) Eles freqüentemente dão a impressão de que seu foco em particular é o foco único motivo legítimo para a teologia, portanto, injustamente negando o valor de outras abordagens. (3) Tais propostas podem promover um absurdo arrogante: que os elementos mais importantes do cristianismo tem sido praticamente esquecidos por dois mil anos, apenas foram recuperados pela genialidade dos estudiosos modernos.

Os grandes teólogos, como Agostinho, Tomás de Aquino, Lutero e Calvino, não procuraram organizar os seus sistemas em torno de uma “doutrina particular central”. Em vez disso, eles procuraram expor uma complexidade (unificada) da escritura ensinando-a como um todo. O resultado foi uma multilateralidade, uma amplitude e uma profundidade, raramente vistas no mundo moderno das “teologias disso e aquilo”. Talvez este tipo de realização possa ser atribuída somente aos gênios. O resto de nós, talvez, os teólogos comuns devemos nos contentar em encontrar uma “doutrina central” e escrever sobre ela. Mas se fizermos isso, seria prudente que nos lembremos que o cristianismo tem muitos centros, ou melhor, um (Cristo), que pode ser descrito a partir de uma ampla variedade de “perspectivas”. Cada “doutrina central”, então, é um “ângulo” certo de que todo o ensinamento da Escritura pode ser vista. Com essa visão “perspectivista” da questão, podemos promover uma “doutrina central” sem diminuir as outras e sem reduzir a riqueza do evangelho de Cristo.

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Fonte: Frame & Poythress
Traduzido por: Rafael Bello
Via: Reforma 21

7 características dos falsos profetas


 

Por Thomas Brooks


Satanás trabalha possível e principalmente, por meio de falsos mestres, os quais são mensageiros e embaixadores, para enganar, iludir e sempre destruir as preciosas almas dos homens (Atos 20:28-30; 2 Coríntios 11:13-15; Efésios 4:14; 2 Timóteo 3:4-6; Tito 1:11-12; 2 Pedro 2:18-19): “Nos profetas de Samaria bem vi loucura; profetizavam da parte de Baal, e faziam errar o meu povo Israel” (Jeremias 23:13). “Assim diz o Senhor acerca dos profetas que fazem errar o meu povo” (Miquéias 3:5). Eles os seduzem, e os desviam do caminho direito para atalhos e para os cegos matagais de erro, blasfêmia e iniquidade, onde eles estão perdidos para sempre. “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores” (Mateus 7:15). Estes lambem e sugam o  sangue das almas: “Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros, guardai-vos da circuncisão” (Filipenses 3:2). Estes beijam e matam; estes clamam: paz, paz, até que as almas sejam lançadas no fogo eterno, etc. Provérbios 7.

Agora, a melhor forma de livrar pobres almas de serem iludidas e destruídas por estes mensageiros de Satanás, é revela-los em suas nuances, de modo que, sendo conhecidos, as pobres almas possam evita-los, e fugir deles como do próprio inferno.
  
Agora você pode conhecê-los por estas seguintes características: 
  
1) Os falsos mestres são bajuladores de homens (Gálatas 1:10; 1 Tessalonicenses 2:1-4).

Eles pregam mais para agradar ao ouvido do que para beneficiar o coração: “Que dizem aos videntes: Não vejais; e aos profetas: Não profetizeis para nós o que é reto; dizei-nos coisas aprazíveis, e vede para nós enganos” (Isaías 30:10). “Coisa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra. Os profetas profetizam falsamente, e os sacerdotes dominam pelas mãos deles, e o meu povo assim o deseja; mas que fareis ao fim disto?” (Jeremias 5:30-31). Eles manejam as coisas sagradas mais com sagacidade e galanteio (divertidamente, note-se) do que com temor e reverência. Falsos mestres são almas anuladoras. Eles são como cirurgiões malignos, que esfacelam a ferida, mas nunca a cura. A adulação desfez Acabe e Herodes, Nero e Alexandre. Os falsos mestres são os maiores abastecedores do inferno. Non acerba, sed blanda (Não amarga, mas doce). Palavras não amargas, mas lisonjeiras [são as que] fazem todo o mal, disse Valeriano, o imperador romano. Tais mestres bajuladores são doces envenenadores de almas (Jeremias 23:16,17).

2) Os falsos mestres são notáveis em elencar sujeira, desprezo e opróbrio sobre as pessoas, nomes e méritos dos mais fiéis embaixadores de Cristo.

Assim, Coré, Datã e Abirão acusaram Moisés e Arão, de se elevarem sobre eles, tendo em vista que toda a congregação era santa (Números 16:3). “Vocês tomaram sobre si muito status, muito poder, muita honra, muita santidade sobre si mesmos; pois o que vocês são mais do que os outros, para que vocês elevem-se tanto sobre si?” E desta forma, os falsos profetas de Acabe contenderam com o bom Micaías, pagando-o com golpes por falta de melhores motivos (1 Reis 22:10-26). Sim, Paulo, o grande apóstolo dos gentios, teve o seu mistério atingido e sua reputação atacada por falsos mestres: “Porque as suas cartas”, eles dizem, “são graves e fortes, mas a presença do corpo é fraca, e a palavra desprezível” (2 Coríntios 10:10). Eles mais o desprezaram do que o admiraram; eles o viam como um ignorante, mais do que como um médico. E a mesma dura avaliação teve o nosso Senhor Jesus, da parte dos Escribas e Fariseus, os quais se esforçaram como pela vida para construir seu próprio crédito sobre as ruínas de Sua reputação. E o Diabo nunca dirigiu um tão grande empreendimento nesse sentido quanto nestes dias (Mateus 27:63). Ó, a sujeira, escória, desprezo que são lançados sobre aqueles de quem o mundo não é digno. Eu suponho que os falsos mestres não se importam com este dito de Agostinho:
Quisquis volens detrahit famae, nolens addit mercedi meae, (Aquele que voluntariamente menospreza o meu bom nome, involuntariamente acrescenta à minha recompensa).
  
