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A nossa união com Cristo é tão real que, na visão de Deus, é como se nós tivéssemos sofrido o que Cristo sofreu, sofrido para redimir a Igreja. Ele agiu gloriosamente quando levou "... em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro" e "... padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus" (I Pedro 2:24; 3:18). O propósito do nosso santo e justo Deus foi o de salvar a Igreja, mas o pecado dos Seus remidos não podia ficar impune. Foi necessário, então, que a punição para aquele pecado fosse transferida daqueles que a mereciam, mas não podiam suportá-la para Aquele que não a merecia, porém poderia suportá-la. Este é o fundamento da fé cristã e toda a revelação divina contida nas Escrituras. Vamos examinar ainda mais um pouco essa verdade e considerar como ela está cheia da glória de Cristo.
1. Não é contrário à justiça divina que alguns sofram punição pelos pecados de outros. Confirmarei esta afirmação, por hora, apenas ao dizer que Deus, que não faz nada errado, sempre agiu assim. Quando Davi pecou, setenta mil homens foram destruídos por um anjo, e então Davi disse ao Senhor: "Eis que eu sou o que pequei, e eu o que iniquamente obrei; porém estas ovelhas o que fizeram? Sejam pois a tua mão contra mim e contra a casa de meu pai" (2 Samuel 24:17). Quando o povo de Judá foi levado cativo, Deus o puniu pelos pecados de seus antepassados, especialmente aqueles pecados cometidos nos dias de Manassés (2 Reis 23:26-27). E, finalmente, ao destruir a nação judaica, Deus a puniu pelo derramamento do sangue de todos os profetas desde o começo do mundo (Lucas 11:50-51).
2. Há sempre uma ligação especial entre aqueles que pecam e aqueles que são punidos. Por exemplo, há uma relação entre pais e filhos, entre reis e seus súditos. Há também a ideia de compartilhar a punição. Foi dito aos filhos de Israel: "E vossos filhos (como errantes) pastorearão neste deserto quarenta anos, e levarão sobre si as vossas infidelidades, até que os vossos cadáveres se consumam neste deserto" (Números 14:33). A punição devido aos seus pecados foi transferida para os filhos, mas parte da sua própria punição foi exatamente o conhecimento do que haveria de acontecer aos seus filhos.
3. Há uma união maior e um relacionamento mais íntimo entre Cristo e a Igreja do que existem em qualquer outro vínculo no mundo. Isso pode ser visto de três formas:
a. Há um elo natural de ligação entre Cristo e Sua Igreja. Deus fez todas as pessoas de um sangue (Atos 17:26). Cada um é irmão e vizinho do outro (Lucas 10:36). Essa mesma relação existe entre Cristo e a Igreja. "E visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo" (Hebreus 2:14). Há, entretanto, em dois aspectos, uma diferença entre a união de Cristo com a Igreja e a irmandade comum entre os homens. Primeiro, Ele tomou a nossa natureza sobre Si por um ato voluntário de Sua vontade, mas nós não tivemos escolha quanto ao nosso relacionamento um com o outro pelo nascimento. Segundo, Ele entrou nessa união por apenas um propósito, ou seja, que em nossa natureza Ele pudesse redimir a Igreja "... para que, pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; e livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão" (Hebreus 2:14- 15).
b. Há uma união moral e espiritual entre Cristo e a Igreja. Isto é como o relacionamento existente entre a cabeça e os membros do corpo, ou entre a vinha e seus ramos (Efésios 1:22-23; João 15:1-2). É também como o elo de ligação entre maridos e esposas. "Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela" (Efésios 5:25). Como Ele era o cabeça e marido da Igreja (que só poderia ser salva e tornada santa pelo Seu sangue e Seus sofrimentos), foi apropriado, então, que Ele assim sofresse, e era correto que os benefícios dos Seus sofrimentos fossem legados àqueles pelos quais Ele sofreu.
Uma objeção pode ser levantada em razão de que “... Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores", ou seja, não havia união entre Ele e a Igreja naquele tempo (Romanos 5:8). Diz-se que somos unidos a Cristo pela fé. Portanto, antes da nossa regeneração não estávamos unidos a Ele. Como, então, Ele poderia justamente sofrer a nosso favor? Respondo que era o propósito de Deus, antes dos sofrimentos de Cristo, que a Igreja (composta dos eleitos) pudesse ser a Sua esposa, para que Ele pudesse amá-la e sofrer por ela. Jacó amou a Raquel antes que ela se tornasse a sua esposa. Ele "... serviu por uma mulher, e por uma mulher guardou o gado" (Oséias 12:12). Raquel é chamada a esposa de Jacó por causa do seu amor para com ela e porque estava destinada a ser sua noiva antes que a tivesse desposado. Assim Deus, o Pai, deu todos os eleitos para Cristo, confiando-os a Ele, para serem salvos e santificados. Cristo mesmo diz ao Pai: "Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste: eram teus, e tu mos deste, e guardaram a tua palavra. Eu rogo por eles: não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus" (João 17:6,9).
