Isvonaldo sou Protestante

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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Entre meteóros e a Esperança...



Rev. Marcelo Lemos

É interessante observar como o coração da fé cristã sempre se mantém, ainda quando nós cristãos não conseguimos concordar com todos os detalhes sempre. A Segunda Vinda, por exemplo. Minha mãe e meu pai acreditam que ela provavelmente se dará nos próximos anos, e que talvez ainda estejam vivos para ver; por outro lado, estou convencido de que isso provavelmente não acontecerá tão cedo, e que algumas centenas de anos, talvez mais, ainda estejam por vir. Fora isso, eles e eu aguardamos a mesma coisa!

Sobre o Reinado de Cristo acontece algo semelhante: até mesmo os chamados “amilenistas” acreditam em um Reino, e seu nome [“a-milenismo”, sem milênio] se refere a uma negação da literalidade deste Reino, e não da sua existencia, com alguns erroneamente pensam. Todo cristão acredita no Senhorio de Cristo sobre tudo e todos, inclusive sobre as nações. Qual a natureza desse Reino? Quando ele começa? Quais as suas implicações? São nesses detalhes que começam as divergências.

Vamos tomar Daniel 7. 13-14 como exemplo.

“Eu estava olhando nas minhas visões noturnas, e eis que vinha com as nuves do céu um como filho do homem; e dirigiu-se ao ancião de dias, e foi apresentado a ele. E foi lhe dado domínio, e glória, e um reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem; o seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e o seu reino tal, que não será destruído!”.

Praticamente todo cristão aceitará que o profeta fala do Reino de Cristo. Mas não é assim tão simples, pois é preciso responder uma ou duas questões: Quando começa esse Reino? No tempo da Primeira Vinda, ou milhares de anos depois, talvez em 2013, 2014...?

O entendimento mais corriqueiro nos diz que Daniel está profetizando a Segunda Vinda de Cristo, que pode acontecer hoje, amanhã, ou outro dia. É fácil compreender tal interpretação quando lemos o profeta dizendo “e eis que vinha com as nuvens do céu”. Evidentemente, o termo “vinha” passa a impressão de que Cristo está vindo para a Terra, aproximando-se de seu observador, Daniel. Na verdade, Cristo se aproxima de alguém na visão, mas não é do profeta, nem da Terra. Muitos leitores ficarão surpresos com tal afirmação, mas peço que acompanhem o racicíno com suas Escrituras ao lado do computador.

Podemos observar que se trata de uma visão, e que nela, Cristo se aproxima uma pessoa, Deus Pai. Esse detalhe faz toda a diferença: “e dirigiu-se ao ancição de dias, e foi apresentado diante dele”. O que Cristo está fazendo nesta cena? Estaria vindo para a terra? Ou Ele está, na verdade, indo em direção ao Pai - “ao ancião de dias” -, e sendo apresentado diante Ele? O texto responde isso de forma muito clara.

Ademais, durante essa cena, onde o Filho se apresenta ao Pai, chegando numa nuvem, o que acontece? Daniel diz que “foi lhe dado domínio, e glória, e um reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem”. Eu sei que boa parte dos leitores deve ter escutado dezenas de sermões falando que a Visão de Daniel ainda não aconteceu, e que talvez possamos ver isso um dia, quando algo grandioso acontecer na História do mundo. Eu, porém, digo-lhes: isso já aconteceu, e podemos viver o Reino desde já, pois Cristo recebeu toda autoridade das mãos do Pai após a sua Ressurreição dentre os mortos. Ao aparecer aos seus discípulos, ele ordena que conquistem o mundo através do Evangelho: “Quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram. E, aproximando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: Foi me dada toda autoridade no céu e na Terra. POR ISSO, ide e fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (S. Mateus 18. 17-20).

Vamos comparar o quadro da Ressurreição de Cristo com a profecia de Daniel. Sobre a profecia sabemos que:

1) Cristo está chegando nas nuvens;

2) Cristo está se apresentando ao Pai, o “ancião de Deus”;

3) E Cristo está recebendo um Reino.