3) Os falsos mestres são ventres de invenções e visões de suas próprias mentes e corações.

E disse-me o Senhor: Os profetas profetizam falsamente no meu nome; nunca os enviei, nem lhes dei ordem, nem lhes falei; visão falsa, e adivinhação, e vaidade, e o engano do seu coração é o que eles vos profetizam” (Jeremias 14:14). “Assim diz o Senhor dos Exércitos: Não deis ouvidos às palavras dos profetas, que entre vós profetizam; fazem-vos desvanecer; falam da visão do seu coração, não da boca do Senhor” (Jeremias 23:16). Não há multidões nesta nação cujas visões são apenas ilusões douradas, vaidades mentirosas, fantasias de mentes  doentias? Estes são os grandes ajudadores de Satanás, e a justiça Divina os lançará no inferno tal como fará aos grandes malfeitores, se o Médico de almas não impedir isto.
  
4) Os falsos mestres facilmente passam por cima das coisas grandes e importantes, tanto da Lei quanto do Evangelho, e insistem nas coisas que são de menor urgência e relevância para as almas dos homens.

Ora, o fim do mandamento é o amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida. Do que, desviando-se alguns, se entregaram a vãs contendas; Querendo ser mestres da lei, e não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam” (1 Timóteo 1:5-7). “Dizendo: Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. Todas as coisas, pois, que vos disserem que observeis, observai-as e fazei-as; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem” (Mateus 23:2-3).

Os falsos mestres são bons nos menores dos aspectos da lei, e tanto quanto negligentes nas maiores. “Se alguém ensina alguma outra doutrina, e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade, É soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas, perversas contendas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho; aparta-te dos tais” (1 Timóteo 6:3-5). Se tais mestres não são sementes de hipocrisia, eu nada sei (Romanos 2:22). A terra geme por sustentá-los, e o inferno é o seu lugar (Mateus 24:32).
  
5) Os falsos mestres encobrem e colorem seus princípios perigosos e almas-impostoras com discursos mui justos e pretensões plausíveis, com conceitos elevados e expressões douradas.

Muitos nestes dias são enfeitiçados e enganados, isto é, iluminação, revelação, deificação, triplicidade flamejante, etc. Como prostitutas, pintam seus rostos, e cobrem e perfumam suas camas, para melhor seduzir e enganar as almas simples (Gálatas 6:12; 2 Coríntios 11:13-15; Romanos 16:17,18; Mateus 16:6,11,12; 7:15), assim, os falsos mestres colocarão uma grande quantidade de pintura e enfeites sobre os seus mais perigosos princípios e blasfêmias, para que possam melhor enganar e iludir as pobres almas ignorantes. Eles sabem que o veneno adocicado desce suavemente; eles embrulham suas perniciosas pílulas-de-matar-almas em ouro.

6) Os falsos mestres esforçam-se mais para ganhar os homens para as suas opiniões, do que para melhora-los em suas conversações.

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós” (Mateus 23:15). Eles se ocupam mais sobre a mentalidade dos homens. Seu labor não é para melhorar os corações dos homens, e endireitar as suas vidas; e nisto eles são muito mais parecidos com o seu pai, o Diabo, que não poupará esforços para ganhar os prosélitos.

7) Os falsos mestres fazem negócio dos seus seguidores.

E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição. E muitos seguirão as suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da verdade. E por avareza farão de vós negócio com palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita” (2 Pedro 2:1-3). Eles buscam os seus bens mais do que o seu bem; e preocupam-se mais com o serviço de si mesmos, do que com a salvação de suas almas. Então, se eles podem ter os seus bens matérias, eles não se importam, que Satanás tenha as suas almas (Apocalipse 18:11-13). Que eles possam no máximo tomar a sua bolsa, eles seguirão adiante tais princípios como se fossem mui indulgentes com a carne. Os falsos mestres são os grandes adoradores do bezerro de ouro (Jeremias 6:13).

Agora, por meio destas características, vocês podem conhecê-los, e assim evitá-los, e manter as suas almas fora das suas perigosas armadilhas; e que você possa, minhas orações encontrar-se-ão com as suas diante do Trono de Graça.