c. A terceira maneira pela qual Cristo está unido à Sua Igreja é mediante a nova aliança da qual Ele é a garantia e o penhor. "De tanto melhor concerto Jesus foi feito fiador" (Hebreus 7:22). Aqui está o âmago do mistério da forma sábia de Deus salvar a Igreja. A transferência dos pecados dos pecadores para Cristo, que é de toda maneira inocente, puro e reto em Si mesmo, é a vida e a alma de todo o ensinamento das Escrituras, O que Cristo fez por nós O torna glorioso para nós!
Vamos considerar a justiça de Deus ao perdoar os nossos pecados. Todos os eleitos de Deus são pecadores. Como pode Deus ser justo, então, se Ele os deixa sem punição, vendo que não poupou os anjos que pecaram, nem Adão quando ele pecou no princípio? A resposta está na união entre Cristo e a Igreja. Desde que Cristo representa a Igreja na presença de Deus, Deus justamente O pune por todos os pecados dela para que todos os seus membros estejam libertos e perdoados graciosamente. (Romanos 3:14-26). Na cruz, a santidade e justiça de Deus encontraram-se com a Sua graça e perdão. Esta é a glória que dá prazer aos corações e satisfaz as almas de todos os que creem. Quão maravilhoso é para eles verem Deus Se regozijando na Sua justiça e, ao mesmo tempo, manifestando misericórdia ao dar-lhes salvação eterna! No gozo desta gloriosa verdade, deixem-me viver, e nesta fé deixem-me morrer.
Cristo é glorioso, também, pela obediência à lei que Ele perfeitamente cumpriu. Era absolutamente necessário que a lei fosse cumprida e isto nunca poderia ser feito por nós. Através da união de Cristo com a Igreja, entretanto, a lei foi cumprida por nós. "Porquanto, o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne; para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o espírito" (Romanos 8:3-4).
Um entendimento pela fé desta glória de Cristo dispersará todos os temores e removerá todas as dúvidas de nossas pobres almas tentadas. Tal conhecimento será uma âncora que os firmará bem seguros em todas as tempestades e provações da vida, como também na morte.
***A nossa união com Cristo é tão real que, na visão de Deus, é como se nós tivéssemos sofrido o que Cristo sofreu, sofrido para redimir a Igreja. Ele agiu gloriosamente quando levou "... em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro" e "... padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus" (I Pedro 2:24; 3:18). O propósito do nosso santo e justo Deus foi o de salvar a Igreja, mas o pecado dos Seus remidos não podia ficar impune. Foi necessário, então, que a punição para aquele pecado fosse transferida daqueles que a mereciam, mas não podiam suportá-la para Aquele que não a merecia, porém poderia suportá-la. Este é o fundamento da fé cristã e toda a revelação divina contida nas Escrituras. Vamos examinar ainda mais um pouco essa verdade e considerar como ela está cheia da glória de Cristo.
1. Não é contrário à justiça divina que alguns sofram punição pelos pecados de outros. Confirmarei esta afirmação, por hora, apenas ao dizer que Deus, que não faz nada errado, sempre agiu assim. Quando Davi pecou, setenta mil homens foram destruídos por um anjo, e então Davi disse ao Senhor: "Eis que eu sou o que pequei, e eu o que iniquamente obrei; porém estas ovelhas o que fizeram? Sejam pois a tua mão contra mim e contra a casa de meu pai" (2 Samuel 24:17). Quando o povo de Judá foi levado cativo, Deus o puniu pelos pecados de seus antepassados, especialmente aqueles pecados cometidos nos dias de Manassés (2 Reis 23:26-27). E, finalmente, ao destruir a nação judaica, Deus a puniu pelo derramamento do sangue de todos os profetas desde o começo do mundo (Lucas 11:50-51).
2. Há sempre uma ligação especial entre aqueles que pecam e aqueles que são punidos. Por exemplo, há uma relação entre pais e filhos, entre reis e seus súditos. Há também a ideia de compartilhar a punição. Foi dito aos filhos de Israel: "E vossos filhos (como errantes) pastorearão neste deserto quarenta anos, e levarão sobre si as vossas infidelidades, até que os vossos cadáveres se consumam neste deserto" (Números 14:33). A punição devido aos seus pecados foi transferida para os filhos, mas parte da sua própria punição foi exatamente o conhecimento do que haveria de acontecer aos seus filhos.
