Muitos estão indignados com um vídeo publicado no YouTube em que uma cantora gospel (filha do líder de uma grande igreja de Belo Horizonte-MG) e seu marido fazem afirmações fúteis a respeito do Senhor Jesus e seu ministério terreno. O rapaz chega a afirmar que o jumento montado por Jesus era uma espécie de BMW da época, e que Ele só teria nascido numa estrebaria porque não havia vagas nos hotéis!
Há uns vinte anos, mais ou menos, os pastores que priorizavam as riquezas eram duramente criticados. Hoje, líderes de grandes ministérios e seus célebres familiares — o nepotismo eclesiástico também se banalizou, nesses tempos pós-modernos — dizem, sem nenhum constrangimento, que Jesus era rico e desfrutou do bom e do melhor neste mundo. E ai dos que discordarem! Serão tachados de miseráveis, frustrados, invejosos... Isso para dizer o mínimo, pois os fãs de celebridades (que não são, evidentemente, seguidores de Jesus) costumam chamar os críticos dos seus ídolos de filhos da... (piii) ou mandá-los para p... (piii) que p... (piii), etc.
Nota-se que o jovem casal mencionado tem aprendido com quem bebeu nas fontes escuras e turvas da teologia da prosperidade. Sua “visão de Reino” é a mesma de famosos telepregadores do mercantilismo da fé, como Kenneth Copeland, Frederick Price, Benny Hinn, Morris Cerullo, Mike Murdock e John Avanzini. Todos estes asseveram que Jesus usava roupas da moda (de corte especial, sem costura), tinha uma ótima casa, grande o bastante para receber os seus discípulos. Price, inclusive, afirma que dirige um Rolls Royce porque está seguindo os passos do Mestre. Para esses telemilionários, o Senhor tinha um tesoureiro porque seu ministério arrecadava muito dinheiro!
Um único versículo bíblico colocaria por terra todas as aludidas invencionices a respeito de Jesus: Mateus 8.20. Aqui, o Senhor afirma: “As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8.20). Mas é bom observar a profecia de Zacarias 9.9 acerca da entrada triunfal do Rei em Jerusalém. Ao montar em um jumentinho, Jesus demonstrou a sua humilidade e a sua pobreza (2 Co 8.9; Fp 2.5-8).
Alguém poderá argumentar: “Na Bíblia não há promessa de prosperidade ao povo de Deus?” Sim. Mas a prosperidade bíblica não é reducionista; sua ênfase não recai no materialismo. A palavra “prosperidade”, do latim prosperus, significa “feliz, ditoso, florescente”. E, nesse sentido, a Palavra de Deus afirma: “O justo florescerá como a palmeira; crescerá como o cedro do Líbano. Os que estão plantados na Casa do SENHOR florescerão nos átrios do nosso Deus. Na velhice ainda darão frutos; serão viçosos e florescentes” (Sl 92.12-14).
Segundo a Bíblia, florescer como uma árvore significa prosperar em todos os sentidos (Sl 1.1-3) e dar muito fruto (Jo 15.1-5). Ora, uma árvore não cresce apenas para cima ou para os lados; cresce também para baixo; tem raízes. Essa é a prosperidade que o Senhor quer dar aos seus filhos: um crescimento em todas as direções. É um grande engano encarar a prosperidade material como um fim em si mesmo (Mt 6.33).
Por que a teologia da prosperidade faz tanto sucesso, atrai multidões e encontra pronta aceitação no coração das pessoas? Porque os seus propagadores, à semelhança dos falsos profetas de Israel, descobriram a mensagem que o povo quer ouvir! Em Ezequiel 13.10-19, está escrito: “andam enganando o meu povo, dizendo: Paz, não havendo paz [...] os profetas de Israel que profetizam de Jerusalém e veem para ela visão de paz, não havendo paz [...] Vós me profanastes entre o meu povo [...] mentindo, assim, ao meu povo que escuta a mentira”.
Os telepregadores da prosperidade mandam os crentes repreenderem o demônio da miséria e determinarem a sua prosperidade. Mas, em Romanos 15.26, está escrito: “Porque pareceu bem à Macedônia e à Acaia fazerem uma coleta para os pobres dentre os santos que estão em Jerusalém”. Observe que o texto menciona uma coleta para ajudar pobres dentre os santos. Não seria mais fácil para Paulo repreender o demônio da pobreza?
Jesus nunca falou dos perigos de ser pobre. Mas, por inúmeras vezes, discorreu sobre os perigos de ser rico (Mt 6.19-21; Lc 12.16-21, etc.). Em 1 Timóteo 6.8-10, encontramos as razões pelas quais alguém abandona o verdadeiro Evangelho para seguir a teologia da prosperidade: falta de contentamento, priorização das riquezas, amor ao dinheiro. Em Eclesiastes 5.10, também está escrito: “O que amar o dinheiro nunca se fartará de dinheiro; e quem amar a abundância nunca se fartará da renda; também isto é vaidade”.
É pecado ser rico? Não. Mas é perigoso. Isso porque a sensação — apenas a sensação — de que a riqueza coloca alguém numa posição superior em relação às pessoas pobres torna o crente um alvo fácil do Inimigo (1 Tm 2.9). Há uma grande probabilidade de os ricos se ensoberbecerem e se tornarem avarentos, desprezando os pobres e perdendo, com isso, a comunhão com Deus (Tg 2.9).
Quem não se contenta com o que possui, priorizando a busca de riquezas e o amor ao dinheiro, é capaz de fazer qualquer coisa para ganhar mais e mais dinheiro, até mesmo mercadejar a Palavra de Deus (2 Co 2.17, ARA). A avareza é uma espécie de idolatria (Ef 5.5), e nenhum idólatra entrará no Reino de Deus (1 Co 5.11; Ap 21.8). O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males.
O dinheiro, em si, é necessário para a nossa manutenção. Contudo, existe o perigo de o chamado “vil metal” ocupar o primeiro lugar em nosso viver. E isso tem acontecido na vida de alguns líderes e pregadores, que, pelo dinheiro, são capazes até de negar “o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição” (2 Pe 2.1).
De acordo com a Palavra de Deus, os falsos mestres, cuja motivação é o dinheiro, são capazes de fazer, por avareza, “negócio com palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita” (2 Pe 2.3). E não é isso que vemos em nossos dias? Os falsos mestres estão por aí vendendo as suas “indulgências”, pregando um evangelho falso, centrado no “ter”.
Que Deus nos guarde! Façamos a sábia oração de Agur: “não me dês nem a pobreza nem a riqueza; mantém-me do pão da minha porção acostumada; para que, porventura, de farto te não negue e diga: Quem é o SENHOR? Ou que, empobrecendo, venha a furtar e lance mão do nome de Deus” (Pv 30.7-9).
Não ambicionemos, pois, as coisas altas (Rm 12.16). Não tenhamos como referenciais as celebridades gospel, pois elas, em sua maioria, não têm compromisso com a Palavra de Deus. Sigamos o conselho da Palavra do Senhor: “Sejam os vossos costumes sem avareza, contentando-vos com o que tendes; porque ele disse: Não te deixarei, nem te desampararei” (Hb 13.5). E ainda: “Aquele que tem o olho mau corre atrás das riquezas, mas não sabe que há de vir sobre ele a pobreza” (Pv 28.22).
Quantos podem dizer “amém”?
Ciro Sanches Zibordi
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