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Fonte: The Mountain Retreat
Tradução: Camila Rebeca Almeida
Revisão: William Teixeira

quinta-feira, 22 de maio de 2014


 

Por Joel R. Beeke


Na teologia do Arminianismo nos é dito que Cristo morreu para tornar possível que todas as pessoas sejam salvas, se assim elas desejarem. Esta é uma rejeição da visão Reformada, que afirma que Cristo morreu para, verdadeiramente, salvar um povo em particular escolhido por Deus. O Arminianismo é, de longe, a visão mais popular acerca da expiação na Igreja Cristã de hoje. Não obstante, sérias objeções devem ser apresentadas contra a redenção universal arminiana, que são estas:

 Ela calunia os atributos de Deus, dentre os quais, o seu amor. O Arminianismo apresenta um amor que, na verdade, não salva. É um amor que ama e então, se recusado, transforma-se em ódio e ira. Não é o amor que permanece imutável de eternidade a eternidade. Ela calunia a sabedoria de Deus. Deus faria um plano para salvar todos, mas não o cumpriria? Ele seria tão tolo a ponto de seu Filho ter pagado a salvação para todas as pessoas se sabia que seu Filho não obteria aquilo pelo que pagou? Eu me sentiria tolo se eu fosse numa loja comprar algo, e então saísse sem ele. No entanto, o Arminianismo nos pede para acreditarmos que essa é a verdade da salvação – que o pagamento foi feito, uma redenção, e, ainda assim, o Senhor se afastou sem aqueles que ele redimiu. Essa visão calunia a sabedoria de Deus. Ela calunia o poder de Deus. O universalismo arminiano nos obriga a acreditar que Deus era capaz de realizar o aspecto de merecimento da salvação, mas que o aspecto de aplicação é dependente do homem e seu livre-arbítrio. Ele nos pede para acreditar que Deus operou a salvação de todas as pessoas, até certo ponto, mas não salvou ninguém. Ela calunia a justiça de Deus. Cristo satisfez a justiça de Deus para todas as pessoas? Será que Cristo recebeu a devida punição por todas as pessoas? Se sim, como Deus pode ainda punir alguém? É justiça punir uma pessoa pelos pecados de outra e mais tarde punir novamente o infrator inicial? Dupla punição é injustiça.

 Ela desabilita a divindade de Cristo. Um Salvador derrotado não é Deus. Este erro ensina que Cristo tentou salvar todos, mas não obteve êxito. Ele nega o poder e a eficácia do sangue de Cristo, uma vez que nem todos aqueles por quem Ele morreu serão salvos. Assim, o sangue de Cristo foi desperdiçado quando derramado por Judas e Esaú. Grande parte da sua obra, lágrimas e sangue foi derramada em vão.

 Ela mina a unidade da Trindade. Assim como os pais devem trabalhar juntos para conduzir uma família com eficácia, assim o Deus Triúno trabalhou, cada uma das três Pessoas, com propósitos e objetivos idênticos. Uma Pessoa não pode ter em mente salvar algumas pessoas, que a outra Pessoa não determinou salvar, mas é exatamente isso que, implicitamente, o universalismo arminiano ensina. Ele nega a eleição soberana do Pai, uma vez que Cristo teria morrido por mais pessoas do que Deus decretou salvar, fazendo, portanto, com que Cristo tenha uma agenda diferente da do Pai. Isso teria sido um anátema para Jesus, que afirmou que todo o seu ministério redentivo foi conscientemente designado para realizar um plano divinamente arranjado (João 6.38-39). Da mesma forma, a redenção arminiana nega o ministério salvador do Espírito Santo, uma vez que afirma que o sangue de Cristo tem uma aplicação mais ampla do que a obra salvífica do Espírito. Qualquer apresentação da salvação que faça com que a obra do Pai ou a obra do Espírito na salvação fiquem eclipsadas pela obra de Cristo contradiz a unidade inerente da Trindade. Deus não pode estar em contradição consigo mesmo. Arminianismo é universalismo inconsistente.

 Ela rejeita todos os outros pontos do Calvinismo. A visão arminiana da expiação rejeita a doutrina da depravação total do homem, ensinando que o homem possuía dentro de si a capacidade para receber e aceitar a Cristo. Ela rejeita a eleição incondicional, ensinando que Deus elege com base na fé prevista. Ela rejeita a graça irresistível, ensinando que a vontade do homem é mais forte que a vontade de Deus. Ela rejeita a perseverança dos santos, ensinando que o homem pode apostatar da fé.

 Ela diminui a glória de Deus. Se Deus faz todas as coisas na salvação, Ele recebe toda a glória. Mas se Deus pode fazer muito e não tudo, então a pessoa que completa a aplicação da salvação recebe ao menos alguma glória. É por isso que há tanta ênfase no evangelismo em massa sobre a livre vontade do homem. A expiação universal exalta a vontade do homem e avilta a glória de Deus.

 Ela perverte o evangelismo. Hoje em dia ouvimos repetidas vezes mensagens evangelísticas, que dizem: “Cristo morreu por você. O que você vai fazer por Ele?” Porém, nunca encontramos na Bíblia que a alguém seja dito pessoalmente: “Cristo morreu por você”. Em vez disso, encontramos a obra de Cristo explicada e seguida por um chamado a todas as pessoas: “Arrependei-vos e crede no evangelho”. A mensagem não é: “Creia que Cristo morreu por você” ou “Creia que você é um dos eleitos”. A mensagem é: “Creia no Senhor Jesus Cristo e você será salvo”.

 Ela denigre a eficácia intrínseca da própria expiação. Os arminianos ensinam que a obra de Cristo induz o Pai a aceitar graciosamente o que Jesus realizou no lugar de uma completa satisfação da Sua justiça. É como se Jesus persuadisse ao Pai a aceitar alguma coisa menos do que demandado pela justiça. Foi por isso que Armínio afirmou que quando Deus salvou pecadores, Ele mudou-se do seu trono de justiça para o seu trono de graça. Todavia, Deus não possui dois tronos. O seu trono de justiça é o seu trono de graça (Salmo 85.10). O arminianismo esquece que a expiação não conquista o amor de Deus, mas, sim, que a expiação é a provisão do seu amor.