Quando isso acontecerá? Ou será que já aconteceu, na Ressurreição? Se Cristo, em Sua Segunda Vinda, vier receber um Reino, então minha teologia está errada. Mas se Ele já recebeu esse Reino em sua Ressurreição, a coisa muda de figura. Assim, em primeiro lugar, enfatizamos que no último dia, a Bíblia diz que Cristo entregará seu Reino ao Pai: “E então virá o fim quando Ele entregar o reino a Deus o Pai, quando houver destruído todo domínio, e toda autoridade e todo poder” (I Coríntios 15.24). Notem, queridos irmãos, que S. Paulo está colocando o “fim” quando o Reino for entregue ao Pai, e não quando o Pai entroniza Cristo! Por qual motivo deveriamos acreditar na ordem inversa? O Reino não será entregue ao Filho quando o “fim” chegar! O Reino foi entregue a Cristo quando ele Ressuscitou dos mortos, e apresentou-se a Deus, o Pai. E isso é exatamente o que está profetizado na visão de Daniel, e é confirmado várias vezes no Novo Testamento!

Tendo ele dito estas coisas, foi levado para cima, enquanto eles olhavam, e uma nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos...” (Atos 1. 9) “Irmãos, seja-me permitido dizer-vos livremente acerca do patriarca Davi... pois, sendo ele profeta, e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramente que faria sentar sobre o trono um dos seus descendentes, prevendo isso, Davi falou da ressurreição de Cristo... de sorte que, exaltado pela dextra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis. Porque Davi não subiu aos céus, mas ele próprio declara: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te a minha direita, até que eu ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés. Saiba, pois, com toda certeza a Casa de Israel, que esse mesmo Jesus, a quem rejeitastes, Deus o fez Senhor e Cristo! (Atos 2. 29-36).

Voltando ao texto de Coríntios 15, encontramos uma incrível semelhança com Atos dos Apóstolos, e uma declaração ainda mais poderosa a respeito do Reinado de Cristo agora. Confira em sua tradução: “Então virá o fim quando Ele entregar o Reino ao Pai, quando houver destruído todo domínio, e toda autoridade e todo poder. Pois é necessário que Ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo de seus pés (15. 23-25). Esse “fim” do qual fala S. Paulo se dará logo depois da nossa ressurreição, quando Cristo retornar (cf. v. 23). Em outras palavras, enquanto muitos aguardam a Segunda Vida, e a Ressurreição, para que Cristo finalmente traga seu Reino sobre todo o mundo, Paulo está dizendo que primeiro temos o Reino, depois a Ressurreição, e Cristo finalmente entrega o Reino de volta ao Pai.

Vemos, então, que Cristo não virá ao mundo para receber um Reino; em Sua Segunda Vinda ele irá entregar seu Reino ao Pai. O Reino, ele o recebeu ao ser apresentado diante de Deus, quando da sua ressurreição. Mas há ainda outro detalhe sobre o Reino que merece nosso destaque aqui. Muitos acreditam que o mal irá de vento em popa, fazendo quase tudo que lhe aprouver, até que um dia Cristo virá, interrompendo todo o mal de uma única vez. Para esses irmãos, a Igreja irá vencer na Eternidade, mas não no mundo. O mundo é, ao que parece, território do Inimigo, sitiado pelas hostes do Mal, e de onde os Cristãos precisam ser resgatados por Cristo. Ora, certamente Cristo um dia colocará ponto final em toda a maldade que vemos e não vemos. Mas, seu Reino, acontecerá de modo paulatino, a medida que o Evangelho avança sobre o mundo, pois Paulo afirma que “é necessário que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo de seus pés”.

Novamente preciso voltar as figuras descritivas do Reino que citei no artigo anterior [Veja os artigos 1 e 2], a saber, a criança, a semente, e o fermento. Mas, se alguém ainda duvida do significado claro dessas duas parábolas, do grão de mostarda e do fermento, resta recordar-lhe de Daniel 4. 10-12, onde o rei Nabucodonossor tem uma visão onde uma grande árvore serve de ninho para os passaros do céu, e depois tal árvore é derrubata e os pássaros dispersos. Qual o significado da visão? Nenhum dos sábios do rei achou a resposta de tal enigma, apenas Daniel o pode interpretar. Daniel explica que essa grande árvore que servia de casa para as aves do céu era o reino de Nabucodonossor, e era uma prova de seu domínio sobre o mundo da época. Contudo, por causa do pecado do rei, a árvore era cortada... Temos aqui uma figura bíblica utilizada na linguagem profética, e a própria Escritura, que é o melhor interprete de si mesma, nos diz qual o significado. Leiam outros exemplos dessa linguagem profética sendo usada em Ezequiel 17. 22-24, e 31. 2-9.