3. Há uma união maior e um relacionamento mais íntimo entre Cristo e a Igreja do que existem em qualquer outro vínculo no mundo. Isso pode ser visto de três formas:
a. Há um elo natural de ligação entre Cristo e Sua Igreja. Deus fez todas as pessoas de um sangue (Atos 17:26). Cada um é irmão e vizinho do outro (Lucas 10:36). Essa mesma relação existe entre Cristo e a Igreja. "E visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo" (Hebreus 2:14). Há, entretanto, em dois aspectos, uma diferença entre a união de Cristo com a Igreja e a irmandade comum entre os homens. Primeiro, Ele tomou a nossa natureza sobre Si por um ato voluntário de Sua vontade, mas nós não tivemos escolha quanto ao nosso relacionamento um com o outro pelo nascimento. Segundo, Ele entrou nessa união por apenas um propósito, ou seja, que em nossa natureza Ele pudesse redimir a Igreja "... para que, pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; e livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão" (Hebreus 2:14- 15).
b. Há uma união moral e espiritual entre Cristo e a Igreja. Isto é como o relacionamento existente entre a cabeça e os membros do corpo, ou entre a vinha e seus ramos (Efésios 1:22-23; João 15:1-2). É também como o elo de ligação entre maridos e esposas. "Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela" (Efésios 5:25). Como Ele era o cabeça e marido da Igreja (que só poderia ser salva e tornada santa pelo Seu sangue e Seus sofrimentos), foi apropriado, então, que Ele assim sofresse, e era correto que os benefícios dos Seus sofrimentos fossem legados àqueles pelos quais Ele sofreu.
Uma objeção pode ser levantada em razão de que “... Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores", ou seja, não havia união entre Ele e a Igreja naquele tempo (Romanos 5:8). Diz-se que somos unidos a Cristo pela fé. Portanto, antes da nossa regeneração não estávamos unidos a Ele. Como, então, Ele poderia justamente sofrer a nosso favor? Respondo que era o propósito de Deus, antes dos sofrimentos de Cristo, que a Igreja (composta dos eleitos) pudesse ser a Sua esposa, para que Ele pudesse amá-la e sofrer por ela. Jacó amou a Raquel antes que ela se tornasse a sua esposa. Ele "... serviu por uma mulher, e por uma mulher guardou o gado" (Oséias 12:12). Raquel é chamada a esposa de Jacó por causa do seu amor para com ela e porque estava destinada a ser sua noiva antes que a tivesse desposado. Assim Deus, o Pai, deu todos os eleitos para Cristo, confiando-os a Ele, para serem salvos e santificados. Cristo mesmo diz ao Pai: "Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste: eram teus, e tu mos deste, e guardaram a tua palavra. Eu rogo por eles: não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus" (João 17:6,9).
c. A terceira maneira pela qual Cristo está unido à Sua Igreja é mediante a nova aliança da qual Ele é a garantia e o penhor. "De tanto melhor concerto Jesus foi feito fiador" (Hebreus 7:22). Aqui está o âmago do mistério da forma sábia de Deus salvar a Igreja. A transferência dos pecados dos pecadores para Cristo, que é de toda maneira inocente, puro e reto em Si mesmo, é a vida e a alma de todo o ensinamento das Escrituras, O que Cristo fez por nós O torna glorioso para nós!
Vamos considerar a justiça de Deus ao perdoar os nossos pecados. Todos os eleitos de Deus são pecadores. Como pode Deus ser justo, então, se Ele os deixa sem punição, vendo que não poupou os anjos que pecaram, nem Adão quando ele pecou no princípio? A resposta está na união entre Cristo e a Igreja. Desde que Cristo representa a Igreja na presença de Deus, Deus justamente O pune por todos os pecados dela para que todos os seus membros estejam libertos e perdoados graciosamente. (Romanos 3:14-26). Na cruz, a santidade e justiça de Deus encontraram-se com a Sua graça e perdão. Esta é a glória que dá prazer aos corações e satisfaz as almas de todos os que creem. Quão maravilhoso é para eles verem Deus Se regozijando na Sua justiça e, ao mesmo tempo, manifestando misericórdia ao dar-lhes salvação eterna! No gozo desta gloriosa verdade, deixem-me viver, e nesta fé deixem-me morrer.
Cristo é glorioso, também, pela obediência à lei que Ele perfeitamente cumpriu. Era absolutamente necessário que a lei fosse cumprida e isto nunca poderia ser feito por nós. Através da união de Cristo com a Igreja, entretanto, a lei foi cumprida por nós. "Porquanto, o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne; para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o espírito" (Romanos 8:3-4).
Um entendimento pela fé desta glória de Cristo dispersará todos os temores e removerá todas as dúvidas de nossas pobres almas tentadas. Tal conhecimento será uma âncora que os firmará bem seguros em todas as tempestades e provações da vida, como também na morte.
Fonte: A Glória de Cristo, John Owen, Editora PES, pp.40-44
Via: Os Puritanos
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