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Fonte: Joel Beeke
Tradução: Rev. Alan Renne Alexandrino Lima
Via: Cristão Reformado
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Por Rev. Filipe Fontes


Tenho optado por não entrar em debates pela internet. Além da falta de tempo que assola a todos nós, me sinto incomodado pelo fato de que debates teológico-acadêmicos se transformam muito rapidamente em troca de acusações neste veículo. Lamentavelmente, já tenho visto isto acontecer neste debate também, embora não generalizadamente. A carta aberta escrita pelo Pr. Ariovaldo Ramos – a quem agradeço pela maneira tão gentil e fraterna com que escreveu – apresenta, por exemplo, um tom bem diferente. 

Este post não é, definitivamente, uma mudança de postura. Não pretendo desenvolver um debate virtual. Não por que não seria agradável participar de uma conversa gentil, mas por que o tempo e esforço exigido, e as brigas que provoco sem querer me cansam em demasia para as atividades ministeriais. Se eu continuar entendendo ser relevante, publicarei sobre o assunto no futuro em algum lugar – é assim que concebo o debate acadêmico. Este post tem apenas o objetivo de fazer considerações que gostaria de ter feito no programa, mas que não pude fazer pela exiguidade de tempo e pelas limitações do veículo. Possivelmente serão minhas últimas no momento.

1) Há um esforço por relacionar a ideia de “Missão Integral” com uma teologia ortodoxa. Mas, na prática teólogos de várias tendências diferentes se apropriaram e fazem uso dela no Brasil atualmente; desde teólogos que defendem a inspiração, inerrância e infalibilidade da Bíblia, até aqueles que duvidam da possibilidade de qualquer conhecimento objetivo de Deus, reputando-o como autobiográfico, o que é próprio do liberalismo clássico. Por isso, creio que definir MI é hoje uma tarefa bastante difícil.

2) Esta apropriação por parte de tendências teológicas tão diferentes somente é possível pela falta de comprometimento radical da MI com uma tradição teológica de pensamento. Guilherme de Carvalho, no artigo intitulado A missão integral na encruzilhada: Reconsiderando a tensão no pensamento teológico de Lausanne, na obra Fé cristã e cultura contemporânea, publicada em 2009 pela Ultimato, já denunciou esse problema. Ao que parece, a MI parece ser uma postura prática que tem recebido conteúdo teológico a posteriori. Ou seja, ao invés de caminhar da teologia para a prática, promove um movimento inverso. 

3) Embora carregue o adjetivo integral, a MI tem se mostrado pragmaticamente reducionista. Até mesmo alguns de seus proponentes no Brasil reconhecem isso, ao mesmo tempo em que procuram defender que esse reducionismo seria uma espécie de desvio. Para mim ele parece ser consequência natural de seu método dialético (apontado por Ricardo Gondim em sua tese de doutoramento publicada em 2010 pela Fonte editorial, com o título: Missão Integral: Em busca de uma identidade evangélica), sobretudo da escolha do materialismo histórico como parceira de diálogo. 

4) Se a MI nasce marxista, eu não estou totalmente à vontade para afirmar. Se a MI é toda marxista, também não. Mas que há traços de marxismo em seu desenvolvimento e que o que temos recebido mais recentemente no Brasil e tem se tornado mais popular está marcado por tal influência, creio ser facilmente perceptível. Como eu afirmei no programa, vejo 4 relações entre as duas coisas:
a) Semelhança histórica: A MI surgiu no período de profundo florescimento do pensamento esquerdista na América Latina e foi desenvolvida no seio de movimentos e organizações que forjaram também perspectivas teológicas claramente comprometidas com um ideário materialista histórico, como a Teologia da Libertação. Por exemplo: FTL (Fraternidade Teológica Latino Americana) e ISAL (Igreja e Sociedade na América Latina).
b) Semelhança metodológica: Constantemente se ouve, atrelado à MI o discurso da necessidade de uma teologia regional, brasileira, tupiniquim, à parte da tradição teológica europeia-norte americana que recebemos. Esse discurso antitradicionalista de rompimento com a tradição é muito semelhante ao do próprio Marx, que nas Teses contra Feuerbach, incluídas depois na Ideologia Alemã, afirma que os filósofos apenas interpretaram o mundo de diferentes maneiras; enquanto o que importa é transformá-lo.
c) Semelhança terminológica: Proponentes da MI no Brasil costumam aplicar ao Novo Testamento, de maneira mais direta ao ministério de Cristo, termos academicamente cristalizados como marxistas, como alienação, revolução, ideologia, subversão, dentre outros.
d) Semelhança de ênfase conceitual: Não é incomum também encontrarmos em textos e falas dos proponentes mais conhecidos da MI no Brasil atualmente, uma ênfase nos impactos econômicos da obra de Cristo e de seu reino. Em algumas ocasiões a ideia de que o Reino produz transformações de cunho econômico é quase que uma constante exclusiva.

5) Embora eu não negue momentos de verdade no marxismo, ele é fundamentalmente antagônico ao cristianismo, enquanto cosmovisão. Primeiramente, por que é materialista. Isto é, ignora qualquer dimensão transcendente. Segundo, por que sendo materialista, reduz a dinâmica da vida humana às suas relações socioeconômicas, localizando nesse nível: criação, queda, e redenção. Correndo o risco de imprecisões: enquanto o cristianismo localiza a origem do homem em Deus, o marxismo a localiza na produção. Enquanto o cristianismo localiza a queda na quebra da relação do homem com Deus, o marxismo a localiza na opressão de um modelo econômico. Enquanto o cristianismo localiza a redenção na reconciliação com Deus por meio de Cristo, o marxismo a concebe como a instauração revolucionária de um modelo econômico. Qualquer tentativa de síntese do cristianismo com uma perspectiva tão religiosamente comprometida, dificilmente passa ilesa. É aqui que, na minha opinião, nasce o reducionismo.