Tem muita gente esperando o Reino vir, mas o Reino está aqui. Tem muita gente esperando por algum evento catastrófico, como um meteoro, uma tsunami, um Anticristo, uma Grande Tribulação, exercitos em Megido,ou qualquer coisa assim, para que possam dizer “Cristo Reina”. Mas ele já é Rei. Seu Reino já foi inaugurado, e tal evento foi presenciado por muitas pessoas que caminharam com ele pela Galiléia: “Em verdade vos digo, alguns dos que aqui estão de modo nenhum provarão a morte até que vejam o Filho do homem vindo no seu Reino” (S. Mateus 16.28). Seu Reino é feito visivel pela Igreja, a medida que esta é fiel ao Evangelho.

Também é em Daniel que encontramos uma afirmação inquestionável de quando teve inicio o Reino de Cristo. Sim, já vimos que ele nos diz que Cristo recebeu um Reino quando apresentou-se ao Pai, chegando numa nuvem (ou seja, em sua Ressurreição). Isso é extremamente claro. Mas há uma afirmação ainda mais chocante da cronologia de Daniel. Segundo o profeta, o Reino de Cristo teria inicio nos dias do Império Romano! No Capítulo 2 se sua profecia, Daniel contempla a história do mundo retratada na estátua vista por Nabucodonossor em um sonhor. Daniel, inspirado por Deus, revela ao rei o conteúdo e o significado do sonhor. A estátua vista por Nabucodonossor era fabricada por diversos materiais, cada um deles simbolizando um reino poderoso que viria. A cabeça da estatua era feita de ouro, simbolo do Império Babilônico. O Dorso era de Prata, simbolo do Império Persa. A parte da citura era fabricada de bronze, simbolizando o Império Grego. Já as pernas da estátura eram feitas de ferro, simbolo do poderio militar do Império Romano. Depois vinha os pés, fabricados com uma mistura de ferro e barro, e Daniel diz que este seria um Reino dividio, tendo a força do ferro e a fragilidade do barro.

A estátua vista por Nabucodonossor seria derrubada, quando contra seus pés fosse lançada uma Pedra; uma Pedra que não foi cortado por nenhum ser humano! “Estavas vendo isto, quando uma pedra foi cortada, sem auxílio de mãos, a qual feriu a estátua nos pés de ferro e de barro, e os ismiuçou” (Daniel 2.34,35). O que acontece depois da destruiçõa da estátua é surpreendente, pois a Pedra que destroi a estátua, se transforma numa grande montanha, e se espalha por toda a terra, “a pedra, porém, que feriu a estátua se tornou uma grande montanha, e encheu toda a terra”. E a intepretação de Daniel é reveladora: haveria uma sequencia de Reinos, e depois deles, “o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; nem passará a soberania deste reino a outro povo” (Dn. 2. 44).

Bem, meus irmãos, este é apenas um resumo da Escatologia da Esperança, da qual já falei com vocês algumas vezes. Sintetizando ainda mais, apontamos três de seus aspectos fundamentais: 1) o Reino de Cristo já começou; 2) O Reino cresçe gradualmente; 3) O Reino cresce pela pregação do Evangelho, espalhando-se pelo mundo. Chamamos isso também de Escatologia da Vitória, pois implica que a Igreja reina juntamente com Cristo, e que pelo Evangelho, na força do Espírito Santo, os cristãos podem e devem influenciar a sociedade a sua volta. Não somos um exército em retirada! Somos um exércico conquistador!




Rev. Marcelo Lemos, da Comunidade Anglicana Carisma, e colaborador do Genizah.


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