6) Criticar um determinado paradigma não significa ignorar eventuais problemas que ele tenha levantado, nem mesmo eventuais contribuições que ele tenha a oferecer. Creio que a MI levanta um problema real: precisamos de uma concepção de missão que tenha um impacto mais abrangente. Creio também que a MI tem uma contribuição efetiva: chamar nossa atenção para a necessidade de considerar dentro dessa concepção de missão o papel social da igreja e a preocupação com o pobre – isto é legítimo. Mas, pela razão apresentada acima, não creio que ela poderá nos fornecer uma concepção efetivamente integral, pelo menos nos caminhos trilhados mais recentemente no Brasil. 

7) Creio que nós, cristãos tradicionais, devemos ser não apenas reativos, mas também propositivos. Sendo assim, defendo que precisamos pensar numa alternativa para essa questão da missão da igreja e seu impacto cultural. Primeiramente, precisamos de uma perspectiva evangélica, ou seja, que considere a centralidade do evangelho na missão da igreja. Em segundo lugar, precisamos fazer isso dentro de um escopo teológico mais amplo. Precisamos da tradição! Por fim, precisamos de criatividade. Creio que não daremos respostas satisfatórias simplesmente reproduzindo modelos. Nossa realidade é muito específica, e requer que façamos um exercício criativo de aplicação dos princípios do evangelho e de uma tradição de pensamento. Minha sugestão é de que bons insights podem ser encontrados no neocalvinismo holandês – movimento liderado por Abraham Kuyper no fim do século XIX. Creio que ele conjuga bem tradição e aplicação criativa e pode ser muito útil enquanto inspiração pra nós. 

8) Dentre as perguntas que recebi ontem, alguém mais prático me perguntou: você acha que uma igreja deve abrir uma creche? Segue a resposta:

Para mim, nenhuma igreja (comunidade local) deve sentir-se tão culpada por não ter aberto uma, quanto por não preparar bem seus membros no poder do Evangelho para viver a vida cristã de modo impactante em todas as esferas da vida. E nenhuma igreja deve sentir-se satisfeita simplesmente por ter uma, se esta não estiver a serviço de sua tarefa primeira: a de proclamação do evangelho de Cristo. Uma igreja deve fazer mais do que abrir uma creche. Ela deve fazer assistência social evidenciando por que faz e transformando o modo de fazer. Deve mais que abrir uma escola. Deve usar sua escola como meio de submeter a educação ao senhorio de Cristo. Deve mais que ter um grupo de teatro. Deve transformar o modo como a arte é feita e experimentada no lugar onde ela está inserida. 

A todos os leitores, meu grande abraço.

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Fonte: Perfil do autor no Facebook

Leia também a resposta do Pastor Jonas Madureira sobre a questão (aqui!) e também a resposta do Rev. Augustus Nicodemus (aqui!).

 

Por Rev. Felipe Camargo

Introdução:

Os pastores são pessoas escolhidas por Deus para exercer o ministério da Palavra. No entanto, a expressão “ministério da Palavra” pode levar muitos pastores e pregadores menosprezar suas reais funções diante de Deus. Atos 6.4 demonstra que a preocupação principal do pastor deve ser a oração e o ministério da palavra.

Os pastores realizam um grande número de atividades em suas igrejas: visitação, aconselhamento, administração eclesiástica, etc. O ensino e a pregação da Palavra de Deus também é algo que exige muito tempo do pastor, desde a preparação até a exposição. Por causa desse grande número de atividades o pastor pode ser tentado a deixar de orar. Por imaginar ser dispensável, ou por falta de compreensão, ou por qualquer outro motivo, ignoram a sua necessidade. 

Por esse motivo, apresento, neste trabalho, a urgência da oração na vida dos ministros de Deus. Muito embora o temas “pregação” e “oração” serem desenvolvidos neste trabalho, o tema da oração será o tema central.

1. A Oração e o ministério

1.1. Oração e a dependência do Pastor

O primeiro ponto a ser desenvolvido é a dependência do pastor. Como todo cristão ele é dependente de Deus. Geralmente a falta de oração na vida de um pastor é a falta de compreensão do real significado e motivo dela. O ministro de Deus não realiza seu ministério por suas próprias forças. Ao se colocar diante de Deus em oração ele está demonstrando submissão à vontade de Deus. Sua pregação não pode ser melhor que sua oração, pois isto não está em acordo com os ensinos de Cristo.[1] Holdt afirma que:
“O ministro que não ora por seu rebanho não é ministro de jeito nenhum. Ele é orgulhoso, porque faz seu trabalho como se pudesse obter algum sucesso sem o poder de Deus”.[2]  

Rosscup neste sentido argumenta que “se Jesus, o homem, dependeu do poder divino, quanto mais necessitamos nós de fazer o mesmo”.[3] De fato, Deus não precisa da oração do líder da igreja para realizar a sua obra, mas o pastor precisa de Deus para realizar qualquer coisa. “Uma vida de oração é o calvinismo em sua melhor forma; é uma declaração simples, aberta e honesta na presença de Deus, de total impotência”.[4]  

Neemias é um grande exemplo neste ponto. Como líder do povo de Deus, demonstrava grande dependência através da oração. A oração era algo comum para ele. Logo no primeiro capítulo encontramos Neemias jejuando e orando a Deus. Enquanto estava na presença do rei Artaxerxes precisando dizer palavras sábias a ele, Neemias orou (Ne 2.4). Por diversas vezes ele roga a Deus com a expressão “lembra-te” (Ne 5.19; 6.14; 13.14,22,29,31) mostrando sua dependência.

No mesmo sentido, Jesus é outro grande exemplo. Sendo o próprio Deus ele demonstrava sua dependência do Pai em todo momento através da oração. Do começo ao fim do seu ministério esteve em oração. 

Ferguson nesse sentido afirma que a “oração é a expressão de fraqueza e de necessidade”. É por esse motivo que oramos, porque reconhecemos nossa incompetência apresentando “nossos rogos porque não podemos satisfazer-nos a nós mesmos”.[5] 

1.2. oração pelo ministério

A oração pelo próprio ministério é algo primordial. De fato o pastor deve orar pelo rebanho, mas antes disso, o pregador precisa ter o costume de orar por si e por seu próprio ministério. Russell Shedd argumenta que a oração é o meio ordenado por Deus para levantar os líderes da Igreja. Moisés foi levantado em resposta do clamor do povo. Os discípulos foram escolhidos após Jesus ter passado uma noite inteira orando.[6] E ressalta, também, que após tê-los escolhidos passou a ensiná-los sobre a necessidade da oração.[7] 

Essa oração deve ser praticada não somente pelos próprios pastores, mas por todos os que estão à sua volta. Cristo em sua oração, ora pelos seus discípulos e pela missão que eles receberam (Jo 17). Paulo em Romanos 15.30-33 pede para a igreja orar pelo seu ministério para que assim ele fale com ousadia. “Esse tipo de oração deveria estar nos nossos lábios constantemente, apresentada a Deus em favor daqueles cuja tarefa é anunciar o evangelho a outros”.[8] 

Portanto, para que o pregador possa realizar sua tarefa de maneira que agrade a Deus e tenha o melhor desempenho possível em seu ministério, é preciso orar pelo seu ministério e conseguir fazer seu rebanho esteja sustentando-o em oração.[9]  

1.3. A vida de oração do Pastor

É necessário entender que a oração deve fazer parte da vida do pastor. Não somente para a pregação em si, mas primeiramente pelo fato do ministro ser um cristão. No entanto, a sua vida de oração deve se destacar acima dos outros cristãos, pois senão “estaria desqualificado para o cargo que assumiu”.[10]  

Ao olharmos para a história de grandes pregadores, veremos que a oração sempre foi algo primordial e destacado.[11] James E. Rosscup utiliza grande parte do seu artigo “A Prioridade da pregação na pregação” relatando a importância que alguns desses grandes pregadores e professores de pregação dão a oração.[12] Neste artigo ele cita o professor de homilética David Larsen que diz que é mais importante ensinar seus alunos a orar do que a pregar.[13] 

Esta relação entre a oração e o pastor é um conceito ressaltado desde o princípio da Igreja. Os apóstolos ao nomearem os diáconos no capítulo 6 de Atos, o fazem para que não deixassem de lado sua obrigação de pregar a Palavra. Neste instante, ao dar as características dos diáconos, eles ressaltam qual seria a obrigação dos apóstolos: oração e ao ministério da Palavra.

Neste sentido, podemos perceber que aquele que se consagra ao ministério da Palavra tem a obrigação de ter uma vida de oração. Não há como um pastor se preocupar com a vida espiritual de sua igreja se ele não se preocupa com a sua. Ele deve antes de ensinar a Igreja a como ter uma vida espiritual ser um exemplo para ela.[14] Conforme Holdt:
“Os pastores precisam, invariavelmente, orar, assim como todas as outras pessoas. Eles devem fazer aquilo que todos os cristãos fazem: começar o dia com oração, programar-se a passar o dia com oração, e terminar o dia com oração, porém eles precisam ir além disso.” [15] 

2. O Pastor como pregador

Todo pastor deve ser pregador. Como foi apresentado acima, uma das prioridades do pastor deve ser a pregação. Desprezar esta tarefa é ignorar uma de suas principais tarefas. Ele deve se esmerar em ser um bom transmissor da Palavra de Deus. Portanto, uma das grandes questões a ser tratada é a relação entre a oração e a pregação.

2.1. A prática da oração pelo pregador

Tanto Lloyd-Jones quanto Spurgeon enfatizam que a oração deva ser constante na vida do pregador. Não somente no ato de orar, mas todo seu serviço como ministro está relacionado com oração cumprindo a ordem: “orai sem cessar”.[16] Ou seja, a todo o momento o pregador deve estar em espírito de oração.

Stott ressalta que muitos pastores têm seus ministérios em decadência por não darem a devida atenção ao ministério ao qual foram chamados: da Palavra e de oração. Argumenta, também, que estes pastores têm uma Igreja que não realiza sua obra por ter um pastor que trabalha por eles ao invés de se dedicar à pregação e a oração.[17] 

Neste sentido temos um grande exemplo do puritano Richard Baxter. Seu ministério era realizado de duas formas: pregações e reuniões pastorais com os membros para discussões e oração.[18] Ele mesmo afirma que é necessário conhecer o seu rebanho para poder pregar e orar por ele.[19] É necessário, portanto, orar por todo o rebanho.[20] Baxter também afirma:
“Como a oração também é força motora na realização da nossa obra, pois quem não ora por seu rebanho não lhe pregará poderosamente. Se não persuadirmos Deus a dar-lhes fé e arrependimento, não teremos probabilidade de os persuadir a crer e arrepender-se. [...] Se não persuadirmos Deus a ajudar os outros, nosso trabalho será vão.”[21]  

Portanto, assim como Holdt ressalta, é de estrema importância orar por toda a Igreja de forma nominal, ou seja, lembrando-se “de cada um individualmente”.[22] 

2.2. Oração para o preparo da pregação

Como pregador, o momento em que ele mais necessita de ter uma vida comprometida com a oração está no preparo da pregação e no transmitir a Palavra de Deus. Pois, para compreender as Escrituras é necessário a orientação do autor da mesma. 

Paulo nos ensina que as escrituras são inspiradas por Deus (2ª Tm 3.15-17). O mesmo vai nos ensinar Pedro dizendo a Palavra de Deus foi escrita por homens santos movidos pelo Espírito Santo (2ª Pe 1.21). Baseado nesta verdade, Paulo argumenta que somente o Espírito Santo conhece as grandezas de Deus (1ª Co 2.10-13). Neste sentido, MacArthur está correto ao dizer que “orar é buscar a fonte divina do entendimento – o próprio Deus”.[23] 

Grande parte das orações de Paulo tem como ênfase, que a igreja tivesse uma real compreensão das doutrinas bíblicas. Em sua carta aos efésios onde encontramos duas orações, ele roga a Deus que iluminasse o coração dos leitores (Ef. 1.15-19; 3.14-19). Da mesma forma aos colossenses, ele revela que constantemente orava pela igreja para que pudessem ter uma real compreensão da vontade de Deus (Cl 1.9). Podemos, portanto, perceber por essas afirmações de Paulo, não somente seu interesse em orar por seus rebanhos, mas que a oração para compreensão das Escrituras é algo essencial.

Anglada ressalta que devemos aprender com os reformadores, como Calvino e Lutero, que faziam do estudo e da oração a melhor regra hermenêutica:
Orare e labutare foram palavras empregadas por Calvino para resumir a sua concepção hermenêutica. Com estes termos ele expressou a necessidade de súplica pela ação iluminadora do Espírito Santo e do estudo diligente do texto e do contexto histórico, como requisitos indispensáveis à interpretação das Escrituras. Com o mesmo propósito, Lutero empregou uma figura: um barco com dois remos, o remo da oração e o remo do estudo. Com um só destes remos, navega-se em círculo, perde-se o rumo, e corre-se o risco de não chegar a lugar algum.[24]

E conclui:
Não é tempo de fazermos da oração uma prática hermenêutica, suplicando pela iluminação do Espírito Santo; e de labutarmos no estudo diligente das Escrituras, dando a devida atenção à língua e às circunstâncias históricas em que foram escritas? [25]

Para Calvino um coração devotado ao Senhor através da oração era algo primordial para a preparação de um texto. Para ele oração, e ensino estão unidos. Aquele a quem Deus chamou para ensinar na Igreja deve ser diligente na oração. [26]  

Os teólogos da Assembléia de Westminster compreendiam bem a necessidade de oração para a correta compreensão das Escrituras. Enquanto formulavam as doutrinas na Igreja eles passavam grandes momentos em oração e pregação. O início de cada sessão começava com uma oração e os jejuns eram freqüentes, pelo menos uma vez por mês:
“O Rev. Robert Baillie nos conta como num dia desses de jejum e culto houve quem orasse duas horas, sermões de uma hora entrecortados por orações de quase duas horas.” [27] 

Portanto, a oração deve vir antes de se preparar um sermão.[28] O pregador que não tem uma vida de oração demonstra falta de intimidade com o autor da Palavra. MacArthur afirma que pregar sem orar é desrespeitar o autor da Palavra:
Nenhum cristão deve olhar para baixo, para a Palavra, sem primeiro olhar para cima, para a fonte da Palavra e pedir direção. Engajar-se no estudo da Bíblia sem oração é presunção, ou até mesmo um sacrilégio.[29]

Spurgeon diz que somente através da oração as riquezas e os verdadeiros ensinos de uma determinada passagem serão encontrados.[30] “Os comentadores são bons instrutores, mas o próprio Autor é muito melhor, e a oração faz um apelo direto a Ele e O alista em nossa causa”.[31]  

2.3. A oração e a aplicação da mensagem

Há uma necessidade de que a oração e a pregação estejam ligadas. Os pregadores não têm poder para aplicar a mensagem no coração de seus ouvintes. Mas são totalmente dependentes do poder do Espírito Santo. Paulo demonstrava sua total dependência do Espírito Santo em sua pregação (1ª Co 2.4). 

A oração, dessa maneira, tem grande influência para a pregação. Se na preparação do sermão, houve dependência do Espírito, na pregação não será diferente. Orando, o pregador declara sua dependência na transmissão das verdades bíblicas. Não somente isto, mas demonstra sua dependência e completa confiança de que é o Espírito que aplicará a mensagem aos ouvintes.
“De fato, nenhuma outra coisa pode qualificar-vos tão gloriosamente para pregar como alguém que desce do monte da comunhão com Deus a fim de falar com os homens.” [32]  

Nesse sentido Spurgeon também afirma que melhor que qualquer método de eloqüência que o homem possa criar, não substitui a comunhão com Deus em oração.[33] 

Conclusão

Se nós cremos que, tanto a oração quanto a pregação bíblica, são meios que Deus se utiliza para nos abençoar, estes meios devem andar juntos. Os pastores devem ter esta consciência de que a oração é essencial para eles. Deve-se ter sempre em mente a ordem divina de “orai sem cessar”. Os pastores não foram chamados simplesmente para pregar, mas também para orar. Isso é cumprir a vocação divina. O mesmo Espírito que inspirou homens a escrever a Bíblia é o Espírito que todo pregador deve buscar em oração. Desprezar a oração ou a Palavra é desprezar o próprio Espírito Santo. 

Se o ministro de Deus despreza a necessidade da oração em sua vida ele não compreende o seu chamado. Ele precisa compreender que ele deve orar por sua vida, pelo seu ministério, pelo seu rebanho e por todos os que estão à sua volta. Como foi apresentado, a própria pregação em si necessita da oração. Desde sua preparação até a aplicação no coração dos ouvintes é necessário a atuação do Espírito Santo. Em todos os momentos o pregador é dependente desta atuação. Esta dependência é expressa através da oração do pregador e da Igreja.

É necessário, portanto, que haja um despertar no coração de cada pregador para a necessidade da oração. Não há como ter um bom ministério sem uma vida entregue a comunhão com Deus. Não é errado se preocupar com outras atividades do ministério, no entanto, é um grande erro desprezar as principais atividades: pregação e oração.

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Notas:
[1] SPURGEON, C. H. Lições aos meus alunos. São Paulo, SP: PES, 1990. (2). p. 66.
[2] HOLDT, Martin. Ore sempre. In: ASCOL (Ed.). Amado Timóteo. S. J. Campos, SP: Fiel, 2005. Cap.Cap. 6. p. 87-99. p. 91.
[3] ROSSCUP, James E. The Priority of Prayer in Preaching. 29 de agosto, 2008. p. 23.
[4] HOLDT. Ore sempre.p. 95.
[5] FERGUSON, Sinclair B. O Espírito Santo. São Paulo, SP: Puritanos, 2000. p. 261.
[6] SHEDD, Russell Philip. A oração: e o preparo de líderes cristãos. São Paulo, SP: Shedd Publicações, 2005. p.25-27
[7] Ibid. p. 28.
[8] CARSON, Donald A. Servos ordenados, São Paulo, SP, Edição 19, Out/Dez. 2008. p. 20.
[9] SHEDD. A oração: e o preparo de líderes cristãos. p. 42.
[10] SPURGEON. Lições aos meus alunos. p. 48.
[11] LLOYD-JONE, David Martyn. Pregação & Pregadores. 2ª. ed. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 1986. p. 123.
[12] ROSSCUP. The Priority of Prayer in Preaching,  p. 33-43.
[13] Ibid. p. 35.
[14] Ibid. p. 21-22.
[15] HOLDT. Ore sempre.p. 90.
[16] SPURGEON. Lições aos meus alunos. p. 49; LLOYD-JONE. Pregação & Pregadores. p. 124.
[17] STOTT, John R. W. A mensagem de Atos: Até os confins da terra: A Bíblia fala hoje. São Paulo, SP: ABU, 2005. p. 136.
[18] FERREIRA, Franklin. Gigantes da fé. São Paulo, SP: Vida, 2001. p. 184.
[19] BAXTER, Richard. O pastor aprovado: modelo de ministério e crescimento pessoal. 2ª. ed. São Paulo, SP: PES, 1996. p. 140.
[20] Ver. SPURGEON. Lições aos meus alunos. p. 70-71.
[21] BAXTER. O pastor aprovado: modelo de ministério e crescimento pessoal. p. 40.
[22] HOLDT. Ore sempre.p. 93.
[23] MacARTHUR, John. Como obter o máximo da Palavra de Deus. São Paulo, SP: CEP, 1999. p. 183
[24] ANGLADA, Paulo R. B. Orare et Labutare: A Hermenêutica Reformada das Escrituras. 25 de agosto, 2008.
[25] Ibid.
[26] LAWSON, Steven J. A arte expositiva de João Calvino. São Paulo, SP: Fiel, 2008. p. 49.
[27] KERR, Guilherme. A Assembléia de Westminster. 2ª. ed. São Paulo, SP: Fiel, 1992. p. 16.
[28] LLOYD-JONE. Pregação & pregadores. p. 120.
[29] MacARTHUR. Como obter o máximo da Palavra de Deus. p. 183.
[30] SPURGEON. Lições aos meus alunos. p. 50.
[31] Ibid. p. 51.
[32] Ibid. p. 53. 
[33] Ibid. p. 53.

***
Trabalho em cumprimento da matéria “Fundamentos bíblico-teológicos para revitalização e multiplicação de igrejas”, ministrada pelos professores. Rev. Jedeias Duarte e Rev. Arival Dias. Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper - São Paulo, SP.

Sobre o autor: Felipe Camargo é Pastor da Igreja Presbiteriana do Estoril no Riacho Grande, São Bernardo do Campo em SP. Formado em Teologia no Seminário JMC, mestrado em Divindade (M.Div), com habilitação em Pregação e cursando Mestrado em Antigo Testamento no Centro de Pós Graduação Andrew Jumper.

Artigo gentilmente cedido pelo autor ao blog Bereianos.